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– Por Maraíza Santos.
O que é romantizar? Você deve ter ouvido essa palavra mais de uma vez na internet e com certeza de forma negativa. Mas, o que diabos é isso? A ideia de romantizar vem de fantasiar, ou simplesmente criar um romance sobre isso. A definição mais usada é a de cunho mais negativo: “Idealizar uma situação corriqueira ou desagradável”.
Isso vem do romantismo, é claro. A ideia do movimento literário era muito mais ligado a uma realidade que estava vinculada diretamente aos sentimentos do personagem ou eu-lírico. Logo, se ele estivesse me sentindo bem enquanto o corpo estivesse em chamas, ele iria descrever de forma otimista, fabulando e, consequentemente, romantizando uma situação nem um pouco agradável.
Embora estejamos dois séculos depois do romantismo, as influências dele ainda está entre nós 一 a romantização é uma delas. Você já deve ter visto alguma polêmica em relação a isso no mundo das histórias online ou literatura no geral. Há muitos casos de autores e autoras romantizando comportamentos abusivos, moralmente reprováveis e certamente influenciando uma gama de leitores em formação.
Antes de mais nada, quero ressaltar que às vezes a romantização não está de forma gratuita. Por exemplo, se você ler Lolita de Vladimir Nabokov, o narrador romantiza algo completamente reprovável, o que é proposital para passar uma mensagem específica. O autor sabe que pedofilia é algo errado e tenta explorar o desconforto do leitor.
Costumamos chamar isso de recorte ficcional, sendo algo “aceitável” (atenção nas aspas) no ambiente narrativo, não no mundo real.
Certo. Peguei um exemplo pesado, não é?
Então, pensa comigo. Se estou escrevendo um livro em que o protagonista e narrador é um egoísta, questões morais de pessoas abnegadas não farão sentido para a composição ficcional. Estarei assim romantizando 一 no entanto, é consciente e bem pensado para ser desse jeito. De maneira nenhuma eu devo perder o fio do bom senso ao escrever a história.
E é aqui que entramos na romantização não saudável. Aqui eu peço a você, caro escritor ou escritora, que tenha consciência do que está fazendo. Comportamentos abusivos podem estar presentes em sua história, mas de maneira nenhuma podem ser encarados como algo aceitável ou normalizado dentro da obra.
“Ah, mas o leitor sabe que isso não é certo”. Você tem certeza? Quem é seu público? Quem está lendo seus textos são adolescentes em formação ou leitores mais maduros?
Somos responsáveis pelo o que nós escrevemos, não o que os outros leem. E é por isso que chamo a você para essa responsabilidade e como ela pode impactar nosso leitor. A não ser que você queira relatar um problema e deixar claro em seu texto, não faz sentido transformar um mocinho que passa a história inteira violentando a mocinha em um príncipe encantado no final, por exemplo.
Como eu expliquei antes, a não ser que seja com um motivo por trás, comportamentos abusivos devem ser tratados como eles são: abusivos.
Não é aceitável romantizar relacionamentos (sejam familiares, amorosos ou fraternos) que fazem mal.
Não é aceitável romantizar situações sociais degradantes.
Isso não significa que você não pode abordar as complexidades dos relacionamentos humanos, as microviolências que muitas vezes nós mesmos reproduzimos. Isso sempre tem a ver com a forma que nós falamos desses temas e, como eu disse anteriormente, devemos chamar a responsabilidade.
Levanto outro ponto a reflexão: esteja aberto a críticas construtivas. Às vezes reproduzimos situações desagradáveis de forma romantizada sem que percebemos, o que gera alguns comentários negativos. É nesse momento que devemos parar, refletir se aquela crítica é pertinente e, então, reconhecer se foi um erro ou um acerto a cena/fala/abordagem.
Você é humano também e está fadado a erros. O que não devemos fazer é manter-se nele por orgulho, não é verdade? Bem, isso é tema para outra coluna…
Espero que esse post tenha te ajudado de alguma maneira. Até mais!
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