Around The World
Escrito por Li Santos | Editado por Natashia Kitamura
Parte I - A proposta irrecusável
Meus pensamentos estavam longe, muito longe, quando ouvi a voz do meu irmão mais velho ecoar por toda a casa. De início, eu ignorei e mantive minha posição: deitado em minha cama, olhando para o teto e pensando. Mas, era óbvio que não consegue me ver quieto que já vem perturbar o meu juízo.
— !!!! - berrou ele, mais uma vez. Suspirei frustrado por não conseguir ter meio segundo de paz. - Vem logo, inferno!! Os caras estão aqui! Se eu precisar ir aí te buscar eu vou te arrastar pelos cabelos, ! - terminou de berrar e eu resolvi levantar só porque estou curioso.
Sempre que há uma reunião com os caras, sai algo legal. Temos uma banda há alguns anos, estamos começando quando se trata de fama, mas já fizemos alguns shows em festivais e casas de shows da cidade.
Desci e os caras já me aguardavam na sala. e sentados no sofá, na poltrona e em pé, me fuzilando com o olhar.
— Até que enfim, ! - reclamou ele. Revirei o olhar e me sentei na outra poltrona.
— Você só reclama, . Parece uma velha! - zoei a cara dele e todos riram. Menos ele.
— Mimado! - nunca se conformou com o fato de nossos pais me darem coisas que ele sempre quis ter, mas nunca teve.
— Invejoso! - rebati.
— Hey! Galera, foco, por favor! - interviu , sempre sendo o apaziguador de minhas discussões com . - Vamos lá, , diz porque nos chamou com tanta urgência.
— Então, - inflou o peito e soltou a respiração, me parecia satisfeito com algo - aquele cara que ia conseguir shows para nós, lembram dele?
— Fuyuki? - questionei.
— Ele mesmo! Então, ele nos chamou para tocar num festival numa cidade não muito perto, mas dá para ir.
— Onde fica? - relutou um pouco a falar, mas acabou dizendo qual era a cidade. Eu acabei surtando um pouco. - Tão longe?! Caraca! E como vamos, gênio? Andando! Não temos dinheiro, você sabe, não sabe? - conclui com ironia. me olhava com o mesmo olhar que ele fez ao descobrir que fui eu o responsável pela primeira surra que nosso pai deu nele. Isso foi porque eu peguei parte da adega de nosso pai e acidentalmente deixei uma prova de que foi meu irmão. Nós tínhamos 14 e 13 anos, é o mais velho.
— Nós vamos dar um jeito, - detesto quando me chamam pelo meu nome.
— Dessa vez eu tenho que concordar com o , cara - disse , de repente. Todos nós olhamos para ele. é o mais calado, mas quando fala… - Como vamos arrumar grana para viajarmos de avião em tão pouco tempo? - pelo que sabemos, o festival já era no sábado, hoje é terça-feira.
— Podemos ir de trem…
— Ainda assim, daria bastante dinheiro, . - dessa vez foi o quem falou.
estava acuado e nervoso com os questionamentos adversos a ele. Ele ficou tão atordoado que se assustou quando seu celular tocou dentro do bolso do casaco que ela usa.
— Alô? - ele nem viu quem ligava, apenas atendeu e falou - -chan! - ele disse, empolgado. Quem será? Namorada nova? Hum… - Não, eu estou bem… - meu irmão respondia os questionamentos da tal da de maneira bem sucinta. O que parece não ter convencido a moça. Então, ele contou o que realmente o chateava. Foi então, que abriu o maior sorriso genuíno que já o vi dar. - Você está falando sério, ? - a outra respondeu - Nossa, ! Isso vai nos ajudar muito! Não sei nem como te agradecer… - mas o que será que ela ofereceu para ele ficar tão feliz assim? - Ok, ok, ! Estaremos esperando você, então. Beijo! - ele desligou e continuou sorrindo.
— Nossa, o que houve para você ficar com essa cara? - perguntou , curioso. Todos estávamos.
— Nosso problema foi resolvido! Viajaremos amanhã para o festival!
— Como assim, cara?
— Lembram da ? - todos concordaram, menos eu e quando eu ia realçar esse fato, fui interrompido pelo - Então, ela tem carro e se ofereceu para nos levar até lá, só precisaremos contribuir com a gasolina, claro, mas temos que ir amanhã cedo. - explicou ele.
— Ah, a -chan é uma fofa! Merece um abraço em grupo - disse , com uma voz de bebê.
— Ela merece o mundo! - comentou .
— Hey! - falei mais alto que eles para que me ouvissem. - Quem é ? - falei com uma cara de interrogação.
— A é a , ué - disse o óbvio e todos riram. Eu joguei uma almofada nele.
— Estou falando sério! Não conheço ela.
— é uma grande amiga minha - respondeu .
— Hm… e por que eu não conheço? Ela é sua namorada? Está apaixonado por ela?
— Não sou obrigado a te apresentar todas as pessoas que conheço, - reclamou .
— Isso não responde minhas duas últimas perguntas.
— Para quê quer saber?
— Curiosidade sobre meu irmão - essa frase nem eu acreditei. Ouvi a risada abafada de .
— Pois saiba que isso não te interessa, !
— Ok, chega! - intrometeu-se . Suspirei irritado e repetiu meu gesto - Que horas vem?
— 8h. Estejam aqui antes para não se atrasarem. - disse ele num tom mandão. Meu irmão adora mandar nas pessoas.
— Até parece que é você quem manda na banda - sussurrei irritado, mas parece que o ouvido aguçado do meu irmão captou a informação e me jogou uma almofada na cabeça. - Hey!
— Foco, galera! - falou novamente e eu me calei.
Ficamos mais alguns minutos acertando detalhes da viagem. Enquanto isso, eu peguei meu celular e fui nas redes sociais do meu irmão procurar pela . Infelizmente eu não achei, mas eu não me dei por vencido ainda.
[🚗🎸]
Nossa viagem será relativamente longa.
Primeiro vamos viajar amanhã, quarta-feira, logo cedo e passaremos pela cidade vizinha, dá uma hora de viagem. Nossa segunda parada é numa cidade que fica há quase dez horas de estrada. A terceira parada é a mais longa, dá mais ou menos um dia e meio (chegaríamos lá na metade da sexta-feira). E, para finalizar, nosso destino final fica há três horas apenas. No fim das contas, se tudo sair como planejamos, chegaremos na cidade do festival sexta à noite, dá tempo de descansarmos tranquilamente para o show.
Estamos arrumando as malas e nossos instrumentos. Agora, estou terminando de arrumar minha mochila. Como estamos no outono, mesmo fazendo Sol durante o dia, o frio ainda é presente. Estou levando casacos extras.
Daqui do meu quarto posso ouvir o som vindo do quarto de . Estou tentado a ir lá e pegar o celular dele para procurar o contato da . Tomado de coragem, eu levantei e fui caminhando devagar até o quarto dele. A porta está aberta e ouço, junto com o som da música, o som do chuveiro. Entrei no quarto, na ponta dos pés e fui diretamente na cama onde está o celular dele. Desbloqueei a tela, eu sei a senha porque meu irmão põe a mesma senha em tudo. Abri as chamadas recebidas e vi a ligação dele com a . Peguei meu celular e anotei o número dela. Bloqueei o celular dele e o coloquei de volta na cama, saindo em seguida antes que ele termine o banho.
Voltei para meu quarto e tranquei a porta. Fiquei olhando para tela desbloqueada do meu celular com o contato da exposto e andando nervosamente de um lado a outro.
Isso é uma tremenda maluquice, !
Literalmente, eu nunca a vi na vida. Por que inferno eu quero tanto falar com ela? No fundo, eu sei o motivo: .
Eu nunca gostei de ficar para trás com o , em todos os sentidos. Não gosto de perder para ele. Acho que o fato dele ter me escondido a existência da possa ter me irritado e chateado um pouco. Ok, eu fiquei MUITO chateado e aposto que ele falou coisas horríveis de mim para ela. Isso se ele disse que tem um irmão. tem essa irritante mania de esquecer de mencionar a minha existência.
[🚗🎸]
Passaram-se quarenta minutos e eu ainda estou na dúvida se devo ou não ligar para .
Meu Deus, eu sou patético!
Ok, , se você vai fazer merda, que faça de uma vez!
— Ok, , você me achar um zé mané, mas ok. Posso viver com mais uma pessoa achando isso. - eu disse, pensando alto enquanto o celular chamava o número dela. Após alguns toques, a chamada caiu na caixa postal. - Última tentativa e, se não rolar, eu vou dormir frustrado. - o número chamava mais uma vez. Segundos depois, ela finalmente atendeu.
— Alô? - questionou uma voz feminina um pouco grave, muito sensual. Fiquei calado, abobalhado pela voz dela - Alô!? - repetiu ela, levemente impaciente - Vou desligar, estou ouvindo sua respiração…
— Alô! - falei, ofegante e nem sei o porquê dessa falta de ar, desse nervosismo todo. - É… eu… eu sou o… - Meu Deus, , você sabe formular frases?
— Você perdeu a memória, querido? - wow! Ela é muito sarcástica! Isso me excita...
— Não é isso, é que… - suspirei irritado comigo mesmo. - Eu sou o irmão do . - amém! Achei que não conseguiria falar.
— Amém! Achei que não conseguiria falar! - ok, isso foi estranho. - , certo? - então, ela sabe quem eu sou. Não sei se fico feliz por não ter me omitido ou preocupado pelas possíveis meias verdades que ele contou a meu respeito.
— Sim, sou o . - confirmei e ela resmungou algo que eu não entendi.
— Como conseguiu meu número? precisa de algo? - ? Estou curioso em saber o nível de intimidade que ela tem com meu irmão. O motivo? Não sei ainda, mas quando eu a ver pessoalmente, irei descobrir.
— Não, não liguei para falar do meu irmão.
— Ah, então para quê? - questionou, curiosa.
— Para te agradecer pela carona de amanhã. Vai nos ajudar muito, ! - eu disse, sinceramente. Pensei nisso há poucos segundos, na verdade, eu não sabia o porquê de ter ligado para ela.
— Ah, por nada, imagina. - falou ela e completou: - é meu grande amigo e já me deu muita força na vida. Devo muito a ele. - estou a cada segundo mais curioso.
— Ah, o que houve?
— Eu prefiro não responder, me desculpe… - desconversou ela e eu não quis forçar nada - , por que não esperou nos encontrarmos amanhã para me agradecer?
— Curiosidade em saber quem era a amiga misteriosa que tanto protege.
— Entendo - ela soltou uma risadinha. - Eu tenho que desligar.
— Ah, mas está cedo, …
— Mas eu tenho que desligar, . Amanhã nos falamos.
— Ah, …
— Sim?
— Não conta para o que eu te liguei. Peguei seu número escondido dele. - ela riu e eu me senti um idiota. Mais do que eu já sou normalmente.
— Imaginei. Não se preocupe, não vou contar. Fingirei que não te conheço.
— Obrigado, . Você é mesmo incrível.
— Não por isso. Bom, boa noite, . Até amanhã.
— Até amanhã, . Boa noite!
Desliguei a chamada e me joguei na cama, encarando o teto. Parece que desliguei a chamada com uma velha conhecida. Que loucura!
Uma mistura de coisas borbulham dentro de mim. Eu realmente gostei de conversar com ela. Sarcástica, gente boa, me lembra a mim mesmo.
Eu não sou um cara certinho, sou um pouco agitado (tá, sou bastante agitado) e dito por muitos, um pouco louco ou excêntrico. Mas, sou uma boa pessoa, posso garantir.
Acho que vou me dar muito bem com a , essa viagem será maravilhosa.
Parte II - O início da viagem
Meus ossos estalando com o frio da manhã foi o meu despertador.
Apesar do Sol incrível e do céu azul, faz frio essa manhã. Abri meus olhos e ouvi as batidas (acho que eram socos) na porta do meu quarto. Aposto que foi o insuportável do .
Levantei e fui tomar banho.
Pode parecer uma tremenda loucura, e é, mas eu sonhei com a ontem. No sonho, eu só ouvi sua voz a me dizer que eu não podia alimentar nenhum tipo de sentimento por ela. Eu não entendi bem o que significa, só sei que já acordei pensando nisso e, possivelmente, não pensarei em mais nada durante o dia. Digamos que eu tenho um problema em me apaixonar fácil. Considero um problema porque eu sempre acabo machucado no fim. Apesar de me apaixonar fácil, eu nunca namorei, pois sempre “acabou” antes de ter um relacionamento sério.
[🚗🎸]
Terminei de me arrumar e saí do quarto com minha mochila nas costas e segurando a correia dos cases da guitarra e do violão. Ao passar para ver se já estava pronto, me deparo com uma cena terrível.
Queria ser cego agora.
— PUTA QUE PARIU, ! FECHA ESSA PORTA! - está pelado andando pelo quarto dele com a porta aberta. Ele começou a rir, pois eu me virei e pus o case do violão na altura do rosto.
— Basta você não passar por ela, irmão - zombou ele, ainda rindo.
— Meu quarto está ao lado do seu! Impossível! - gritei irritado.
— Isso não é problema meu, - debochou.
— Você é inacreditável, cara - vi que ele ainda estava pelado. - Vai se vestir, “líder da banda” - fiz sinal de aspas com os dedos.
revirou os olhos e voltou para o banheiro. Desci até a sala, irritado pela péssima visão logo cedo. Deixei as coisas na sala e segui o cheiro do frango sendo frito que vinha da cozinha.
Ao chegar à cozinha, encontrei minha mãe fritando frango no fogão e meu pai colocando os pratos na mesa.
— Bom dia, filho - disse meu pai assim que me viu parado na porta da cozinha. Minha mãe virou-se sorrindo para mim e aquela cena levou embora toda a chateação que tive com .
— Bom dia, pai! - respondi e caminhei até minha mãe e dei um beijo em seu rosto - Bom dia, mãe!
— Bom dia, meu querido - respondeu ela, sorridente.
— Quer ajuda, pai?
— Pega o suco na geladeira e os copos também, por favor. - fiz o que ele pediu e pus a jarra de suco no centro da mesa e cada copo ao lado de cada prato.
— Querido, você e seu irmão brigaram de novo? - a pergunta de minha mãe foi mais retórica do que de fato um questionamento.
— Não foi nada demais, mãe. Está tudo bem entre nós. - respondi, um pouco sem graça. De fato, está tudo bem entre e eu. Ele só é insuportável com essas manias dele, mas ok, estou acostumado.
— Bom dia! - a voz de invadiu o ambiente. Ele fez o mesmo que eu e foi dar um beijo em nossa mãe.
— Bom dia, filho - respondeu ela. veio sentar-se à mesa, onde eu e nosso pai já estávamos sentados. - Bom apetite, meus queridos.
Nos servimos e comemos. O frango frito com arroz que nossa mãe fez é o café da manhã favorito meu e de desde que éramos crianças. Tão saboroso!
Não demorou muito e os caras começaram a chegar. O primeiro, óbvio foi o . e chegaram logo depois. A única que ainda não chegou foi a . O relógio marca 8h15 e nada da senhorita amiga misteriosa do meu irmão chegar. Eu já estou impaciente.
— 8h15 - repeti a hora em voz alta e apontei para o relógio do meu celular. - Onde está sua amiga, ?
— Já está vindo, ela teve um imprevisto - disse ele, sem deixar de olhar a tela do próprio celular.
— Imprevisto… - resmunguei e peguei minha jaqueta. - Vou esperar lá fora. Todo esse esquema para ninguém atrasar e ela se atrasa. Francamente.
Ainda resmungando, eu saí, já com minha jaqueta no corpo, está ventando um pouco. O tempo pede uma cama quentinha ou um gorro na cabeça. Acho que vou pegar meu gorro no meu quarto.
Eu já estava voltando para dentro de casa, quando ouvi um barulho de motor de carro ao longe. O silêncio da rua foi quebrado pela verdadeira máquina que apontava no início da rua. Eu não consigo desviar o olhar desse carrão!
— Wow! - resmunguei para mim mesmo, ouvi a porta de minha casa abrir e a voz de dizer “ chegou!”. Então, é nesse carro que vamos viajar? Acho que morri e fui ao paraíso. Que carro!
— Fecha a boca, ! - zombou e eu nem tenho reação para rebater, eu só quero admirar esse belo carro. Mas, quando a dona do veículo estacionou e desceu dele, eu tive outro motivo para encarar.
— Wow! - é LINDA! Muito linda, eu realmente não consigo mais olhar para nenhum outro lugar.
enfiou a cabeça dentro do carro e pegou alguma coisa, saindo em seguida e fechando a porta. Ela parece ser da minha altura, está usando os cabelos presos em dois coques na frente e soltos atrás, o cabelo dela é rosa, lindíssimo. Acho que estou enfeitiçado.
Ela caminhou até a minha direção e sorriu. Mas, ela sorria para meu irmão que está atrás de mim.
— Que bom te ver, - não esperou ela se aproximar mais e foi ao encontro dela, abraçando-a forte. - Está tudo bem? - ele se afastou um pouco do abraço e encarou ela, que sorriu.
— Está sim, . Obrigada por perguntar.
— Se for problema para você, não tem problema você não nos levar. - ele a olhava muito sério e preocupado.
— Calma, ! Está tudo bem agora, é sério. - ela sorriu novamente e, posso falar? É o sorriso mais lindo que eu já vi na vida!
— Bem-vinda, -chan! - disseram e ao mesmo tempo. Ela sorriu para eles e agradeceu.
— Ela é muito bonita, não é? - a voz de no pé do meu ouvido me assustou. Olhei para ele que tem um olhar malicioso.
— ? É, ela é bem bonita. - não neguei. Não tem como eu negar, é um fato.
— Está interessado, -chan?
— E se eu estiver… posso ter chance com ela? - questionei, ansioso.
— Depois da caveira que fez de você? Acho que não, meu amigo. - riu e deu tapinhas em meu ombro.
— Aquele cretino… - encarei com raiva, ele está abraçando a de novo.
— Mas, se lhe servir de consolo, está solteira. Nada está totalmente perdido, cara.
Falando isso, me deixou sozinho e foi ajudar e a colocarem todos os cases dos instrumentos no porta-malas. Na verdade, o carro da , um Chery Tiggo 8, tem sete lugares e um pequeno porta-malas no fundo. Mas, como temos muitos instrumentos, arrumamos os que não couberam lá, nos bancos traseiros.
e ainda estudavam como colocar os tambores da bateria nos fundos do carro, sem quebrar nada, quando eu me aproximei de , que está encostada no capô do carro, mexendo no celular.
— Oi! - eu disse, me encostando no capô do carro também. Ela levantou o olhar para mim e sorriu. - Belo carro.
— Obrigada, irmão do que eu acabei de conhecer e nunca havia falado antes - ela riu e eu também. Adoro o senso de humor dela.
— Agora nos conhecemos. - enfatizei.
— Sim, agora sim. Posso parar de fingir que nunca falei com você antes - olhamos para trás, pois ouvimos um barulho. - Está tudo bem aí, rapazes?
— Sim! - esticou a cabeça por cima do carro e sorriu sem graça.
— Aposto que ele quebrou algo - comentei e voltei meu corpo para frente. fez o mesmo. - Se for minha guitarra ou violão, eu sinto muito , mas você terá um amigo a menos. - ela gargalhou do meu comentário e eu tive que rir também. mostrou uma linda risada genuína. Tão fofa.
— Ah, , você é engraçado - comentou ela, se recuperando da risada.
— Você também é, - falei e ficamos alguns segundos calados, sorrindo abobados, eu ia falar algo, mas nos interrompeu.
— Podemos ir! - ele disse empolgado, mas ao ver meu olhar matador para ele, encolheu no próprio corpo. - Interrompi algo?
— Não, -chan, você nunca interrompe nada. - sorriu e apertou as bochechas dele. - Vamos viajar, rapazes! - gritou ela e todas nós gritamos de volta.
entrou no lugar do motorista. Eu literalmente fui empurrado pelo para não sentar na frente, ao lado dela. Desgraçado! Vai ter volta, velho!
Fui, contrariado, para os fundos me sentar ao lado de e , que encostava na janela. estava sozinho no último banco com vários cases ao lado dele.
Essa viagem será longa…
[🚗🎸]
Já estamos na segunda etapa da viagem. Faz quase duas horas que saímos da cidade vizinha. Já tirei uns dez cochilos, mal dormi à noite. e engataram uma conversa sobre os velhos tempos da amizade deles. Entediante.
Meu celular apitou e fui olhar, é o . Olhei para o lado e ele ria. Balancei a cabeça negativamente e dei um muxoxo. Ele mandou outra mensagem. Encarei ele novamente e ele fez sinal para que eu lesse as mensagens. Revirando os olhos, desbloqueei o celular e abri a conversa dele.
11:07 “!!!”
11:08 “Responde, !!!”
11:08 “😒 O que quer, ? Desaprendeu a falar?”
11:08 “Ah, , vamos conversar, estou entediado.”
11:09 “Abre a boca e fala comigo.”
Voltei a olhar para ele, que me ignorou.
11:09 “Não quero incomodar o ”
dormia desde que saímos da minha casa. Ele odeia acordar cedo e normalmente de madrugada ele está jogando videogame. Revirei os olhos e voltei a digitar.
11:10 “Já que quer tanto conversar comigo… Me conte mais sobre a … 🤔”
11:10 "Mas eu já te falei sobre ela…"
11:10 “Fala de uma vez, ou se não eu jogo seu celular pela janela!”
11:11 “😱 Agressivo! -chan não gosta de caras babacas. FICA A DICA!!!”
11:11 “, eu não sou babaca… só com quem merece. Tipo você ou meu irmão.”
11:11 “Sei…”
11:11 “Fala logo, ! 😒”
11:11 “Calma… vou falar!”
ficou quase dois minutos digitando, até que enviou a mensagem.
11:13 “ é uma colega nossa do Ensino Médio. Nos conhecemos no último ano, quando ela foi transferida, e logo ficamos amigos.”
Eu sou um ano e meio mais novo que , então não fizemos o terceiro ano juntos. Nessa época eu estava no segundo ano.
11:13 “Só? Levou todo esse tempo para digitar só isso? 😡”
11:13 “😱 Agressivo!”
11:13 “Desembucha logo, !”
11:13 “O que quer saber dela? Já disse que está solteira…”
11:14 “Por que ela me disse que deve muito ao meu irmão? O que rolou?”
11:14 “Ela disse isso? 👀”
11:14 “Não seja sonso, ! 😒”
11:14 “😱 Agressivo!”
11:14 “Você sabe outra palavra? CONTA LOGO, INFERNO!!!” Olhei para ele e está rindo. “Para de graça, !”
11:15 “Parei kkkkkkkkk Tá, o que posso contar, acredite , nos proibiu de contar essa parte da história. Na verdade, ela não quer que eu conte mais nada para ninguém, eu acho besteira, mas enfim. Vou te contar porque sou seu amigo. Bom, ela passou por um problema um pouco antes de nos formarmos, e e eu a ajudamos. a ajudou mais e deu muito apoio a ela.”
11:16 “👀 Hum, o que aconteceu exatamente?”
11:16 “Você é cego? 😒 Falei que ela não nos deixa contar mais nada.”
11:16 “😱 Agressivo!!” Olhei para ele, que me encarou com raiva por eu ter caçoado dele. Eu comecei a rir. “Depois você vai me contar essa história direito, -chan”
Falei, por fim, e bloqueei a tela do meu celular. Encerrando a conversa.
e ainda conversam e riem, enquanto dirige. Eu coloquei os fones e dei play em qualquer música. Tudo para não ouvir as vozes felizes desses dois aí na frente que estão agindo feito um casal de namorados.
Irritante.
Parte III - Descobertas de uma viagem
Já amanheceu, a noite foi longa e eu mal dormi novamente. Estamos na cidade da segunda parada, passamos a noite aqui. trouxe o carro da metade da viagem para cá, pois já estava cansada.Já de banho tomado, eu encontrei os demais no restaurante ao lado do hotel onde estamos.
— Bom dia! - falei, ao me aproximar da mesa onde , e estão. e estão montando seus pratos, tem um self-service aqui.
— Bom dia, -chan! - disse, sorridente e eu me derreti ao ouvi-la falar meu nome.
— Bom dia, -chan - respondi, meio bobo e fui até onde e estão.
Montei meu prato e voltei para mesa, todos já estavam comendo. De repente, notei que , que está sentado ao lado de , olha para o celular dela a todo momento. Intrigado, eu comecei a prestar atenção neles. tem uma expressão preocupada e um pouco irritada, diria.
começou uma discussão saudável com e sobre nosso repertório para o festival. Eu fingi prestar atenção, mas meus olhos e ouvidos estão direcionados somente na e no meu irmão. Ele agora revelou a ela que leu a conversa que ela mantém com alguém misterioso e está segurando a mão da e sorrindo, como se ele tivesse dando uma força para ela. De novo? O que aconteceu dessa vez?
[🚗🎸]
Todos cochilavam, menos e eu. , por estar dirigindo e eu por estar sem sono, mesmo tendo dormido mal durante a noite. Eu estou com o headphone na cabeça ouvindo música e mexendo aleatoriamente no celular.
De repente, levantei o olhar na direção da e a vi gesticular de maneira irritada. Pausei a música e puxei o headphone discretamente para ouvir a conversa.
está com uma das mãos segurando o volante, a outra às vezes ia ao ar, dançante, às vezes batia com força no volante e sua atenção se dividia entre o celular e a estrada. Chove bastante e faz um frio agradável.
— … eu não sei, tá legal? Já disse que não sei! - uma voz masculina gritava do outro lado da linha. A chamada está no viva-voz.
— Só falei com você porque ela precisa - disse com a voz embargada, mas ainda firme. - Você sabe que eu não ganho muito e ela também é…
— Eu sei que é! Não precisa me lembrar! - esse imbecil está sendo muito grosso com a e eu comecei a me incomodar com isso.
— Você fala de um jeito que parece…
— Você sabe o que eu acho.
— Você me ofende, sabia?! - ela deixou a emoção da conversa florescer, perdendo o controle de seu controle de voz, quase gritando. - Quer saber? Esqueça!
— Não desligue! Você sabe o que eu quero! - enfatizou ele.
— Pois vai continuar querendo! - desligou a chamada e segurou firme o volante.
O celular dela voltou a tocar, ignorou a chamada e desligou totalmente o aparelho. Agora, ela está chorando baixinho para não acordar ninguém. Meu coração deu um aperto ao vê-la chorar. Só quero saber quem é esse babaca que a fez chorar. Quero socar a cara dele.
parou o carro e respirou fundo, desligou o motor e desceu do carro, fechando a porta em seguida. Ainda chove e eu fiquei olhando para ver para onde ela ia. Dando a volta no carro, foi até a beira da estrada. Ficou um tempo ali parada na chuva, de costas para o carro. Angustiado pela cena, eu deixei o celular e o headphone no banco e peguei o guarda-chuva que trouxemos, descendo do carro. Logo eu estava ao lado dela, colocando embaixo do guarda-chuva, ela me olhou de imediato.
— -chan?! - cabelos soltos e molhados, grudados em seu rosto e pescoço, os olhos vermelhos eram um claro sinal da piora de seu choro. Vê-la assim parte meu coração.
— Eu posso te dar um abraço? - ela me olhou com seus grandes olhos amendoados, tão meigos e adoráveis. Eu estou vendido por ela, será paixão a primeira ligação? - Não precisa me contar o que te fez ficar assim, eu só quero abraçar você e te dar conforto agora.
Ela concordou com a cabeça e me abraçou, enterrando o rosto em meu peito, chorando compulsivamente. Abracei ela, ainda segurando o guarda-chuva e pus a mão livre em sua nuca, afagando o local.
No que pareceram ser minutos depois, levantou o rosto, ainda me abraçando, e me encarou. Esses olhos penetrando minha alma, eu não consigo resistir…
Para minha surpresa, me beijou de repente. Seus lábios macios tocando os meus foi a melhor sensação que tive até hoje na vida. mordeu meu lábio inferior e separou nosso beijo, me encarando novamente.
— Me desculpe, -chan - sussurrou ela, pondo as mãos em meu peito e abaixando o rosto.
— Eu quis esse beijo, não peça desculpas - ela levantou o olhar e eu sorri. - Eu quis esse beijo desde que te vi descer do carro na porta de minha casa. - dessa vez o sorriso veio dela, sem jeito.
— Tem tanta coisa que você não sabe sobre mim, …
— Me deixa descobrir… - encostei meu rosto no dela e a beijei, mais intensamente que antes, porém, logo ela se afastou. - Desculpe, .
— Está tudo bem, . Me dê um tempo, ok? - ela está ofegante e tremendo um pouco.
— O quanto você quiser - sorri e depositei um beijo em sua testa. - Vem, vamos voltar para o carro. Você precisa se secar.
Passei um dos braços nos ombros dela e voltamos para o carro. Coloquei ela acomodada em meu lugar e assumi a direção.
O momento não é oportuno, mas meu sorriso foi inevitável.
[🚗🎸]
Estamos em um restaurante, paramos para comer em uma cidadezinha no caminho, fora do roteiro. Estão todos lá dentro, enquanto eu vim aqui fora para pensar sozinho.
Minha mente não para de pensar sobre o beijo com a . Realmente eu não esperava que ela me beijasse. Antes do primeiro beijo, eu já estava me controlando para não fazer nada desrespeitoso, mas estava complicado, creio que para ela também, levando em conta que foi iniciativa dela me beijar.
A brisa fria e o céu nublado indicam que provavelmente chova novamente. Estou sentado em uma praça que fica em frente ao restaurante.
De longe, do outro lado da rua, vi a figura de meu irmão caminhando na direção da praça, ele traz algo consigo que não dá para ver o que é. Ao se aproximar de mim, vi seu semblante sério me encarando, ele sentou-se ao meu lado no banco e estendeu uma das mãos me entregando um copo de café. Peguei o copo e agradeci com um gesto de cabeça.
— Beba. Fará bem a você - comentou ele, sua voz grave ecoando no silêncio que faz na praça quase vazia. colocou seu copo de café ao seu lado e ajeitou o casaco no corpo. Desde criança, ele foi o mais sensível ao frio; já eu sou amante dessa época.
— Beba você também - falei e olhei para o meu copo, meus dedos brincando entre si, enquanto segurava o copo quente de café.
— Não tem veneno no seu café, sabia? - brincou ele - Podemos ter nossas diferenças, mas eu me preocupo com você, . Você é meu irmãozinho. - completou, voltando seu olhar para mim, fiz o mesmo e o encarei.
— Não tenho mais 2 anos de idade, . Já fiz 22. - tem 23, o aniversário dele será daqui há dois meses.
— Mas sempre será o mais novo. - ele riu e eu soltei um suspiro entediado. - A é outra pessoa com quem me preocupo muito - continuou ele e olhou para o chão, dando um gole em seu café.
— Percebi. - falei e também bebi meu café, está bem quentinho e sem nenhum gosto estranho. - Ela é muito legal.
— Sim… - ele deu uma pausa e virou o corpo de lada, apoiando o braço que segurava o café no encosto do banco e me encarando. - Eu vi o beijo de vocês. - senti o café quente escapar de minha boca e escorrer pelo meu rosto caindo em minha roupa. - Não precisava ter essa reação, . - fuzilei ele com o olhar, enquanto limpava o café babado de mim.
— Viu é? Hum… E? - falei enquanto limpava minha boca também. - Vai me proibir de chegar perto dela? Vi que a protege bastante…
_ Não irei chegar ao nível de te proibir de vê-la. Não. Porém - sempre há um "porém" -, quero que me responda algo.
— Diga - odeio os rodeios do meu irmão.
— Você está preparado para assumir um relacionamento sério e tudo que possa envolvê-lo? - a seriedade de sempre foi algo normal para mim, mas, especificamente agora, está fora do normal e está me assustando. Parece até que ele é irmão da .
— Estou e digo mais: eu não quero magoar a , nós acabamos de nos conhecer, mas eu gosto dela. O jeito dela me atrai bastante e quero conhecer mais sobre ela. - estou sendo o mais sincero possível.
— Entendo… - suspendeu as sobrancelhas e deu mais um gole em seu café.
— … - comecei a falar e ele voltou seu olhar para mim - aconteceu algo com a na época que vocês estavam no último ano?- me referi ao evento misterioso que ninguém quer compartilhar comigo. soltou a respiração e parou para pensar. Segundos depois, ele externou:
— Sim, aconteceu sim, mas apenas ela pode te contar. É algo pessoal demais para ser dito por mim.
— Isso está me preocupando…
— Por quê?
— Hoje mais cedo, enquanto vocês dormiam, recebeu uma ligação de um cara que foi bem rude com ela, eles discutiram e ela chorou. Isso a abalou muito. - contei a ele o que vi e a expressão dele mudou para uma de raiva.
— Aquele cretino… - pensou , em voz alta.
— Quem? - ele percebeu que falou demais.
— Esquece. Isso faz parte do que deve te contar sobre tudo. - disse ele, disfarçando - Aconselhei ela a te contar a verdade porque ela também se interessou por você.
— Sério?
— Sim, apesar de você não ter nada de tão interessante. - zombou ele rindo. - E ainda é esquisito com esse cabelo colorido. - ele refere-se às pontas de meu cabelo que são tingidas de azul.
— também tem o cabelo colorido e você não fala nada.
— Mas ela é bonita, você não. - ele riu do próprio comentário.
— Idiota! - dei um soco leve no peito dele, que logo recuou.
— Não pressiona ela, tá? - falou , de repente, voltando a ficar sério.
— Não vou. Ela me pediu um tempo e eu vou respeitar isso, não se preocupe.
— Assim espero. Se magoar a , eu desconsidero o fato de sermos irmãos. - enquanto dizia isso, ele me encarava e bebia seu café. Intimidador. Credo!
— Nossa, entendi, -san - zombei dele que odeia que o chamem assim. “Parece que estão falando com o papai! Me sinto um velho”, ele sempre diz.
— Sua sorte é ser meu irmão, . Não abuse dela.
Rimos e ficamos mais alguns minutos, o suficiente para terminarmos o café, conversando. Eu gosto de conversar com meu irmão, apesar dele ser um ranzinza às vezes. Lê-se: quase sempre.
Logo chegou a hora de voltarmos para a estrada. Ainda temos mais duas paradas: 5h até a penúltima parada e mais 3h até a cidade do festival.
Haja estrada.
[🚗🎸]
Fizemos uma parada em uma cidade próxima a nossa penúltima parada. Nos hospedamos num hotel barato e descansamos. Pelo menos a ideia era essa, né? Eu fiquei no mesmo quarto que e . e em outro quarto. E num quarto individual. Tentar dormir com e fazendo cosplay de motor de trator realmente foi algo impossível.
Sem conseguir dormir, eu levantei e fui arejar a cabeça tomando um ar na piscina do hotel. Parece que não fui só eu que pensou nisso.
— Não está um pouco tarde para um banho de piscina? - brinquei ao me aproximar de que está sentada na beira da piscina, ela sorriu de maneira fofa. Sentei-me ao lado dela - Sem sono também?
— Uhum - resmungou ela em resposta e apertou o abraço que dava em si mesma.
— Frio?
— Um pouco - eu peguei meu casaco por cima dos ombros dela. - Obrigada, -chan - a voz dela está embargada. Certamente estava chorando. A em seu estado normal me devolveria o casaco na hora, mas ela nem se opôs. Pelo pouquíssimo que conheço dela, já percebo que ela não está bem.
— Você está bem? Foi aquele cara que ligou de novo? - eu não gosto dele só pelo simples fato dele ter feito a chorar.
— Ele não ligou, mas eu estar assim tem a ver com ele. - encara as pequenas ondas que o vento formava na água da piscina.
— Se não quiser contar, não precisa.
— Não… eu já ia te contar - respirou fundo e ajeitou o meu casaco em seus ombros.
— Está tudo bem - segurei a mão dela e mostrei meu sorriso mais encorajador e acolhedor. Ela me sorriu de novo.
— eu… - eu suspirei mais uma vez e disse de uma vez aquilo que a atormentava - eu tenho uma filha de 5 anos e aquele cara que me ligou é o pai dela.
Ok, por essa eu não esperava. Nunca. Ok, , não é o fim do mundo. Respira!
Tentando não demonstrar que eu estava muito surpreso com essa revelação, eu apertei a mão dela e sorri serenamente.
— Qual o nome dela? - perguntei e parece que falar acalmou levemente o meu pré-surto, pois meu coração desacelerou um pouco e a ansiedade que eu sentia está se esvaindo aos poucos.
— Sayuri - a voz dela saiu um pouco fraca.
— Sayu-chan - eu sorri novamente mais alegre e completei: - Posso conhecê-la quando voltarmos? - me pareceu muito surpresa com aquela pergunta. Acho que ela esperava que eu surtasse e desistisse dela.
— Está tudo bem para você eu ter uma filha?
_ Claro! , eu adoro crianças e não é nenhum problema para mim você ter uma filha. Isso não me fará desistir de você. - revelei, do fundo do meu coração quase surtado. - Está surpresa?
— Confesso que sim… - ela soltou a respiração, aliviada.
— O que o pai da Sayuri queria te ligando? - isso está consumindo a minha curiosidade.
— Na noite anterior à viagem, você me ligou, lembra?
— Como eu poderia me esquecer? - ela sorriu, tímida. Esse foi o dia em que me apaixonei pela voz dela.
— Então, eu desliguei rápido, pois a Sayuri estava com febre e vomitando. Eu estava cuidando dela.
— Por que não me disse, ? Eu entenderia…
— Não quis revelar logo de cara que eu tenho uma filha.
— Bobagem, …
— Muito homens se afastaram de mim quando souberam.
— Eu não sou eles, - a encarei e senti que ela estremeceu. pareceu espantar pensamentos e prosseguiu.
— Bom, na manhã seguinte eu me atrasei, pois ela ainda estava febril. Baixa, mas febril. Mas aí minha tia insistiu que eu viesse na viagem.
— E sua mãe? Achei que morasse que seus pais - ela ficou cabisbaixa automaticamente após a pergunta, logo vi que eu não deveria perguntar nada. Cala a boca, ! - Me desculpe!
— Está tudo bem - ela sorri, forçado. - Meus pais me expulsaram de casa quando descobriram que eu estava grávida. Eu tinha 17 anos. E o pai da minha filha não quis assumir, disse que não era dele - essa frase fez meu sangue ferver dentro de mim. Como que ele duvidou dela? Ele achava que ela seria capaz disso? - e me ajudaram muito naquela época, devo muito a eles. Katsuo, pai da Sayuri, achava que a Sayu era filha do … Ainda acha…
— Do meu irmão? - eu disse meio esganiçado - Que babaca esse cara!
— Tenho que concordar com você, -chan - o sorriso fraco de me partiu o coração. Com toda certeza do mundo ela se decepcionou muito com esse cara.
— Foi isso que ele disse naquele dia?
— Ah, também. Mas, ele reclamou mais porque deixei recados para ele pedindo dinheiro para o remédio da Sayu.
— E aquele cretino reclamou por ter que dar remédio para a própria filha? Me desculpe, , mas esse cara é um filho da puta!
— Tudo bem, … - ela abaixou a cabeça e pareceu querer chorar.
— Hey… - segurei seu queixo e o ergui - não chore por ele.
— Não estou chorando por ele… - ela fungou, olhando para os lados e depois me encarou.
— Você ainda gosta dele? - o nó em minha garganta se formou e quase não me deixou falar. Ela olhou para mim e sorriu.
— Não. - respondeu ela, convicta e ficou me encarando. Esses olhos amendoados que eu não sou capaz de resistir.
— Desculpe, eu senti um impulso de te beijar - revelei, espantando meus instintos e ignorando eles.
— Me beija, .
O pedido. Ah, o pedido dela foi genuíno, senti em seu olhar e em seu toque em meu rosto, suas mãos quentes que me aqueceram a pele de imediato. Atendendo ao pedido dela e de meu interior sedento, eu me aproximei de seu rosto e a beijei. Poder sentir novamente os lábios macios de tocando os meus foi incrível. O movimento de nosso beijo me deixou animado e o toque das mãos dela em minhas costas, me apertando, me deixou ainda mais alegre.
Empolgados e esquecendo, por um instante, que estamos à beira da piscina em uma noite fria, e eu nos desequilibramos e caímos na piscina. Primeiro ela e eu em seguida para ajudá-la.
Tremendo de frio, nós dois saímos da piscina rindo pela situação.
— Isso foi um sinal - comentou ela enquanto espremia água dos cabelos.
— Para abaixarmos o fogo! - completei o pensamento dela, que concordou rindo. - Definitivamente, hoje não é uma boa noite para um banho de piscina.
Parte IV - Um festival cheio de emoções
Após voltarmos encharcados e tremendo de frio para nossos quartos, e eu trocamos de roupa e fomos dormir. Bom, pelo menos ela deve ter dormido, porque eu mal consegui me manter deitado na cama. Dessa vez, os culpados não eram e e seus cosplays de trator, o culpado agora era o beijo em . Ah, por que essa mulher não sai da minha mente?
A manhã seguinte chegou gloriosa, o céu quase sem nuvens e o forte Sol, em contradição à brisa gelada que sopra. Definitivamente, dias assim são os meus favoritos.
deu uma folga para a e resolveu dirigir às cinco horas que faltam até a penúltima parada. contou que acordou cansada e está tossindo um pouco. Preocupado, e me sentindo culpado também, eu comprei um copo enorme de suco de laranja e remédio antigripal. Praticamente eu tive que dar o remédio dentro de sua boca, pois ela não queria tomar. Se a Sayuri for assim para tomar remédio, já sei quem ela puxou.
Sayuri.
Nossa, a tem uma filha! Minhas únicas lamentações dessa história são que o pai da Sayuri é um babaca e que eu queria ser o pai dela. Pelo que está me contando, a Sayu não se parece muito com o pai. A pequena quase não o vê, pois ele só quer ser pai quando é para ameaçar tirar a guarda, que atualmente é dividida, da . "Dividida" só no papel, pois segundo relatos da e do , que eu descobrir ser padrinho da Sayu, o tal Katsuo mal liga para a filha e faz sempre questão de insinuar que meu irmão é pai dela. Se eu encontro esse cara, sou capaz de socar a cara dele até deformar, só para descarregar minha raiva dele. Calma, eu não farei isso. Não gosto de violência, por incrível que pareça, porém, não abusem do meu lado "não quero guerra com ninguém".
As últimas três horas foram dirigidas por mim, que conduzi o carro com a ao meu lado, me contando histórias dela na época do colégio e da Sayu, que é uma criança que eu já quero conhecer. me mostrou uma foto e vídeos dela, que garotinha adorável. Sem contar que ela é a cara da e também tem as pontas dos cabelos na cor rosa. disse que quando Sayuri viu que ela tinha pintado o cabelo, quis pintar também. teve que comprar uma tinta spray, que sai no banho e não é tóxica, e passou no cabelo dela. A coisinha mais fofa essa garotinha. Estou apaixonado pela Sayu. E, obviamente, pela mãe dela.
De repente, eu já estou me imaginando tendo uma vida ao lado da e da Sayuri. Quem diria…
[🚗🎸]
Finalmente chegamos à cidade do festival, está bem agitado aqui, chegamos às 18h44 e fomos direto para o hotel que a organização do evento ofereceu para as bandas. Adicionamos como sendo nossa empresária só para ela poder ficar no mesmo hotel. Rimos entre nós por já termos uma empresária, sendo que faz meses que não fazemos nenhum show. Saudades dos palcos, inclusive.
Após jantarmos, voltou para seu quarto, disse que vai ligar para a Sayuri. Mais cedo ela contou que canta para Sayu dormir todos os dias, achei fofo e pedi para ela cantar para mim. Ela ficou tímida e não quis cantar, mas me garantiu que a voz dela é linda. Já estou encantado pela voz dela falando, quem dirás cantando?
Dessa vez, eu fiquei no mesmo quarto que e . Nós três estamos na varanda do quarto agora, conversando.
— Então quer dizer que você tem uma afilhada de 5 anos e nunca me contou, não é, irmão? - reclamei e dei um gole em meu café. Ele riu.
— , eu não sou obrigado a te contar sobre minha vida.
— Não é, mas poderia ter me contado. Ingratidão de sua parte, -san.
— Concordo com o - disse e recebeu o olhar repreendedor de meu irmão. - Eu te disse isso na época: “Conta para o !”, você nunca me ouve! - concluiu fazendo um bico com os lábios. e eu nos olhamos e rimos em seguida.
— Me desculpe, -chan, vou te ouvir mais, ok? - zombou e pegou mais um petisco para comer. Eu fiz o mesmo. fez um muxoxo e revirou o olhar.
— - ele me encarou assim que eu o chamei -, me disse que você ajudou ela quando os pais dela a expulsaram de casa…
— Sim, ajudei - começou ele, suspirando. - Naquela época, nós íamos nos formar quando ela descobriu estar grávida. Ficou desesperada, pensou até em tirar o bebê, mas obviamente eu não permiti isso. Seria uma grande loucura. - minha garganta deu um nó e continuou - O verme do Katsuo não quis assumir o bebê e ficou insinuando que eu era o pai. Aquele imbecil teve a coragem de berrar para o colégio inteiro que a era uma qualquer, que ela dormiu com ele, comigo e com o e que não sabia quem era o verdadeiro pai do bebê dela.
— Ele não fez isso… - eu disse, incrédulo da canalhice desse cara.
— Fez - disse, num tom de raiva. - Foi um dos dias que a mais chorou. Todo o colégio apontando para ela, falando besteiras. Foi horrível.
— Katsuo era popular e tirado a galã. Todas as garotas ficavam doidas por ele, não foi diferente, ele ainda a ludibriou dizendo que a amava.
— Nós acompanhamos todo esse romance idiota - completou e prosseguiu: - era bobinha naquela época, sonhadora de mais e queria ter um amor de verdade. Não a julgo. Mesmo nós tendo aconselhado ela a ficar esperta com o Katsuo, não deu certo, ela já estava muito apaixonada. - parou de falar e soltou a respiração profundamente.
— No dia que a descobriu a gravidez, ela contou primeiro para nós dois. - continuou e apontou para e para ele mesmo -, ela chorou muito, pois teve medo de contar aos pais.
— Fomos com ela contar ao cretino do Katsuo, quis contar a ele antes dos pais dela. Mas ele fez o maior escândalo e disse que o filho não era dele. - disse .
— E quando contou aos pais dela - continuou - esperamos do lado de fora da casa. Ouvimos os berros do pai dela e logo depois a saindo de lá correndo e chorando com uma mochila nas costas.
— Meu Deus do céu, cara… - lamentei, angustiado.
— Eu peguei umas economias que eu tinha e ajudei a , levando ela até a casa da tia que fica um pouco longe de onde ela morava, mas na nossa cidade ainda - concluiu .
— Agora entendo o porquê da ter tanta gratidão a você, irmão - comentei, o nó em minha garganta mais forte ainda. - Te agradeço por ter ajudado ela.
— é minha grande amiga, eu faria tudo de novo.
Eu não sou nem capaz de mensurar o quão aliviado fiquei ao saber que pelo menos a teve meu irmão e o apoiando ela num momento tão difícil de sua vida. Queria muito ter conhecimento disso na época, talvez eu tivesse quebrado a cara do Katsuo no mesmo instante em que ele abriu a boca para difamar a .
, e eu conversamos até tarde. Fomos dormir por volta das 3 AM.
Tive um sonho muito bom com a . Nós três: Sayu, e eu, estávamos num belo parque aproveitando um dia de Sol, fazíamos um piquenique, Sayu brincava com uma bola colorida, correndo em volta de nós. Foi divertido sonhar com isso. Quem sabe eu não convide e Sayuri para realizar este sonho, não é?
No dia seguinte, algumas horas após eu ter ido dormir, bateu na porta de nossos quartos para nos acordar. Ela levou a sério o lance de ser nossa empresária. Levantei, morto de cansaço, e fui tomar banho. Logo que saí do banheiro, me arrumei, daqui do hotel vamos direto para o local do evento para a passagem de som. Tomamos café da manhã animados com a proximidade do show. acordou bem disposta e não está mais tossindo. Fico aliviado com isso.
A produção do evento mandou um carro para nos buscar. Logo estávamos no local do evento e ver aquele imenso espaço me deu um frio na barriga muito intenso. Nos mandaram para um camarim só nosso e esse fato nem foi o que me surpreendeu mais.
— Um prêmio?! - disse , espantado, todos nós compartilhávamos da mesma surpresa.
— Sim, todas as bandas que se apresentarão hoje vão participar de uma votação, feita pelo público daqui, que escolherá a melhor. A vencedora ganhará esse valor que mencionei há pouco. - explicou Fuyuki, o cara que nos chamou para o evento - Fora o pré-contrato com a gravadora que patrocina o evento. - esse detalhe ele só mencionou agora. Caraca, um pré-contrato com uma gravadora grande?!
— Nossa, isso é demais! - disse , empolgado.
— Bom, vocês serão a quarta banda. Estejam prontos às 14h em ponto, ok? Qualquer coisa, mandem me chamarem. Fiquem à vontade, caras. - ele saiu e nos deixou sozinhos.
— Nossa, caras, isso será uma grande visibilidade pra gente! - começou - Temos que dar o nosso melhor!
— Sim! Quem sabe não gravamos nosso primeiro CD?!
— Seria incrível, - disse, tão animada quanto nós.
Apesar de estar muito feliz, eu estou apreensivo. É a primeira vez que cantaremos num evento grandioso e valendo um pré-contrato com uma grande gravadora. Acho que vou ter um infarto aos 22 anos de tão nervoso que estou.
Deu tudo certo com a passagem de som. No camarim, as horas parecem se arrastar e está mais fácil virar o dia do que dar 14h. Todos estão tentando se distrair de alguma forma.
e estão jogando cartas, eles trouxeram um baralho para nos distrairmos durante a viagem; está dormindo, o que não é nenhuma novidade; e eu estou tentando controlar a minha ansiedade. E a ? Bem, ela está vindo agora mesmo na minha direção.
— Posso me sentar? - ela disse ao se aproximar. Eu assenti e ela sentou-se ao meu lado no sofá. - Como está se sentindo? - eu suspirei pesado e soltei uma risada bem nervosa.
— Ansioso, com medo, com vertigem, achando que posso infartar a qualquer minuto…
— Você é muito novo para infartar, -chan - ela disse, rindo.
— Essas coisas acontecem, , nunca se sabe!
— Seu bobo! - ela riu de novo e segurou minha mão, repousando as duas em sua perna. - Estarei na plateia para te dar força, está bem? - me encarou e apertou minha mão. Senti um alívio percorrer meu corpo. Um alívio muito grande.
— Obrigado… - minha voz saiu fraca. - tem razão: você merece o mundo, ! - ergui as nossas mãos e beijei a mão dela.
— Eu posso te dar um beijo? - me olhava de maneira intensa, eu me senti invadido por essa intensidade. Um arrepio me percorreu o corpo, um arrepio gostoso de sentir.
— Pode - minha voz saiu fraca de novo. Por que eu fico amolecido perto dela?
Ela soltou minha mão e encostou seus lábios nos meus. Fechei os olhos ao seu toque, viajando naquele beijo. A dancinha que nossas línguas fazem seria engraçada, se não fosse excitante. Comecei a ficar animado novamente. passou as mãos pela minha barriga e costas suspendendo minha camisa. Quase que aquele beijo virou algo a mais, mas aí ela parou de repente.
— Continuamos depois, é melhor - disse ela ofegante e eu apenas resmunguei de olhos ainda fechados, parecia uma criança birrenta. - Awn, não sabia que era tão manhoso, - brincou e aquilo me fez abrir os olhos. O senso de humor debochado dela havia voltado e aquilo me despertou o maior dos sorrisos.
— Não perca esse senso de humor nunca! - voltei a beijá-la com a mesma intensidade de antes, mas ela se afastou de novo, rindo.
— , estão olhando - disse ela e eu olhei para os outros, que eu jurava que já tinham saído do camarim. e viraram o rosto para suas cartas, rindo da cena; também ria e ouvia música; e ainda está dormindo e roncando.
— Não liga para eles, finge que estamos sozinhos - sussurrei perto do ouvido dela. Pude ver a pela de sua nuca arrepiar. Ela chegou bem próxima ao meu ouvido e sussurrou:
— Não sei se seria capaz de controlar minha vontade de tirar sua roupa, -chan.
Por Deus do céu! Que pecado essa mulher! Nossa, eu senti meu amigo ter uma reação imediata só ao ouvir tais palavras.
14h.
NÃO! Justo agora chegou o horário de irmos para o palco? Maldito tempo que voa.
Contrariado e excitado, eu fui junto com os caras para o palco. Ficamos ali na lateral esperando a saída da outra banda e os roadies arrumarem os instrumentos. Logo estávamos tocando e eu pude descarregar toda essa tensão e tesão. Transformei tudo em uma bela apresentação no palco. O público vibrou com nossas músicas e demos o nosso melhor. Do palco, pude ver gritar por nós e aquilo me deu ainda mais força. Estou muito confiante na vitória.
[🚗🎸]
Quando o apresentador do festival anunciou o nome da nossa banda como vencedora da votação popular, eu tive uma reação estranha, à princípio. Se fosse em outros tempos, quando mais novo, talvez eu saísse correndo e tirasse a roupa no palco para comemorar. Porém, eu apenas chorei. Muito. me abraçou e me beijou o pescoço e eu apenas chorava de alegria pela vitória. Mesmo estando confiante após subir no palco, eu ainda tinha uma ponta de covardia que me dizia que era melhor desistir, que havia outras bandas melhores. Que bom que não desistimos.
Após a excitação do momento da vitória, nós seis, incluindo a , fomos comemorar em um restaurante ali perto. Merecíamos. Decidimos que vamos pegar parte do dinheiro para voltarmos de avião para casa. Nada mais justo e confortável. Depois contrataremos uma empresa para levar o carro da até nossa cidade.
No auge de nossa comemoração, , que está ao meu lado, se ergueu da cadeira, de repente, e olhou assustada na direção da porta do restaurante.
— ? O que houve? - perguntei e segurei a mão dela que está tremendo - Você tá gelada, …
— Então é aqui que você está se escondendo de mim, ?! - um cara alto, bem vestido e com uma expressão muito nojenta no rosto disse ao se aproximar da nossa mesa. Logo vi de quem se tratava. e se levantaram.
— O que faz aqui, Katsuo? - disse com um tom de raiva. Nunca o vi falar assim, nem comigo.
— Não te devo satisfação, - respondeu ele, com desdém e voltou seu olhar para a . - Por que está fugindo de mim?
— Vai embora! Já te disse que nunca eu ficaria com você de novo. Nunca! - a voz dela saiu embargada, mas convicta.
— Não ouviu o que ela disse? Vai embora e deixa ela em paz, se possível: some da vida dela e da Sayuri! - sibilei com raiva e ele me encarou.
— Pela cara de idiota, deve ser o irmão mais novo de . Acertei?
— Katsuo, vai embora daqui ou eu mesmo terei que te tirar daqui - repetiu , senti a raiva dele aumentar gradativamente.
— É melhor você sumir daqui, Katsuo. Para de me perseguir - falou . Katsuo deu a volta na mesa, vindo na nossa direção. levantou-se e eu fiz o mesmo, me pondo na frente dela.
— Achei que tivéssemos uma filha juntos…
— Você nem liga para ela! - berrou e agora parte da atenção das pessoas do restaurante estava voltada para nós.
— Você sabe o que eu quero, …
— E o que você quer com ela? - eu disse, me metendo. Katsuo voltou seu olhar raivoso para mim.
— Não te interessa, micro- - ele é só um pouco mais alto que eu, mas o suficiente para se sentir superior. Imbecil. - E fique longe de minha filha e minha mulher.
— Não sou nada sua! A Sayuri é minha filha! - disse , perdendo a cabeça e empurrando Katsuo. Eu nem vi quando ela saiu de trás de mim.
— Ora essa, ! - ele segurou o braço dela e eu não me segurei mais.
— Solta ela!
A partir daí, aconteceram coisas que eu não saberia dizer exatamente se foi essa a ordem exata em que ocorreram, mas são fatos de qualquer forma.
empurrou Katsuo. Eu parti para cima dele, com muita raiva por ele ter encostado na , e soquei a cara dele. Katsuo é mais forte e alto, porém é apenas um. Em dado momento, nós dois estávamos embolados num redemoinho de socos, chutes e “gravatas” com o braço na tentativa de sufocar o outro. Eu ouvi os gritos de durante a briga, mas não entendi o que ela dizia. Nem os de e , mas pelos puxões que sentia nas costas, me afastando da briga, creio que estavam me pedindo para parar. Eu não quis parar, não até descarregar essa raiva do Katsuo. Mas, acabei sendo parado.
Como eu disse antes, eu não sei a ordem exata dos fatos, mas posso dizer qual foi o último fato a ocorrer.
— TAKE!!!
Esse chamado de eu consegui ouvir. O grito desesperado dela antecedeu a minha queda no chão. Katsuo havia me atingido com um golpe de canivete. Então, eu desmaiei.
[🚗🎸]
Acordei sentindo o peso de uma cabeça em meu ombro, o toque quente de uma mão pequena segurando a minha e outra mão repousada em meus cabelos. Ao abrir os olhos e rolar a cabeça para o lado, eu vi a adormecida ao meu lado. Sorri a vê-la e subitamente me lembrei dos fatos passados. Tossi involuntariamente, acordando a .
— -chan, que bom que acordou… - sua voz está fraca, parece ter chorado bastante. se ajeitou na cama. Estamos em um quarto de hospital.
— Você estava chorando? Não quis te fazer chorar… Desculpe - sabe a voz de alguém que acabou de acordar? Então, a minha está três vezes mais rouca que isso. Tô quase com a voz do meu irmão.
— O importante é você estar vivo, . Não peça desculpas. - ela sorriu fraco e voltou a segurar minha mão. - Katsuo foi preso por tentativa de homicídio. Não queria, mas estou feliz com isso - sabia que ela estaria feliz!
— Não te julgo - sorri também.
— Ah, está lá fora. Me pediu para chamar caso você acordasse, vou lá chamá-lo - ela já ia se levantar, mas eu a puxei de volta.
— Não quero ver a cara carrancuda do meu irmão agora - falei, um pouco dengoso demais. - Fica mais um pouco comigo. Só nós dois… - concluí minha manha e ela riu.
— O tempo que você quiser, seu manhoso!
voltou a deitar-se ao meu lado e ficou fazendo cafuné em meus cabelos. Ter ao meu lado foi a melhor coisa que me ocorreu nessa viagem.
Ok, sou muito grato pelo prêmio em dinheiro e o pré-contrato com a gravadora, mas acho que minha alma e, principalmente, meu coração estavam querendo isso que estou vivendo agora: ter alguém ao meu lado. Não só literalmente, mas no sentido figurado também. Sei que a é a pessoa certa para esse cargo em minha vida. Isso se existir mesmo a pessoa certa. Me guio mais na teoria de que as pessoas aparecem na nossa vida no tempo em que devem aparecer. E se a surgiu na minha agora, é porque era para ser.
Eu vou fazer com que sua permanência nela seja duradoura e próspera. Ela me fez querer uma família. E eu tenho certeza de que serei feliz ao lado dela e da Sayu.
Tudo começou com uma ligação e uma viagem, mas terminará em um casamento.
Será? Quem sabe, né?
"Às vezes eu sinto
Que devo agradecer os dias ruins
Insistir de coração e ser livre
Por você, cantar uma nova canção
Mesmo com o tênue crepúsculo
A luz do meu sonho não se apagará…"
Around the World, FLOW