Restless Harmony

Escrita porNyx
Revisada por Lelen

Peça 09 • O Confronto

Tempo estimado de leitura: 12 minutos

  %Gabriel% entrou na sala com passos firmes, segurando sua partitura como se fosse um escudo. Os dois dias que se passaram desde o concerto foram cheios de pensamentos confusos e sentimentos não ditos. A ausência de seu pai no evento, embora esperada, ainda o feriu profundamente. Agora, era o momento de acabar com anos de frustrações acumuladas, silêncios ensurdecedores e cobranças sufocantes. Ele precisava ser ouvido, e nada o impediria.
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  Ele empurrou a porta sem bater, a madeira pesada abrindo-se com um rangido que quebrou o silêncio. O pai, sentado atrás de uma imponente mesa de madeira, levantou os olhos dos papéis à sua frente, surpreso com a entrada abrupta.
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  — %Gabriel%, você perdeu a noção de como se entra em uma sala? — disse Arnold, franzindo a testa.
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  — Não vim aqui para discutir etiqueta, pai. Vim porque precisamos conversar. — A voz de %Gabriel% era firme, o controle evidente, apesar da raiva que borbulhava em seu peito.
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  Arnold fechou a pasta sobre a mesa, recostando-se na cadeira de couro. Ele cruzou os braços, assumindo uma postura defensiva.
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  — Se for para reclamar sobre sua apresentação, economize suas palavras. Você sabe como são os negócios. Eu tinha compromissos mais importantes.
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  Aquelas palavras atingiram %Gabriel% como um golpe. Na escala de prioridades do pai, ele sempre estivera em último lugar. Isso não era novidade, mas ainda doía. Respirando fundo, ele tentou não demonstrar o quanto aquilo o abalava.
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  — Compromissos mais importantes? Mais importantes do que o momento que define tudo o que eu sou? — %Gabriel% deu um passo à frente, sem desviar o olhar. — Eu já sabia que você não iria, mas impedir a mamãe de ir? Isso foi cruel. Você sabia o quanto isso significava para mim.
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  Arnold o encarou, o rosto endurecido, mas seus olhos vacilaram por um breve momento. %Gabriel% percebeu a brecha e colocou a partitura sobre a mesa, como se estivesse lançando um desafio.
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  — Esta é a música que compus para %Claire%. Você provavelmente nem sabe quem ela é porque nunca se interessou pela minha vida, mas ela é minha namorada. — Arnold ergueu as sobrancelhas surpreso. — A música também é para mim. Ela representa tudo o que eu sou e tudo o que nunca tive coragem de mostrar para você. Mas agora, você vai ouvir.
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  Sem esperar resposta, %Gabriel% cruzou a sala em direção ao piano, um Steinway grandioso que parecia mais uma peça decorativa do que um instrumento real. Ele ajustou o banco, fechou os olhos por um instante e começou a tocar.
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  A melodia encheu o ambiente, começando com suavidade, hesitante, como se contasse uma história. Aos poucos, cresceu em intensidade, cada nota transbordando emoções que %Gabriel% carregava há anos: a luta contra as expectativas, a busca por sua própria voz e o amor que encontrou em %Claire%. A música era honesta, tão honesta que parecia cortar as barreiras invisíveis entre pai e filho.
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  Quando a última nota se dissipou, o silêncio na sala era quase palpável. %Gabriel% permaneceu sentado ao piano, os olhos fixos nas teclas, enquanto Arnold encarava a partitura sobre a mesa, seus traços endurecidos suavizando-se lentamente. Algo havia mudado, algo que nenhum dos dois conseguia ignorar.
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  — Essa música... é diferente. Tem algo nela… — murmurou Arnold, quase para si mesmo.
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  — É diferente porque é minha. Não é uma tentativa de agradar você ou de seguir um legado que nunca foi meu. É quem eu sou. — %Gabriel% se levantou, cruzando os braços e encarando o pai com determinação. — E vou continuar compondo assim, não importa o que você pense.
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  Arnold se levantou da cadeira lentamente, caminhando até o piano. Ele passou a mão pela borda polida, como se estivesse buscando as palavras certas.
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  — Passei a vida achando que sucesso era seguir um caminho pré-definido. Controlar tudo. Mas, ouvindo isso… — ele pausou, sua voz carregada de significados. — Talvez eu estivesse errado.
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  %Gabriel% manteve-se firme, esperando o que viria a seguir. Finalmente, Arnold suspirou, levantando os olhos para encontrar os do filho.
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  — Você é melhor do que eu imaginava. Não por seguir minhas regras, mas por ter coragem de quebrá-las.
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  O peso nos ombros de %Gabriel% diminuiu, apenas um pouco. Ele esboçou um pequeno sorriso, mais em aceitação do que em triunfo.
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  — Não espero que você mude tudo de uma vez. Mas agora você sabe quem eu sou. E espero que, algum dia, isso seja o suficiente.
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  Arnold hesitou por um momento antes de estender a mão, mas mudou o gesto no último segundo, colocando-a no ombro de %Gabriel%.
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  — Talvez seja hora de recomeçarmos. Não como empresário e artista. Mas como pai e filho.
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  %Gabriel% assentiu, sentindo a música ainda ressoar dentro dele. Não era uma reconciliação completa, mas era o começo de algo novo. Algo real.
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🎻🎹

  %Gabriel% e %Claire% tinham decidido fazer um piquenique naquela tarde ensolarada. Escolheram um parque tranquilo nos arredores da cidade, um lugar onde a natureza parecia abraçar o momento. Árvores frondosas projetavam sombras sobre o gramado verdejante, e o som suave do vento balançava as folhas, enquanto um pequeno lago refletia o brilho dourado do sol. Era um cenário perfeito, como se o mundo houvesse conspirado para criar aquele instante só para eles.
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  Estavam sentados sobre uma toalha xadrez, rodeados por cestos de comida simples, mas preparada com carinho. Havia sanduíches, frutas frescas, suco de laranja e alguns biscoitos que %Claire% tentara fazer pela primeira vez, algo que ela mencionara com um toque de insegurança, mas também de orgulho.
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  %Claire% estava sentada de pernas cruzadas, mordiscando um morango enquanto observava %Gabriel%, que lutava com determinação para abrir uma garrafa de suco. Ele fazia caretas exageradas, tentando disfarçar o esforço, o que a fez gargalhar alto, um som que parecia mais doce que qualquer sobremesa ali.
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  — Precisa de ajuda? Ou vai admitir que o suco está ganhando de você? — provocou %Claire%, erguendo uma sobrancelha.
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  — Eu só estou dando uma chance para ele desistir com dignidade. É uma batalha de honra, %Claire%! — respondeu %Gabriel%, fingindo indignação, mas com um brilho de diversão nos olhos.
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  Finalmente, com um estalo, ele conseguiu abrir a garrafa, mas o movimento inesperado fez o suco espirrar, deixando uma mancha visível em sua camiseta branca. %Claire% gargalhou ainda mais alto, enquanto %Gabriel% olhava para o estrago com uma expressão de falsa ofensa.
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  — E é por isso que você deveria ter me deixado abrir. Eu sou claramente mais habilidosa — brincou %Claire%, colocando o morango de lado e pegando um guardanapo para ele.
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  — Ok, você venceu essa. Mas eu ainda sou o cara que faz os melhores biscoitos. Estamos empatados. — Ele sorriu, enquanto limpava a camisa.
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  — Ah, por favor! — %Claire% revirou os olhos de forma teatral. — Você nem sequer experimentou os meus ainda. Tá com medo que os meus sejam melhores que os seus?
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  — Medo? De jeito nenhum! Vou provar agora mesmo para te mostrar quem é o mestre dos biscoitos. — %Gabriel% pegou um dos biscoitos com um sorriso desafiador e deu uma mordida. Sua expressão mudou instantaneamente para algo dramático, quase cômico. — %Claire%… Isso é incrível. Como você conseguiu fazer isso?! — disse ele, com a mão no coração, como se tivesse sido tocado pela perfeição divina.
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  — Talvez seja meu talento natural. Ou, quem sabe, seguir exatamente a receita. — %Claire% piscou, divertida.
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  Ambos riram, a leveza da conversa afastando qualquer sombra de preocupação. Alguns minutos se passaram em um silêncio confortável, interrompido apenas pelo som das folhas ao vento e os pássaros que pareciam cantar exclusivamente para eles. %Gabriel% deitou-se na toalha, apoiando-se nos cotovelos enquanto olhava para o céu azul sem nuvens.
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  — Sabe, tive uma conversa com meu pai há dois dias — ele quebrou o silêncio, sua voz carregada de algo profundo.
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  %Claire%, que cortava uma maçã, parou e voltou o olhar para ele, curiosa.
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  — E como foi? Ele finalmente te ouviu?
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  %Gabriel% respirou fundo, como se revivesse o momento.
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  — Foi intenso, mas acho que conseguimos nos entender. Ele ouviu a música que escrevi... aquela que toquei para você. — Ao ouvir isso, %Claire% sentiu o coração aquecer, e seus olhos se suavizaram.
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  — E o que ele disse? — Ela se inclinou ligeiramente para mais perto, com um sorriso encorajador, mas os olhos cheios de seriedade.
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  — Ele ficou em silêncio por um tempo, o que foi estranho. Mas, quando finalmente falou, disse que nunca tinha ouvido algo tão sincero. Acho que ele percebeu que eu não estava rejeitando o legado da minha família, só tentando honrá-lo do meu jeito.
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  %Claire% tocou suavemente a mão dele, entrelaçando os dedos em um gesto de carinho que não precisava de palavras.
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  — Eu sabia que ele não poderia ignorar o quanto era especial. Você colocou sua alma naquela música, %Gabriel%. É impossível não sentir isso. — %Gabriel% virou a mão para apertar a dela.
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  — A música não existiria sem você, %Claire%. Você me mostrou que eu não precisava ser quem os outros esperavam. Que eu podia ser eu mesmo.
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  %Claire% desviou o olhar por um momento, envergonhada pelo elogio, mas seu sorriso era inegável. Ela pegou um morango e ofereceu a ele com uma risada leve.
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  — Tá, mas isso ainda não te isenta de comer mais biscoitos.
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  — Você tem razão. Eles são bons demais para desperdiçar. — %Gabriel% pegou mais um biscoito, fingindo estar impressionado novamente.
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  Depois de comerem e brincarem mais um pouco, os dois se deitaram lado a lado, olhando para o céu que começava a ganhar tons alaranjados com o cair da tarde. Trocaram histórias da infância, sonhos para o futuro, e risadas que ecoavam pelo parque como melodias únicas.
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  %Claire% virou-se para ele, o rosto iluminado por um sorriso carinhoso.
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  — Sabe, eu nunca imaginei que algo tão simples como um piquenique pudesse ser tão especial.
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  %Gabriel% virou o rosto para ela, os olhos brilhando com algo mais profundo que palavras poderiam expressar.
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  — Com você, qualquer coisa se torna especial.
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  %Claire% sentiu o coração disparar e, antes que pudesse hesitar, inclinou-se para beijá-lo. O toque era suave, breve, mas cheio de significado. %Gabriel% sorriu contra os lábios dela, quebrando o momento com uma piada leve.
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  — Se continuar assim, vou começar a acreditar que você realmente gosta de mim.
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  — Você não faz ideia. — %Claire% riu e o beijou novamente, dessa vez com mais intensidade, deixando claro o quanto aquelas palavras eram verdadeiras.
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  O resto da tarde se desdobrou em risadas, beijos e momentos de pura felicidade, enquanto ambos saboreavam a simplicidade da companhia um do outro. Entre palavras trocadas e olhares cúmplices, havia a certeza silenciosa de que estavam construindo algo muito mais profundo do que poderiam imaginar: algo genuíno, vibrante e, ao mesmo tempo, tão sólido e duradouro quanto o próprio tempo, como se aquele dia fosse apenas o primeiro capítulo de uma história que se estenderia para sempre.
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