Capítulo 12 • O Anagrama
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Bocejo e esfrego os olhos, onde estou mesmo? Pisco e me lembro do aconteceu entre mim e Sophia.
Devo ter pegado no sono, tateio a mão buscando o calor de Sophia e não encontro.
Franzo o cenho.
– Sophia?
Levanto-me e percebo que ainda estou pelado, mas... Cadê Sophia? Ela não poderia ter fugido, poderia?
– Sophia?
De repente Sophia sai do banheiro, corada, desgrenhada e... Vestida.
– Sim?
– Por que você se vestiu?
– Porque estamos no seu escritório?
Suspiro, é, ainda tem esse detalhe.
Olho novamente para Sophia e sinto meu pau começar a ficar duro novamente pela visão dela.
Pigarro e visto minha roupa.
– Agora precisamos conversar, sente-se.
– Conversar sobre o que exatamente?
– Sente-se, por favor, Sophia.
Ela senta ao meu lado e balança os pés nervosamente.
– Por que você não me contou que era virgem?
– Eu... É... Não é uma informação que se divulga por ai para todo mundo.
– Desde quando eu me tornei todo mundo?
– Eu não quis dizer desse jeito... Eu... Tenho vinte um anos e era uma virgem, não é algo para se orgulhar.
Pisco surpreso.
– Você se envergonha disso? Sophia... Eu já vi mulheres de cinquenta anos, virgens e cheias de gatos.
Sophia sorri lentamente.
– Gatos? Quantos gatos? Dezoito? Eu iria querer viver rodeada de dezoito gatos.
Franzo o cenho.
– Você só precisa de um gato na sua vida.
– E esse gato seria quem, posso saber?
- Eu, é claro.
– Hum rum. Mas falando serio, você não... Ficou muito irritado por ter tirado a minha virgindade sem saber não, né?
Encaro-a chocado.
– Como? Para mim foi uma honra ter tirado a sua virgindade.
– Eu não sou mais um troféu seu não, não é?
– Claro que não, porque você sempre pensa tão pouco de mim?
– Sinto muito, é que relacionamentos são muito complicados, e a amizade não, eu não quero perder a sua amizade.
– Poderíamos ser os dois e unir o útil e o agradável.
– Posso tentar, mas não vou prometer que será fácil, nos conhecemos a o que? Quarenta e oito horas? Setenta e duas horas? E já estamos falando sobre algo tão... Complexo.
– Você me conhece mais até do que a minha própria mãe.
– Você é o meu chefe.
– Você não sente extremamente confortável ao meu lado?
– Sim, mas...
– Sem mais Sophia, sem mais, eu quero isso, você quer isso, somos adultos o suficiente para enfrentarmos essa situação.
– Então... O que queremos? Praticidade ou compromisso?
– Eu... Não sei... Talvez... Companheirismo.
Penso em Jack, nós temos companheirismo de sobra, mas... Balanço a cabeça e tento me focar no presente.
Sophia morde o lábio, hummmm.
– Se você não parar de morder esse lábio agora, iremos acabar os dois nus em cima da mesa, e eu bem fundo dentro de você.
Sophia pisca os olhos surpresa.
– Seremos exclusivos?
Uma súbita imagem de Jack falando que queria se estabilizar invade a minha mente e trinco os dentes apertados.
– Bom... Se você cogitou pensar que não, eu ficarei extremamente magoado.
– Desculpa novamente, é que tudo isso é novo pra mim.
– Não se preocupe mais, vai dar tudo certo.
– E quem prevê isso? Você?
– Eu não sei... Mas sempre...
Sophia me interrompe – Não existe a palavra sempre no meu dicionário, existe por enquanto e enquanto dure.
– E você esta dizendo que estamos fadados a durar por enquanto? Quem prevê isso? Você? De qualquer jeito eu vou aceitar o seu enquanto dure, por enquanto.
Sophia se levanta.
– Vamos?
Encaro-a confuso. – Para onde?
– Ver o testamento do Doutor Robert.
Minha garganta se fecha e momentaneamente me vejo incapaz de respirar, Doutor Robert.
Inspiro, pego o celular e ligo para Felipe, o advogado dele.
Atende no segundo toque
– Alô? Quem fala?
– Felipe? Aqui é Christian.
– Christian, meu filho, a que devo a honra?
– Você ainda é o advogado do Doutor Robert?
– Não, infelizmente ele trocou de advogado.
– Quem é o novo advogado dele, saberia me informar?
– Claro, é o Marco.
– Marco? O advogado da minha família?
– Exatamente, por que a pergunta?
Engulo ruidosamente.
– É que o Doutor Robert... Ele... Morreu hoje.
Por uns segundos a respiração de Felipe é a única coisa que escuto na outra linha.
– Felipe?
– Ele deixou algum recado para você?
– Sim. Mandou-me falar com o advogado dele, para começar a leitura do testamento.
– Meu Deus, eu... Eu não comentaria o ocorrido na imprensa pelo trabalho raro dele, nunca deveria ter acontecido algo ruim com ele, vou olhar alguns rascunhos para ver se encontro o numero de Marco pra você, ele mudou, adeus.
Ele desliga e eu fico encarando o telefone totalmente confuso, o que foi todas aquelas palavras sem sentido?
Sophia me observa curiosa.
– O que foi que aconteceu?
De repente eu tenho uma ideia.
Olho para cima e vejo que as câmeras do meu escritório estão acessas, pego papel, caneta e escondo no meu bolso da calça.
– Sophia, vamos embora rapidinho, tenho que ir pra casa contar para Jack o que aconteceu, seria sacanagem minha se eu apenas ligasse para dizer uma notícia dessas. Sophia fica confusa, mas sai da sala, pega a bolsa e me segue até o estacionamento.
Chegado lá, digo:
– Vamos no seu carro.
Ela me encara uns segundo, destranca o carro e entra.
– Para onde?
– Em frente.
Saindo do prédio, dou um longo suspiro.
– O que esta havendo de errado Christian?
– Tem câmeras na minha sala.
– Continue.
– Não poderíamos discutir sobre isso lá com as câmeras gravando, mas agora encoste o carro um minuto.
Ela encosta e vira o olhar confuso e curioso pra mim.
– A ligação para Felipe deu em alguma coisa?
– Acho que sim. No final da ligação, ele começou a falar um monte de coisas estranhas e meio desconexas.
Pego o papel e a caneta do bolso e escrevo:
M eu deus
E u
E u
N ão
C omentaria
O ocorrido
N a imprensa pelo
T rabalho
R aro dele
E sinto muito
N unca deveria ter
A contecido
A lgo
R uim com ele
V ou
O lhar alguns
R ascunhos para ver se
E ncontro
O
Número de
Marco para te dar
Ele mudou
– Esta vendo? È um anagrama padrão, tirando as letras desnecessárias e as frases desconexas, ficaria... Me encontre na Árvore.
Sophia fica admirada.
– Nossa, incrível, mas e a frase “o numero de marco para te dar, ele mudou, adeus”?
– Não faz sentido, se Marco é o advogado da minha família, é obvio que eu saberia os números dele, e essa frase também ficaria desconexa no anagrama, então ele deve ter mencionado isso para despistar.
– Mas... Despistar o que?
– O numero deve estar grampeado.
– O seu ou o dele?
– Os dos dois, provavelmente.
Sophia me encara horrorizada.
– E quem faria isso?
– O Sr. Donato, é claro, para seguir os meus passos.
– Hum... E como você aprendeu a ler anagramas?
– O próprio Doutor Robert me ensinou.
– Nossa, que complicado.
– Você ainda está nessa comigo?
– É obvio! Eu nunca deixaria você sozinho nessa.
Passo meu dedo pelo lábio inferior dela.
– E eu nunca deixaria você se machucar por mim, nunca.
Inclino-me e lhe dou um selinho.
Só de sentir esse gosto delicioso, fico duro, deus, será que ela é a minha salvação ou estou tentando enganar meus sentimentos confusos?
- Christian? O que me encontre na árvore significa? – Sophia sussurra.
Fecho os olhos. – Era um código que eu e o Doutor Robert usávamos para eu escapar do hospital sem ser percebido.
– E o que árvore tem haver com isso?
– Para sair, eu tinha que atravessar uma árvore pequena demais, aí o Doutor Robert, construiu uma casa camuflada na arvore. Ele sempre me ajudando e eu nem percebendo ou me importando o suficiente para isso.
– Shh, já passou, você esta ajudando ele agora, mas onde fica esse hospital?
– É mais uma clínica de reabilitação, fica no interior do sul de São Paulo, ao lado de uma escola chamada Daybrack, se não me engano.
– E?
– Essa clínica fechou há nove anos.
– Depois que os seus experimentos acabaram fracassando.
– Exatamente. Mas... Como Felipe sabe disso tudo?
– Vamos lá descobrir ora essa. Quanto tempo para chegar até lá?
– São três horas de viagem de carro, algum problema para você de irmos na madrugada de hoje, umas duas hora da manhã?
– Sem problemas.
– Durma comigo na minha casa hoje, assim ficará mais fácil para sairmos sem sermos percebidos...
Sophia finge franzir o cenho.
– É obvio que você irá se aproveitar de mim lá.
– Eu só me aproveitaria de você com seu consentimento, mas na verdade, hoje eu quero que nos conheçamos melhor, ver um filme, quem sabe?
– Hum... Se for assim, tudo bem.
Arqueio uma sobrancelha.
– Você esta muito disposta hoje, né?
Ela da de ombros.
– Tanto que você não se acostume com isso, irá sobreviver. Vamos voltar para a empresa?
– Vamos, antes que deem nossa falta.
– Espera aí... Aquelas... Câmeras na sua sala gravaram tudo? A morte do Doutor Robert, a nossa conversa? O... Sexo?
Sophia ruboriza.
Sorrio. – Não, por isso que eu sai de lá, aquela câmera vive desligada por ordens minhas, mas quando terminei a ligação para Felipe, percebi que a luz vermelha indicando que a câmera foi ligada, estava piscando.
– Então isso quer dizer que o seu pai já esta sabendo da morte do Doutor Robert?
– Provavelmente.
– Canalha. – Sophia resmunga.
– É, concordo plenamente.
Sophia sorri para mim e liga o carro.
Pelo visto teremos que enfrentar coisas piores pela frente, só espero que sejamos fortes o suficiente para suportamos o que nos aguarda.