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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

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Me Apaixonei Pela Babá

Escrita porNatashia Kitamura
Revisada por Natashia Kitamura

[Idade dos filhos]
Anna e Hugo
– 14 anos
Felipe e Arthur – 12 anos
Eric – 9 anos
Helena – 7 anos
Caique – 3 anos


Capítulo 3

Tempo estimado de leitura: 46 minutos

  O dia seguinte foi de animação para %Julia%.
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  Ela se levantou às sete e encontrou Jussara, que vinha de vez em quando aos sábados para deixar uma comida extra pronta. Saulo era seu irmão, e por isso que, quando um vinha, o outro também aparecia. %Julia% gostava bastante dos dois, eram carinhosos e carismáticos. Assim como Paloma, a faxineira, os dois receberam %Julia% muito bem, e a tratavam como uma peça de ouro, por ser a primeira babá a durar mais do que um mês seguido.
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  – E ele disse que, contanto que eu fale com ele primeiro, posso fazer algumas mudanças no dia-a-dia das crianças! - %Julia% disse, animada como os dois jamais a viram antes.
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  – Eu quero é ver você conseguir quebrar o muro que essas crianças criaram – Saulo disse, tomando um gole de seu café. – Ninguém nunca conseguiu. Nem Amélia.
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  – Bem, eu sou bastante teimosa, por isso, acho que consigo não desistir na primeira malcriação que eles fizerem para mim.
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  – Há bem mais do que isso, menina - Jussara disse em frente ao fogão. Beirava aos 45, enquanto Saulo, mais novo, aos 40; ainda que a diferença na idade fosse pouca, a mulher era como a mãe do irmão e da maioria dos funcionários da casa. Ela tinha esse ar materno no modo de falar e também de agir, inesperadamente, %Julia% viu na moça, uma mãe que nem sua própria mãe havia conseguido demonstrar. –, a história dessas crianças não é tão feliz assim. São crianças com… como dizem hoje, Saulo?
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  – Trauma.
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  – Isso – ela voltou seu olhar para %Julia%, que estava sentada na mesa dos funcionários com um pedaço de pão na chapa.
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  – Por causa da mãe? - ela perguntou. Os dois assentiram. – Ainda não posso saber o que aconteceu?
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  Os irmãos se entreolharam. Saulo foi o primeiro a reagir, erguendo os ombros, como quem não se importa de dizer o maior mistério da família. Jussara, por outro lado, permaneceu calada, pensativa.
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  – Com o tempo você irá saber - ela respondeu, colocando um ponto final. – O que você pretende fazer para as crianças?
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  – Bem, passei a noite em claro pensando! - a mudança no assunto não passou despercebida pela moça, mas acabou deixando de lado, pois sabia que não fazia parte de seu trabalho fofocar sobre a vida alheia. Além disso, se a mãe das crianças era um assunto tabu, então o seu dever era fingir que ele não existia. – Acredito que se eu souber mais sobre o que elas gostam, conseguirei ficar mais próxima. E a única maneira de conseguir lidar com os meninos, é conquistando a peça mais importante da casa.
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  – Anna – os dois respondem, vendo, em seguida, o sorriso de %Julia%.
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  – Seu pai pediu para eu mudar algumas coisas na alimentação, porque Arthur teve um mau estar no começo da semana. Eu poderia falar com você?
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  %Julia% bateu na porta do quarto - aberta, devido a um pedido do pai naquela manhã para os filhos -, e viu Anna deitada de bruços em sua cama, com o tablet ligado. Ela ergueu a sobrancelha para a babá e, apesar de não demonstrar interesse nenhum no que %Julia% disse, a funcionária viu em seu olhar a surpresa de estar sendo contatada para um assunto tão de adulto.
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  – Por que eu tenho que decidir uma coisa para o Arthur?
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  – Devo perguntar para ele, então? A refeição irá mudar para todos, e como Arthur é inclinado a comer apenas fast food... - %Julia% apontou para trás, na direção da cozinha, onde passaria a tal ordem para Jussara.
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  Anna limpou a garganta. %Julia% sabia que a menina tinha visto, ali, a oportunidade de ser a dona da casa. Era o que ela sempre achava. Apesar de ter somente 14 anos, agia como se fosse muito mais velha; %Julia% sabia que era um comportamento comum para as crianças atuais, mas o fato de ter as companhias mais velhas e acesso à informação privilegiada, Anna era mais difícil do que outras garotas de sua idade.
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  Seus cabelos escuros estavam presos em um coque e as sobrancelhas grossas estavam bem delineadas. %Julia% viu as unhas feitas e os óculos de grau de uma marca famosa. A garota se levantou e fez um sinal para que a babá entrasse e se sentasse em uma cadeira, a única do quarto, enquanto ela apenas se acomodava em sua cama, um sinal de que ainda era uma menina.
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  – Bem, você deve ter me trazido algumas opções.
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  – Claro - %Julia% entregou uma folha com um cardápio que havia pesquisado na internet mais cedo –, ele pode não ser 100% nutritivo, pois não sou profissional da área, mas se você quiser, posso marcar uma consulta.
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  A adolescente balançou a mão, como se dissesse que não era necessário. Passou as folhas que %Julia% havia propositalmente preenchido com vários termos mais complicados e que certamente ela não saberia o significado, para que a garota não tivesse muita facilidade em decidir um menu.
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  – A Jussara trabalha com menus mensais, para facilitar nas compras e também no pré-preparo. De segunda à quinta, é mais adequado, principalmente para o crescimento dos mais novos e no desenvolvimento dos seus irmãos, que estão praticando mais esportes, refeições bem nutritivas; às sextas para o jantar, seu pai permitiu uma refeição mais calórica, como hambúrguer, hot dog e pizzas, mas vai depender do que você decidir. Aos sábados, vocês podem almoçar fora, e na janta, pedir algo por delivery. Seu pai pediu que os domingos fossem separados para a família.
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  – Como? - Anna olhou para %Julia%, o que fez a babá ouvir um “bingo!” em sua cabeça. Sabia que a garota não estava prestando atenção nenhuma nas folhas e só ouvindo o que ela dizia, para que pudesse ter um norte. Saber que o pai havia demonstrado interesse pessoal nos filhos certamente chamou a atenção da filha mais velha dos %Miller%, o que fez com que %Julia% tivesse certeza de que parte do comportamento abusivo da garota, devia-se à vontade de chamar a atenção do pai.
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  – Seu pai pediu que não programasse o menu para os domingos, pois vocês decidirão juntos - %Julia% repetiu lentamente. Anna perdeu-se em seus próprios pensamentos, e a babá aguardou pacientemente a mais nova tirar suas próprias conclusões.
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  Saiu de seu transe e limpou a garganta, erguendo o queixo para mostrar sua superioridade, algo que não precisa, pois %Julia% jamais veria a hesitação nos olhos da garota, como uma fraqueza.
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  – O que me entregou está bom. Talvez algumas mudanças nos carboidratos da, hum, noite.
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  – Algo integral, talvez? - %Julia% anotou em um pequeno bloco de notas que lhe havia sido dado por Saulo.
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  – Isso. E suco, nada de refrigerante.
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  – Tudo bem - ela continuou a anotar, mesmo sabendo que tudo aquilo seria cortado do menu sem que Anna aprovasse. – Há um problema.
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  – E qual é?
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  – Seus irmãos, assim como você, não realizam a refeição na mesa. Seu pai havia dito que queria que as refeições, a partir de agora, sejam feitas na mesa de jantar, todos juntos. Você é a primeira referência que seus irmãos possuem, ouvi muito a frase “se Anna não vai, eu também não vou”.
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  A garota ficou boquiaberta olhando para a babá. Aquilo também parecia uma novidade para ela. Olhou para o lado, sem graça, e então voltou a olhar para %Julia%.
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  – Comerei na mesa. Mas só durante a semana. E às sextas poderemos sair para comer com os amigos, se tiver programação. Não vou ficar em casa só porque meus irmãos não querem comer na mesa.
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  – Tudo bem.
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  – É só isso? - Anna perguntou, enquanto %Julia% se levantava com um pequeno sorriso no rosto.
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  – Sim, obrigada pelo tempo.
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  Assim que saiu do quarto de Anna, abriu um sorriso maior. Agora, tudo o que precisava, era de mais desculpas para falar com a garota. Não seria tão difícil, seria?
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  O menu foi entregue nas mãos de %Henrique%.
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  Enquanto seus olhos passeavam pelo menu proposto por %Julia%, junto de Jussara, a mulher gastava o tempo observando o chefe. Ele, sem dúvida, era uma beldade. O rosto parecia angular, exceto por uma pinta aqui e outra ruga - provavelmente de preocupação - ali. Pelo motivo de não estar presente no dia-a-dia de %Julia%, era inevitável a sensação de estar vendo-o pela primeira vez; sua beleza sempre tirava seu fôlego. A voz, um complemento à aparência, era grave e levemente rouca.
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  – Anna quem decidiu a maior parte dos alimentos – %Julia% comentou, na tentativa de parar de admirar o chefe e não ser pega babando por ele.
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  Assim como a filha, o pai ergueu as sobrancelhas, surpreso com a menção do nome de sua primogênita. Olhou para o cardápio novamente, desta vez com um pouco mais de atenção, e %Julia% pôde ver os lábios carnudos do homem arquear levemente para cima, em um sinal de orgulho.
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  – Por que os domingos estão vagos?
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  %Julia% suspirou. Era claro que aquele detalhe não passaria em branco pelos olhos do chefe. Era um tiro no escuro, este que estava para dar. Tomar uma iniciativa dessa sem o consentimento de nenhum dos lados colocava o seu emprego em risco, mas, se havia sido lhe atribuído a importância de reaver os hábitos das crianças, ela acreditava que esse era o caminho certo.
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  – É importante que as crianças possuam pelo menos uma refeição com o pai delas. Não é uma opinião minha, é de uma profissional. - ela disse, vendo as sobrancelhas do homem arquearem. – A verdade é que fui conversar com uma psicóloga, pois Hugo está tendo companhia de amigos mais velhos e passa o dia inteiro jogando jogos violentos de armas e vandalismo; recentemente, brigou com Arthur e quase quebrou um copo de vidro no braço do irmão.
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  – Por que isso não me foi repassado?
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  – Bem… - %Julia% olhou para o lado, sem graça. – Aconteceu hoje. Liguei para o senhor, no número que me passou, mas não atendeu. Lucas…
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  – Ele está em outro setor essa semana. - %Henrique% completou a sentença de %Julia%, que assentiu com a cabeça. – Mesmo assim, ele deveria ter me contactado. Foi só hoje?
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  – O ato, sim. O comportamento violento, não. Se me permite perguntar, ele, hum, já foi a um… psicólogo?
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  – Dezenas. - o homem respondeu imediatamente, sem se importar de estar abrindo a informação para uma funcionária. Fechou os olhos e largou os papéis do cardápio na mesa, enquanto levava as mãos para massagear as têmporas. – O que seu contato disse?
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  – Falta um papel dominante na vida dele. Hugo, e também Felipe e Arthur, estão em uma idade que é fundamental a limitação e o cuidado, pois acham que estão no topo de seu próprio mundo. Somente um pai ou… bem - ela hesita, lembrando-se de que não tem a permissão de mencionar a mãe –, poderia tomar a frente.
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  %Henrique% manteve-se calado. %Julia% daria de tudo para saber o que ele estava pensando. Não devia ser fácil ser pai solteiro de 7 crianças e ainda ter um trabalho que exige sua atenção como um bebê recém-nascido.
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  – Tudo bem – por fim, ele respondeu. O celular tocou no mesmo momento. %Henrique% viu de quem era a chamada, e então fez uma careta. – Separarei os almoços de domingo para as crianças. - terminou de falar com %Julia%, que concordou e aguardou ser dispensada, mas não foi o que aconteceu. – Só um minuto. %Miller%.
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  Os olhos de %Henrique% se fecharam em pesar. Algo ruim estava acontecendo, %Julia% podia ver. Os lábios que ela tanto admirava, cerraram-se, irritados; as mãos começaram a dedilhar em cima da mesa.
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  – Como é possível uma mulher formada em economia errar um cálculo simples de matemática? - ele perguntou, a voz tensa. – Silva, deixe-me repetir a frase que acabou de me falar: ela apenas cometeu um erro pequeno. Resultou na perda de alguns milhões, mas que pode ser revertido por você. Você acha que eu sou a porra de um deus? Alguns milhões? Você tem alguns milhões na sua conta para ressarcir o cliente? É o seu pescoço que está na reta, e não o meu. Dê a devida importância ao problema!
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  Durante cinco minutos, %Henrique% ouviu, calado, a pessoa do outro lado da linha falar sem parar; enquanto isso, o segundo celular que ele carregava começou a tocar.
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  – Me dê cinco. - disse para o colega, atendendo imediatamente a segunda ligação. – Senhor Costa, estou à par… Silva está verificando…
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  – ESSA MULHER MAL SABE A DIFERENÇA ENTRE MIL E MILHÃO! - %Julia% engoliu seco, não querendo, por nada no mundo, ser a tal funcionária que errou um cálculo. Observou os olhos de %Henrique% se tornarem frios e centrados, enquanto ouvia o homem da segunda ligação berrar na linha – Não. Você terá que resolver. Não confio em mais ninguém e estou preparando o discurso para demitir o incompetente do Silva. Além disso, preciso que você encontre outra pessoa. Alguém sério, que precise do emprego. Ele só pode estar brincando comigo. Ele acha que ser presidente é trepar e dar vereditos finais, porra?
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  – Não se preocupe, irei resolver tudo. – %Miller% ouviu, calado, mais alguns palavrões serem berrados no telefone, enquanto o homem, presidente do banco em que trabalhava, desabafava a raiva nele. Assim que desligou, pegou o celular com o tal de Silva na linha: – Estou olhando os dados, você sabe quando foi feita a transação?
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  %Julia% observou seu chefe resolver, com calma e tranquilidade, cada obstáculo que aparecia em sua frente. Centrado, ele falava com o outro no telefone, não se importando com a presença dela no local. Quando percebeu que estava fazendo hora em um lugar que não precisava, %Julia% moveu-se lentamente, a fim de não chamar a atenção, na direção da porta, mas, claro, nada passava pelos olhos de %Henrique%.
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  – Escuta, tenho que desligar. Vou resolver daqui para frente. – ele disse para Silva, que lhe respondeu algo. – Uma dica: demita a moça. - e sem aguardar uma resposta, finalizou a ligação.
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  Ficou olhando para %Julia%, que sentia o rosto queimar de vergonha por ter sido pega. Não havia dispensado-a antes de atender ao telefonema, então ela deveria manter-se parada como uma estátua. %Henrique% suspirou e encostou em sua própria cadeira, e encarou %Julia%, mostrando, pela primeira vez, sua exaustão.
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  – Você, por acaso, não conhece alguém formado em economia que esteja procurando emprego, está?
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  É claro que ele havia falado apenas como desabafo. %Julia% sabia da ironia das pessoas ricas. Sabia como elas não se importavam se o outro estava levando ou não a sério o que falava, os demais tinham a obrigação de saber quando eles estavam sendo irônicos ou verdadeiros.
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  Mas %Julia% havia tido uma ideia, e não poderia simplesmente deixar a questão em branco.
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  – Conheço. Ele não está trabalhando na área. Foi demitido e não consegue arranjar emprego em outro lugar.
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  – E por que ele foi demitido?
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  “Porque ele foi acusado de corrupção e desvio de dinheiro.” Ela pensou.
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  – Porque ele acabou se envolvendo em uma falcatrua. Foi enganado pelos colegas, que o utilizaram de cobaia para receber a culpa e saírem ilesos.
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  %Henrique% ergueu as sobrancelhas.
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  – E por que eu contrataria um cara que foi demitido por corrupção?
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  %Julia% calou-se por um tempo, pensando em diversos argumentos. Poderia dizer que ele é um ótimo economista, e que sempre se destacou na antiga empresa, que, a propósito, era de seu próprio pai, que não o reconhecia e passou o negócio para um colega, que lhe passou a perna. Ou, quem sabe, podia criar uma história dramática em volta da situação. Mas se o chefe descobrisse, até seu próprio emprego estaria correndo risco. Por fim, decidiu apenas seguir com a verdade:
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  – Porque ele aprendeu a lição.
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  – Lição?
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  – Quando uma criança está aprendendo, ela vai a lugares e toca em objetos mesmo com os pais dizendo para não ir ou fazer. Assim que ela se machuca, aprende a lição e não repete o ato. Este homem aprendeu a lição.
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  – E como você pode ter certeza?
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  %Julia% hesitou, antes de dizer:
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  – Porque ele é meu pai.
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  Um silêncio tomou conta do ambiente. %Henrique% permaneceu calado, observando, mais uma vez surpreso, a funcionária.
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  – Seu pai?
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  Ela assentiu.
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  – E o que ele faz agora?
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  – É motorista. De Uber. Precisa levar dinheiro para casa. Minha mãe e minhas irmãs não trabalham.
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  Os olhos do chefe avaliaram a funcionária. Permaneceram calados, com %Julia% sob o alvo dos olhos extremamente analistas de %Henrique%, até ele desviar a atenção para o celular, após o som de uma notificação soar.
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  – Peça para ele ir até meu escritório com o currículo na segunda de manhã. Pode ir.
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  %Julia% abriu a boca, chocada, levando um segundo a mais para reagir. Limpou a garganta, que se apertava na vontade de chorar.
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  – Obrigada. - disse, singela e emocionada.
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  – Tem certeza que ele não estava sendo irônico, filha? - o pai perguntava, calmo, do outro lado da linha.
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  Após sair do escritório de %Henrique%, %Julia% correu para o quarto dos funcionários para ligar para o pai. Não voltaria a tempo para avisá-lo, e era importante que o pai usasse o domingo para se preparar e revisar o currículo que ela mesma havia preparado para ele, mas que parecia não ter sido de uso nenhum, pois nenhum dos lugares que ele enviou, retornou.
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  – Não, pai. Meu chefe não é de ironia.
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  – Banco K, hein?
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  – É um banco digital. Meu chefe trabalha na área de tecnologia e, pelo que entendi, um cara do setor de economia rodou.
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  Daria certo, %Julia% tinha fé. O nome do pai, nos últimos meses, tornou-se insignificante para a maioria dos empresários. E os bancos digitais não eram como os bancos tradicionais; eles não conheciam a fundo a história de Paulo %Strada%. Além disso, se %Henrique% tinha credibilidade o suficiente para receber uma ligação direta do presidente do banco, com certeza conseguiria dar uma chance para o pai dela, se acreditasse que Paulo tinha perfil para a vaga.
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  – Não sei…
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  – Pai. O ‘não’ o senhor já tem. O máximo de ruim que pode acontecer, é eles dizerem “sinto muito, mas optamos por outra pessoa”. E o máximo de bom que pode acontecer, é eles darem uma chance para o senhor.
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  – E se eles souberem sobre… - Paulo não terminou a frase. Ainda era difícil e humilhante para ele lembrar do que aconteceu a pouco mais de um ano atrás. Olhou ao redor, dentro do carro que estava, e assim como várias vezes acontecia, revivia o momento em que decidiu seguir no caminho que o levou à falência. Não faria aquilo nunca mais, mas ninguém acreditava nele. Todos o achavam um tolo.
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  – Ele sabe. Eu contei. Por cima, mas ele sabe.
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  – Ele sabe? E mesmo assim aceitou falar comigo?
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  – É. Estou falando, pai, pode ser que dê certo! Meu chefe é muito justo e ele recompensa aqueles que são honestos com ele.
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  O pai não respondeu de imediato. Manteve-se calado, hesitante. Estava, é claro, animado. Aquela era a única oportunidade que recebeu, desde que saiu a nota do juiz anunciando seu veredito. No entanto, também estava inseguro. Ouviu muitas coisas ruins de pessoas desconhecidas, mas principalmente de pessoas conhecidas, que ele confiava. Perdeu a confiança em si.
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  Mas %Julia% havia feito isso por ele. Sua filha abriu um caminho que ninguém mais fez. Era para ser o contrário; para ele guiá-la. Não poderia decepcioná-la. De todas as pessoas no mundo, %Julia% era a única por quem Paulo correria o risco.
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  – Tudo bem. - ele disse. – Eu acho que ainda tenho o arquivo do currículo que você fez para mim. Me passe o endereço e o horário, e estarei lá.
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  – Obrigada! - %Julia% sorriu, animada. – Vai dar certo, pai. Sei que vai.
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  O domingo, no entanto, não deu tão certo quanto ela esperava.
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  O problema no serviço de %Henrique%, que havia se iniciado na noite anterior, se estendeu até a hora do almoço do dia seguinte.
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  Eram quase uma e meia da tarde, e as crianças estavam famintas. %Julia% havia alimentado Caique e dado alguns petiscos para Eric e Helena, mas os mais velhos estavam já de mau humor.
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  – Cadê ele! - Hugo gritou, descendo as escadas da cobertura enfurecido. – Agora sou obrigado a passar fome por causa dele?
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  Anna, que estava terminando de assistir à TV com Eric, ergueu as sobrancelhas para o irmão gêmeo.
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  – Se tivesse acordado para o café da manhã, não estaria morrendo de fome.
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  – Vai se foder! - o irmão gritou. %Julia% imediatamente arregalou os olhos. Olhou para Eric, que estava compenetrado na televisão, e em seguida para Caique e Helena, que dividiam uma enorme cartolina no chão. – Você não manda em mim, é uma chata do caralho!
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  – Hugo! - a babá exclamou, chocada com o linguajar.
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  – Que é? Você é só uma empregada, deve ficar calada e no seu lugar!
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  – Hugo %Miller%.
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  A sala, de repente, se silenciou. A voz havia sido grave e séria. Cabeças viraram na direção do corredor que levava ao único cômodo do lado norte da cobertura, o escritório de %Henrique%.
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  O homem estava parado, sério, os braços pendendo ao lado do corpo, enquanto encarava diretamente o seu filho mais velho.
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  Ninguém ousou dizer nada, nem Caique, o mais novo, muito menos os gêmeos que desceram correndo, como se pressentissem que algo iria acontecer. Pararam, os dois, no pé da escada, enquanto olhavam o perfil de %Henrique% parado encarando Hugo, que, por sua vez, não sabia se ficava surpreso, envergonhado ou com medo.
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  – Temos regras nessa casa – %Henrique% começou a falar –, você não acordou para o café da manhã, portanto, não deve reclamar de fome. Esse tipo de comportamento não será tolerado. Você não deve tratar a sua irmã dessa maneira, e nem %Julia%. Ela não é sua empregada, é minha, e se eu não a trato com esse desrespeito, você não o fará. Está me entendendo?
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  O garoto, como qualquer adolescente rebelde e mimado, não respondeu. Resmungou algumas coisas e, por alguns segundos, quis retrucar o pai. Mas era atenção o que ele queria, e era atenção que havia conseguido, mesmo que não da maneira como desejava.
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  – Eu não ouvi. Você me entendeu?
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  – Sim.
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  – Ótimo. Você está de castigo. Após o almoço, teremos uma conversa em meu escritório - em seguida, %Henrique% olhou ao redor, certificando-se de que todos os filhos estivessem presentes. %Julia% questionou-se se era hora dela sair, mas Caique estava sentado no colo dela, e não parecia querer sair tão cedo, principalmente com a expressão séria que o pai tinha no rosto. – Quero aproveitar para conversar com vocês.
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  Essa era a deixa, %Julia% pensou. Começou a se levantar, com a intenção de sair do recinto, mas Caique agarrou em seu pescoço no momento em que sentiu que teria de sentar ao lado da irmã e ficar ali.
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  – Não, %Juju%...
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  – Tudo bem, %Julia% – %Henrique% falou, enviando um olhar menos duro para a babá, que engoliu seco e manteve a posição anterior. – Sei que você anda passando por maus momentos devido à péssima educação que dei aos meus filhos. Eles acham que não presto atenção aonde vão ou o que fazem, mas vou aproveitar este momento para dizer que as coisas, a partir de agora, irão mudar.
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  As crianças, agora todas sentadas no enorme sofá que havia em frente à televisão, encaravam, receosas, o que o pai tinha para dizer.
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  – Teremos horário para os jogos de videogame que eu determinei, com base na idade de vocês. Os cartões de crédito serão devolvidos e vocês receberão um de débito, com um valor mensal de mesada. - Antes que todos os mais velhos reclamassem de ter o dinheiro cortado para um valor limitado, %Henrique% enviou-lhes um olhar severo, não ouvindo nem um murmúrio de qualquer um dos filhos. – Dormir fora de casa, nos amigos, somente aos finais de semana e férias, com a minha permissão. As portas dos quartos deverão permanecer abertas durante a semana, até o horário de %Julia% ir embora.
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  – Mas ela nunca vai embora! – Arthur grita.
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  – Então talvez tenhamos que tirar a porta do quarto de vocês. - o pai o olhou, sério, calando o filho que, dessa vez, resmungou. – Além disso, aquele que ficar de recuperação no colégio, ficará um mês sem receber a mesada e não poderá sair de casa, a não ser para a escola e as atividades extras.
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  – Pai! - o burburinho foi certo, %Henrique% ouviu todas as reclamações, mas não mudou a postura. Olhou para cada um e esperou todos desabafarem, para enfim olhar para os mais novos, Caique e Helena, que ainda não entendiam metade do que ele queria dizer.
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  – Somos uma família, e vamos agir como uma. Passei muito tempo negligenciando vocês todos, e por isso me arrependo. Ainda tenho tempo para reverter a situação. Infelizmente, não será nada fácil, para mim também não é. Mas o certo, é o certo.
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  Nenhum deles falou nada. Ficaram calados, em parte emburrados, parte apenas revoltados com o comportamento inesperado do pai. %Julia% olhou admirada para %Henrique%, que observava cada um dos filhos com um brilho no olhar; viu o amor que ele sentia pelas crianças, e, assim, decidiu que faria de tudo para ajudá-los.
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  – Anna - %Henrique% olhou para a filha mais velha, que se remexeu, desconfortável, esperando uma má notícia –, o que você quer almoçar? Aos domingos, um de vocês escolherá o almoço, e outro, a janta. Comeremos juntos.
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  – Eu quero sorvete! - Helena foi a primeira a gritar, correndo até o pai; Caique, ao ouvir o nome do doce, imediatamente esqueceu-se de %Julia% e correu junto de Helena, agarrando a perna do pai, clamando também pelo sorvete.
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  – Bem, teremos sorvete de sobremesa, mas eu me referi à comida. Temos que comer comida antes de chegar à sobremesa. - %Henrique% sorriu para os filhos, pegando os dois, ao mesmo tempo, no colo. Olhou para Anna, que ainda estava estática, chocada com a novidade. – Então?
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  – A-ah… hum... - a garota olhou para os lados, desesperada.
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  – Anna gosta muito de comida árabe. - %Julia% tomou a iniciativa, chamando a atenção da família para si. – O restaurante favorito dela é o X.
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  %Henrique% abriu um pequeno sorriso, agradecendo o esforço da funcionária, que olhava para uma Anna mais aliviada.
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  – É, eu gosto mesmo.
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  – Bem, comida árabe será.
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  – E sorvete! - Caique gritou do colo do pai, que riu e concordou, antes de devolvê-lo ao chão e chamar Hugo para a tal conversa no escritório, enquanto todos esperavam o almoço chegar.
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  Enquanto Helena e Caique assistiam a um desenho na televisão, %Julia% aproveitou para arrumar a mesa de jantar. Enquanto posicionava os sousplat para em seguida colocar os pratos e talheres, Anna surgiu, mas sem dizer nada. Sentou-se em um canto inutilizado da mesa e permaneceu olhando, timidamente, a babá.
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  – Você precisa de algo, Anna? Quer conferir o pedido?
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  – Não, não… - ela coçou a nuca. – Você… hum… falou com meu pai?
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  %Julia% encarou a garota, que tinha as bochechas levemente avermelhadas.
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  – Sobre você? Não.
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  – Ah…
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  – Seu pai geralmente só quer saber de quem dá problema. Você nunca deu problema.
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  – Tem certeza? - a garota perguntou, confusa, pois sabia do tratamento que havia dado a %Julia% desde que esta entrou, e foi tão grosseira quando Hugo havia sido mais cedo.
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  – Sei o que quer dizer, mas não se preocupe. O comportamento que você teve comigo foi somente comigo; já Hugo anda bem mais agressivo com todo mundo, pode ser perigoso para ele lá fora.
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  – Você falou de Hugo para o meu pai?
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  – Só da cena do copo de vidro e Arthur.
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  – Ah…  É. Bom… Ele anda meio louco.
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  – Um pouco fora de si, mas sei que tudo vai se resolver logo.
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  %Julia% abriu um sorriso para Anna não se preocupar com nada disso e manteve-se calada. Não podia falar nada do que queria, pois continuava sendo apenas uma funcionária da casa; além disso, se Anna precisava de uma companhia de confiança, ela teria que demonstrar isso, e a melhor maneira, seria se abrindo primeiro ou pedindo ajuda.
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  – Seu cabelo é natural? - ela perguntou, acanhada. %Julia% olhou para os próprios fios, presos em um rabo de cavalo simples.
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  – Sim. Colorir dá muito… trabalho – respondeu a babá, trocando a palavra ‘custo’ por um similar a ‘serviço’. Anna não entenderia e não precisava saber sobre sua vida complicada. – Tonalizante?
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  – Dá para perceber?
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  – Não aparenta estar danificado. Um descolorante não deixaria assim. Acredite, eu sei. - %Julia% fez uma careta ao se lembrar da fase de seus 15 anos, quando todas as meninas da sala queriam ter os cabelos em um tom platinado. Que pesadelo foi deixá-lo bom novamente.
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  – Você foi cabeleireira?
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  – Não. Eu só entendo dessas coisas. - ela ergue os ombros para a mais nova, que olha para as unhas. – A propósito, se você estiver aberta a sugestões, o formato amêndoa é muito melhor para suas unhas.
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  – É, não é? - ela encarou a babá, claramente mais animada. – Eu disse isso para a Karina e ela disse que não, que o quadrado era o ideal para mim.
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  – É inveja. Suas mãos são lindas e as unhas valorizarão muito mais seus dedos. O formato alonga mais.
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  Anna abriu um largo sorriso por finalmente ter ouvido alguém que concordava consigo. Karina era a líder do grupo de amigas e morava no 6º andar. O pai era dono de uma transportadora importante em São Paulo e, mesmo nenhuma das garotas sabendo exatamente o que uma transportadora fazia, a garota falava do negócio como se fosse a coisa mais importante do mundo. Tal comportamento fez dela a peça importante do grupo, o que, por seguinte, tornava suas opiniões e ordens a única coisa que importava para todas.
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  O que Anna não sabia, é que %Julia% entendia perfeitamente como funcionavam esses grupinhos. Fez parte de um, e por anos permaneceu tendo suas vontades mudadas por conta de Alina, que acabou sendo a primeira pessoa a querer puni-la por ter uma família “de bandidos”, como disse no grupo. Apesar de não ter saído do grupo das amigas no Whatsapp, sabia que se tentasse, qualquer uma a adicionaria de volta. Era o preço a se pagar. %Julia% não se importava mais; agora que tinha um emprego e se divertia - na maior parte do tempo - nele, não se importava em ver o grupo em festas, esbanjando riqueza, tentando ser influências digitais a partir de contato com famosos e viajando para o exterior. Era bem mais satisfatório saber que tinha seu próprio dinheiro para fazer o que quiser; e que se o pai, de repente, falisse… bem, nada mudaria.
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  – Conheço uma pessoa que faz unhas maravilhosas - ela disse, olhando para a mais nova. – Se você quiser um dia tentar, posso agendar um horário.
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  A menina não respondeu. Não bastava coragem para mudar, mas também para enfrentar a onda de críticas que receberia das pessoas que achava ser suas melhores amigas. %Julia% sabia que esse tipo de mudança é difícil, principalmente para garotas de 14 anos, que precisam de suas melhores amigas ao lado. Abriu um pequeno sorriso para a chefinha, em solidariedade, porque não poderia fazer mais do que isso; além de ser apenas uma funcionária, há coisas na vida que as pessoas provavelmente aprenderão melhor se não houver ninguém fazendo por elas.
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  O interfone tocou, indicando que a comida havia chegado. Enquanto %Julia% cuidava para que a mesa fosse perfeitamente posta, os integrantes da família foram se achegando e se sentando nas cadeiras disponíveis.
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  %Henrique% e Hugo foram os últimos. O pai estavam com um semblante sério, enquanto o filho tinha as orelhas vermelhas, como se estivesse reprimindo a raiva que tinha dentro de si. %Julia% logo pensou um “oh-ou”, pois sabia que aquela reação não traria nenhum resultado. Laura e Yasmin também tinham essa reação após o pai chamar a atenção, e tudo o que elas faziam, em seguida, era provocar algo pior do que inicialmente queriam.
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  Ainda que ter refeições juntos fosse um grande passo a se dar na família, o silêncio que se seguiu não foi nada feliz. %Henrique% comeu calado, observando os filhos, enquanto cada um focava em seu próprio prato. %Julia%, por ser responsável por alimentar Caique, sentou-se mais para trás, só observando o enterro que estava sendo aquela refeição.
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  – %Juju%, esse eu não quelo.
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  – É ‘quero’, Caique, e, se eu fosse você, iria querer sim. - %Julia% olhou para os lados, vendo que a atenção estava toda voltada para os dois. Como não havia com o que se distrair, a família inteira observava a interação do caçula com a babá.
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  – Pu quê?
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  – Você já ouviu falar no goblin? - %Julia% perguntou, mais baixo, já que sabia que estava sob a avaliação do chefe. O menino balançou a cabeça, mastigando a comida que havia escolhido – Ele é um duendezinho pequeno, mas que puxa o pé das crianças que não obedecem os pais. Eu sou amiga de um, sabia?
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  Os olhos de Caique se arregalaram e encararam para o restante da família.
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  – Goblins não existem – Felipe disse, em tom de sabido.
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  – Você já viu um? - a babá perguntou para ele.
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  – É lenda, todo mundo sabe que isso é uma mentira para fazer as crianças comerem.
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  – Bom, eu já vi um.
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  – Prove.
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  A moça olhou para o garoto, que ergueu o queixo, desafiando-a. Ela olhou para os demais irmãos e acabou no chefe, que tinha um sorriso irônico nos lábios, como “você quem se meteu nessa”. %Julia% ergueu os ombros e retirou o celular do bolso. Abriu a agenda de contatos e digitou um simples “Goblin”, mostrando para o menino ousado.
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  – Isso não quer dizer nada - Felipe ergueu as sobrancelhas.
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  – Pode ligar.
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  Sem pedir permissão, nem esperar por qualquer outra reação, Felipe pegou o celular da mão da babá e teclou em ‘ligar’. Demorou cerca de 4 toques para uma voz claramente alterada atender.
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  – Espero que tenha uma criança bem malcriada para me dar, %Julia% – a voz disse.
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  Caique imediatamente começou a chorar, enquanto Felipe arregalava os olhos e Eric gritava um “caramba! É verdade!”.
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  – Q-quem é? - Felipe perguntou, na tentativa de se mostrar corajoso.
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  – Quem ousa ligar para o Goblin e não saber? Ah… sei quem é. Felipe %Miller%. Você está na minha lista, moleque… - e uma risada malvada veio em seguida.
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  – E-eu não fiz nada! - ele gritou de volta. – Você nem é de verdade.
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  – Você quer que eu faça uma visita no seu quarto? Eu aproveito e dou uma olhadinha no seu irmão gêmeo. Ele gosta de Fifa, não é? E você, de Minecraft. Eu sei que vocês escondem balas no armário vermelho, comi dois esses dias, quando fui dar uma olhada após seu irmão fazer algumas badernas. Continuem assim, eu ando muito faminto.
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  – Vocês guardam balas no armário? - Anna ri, olhando para os irmãos gêmeos que tinham os rostos vermelhos de susto e vergonha.
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  – Será que finalmente poderei conhecer alguns integrantes da família %Miller%? Tive um gostinho do seu pai quando ele era mais novo, pergunte a ele. Deixei uma lembrança no tornozelo direito dele. Que tal terem uma também?
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  Eric e Helena correram para o lado do pai, pedindo para o homem, que se mostrava surpreso e admirado com o plano de %Julia%, para tirar o sapato e mostrar o tal tornozelo. De fato, ele tinha uma cicatriz que havia feito quando criança, por conta de uma brincadeira boba no sítio do tio em Minas Gerais. Pelo jeito, ninguém saberia, por um bom tempo, como era legal se divertir no meio das pedras e do mato.
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  – Tenho que ir. %Julia%, só me ligue quando for para visitar as crianças. Tenho algumas visitas para fazer hoje.
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  – Até mais, Goblin - a babá cantarolou a resposta e pegou o celular que havia sido derrubado na mesa de jantar. Olhou para Caique e colocou a couve de bruxelas no garfo. – Vamos comer, Caique?
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  A criança imediatamente abocanhou a comida, assim como Helena, que antes enrolava, brincando com a própria roupa. %Julia% olhou para Anna e, quando nenhum dos irmãos estava vendo, enviou-lhe uma piscadela.
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  – Como você fez isso? – %Henrique% perguntou, enquanto a babá lavava a louça.
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  Com o susto, %Julia% quase deixou derrubar os talheres que enxaguava. Olhou para o chefe, que estava encostado na ilha de mármore da cozinha, com um meio sorriso e os braços cruzados.
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  – Saulo – ela respondeu. – Deixei isso alinhado com ele, pois sabia que um dia iria precisar. É fácil mudar a voz, com um programa, tem microfones que fazem isso com facilidade hoje em dia.
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  – Por isso ele sabia da minha cicatriz.
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  – Bom… é. Não combinei com ele sobre o que iria falar, só que iria ligar. Ele foi bem legal no improviso.
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  %Henrique% riu, fazendo com que %Julia% o admirasse mais. Se sério o homem era maravilhoso, rindo, ele era um deus. Havia um brilho a mais no olhar dele, algo que a moça não havia visto desde que entrou no trabalho.
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  – Eu acho que não pago o suficiente para você.
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  – Bem, estou sempre disposta a receber um aumento. - ela sorri, vendo ele abrir ainda mais o sorriso que tinha no rosto. – Gostaria de um café?
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  – Sim, por favor – respondeu, observando a funcionária caminhar até a máquina e começar a preparar a bebida. – Como você acabou sendo babá?
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  O estômago de %Julia% tremeu. Não gostava de falar sobre o que a levou a trabalhar, muito menos sobre qualquer assunto que tivesse a ver com ela. Até então, ninguém tinha tido interesse. Perguntaram sobre a composição de sua família e o que cada um fazia, mas nunca o motivo de ser babá.
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  – Pergunto porque você parece ser mais capaz do que cuidar de crianças.
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  – Eu gosto – %Julia% disse, erguendo os ombros e vendo, ali, a oportunidade de não responder o chefe –, começou por um hobby, na verdade, mas me dou melhor com crianças, do que adultos.
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  – Sorte a sua – ele resmunga, recebendo a xícara de café. – Sou um péssimo pai.
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  A falta de resposta lhe soou como concordância da babá, e não soube por que se sentiu tão incomodado. Nunca se importava com o que os outros achavam dele. Se isso acontecesse, jamais estaria onde estava no trabalho. Mas havia visto a interação de %Julia% com sua filha Anna, e também viu a maneira como a mulher lida com seu caçula e Helena. %Henrique% preocupa-se com todos os filhos, mas principalmente os dois mais novos, por não terem convivido com a mãe, e a mais velha, por ter convivido demais e achar que deve ocupar o lugar dela.
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  – As férias estão chegando, e com a mudança na agenda das crianças, pode ser que você tenha que trabalhar mais. - ele disse, apenas porque não sentia vontade de voltar para o escritório e ter de trabalhar mil horas até o horário do jantar, que, novamente, era com os filhos. Dessa vez, Hugo escolheria o que comer, e ele já havia dito que queria hambúrguer.
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  – Tudo bem - ela respondeu. – Gosto de trabalhar.
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  %Henrique% ergueu as sobrancelhas, surpreso.
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  – Sua família não se importa? Seu… parceiro?
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  – Sou solteira. - ela disse, olhando para o chefe enquanto fazia o caminho de volta à pia, após deixar a cafeteira limpa, da maneira como Amélia e Jussara gostavam. – Minha renda é maior que a do meu pai, então eu ajudo muito a minha família.
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  – O que seu pai está fazendo mesmo?
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  – Ele é motorista. De Uber. Mas é muito honesto, quero dizer, só um pouco ingênuo, mas muito honesto! E inteligente! Ele é extremamente cauteloso, uma característica que surgiu por conta da ingenuidade, o que é ótimo, eu acho. Em casa dá muito certo.
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  O homem sorriu, mas não tanto. Não devia ser fácil sustentar uma família, e %Julia% estava tentando garantir um emprego bom para o pai, que, por algum motivo, estava tentando sobreviver como motorista, ao invés de atuar em sua profissão. Não era, mesmo, fácil voltar ao mercado, se permaneceu fora dele por muito tempo, principalmente se era muito velho e foi envolvido em um esquema de corrupção.
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  – Você acha que um banco irá contratar um homem como seu pai?
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  %Julia% não respondeu de imediato. Se fosse pensar rápido, a resposta, obviamente, seria ‘não’. Quem contrataria um condenado por corrupção? Além disso, ele ainda estava pagando as milhares de dívidas que tinha, mesmo 80% delas nem serem suas. Mas ela conhecia o pai melhor do que todos os outros que o enganaram, achavam que conhecia. Eles nunca souberam quão bom o pai é com as finanças, muito menos quão rápido ele consegue arranjar uma solução, nos momentos de mais pressão. Ele pode ser, sim, muito ingênuo com as pessoas a quem confia, mas %Julia% acredita que a experiência de ser condenado possa ter mudado isso para melhor. Os defeitos que Paulo tinha, podem, sim, ter melhorado.
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  – O banco, eu não sei, mas o senhor, tenho certeza de que irá considerar.
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Capítulo 3
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Liv

Naaat, que fic divertida! De verdade, tô adorando essa interação da pp com as crianças. Inclusive, ri muito com a ligação do “Goblin”. Ansiosa pra próxima att (e pro desenrolar de algum romance entre os pps, haha)!

Natashia Kitamura

Obrigada por acompanhar, Liv! <3 E que bom que está gostando! Tem história para acontecer, então vamos ver esse romance acontecer logo! Hahahah! Bjs!

Izabelli

Eu estou amandooooo, fic muito bem escrita e me prendeu logo de cara. Espero que não demore muito para atualizar.

Natashia Kitamura

Oi Izabelli! Não vai demorar para atualizar, não! No máximo a cada 15 dias terá uma att! (:
E que bom que está gostando! Ainda tem bastante coisa para acontecer! Bjs!

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