Chelsea Girl

  Os dias para %Take% têm sido extremamente difíceis. %Keigo% e %Li% assumiram o namoro para todos e isso está destruindo o %Asakawa% aos poucos, ele não consegue mais se concentrar direito no trabalho e vem levando inúmeras broncas de seu chefe por conta disso. O fato de trabalhar no mesmo setor de %Keigo% só atrapalha, pois ele presencia todo dia as visitas que %Li% faz ao namorado e a troca de carinho entre eles. Durante os fins de semana, o rapaz evita sair com os amigos justamente para não precisar ver esse carinho todo também durante suas folgas.

  Tudo isso dói demais em %Take%, mas ele sabe que se ficar próximo, ficará pior. Será destroçado por ver sua amada ao lado de outro, mesmo que ela esteja feliz.

  O fato que %Take% não consegue ver é que %Li% não está totalmente feliz no relacionamento. Recentemente, %Keigo% vem se mostrando “frio” com ela, até mesmo indiferente em alguns momentos e isso está intrigando a moça que não contou para ninguém o que está sentindo.

  %Kohshi% chega em casa, após mais um encontro com sua namorada Aimi, por quem está perdidamente apaixonado, e encontra tudo escuro.

  — Meu Deus, de novo? — ele diz para si mesmo e joga as chaves do carro na mesinha que fica em frente à porta. — %Take%?! — ele chama pelo irmão, mas não obtém resposta imediata.

  Já sabendo o estado do irmão, %Kohshi% adentra mais o apartamento e caminha até a segunda porta do corredor que é onde fica o quarto dele. O rapaz bate à porta.

  — %Take%?! — diz %Kohshi% novamente.

  — O que quer, %Kohshi%? — ele ouve a voz do irmão gritar do outro lado da porta.

  — Posso entrar?

  — Você vai entrar de qualquer maneira... entra logo! — berra %Take% arrancando uma risada alta do irmão que abre a porta.

  — Você está mal-humorado demais, %Take%... — diz o mais velho ao entrar no quarto e ligar a luz. — Está virando um vampiro?

  — Que mania você tem de ficar ligando a luz do meu quarto — reclama ele. — O que quer? — indaga ele arriando o celular que está em sua mão.

  — Ainda está assim por causa do %Keigo% e da %Li%?

  — Como queria que eu ficasse? — questiona ele num tom óbvio. — Se fosse a Aimi quem aparecesse namorando outro cara, você ficaria bem? — provoca o mais novo.

  — Certamente eu ficaria mal — inicia %Kohshi%. — Porém, se a Aimi estivesse feliz com outro cara, mesmo sabendo que eu a amo, eu ficaria feliz por ela — responde %Kohshi% num tom calmo.

  — Eu me declarei para ela naquela época e ela pareceu ignorar. Disse que amava o %Keigo%...

  — Sinto muito, meu irmão, mas acho que você não deve ter sido tão claro assim com ela.

  — Como assim?

  — Se fosse, a %Li% poderia considerar ficar com você. Pelo que me contou dos amassos que deram na Night Parade, certamente ela sente algo por você.

  %Take% suspira em frustração.

  — De que adianta... ela ama o %Keigo%. Estou conformado com isso — diz ele.

  — Não parece — %Kohshi% encara o irmão, ainda em pé próximo à cama dele.   — Achei que você fosse meu maior empecilho... — comenta %Take% baixinho.

  — Eu?

  — Eu achava que ela amava você, mas pelo visto eu me enganei.

  — Eu amo a %Li%, mas é como amiga, você sabe — responde %Kohshi% e completa: — Além do mais, sou louco pela Aimi.

  — Eu sei — %Take% suspira novamente. — Acho que era só tesão reprimido que ela sentia.

  — Bom, o beijo que demos foi bem quente... — %Kohshi% abre um sorriso safado no rosto e %Take% se irrita.

  — %Kohshi%!

  — Desculpa — o mais velho ri da reação do irmão.

  — Não quero mais falar disso, por favor — ele ignora a presença do irmão e volta a digitar no celular.

  — Está conversando com alguém? — indaga %Kohshi%, curioso.

  — Sim — responde %Take% sem tirar os olhos na tela do aparelho.

  — Eu conheço a moça?

  — É a Harumi.

  — A secretária da Seven? — questiona %Kohshi% espantado.

  — Sim — responde %Take% tranquilamente.

  — Hm, não sabia que você estava interessado nela.

  — E não estou.

  — Não parece...

  — Estamos apenas conversando sobre o trabalho, %Kohshi% — %Take% ergue o olhar entediado para o irmão.

  — Trabalho... sei — o mais velho ri e %Take% joga um travesseiro nele que logo agarra o objeto.

  — Sai daqui e me deixa em paz, %Asakawa%-san — pede %Take%.

  — Depois quero saber mais sobre sua conversa de trabalho com a Harumi, tá? — provoca %Kohshi%.

  — Sai, %Kohshi%! — %Take% joga outro travesseiro no irmão.

  %Kohshi% ri da irritação do irmão, mas deixa o quarto dele. %Take% não admitiria, mas está tendo uma conversa muito além do trabalho com a Harumi sem que ninguém saiba.

  O final de semana chega e com ele mais um convite para os amigos irem juntos à uma boate, só para desestressar do trabalho intenso que vem tendo durante a semana. Dessa vez, %Take% resolve aceitar o convite para ir à boate, após %Kohshi% ameaçar contar para todos o motivo dele ter se afastado. Irritado, o %Asakawa% mais novo termina de se arrumar e vai até a boate. Seu irmão havia ido até a casa de Aimi para buscá-la, portanto ele vai de táxi sozinho.

  Ao chegar na porta do local, que já está bastante movimentado, o rapaz aguarda pela chegada dos amigos. Certamente será uma noite difícil para ele. Primeiro, ele será castiçal de dois casais, Aimi e %Kohshi% – %Keigo% e %Li%; segundo, ele estará sozinho e sem saco para se envolver com ninguém; terceiro, ver a %Li% e %Keigo% dançando juntos enquanto são um casal feliz.

  A noite será longa.

  — %Take%! — a voz de %Li% faz o corpo de %Take% arrepiar-se por inteiro e ele se vira para encará-la.

  Ela vem caminhando quase em câmera lenta. Está tão linda. Usa um vestido cor de vinho, com mangas longas e bufantes, que vai na altura de seus joelhos; usa um colar no pescoço e os cabelos vermelhos presos no alto de sua cabeça.

  — Meu amigo, que saudades de você! — comenta ela e o abraça. Ele não tem reação e mantém os braços colados ao corpo. Ela se afasta um pouco. — Você está estranho, %Asakawa%. Está muito calado — ela diz um pouco desconfiada.

  — Eu? — ele finalmente reúne forças para falar. — Não, imagina, %Li%, é apenas estresse do trabalho — ele sorri sem jeito.

  — Ah, você está estranho sim. Notei isso desde que comecei a namorar o %Keigo% — diz ela e %Take% se engasga com o ar que respira.

  — Não — responde ele, após se recuperar. — Impressão sua, %Li% — ele sorri novamente ainda mais sem graça.

  — %Take%, não subestime a minha inteligência — ela estreita os olhos e ele enrijece o corpo.

  — Desculpa, eu...

  De repente, a voz de outra pessoa interrompe %Take%:

  — Me desculpem o atraso! — é o %Keigo% que chega correndo, os cabelos balançando enquanto corre, e ajeitando os óculos de grau sobre o nariz. %Li% logo abre um sorriso ao vê-lo.

  %Take% fica sério.

  — %Kei%... — ela diz carinhosa e %Take% sente a garganta dá um nó.

  — Oi, amor — o rapaz dá um selinho rápido nela e se vira para %Take%. — Oi, cara.

  %Take% demora um pouco para responder.

  — Oi...

  — Chegamos! — anuncia %Kohshi% e %Take% nunca ficou tão feliz ao ver o irmão.

  — Finalmente, %Asakawa%! — brinca %Li% risonha. — Aimi! Como vai?

  — Muito bem, %Li% e você? — diz a moça sorridente.

  — Bem também. Ah, eu preciso te contar algo! — diz %Li%, animada.

  — Eu também! Vem, vamos entrar — comenta Aimi e as duas entram na boate deixando os rapazes para trás.

  — Vamos logo antes que elas se percam lá dentro — comenta %Kohshi% e todos concordam.

  Os três amigos adentram a boate e logo encontram as moças que já estão com as pulseiras para poderem circularem pelo interior do local. %Take% vai diretamente para o bar e pede um drink para iniciar a noite, mesmo que seu irmão o tenha alertado para maneirar na bebida. Porém, tudo que %Take% quer hoje é se divertir e beber para tentar ignorar a presença do “casal feliz”.

  %Take% está aéreo, mas tenta prestar atenção no que sua cunhada conversa com seu irmão. Os três estão sentados em sofás confortáveis, há uma mesa redonda à frente deles onde estão seus copos e taças com suas bebidas, no centro há uma garrafa de tequila que foi pedida por %Kohshi%. Enquanto observa o nada, o %Asakawa% mais novo dá alguns goles em sua cerveja, seus ouvidos totalmente alheios ao que é falado por Aimi e %Kohshi% que está bem ao lado dele. De repente, o olhar certeiro de %Take% cai sobre o casal %Li% e %Keigo% que estão dançando na pista. Agora, está tocando uma música bem, digamos, sensual, e ambos estão dançando bem colados um ao outro. Ao ver a cena, o mais novo enrijece o corpo de raiva e aperta a garrafa que segura nas mãos. Os movimentos sexys feitos por %Li% ao alisar o tórax de %Keigo% enquanto suas pernas dobram para baixo e seu rosto erguido com uma expressão ainda mais sexy observa %Keigo% com desejo, deixam %Take% irritado e com inveja do amigo. Ele não pode negar que quer estar no lugar de %Keigo%, isso ele não pode. Mas, o que ele também não pode é desejar a namorada do seu melhor amigo, mesmo que ela seja o grande amor de sua vida. Não, ele não pode.

  %Kohshi% percebe a reação de seu irmão e sussurra em seu ouvido.

  — Fica frio, %Take%...

  E recebe o olhar irritado dele. Rendendo-se à raiva, %Take% se levanta bruscamente e se perde em meio à multidão.

  A visão de %Take% está turva e ele sente uma pressão em sua cabeça. Seu nariz está doendo e, ele não sabe como, suas costelas doem como se ele tivesse caído ou algo parecido. Bom, o “algo parecido” pode ser explicado pelo grupo de três caras que o rodeia agora. %Take% não lembra o motivo, mas, nesse momento, tem três caras batendo nele.

  Após concluírem o serviço sujo, os três saem e fecham a porta do box onde %Take% está, saindo do banheiro masculino em seguida, deixando sua vítima caída no chão, sangrando. %Take% ainda está bêbado e agora está com dores por todo o corpo. O chão frio e sujo do banheiro o incomoda, mas ele não tem tanta força para se levantar totalmente, apenas consegue ergue um pouco o corpo e se recostar na divisória de um dos boxes. Ele tenta respirar fundo, mas sente seu pulmão doer também. A boca sangrando, o nariz dolorido indica que está quebrado, suas costelas do lado esquerdo certamente estão fraturadas pela intensa dor que ele sente desse lado do corpo. Ele passa uma das mãos pelos cabelos, jogando-os para trás, e fecha os olhos sentindo-os arder um pouco. Ah, ele está todo quebrado.

  O rapaz tenta puxar pela memória as cenas que explicam melhor o estado atual dele. Minutos após, ele consegue se lembrar de alguns fragmentos aleatórios. Primeiro, %Take% se lembra de ter ficado puto por ter visto %Li% dançar com %Keigo% e ter saído na direção do bar novamente. Lá, ele pediu doses absurdas de tequila, mesmo que tivesse na mesa com seu irmão, e as bebeu em seguida e bem rapidamente. Totalmente embriagado e com raiva, o rapaz saiu se batendo nas pessoas que via pela frente, até o momento em que se deparou com um grupo de encrenqueiros que não gostaram de ser incomodados por um bêbado desiludido e o cercaram.

  A cena seguinte já é no banheiro, %Take% no chão sendo chutado e socado por três homens enraivados. Um, dois, três, quatro, cinco socos seguidos e %Take% não se importava mais com os golpes que levava. A dor de apanhar de três caras era quase nada comparada à desilusão que ele sentia. De certa maneira doida, isso o confortou.

  A tosse vem e com ela um pouco de sangue é expelido por %Take% que se vê naquela situação, agora que está levemente mais sóbrio, e percebe o quão patético ele está. Ele encosta a cabeça na divisória do box e põe sua mão na testa, apertando um pouco o local que está latejando. Então, ele escuta um barulho de porta se abrindo.

  — %Take%? — a voz de %Kohshi% é um tremendo alívio para o mais novo.

  — %Kohshi%... — ele responde baixinho e tosse em seguida expelindo mais sangue. — Droga... — resmunga ele para si mesmo.

  — %Take%? Cadê você? — questiona %Kohshi% enquanto caminha lentamente pelo banheiro.

  — Aqui... — %Take% reúne suas últimas forças e chuta a porta do box, abrindo-a para fora, revelando sua localização.

  Ao chegar perto, %Kohshi% pôde ver a situação do irmão.

  — Por Deus, %Take%! O que houve com você? — indaga %Kohshi% espantado e agacha-se ao lado dele.

  — Eu apanhei... — ele responde, rindo sem humor e tosse mais uma vez sentindo as costelas fraturadas reclamarem de seu esforço.

  — Jura? Nem reparei... — diz %Kohshi%, sarcástico. — Sério, cara, o que aconteceu? Quem fez isso?

  — Três caras — %Kohshi% examina rapidamente o estado do irmão e logo percebe o que motivou isso.

  — Você procurou briga de graça de novo? — diz ele, retoricamente. — Você é impossível, %Take%!

  — Falou o bonzinho da família... — zomba %Take% e ri de leve. — Eu só preciso dormir, amanhã estarei melhor.

  — Seu idiota! Já disse para ou você se esquecer da %Li% de uma vez ou lutar por ela!!! — brada %Kohshi% e completa: — E parar de arrumar briga por aí!

  — A briga que me arruma, meu irmão.

  — Não é hora para brincadeiras, %Take%! — %Kohshi% se irrita e dá um tapão nas pernas do irmão que geme de dor. — Idiota, vamos embora! Vem, eu te ajudo.

  — Não conta para ninguém... — pede o mais novo.

  — Eu não vou contar para %Li%, não se preocupe.

  — Não estava falando dela...

  — Tá, tá, vamos logo.

  Apoiado nos ombros do irmão, o mais novo dos %Asakawa% caminha devagar até a saída da boate sem que os outros amigos o vejam, apenas Aimi acompanha os dois e fica bastante preocupada com o cunhado que se tornou um irmão para a moça. Cansado e ferido, %Take% vai para casa com dores maiores do que as físicas. As palavras do irmão sobre ele se esquecer da %Li% ou lutar por ela, estão flutuando na mente dele. E, pelo visto, ele não irá se esquecer delas tão cedo.

  Na segunda-feira, no trabalho, %Take% tenta evitar ao máximo contato visual com as pessoas, o que se torna extremamente difícil para ele. Mas, a pessoa que ele mais evitou durante todo o dia, o encontra quase ao fim da tarde, no corredor que leva os funcionários até a copa.

  — %Take%! — diz %Li% e se aproxima dele, apesar do rapaz tentar se esquivar. — O que houve com você? — ela nota o machucado visível próximo aos lábios dele e as feridas no supercílio e nariz.

  — Nada — ele responde e sai andando na direção oposta à dela.

  — Como nada, %Take%?! Olha o seu rosto... — ela o puxa pelo braço e ele quase perde o equilíbrio, parando bem em frente a ela.

  — Não foi nada demais, %Li% — ele diz e evita encarar a amiga. O olhar dela penetrando o dele o faria falar a verdade e ele não quer que ela saiba de nada.

  — Odeio quando você tenta me enganar com coisas óbvias, %Asakawa%! — brada ela, irritada. — Vem comigo — ela o puxa novamente, mas ele se esquiva.

  — Eu estou bem, %Li%.

  — %Take%!

  — Me deixa, %Li%, já disse que estou bem! — ele aumenta o tom de voz, se soltando dela de maneira bruta, falando grosseiramente e se arrependendo no segundo seguinte.

  — Não precisa falar assim comigo, idiota! — irrita-se ela e lhe dá um tapa no braço.

  — Me desculpe...

  — Idiota! Me deixe te ajudar, vem logo!

  %Li% o puxa novamente o levando até a copa e trancando a porta em seguida.

  — O que vai fazer? — questiona ele, após ela empurrá-lo para se sentar na cadeira livre.

  — Cala a boca, %Take% e fica quieto — manda ela.

  — %Li%, não precisa...

  — Quieto! — enfatiza %Li% e %Take% se cala.

  Ele observa a moça pegar um kit de primeiros-socorros no armário que fica preso na parede. %Li% está bem bonita hoje, seu perfume marcante e doce serve de anestesia para deixar %Take% imóvel enquanto ela cuida dos machucados do rosto dele. O vestido branco com pequenos ramos de flores vermelhas espalhadas, o sapato de salto não tão alto, um colar com um pingente de gatinho pendurado (em homenagem ao seu gatinho, o Kuruma) e os cabelos avermelhados soltos.

  — Você arrumou briga na boate, não foi? — ela pergunta o óbvio e %Take% não responde. %Li% suspira — Você é um idiota brigão, %Asakawa% — diz ela. — Desde criança você não consegue parar de arrumar briga por aí, idiota. Quer me matar de preocupação? — ele não diz nada, apenas se deixa levar pelo cheiro do cabelo dela que penetra suas narinas de forma avassaladora. — Agora está quieto, né?

  — Você pediu para eu ficar quieto e eu estou — responde ele e %Li% abre a boca em espanto à audácia dele.

  — Bocó... — ela aperta com raiva a gaze no canto da boca de %Take% e ele geme.

  — Isso dói, Mori! — reclama ele.

  — Que bom que doeu — %Li% sorri sarcástica e volta a ficar séria. — Senta aí que eu não terminei — ela empurra-o de novo na cadeira e volta a passar remédio no canto da boca de %Take%.

  De repente, ele nota algo diferente no olhar dela, algo que ele só tinha visto uma vez em todo tempo que a conhece: um olhar triste. A única vez que tinha visto tal olhar foi quando conheceu ela, quando ainda estavam no ensino fundamental. Todos tinham entre 8 e 11 anos, apesar de serem de séries diferentes, os quatro se encontraram em uma atividade feita interclasses. Os professores deles pediram para que se juntassem em duplas, misturando as turmas, e desenhassem uma paisagem que gostassem. Um desenho para cada dupla. %Li% era muito tímida e não falava com quase ninguém, as únicas garotas com quem conversava fizeram duplas com outras pessoas e a menina ficou sozinha e tristonha, sentada ao fundo da sala. %Take% se recorda que ela usava um casaco rosa com pelos no capuz, os cabelos na época pretos presos num rabinho de cavalo. Enquanto desenhava sozinha, %Li% viu que, uma cadeira à sua frente, havia um garoto desenhando sozinho também, mais tarde ela descobriu que esse era %Keigo%. Ela pensou em falar com ele, mas, antes mesmo dela se aproximar do garoto, ela viu outros dois se aproximando e apenas observou o que fariam. Um deles chegou perto e ia pegar a caixinha de suco de %Keigo% que continuava desenhando, depois ela descobriu que esse era %Kohshi%. %Take% apareceu e puxou o braço do irmão e pediu, através de gestos, que ele o seguisse. Arteiro, %Take% fingiu que desmaiou e logo é amparado por %Kohshi%. Inocente, %Keigo% achou que era verdade e deu o suco para o amigo beber e se recuperar. %Li% viu a cena e quis contar para %Keigo% toda a verdade e dizer que ele tinha sido enganado pelos amigos, mas, quando viu %Keigo% dando um cascudo em %Take% ao perceber a mentira, ela viu que se tratavam de amigos e estava tudo bem entre eles. Então, ela soltou uma risada que foi notada pelos três. O primeiro a encará-la foi %Take% que viu o rosto arredondado de %Li% se avermelhar enquanto ria. Tão fofinha.

  Eles foram conversar com a garota e, desde então, nunca mais se separaram.

  — Você está bem, %Li%? — questiona %Take%, deixando as lembranças boas do passado se esvaírem de sua mente e voltando a se concentrar no olhar triste da moça à sua frente.

  — Hã? — ela diz, distraída. — Estou, por que pergunta?

  — Eu conheço você — diz ele, simplesmente. — Você está triste ou preocupada. Ou ambos...

  — Está tudo bem, %Take% — o sorriso falso de quem está tentando parecer bem é facilmente percebido pelo homem que resolve não forçar.

  %Take% sabe que se insistir será pior, %Li% se fechará num casulo e não contará o que está acontecendo de verdade. Ela sempre foi assim, desde que a conhece, porém, %Take% sabe que em algum momento, quando se sentir confortável com o assunto, %Li% se abrirá.

  Após terminar os curativos nos machucados de %Take%, %Li% tenta arrancar dele a verdade sobre a briga na boate, mas ele não quis dizer, apenas disse que brigou com alguns caras porque estava bêbado. O motivo de sua bebedeira, ele não diz. Ele nunca irá dizer.

  %Take% e %Li% voltam para seus setores, a moça volta a ficar pensativa com suas próprias preocupações. %Keigo% está muito distante dela e %Li% não entende o motivo, apesar de já ter perguntado inúmeras vezes para o rapaz que nega veementemente ter se afastado. Seu companheiro de trabalho e amigo, %Kohshi%, logo nota a distração constante da amiga, mas apenas a observa sem dizer nada.

  Do outro lado da Seven, no setor de BackEnd, %Take% tenta não pensar em mais nada além do trabalho. Ele percebe, após o encontro com %Li%, que terá que arrumar outra tentativa para se esquecer dela: se enfiando no trabalho. Sentir o perfume da amiga tão perto sem poder beijá-la foi torturante para ele. O %Asakawa% nunca imaginou que ficaria assim por causa de uma mulher, muito menos por causa da Mori.

  — %Take%-chan... — braços finos e de pele macia envolvem o pescoço de %Take% e o distraem, fazendo-o olhar para a dona deles.

  — Harumi... — sussurra ele ao ver Harumi envolta em seu pescoço, muito próxima de sua boca.

  — Preciso de sua ajuda, %Take%-chan — diz ela de maneira sensual demais para uma secretária que quer ajuda com o trabalho.

  — Em que posso ajudar? — indaga %Take% voltando seu olhar para a tela do computador, suas mãos ainda estão sobre o teclado.

  — O meu computador parou novamente. Não quer ligar. Pode me dar uma mãozinha? — ela volta a usar o tom sensual e %Take% se arrepia involuntariamente.

  — Cof cof... — pigarreia ele. — Por que não chama o pessoal do TI?

  — Ah, eles estão sempre reclamando, dizem que eu os faço perder tempo sempre — reclama ela. — Você sabe mexer com esses códigos de computador, deve mexer com isso também.

  — Não quero ser grosso, mas não tem a ver — ele diz, sério.

  — Como não?

  — Harumi, eu sou desenvolvedor backend e não suporte técnico, há muita diferença. Apesar de eu saber como resolver o problema... — antes dele continuar, Harumi o interrompe.

  — Ah, então me ajuda, %Take%-chan! — diz ela, manhosa e dá um beijo na bochecha dele, ignorando tudo que ele acabou de dizer.

  Nesse momento, %Keigo% olha de esguelha para a cena e sorri de canto.

  — Harumi, por favor, estamos no trabalho — pede ele, sem jeito.

  — Não seja tão casto, %Take%-chan, sei que não é assim — ela diz com o sorriso malicioso nos lábios e volta a beijar o rosto de %Take% que se esquiva vermelho de vergonha.

  — Está bem, eu vou olhar o seu computador.

  Vencido pelo cansaço, %Take% se levanta e vai acompanhado de Harumi até a mesa dela. No caminho, a moça agarra o braço do rapaz e começa a beijar a bochecha dele, como se estivessem passeando num parque como namorados. Ao passar pelo setor onde %Li% trabalha, %Take% desvia o olhar, mas os olhos de %Li% caem diretamente na cena de Harumi o beijando e agarrada a ele. A Mori não sabe o motivo, mas sente a garganta se fechar e uma onda de raiva tomar conta dela.

  Há muitos sentimentos rondando os quatro amigos, principalmente o trio formado por %Keigo%, %Li% e %Take%. Sentimentos esses que nenhum deles compreende direito ainda, mas que os deixam confusos e desnorteados.

  Mas, algo irá acontecer. Algo ainda mais confuso, mas que será, de alguma forma, esclarecedor para um deles.