Military Dignity – Endless War


Escrita porMaari F.
Revisada por Natashia Kitamura


Capítulo 01 • Point of no return

Tempo estimado de leitura: 41 minutos

  %Annie% estava deitada na cama com seu corpo cobrindo o de %Ryan% e mesmo estando acordada permanecia de olhos fechados, a ponta dos dedos passava suavemente pelas duas cicatrizes altas que ele havia adquirido no ombro. Aquela sensação era tão boa, tão certa.
  Muita coisa havia mudado em pouco tempo desde o ataque extra-oficial contra os rebeldes, porém ela não gostava de pensar na situação política ou militar quando estava nos braços do namorado. Suas vidas pessoais eram complicadas o suficiente para que pensasse no resto.

  %Ryan% estava mais aberto à relação que ambos assumiram, quase morrer nos braços de %Annie% havia o alertado do quanto havia perdido e esse era um erro que não cometeria uma segunda vez. Era verdade que seus pais se aproximaram estranhamente, mesmo sendo repentino ele não podia negar que havia sentido falta daquilo. Até mesmo seu pai estava mais carinhoso, do jeito dele - é claro -, coisa que não acontecia há uns bons 20 anos.
  Entretanto, não era como se eles tivessem mudado a opinião sobre %Annie% da noite para o dia, a própria mãe de %Ryan% dissera que não podia perdoar o fato dela ter feito o filho tomar tiros para salvá-la.
  Aquilo martelou a cabeça de %Annie% durante dias depois que o amado contou com sinceridade sobre a conversa séria que tivera com os pais, deixando claro que não a abandonaria mais.
  %Ryan% havia sim tomado tiros e ido contra ordens por ela, querendo ou não, seu subconsciente a culpava por tais acontecimentos. Mesmo que ele tivesse deixado claro que tinha feito isso por vontade própria e se pudesse, faria de novo.

  A mão dele foi de encontro a dela que agora cessara com o carinho suave, %Annie% abriu os olhos e encarou %Ryan%, que sorria antes mesmo de abrir os olhos.
  Assim que retribuiu o olhar, falou:
  - Você está pensativa.
  Era todas as manhãs assim, quando %Annie% dormia no apartamento dele, ela acordava antes e acariciava suas cicatrizes, pensava na vida e parava o carinho, fazendo-o acordar.
  - O que foi?
  %Annie% negou e sorriu de leve.
  - Estou pensando nesses últimos meses, muita coisa mudou.
  O braço de %Ryan% que rodeava a cintura dela a trouxe para mais perto, fazendo os dois suspirarem. Era bom o calor de seus corpos se misturando daquela forma.
  - E eu definitivamente devo agradecer por isso, acordar com você ao meu lado me dá forças de enfrentar o conselho.
  %Annie% sentiu a sinceridade nas palavras dele e sem falar nada, aproximou o rosto do dele, lhe dando um selinho demorado. Sabia o quanto ele estava preocupado com o seu julgamento militar e foi ao seu encontro justamente para demonstrar o apoio que ele precisava.
  O dia finalmente tinha chegado.
  - Eu sei que no final tudo vai acabar bem. - ela falou e lhe deu mais um selinho antes de %Ryan% se afastar para sentar na cama.
  Ele se espreguiçou, mas não chegou a colocar as pernas para fora da cama já que sentiu o olhar de %Annie% pesar sobre as suas costas, ela admirava os músculos e até mesmo as marcas e pequenas cicatrizes que ele tinha ali, mas a pele desnuda dele tão próxima fazia com que sentisse seu sangue borbulhar de desejo e o coração acelerar de excitação.
  - Sabe, você não devia me olhar dessa forma. - ele falou e inesperadamente, a agarrou pela cintura e colocou o corpo sobre o dela. As mãos de %Annie% fizeram o caminho conhecido pelos braços fortes dele, completamente hipnotizada. - Eu posso acabar me atrasando e depois vou ter que te punir.
  Ela sentiu um arrepio percorrer a nuca e olhou nos olhos dele com um sorriso sapeca.
  - Talvez você devesse se atrasar.
  Claro que ele não devia, mas ela entrou no joguinho de sedução dele, era divertido. Sabia que eles não iriam se atrasar para o julgamento, ainda era cedo.
  - %Annie%, você adora brincar com fogo…
  - Por que acha que eu namoro você? - deixou a pergunta no ar já que suas mãos alcançaram a nuca dele e o obrigou a dar o que tanto ansiava.
  Um beijo longo e com fogo, da forma que vinha acontecendo com bastante frequência, só sentir o corpo dele pressionado no seu e as línguas juntas não estava sendo o suficiente. Nunca era.
  %Ryan% deixou que uma das mãos dele se encaixasse na nuca dela com o dedão em sua bochecha, enquanto a outra descia para a coxa dela e afastava o lençol inútil. %Annie% suspirou e apertou os olhos com força quando sentiu a mão dele passear pela parte interna de sua coxa, quebrando totalmente o beijo.
  - Você não devia ficar me atiçando dessa forma se não aguenta depois. - ele falou baixo e propositalmente perto do ouvido dela, como sabia que gostava.
  %Annie% respirou fundo e encarou os olhos dele, tão perto que mostravam claramente a fome que tinha no momento.
  - Acho que… - ela passou a língua pelos próprios lábios que pareciam secos de repente, tal ato não passou despercebido por %Ryan%, que não conseguiu pensar em nada a não ser o quanto ela ficava sexy fazendo aquilo. - você tem razão, vai se atrasar.
  Ele suspirou frustrado, sentindo o corpo esquentar até demais e escondeu o rosto na curva do pescoço dela, respirou fundo algumas vezes e o ar que soltava contra a pele de %Annie% não estava ajudando nada. Tudo o que ela queria era poder terminar o que estavam prestes a começar, mas sabia que acabaria correndo o risco de se atrasarem mesmo.
  - Agora é hora da ducha fria. - ele comentou e saiu de cima dela antes que perdesse o auto controle.
  %Annie% riu sem graça e ainda deitada, sem a mínima vontade de levantar, lembrou da noite anterior.

  Noite passada. Apartamento do %Ryan%.
  9:15 PM. Logo após o jantar.

  %Annie% estava lavando o último prato, tinha ido cedo para o apartamento de %Ryan% para fazer o jantar, tendo em vista que ele estava uma pilha de nervos graças ao julgamento do dia seguinte, estava tão nervoso que seus beijos eram vorazes, mexiam com %Annie% de uma forma que sequer conseguia explicar a si mesma.
  Estavam juntos há poucos meses, mas a conexão que sentiam era muito mais forte do que meros dias contados.
  Assim que ela colocou a louça na pia para secar sozinha, sentiu braços fortes a envolverem pela cintura e rodear seu corpo completamente, o tronco forte e duro encontrou com as costas dela e logo após ele enterrou o nariz em seu pescoço. %Annie% sorriu e colocou suas mãos ainda molhadas em cima das dele.
  - Obrigado por ter vindo hoje, sei que você está com a semana corrida.
  Era verdade. %Annie% havia conseguido um novo emprego no departamento de segurança do Estado como secretária e começaria na segunda, não era exatamente o que ela queria mas valeria a pena no final das contas.
  - Não precisa agradecer, preciso disso tanto quanto você.
  %Ryan% fez pressão no corpo dela e afastou o suficiente para que ela se virasse de frente.
  Os dois ficaram se encarando por um bom tempo em silêncio, muito amor estava envolvido naquela troca de olhares silenciosa.
  %Annie% sentia nele a força e coragem que tanto precisava para o novo passo que estava dando em sua vida, Já %Ryan% a calma e a certeza de que tudo daria certo.
  - Eu amo você. - ele disse.
  %Annie% sorriu e colocou as duas mãos na nuca do namorado.
  - Eu sei, e você sabe o quanto eu te amo.
  %Ryan% colocou a mão na bochecha dela e assentiu antes de beijá-la delicadamente, fazendo-a suspirar entre o ato. Ambos se entregaram naquele momento, sentindo seus corpos pedirem por mais contato assim que as línguas se encontraram.
  %Annie% se afastou o suficiente para poder recuperar o fôlego, abriu os olhos e encontrou %Ryan% a encarando com intensidade, eles não precisavam dizer nada. Ele firmou o contato na cintura dela e a levantou como se não pesasse nada, %Annie% não perdeu tempo em entrelaçar as pernas em volta do corpo dele e deixou ser levada, sentindo as mãos fortes segurá-la com força bem próximo de seu quadril.
  Eles não se beijaram no caminho até o quarto de %Ryan%, não era porque não quisessem fazer aquilo, muito pelo contrário, mas estavam ocupados demais encarando os olhos um do outro.
  Apenas sentindo o amor que eles haviam dito há poucos minutos, aquilo era importante tanto quanto seus lábios se chocando.
  Isso não demorou a acontecer, quando entraram no quarto o beijo foi mais rápido, muito mais intenso, e as mãos desenfreadas percorreram os corpos.
%Ryan% a deitou na cama, já sem conseguir trazer seu lado gentil a tona, e seu corpo automaticamente foi para cima do de %Annie%, pedindo por mais contato que veio quando ela colocou as pernas no quadril dele, dando livre acesso para que as mãos dele agarrassem as coxas dela que ainda estavam cobertas pela calça.
  Enquanto seus lábios se encontravam avidamente, as mãos faziam o trabalho de tirar as peças de roupa inúteis que atrapalhavam tudo.
%Ryan% teve a sua blusa jogada em qualquer canto do quarto e aproveitou para descer os beijos entre o pescoço e ombro de %Annie%, a resposta dela foi segurar os cabelos dele com força enquanto mordia o lábio para controlar certos sons.
  Depois que nada mais impedia que eles se amassem, assim o fizeram com uma paixão ardente. Sussurros e palavras desconexas foram ditas, ‘eu te amo’ foi proferido várias vezes por ambos antes que o clímax chegasse e se abraçaram como se o mundo fosse acabar naquela noite.
  %Ryan% precisava daquilo e sabia que sim, poderia enfrentar qualquer coisa se soubesse que era isso o que teria quando chegasse em casa.
  %Annie% era a sua casa.
  E ele não a largaria nunca mais, nem que isso o fizesse sangrar outra vez.

  Aquela manhã. Ainda no apartamento de %Ryan%.
  Por volta das 10:17 AM.

  %Annie% tinha posto o café e estava esperando %Ryan% sair do banho para poder fazer o mesmo, iria com ele para a base e precisava estar apresentável, tinha levado uma muda de roupa e avisado os pais.
  Eles eram eternamente gratos por %Ryan% ter salvado a menininha da família, respeitavam o soldado e Joe o admirava. A acolhida calorosa da família %Madden% sem dúvida tinha sido uma surpresa e tanto para %Ryan%.
  Ela sentiu o cheiro da colônia de %Ryan% e olhou para a porta da cozinha, ele apareceu ali rapidamente com apenas uma toalha em volta da cintura e %Annie% respirou fundo.
  - Ás vezes acho que você faz isso de propósito. - ela negou com a cabeça e cruzou os braços enquanto ele se aproximava sorrindo maroto.
  - Isso o quê? Você fica louca quando vê o meu corpo assim? - provocou e a puxou pela cintura.
  - Você sabe que sim, seu exibido. - ela o empurrou de leve pelo ombro, ele apenas riu. - Agora eu tenho que tomar banho ou não chegamos antes das 11:30.
  Ela tentou se afastar, mas ele não soltou.
  - %Ryan%!
  - E o meu beijo? - pediu, fazendo-a revirar os olhos teatralmente, mas dando aquilo que pediu.
  %Annie% saiu depressa quando ele a soltou ou então iriam começar uma coisa que exigiria muita força de vontade para parar e eles não teriam isso.
  %Ryan% pegou uma uva e voltou para o quarto para se trocar, seu uniforme formal já estava passado e tomou o devido cuidado para não amassar. Isso era um grande problema para seus superiores e num julgamento podia ser crucial.
  Ele esperou um tempo até %Annie% terminar seu banho e vendo-a sair com o vestido preto simples, mas que modelava bem seu corpo, sorriu ao ver que até mesmo descalça e sem maquiagem ela ficava ainda mais linda.
  %Annie% o encarou e viu que ele a olhava com a gravata na mão.
  - Quer uma ajuda com isso? - sugeriu e ele apenas concordou com a cabeça.
  Se aproximou e pegou a gravata da mão dele, colocando-a em volta do pescoço e dando o nó certo. %Ryan% a observava minuciosamente e sorria de lado.
  - O que foi?
  - Eu sou muito sortudo em ter você.
  Ela sorriu sem graça.
  Ainda era inacreditável que eles estavam juntos ali e trocavam carinhos como nunca, nem em seus melhores sonhos tinha imaginado que agiria como se fosse casada com %Ryan% no apartamento dele. Sequer imaginava que eles teriam um futuro.
  Sem dizer nada, ela envolveu os braços na cintura dele e o abraçou firmemente, sentindo-o colocar uma mão no cabelo dela e a outra em sua nuca.
  - Eu não poderia pedir por mais nada. - ela sorriu largamente ao escutá-lo e inspirou o perfume dele.
  %Ryan% a enchia de elogios e não cansava de demonstrar seu amor, e ela nunca sabia como retribuir então apenas mantinha contato físico. Ele prometera a si mesmo que faria de tudo para mostrar o quanto a amava verdadeiramente depois do ataque. Não era como se precisasse, ele havia tomado três tiros por ela, era mais do que suficiente.
  Entretanto ele não via dessa forma, sabia o quanto a magoou e reconquistar sua total confiança demoraria um tempo, mesmo que ela dissesse que confiava cegamente nele, %Ryan% sabia que um certo receio era sentido por %Annie% e não a culpava.
  A única saída que encontrou era mostrar o quão especial ela era, isso ajudaria a quebrar essa barreira. Havia jurado que seria sincero sempre e em qualquer situação.
  O casal não ficou muito tempo abraçado, precisavam se apressar para terminar de se arrumar e ir para a base, isso levaria um tempo um pouco maior e seus superiores odiavam atrasos, em um julgamento isso poderia fazer a sentença ser crucial.
  %Annie% colocou seus saltos depois de ter passado uma maquiagem leve, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo firme. Já %Ryan% se apressou para colocar seu calçado, pegar seu óculos escuro e a boina do uniforme.
  Devidamente arrumados, eles saíram do apartamento de mãos dadas, ambos estavam nervosos e tentavam passar uma confiança inexistente.
  O destino de %Ryan% seria decidido naquele dia e sabe-se lá o que estava prestes a acontecer.
  Ele só pedia a Deus que seja lá o que fosse acontecer, que o final dessa história fosse feliz.

[...]

  %Annie% fazia de tudo para controlar a vontade de roer as unhas, fora proibida de entrar na sala em que %Ryan% seria julgado e aquilo a deixou nervosa, não parava de tremer e bater o pé em um ritmo descompassado.
  “Atividade restrita é uma ova”, pensou.
  Se o Coronel e o Major levassem em conta o depoimento dela, veriam o quanto a atitude de %Ryan% foi heroica. Quer dizer, ele fez com que a Equipe Alfa acabasse com os rebeldes naquele mesmo dia, isso devia ser o bastante, certo? O problema estava resolvido.
  Bom, era isso o que ela e metade da população achava, que a paz havia voltado a reinar no país, mas isso estava longe de acontecer.
  Na verdade, tempos sangrentos estavam prestes a acontecer e todo o exército sabia disso, inclusive %Ryan%.
  A invasão dos rebeldes pela fronteira era apenas a ponta do iceberg, existe tanta coisa por baixo que ninguém sabe, o trabalho pesado estava apenas começando.
  Durante o julgamento, %Ryan% se manteve sério e imóvel, bateu continência para seus superiores quando chegou e sentia o olhar do Major queimar sobre si. Não havia levado bronca dele até agora e isso o preocupava, se Major Walker não tinha dado seu chilique era porque alguma coisa tinha acontecido.
  A Equipe Alfa não estava presente, %Ryan% era seu Capitão e exigiu lidar com as consequências de seus atos sozinho, afinal a decisão que tomou fora apenas sua. Não prejudicaria seus parceiros ainda mais.
  Porém para a sua surpresa, por ordens do Ministro da Segurança e o próprio Presidente, %Ryan% não seria prejudicado em sua carreira militar, mesmo sabendo que seus superiores não concordavam com tal ordem. Segundo o Presidente, o ato heroico dele não poderia ser ignorado e nem puni-lo por fazer o que o exército é obrigado: proteger as pessoas e o país.
  Mas ele havia infringido uma lei militar, se recusou a cumprir ordens e isso traria consequências, teria a subida de cargo congelada até finalizar sua nova missão que era suicida e ele não teria o direito de recusar, tinha a obrigação de finalizá-la com sua equipe, que ganhará novos membros.
  As palavras do Major Walker ainda soavam duras em seus ouvidos, “veremos o quão bom você é, ou se é apenas uma farsa” fora o que dissera.
  Engraçado que não foi o Major que estava ali para salvar %Annie% e metade do país.
  A farsa não era ele, um simples soldado.
  Só que %Ryan% sabia que sua punição era mais do que aquilo, ele tinha certeza que o Major havia transformado aquilo em uma guerra pessoal. Ele não era idiota, afinal %Annie% era uma joia rara que o Major queria em seu domínio e o fato de %Ryan% ter acabado com qualquer plano dele conseguir isso, tinha aumentado a fúria de seu superior.
  %Ryan% respirou fundo assim que se retirou da sala, haviam sido duas horas bem longas de julgamento e ele só queria ir para casa antes que seu trabalho sugasse suas forças como nunca.
%Annie% estava esperando numa salinha próxima dali reservada para ocasiões como aquela, se levantou da poltrona que sentava quando viu a figura do amado se aproximando. A expressão dele era indecifrável e isso a preocupou.
  - Está tudo bem? - perguntou, receosa.
  %Ryan% sorriu de leve e a segurou pela cintura, depositando um beijo suave na bochecha dela logo em seguida.
  - Está sim. - respondeu rápido. - Se importa de esperar um pouco aqui? Preciso fazer uma ligação.
  - Não, tudo bem. Eu espero. - ela sorriu para ele, notando que o semblante mudou para um ar mais sério.
  - Eu não demoro. - garantiu e se afastou, já tirando o celular do bolso.
  %Annie% suspirou ao encará-lo ir, não fazia ideia o que tinha acontecido e a forma como ele estava agindo não ajudava em tentar desvendar.
  - Achei que ele não fosse embora logo. - uma outra voz surgiu atrás de %Annie% e ela pulou de susto, se virando para quem fosse que estivesse atrás dela.
  Reprimiu a vontade de bufar quando o olhou.
  - Major. - apenas abaixou a cabeça rapidamente, não sabia como reagir, ela era uma civil e não tinha o porquê de bater continência, mas ainda respeitava o cargo dele.
  - %Annie%. Continua tão bonita como da última vez em que a vi.
  ‘Tão bonita como da última vez em que a viu’? Levando em consideração que ela estava com a boca cortada, a roupa suja de sangue por causa dos tiros que %Ryan% levou e o desespero que estava no hospital, não achava que o elogio era verdadeiro.
  Ela desviou o olhar para qualquer outro lugar, aquilo não era uma situação confortável de se estar e o Major não tornava nada mais fácil.
  - Como vai a vida de comprometida?
  Depois do ataque dos rebeldes, %Annie% sabia que a partir do momento em que estivesse com %Ryan%, as pessoas o usariam para atacá-la emocionalmente e vinha treinando sua cabeça para que estivesse preparada para isso.
  Não era surpresa que o Major fosse o primeiro a usar esse método, aparentemente ele ainda tinha uma quedinha por ela mesmo tendo levado um fora.
  Ela optou por não responder, olhava para todos os lados à procura de %Ryan%, que parecia demorar uma eternidade para aparecer.
  O Major riu irônico.
  - %Ryan% anda te ensinando direitinho, não é? - foi involuntário, mas %Annie% o encarou assim que escutou o nome do amado, foi um erro porque o Major sabia que essa era a fraqueza dela e agora com a confirmação, não iria parar. - O gato comeu a sua língua? - provocou.
  %Annie% suspirou.
  - Não, só uso minha educação pra quem merece.
  Aquilo tirou o Major da guarda por um minuto, não estava acostumado com as pessoas retrucarem, ele mandava e elas obedeciam.
%Annie% parecia inocente e quieta, mas sua língua era afiada, era ousada quando precisava.
  Se sentindo desconfortável com o sorriso de lado que ele a lançava e a forma como a encarava, %Annie% pediu para que %Ryan% chegasse logo e eles pudessem ir embora dali.
  E de fato aconteceu, ele voltou mas ficou tenso com a presença do seu superior. O respeitava como líder, mas tinha nojo de quem ele era, agora mais do que nunca.
  %Ryan% se aproximou e fez questão de segurar %Annie% pela cintura, não porque queria exibir como se fosse um troféu, mas porque ela tremia e parecia estar prestes a desmoronar com aquela situação.
  - Podemos ir. - anunciou. - Está tudo bem? - perguntou baixo para que apenas ela ouvisse, embora soubesse a resposta.
  %Annie% apenas balançou a cabeça freneticamente afirmando, mas sua cara dizia outra coisa.
  %Ryan% olhou para o Major, gostaria de poder ignorar sua presença, mas ele era obediente, era a sua natureza de bom soldado.
  - Senhor. - bateu continência.
  %Annie% respirou fundo e olhou para %Ryan% como se implorasse que eles fossem embora, sabia que ele entenderia mesmo sem precisar olhá-la.
  - Dispensado, soldado. Nos vemos em breve... - Major falou de uma forma provocativa e ambos não sabiam para quem ele havia se dirigido.
  %Ryan% fez pressão na cintura de %Annie% para que eles pudessem sair dali e ela suspirou alto quando chegaram do lado de fora do prédio. Os dois sentiam a tensão pelo corpo todo e assim que trocaram olhares sabiam que teriam uma longa noite de amor para poder esquecer os problemas que agora iriam aparecer com mais frequência do que sequer imaginavam.

[...]

  Spero e Shalom significam esperança em latim e paz em hebraico, respectivamente, coincidentemente eram também os nomes - agora oficiais - dos dois países que assinaram o Tratado dos Vilarejos.
  O Brasil fora dividido ao meio depois de uma longa discussão do congresso sobre como se governar um país tão grande e com áreas tão diferentes. Foi decidido então que o Norte e o Sul se separariam, uma ação que fora movida pelo próprio Sul, levando em conta o Centro-oeste do país que era tão produtivo quanto o próprio Sul. Depois de um longo tempo fazendo acordos, o Norte aceitou com a expectativa de poder ser governado da forma correta sem esquecerem de nenhum canto. Era a oportunidade perfeita de fazer tudo certo como se fosse a obra de arte pronta e o Brasil em si apenas o rascunho.
  Spero era o Norte, Shalom o Sul. Nomes bem sugestivos para as regiões.
  Tudo parecia ir bem, mais independência para as regiões que ansiavam por isso há muito tempo, mais controle em relação a diversas áreas, o povo mais satisfeito.
  Foi então que a primeira guerra aconteceu, rebeldes e revolucionários que não concordavam com aquela situação. Obviamente morte de inocentes passaram de um número razoável e começaram a assustar o resto da população, não era apenas rebeldes contra militares, era muito mais. Vizinho contra vizinho, irmão contra irmão. Brasileiro contra brasileiro.
  O presidente de Spero queria vingança, ele era simpatizante com a causa dos rebeldes e seu coração estava manchado com o sangue de todos aqueles que morreram pelo movimento, foi então que convocou todos os homens do país a servirem no seu exército e atacar sem nenhum aviso Shalom. Foi um verdadeiro massacre que custou a cabeça do presidente e uma punição para todos aqueles que concordaram, e para que jamais aquilo acontecesse novamente, o Tratado fora imposto.
  O fato era que os dois países nunca estiveram em paz e provavelmente nunca estariam, o perigo era iminente e os inimigos jamais estariam satisfeitos, eles sempre retornavam.

  %Ryan% passava essa história em sua cabeça várias e várias vezes, ele nasceu em Shalom e conhecia sobre a guerra como todo cidadão comum do país. A história vinha para assombrar sua mente, mas sua expressão não denunciava a confusão que sua cabeça estava. Não queria preocupar %Annie% com seu trabalho, era difícil até para ele assimilar tudo aquilo, imagina para ela. Fora que era obrigado a manter sigilo sobre suas missões então não poderia falar nada.
  Tentou prestar atenção no que ela dizia sobre o jantar que eles organizaram com Soares e Lynn naquela noite, ela não parava de tagarelar sobre o quanto estava feliz de poder rever a amiga que voltava de viagem depois de dois anos.
  - ...daí eu pensei nisso, o que acha? - sorriu para o amado, mas ao encará-lo notou que ele olhava fixamente para a rua sem nem ao menos piscar. - %Ryan%? - pensou em cutuca-lo mas tendo em vista que ele era um soldado com reflexos rápidos e que estava dirigindo, decidiu apenas chamar sua atenção falando alto.
  - Sim? - ele voltou os olhos para ela por poucos segundos antes de entrar no bairro conhecido.
  - Você não me escutou. - não era uma pergunta.
  - Eu… desculpa, amor. - ele balançou a cabeça e a simples palavra ‘amor' fez %Annie% sorrir brevemente, porque ela voltou a ficar séria já que tinha notado como ele estava preocupado.
  - Aconteceu alguma coisa no julgamento? Você está quieto desde a hora que saímos.
  - Tá tudo bem, sério. – garantiu, mesmo sabendo que aquilo era uma tremenda mentira.
  - E desde quando tudo fica bem no exército? - ela perguntou e o encarou desconfiada.   Ele riu sem humor. Pior que ela tinha razão.
  - Não é nada demais, eu só tô pensando nas coisas que tenho que fazer amanhã.
  - Se eu bem me lembro - ela levantou a mão para poder acariciar a bochecha dele com a ponta dos dedos. - alguém tinha me dito para não me preocupar demais com o futuro.
  Mais uma vez ele riu, dessa vez se lembrando das mesmas palavras que haviam saído de sua boca quando %Annie% estava assustada com o rumo que seu relacionamento tomaria depois que %Ryan% saísse do hospital depois do ataque.
  - É, talvez você tenha razão. - ele parou o carro em frente ao seu prédio e a olhou ternamente. - Eu devia me preocupar com coisas mais importantes. - desafivelou o cinto e virou o corpo para ela da forma que o carro lhe permitia.
  - Ah é? - ela sorriu e uma de sua mão foi para o peitoral dele. - Tipo o quê?
  - Isso aqui. - %Ryan% passou a língua nos lábios rapidamente antes de selar com os de %Annie%, só deu tempo dela suspirar e fechar os olhos antes de senti-lo.
  Os beijos do casal sempre tinham um significado, nem sempre transmitiam apenas paixão ou desejo, ia muito além disso. %Ryan% procurava em %Annie% naquele momento o combustível necessário para que lembrasse o que ele era, um bom soldado que faria o bem para o país não importava o que acontecesse. %Annie% sentia o desespero dele, por isso fez com que o beijo fosse lento e significativo para o que ele estava necessitando, sem pressa e com todo o amor que ela sentia.
  Esse beijo ficaria na cabeça de %Ryan% para sempre, porque seria dele que o soldado tiraria forças nos momentos mais obscuros e difíceis. E estes iriam começar a partir de agora.

[...]

  %Annie% estava uma pilha de nervos. Cozinhar sempre fora uma arte para ela, não foi a toa que ela se formou na escola técnica em culinária, mesmo não tendo tido tempo de viajar pelo mundo para poder adquirir mais conhecimento, mas com %Ryan% perguntando o que tinha que fazer a cada cinco minutos para poder ajudá-la estava fazendo-a perder a concentração. Depois da primeira hora, ela apenas disse para que ele fosse arrumar o apartamento que estava uma zona. Não queria que os amigos comentassem depois como a casa deles era bagunçada.
  Espera… a casa deles?
  %Annie% parou o que estava fazendo por um minuto ao reparar que pensava como se ela e %Ryan% fossem casados, como se aquela fosse sua própria casa.
  - Amor. - a voz de %Ryan% apareceu do nada na porta da cozinha e ela pulou de susto, estava totalmente longe dali.
  - Ai que susto! - virou para encará-lo, que riu da cara dela. - O que foi?
  - Connor disse que ele e a Lynn chegam em quinze minutos, você não quer ir se arrumar? Eu olho a comida. - ele se aproximou, fazendo-a relaxar.
  - Sim, é melhor mesmo.
  - Ei. - %Ryan% a chamou quando ela se virava para ir embora, assim que os olhos dela voltaram para encará-lo, depositou um beijo rápido nos lábios dela.
  Eles não disseram nada, nem era preciso, apenas se afastaram e cada um foi fazer o que devia.
  %Ryan% não tinha muito o que fazer, só observar a comida no forno para que não queimasse.
  Já %Annie% estava alheia a tudo, pegou a roupa que tinha separado e foi tomar banho, não deixou de pensar na forma como ela e o namorado agiam como se fossem casados. Não que fosse ruim, muito pelo contrário, mas o relacionamento dos dois estava tão forte em tão pouco tempo que ela sequer tinha reparado.
  Foi então que sua mente viajou para o primeiro dia em que %Ryan% ficou em coma depois do ataque dos rebeldes, jamais se esqueceria daquele dia.

  Há 7 meses. Hospital Geral.
  Às 4:46 AM. Sala de espera.

  %Annie% sentia os olhos pesarem, os médicos passavam, mas nenhum deles tinha uma boa notícia, aliás nenhum deles tinha um resultado decente há horas.
  “Ele entrou em coma induzido, o cirurgião achou melhor. %Ryan% perdeu muito sangue.”
  “E o que acontece agora?”
  “Nós esperamos”

  Não conseguia parar de pensar naquela breve conversa com o médico que atendera %Ryan% quando ele chegou na emergência.
  Não queria esperar, queria que ele acordasse.
  Respirou fundo mais uma vez e passou as mãos no cabelo, completamente frustrada. Tej não estava mais lá, ele era o 2°Tenente e estava em reunião com o Major.
  Ele não foi muito específico, ou %Annie% não escutou mais detalhes.
  - Cadê o meu filho? - escutou uma voz esganiçada e desesperada. - Eu quero ver meu filho agora. - olhou em direção a mulher que falava alto e pôde ver que por mais acabada que ela estivesse, ainda estava elegante. Por um momento, o formato do rosto dela era familiar.
  Sentiu a mulher olhar para ela e viu o semblante dela mudar, agora encarava %Annie% com fúria e desprezo, viu a mulher caminhar até ela e não fez nada.
  - Eu não acredito que você está aqui, você é muito cara de pau mesmo. - olhou confusa para a mulher que praticamente cuspiu as palavras em sua cara.
  - Como?
  - Não se finja de cínica, garota, se o meu filho está aqui a culpa é toda sua!
  %Annie% piscou algumas vezes, não estava entendendo o que aquela mulher estava falando e pior, porque gritava com ela.
  - Ah, não sabe do que eu estou falando? - %Annie% sentiu o queixo cair quando a mulher falou novamente, era quase como se tivesse lido seus pensamentos, na verdade ela tinha reparado a expressão confusa da jovem. - %Ryan% sequer te mostrou uma foto da mãe dele? - riu amargurada. - Eu sabia! Foi por você que ele foi embora de casa, por você que ele renegou a família e por você que ele tomou três tiros. - a mulher levantou o dedo e apontou na cara de %Annie% que estava totalmente sem reação. - Se você acha que eu a perdoarei por isso, está enganada. Eu jamais serei a favor desse romancezinho bobo de vocês, meu filho vai perceber o que ele deixou pra trás e irá te deixar. Não pense que o ganhou, você nunca poderá dar a ele a vida que o meu %Ryan% merece. Se você acha que um dia se casará com ele então saiba que eu farei de tudo para que este dia não chegue, e se chegar, desejarei que sejam infelizes.
  A mulher partiu como chegou, rápido demais. %Annie% sequer conseguiu piscar na presença dela e durante suas acusações, quando ela foi embora sua ficha caiu, tinha finalmente conhecido sua sogra que a odiava mais do que tudo.

  Atualmente. Apartamento do %Ryan%.
  21:00 PM

  O jantar tinha fluído na mais perfeita ordem, %Annie% e Lynn não conseguiram conter seus gritinhos ao verem uma a outra depois de tanto tempo e os rapazes apenas acharam graça enquanto se cumprimentavam com um aperto de mão e tapinha nas costas, a comida estava divina e fora elogiada pelos amigos várias vezes. Connor havia trazido algumas cervejas, com a desculpa de que como soldados eles não poderiam beber, mas agora que estavam de “férias” tinham que aproveitar, os casais se reuniram na sala de estar e começaram a jogar o papo fora.
  - Como foi a ida para o Canadá, Lynn? - %Ryan% perguntou enquanto colocava a mão na perna de %Annie%, ela havia melhorado o humor com a presença da melhor amiga e daquele ar mais leve que o casal trouxera.
  - Maravilhosa, Vancouver é incrível. Uma pena que o Connor não pôde ir comigo. - ela fez um biquinho e o namorado riu.
  - Me desculpe, amor, eu tinha um país para salvar. - brincou, dando um beijo na bochecha dela.
  Lynn fora para o Canadá para estudar Moda, clichê, mas ela havia conseguido uma bolsa muito importante e difícil num período integral com a oportunidade de já atuar no mercado em uma Boutique famosa de lá, foi de curto prazo mas que fazia a bagagem profissional dela alavancar em comparação às concorrentes no país.
  - É muito ruim você ir para uma cidade toda romântica sem o seu parceiro, não tentem fazer isso. - aconselhou e foi a vez do outro casal rir.
  - Não se preocupe, amiga, não tenho intenção nenhuma de sair do país tão cedo. - %Annie% falou e Lynn rolou os olhos teatralmente.
  - Claro que não, agora que você finalmente tomou vergonha na cara e está com o %Ryan%.
  - Lynn!
  - O quê? - a amiga levantou as mãos para cima. - Não é como se ele não soubesse que você sempre foi louca por ele né, dá um tempo.
  %Ryan% olhou para a amada que estava ficando vermelha e conteve a vontade de agarrá-la ali mesmo na frente dos amigos.
  - Fica quieta, não é só por causa disso. Eu tenho um emprego agora, tá bom.
  Todos riram e Lynn aplaudiu a amiga, embora não tivesse gostado muito da ideia da amiga ter largado o que ela mais amava fazer que era cozinhar, estava feliz por ela conseguir ajeitar a própria vida e principalmente, por estar com %Ryan% ao seu lado.
  - Você não é a única a ter novidades por aqui. - Lynn falou e olhou para Connor, os dois sorriram cúmplices.
  %Ryan% e %Annie% ficaram confusos, trocaram olhares, mas ambos não sabiam de absolutamente nada.
  - O quê? - %Ryan% perguntou.
  Lynn remexeu na bolsa e %Annie% a olhou desconfiada.
  - Não me diz que você está grávida.
  Lynn parou e encarou a amiga, Connor arregalou os olhos e instantaneamente ficou branco como papel e virou motivo de piada para %Ryan%, que agora gargalhava da cara do amigo.
  - Pela cara do Connor, amor, tenho certeza que não é isso. Ou então seria uma surpresa pra ele também. - %Ryan% brincou.
  - Deus, %Annie%, se você quer uma criança brincando por aqui, faça um filho você mesma. - Lynn retrucou e foi a vez do outro casal ficar sério, Connor não perdeu a oportunidade de rir do amigo. - Ok, vocês são péssimos para adivinhar então só leiam. - Lynn entregou um envelope para o casal.
  %Ryan% o pegou e %Annie% se aproximou mais para poder ver o conteúdo, o envelope era marfim e com as iniciais do casal juntas em uma caligrafia fina.
%Ryan% tirou o papel de dentro do envelope e o queixo do casal caiu ao ler o conteúdo.

“Connor Soares e Lynn Alcantara alegremente os convidam para o seu casamento…”

  %Annie% olhou para o casal, sentindo seus olhos lacrimejarem de felicidade.
  - Vocês vão se casar? - foi uma pergunta idiota, afinal a resposta estava nas mãos de %Ryan%, porém foi a única coisa que ela conseguiu dizer.
  Connor assentiu, com um sorriso de orelha a orelha.
  - Queríamos que vocês fossem os primeiros a saber, até porque vocês fazem parte da nossa história. - Lynn estava prestes a chorar também e sentiu o noivo acariciar sua mão levemente.
  - E também queremos que sejam os padrinhos. - Connor acrescentou e esperou a resposta do casal.
  Embora estivessem felizes pelos amigos, as reações foram totalmente contrárias do que realmente sentiam. %Ryan% olhava para o convite como se aquilo fosse uma bomba que estava prestes a explodir em suas mãos, Connor merecia e era um sortudo por ter encontrado alguém como Lynn, mas também sabia o porquê de tudo aquilo e de repente lhe bateu uma tristeza. Não era tristeza do amigo, mas de si mesmo.
  %Annie% estava a ponto de chorar por dois motivos: estava tão feliz pela amiga, se conheciam desde sempre e agora estava prestes a vê-la se casar, mas também estava triste porque no final, ela queria estar no mesmo lugar que a amiga, mas nunca poderia.
  - Não dá pra recusar um convite desses. - %Annie% respondeu e sorriu para os amigos, Lynn percebeu que tinha alguma coisa errada e tratou de fazer algo.
  - Perfeito, vamos pegar as cervejas para comemorar então. - Lynn não esperou uma resposta e puxou a amiga pelo punho para a cozinha no mesmo instante. - Vai, fala. - soltou a amiga e cruzou os braços.
  - Lynn, eu juro que estou feliz por você se casar com o Connor, não me entenda mal.
  - Eu sei, %Annie%, sei que você está feliz e que nunca ia recusar a ser a minha madrinha. - %Annie% suspirou aliviada. - Mas também sei que tem mais alguma coisa.
  %Annie% respirou fundo antes de olhar para a amiga.
  - O que o Connor te contou exatamente?
  - O resumo, que você e o %Ryan% acabaram se reaproximando na guerra contra os rebeldes, que você foi feita de refém e ele fez o impossível pra te salvar, e agora estão juntos oficialmente.
  - O que ninguém sabe é que eu conheci a minha sogra no hospital quando o %Ryan% estava em coma. - contou e a amiga ficou chocada.
  - Espera, a sua sogra? A mulher que te odeia porque você é de uma classe social inferior da dela? - %Annie% assentiu. - E é claro que ela te encheu de xingamentos. - adivinhou.
  - Você conhece essa gente melhor do que eu. - Lynn rolou os olhos, infelizmente era verdade. - Ela me ameaçou.
  - O quê?
  - Ela disse que eu nunca casaria com o %Ryan% e que ela vai fazer de tudo pra isso não acontecer.
  - Mas que mulherzinha mais baixa… Você falou com o %Ryan%?
  - Não, você tá maluca? Eu não posso.
  - %Annie%, sua sogrinha amada te amaldiçoou. Você tem que falar com o seu namorado.
  - %Ryan% teve e ainda tem problemas demais com os pais pra encher a cabeça dele com mais. - %Annie% suspirou e a amiga riu desacreditada.
  - Quando você vai aprender a alertar ele sobre o que a família querida faz com você?
  %Ryan% não se moveu um milímetro sequer depois que as meninas foram para a cozinha, Connor o observava atentamente, sabia o que o amigo pensava e tentava achar uma forma de consolá-lo.
  - %Ryan%… - chamou a atenção, o amigo apenas o encarou sem dizer nada. - Sabia que ia acontecer, eu tinha que fazer isso.
  %Ryan% respirou fundo e pensou bastante antes de falar.
  - Eu estou feliz por você, cara, é só…
  - Você sente muito pelo o quê vai acontecer com a Lynn quando eu não estiver mais aqui.
  %Ryan% massageou a nuca, era um cara de poucas palavras, seus gestos bastavam.
  - Devia fazer a mesma coisa com a %Annie%, enquanto ainda está aqui, sabe.
  - Nós somos soldados. - começou, coçando a nuca. - E esse novo trabalho… não vai ser a coisa mais fácil que já fizemos e não quero… eu não sei se é justo com ela fazer isso. Dar esperança depois que… você sabe.
  - Mas é melhor deixar que ela fique com uma pequena lembrança sua do que apenas dor.
  Connor fez %Ryan% se calar, aquilo era verdade e machucava o peito dele em ter que admitir pra si mesmo.
  Estava sendo egoísta, mas o peso que sentia nas costas por conta da sua equipe e das famílias de seus soldados era grande, ele era o responsável por eles e sua cabeça não parava de pensar em tudo que ainda iria acontecer.
  - Consegue imaginar a Lynn carregando uma miniatura sua?
  Connor sorriu largamente.
  - É o que eu mais quero na vida.
  %Ryan% respirou fundo e desviou o olhar do amigo, não podia recriminá-lo por isso, desde que conhecera Lynn sonhava em construir uma família com ela e %Ryan% sabia disso, e o apoiava.
  Mas agora a situação mudava, ambos tinham plena consciência disso.
  Porém, %Ryan% não podia ser egoísta, era uma escolha do amigo e não podia fazer nada além de apoiá-lo.
  - Não espere que eu chore na cerimônia, sabe que não acontece fácil. - falou, vendo Connor sorrir agradecido.
  As meninas voltaram para a sala com as garrafas de cerveja na mão, %Annie% era a única que não iria beber - não era muito fã de cerveja -, a conversa se estendeu sobre o casamento e a viagem de lua de mel que os noivos estavam planejando.
  Foi um final de noite bem agradável, embora %Ryan% e %Annie% não estivessem se encarando até o momento, ocupados demais em pensarem em seus próprios problemas sem coragem para compartilhá-los, eles se prontificaram em ajudar os amigos no que fosse necessário. %Annie% com a parte mais decorativa e chata, e %Ryan% com a parte braçal. Teriam que correr atrás da roupa adequada já que o casamento seria dali a dois meses, em cima da hora, mas fariam de tudo para que desse certo.
  Quando os amigos anunciaram que iriam embora já era tarde, %Annie% estava cansada e ansiosa pelo dia seguinte de trabalho, se despediram com abraços calorosos e ficaram em silêncio por um longo tempo.
  Sem dizer nada, %Annie% foi pegar sua bolsa e seus sapatos para calça-los e ir para casa, por mais que gostasse da ideia de morar com %Ryan%, aquela ainda não era sua casa.
  - %Annie%, você não quer… - %Ryan% começou a falar depois que viu a namorada colocar o sapato.
  - Eu acho que nós dois precisamos passar essa noite sozinhos. - ela interrompeu de modo suave.
  Não estavam brigados ou coisa do tipo, mas ela estava certa, tinha muitas coisas para pensar e precisava de um tempo sozinha, organizar a cabeça enquanto podia.
Amanhã seria um longo dia.
  - Eu te levo então. - ele decretou, pegando as chaves do carro em cima da mesinha da sala.
  Ela concordou e pegou a bolsa, saindo do apartamento com %Ryan% atrás dela trancando-o logo que passou pela porta. O caminho até a casa de %Annie% foi tão silenciosa quanto a ida deles ao carro, não era um silêncio que incomodava os dois. Muito pelo contrário, eles precisavam daquilo.
  %Ryan% estacionou na frente e respirou fundo antes de olhar para %Annie%, ela tirou o cinto e colocou o cabelo atrás da orelha antes de encará-lo.
  - Boa sorte amanhã no emprego. - a mão dele que não estava no volante tocou a bochecha dela e fez um carinho gostoso.
  - Eu estou nervosa. - confessou.
  - Não fique, no final tudo vai ficar bem. - ela concordou mas não falou nada.
  %Ryan% se aproximou para beijá-la na testa de forma doce, ela aproveitou para fechar os olhos e sentir os lábios dele em sua pele.
  - Eu amo você. - %Ryan% sussurrou, fazendo-a suspirar.
  - Você sabe o quanto eu amo você. - ela respondeu o que costumava, vendo-o sorrir.   %Annie% saiu do carro, acenando para o namorado e entrando em casa rapidamente. %Ryan% só deu a partida quando viu que %Annie% estava dentro e segura em casa, tinha pegado essa mania depois do ataque, para soldados como %Ryan% ser cauteloso e esperto depois de lidar com bandidos era mais comum do que aparentava, embora ninguém realmente notasse isso, inclusive %Annie%.
  Mas o que os dois não sabiam era que um carro preto analisava cada passo deles no final da rua.


  Nota da Autora: Bom, aqui estou eu de novo haha
  A princípio Military era para ter sido apenas uma short, um surto de quem precisava escrever urgentemente como uma forma de terapia (funcionou) mas eu também não sou do tipo que gosta de finais. Então, eu pensei: “por que não continuar?”.
  E 5 anos depois eu estou aqui, depois de muitos bloqueios e muitos acontecimentos para finalmente colocar um ponto final nessa história que me acompanhou mais do que eu pudesse imaginar.
  Quando eu comecei a escrever esse universo em 2017, não imaginei que pudesse me apegar tanto a essa história como me apeguei, eu realmente espero que vocês gostem porque vários fragmentos pessoais estão escritos aqui e essa história é o meu chaveirinho haha.
  Obrigada Lai por me motivar (ou ameaçar me bater por não continuar logo) e me dar a força que eu precisava para escrever o que na verdade já está basicamente pronto, era só colocar no papel.
  Obrigada a você também que está lendo e eu espero que sinta que vai valer a pena acompanhar essa segunda parte porque eu não vou parar dessa vez!
  Até o próximo capítulo ♥

Capítulo 01
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Mari

AAAH QUE ALEGRIA QUE AGORA TEMOS UMA LONG VINDA DE MILITARY DIGNITY!!!!! Eu amei a primeira parte e, como disse, fiquei muito feliz que resolveu continuar, acredito que essa história tem muito potencial a ser explorado e que você vai fazer um ótimo trabalho <3
Mal posso esperar pelos próximos capítulos, quero muuito saber quando a pp vai jogar no ventilador o que a demonia da sogra falou pra ela e também estou mega curiosa sobre quem está de olho no nosso casal ahahahhah
Mas é isso, amei a ideia dessa nova história e estou muito feliz em acompanhar os personagens novamente <3 <3

Maari F.

Minha xará 💚💚
Obrigada, Mari! Essa jornada não seria possível sem você e eu fico tão feliz em poder voltar a escrever e ter você como minha beta de novo. Que bom que você gostou 🥰

Fe Camilo

Super curiosa com o que vem por aí *-*
Roendo as unhas aqui para ver o que vai acontecer com esse casal e agoniada para saber quem tá observando eles, o medo da PP ser sequestrada e.e

Maari F.

Oi Fe!!
Fico feliz que você esteja curtindo a história 😍 obrigada!
O que será que os próximos capítulos reservam para os dois? 👀

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