Capítulo 20 • Resgate
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Espreguiço-me e bocejo... Que horas serão? Olho para o relógio, 11:00 AM.
Nossa, dormi de mais. Procuro o motivo de ter acordado essa hora e escuto uma batida frenética na minha porta.
– Christian, caralho. Levanta o rabo daí! – Jack grita.
Pulo da cama, coloco uma box e abro a porta ofegando.
– O que? Que desespero é esse?
Observo Jack parar meio confuso e depois ele diz:
– Eu não encontro Kelly em lugar nenhum. Ela está aqui com Sophia?
– Hum... Não. Nem Sophia está aqui, eu pensei que ela poderia está na sala ou no banheiro, por quê? – Franzo o cenho.
– Elas não estão aqui, porra!! Onde elas foram? - Pergunta Jack desesperado.
Paro em choque e pergunto lentamente:
– Como assim elas não estão aqui?
– Não estão! E os celulares de Kelly e de Sophia estão na mesa de jantar, estou ficando preocupado, mano, muito preocupado.
Passo por Jack e procuro Sophia por todo o apartamento, não a encontrando, fico frenético e ando de um lado para o outro.
– Vamos olhar o celular delas? – Jack pergunta com a mesma expressão de pânico na voz.
– Boa ideia.
Pego o celular de Sophia e vejo que ele recebeu uma ligação ontem daquela Franciela.
Resolvo ligar de volta, vai que Franciela sabe de alguma coisa?!
Atende no quarto toque.
– Ало?
Franzo o cenho.
– Hum... Você é Franciela? Sabe... Falar português?
– Sei. Quem está falando do telefone de Sophia?
– Sou Christian.
– Ah, o famoso Christian. O que você quer?
– Sophia não está em casa e você telefonou para ela ontem, você sabe para onde ela pode ter ido?
Escuto ela praguejar na língua estranha.
– Sim, aquela imbecil, eu disse para ela não ir naquela casa.
Fico tenso de preocupação.
– Que casa?
– É... Não vou passar por cima da confiança dela e contar para você o motivo, mas ela foi atrás de alguma pista mais concreta sobre o traficante de Itapuã.
– ELA FOI PARA SALVADOR?? – Grito assombrado.
Jack me encara de boca aberta.
– Não, não foi, ela me pediu para conseguir um endereço e eu consegui um em São Paulo, aquela cachorra deve ter ido lá.
– E porque diabos você faria isso, sabendo que é perigoso? – Acuso-a.
– Acalme-se camarada, o endereço é de uma cabana no meio do mato, dificilmente alguém moraria ali.
– Me passe à droga desse endereço agora!
– Certo... Pronto! Ele já está no seu GPS.
– É bom que ela não esteja machucada. – Rosno para Franciela.
Escuto seu suspiro e então a ligação fica muda.
Encaro o celular friamente e vou em direção à porta para ir atrás de Sophia, mas Jack me para.
– O que? – Argumento frustrado.
– Lembra-se do número na pasta que dizia para ligar quando a situação ficasse preta? Vamos fazer isso. Sozinhos não somos pareis para nenhum brutamonte.
Suspiro querendo gritar, mas levo em consideração o que Jack me diz, vou para o closet de Sophia, pego o número da pasta e volto para sala.
Atende no segundo toque.
– FBI Central, who speaks?
– Hum... Vocês falam português? – Pergunto chocado que estou realmente falando com o FBI, dos EUA.
– Claro, senhor. Em que podemos ajudar?
– Bom... A estória é muito longa e complicada, será que tem algum agente perto de São Paulo no momento?
– Temos sim, senhor. Se for uma espécie de pegadinha, irá ser multado por nosso agente ter perdido tempo.
– Sem problemas.
– Só um instante.
Escuto som de teclas e alguns impacientes minutos depois, o atendente fala:
– Preciso do seu endereço, senhor.
Dou o endereço de onde estou e aguardo mais alguns segundos.
– Pronto, daqui a uns vinte minutos um agente deve estar por aí.
– Obrigado.
– Tenha uma boa tarde. Ou não.
Rosno com a petulância dele e desligo o telefone.
Jogo-me no sofá com Jack e olhamos para o rosto um do outro, cheios de preocupação por tantos minutos que só vim recobrar a sobriedade quando escuto uma batida na porta.
Levanto-me correndo e abro a porta.
– FBI. – Diz um cara alto, moreno, de cabelo curto preto e olhos verdes, que por incrível que pareça, reconheci imediatamente.
– Jones?
– Christian? – Ele me encara chocado. – E... Jack? O que... Mas...
– Você está no FBI e nunca disse nada para a gente? Que maldade. – Repreende Jack.
Para quem está boiando, Jones era nosso colega no ensino médio, ele era o maioral, ganhava todas as partidas de xadrez e dominó.
– Como vai... Como era o nome dela mesmo? Beatriz? Sim, esse é o nome, como ela está? – Pergunto.
Jones se enche de orgulho.
– Ela está em casa, grávida. Somos casados agora.
Meu coração se aperta ao me lembrar de Sophia.
– Entre, temos muito que conversar.
Contamos tudo a Jones e explicamos rapidamente a situação atual.
– Mas... Nossa! Vocês se meteram em uma enrascada, sabia? – Fala Jones perplexo. – Vocês tem provas do que estão falando?
– Temos essa pasta. – Responde Jack.
Jones vasculha a pasta e seus olhos se arregalam.
– Isso é o suficiente para eles pegarem vários anos de cadeia.
– Eu sei, mas queríamos pegar uma foto de todos eles juntos amanhã, mas como Sophia e Kelly foram atrás de alguma merda, estamos sem saber o que fazer agora.
– Bom. Eu vou mandar buscarem essa pasta aqui ainda hoje. Enquanto isso, que tal verificarmos esse lugar onde Sophia pode supostamente estar?
– Estou contando com isso. – Respondo ansioso e preocupado.
Saindo o apartamento, pegamos o carro dele, que é um Fiat Doblo preto.
O caminho é cheio de tensão e estranhamente silencioso.
Algumas exaustas horas mais tarde, chegamos a uma cabana toda aos pedaços.
Observando o local, minha garganta prende um soluço ao ver a moto de Sophia deitada na calçada.
Chegando mais perto, vejo sangue do lado da calçada e sinto meus joelhos moles.
Jack respira mais fundo ao meu lado.
Pego o caminho pelo mato e vejo um pano branco no chão.
Levo-o até o nariz e começo a tossir.
– O que diabos é isso? – Falo com uma voz rouca.
– Cristo. São alguns entorpecentes misturados com álcool. – Diz Jones ao tomar o pano de mim.
Começo a puxar meus cabelos e me esforço para respirar fundo.
– Vamos para dentro da casa. – Jack implora.
Nós nos aproximando da casa, Jones faz sinal para ficarmos em silencio e arromba a porta com o pé.
Lá dentro tem papeis espalhados por todo lugar, recortes de Jornais e alguns sacos suspeitos.
Jones faz uma careta ao examinar os sacos e sussurra: “Drogas”.
Acenamos com a cabeça depois vasculhamos o local, mas nada de encontrar as meninas.
Meu peito se oprime e fico pensando em todas as chances que tive vontade de dizer que já estou apaixonado por ela, mas não tive coragem.
– Não tem nada aqui, gente. Vamos voltar. – Diz Jack.
Jones acena com a cabeça, liga para alguém e leva todas as drogas ensacadas para o carro.
Jack passa a mão pelo cabelo e fica olhando fixamente para frente todo o caminho de volta.
Algumas horas depois, estacionamos no apartamento de Sophia e descemos amuados.
– Calma, pessoal. Irei ver se consigo rastrear alguma coisa, todos eles serão presos e vocês terão as suas namoradas de volta. – Diz Jones.
Apenas balanço a cabeça e entro no apartamento junto com Jack.
Olho para ele e vejo o mesmo sofrimento no seu olhar.
Encolho os ombros, não posso me preocupar em conforta-lo agora, pois estou vivendo meu próprio pesadelo.
Suspiro e me jogo na cama de Sophia, sentindo o cheiro dela, me apago no meu próprio pesar.
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No dia seguinte estou me sentindo pior ainda, e meus olhos lacrimejam por ter chorado noite passada.
De repente o telefone de Sophia toca e vou imediatamente para lá.
– Alo? Quem é? O que foi? – Pergunto frenético.
– Sou eu... Franciela. Sophia ainda não foi encontrada?
– Nada. Nem Kelly.
Escuto Franciela fungar baixinho.
– Me encontre em um restaurante na esquina, tudo bem? Acabei de chegar ao aeroporto e vou ir à casa de Sophia, mas antes queria te dar uma coisa.
– Certo.
Desligamos e eu vou passar uma água no rosto e desço para o restaurante que está quase vazio por alguma razão desconhecida, mas não me importo, meu mundo não tem mais cor.
Sento-me a mesa mais afastada e abaixo a cabeça, mas a levanto novamente quando escuto passos vindo em minha direção.
E dou de cara com Gisele. Puta merda, era só o que me faltava.
– Christian... Fiquei sabendo que nossa festa de noivado já está marcada. Fico feliz que tomou juízo e resolveu largar aquela desqualificada para ficar comigo.
Estreito os olhos para ela e a raiva me suga.
– Vai embora, porra.
Gisele balança a cabeça e se senta no meu colo.
– Hum... Você vai adorar o meu desempenho como sua futura esposa.
Eu deveria dar um tapa nela ou algo assim?
Rosno. – SAIA DO MEU COLO, CADELA.
Gisele faz beicinho como se eu só estivesse sendo mimado e senta do meu lado.
– Você quer se guardar para depois do casamento, amor?
Encaro-a chocado.
– Gisele, quer que eu diga que não vai ter casamento nenhum? Pois não vai ter. Você é uma cadela igualzinha a minha mãe e não vou deixar nenhuma de vocês duas ganharem.
Parece que agora consegui atingi-la, pelo jeito como ela está franzindo o cenho para mim.
– O que foi? Não aguenta a verdade? Eu prefiro morrer me escondendo de você no Polo Norte do que me casar com uma viborazinha que está desesperada para ser fodida por um homem de verdade.
Gisele me encara friamente, mas eu vejo que consegui derrubar algumas barreiras dela.
– Você irá se arrepender de dizer isso, Christian. Sua “humana” vai sofrer muito pela sua insolência.
Estreito os olhos.
– Como assim minha “humana”? Somos todos humanos e o que você sabe sobre quem estou ficando?
Gisele da uma gargalhada que me faz estremecer de nojo.
– Oh, Christian, tadinho, tão ingênuo. Estou saindo, nos vemos no dia do nosso noivado.
A víbora sai desfilando como se não tivesse preocupação no mundo.
Quando ela sai, minha depressão volta com força total ao me lembrar de que seria nesse restaurante que eu planejava pedir Sophia em namoro e para ela ir morar comigo.
Lagrimas rolam silenciosamente pelos meus olhos e então me lembro: Lembra-se da cena do começo da minha historia? A que eu estava chorando como um maricas total em um restaurante? Bem, ela acabou se realizando como te contei que iria, e isso não é fantástico? Minha vida está tão despedaçada e confusa sem Sophia do meu lado agora.
Respiro fundo.
– Você é Christian? – Uma voz conhecida me questiona.
Levanto o olhar e encaro os mais lindos par de olhos azuis brilhantes da minha vida.
– Você é Franciela?- Minha voz treme.
– Sim... Eu só passei para te perguntar se você se lembra do endereço que te dei?
Enxugo minhas lagrimas e aceno com a cabeça.
– Bem... Eu pedi para meu pessoal examinar as estruturas novamente, uma vistoria completa. E eles me disseram que aquele lugar tem uma passagem subterrânea, ou pelo menos tinha em mil oitocentos e alguma coisa.
Pulo da mesa com uma rapidez impossível e seguro o braço de Franciela.
– Tem certeza? – A alegria não pode ser disfarçada da minha voz.
– Claro. – Franciela me olha preocupada e com dor ao mesmo tempo. – Olha, eu trouxe isso para você, é do meu pai, eu guardei. Vamos encontrar a minha amiga.
Franciela tira uma arma da bolsa, espantado, escondo-a rapidamente no cós da minha calça.
– Como assim nós?
– Eu fui ao apartamento de Sophia primeiro e encontrei um tal de Jack que estava frenético por causa da songamonga da Kelly e resolvi chama-lo, temos um carro nos esperando no estacionamento.
– Você não vai com a gente. É perigoso.
– Foda-se. Eu tenho faixa preta no Karatê e ela é minha amiga, não vou abandoná-la.
Rolo os olhos e corro em direção ao carro de Sophia com Jack impaciente dentro dele.
– Ainda bem que você chegou, porra. Eu já estava indo malditamente sozinho.
Entro no carro, ligo e piso fundo no pedal.
Correndo como se o diabo estivesse me perseguindo, eu, Jack e Franciela voamos pela estrada asfaltada.
Uma hora e meia mais tarde, saiu do carro com eles e vou para dentro da casa.
Tudo está tão vazio e silencioso, mas não vou me deixar abater, tem que está aqui em algum lugar.
Encaro o enorme tapete cinza no meio da cabana. Porque uma cabana mal acabada teria um tapete cinza intacto?
–Franciela, me ajude a tirar esse tapete do lugar. Jack, ligue para Jones.
Franciela e eu afastamos o tapete e encontramos o que eu esperava, um alçapão.
Empurrando aberto, vejo escadas e escuridão.
– Pronto, liguei para Jones. Ele disse para não me mexermos, porque ele vai estar aqui em mais ou menos uma hora, com um grupo de policiais e um helicóptero.
– Porque um helicóptero? – Pergunto.
– Porque pelo que parece. Sua mãe, nem seu pai, nem Gisele, nem os Parkson estão atendendo as ligação e seus apartamentos estão vazios.
Franzo o cenho, então me lembro.
– Hoje é o dia do encontro secreto deles.
– Um lugar mais secreto do que um alçapão no meio do nada? – Pergunta Franciela.
– Será que eles estão aqui? – Pergunta Jack ansioso.
– Se estiverem, irão ser presos junto com o resto e eu estou pouco me lixando para isso agora.
– Então... Vamos esperar ou entrar? – Pergunta Jack.
– Entrar, claro. Cada minuto que passamos longe das nossas meninas, pode ser perigoso. – Respondo tentando esconder o tremor da minha voz.
– Franciela, você entra depois de Chris, certo? – Pergunta Jack
– Certo.
Quando todos estamos no corredor escuro, caminhamos cautelosamente para frente.
E de repente escuto um grito, agudo de puro terror e o som rasga meu coração em dois.
A próxima coisa que estou fazendo é correndo em direção ao grito.