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#GirlPower
|| quarta-feira 11 de novembro de 2015 às 18:43 - Comentários
|| Arquivado em: Colunas

“O problema era que ele não conseguia me domar. Talvez algumas mulheres nunca serão domadas. Talvez elas precisem ficar livres até encontrar alguém… Selvagens como elas.”
A frase dita por Carrie Bradshaw a respeito do Mr. Big encerra a segunda temporada da aclamada série norte-americana “Sex and the City” e é o motivo dessa coluna.
Enquanto os créditos subiam, eu pensava sobre como, desde os contos de fadas da Disney até as comédias românticas atuais, somos levadas a acreditar que precisamos encontrar alguém. E precisamos encontrar agora! Já! E, em como essa “cultura do casamento” pode afetar a representação de nós, mulheres, nas histórias.

Muitas vezes vemos sempre os mesmos padrões de mulheres se repetindo mundo afora — e isso inclui as fanfics. Às vezes, a história muda, os personagens mudam e todo o enredo muda, mas a essência dos personagens permanece a mesma. A patricinha popular, a nerd excluída, a vadia e, recentemente, a frequentadora assídua do Starbucks. Todas elas sem um real motivo para existir na história e, portanto, completamente irreais.
Ok. Sua história pode ser ótima e cheia de clichês e estereótipos, até porque tudo depende da necessidade do enredo, e Scream Queens ‘taí para provar isso. Mas, se a história não exige personagens planos, então as mulheres dela precisam ter objetivos de vida reais, comuns às mulheres reais. E não, esse objetivo não pode ser única e exclusivamente achar o grande amor da vida dela, porque, sinto muito, mas dificilmente a única aspiração de uma mulher da vida real é casar.
Felizmente, não existe lista pronta de como criar personagens femininos verossímeis. Ao invés disso, existem mulheres da ficção para a gente se inspirar e, quem sabe, construir as nossas próprias cada vez mais fiéis a realidade. Pensando nisso, separei algumas mulheres da literatura, cinema e TV com as quais podemos nos identificar e amar facilmente (ou amar odiar).

1- Capitu (Dom Casmurro de Machado de Assis)

Os olhos de ressaca são a característica mais marcante dessa personagem épica. O maior mistério* da literatura brasileira e talvez do mundo — que gerou discussões e teses de doutorado — gira em torno dela. E até hoje causa polêmica, já que ninguém consegue chegar a um consenso.
Isso não se deve apenas ao talento do velho Machado para contar histórias, mas também a personalidade de Capitu, que foi bem elaborada e trabalhada durante toda a trama.
Capitu era a frente de seu tempo, indomável e independente. Muito parecida com a mulher de hoje, apesar de ter vários traços das mulheres de sua época. Séculos depois, ainda podemos reconhecer nela nossos desejos, pensamentos, sentimentos e até atitudes — como quando ela não aceita as humilhações de Betinho que desconfia da sua fidelidade.

2- Alasca Young (Quem é Você, Alasca? de John Green)

Alasca é, definitivamente, a minha personagem favorita. Ela é intrigante, misteriosa e completamente independente, mas, acima de tudo, uma mistura irresistível de defeitos. Gordo descreveu a Alasca muito bem nesse trecho “Não sabia se podia confiar nela e já estava cansado de sua imprevisibilidade – fria num dia, meiga no outro; irresistivelmente sedutora num momento e insuportavelmente chata no outro. ”
Alasca nos mostra a complexidade feminina e como nunca somos apenas meigas ou frias. Sedutoras ou chatas. Somos tudo isso e cada parte aparece em um momento diferente.

3- Blair Waldorf (Gossip Girl)**

Blair era a rainha da Constance Billard, namorava o garoto mais disputado de Manhattan e tinha a vida dos sonhos. Até Serena van der Woodsen voltar. Até se envolver com Chuck Bass. Até Jenny Humprey tentar roubar sua coroa. Mas ela soube dar a volta por cima do jeito mais fino possível: com muita vingança e jogos. E foi tão bem-sucedida que, logo na primeira temporada, roubou a cena da protagonista (Serena) e se tornou a queridinha do público
Blair pode ser má, trair seus amigos e dar informações para Gossip Girl, mas é impossível não a amar. Isso porque ela dá vida a muitos de nossos desejos diabólicos. Afinal, quem nunca teve vontade de espalhar os segredos daquela amiga “falsiane” para a cidade toda?
Ela é o que há de pior e melhor nas garotas adolescentes. Toda a imaturidade da idade e a vitalidade da juventude estão nela, o que a torna incrivelmente real.

4 – Summer (500 dias com ela)

Summer é a típica solteira convicta. Numa das cenas do filme ela diz: “Não fico confortável sendo namorada de alguém. Não fico confortável sendo nada de ninguém. Eu gosto de ter vida própria […]”. Foi por conta desse posicionamento que eu a deixei por último. Ela é a personificação da garota que tem vários objetivos e nenhum deles inclui um relacionamento. Só isso a torna incrível, mas o melhor é que a Summer, apesar de estar convicta, admite — no fim do filme — que pode mudar de opinião. Isso a torna um exemplo de como uma história de amor (ou sobre o amor) pode ser construída com base em uma personagem que não quer ter um relacionamento ou tem uma vida além do romance.

Eu sei que eu falei muito sobre romance, mas o ponto que liga todos os estereótipos e clichês sobre a representação feminina nas histórias e fanfics é o fato da protagonista procurar um amor. E somente um amor. Claro que não há nada de errado com isso, desde que haja um motivo bem claro e a garota seja verossímil, o que raramente acontece. Por isso, essa coluna ficou bastante focada nessa questão.
Bem, espero que tenham gostado e se sentido inspiradas por essas personagens!

*O grande mistério do livro Dom Casmurro é a respeito da fidelidade de Capitu. O livro deixa em aberto se a personagem traiu ou não Bentinho.
**A Blair de que falo é a da série de TV. Li apenas o primeiro e, portanto, não posso falar nada a respeito da Blair criada por Cecily von Ziegesar, já que a personagem pode ter seguido caminhos diferentes nos dois meios.

Bianca Vivas





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