Capítulo 22 • A Carta de Despedida
Tempo estimado de leitura: 8 minutos
Duas semanas depois...
Aqui estou eu no cemitério pela centésima vez.
Dia 31 de janeiro de 2014.
O dia em que a minha menina morreu.
Para me salvar.
Eu não sei se mereço isso ou é uma pegadinha do meu maldito destino.
Só... Sinto-me tão malditamente vazio agora.
Na sua lapide está escrito: Filha querida, mulher amada e eterna amiga.
Martin, Martha, Weslley, Carlos-o-brutamonte e os Parkisons foram todos oficialmente presos pelo FBI, se você me perguntar por que a policia brasileira não poderia tomar conta deles, apenas lhe digo que eles têm dinheiro o suficiente para comprar pessoas corruptas.
Kelly se recuperou o suficiente para fugir antes de participar do enterro de Sophia, ela simplesmente deixou um recado dizendo: Não procurem por mim. Jack está arrasado.
Jack... Ele é o único do meu lado dia após dia, me ajudando, me animando...
Bom... Franciela se mudou para o campus da sua faculdade e não quer conversar com ninguém sobre o que aconteceu.
O pior de tudo foi que levamos Sophia para o hospital e tentaram salvá-la, mas não deu jeito, ela se foi da minha vida para sempre.
Gisele morreu. Eu não tenho mais nada para falar sobre ela, além de que espero que ela esteja ardendo no inferno.
O apartamento de Sophia, está para ser vendido semana que vem, quase todas as suas coisas já foram doadas.
A vida está seguindo em frente, menos a minha.
O seu enterro foi tão... Difícil de suportar. A mãe de Sophia e a mulher dela, choraram tanto. Franciela chorando. Jack chorando. Seus amigos de salvador e de São Paulo chorando. Só... Não é justo.
Deixo uma flor no seu tumulo, pego minha moto e dirijo para casa de Sophia.
Minutos depois e estou entrando... A casa que tem tantas lembranças nossas. De nós quatro juntos. Minhas e de Sophia assistindo filmes, rindo, fazendo sexo.
Caminho até o quarto dela, que agora está tão vazio quanto o meu coração.
Abro o close e vejo algumas roupas dela ainda ali.
Escuto a porta da frente abrindo e Jack entra.
– Cara... Sabia que você estaria aqui. O novo proprietário vai trocar a fechadura hoje e quer saiamos agora daqui. – Diz Jack com pesar.
Viro-me para vê-lo me encarando indecifravelmente.
Dou-lhe um sorriso fraco.
Antes de ir embora, encontro algo apontando entre as roupas de Sophia, mexo e tiro uma caixa de lá. A caixa de brinquedos dela.
Fecho os olhos com força, respiro fundo e saio do apartamento com a caixa na mão.
No estacionamento, coloco a caixa no carro de Jack, pego minha moto e nos dirigimos para o meu apartamento.
O transito está leve e chego lá rapidamente.
Entrando em casa, me jogo no sofá e Jack vem junto trazendo a caixa e duas garrafas de Vodca pura.
Destampo, bebo um pouco, tomo coragem e abro a caixa.
Está tudo lá, do mesmo jeito que ela deixou. Porque isso tem que doer tanto?
Escuto Jack ligando a radio e a música Remember When de Avril Lavigne começa a soar.
Suspiro e quando vou fecha-la vejo uma folha de papel dobrada dentro.
Colocando a caixa de lado, desdobro o papel e começo imediatamente a arfar.
Meu querido Christian,
Eu estou indo embora hoje, antes de você acordar, para tentar resolver o nosso mistério, porque eu quero um futuro completo para a gente, sem dramas e conflitos futuros.
Tenho muitas coisas para te explicar, mas por uma carta não é o momento certo.
Encontrar-nos-emos de novo e te contarei tudo o que você precisa saber.
Eu vivi a melhor semana com você e Kelly e Jack. Divertimo-nos tanto.
Só te peço uma coisa, não fique bravo comigo.
Porque eu te amo. E sempre te amarei.
Mas vamos ao pedido, okay?
Eu quero que se alguma coisa errada acontecer comigo, você não se feche para o mundo.
Você é um cara incrível e o mundo merece conhecer isso.
Não é porque eu fui embora que você tem que se esconder.
Eu sei que você nunca vai se esquecer de mim, sempre terei um lugar no seu coração, mas se lembre de abrir o seu coração para outras coisas também.
Você tirou a minha virgindade, me fez esquecer a vergonha e me jogar de cabeça no nosso relacionamento.
Outra coisa que quero ressaltar é sobre Jack. Eu sei que você esconde algo, bem aí no fundo do seu coraçãozinho, sei que ele é algo mais do que um simples amigo seu.
Não lute contra isso, contra esse sentimento, ele é um dos motivos para você ser quem é.
Se abra para novas oportunidades, porque se essa minha viagem der errado, eu quero sua felicidade acima de tudo.
Nós dois nos encontramos por acaso e o destino nos uniu, não sei se foi para pegar uma peça, porque se foi isso, foi a melhor peça da minha vida, nunca me arrependerei de nada.
Adeus, da sua Sophia.
Lagrimas escorrem livremente pelo meu rosto e molha o papel das minhas mãos.
Porque, hein? E como... Ela sabe de tudo isso? Como ela...?
Olho para o lado e pego a garrafa de Vodca, eu não sei se consigo cumprir o que ela quer.
Jack percebendo meu humor sombrio, me vira para olha-lo, pega meu rosto entre as suas mãos e diz:
– Iremos passar por tudo isso juntos, Christian. Juntos.
Encaramo-nos pelo que parece ter sido uma eternidade ao som suave da música It's Time de Imagine Dragons enquanto seus olhos cheios de ternura observam o meu olhar atormentado.
O olhar de Jack se desvia para meus lábios e os meus para os dele. Aproximamo-nos inconscientemente e a sala é envolvida com tensão sexual reprimida.
Afasto-me dele, assustado, não, isso não é certo, o que estou sentindo agora é... Uma pegadinha do meu coração, e o meu coração é um idiota.
Estranhas emoções ultrapassam a barreira da minha mente.
Isso é mais do que posso suportar, isso machuca.
Viro-me para Jack e o vejo me encarando de um jeito tão fodidamente doce.
E então eu grito, grito pela emoções reprimidas, grito pela morte de Sophia, grito por não querer estar sentindo nada do que estou sentindo. E grito principalmente com Jack, por Jack, por uma mistura de tudo.
- Saia! Saia da minha maldita casa! E não volte... Só não volte... Eu não posso... Suportar isso... Não posso suportar essa dor... Não posso.
Jack se levanta e vem em minha direção.
- Christian... Deixe-me explicar...
- Não! Não se aproxime! – Esbravejo e passo as mãos pelo meu cabelo. – SÓ VÁ EMBORA! VÁ EMBORA, ENTENDEU? DA MINHA CASA, DA MINHA MENTE, DA PORRA DA MINHA VIDA!
Vejo Jack paralisar no meio do caminho e sinto minhas lagrimas se derramarem mais e mais rápido pelo meu rosto, meu deus, o que foi que eu fiz? O que foi que eu disse?
- Jack... Eu...
Jack me interrompe:
- Não, não fale. Você já me machucou demais por uma vida inteira.
Ele tira uma chave do bolso, a chave do meu apartamento, a chave que dei a ele em confiança.
- Está aqui sua chave. – Jack diz, colocando-a na meda. – Eu tentei ajudar, sabe? Só não estou aqui para ouvir esse tipo de merda vindo de você, logo de você, quem nunca pensei que me magoaria.
Jack me encara e posso ver claramente, lagrimas brilhando nos seus lindos olhos azuis.
Dou um passo á frente.
- Jack... Não...
Ele me interrompe novamente.
- Apesar de tudo o que você me disse aqui hoje, eu ainda espero do fundo do meu coração que você tenha o final feliz que procura. E isso é o que mais dói. Até um dia.
Jack corre e saí batendo a porta.
E eu o observo em câmera lenta sair da minha casa, da minha vida, exatamente como mandei, mas ao invés de sentir alivio, sinto um buraco ainda maior no lugar do meu coração. Primeiro Sophia se foi, agora eu fiz Jack me deixar.
Dirijo-me ao sofá, me deito e enrolo-me em posição fetal, chorando, sempre chorando, porque eu acabei de mandar embora a coisa mais preciosa da minha vida inútil, meu parceiro de crime, meu companheiro de todas as horas, meu melhor amigo, meu... Jack.
Sorrio entre lagrimas ao relembrar dos nossos melhores momentos, pego a carta de Sophia do chão e a abraço, é a única coisa que me sobrou agora.
Não existe mais Christian- Rottweiler sem Jack-Destruidor-de-Corações.
E eu fodi com tudo, duas semanas depois da morte de Sophia.
Estou me sentindo um lixo agora.
E não me importo mais com que caralho eu pense sobre Jack, sobre o desejo, sobre a confusão mental, nada importa, só o quero de volta...
Uma coisa eu sei, Jack não foi embora da minha mente e eu me arrependo de cada fodida palavra que disse a ele. Porque não era verdade, era o que eu queria que fosse verdade, e vê-lo saindo chorando pela porta, quebrou mais do que o meu orgulho, esmagou o meu coração já quebrado.
Soluço. Eu irei recuperá-lo, não sei como, mas mesmo que seja necessário rastejar, implorarei eternamente pelo seu perdão.
FIM