MICROCOSM | Planetarium

Escrito por Li Santos | Editado por Lelen

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Capítulo 21 – 100 dias sem você

  Abril de 2014…

   precisa desacelerar e colocar os pensamentos no lugar.
  Faz poucos dias que sua filha Sayuri completou um aninho de vida. Seu filho mais velho fez três anos no fim do ano passado e está cada dia mais parecido com sua mãe.
  Ah, a
   não sabe se consegue aguentar mais de saudades de sua esposa. Ou seria melhor dizer: ex esposa?
  Faz cem dias que eles se separaram. Pouco mais de três meses.
  O motivo foi o único capaz de romper com a confiança entre eles: traição.
   traiu a . Pelo menos é isso que ficou parecendo. Ninguém sabe da real história nem mesmo o sabe. Ele estava muito bêbado no dia e não se lembrava de muita coisa. O pouco que lembra é de estar num hotel luxuoso para participar de um evento da Adidas. não tinha ido junto com ele, mas recebeu uma informação de que precisava ir ao hotel urgente. Quando ela chegou lá foi conduzida até um dos quartos, lá ela encontrou seminu deitado na cama, ao lado dele estava Ayumi, totalmente nua. A cena foi a pior coisa que poderia ter visto até então.
   se lembra de ouvir os gritos da esposa, berrando por explicações. Ele acordou sonolento e viu a figura furiosa de parada perto da cama. Sua visão estava turva, mas ele se lembra de ter a visto chorar e, quando olhou para o lado e viu Ayumi cobrindo-se com o edredom, o homem se assustou e entendeu que havia algo errado.
  O resto já se pode imaginar o que aconteceu: saiu do hotel porque não conseguia olhar para a cara de , mas não antes de dizer que estava tudo acabado entre eles.
   não gosta de se lembrar da cena da Ayumi nua ao lado dele. É torturante para ela.
  Desde então, vem morando no quarto de hóspedes da casa de , que chegou a dividir no passado antes de se casar com . O seu antigo quarto tinha virado o quartinho de sua sobrinha Asuna que hoje está com dois anos de idade. Inclusive, se ofereceu para ficar com a sobrinha enquanto seu irmão ia comemorar seu aniversário de 38 anos ao lado de , não estava com clima para sair mesmo sendo o aniversário de seu irmão. Porém, não achou justo e deixou sua filha aos cuidados de seus pais.
  O mais novo rabisca em seu caderno de composições. Ele não costuma escrever tanto quanto , que é o responsável por mais de noventa por cento das letras da Flow, porém, desde que se separou de , anda inspirado. Todas falam sobre solidão, sobre arrependimento, escuridão, sobre saudades do cheiro dela, saudades de tocar sua pele, de sua companhia, saudades de serem um casal. Suas inspirações são mais fortes e melancólicas. Anda ouvindo muita música nesse sentido, para condizer com seu estado de espírito atual. Finalmente ele termina a música que fez para . Música que ele não pretende mostrar para ela, quer apenas guardar a lembrança do seu amor e do que um dia foi eles dois.
  Ele fecha os olhos e, pela enésima vez, sempre que estava sozinho com seus pensamentos, lembrou-se daquele dia.

  Flashback – Mais de 3 meses atrás

   caminhava com seu longo vestido pelo saguão do hotel. Não deveria estar ali, teoricamente, mas havia recebido uma mensagem misteriosa pedindo para que comparecesse no hotel com urgência, que era de seu interesse. Anexada à mensagem, uma foto de seu marido. Preocupada, a mulher foi até o local e subiu ao andar indicado na mensagem, indo até ao quarto que dizia ali.
  605.
  Ela tocou a campainha, mas não foi atendida.
  Insistiu e ainda não foi atendida.
  Quando mexeu na maçaneta, ela afrouxou, mostrando estar aberta. abriu a porta e chamou por alguém, mas ninguém respondeu. Respondendo à sua presença, o sensor da luz do hall do quarto ligou e, de longe, conseguiu ver que haviam pessoas na cama. Aproximou-se, curiosa, o coração acelerado, hiperventilando e, quando a luz do abajur foi acesa, ela viu o que não queria.
  — … — sua voz saiu falha, cortante, arranhando sua garganta.
  — Oh, … — Ayumi disse ao ver a outra parada ali. O olhar assustado de recaiu sobre ela, logo mudando para raiva que crescia dentro dela.
  — O que… O que você faz aqui? O que está acontecendo?! — perguntava ela, atordoada. — , ACORDE!
  O grito mais forte de sua esposa fez acordar, assustado com o barulho repentino, sua cabeça girava e doía fortemente. Por Deus, o que era aquela dor? E por que estava tão tonto? Ele nem tinha bebido tanto assim… ou havia? Pondo uma das mãos na testa, tenta abrir os olhos, fazendo-os se acostumarem com a luminosidade irritante, quando ele encontrou a figura de sua esposa parada perto da cama, ele arregalou o olhar, vendo sua fúria estampada. chorava desesperada. Sentindo que não estavam sozinhos, olhou para o lado e viu Ayumi ali, nua, cobrindo-se porcamente com o edredom.
  Então, entendeu o que estava acontecendo.
  — Baby, eu…
  — Fique aí!!! — exigiu a mulher ao ver a menção que fez de se levantar. — Como pôde? — perguntou nitidamente magoada.
  — Eu não fiz… não fiz nada, amor, confia em mim. Eu não sei o que… — ele tentou explicar, mas foi interrompido.
  — Não esperava que fosse encontrar isso quando vim aqui — falou , enxugando as lágrimas que caíam sem parar. — Acabou tudo, , tudo entre nós — determinou. levantou-se, apressado, e notou que estava apenas de cueca, cobrindo-se rápido com a outra ponta do edredom.
  — Baby…
  — Não… não quero ouvir, eu já vi e entendi perfeitamente, — disse, engolindo seu choro e erguendo o queixo. — Não ouse voltar para casa hoje — exigiu. — Amanhã eu mando suas coisas para seja lá onde for ficar.
   virou-se e caminhou até à porta, os lábios tremendo, seu corpo inteiro tremia num mix louco de emoções. Uma vontade imensa de voltar…
  — , me escuta… Baby…
   tentou chamá-la novamente. queria voltar, queria abraçá-lo e tentar não crer no óbvio que a cena lhe mostrava, mas não o fez. Ela saiu pela porta do quarto sem olhar para trás.

  Flashback Off

  As lágrimas de escorrem mais uma vez transbordando sua dor. Seu peito infla e ele começa a soluçar desesperado. Parece que ele está revivendo aquele dia, todo instante que pensa nisso ele sente a dor que sentiu. São cem dias sem tocar em sua amada esposa. Cem dias sem trocar carícias com ela. Cem dias sem beijá-la. Cem dias sem amá-la.
   não aguenta mais.
  Seu celular toca tirando-o momentaneamente de seu tormento interno e ele rola a cabeça para o lado. No visor, o nome de seu irmão.
  — Diga, — ele diz ao atender. Passa a mão livre pelo rosto, enxugando as lágrimas.
  — Por que não está aqui? — perguntou o mais velho. O barulho de outras vozes conversando ao fundo onde estava incomodou .
  — Porque eu não estou com cabeça…
  — Você nunca está, — interrompe . — A não vem…
  — Eu sei que não — diz o guitarrista. — Ela está com as crianças hoje.
  — Já disse que precisa reagir…
  — E eu já disse que não consigo. Estou fazendo o meu máximo. Agradeça aos céus por eu ainda estar vivo.
  — Ahh, não fale assim, ! — brada , bufando de raiva.
  — Você sabe que eu não fiz nada, sabe que eu não seria capaz do que me acusam, você sabe, ! — repete o mais novo. Toda vez que seu irmão falava sobre isso, ele rebatia com a mesma frase.
  — Eu sei, eu sei que você não fez o que disseram — diz , acalmando-se. — Só quero vê-lo um pouco melhor. Caramba, eu me preocupo com você, . Anda muito triste e…
  — É uma tortura ter que encontrar a e não poder beijá-la, . Você não sabe o quão ruim isso é, o quanto isso está me matando…
  — Por que não vem e conversamos? — sugere ele, tentando convencer o irmão a, pelo menos, sair de casa.
  — Não quero estragar sua noite, . Sério, eu vou ficar bem — funga. — Eu só tive uma lembrança que… — ele pausa sua fala, sentindo sua garganta doer, limpando-a antes de completar: — Vou ficar bem — não vê, mas o mais novo força um sorriso.
  — Está bem suspira, desistindo. — Trouxeram um bolo para mim — comenta. — Vou levar um pedaço para você, tá?
  — Obrigado, irmão. Obrigado…
   não tem mais forças para continuar falando e apenas murmura ao fim da frase. Sem querer cansar mais o irmão, se despede dele, encerrando a ligação. Assim que o irmão desliga, começa a pensar demais, só que dessa vez não é na cena caótica que protagonizou meses atrás. Desde que se separou de que ele está morando novamente com o irmão, porém, além de , há e Asuna na casa. Mesmo sendo uma casa grande de dois andares, é incômodo para ele saber que pode estar atrapalhando a vida do irmão. Ainda mais quando se tem um bebê em casa. sabe bem como isso mexe com a rotina.
  Então, o guitarrista toma uma atitude que ele já deveria ter tomado há tempos.

  Horas depois…

   entra em sua casa, acompanhado de que carrega a pequena Asuna. A garotinha dormiu durante a passagem entre a casa dos avós paternos e sua casa. O vocalista deixa as chaves do carro penduradas no suporte perto da porta e suspira cansado. O dia tinha sido puxado, mas satisfeito por ter comemorado seu aniversário ao lado de amigos. Ele vê seguir até o quarto da filha e vai junto com ela, carregando a mala da filha. Depois de deixar a mala na cadeira do quarto de Asuna, dando um beijinho de boa noite nela, vai até o quarto de ver como o irmão está. Chegando lá, tem uma surpresa.
  — Vai viajar? — indaga ao ver duas malas e uma mochila em cima da cama de , enquanto o mais novo arruma mais roupas dentro de uma delas.
  — Vou me mudar — diz , concentrado no que faz. se aproxima.
  — , se for para dar mais privacidade para mim e , saiba que não nos incomodamos que…
  — É exatamente por isso, — interrompe o mais novo. — E porque eu preciso ter um lugar apenas meu.
  — Está exagerando, irmão. Sabe que pode ficar aqui o tempo que precisar — insiste o mais velho, pondo uma mão sobre os ombros do irmão. o encara, parando o que está fazendo. — Não precisa ir.
  — Quando meus filhos vêm para cá é um caos! — ele solta uma risada nasal. — Por mais que eles adorem ficar juntos, que eu adore passar mais tempo com a Asuna e com vocês também — diz referindo-se ao irmão e à cunhada. — Eu preciso de um lugar só meu para acomodá-los melhor.
  — Tem certeza? — pergunta . — A casa é grande…
  — Tenho sim, — diz , convicto.
  — … — chama , fazendo os irmãos olharem para a porta. — Não precisa ir embora — diz a mulher com a voz doce e caminha até os dois.
  — Eu disse isso a ele — concorda ainda com a mão sobre os ombros de .
  — Então por que não fica, cunhado? — diz , sorrindo. sorri de volta para ela.
  — Quero dar mais conforto para as crianças e para vocês também — responde . — Já abusei demais da hospitalidade.
  — Saiba que sempre será bem-vindo aqui, está bem? — sorri mais abertamente e se aproxima mais do cunhado.
  — Obrigado, -chan — a abraça, afagando a cabeça dela. — Obrigado por tudo.
   também entra no abraço. Mesmo querendo que o irmão fique, o vocalista sabe que ele tem razão em querer sair e ter seu próprio lugar para ficar. e ajudam a terminar de arrumar as malas e vão todos para a sala conversar e comer o bolo que o mais velho trouxe junto com duas garrafas de vinho tinto. É chegada a hora de descansar um pouco, pois em breve eles terão uma turnê de três semanas pelo país.

[🌟]

  Dois dias depois…

  — Fuyu, por favor, você precisa comer!
   está quase desistindo. Faz meia hora que Fuyuki faz birra para não comer e o motivo é apenas um: saudades do pai. Esse final de semana é dia das crianças ficarem com a mãe, já tinha sido combinado antes já que iniciará a turnê com a banda. Porém, o pequeno Fuyuki está com saudades do pai. A rotina de vê-lo apenas aos finais de semana mexeu muito com os sentimentos do garotinho e o deixa birrento, às vezes.
  — Eu quero ver o papai — pede ele novamente e faz um bico com os lábios, os mesmos que o pai faz.
  — Filho, esse final de semana seu pai tem show — avisa novamente. — Ele não pode ficar com você.
  — Mas eu quero ver ele, mamãe! — insiste o menino, empurrando a colher com frango e macarrão oferecida pela mãe. — Quero ver o papai!
  O menino começa a chorar, resmungando e batendo no suporte da cadeirinha onde está. Sua irmã Sayuri observa a cena boquiaberta enquanto brinca com seu prato de comida. suspira sentindo seu corpo cansar, faz alguns minutos que está tentando convencer o filho a comer. Desde a separação que o garotinho vem se comportando assim. Não quer comer direito quando está longe do pai, para dormir dá um baita trabalho, não gosta mais de ficar na creche quando precisa trabalhar por muito tempo e seu pai não pode cuidar dele. Tem sido semanas difíceis para e seus filhos. Fuyuki é muito apegado ao .
  A mulher se levanta e carrega o filho, colocando-o no chão. O garotinho limpa a boca com o babador, retirando-o do pescoço e entregando à mãe. vê o filho caminhar de volta para a sala, sentar-se no chão e voltar a brincar com seus carrinhos e bonecos. faz o mesmo com a pequena Sayuri e a leva até à sala, colocando-a no cercadinho de brinquedos dela, perto do irmão.
  Ela pega o celular e vai até a cozinha novamente, desbloqueia o aparelho e abre os contatos. O dedo parado no ar em cima do contato de seu ex marido.

  Enquanto isso no apartamento novo de

  O guitarrista termina de arrumar as últimas roupas. Ontem à tarde ele havia se mudado definitivamente para um novo apartamento, próximo à gravadora, onde pode ir de bicicleta, ficando mais fácil para chegar lá. Daqui há dois dias ele viajará para uma turnê e não poderá ficar com os filhos no final de semana. Apesar de estar com o coração partido por conta disso, o homem não tem muito o que fazer, ele já havia ficado quase quinze dias seguidos com os filhos quando precisou viajar para fotografar em Lisboa. Ele suspira, observando sua arrumação desengonçada dentro do guarda-roupas. Fechando as portas e espantando os pensamentos de saudade, ele caminha até a sala a tempo de ouvir seu celular tocar.
  Na tela: .
  O coração de dispara, de repente, fazendo-o se sentir um adolescente ao falar pela primeira vez com um grande amor.
  — Alô? — diz ele ao atender, o coração ridiculamente pulsante.
  — Oi, — ouvir a voz de sua amada faz querer morrer por não estar perto dela agora. Ele prende o choro dentro da garganta.
  — Ah, oi, — responde o homem, engolindo o embargo de sua voz. — Está tudo bem? — só ligava para ele por dois motivos: ou para combinar o dia de buscar as crianças ou quando uma delas ficava doente.
  — Está sim, bom, as crianças estão bem — diz ela. — Você vai viajar na sexta, né?
  — Sim, pela manhã — responde o guitarrista, sentando-se no sofá de seu novo apartamento. — , tem certeza de que está tudo bem?
  — Bom… — ela hesita antes de falar. — Fuyuki não quis comer, ele está com saudades de você — a frase é como um imenso balde de água fria jogado de vez na cabeça de . — Ele me pediu para vê-lo, será que tem como…
  — Claro — antes dela terminar a frase, aceita o possível pedido. — Bom, eu, eu me mudei ontem para um novo apartamento — diz o homem, orgulhoso.
  — Que bom, ! sorri do outro lado. — Fico feliz. E o deixou você sair da casa dele? — brinca , rindo. ri também.
  — Ele não teve muita escolha — responde voltando a engolir seu choro. — Eu já terminei de arrumar as coisas, então estou livre agora.
  — Posso arrumá-los?
  — Claro, claro que pode — sorri e completa: — Se quiser, pode deixar eles aqui até o dia de minha viagem. Eu passo aí antes para levar eles.
  — Não ficará ruim para você?
  — Não, não vai.
  — Tudo bem, então, , eu vou arrumar os dois e te ligo, tá?
   confirma e encerra a ligação.
  Ele sente o corpo pesar, esparramando-se pelo sofá. A ansiedade por esperar a ligação de volta de sua amada , mãe de seus filhos, para dizer que ele pode ir vê-la. Quer dizer, que ele pode ir buscar seus filhos para ficar com eles até sexta. mal vê a hora de ver novamente.
  Após a ligação de , parte de seu novo apartamento rumo à casa que dividiu por alguns anos com ela e seus filhos. A nostalgia de estacionar em frente ao imóvel traz lembranças muito boas para ele. O olhar perdido só é quebrado quando ouve o grito alegre de Fuyuki.
  — Papaaaaaaai!!! — diz o garotinho, correndo na direção do pai. sorri imediatamente e se abaixa para segurá-lo.
  — Ahhhh, que garotão lindo esse meu filho!! — elogia , carregando Fuyuki no colo e distribuindo beijos no rosto dele. — Você está maior, hein?!
  — Faz cosquinhas, papai — reclama Fuyuki, rindo.
  — Soube que o senhor não comeu, que história é essa, Fuyu-kun? — diz, ficando sério para o filho que lhe devolve um bico com os lábios. — Nem adianta fazer beicinho, Fuyuki ! — diz em tom firme.
  — Eu comi já — responde o garoto com a voz baixa e brinca com a jaqueta que o pai usa. — Mamãe me deu e eu comi — finaliza ele, enterrando o rosto no ombro do pai.
  — Ele realmente comeu, — a voz de anuncia sua presença, a mulher carrega Sayuri no colo.
  — Papa, papa! — diz a garotinha com os bracinhos estendidos para o pai.
  — Fico feliz que ele comeu — afaga a cabeça do filho e o coloca no chão, dando atenção assim à Sayuri. — Minha abelhinha — ele carrega a menina que logo puxa suas bochechas. — Está forte, Sayu.
  — E brincalhona também — complementa , risonha. — Obrigada novamente, — agradece ela.
  — Eles são nossos filhos, — afirma o guitarrista num tom óbvio.
  Ele limpa a garganta e dá a volta no carro dele, abrindo o porta-malas para colocar as mochilas dos filhos ali. Enquanto isso, coloca Sayuri na cadeirinha dentro do carro e faz o mesmo com Fuyuki, entregando a pelúcia favorita de cada um. Após fechar a porta traseira do carro, se vira para que está parada perto do veículo.
  — Sexta pela manhã eu trago eles de volta — relembra ele, colocando as mãos dentro dos bolsos da jaqueta. O frio aperta um pouco na cidade.
  — Tudo bem, me liga antes, tá? — pede , abraçando o próprio corpo.
  — Pode deixar — diz ele e fica um clima estranho de silêncio.
  Desde que se separaram, e têm tido poucos assuntos. Parece que toda a cumplicidade que tinham se esvaiu no dia que deixou a casa deles após ser expulso pela ex esposa. Oficialmente, eles ainda são casados e ainda carrega o sobrenome dele. Comercialmente, não seria viável para ela desvincular o sobrenome dele já que, quando ela estourou como modelo, ela já estava noiva e logo após casou-se com . Fez sua carreira internacional já casada com ele e, portanto, usando seu sobrenome. já tinha dito a ela para continuar usando o sobrenome dele mesmo que estejam separados, ele não liga. De qualquer forma, estuda a possibilidade do desvínculo. Por outro lado, o único assunto comum que há entre o ex-casal agora são os filhos, Fuyuki e Sayuri, que são a prioridade de ambos.
  Mas, sempre que se encontram e ficam em silêncio tão próximos um do outro, assim como agora, os dois sentem como se o tempo não tivesse passado nem meio milésimo de segundo. A atração que sentem ainda é viva, latente e crescente dentro de cada um. A vontade de tocar nos lábios um do outro também. Sentir o calor do corpo um do outro também. Isso aproxima fisicamente e que dão dois passos para frente cada um, ficando frente a frente. A respiração pesada, saindo uma leve fumaça de suas bocas por conta do frio. se aproxima ainda mais dela, põe as mãos sobre a jaqueta dele, segurando-a com força. Seus olhos fixos nos lábios do ex marido. A vontade só cresce até que o beijo finalmente acontece.
  Cem dias depois, o beijo volta a acontecer.
  — … — sussurra ela, após afastar-se dele, ainda com as mãos sobre o peito dele. — Não, eu não consigo.
  — Eu sinto tanto sua falta — ele também sussurra, incapaz de se afastar do corpo dela. Ele não quer mais ficar longe, ele não pode mais… — , eu te amo…
  — , por favor, não faça isso… — as lágrimas acometem o olhar da mulher. encosta sua testa na dela, segurando seu rosto com ambas as mãos.
  — Nos dê uma chance novamente, por favor, baby — ele roça o nariz no dela. mantém os olhos fechados, não conseguindo tirar da cabeça aquela cena.
  — Eu não posso, .
  — Eu sei que você quer, eu sinto que você não me esqueceu, que você não nos esqueceu,
  — Não, , pare, por favor, não!
   o empurra mais firmemente e se afasta dele, enxugando as lágrimas.
  —
  — Toda vez que eu te vejo eu me lembro daquele dia, daquela maldita cena… — ela fecha os olhos novamente, enxugando mais lágrimas que caem. — Eu não consigo te perdoar quando, toda vez, eu me lembro disso.
  — Eu vou me esforçar para te fazer esquecer, dá um passo para frente, mas recua dois passos.
  — Não, , não. Eu não posso, não consigo, por favor, não insista.
   também enxuga suas lágrimas e balança a cabeça positivamente, concordando com o pedido dela, mesmo que seu coração berre para que ele fale mais alguma coisa. Se defenda! Você não fez nada errado… ou fez?
  Ele a vê se despedir das crianças e caminhar para dentro do jardim da casa. dá a volta no carro, entra no banco do motorista e, após afivelar o cinto, dá a partida rumo ao seu novo apartamento.
  Seu corpo está ali, mas seus pensamentos estão todos no beijo que deu em sua baby.

Capítulo 22 – Casa Assombrada

“O amor é incondicional até conhecer o que o outro esconde no plural da sua alma, que é pra ninguém ver…"
Penny, Visconde

  Ontem foi a primeira vez que não recebeu as crianças na volta da casa de . Por causa do beijo dado quando se encontraram, passou a adotar a seguinte tática: de agora em diante, ela evitará ao máximo encontrar-se com o ex marido, na tentativa de não cair em tentação e beijá-lo novamente. Então, quem buscará as crianças ou as receberá serão , Ichiro ou Hiroki, que passou a morar definitivamente em Tóquio após o casamento com Yumi no meado do ano passado.
   viaja hoje para a turnê que fará com a Flow com o claro pensamento de que está evitando ele. Isso o entristece ainda mais.

  Alguns dias depois…

   ama tocar guitarra desde criança. Sempre sonhou em ter a sua. Vendo a vontade do irmão, pegou suas economias e comprou uma guitarra para ambos. Quando o instrumento chegou, foi a maior felicidade que os irmãos sentiram até então. Não poderiam estar mais felizes.
  Por amar tanto guitarras, sempre associa fatos da vida com o instrumento.
  O que ele sente agora com a ausência de em sua vida é algo parecido quando as cordas de uma guitarra se partem. O som fica estranho, não é normal. Não é agradável de se ouvir quando está assim. sente-se assim: errado, faltando algo, a ausência de ao seu lado está o deixando louco…
  As crianças estão mais acostumadas com o novo apartamento do pai. Apesar de não ser tão espaçoso quanto a casa onde moram com a mãe ou até mesmo a casa do tio – onde ficou por um tempo após a separação –, o novo lar do papai é muito divertido e tem tudo que eles precisam. Porém, uma coisa está incomodando principalmente o filho mais velho do guitarrista. A presença de uma certa mulher no apartamento.
  — Fuyu! Fuyu, onde você está? — chama fingindo não estar vendo o filho atrás da cortina da sala. — Vou te pegar, Fuyu-kun… — ele se aproxima, ouvindo a risada da criança e os pezinhos dele se mexerem. — Cadê você? — prepara o bote e puxa a cortina de uma vez, arrancando um gritinho do filho. — ACHEI!
  — Ahhhh, papai! — Fuyuki grita, rindo e sendo carregado pelo pai e enfia o rosto na barriguinha dele, o virando de lado. — Faz cócegas, aaaaa papai, faz cosquinhaaaaa!!
  — Ahh, peguei ele, aaa! — brinca o mais velho também rindo.
  Fuyuki tenta se equilibrar nos braços do pai e segura as pontas dos cabelos dele, que estão compridos até seu ombro.
  A campainha toca.
   encara a porta, confuso, ele não está esperando ninguém. Na verdade, tinha acabado de sair do banho, pois levaria as crianças para passear no shopping. Ele caminha até a porta e a abre.
  — Ayumi? — estranha ele, indagando ao ver a linda mulher parada ali.
  — Posso entrar? — pede ela com a voz sensual. suspira e dá passagem para a mulher entrar.
  — Eu já estava de saída — avisa ele, fechando a porta. — Vou levar as crianças ao shopping — finaliza e encara Ayumi que para no meio da sala.
  — Ah, eu não me importo de te fazer companhia — diz a modelo, olhando para o pequeno Fuyuki que passa correndo por ela e se agarra nas pernas do pai. — Você sabe que eu adoro seus filhos.
  — Ayumi, eu queria ficar apenas com eles, pode ser? — pede o homem, carregando o filho no colo. O garotinho esconde o rosto no pescoço de .
  — , por favor, deixa eu ir com vocês? Prometo ficar bem quietinha  — ela dá alguns passos até se aproximar dele. — Vamos nos divertir juntos, Fuyuki? — a modelo diz diretamente para o menino que, ao sentir ser tocado pela mão fria dela, se retrai, debatendo-se nos braços de que tem que controlar os movimentos dele para que não caia.
  — Fuyuki! — chama a atenção do filho. — O que houve? Por que está assim? Estava tão contente antes… — comenta, vendo o filho se acalmar e voltar a enfiar o rosto no pescoço dele, o agarrando com força sua camisa.
  Nem sabe ao certo, mas, ultimamente, Ayumi tem estado muito próxima dele. Próxima até demais. Além de estar demonstrando interesse pelos filhos do guitarrista, coisa que ele jamais imaginaria que ela fizesse.
  Ele também não consegue entender o porquê de Fuyuki ficar tão esquisito quando Ayumi está por perto. Talvez ele não goste de outra mulher que não seja sua mãe próxima do pai. É, talvez seja apenas isso.
   acaba cedendo e, após vestir seu casaco, colocando também casacos nas crianças, vão todos ao shopping.
  Já no local, o homem caminha segurando sua filha no colo apoiada em um dos braços e segura a mão de Fuyuki com a outra. Ayumi caminha ao lado deles.
  — Meu Deus! ! — diz uma voz feminina e o guitarrista vira o rosto levemente para ver quem o chama. Duas jovens se aproximam. — , tira uma foto com a gente?! — pede uma delas, animada.
  — Oh, claro — ele sorri, sem jeito de dizer não, e posa para a foto, ainda segurando os filhos. se agacha para ficar da altura de Fuyuki e assim o garoto também sai na segunda foto.
  — Obrigada, ! — agradece a segunda jovem.
  — Está namorando novamente, ? Que bela mulher! — comenta a primeira, olhando Ayumi que sorri vaidosa, se aproximando de .
  — Não, eu ainda sou casado — responde , ajeitando Sayuri no braço e fechando sua expressão.
  — Então, cadê sua esposa? É aquela modelo, né? A tal Ito… — zomba a jovem, rindo e levando um cutucão da amiga que percebe que não está gostando da fala dela.
  — Olá — diz Ayumi, se metendo na conversa e sorrindo de maneira estranha.
  — Oh, que linda! — admira-se a jovem. — Você é a nova namorada do ? — pergunta ela, arrancando um sorrisinho debochado de Ayumi.
  — Não! — responde , de imediato, já bastante irritado.
  — , querido, todos sabem que tivemos aquele momento íntimo — diz Ayumi pegando nos ombros de incisivamente. Fuyuki levanta a cabeça, olhando a cena, sem entender, mas com uma expressão chorosa e incomodada na face.
  — Ayumi! — brada . — Pare de falar disso, não aconteceu nada! — ele briga, saindo de perto da mulher e coloca Sayuri no carrinho, prendendo a menina ali. Fuyuki se agarra na calça do pai.
  — Papai… — chama ele, baixinho, mas ergue o corpo para continuar brigando com Ayumi.
  — Não fale disso nunca mais, ouviu? — sussurra ele, perto dela, que segue sorrindo.
  — Estão ou não namorando? — insiste a jovem.
  — Por favor, pare com isso — briga a amiga, puxando-a para longe.
  — Que mal há em perguntar?!
  — Não estamos namorando, ok? Pare de falar sobre isso e não se meta em minha vida, garota! — irrita-se , falando diretamente para a jovem.
  — Não precisa…
  — Com licença!
   vira-se de costas, empurrando o carrinho da filha, e carrega Fuyuki no colo. O garotinho olha por cima dos ombros do pai e as duas jovens falam entre si. Ele não entende muito o que houve entre os pais, ele apenas sente a dor que é sempre ficar longe de um deles.
  Durante o caminho de volta, Ayumi e discutem, ainda no carro, sobre o que possivelmente aconteceu entre eles naquele dia. Repassam novamente o passo-a-passo do que fizeram até chegarem àquele quarto. Ayumi segue afirmando que também não se recorda de muita coisa do que houve. não sabe se acredita ou não nela, mesmo após todo esse tempo ainda não consegue saber a veracidade das palavras da modelo. Vide o histórico de brigas com a , é bem capaz de tudo ser uma armação dela para separá-lo da esposa. Mas, não pode afirmar nada, então prefere se calar quanto a isso.
  Eles chegam ao apartamento do guitarrista. Sayuri pede comida e Fuyuki também diz estar com fome. Enquanto prepara algo para os filhos comerem, pede para que Ayumi olhe as crianças por alguns instantes. Prestativa, a modelo senta-se no sofá da sala e “vigia” os filhos do ex namorado enquanto ele segue na cozinha do apartamento. Fuyuki não gosta de Ayumi, isso é algo claro. Por isso, ele mantém distância da mulher.
  O garotinho brinca sentado no chão perto da TV da sala, ele mexe, com o olhar de canto para Ayumi que também o encara desdenhosa. A mulher estica o corpo para frente e puxa a mesinha de centro para mais próximo do sofá, voltando a recostar no móvel. Fuyuki se distrai com o brinquedo e não vê mais o que a outra está fazendo.
  Sem os olhares curiosos do garotinho sobre ela, a modelo pega uma pelúcia e balança chamando a atenção da pequena Sayuri que levanta de onde está e caminha desengonçada até a pelúcia. Com os bracinhos estendidos e balbuciando algo enquanto caminha, Sayuri chega perto do sofá e é carregada imediatamente por Ayumi que a coloca em cima do móvel. A menina brinca com a pelúcia e Ayumi levanta dali, caminhando até Fuyuki e o carregando. O garoto mexe as perninhas, incomodado de ser tocado por uma estranha, e o coloca ao lado da irmã.
  — Fique aqui — diz Ayumi para Fuyuki. — Se tudo der certo, eu ficarei com o seu pai hoje à noite e você não poderá fazer nada — o garotinho arregala os olhos, assustado.
  Ayumi ergue o corpo novamente e puxa o braço de Sayuri para frente, fazendo a garota se desequilibrar. Ouve-se o choro alto dela.
  — Meu Deus, Fuyuki! — grita Ayumi, fingindo acabar de chegar à sala.
  — O que houve?! — chega no local, desesperado pelo choro da filha e a vê caída perto da mesinha. — Sayuri! — ele corre para ajudá-la.
  — Eu vi o Fuyuki empurrando ela. Mas que feio, Fuyuki, ela é sua irmãzinha — o olhar de Ayumi assusta ainda mais o garoto, que não consegue se defender.
  — Meu Deus, está sangrando — diz , ignorando a fala de Ayumi, o rostinho da filha certamente atingiu a mesinha na queda. — Essa mesa não estava aqui — constata ele, atordoado.
  — Melhor levá-la para a mãe, não acha? — sugere Ayumi, aproximando-se.
  — Não! Eu vou levá-la para o hospital — determina , levantando-se com a filha no colo que segue chorando com as mãozinhas na cabeça.
  — Mas
  — Você pode… — inicia, com a ideia de pedir para que ela cuide de Fuyuki, mas muda de ideia — … aliás, não precisa. Eu vou levar ele.
  — , é melhor levar ela para a cuidar. E deve levar o Fuyuki também, ele empurrou a irmã… — Ayumi anda atrás de que vai até o quarto para lavar o rosto da filha antes de irem.
  — O que? — vira-se ele, de supetão, parando na porta do banheiro. — Meus filhos nunca brigaram entre si, Fuyuki jamais faria mal a irmã — garante o homem, irritado. — Por favor, Ayumi, é melhor você ir.
  —
  — Ayumi!
  A mulher não diz mais nada e vê entrar no banheiro para lavar o rosto da filha, que segue chorando. Ele precisa ser rápido agora.

  No dia seguinte…

  O celular de toca insistentemente.
  — Alô… — ele atende com a voz sonolenta.
  ! Finalmente atendeu… — diz do outro lado, a voz dela faz o homem despertar e sentar-se na cama.
  — Oi, , desculpe… — fala ele, limpando a garganta. — Eu estava dormindo desde que cheguei do ensaio, não vi sua ligação — explica ele.
  — Tudo bem, — diz a mulher e completa. — Eu liguei para saber o que houve com a Sayuri?
  — Ah, o Hiroki não te contou? — coça os olhos, espreguiçando-se.
  — Ele me disse sim, mas eu fiquei preocupada — confessa ela. — Por que não me avisou ontem?
  — Eu… eu achei que não quisesse contato comigo — rebate o guitarrista.
  — Ah… fica em silêncio, não vê, mas ela fica bastante constrangida com a afirmação do ex marido. Percebendo o silêncio dela, ele resolve quebrá-lo.
  — Me perdoe, , eu não vi na hora que aconteceu. Eu estava preparando o jantar deles quando ouvi o choro da Sayuri e, quando cheguei na sala, a vi caída no chão sangrando — diz, omitindo a parte que Ayumi estava no apartamento e também a acusação que a outra fez contra Fuyuki. — Certamente ela, quando brincava com  Fuyuki, acabou batendo o rosto ali, na empolgação da brincadeira.
  — Entendi… e você levou logo no hospital, né? Ela ficará bem? Precisará de remédios? — pergunta, curiosa.
  — O médico disse que foi um corte pequeno, deu apenas dois pontos e passou remédio para dor. Lá mesmo ela tomou e pareceu melhor, noite passada ela conseguiu dormir direito.
  — Que bom — alivia-se . — — chama ela.
  — Sim.
  — Pode me ligar quando acontecer qualquer coisa com eles, tá? — pede. — Mesmo que, mesmo que a gente não se veja mais tão frequentemente… por favor, não hesite em me ligar.
  — Tudo bem, . Fui infantil em não avisar. Na verdade, eu fiquei tão atordoado na hora que vi o sangue que não pensei em mais nada…
  — Imagino… — ela embarga a voz. — Bom, as crianças estão bem. Sayuri dormiu durante a vinda para cá e Fuyuki está bastante calado, foi direto para o quarto.
  — Ele ficou assustado quando viu a irmã sangrando — diz . — Ficou o tempo todo perguntando se ela estava bem.
  — Entendi… bom, , eu…
  — Ah, , perdão, estão ligando da gravadora — avisa ele, ao ouvir que há outra ligação em espera.
  — Oh, certo, atende. Pode ser importante. Depois nós nos falamos.
  — Ok, qualquer coisa me liga, tá?
   afirma e eles encerram a chamada. Com ela, é encerrada também a resistência de choro que manteve durante a ligação. Ela se rende às lágrimas.

[🌟]

  Final de Maio…

   volta a ser amiga de Hayato.
  Bom, não que eles deixaram de ser amigos, porém, com o término repentino com , se viu sendo procurada pelo velho amigo de faculdade. Apesar dos anos e dos foras que toma, Hayato insiste em cortejar a amiga e sendo ignorado em todas as oportunidades. Assim como ocorre agora.
  — Não posso, Hayato, preciso ficar com as crianças esse final de semana — repete pela terceira vez apenas naquela conversa. Eles estão no escritório do homem na mesma empresa de sempre, a mesma onde Ichiro, irmão de , trabalhou por alguns meses, em Yokohama.
  — Você pode deixar com o padrinho — sugere ele girando despretensiosamente uma caneta.
  — Hayato… — suspira, controlando sua irritação. — Terei que ficar com as crianças porque tem show e, se ele tem show, obviamente o também tem — diz ela, óbvia.
  — Ah, me esqueci desse detalhe — Hayato ergue as sobrancelhas, fingindo surpresa. — Então semana que vem posso ter a honra de sua companhia? — insiste, lançando um olhar penetrante para , o sorriso cafajeste nos lábios.
  — Caso eu não tenha nenhum compromisso importante na agência — diz e completa: — Sabe que minha agenda é cheia e agitada.
  — Claro — ele sorri. — A melhor modelo da Star é bastante requisitada — contempla o lindo sorriso do amigo e sorri também.
  — Não é para tanto, Yoshida — ela fica sem jeito. — Eu preciso ir.
  — Ah, , por favor, almoça comigo?! — pede ele. — Podemos ir naquele restaurante que abriu aqui perto, dizem ser bem interessante — Hayato levanta-se da cadeira e o acompanha.
  — Eu tenho que resolver algumas coisas antes de retornar à Tóquio, ainda tenho que buscar as crianças na casa dos meus pais — ela põe a bolsa no ombro e sorri para o amigo. — Fica para outro dia, Hayato.
  — Mas … — ele se aproxima dela, dando a volta na mesa, mas antes de segurá-la, recebe o olhar da mulher.
  — Não insiste, Yoshida! — dá um empurrão leve em Hayato e ri. — Meu Deus, não estamos mais na faculdade quando eu fazia quase tudo que você pedia — brinca e caminha até a porta. Ele a acompanha.
  — Poderíamos repetir o aconteceu um pouco depois, o que acha? — sugere e vira-se para ele.
  — Se está se referindo ao nosso namoro — inicia —, pode esquecer. Não é porque eu me separei do que eu voltarei para você, Hayato. Já conversamos muitas vezes sobre isso.
  Hayato não diz mais nada e apenas exibe um sorriso de canto de boca. dá um beijo na bochecha dele e deixa o escritório. Hayato volta a sentar-se em sua cadeira e encara um ponto aleatório a sua frente, seus pensamentos são apenas um: reconquistar a .
  Já na rua, a modelo caminha apressada.
  Ela já deveria estar no banco para resolver um problema com sua conta. Anda com muita pressa, sem olhar direito por quem passa. Até que ela esbarra em alguém, derrubando a mochila da pessoa e sua bolsa.
  — Meu Deus, perdão! — diz ela, apressadamente pedindo desculpas e se agacha com cuidado para não suspender seu vestido colado ao corpo.
  — Não se preocupe — a voz da pessoa diz e ergue o rosto para vê-lo, o reconhecendo na hora.
  — Pon?! — espanta-se a mulher, vendo a expressão do outro mudar de confusão para um sorriso largo e encantador.
  — ! — devolve o homem, contente. Pon se abaixa, pegando a bolsa dela e sua mochila. — Que prazer te encontrar por aqui — completa ele, voltando a ficar de pé e pondo a mochila de volta nos ombros.
  — Pois é! Quanto tempo, como vai? — pega a bolsa das mãos dele e a bota novamente no ombro.
  — Eu vou bem e você? E as crianças? Soube que tem filhos, são lindos! — elogia ele.
  — Estão bem, agora estão com meus pais. Estão crescendo bastante — responde a mulher, ajeitando a alça da bolsa. — Você está ocupado agora?
  — Ah, não muito — diz Pon, tímido. — Eu estava indo encontrar o Taku — revela.
  — Ah, Taku-kun, quanto tempo não o vejo também — ri e Pon sente um leve arrepio lhe percorrer e sorri também. — Ah, então não irei te atrapalhar mais.
  — Você não me atrapalha, — apressa-se Pon. — Podemos tomar um café, o que acha? Quer dizer, você já almoçou? — ele se corrige.
  — Ainda não — diz, sem mencionar que estava indo ao banco. — Podemos almoçar e tomar um café depois, se não for te atrapalhar muito.
  — Não atrapalha em nada. Acho perfeito! — aceita o homem também ajeitando sua mochila nos ombros. — Tem um restaurante novo por aqui, que tal irmos lá?
  — Perfeito!
  Pon sorri e dá passagem para ela caminhar na frente dele. anda na direção oposta de onde estava indo e pensa que pode perfeitamente resolver seu problema com o gerente pelo telefone. Encontrar Pon após tantos anos é realmente incrível e ela não pode perder tal oportunidade.
  Eles entram no restaurante, o mesmo que Hayato quis levar para almoçar e ela recusou. É um lugar lindo, bastante aconchegante. pede a mesa mais afastada do grande público, por ambos serem famosos, ser vistos juntos causaria um grande alvoroço. Atendendo ao pedido dela, o garçom os conduz para o segundo andar que é menos frequentado e agora está com poucas mesas ocupadas. e Pon se acomodam, deixando a bolsa e a mochila das cadeiras ao seu lado e pedem água para o garçom enquanto escolhem o prato.
  — Acho que temos algumas coisas para atualizar sobre nossas vidas, né? — diz Pon enquanto lê o menu.
  — Muitas!
  Eles riem, cúmplices, parece que o tempo havia congelado no momento em que terminaram o namoro, ainda na adolescência, e descongelou agora. Nada havia mudado entre eles.
  Ou mudou?

  Enquanto isso em algum lugar de Tóquio…

  Os riffs estão saindo naturalmente da mente de . Sua reaproximação, ainda que virtual, com a o anima. Ele finaliza a música que escreveu para ela durante o tempo que estão separados e recebe a ajuda do irmão.
  — Escute essa parte, acho que ficaria melhor assim — diz e toca o acorde para o irmão ouvir.
  — Hm, bom, bom! — alegra-se , sorrindo. — Essa parte pode ser a que o Keigo entra com esse trecho — ele cantarola a parte sugerida. — Que acha?
  — A música é sua, você quem tem que gostar — sorri, feliz por ver o irmão sorrir genuinamente de novo.
  — A música é da — comenta ele com o ar apaixonado e ouve o celular apitar. — Deixa eu ver, pode ser importante.
  — Ok, vamos dar uma pausa — diz .
   retira a guitarra do corpo, apoiando o instrumento no suporte perto do sofá, e senta-se no móvel pegando o celular para ver do que se trata a notificação. É uma manchete de um jornal de notícias nacionais.
  A manchete faz com que ele leia a matéria inteira.

Novo affair da primavera!

A modelo internacional foi vista em um restaurante em Yokohama ao lado de Pon, vocalista da banda Luck Life. Desde sua separação do também músico, , guitarrista da Flow, a modelo não é vista com nenhum homem ao seu lado. Os dois pareceram bastante íntimos e ficaram horas no local conversando, comendo e bebendo. Quem se aproximava da mesa deles, que ficava no andar superior do novo restaurante daquela rua, ouvia as risadas alegres do casal.
Hmmmm…
Será que teremos um novo casal?”

   está hiperventilando.
  Suas mãos tremem, seu corpo todo reage com a notícia que acaba de ler: seu coração dispara, suas mãos suam, suas pernas parecem querer ceder a qualquer instante, sem força. deixa seu celular cair no chão, chamando a atenção de .
  — O que houve, cara? Está pálido… — comenta , se aproximando do irmão e pegando o celular dele do chão. — O que…
  Curioso, o mais velho lê o que há no aplicativo aberto e, após a leitura, entende a reação do irmão. se rende e começa a chorar, sua mente borbulhando em dúvidas.

Capítulo 23 – Mil Palavras

  Yokohama, Japão
  Pon e engataram uma longa conversa sobre suas vidas nos últimos anos, desde que se separaram ao fim do ensino médio. Com isso, muitos fatos desse passado vêm à tona.
  — Mentira, ! Não me lembro disso! — repete Pon aos risos e com as bochechas vermelhas de vergonha.
  — Ah, não lembra, Masumi? — rebate ela, risonha. — Pois eu me recordo perfeitamente de entrarmos naquela casa assombrada e de você agarrando meu braço morrendo de medo dos fantasmas de mentira — repete, gargalhando.
  — Ah, ! — ele leva as mãos ao rosto e balança a cabeça para os lados. — Não me lembre disso, que vergonha! — diz o vocalista. estica as mãos sobre a mesa e puxa os punhos de Pon.
  — Hey, Pon — chama ela, fazendo-o encarar seu rosto. — Não tem vergonha nenhuma em ter medo disso, seu bobo — ela sorri, acolhendo ele que devolve o sorriso. Ah, o sorriso que fez apaixonar-se por ele anos atrás.
  — Você é muito malvada comigo — a mão dele engloba a mão de que encara a cena, sentindo um arrepio lhe percorrer. Seu sorriso diminui aos poucos e o nervosismo toma conta. — Queria poder voltar no tempo e fazer diferente — confessa o homem, o que só piora os sintomas da modelo.
  — Será que teríamos um final diferente mesmo? — questiona, voltando a esticar a coluna, recostando-se na cadeira. Pon faz o mesmo, mas sem soltar a mão de .
  — Não sei, mas… — ele solta uma risada abafada. — Só sei que meu sentimento daquela época nunca se foi — a revelação surpreende .
  — Pon…
  — Mas sei que minha vez já passou, não é?
   não responde, não sabe o que responder. Mas como não sabe? A resposta deveria ser óbvia: é, Pon, infelizmente o seu tempo já passou. Mas, a mente e o coração da modelo discutem entre si para saber quem tem razão no final. Enquanto um diz que Pon não tem mais chances, o outro amolece pelo toque do rapaz após tantos anos e seu toque continua o mesmo. Tão doce até mesmo em seus gestos. Tão apaixonante…
  — Pon…
  — Me perdoe, não deveria dizer isso para uma mulher casada — Pon sorri sem jeito, sentindo que havia passado dos limites.
  — Eu…
  — Não precisa falar nada, — Pon dá um beijo na mão da amiga e completa: — Tenho um carinho enorme por você e realmente agradeço por ter passado em minha vida.
  — Digo o mesmo, Pon — os olhos dela começam a marejar. — Por que insistiu em não me ouvir? — diz ela, referindo-se ao passado quando brigaram por causa das divergências. Enquanto sugeriu deles fazerem faculdade juntos, Pon quis seguir seu sonho de ter uma banda.
  — Pela primeira vez em muitos anos, eu terei que discordar mais uma vez com você, — diz ele. — Se eu não tivesse seguido o meu sonho, a Luck Life não existiria, não é?
  — Hoje eu te dou razão — concorda a mulher, sorrindo.
  — Não à toa que se casou com um guitarrista de banda famosa, não é? — brinca Pon arrancando uma risada genuína dela. — Amo seu sorriso…
  — Galanteador você, Masumi.
   balança a cabeça para os lados, rindo. Pon tinha razão, afinal.
  Os dois seguiram a conversa e marcaram de se ver mais vezes, retomar a amizade de uma vez. Realmente nada havia mudado entre eles. A cumplicidade ainda era evidente.

[🌟]

  Julho de 2014…
  Tóquio, Japão

   está há horas escrevendo e escrevendo, colocando para fora tudo que seu coração pede. Já perdeu as contas de quantas vezes amassou papéis porque não estava bom o suficiente. Não é mais uma composição do guitarrista e sim uma carta para sua querida ex esposa. Ele não pretende, à princípio, entregar tal carta a , mas quer deixar registrado aquilo que seu coração lhe suplica para fazer.
  No fim, a carta finalmente fica pronta e pode terminar de arrumar sua mochila. Mais tarde tem viagem para Yokohama.

A carta:

  Minha querida e tão amada ,
  Eu nem sei o porquê de escrever essa carta, acho que para poder extravasar o que sinto. Também não sei se terei coragem de te mostrar isso algum dia. É vergonhoso para mim pensar que estamos nessa posição por minha causa. Seja lá o que aconteceu naquela maldita noite, foi minha culpa e estou pagando por isso desde então. Nós estamos, né? Essas palavras estão vindo diretamente do meu coração para o seu. São sinceras, profundas e que eu nunca sequer pensei em dizer para ninguém antes.
  Ficar longe de você é muito difícil para mim. Sem poder te tocar, te beijar, te aconchegar em meus braços e me aconchegar nos seus. É uma tortura não poder dizer que eu te amo. É mais ainda te ver toda vez que pego nossos filhos ou toda vez que vejo nossos filhos. Fuyuki está cada dia mais parecido com você, seus olhos estão no olhar dele, e Sayuri tem a mesma dobrinha nos olhos quando você sorri. Eu choro todo dia por não ter você ao meu lado ao dormir.
  É mais difícil também quando vejo alguma campanha sua e não posso te elogiar, mas sigo alimentando minha coleção. O museu segue intacto. Não tive coragem de desfazer. É tão você.
  Ah, baby, eu sinto tanto sua falta…
  Será que um dia poderemos olhar para esse passado trágico da nossa relação e dizer “Nossa, foi difícil, mas superamos!”? Será que você será capaz de me perdoar? Eu realmente não me lembro do que aconteceu, acho que jamais me lembrarei. Nunca bebi tanto a ponto de me esquecer do que fiz, não é do meu feitio, você me conhece… Ah, baby, se eu pudesse retornar àquela noite e rebobinar minhas atitudes eu certamente não teria me aproximado da Ayumi, não deixaria que ela se aproximasse de mim. Não digo que ela tenha algo a ver com isso, mas, sei lá, ela por perto nunca é bom para nós dois. Assim como o Hayato… Mas eu não quero falar deles, quero falar de nós dois.
  Lembra de quando eu te pedi em casamento na frente de todos? Ainda me lembro da expressão atônica que você fez quando fiz o pedido, as pessoas na plateia do show também estavam abobadas e surpresas com minha declaração. E você quase me matou do coração com todo o suspense, sua boba. Mas, ter você em meus braços, me beijando na frente de todos foi o melhor “sim” que recebi na vida.
  Te amo, baby. ❤️‍🔥
  Recordo-me também da surpresa que fez a mim lá em Paris, aceitando meu pedido de namoro. Ah, nossa primeira vez foi tão… especial. Realmente valeu a pena termos esperado e eu esperaria por você eternamente só para te ter agarrada a mim.
  Te amo, baby.❤️‍🔥
  Meu desmaio quando me contou da gravidez do nosso Fuyuki foi vergonhoso, confesso. Não ria de mim, sei que está rindo, chata. Mas, o sexo que aconteceu depois… Uau! Se aquela cachoeira falasse, certamente diria sobre nossas juras de amor sob o luar. Foi uma noite mágica.
  Te amo, baby.❤️‍🔥
  Porém, o dia que mais me preocupei, foi quando aconteceu o assalto em nosso apartamento. Por Deus, eu tive tanto medo de te perder e perder o nosso filho. Se eu pudesse, não teria viajado e teria ficado com você.
  Te amo tanto, baby, tanto…
  São tantos momentos incríveis que passamos juntos nesses quatro anos que nos conhecemos, tantas emoções e trocas que tivemos, baby, que eu nem sei dimensionar o tamanho da falta que me faz não te ter mais.
  Mas, apesar de destroçado por dentro, eu sei reconhecer quando não tem mais volta. Eu vi a matéria de um jornal de Yokohama que falava sobre você e Pon. Seu ex namorado. Não vou mentir para você dizendo que não tenho ciúmes, pois eu tenho sim. Estou sim morrendo de ciúmes de vocês dois juntos, porém, ainda assim, eu percebo que você está feliz com ele. Pelo menos é o que as fotos me passam, seu sorriso tão genuíno e radiante me diz que você está feliz por ter ele por perto. E, se você está feliz, eu também estou.
  Ah, baby, eu não posso te negar a felicidade após nossa separação por minha culpa, mas também não posso negar minha tristeza por essa felicidade não ser proporcionada por mim. Não se preocupe, pois não irei ser do tipo de ex chato que não aceita o término, eu sei reconhecer quando acabou, mesmo que meu coração berre para que eu lute por seu amor, eu sei que você não consegue me perdoar. Não irei te obrigar a ficar comigo sendo que você não consegue me ver sem lembrar do que houve. Aquela maldita noite…
  Mas eu te amo tanto, baby… tanto
  Eu fiz uma nova música para você. Não é um pedido de “volta para mim”, não é isso. Mas sim um pedido de perdão sem segundas intenções. Na letra eu expresso meu genuíno arrependimento pelos meus atos e te peço desculpas por todo sofrimento que causei. Baby, eu espero que goste e que se recorde com carinho de mim, pois em meu coração você sempre terá um lugar especial e único. Além de ser a mulher que me fez amar de verdade, é a mulher que me deu duas lindas crianças que eu amo tanto. Sou eternamente grato a você, minha baby, por ter gerado nossos tesouros: Fuyuki e Sayuri. E você, , sempre vai ser a minha baby mesmo não estando mais juntos. Não consigo desapegar disso, você me deixa te chamar assim em meus pensamentos?
  Ah, baby, estou me sentindo patético agora. Desculpa, minhas lágrimas estão…
  Bom, Essa carta já está grande demais, não quero te cansar quando for ler. Se você ler algum dia essa carta, não me odeie. Espero que me perdoe.
  Eu te amo muito, eternamente, isso jamais mudará.

Com todo o meu amor,
.

PS.: Seja feliz, minha baby. ❤️‍🔥

  Yokohama, Japão
  Algumas horas depois…

  Hoje é um dia histórico para a Flow. Faz algum tempo que eles não participam de grandes festivais, normalmente fazem shows individuais igualmente lotados, mas hoje é a vez desse retorno acontecer. Acontece em Yokohama o Festival Rock Style que irá reunir os grandes nomes da música do país em dois dias de festival. Ele iniciou ontem, sábado, e hoje, no domingo, será a vez da Flow tocar. Mas, não só eles subirão ao palco hoje. A Luck Life, estrela da cidade, também tocará. Pon, vocalista da banda, convidou para se juntar a ele e seus companheiros de estrada neste show. Claro que ela aceitou. Mesmo também tendo recebido o convite de seu ex-marido. viajou para Yokohama junto com os filhos e os deixou com seus pais que adoram toda vez que a filha faz isso. Se divertem ao cuidar dos netinhos.
   e ainda não se cruzaram nos bastidores do festival. Há cinco grandes camarins compartilhados por três bandas e suas equipes.  Neste onde a Flow está, tem apenas eles por enquanto, mas isso não será assim sempre. A porta principal do local se abre e por ela passam rostos conhecidos para : Harumi e Ichiro entram e caminham diretamente para falarem com e os outros, parecem ignorar o guitarrista. Desde que se separou de sua irmã, Ichiro evita conversar com o homem, que antes foi um grande confidente de sua vida e angústias. Seu carinho e admiração pelo guitarrista seguem intactos, mas seu lado irmão mais novo lhe diz que ele deve manter certa seriedade.
  — Olá — diz Ichiro de maneira fria ao se aproximar do ídolo. sorri ao ver o jovem que mantém seu cabelo grande.
  — Olá, Ichiro — responde , ajeitando-se no sofá. — Senta aí — oferece o lugar ao seu lado e o rapaz se senta. — Vi sua campanha com a Nike, ficou incrível! — elogia o homem, referindo-se à campanha publicitária feita por Ichiro para a Nike.
  — Obrigado, — diz o jovem Ito, sem graça pelo elogio. — Como você está? — a pergunta surpreende o mais velho que solta um suspiro longo.
  — Tentando viver — ele exibe um sorriso forçado e Ichiro nota uma ruga de tristeza em seu olhar. — Pelos meus filhos, por eles — completa o , mantendo seu sorriso.
  — A onee anda diferente — comenta o jovem. — Mas acho que não devo contar para você sobre isso, ainda estou chateado com o que você fez.
  — Não te julgo por estar irritado comigo, Ichiro — diz , solidário ao conflito interno vivido pelo jovem. — Saiba que eu amo sua irmã, amo de verdade e sempre amarei.
  — Então, por que raios você a traiu? — rebate Ichiro, encarando pela primeira vez. — Você e aquela mulher…
  — Se tem algo que eu possa te afirmar com certeza é de que eu não traí a — afirma o guitarrista, convicto. — Eu não a traí.
  — Então como?
  — Eu não sei, Ichiro. Sinceramente, eu não sei — apressa-se , sentindo seu coração apertar dentro do peito.
  — O que houve naquela noite?
  — Eu fui até o evento no hotel, encontrei a Ayumi lá e ela ficou me seguindo pelo saguão. Tiramos fotos juntos para o grupo de fotógrafos do evento, troquei algumas palavras com ela e eu já ia embora quando ela insistiu para eu ficar — conta , revivendo aquele dia em sua memória. — Ela me ofereceu um drink, mas eu recusei.
  — Um drink? — repete Ichiro, pensativo.
  — É, eu recusei, mas ela insistiu. Disse que seria apenas aquele drink e pronto.
  — Estranho, … — diz o jovem, pensativo.
  — Eu não queria beber, foi só aquele drink que tomei, mas acho que estava forte, pois eu não lembro de mais nada do que ocorreu depois — diz . — Só me recordo da hora que a chegou no quarto, acordei com os gritos dela — completa o homem sentindo um nó em sua garganta apenas por lembrar do ocorrido.
  — Isso está estranho, — repete Ichiro. — O drink tinha um gosto esquisito? — pergunta.
  — Bom, estava com um gosto forte, mas acho que era a vodka, por quê?
  — Não sei, não gosto da Ayumi… — Ichiro encara de maneira óbvia e finalmente o mais velho entende a intenção da pergunta dele.
  — Ah, não, Ichiro! — espanta-se o guitarrista. — Ayumi não seria capaz disso. Não, não, por que ela faria isso? Não ganharia nada se… — interrompe sua fala, percebendo que o que ele faria em seguida não tinha sentido. Ayumi tinha muito sim a ganhar com a separação dele com . — Não… — solta , incrédulo com a possibilidade.
  — Não temos provas, mas eu andei pensando durante esses meses que está separado da onee e percebi que você diz a verdade — revela Ichiro. É a primeira vez que ambos de fato conversam sobre o que aconteceu. — Falta apenas a onee acreditar nisso.
  — Obrigado, Ichiro, significa muito para mim seu apoio — ele se emociona com o gesto do mais novo e completa: — Espero retribuir sua confiança.
  — Apenas cuide da minha onee, sabe que ela significa muito para mim e odeio vê-la sofrer.
  O nó na garganta de aumenta e apenas concorda com um gesto de cabeça. Os dois continuam conversando sobre maneiras de provar que diz a verdade sobre não ter traído sua amada esposa, mas não chegam a nenhuma conclusão satisfatória.
  Um burburinho no camarim distrai ambos que viram o rosto para o som. Pela porta do camarim compartilhado entram os integrantes da banda Luck Life que logo cumprimentam a todos. Porém, o que chama a atenção da dupla, principalmente de , é a presença de sua ex-esposa junto com os integrantes. Pior, junto com o Pon.
  O coração dele dispara perigosamente, parece até que ele infartaria a qualquer instante. Ver ao lado de Pon, ex namorado dela de muitos anos atrás, é algo que ele não fazia ideia que o incomodaria tanto.
  Mas, engole seu orgulho e tenta disfarçar sua ferida. Difícil, mas ele tenta.

[🌟]

  Algumas horas após o show…

  Luck Life já tinha deixado o palco há alguns minutos.
  Enquanto os outros integrantes conversavam com os rapazes da Flow, Pon recupera seu fôlego esparramado no sofá, ao seu lado está , que o acompanha bebendo uma latinha de energético.
  — Tinha me esquecido do quão frenéticos são os da Luck Life — comenta a mulher, rindo um pouco.
  — Imagina para mim que toco e canto ao mesmo tempo — desafia Pon também risonho. — Nossa, que calor — ele abana a mão, que não segura a latinha, perto do rosto.
  — Estamos na primavera, afinal — comenta .
  — Verdade — Pon ri, fato que deixa seus olhos apertadinhos dentro das órbitas. — Ele não para de olhar para cá — comenta e o encara, confusa.
  — Quem?
  — — responde o vocalista, ainda se abanando, e desvia o olhar discretamente para o ex marido.
  — Eu queria dizer que está tudo bem entre nós, mas não está — a mulher desabafa, suspirando em seguida. — Não deveria ser assim tão estranho, a gente, antes de tudo, sempre foi amigo.
  — Posso ser capaz de imaginar o quão difícil seja para ambos — Pon se solidariza com a amiga.
  — É, não queria que terminasse assim. Por mais que tenhamos uma boa convivência por causa das crianças, ainda tem o fato de… — para de falar, engolindo o choro, é difícil para ela falar sobre isso.
  — Quer ir para outro lugar? — sugere Pon, vendo a situação dela.
  — Estou um pouco cansada, Pon — ela responde, sorrindo.
  — Meu apartamento não é longe e, além do mais, eu aproveito e te mostro o álbum de fotos que falei — insiste, mostrando um olhar pidão. balança a cabeça, rindo.
  — Você não pode usar essa tática comigo para sempre, Masumi — solta, risonha. — Está bem, vamos.
  Pon sorri com a aceitação do convite e eles se levantam do sofá. O movimento deles é seguido pelo olhar curioso de que se pergunta se aquela manchete que leu há algumas semanas realmente é real. Não poderia ser real. Mas, e se for?

  No apartamento do Pon

  — Um típico apartamento de solteiro — zomba assim que adentra o imóvel.
  Pon ri do comentário dela e acompanha a moça até o sofá. analisa o padrão de cores e peças que formam a sala do apartamento é bem característico de um homem solteiro. Não há nada que demonstre que ele está em um relacionamento, vide as roupas que ele havia esquecido jogadas na poltrona, que agora ele discretamente retira jogando em um canto da área de serviço. Além disso, há alguns consoles famosos no hack, vários controles e um óculos de realidade virtual pendurado em um suporte na parede. ri, pois acaba de se lembrar de como era o quarto de quando o conheceu. Exatamente igual.
  — Preciso arrumar, me desculpe a bagunça — as desculpas de Pon distraem os pensamentos da modelo, que apenas sorri solidárias a ele. — Quer beber algo?
  — Vinho, tem? — indaga, sentando-se no sofá.
  — Sempre!
  Eles riem e Pon vai à cozinha pegar a garrafa de vinho que está na geladeira e duas taças. A noite seria longa.
  Poucas horas se passam e os dois já estão na terceira garrafa, ambos bêbados e risonhos além da conta.
  — Vou te bater se lembrar disso novamente, Masumi! — brada , estapeando as costas de Pon que ri descontroladamente.
  — Esse dia foi hilário demais, ! Precisamos repetir — diz ele tentando se esquivar dos tapas.
  — Eu quase morri afogada, seu besta — acaba rindo ao se lembrar da cena dela escorregando por um imenso tobogã e batendo com muita força na água da piscina, ainda na época que namorava Pon. — Foi terrível e você nem me ajudou!
  — Em minha defesa, eu estava me recuperando da crise de risos — o vocalista segue gargalhando, assim como na época. — Como ia entrar na piscina se eu estava passando mal de rir? Poderia me afogar — constata, defendendo-se e estreita o olhar para ele.
  — Seu bocó!
  Ela coloca a taça de vinho quase vazia em cima da mesinha e volta a bater em Pon. Ele faz o mesmo com sua taça, que está mais cheia que a dela, e joga o corpo para trás, quase deitando-se no sofá. se joga por cima dele, ainda o estapeando, ambos rindo em cumplicidade. Pon segura delicadamente os pulsos da amiga e eles se encaram, ainda rindo. O clima alegre vai diminuindo e dando passagem para a tensão. O que fazer agora? Por que os corações de ambos estão tão agitados assim? Arrepios os percorrem, deixando-os confusos com o que sentem. Pon usa uma de suas mãos para ajeitar uma mecha de cabelo de que caía em seu rosto. Os sorrisos morrem, mas os olhares seguem fixados nas expressões um do outro. O vocalista se questiona se ele deveria ter proposto a ida para o apartamento dele. Ou se eles deveriam ter bebido tanto. Ou se ele deveria ter dado essa brecha para a situação de agora estar acontecendo.
  Pon beija .
  Um leve puxão no rosto dela para perto dele foi o suficiente para o beijo acontecer. E como é bom beijá-la de novo, ele sentia falta, afinal. Seus corpos se movem, acomodando-se confortavelmente um no outro. Suas línguas movem-se dentro de suas bocas, dançando enquanto o beijo prossegue. Suas mãos não sabem ao certo onde ficar. Para é mais estranho ainda estar beijando outro homem após tanto tempo ao lado de , apenas o beijando, apenas o tocando. A mente dela não para de pensar. E se não parar por ali? E se ela sentir vontade de transar com o Pon? Ela sentiria essa vontade?
  Pon interrompe o beijo para deslizar seus lábios pelo pescoço de . Os pensamentos contrários e confusos dela continuam brotando sem parar. Sem parar. Sem parar. Parar. Ela precisa parar.
  — Pon… — ela o empurra com ambas as mãos sobre o peito dele. Pon a encara, confuso e ofegante.
  — Você ainda o ama, não é? — constata ele e o encara, os olhos marejados.
  — Me perdoe… — as lágrimas dela caem de seu olhar, algumas pingando sobre o ombro dele.
  — Não peça desculpas, está tudo bem — diz ele, carinhoso. — Você é muito especial para mim, mas definitivamente o meu tempo já passou — ele sorri e dá um beijo demorado na testa dela. — E o tempo do ainda não acabou.
  — Ah, Pon…
   desaba a chorar compulsivamente.
  — Vocês dois precisam conversar — aconselha ele ainda abraçando . — Está nítido que se amam.
  — Como eu posso esquecer daquela cena? Me diz, Pon? Como?! — diz ela com a voz abafada e se afasta um pouco dele, ainda dentro do abraço do amigo.
  — Não sei, minha querida — responde o vocalista com sinceridade. — Queria poder ajudar mais, porém o que eu posso fazer é te aconselhar a falar com ele — Pon volta a ajeitar a mecha de cabelo dela, colocando-a atrás de sua orelha. — conversem e tentem entender o que aconteceu de verdade.
  — Acha que… acha que ele não me traiu? — pergunta, fungando.
  — Não posso ter certeza disso, mas do amor que ele sente por você, eu tenho.
  Agora sim o cérebro de fervilha, prestes a explodir.
  O que ela deve fazer agora? Seguir os conselhos de Pon? Ou continuar apenas com aquela imagem que presenciou no fatídico dia?

Capítulo 24 – Nostalgia

  A outra vertente da família está neste momento no meio da estrada a caminho de Nagano, cidade onde os pais de moram. Ainda falta metade do tempo, cerca de 1h30, para chegar lá. O casal está levando a filha, Asuna, para ver os avós e vão aproveitar para pedir conselhos aos mais velhos sobre um problema que os atinge.
  Nos últimos meses, o casal vem passando por um problema que envolve sua filha, de apenas dois anos. costuma gravar pequenos vídeos de qualquer coisa que a filha faça e mandar para os pais e amigos. Vez ou outra ela posta em seu Instagram. Talvez esse tenha sido o seu maior erro, se assim podemos dizer. Isso porque alguns seguidores dela e do marido pegaram os vídeos e reportaram. O resultado foi a viralização da pequena Asuna e suas caretas antes do banho ou até mesmo as cantorias imitando o pai ou os vídeos culinários com a mãe. Algo parecido com o que ocorreu com a , logo que começou a namorar , acontece com hoje. Quase todo dia tem uma nova mensagem de algum seguidor “exigindo” vídeos novos, cobrando mais e mais. Sendo que este nunca foi o propósito de , ela só queria compartilhar intimamente tais momentos fofos com seus conhecidos, mas a Internet pode ser cruel. Ainda há comentários sobre a aparência de Asuna, descrevendo como os olhos dela são grandes demais para uma criança de sua idade.
   se entristece só de lembrar.
  Nagano fica a 230km de Tóquio, fica no litoral do Japão e tem bastante coisa para se ver lá. Além de possuir nove das doze montanhas mais altas do país, foi lá que os Jogos Olímpicos de 1998 foram sediados, além de ter muitos templos e lagos para visitar. Mas, por hoje, o destino do casal é apenas um; o apartamento dos pais de .
  Koda e Nara Inoue são bastante ricos, são empresários do ramo agropecuário e acumularam riquezas ao longo dos anos. Moram em um apartamento bem espaçoso no centro da cidade. e , que traz Asuna no colo, entram no prédio e seguem até o oitavo andar, tocando a campainha.
  — , filha! — exclama Nara abraçando a filha assim que abre a porta. — Oh, , como está bonito, meu genro — elogia ela vendo a leve vermelhidão no rosto do homem que sorri para a sogra.
  — Olá, senhora Nara, como vai? — indaga ele.
  — Ah, melhor agora que estou vendo está lindinha da vovó — brinca a mais velha, carregando Asuna no colo que se aninha tímida nos ombros da avó.
  — Onde está o papai?
  — Lá dentro, querida. Vamos, entrem, entrem.
  O casal entra, carregando as malas, pretendem ficar todo o final de semana e voltar apenas na terça-feira. Vão aproveitar a folga na agenda da Flow e da Star também. Deixaram as malas no quarto de hóspedes, e deixaram a mala da filha no quartinho que os pais de montaram especialmente para ela. Retornam à sala, já encontrando Koda que está com Asuna no colo.
  — Papai! Bom revê-lo — senta ao seu lado, abraçando o pai, e brinca brevemente com a filha.
  — Como foram de viagem?
  — Cansativa, mas correu tudo bem — responde sentando ao lado de no sofá.
  — Trouxe para refrescar um pouco — comenta Nara trazendo uma bandeja com uma jarra cheia de refresco de morango e copos para todos. — A Asuna gosta?
  — Morango? Adora! — diz , risonha. — Vou pegar a mamadeira dela.
  — Deixa que eu pego, amor.
   se levanta e vai buscar a mamadeira menor da filha para colocar o refresco. Enquanto isso, a ansiedade do pai de o impede de não perguntar.
  — E esses vídeos virais, filha? — inicia ele com o ar preocupado.
  — Ai, papai, está sendo complicado — comenta ela e vê o mais velho colocar Asuna no chão. A garotinha anda, meio desengonçada, até o meio da sala onde estão seus brinquedos.
  — Não há o que fazer sobre isso? O assédio é demais, ela só tem dois anos! — enfatiza Koda. retorna do quarto, já ouvindo a fala do sogro, e enche a mamadeira da filha com refresco de morango. — Como eles acharam esses vídeos? No Instagram?
  — Sim — repete , frustrada. — Já expliquei o que ocorreu, papai. Eles pegaram os vídeos no meu Instagram ou até no do e repostaram. Acabou viralizando.
  — Não deveriam postar sobre a filha de vocês assim. É muita exposição, — repreende o homem.
  — Querido… — alerta Nara com o olhar suspenso. Koda a ignora.
  — Sabe que é a verdade, Nara! — reitera o homem, firme. — Se não se expusesse tanto talvez nossa neta não passasse por isso…
  — Me desculpe, senhor Koda — interrompe , sério, após dar a mamadeira para a filha que bebe alegremente seu refresco. — Mas a exposição de nossa filha foi algo inevitável. Não sei se sabe, mas eu sou famoso e a também é por ser agente de uma das modelos mais famosas do Japão, que por sinal é minha cunhada.
  — Amor… — tenta acalmar , mas é em vão, ele já está bastando irritado.
  — E, além do mais, o senhor fala como se a culpa fosse da , mas não é — diz ainda de pé. — Ela postou os vídeos apenas para os melhores amigos do Instagram, alguém vazou os vídeos. Não sabemos quem foi, mas vazaram — explica.
  — Talvez se ela não fosse tão desleixada…
  — Senhor Koda — volta a interrompê-lo, segurando sua raiva. — Por favor, o senhor pode até estar em sua casa, mas não irei permitir que fale dessa forma da minha .
  — … — não consegue nem se defender, rebater as acusações do pai, nunca conseguiu.
  — Muito atrevimento de sua parte, — rebate Koda, pondo-se de pé.
  — Papai…
  — Koda — chama Nara, também se levantando. — Já conversamos sobre isso, esqueceu? — ela lança um olhar significativo para ele, que apenas rola os olhos, irritado.
  — Me desculpe o incômodo, senhora Nara — diz , curvando brevemente o tronco para a sogra.
  — Não se preocupe, meu querido, como eu havia dito ao meu marido… — ela volta a encarar Koda com o olhar fuzilante. — A culpa não é de vocês. havia me explicado tudo. Além do mais, a Internet é cruel quando quer. Não se culpem, estão fazendo um ótimo trabalho com a Asuna.
  — Obrigado, senhora — agradece. — Amor? — chama ele, vendo a paralisia de .
  — Hm? — espanta o corpo, assustada. — Eu…
  — Vamos dar uma volta, ? — sugere ele com a mão estendida.
  — Ótima ideia, ! Podem ir só vocês, cuidaremos da Asuna.
  A mãe de tentou a vida inteira blindar a filha das palavras duras de seu pai, sempre exigente com tudo, sempre culpando a única filha por qualquer mínima falha que cometesse. Porém, nem sempre fugia disso e, era quase certo, que ela choraria ao fim do dia quando se encontrava com o pai. Depois de adulta, ela achou que isso tinha acabado, que as cobranças tinham acabado. Leviano engano. Só fizeram piorar.
   e caminham de mãos dadas pelas ruas ao redor do quarteirão do prédio dos Inoue. Por estarem em uma cidade do interior, há menos fãs da Flow, mas ainda assim é reconhecido por dois jovens que se aproximam para tirar uma foto. fica meio de canto para que registrem o momento tranquilamente. Após, volta a caminhar um pouco na frente, a mente pensando nas palavras do pai. Se ela realmente é uma boa mãe para Asuna. Se não foi negligente em postar os vídeos. Se não deveria tomar mais cuidado por se tratar apenas de uma criança.
  Repensou toda sua trajetória até aqui.
  De repente, ela sente o corpo ser levemente içado por dois braços fortes. É que a abraça forte e beija seus lábios com todo carinho e amor que sente por sua coelhinha.
  — Sei o que está pensando — diz ele ao fim do beijo. — Por favor, não dê ouvidos ao seu pai.
  — Como não dar…
  — Coelhinha — o vocalista acaricia o rosto dela, os olhos expressivos que ele tanto ama. — Você é uma mãe incrível, a Asuna te ama. Por favor, nunca deixe de acreditar que você é sim uma boa mãe para nossa filha.
   quer crer nas palavras de , sente-se tão amada por ele quando profere palavras assim que fica até difícil duvidar, mas as palavras de seu pai sempre se sobrepõem. É involuntário. Triste, mas não é sua intenção sentir-se impotente assim. Por mais que digam o contrário, a voz de seu pai ecoa em sua mente lhe dizendo que ela não é capaz.
  A mulher abraça o namorado e chora em seus braços.

[🌟]

  Aeroporto de Dubai, 14h, horário local.
  A Flow embarca no avião com destino de volta a Tóquio após a mini turnê de três shows que fizeram no país árabe. se acomoda em sua poltrona, colocando no suporte o seu notebook. Será uma longa viagem de volta, quase dez horas, mas tudo compensará. Isso porque amanhã, sexta-feira, viajará para acampar com os filhos pela primeira vez desde que se separou de .
  Será um grande momento para ele.
  O avião decola. O guitarrista aproveita o silêncio do voo, que possui poucos passageiros, e a distância de seus companheiros de banda para descansar. Ele veria alguns vídeos gravados durante os três shows em Dubai, mas prefere descansar um pouco. Acaba adormecendo.
  Dez horas depois, corrigindo o fuso horário, o avião desembarca em Tóquio às 19h, horário local. Tudo que quer agora é ir para sua casa, dormir e acordar amanhã para rever os rostinhos dos filhos.
  Ele não vê a hora.
  O dia seguinte vem e com ele uma visita inesperada logo cedo.
  — Você não cansa de me ver? — indaga assim que vê a figura de parado à sua porta com uma grande embalagem de presente aos seus pés. — Espero que isso seja para mim — ele dá passagem para que o amigo entre e o ajuda a carregar os presentes.
  — São para os meus sobrinhos — diz o vocalista, apoiando a caixa maior perto do sofá. põe a caixa menor em cima da mesinha de centro.
  — Daqui a pouco eles chegam — comenta e aponta para o sofá onde se senta.
  — Como você está? — pergunta , de repente.
  — O que quer dizer? — ele dá de ombros, sem entender.
  — Ah, você sabe, sobre a e tudo mais.
  — Ah, isso? — suspira, ele não queria falar disso. — Não se preocupe, estou bem.
  — Dá para ver que não está.
  — Por que está falando disso, ? — ele altera a voz ao falar.
  — Nunca conversamos sobre o assunto. Somos amigos há anos, desde adolescentes, e sempre conversamos sobre tudo, .
  — Eu sei — diz, interrompendo o pensamento do amigo.
  — Só quero poder te ajudar de alguma forma a superar…
  — Eu não quero superar! — brada com mais energia, o peito inflando um pouco. — Eu…
  — , eu acredito em você — revela .
  — Como assim?
  — Sei que não traiu a . Não sei como aquela cena que descreveu aconteceu, mas sei que você fala a verdade.
   não responde.
  Falar desse assunto o emociona, o agita, o deixando descompassado. começa a chorar, parecendo no dia em que o mandou sair de casa. O fatídico dia. Compadecido, senta ao lado do amigo, o abraçando e amparando sua cabeça.
  A campainha toca.
  Assustado, ergue o rosto. Certamente seus filhos chegaram na companhia de Hiroki ou até de Ichiro. Mas, quando abre a porta do apartamento, é a figura de sua ex-esposa que ele vê parada ao lado dos pequenos.
  — Papai! Papai!
  Sayuri e Fuyuki agarram as pernas do pai. Ambos estão vestindo roupas parecidas, combinando feito irmãos, cada dia mais parecidos um com o outro. sorri para que se mantém atônico na frente da mulher. Como está linda. Os cabelos dela cresceram um pouco desde a última vez que se viram pessoalmente, estão um pouco abaixo dos ombros, sua franja ainda existe e realça seus olhos.
  — Você veio…
  — É, eles insistiram — diz , sem jeito em ver o ex-marido. também está lindo. — Gostei do cabelo.
  — Ah, obrigado.
  Ele se envergonha com o elogio, passando uma mão sobre a nuca.
  — Tio ! — exclama Fuyuki, correndo até o tio que o abraça.
  — Dindo! — diz Sayu também abraçando o homem, que equilibra as duas crianças em seu colo.
  — Que abraço gostoso! Estão maiores, nossa! — comenta, rindo.
  — — chama , pondo a cabeça para dentro do apartamento.
  — Oi, ! — ele põe as crianças no chão e acena para a amiga. — Entra aí — encara o amigo, o repreendendo com o olhar. Por mais que adore ver a mulher, estar na presença de é torturante para ele.
  — Não posso demorar — mente ela, mas acaba entrando, tímida. Acordando de seu transe, fecha a porta do apartamento.
  — Vi sua última campanha para a Adidas, ficou incrível, ! — elogia , dando um abraço nela.
  — Obrigada, meu amigo — agradece, se afastando um pouco dele. — Tive o contrato renovado semana passada.
  — Oh, parabéns, — diz , surpreso com a informação. É tão estranho não saber dessas coisas primeiro que todos.
  — Obrigada.
  — Mamãe, mamãe, vamos pro acampamento!!! — Fuyuki interrompe sem querer a troca de olhares dos pais, o garotinho puxa as pernas dela.
  — A mamãe não poderá ir também, conversamos sobre isso, lembra? — diz a mulher.
  — Ah, mamãe! — Fuyuki faz um biquinho emburrado.
  — Nossa, olha a hora, preciso ir. Tenho que ver a pega sua carteira, colocando-a no bolso da calça.
   sabe que é mentira. Sabe que está na casa dos pais, pois comentou com ontem e ele contou ao irmão que a namorada não tinha ido por medo do pai a encher de acusações novamente. Sabe que , da maneira mais tonta possível, está tentando fazer os amigos ficarem a sós. Eles se despedem de e a família , em sua vertente principal, ficam sozinhos no apartamento de . abre os presentes dados pelo vocalista revelando ser um coelho de pelúcia para Sayuri e uma espécie de bicicleta em formato de zebrinha para o Fuyuki, que já estreou o brinquedo novo.
  Meia hora se passa e diz que precisa ir, então, recomeça o caos entre as crianças.
  — Fuyu, para com isso! — briga a mulher, vendo o filho espernear, chorando.
  — Fuyuki, obedece sua mãe — intervém , carregando o filho no colo. — Em breve estaremos acampando, ok?
  — Eu quero que a mamãe vá também! — repete o pequeno ainda chorando.
  — A mamãe já disse que tem trabalho, filho.
  — Mentira! Ela não quer ir porque não quer ficar perto do senhor — dedura o garoto.
  — Fuyuki!
   se envergonha e percebe a nítida mágoa em , que mal consegue disfarçar. Pendurada na roupa da mãe também está Sayuri que chora pedindo que a mãe também vá com eles para o acampamento. não sabe o que dizer, não sabe como ajudar a ex-esposa. Por um lado ele quer dizer aos filhos que é uma excelente ideia, que seria bom a ir junto para relaxar ao lado dos filhos e dele também. E, por outro, não consegue mensurar o quão difícil será para ele estar no mesmo ambiente com sua sem poder tocá-la, beijá-la e dizer que a ama. O guitarrista está quase surtando de novo.
   acaba cedendo, causando ambiguidade nos sentimentos do ex-marido, e aceita ir com eles para acampar. Claro que as crianças adoraram o aceite da mãe e agora estão saltitando pela sala enquanto encara com a expressão atônica, estática.
  Despertando-se, o homem vai até o próprio quarto, respirando fundo por alguns minutos e se obrigando a ficar calmo. Ele precisa ficar calmo para não entrar em parafuso. retorna à sala, junto com sua mochila de viagem, e sorri para que está brincando com a filha mais nova, e Fuyuki segue cantarolando feliz em cima de sua zebrinha. A família desce até o estacionamento, o homem coloca as malas no carro, enquanto prende as crianças nas cadeirinhas. Ela deixa o carro na vaga de para buscá-lo quando voltar no domingo à noite, aproveitará para levar as crianças de volta, já que a visita deste fim de semana é apenas para o acampamento. Eles vão até a casa de , lembranças invadem o guitarrista agora. Ele está sentado no sofá que ajudou a escolher anos atrás, pensando em tudo que viveu com ela naquela casa. A emoção é visível e vem em formato de algumas lágrimas.
   está pronta e então eles retornam ao carro e seguem até o acampamento.
  Chegando lá ainda é cedo, então resolvem fazer um almoço gostoso. O chef é o guitarrista que assume o fogãozinho que leva nas viagens. Sayuri brinca com seu coelhinho, enquanto o irmão conta para o pai, sentado em uma cadeirinha, as aventuras de Neko desde que o pai saiu de casa há alguns meses. nunca pensou que sentiria falta até no Neko e suas mordidas aleatórias que ele dava em sua panturrilha quando se distraía.
  À noite chega e com ela o sono das crianças que já estão dentro da barraca dormindo há horas. É por volta das onze da noite, e estão em volta da fogueira, conversando aleatoriedades e rindo. É tão gostoso estar novamente ao lado dela, poder conversar, mesmo que ainda seja estranho, mesmo que ainda exista uma barreira invisível que os impeça de ir além dessa amizade que eles ainda têm. Afinal, antes de serem casados, e são amigos.
  O ex casal está um ao lado do outro, sentados em cadeiras dobráveis. É verão e faz calor mesmo à noite. Em dado momento, os braços de ambos tocando-se, faz uma piada que faz dobrar o corpo de tanto rir, dando batidinhas no ombro dele que também ri com a própria piada. Segundos depois, ambos param de rir e um clima bem conhecido deles paira no ar. começa a pensar nas palavras de Pon. Palavras que ela vem repetindo para si mesma desde que as ouviu. E se Pon estiver certo? E se não a traiu e foi tudo um tremendo mal entendido? Ou pior: uma armação contra eles? está tomada de emoção e não está agindo mais conscientemente. Num impulso, ela se aproxima mais do rosto de , que se mantém parado, tão emocionado quanto ela. Seus corações pulsando descontrolados dentro de cada um, a vontade de chorar tomando conta e o amor fluindo por suas veias junto com o sangue que os aquece.
  Então, o beijo acontece.
  Ainda contido, segura o braço solta de , puxando-o para seu peito e o mantém ali. Ela intensifica o beijo, apertando a camisa dele. Dentro de si, está em conflito. Deveria não sentir esse amor por ele, não deveria já que o pegou com outra na cama. Mas o beijo dele ainda tem o amor que ela sempre sentiu desde o primeiro beijo lá em Tóquio sob o céu estrelado. O mesmo sentimento, tão intenso quanto. agora está com ainda mais dúvidas se ele realmente a traiu. Uma pessoa que nutre tal sentimento, que tem um beijo tão doce e ardente quanto não poderia ter a traído.
  Não poderia.
   se afasta dele, bruscamente, e tenta se recompor.
   não sabe se deve ou não dizer alguma coisa e também tenta se recuperar desse beijo. Meu Deus, esse beijo que ele sente tanta falta.
  Limpando a garganta, ele se levanta e dá a desculpa de que esqueceu algo no carro, que está estacionado próximo a eles, e caminha até lá. O homem entra no veículo, senta-se no banco, e processa o que acabou de acontecer.
   sentiu o amor de naquele beijo, o mesmo sentimento de quando ela o beijou no hospital, após o acidente de moto. Ali ele sentiu que ela o amava de verdade. ainda o ama.
  E isso dá esperanças ao guitarrista.

Capítulo 25 – Casa nova

  Agosto de 2014

  Hoje é um dia especial para .
  Ela está na loja de vestidos de noiva para a última prova do vestido de seu casamento que é semana que vem. E pensar que, há alguns anos, ela estava nesta mesma loja vendo provar seu vestido de noiva para o casamento com . Na época, ela ainda não conhecia , mas quando o viu através de fotos e vídeos, já adorou sua voz e o achou bem bonito. Conhecê-lo pessoalmente foi apenas um detalhe.
  É um vestido sereia, branco, com um decote um pouco abaixo da linha dos seios. A alça fina e o decote destacam seu busto – que aliás é a parte do corpo da noiva que mais gosta –, a curta cauda formando quase um círculo em volta de seus pés.
  — É tão lindo, irmã — comenta , emocionada em ver a irmã prestar a se casar. Claro que é a madrinha dela, assim como a .
  — Concordo, , certamente será a noiva mais linda de todas — afirma , também emocionada.
  — Obrigada, meus amores — dá mais uma olhada no espelho, admirada com o vestido que escolheu.
  — Fico pensando no papai — diz , de repente. — Ele irá falar das alças do vestido.
  — E daí?
  — E daí, irmã, que ele vai reclamar.
  — Mas, amiga — intromete-se —, quem tem que gostar do vestido é a , afinal será ela quem usará. Ela quem tem que estar confortável — conclui a mulher, apoiando a taça de champanhe na mesinha ao centro da sala onde estão.
  — Exatamente, , obrigada por esclarecer o óbvio para minha querida irmãzinha tonta — debocha , rindo da cara da irmã.
  — Tisc, diz isso porque… — ela respira fundo, fechando os olhos brevemente. — Deixa para lá.
  — O que aconteceu, ? — indaga , percebendo que a amiga não está bem.
  — Nada, .
  — Tem a ver com o papelão que o papai fez você passar na frente do na última vez que foram lá? — deduz a mais velha, abrindo os braços para que a costureira dê os pontos de ajuste do vestido. — me contou.
  — Não era para ele ter contado! — irrita-se a mais nova.
  — O que houve, gente? — pergunta sem entender.
  — Nosso pai simplesmente colocou a culpa da Asuna estar viralizada na internet na — conta .
  — Que absurdo! — indigna-se. — Sou a prova de que a foi a primeira a se incomodar com essa exposição da Asuna e, além disso, os vídeos foram vazados. A maioria deles.
  — Sim, ! — reage , concordando. — O papai sempre fez isso com a , sempre colocou culpas nela que não eram de seu alcance. Eu o amo, mas ele é péssimo nesse sentido.
  — Não fale assim do papai, .
  — Sabe que tenho razão — ela dá de ombros.
  — A tem razão, .
  — Até você, ?  —espanta-se , emburrada.
  — Amiga, você não pode deixar seu pai falar assim de você. Ele nem convive com você e para saber como estão criando a Asuna. Portanto, não pode dizer que você é a culpada do que está acontecendo.
  — me disse o mesmo… — lembra-se a agente, abaixando o olhar. — E papai odeia o fato de eu não ser casada com na igreja — começa a chorar.
  — Oh, amiga, não fica assim.
   senta ao lado dela no sofá e abraça a amiga. Nunca viveu caso parecido em sua família, mas consegue imaginar o quão difícil é sair de uma situação assim. Ter um pai ou uma mãe que sempre te anulando, a qualquer oportunidade, é complicado e afeta muito o psicológico.
   pede um momento à costureira, desce do pequeno palanque onde estava e vai até sua irmã abraçá-la, reforçando que ela pode contar com a irmã para qualquer coisa. Sempre.
  Minutos se passam, o assunto do pai das Inoue é esquecido e, de alguma maneira, agora as três amigas estão falando sobre o casamento de , mais precisamente: a cena que causou a separação deles.
  — Então o Pon disse isso? — repete , curiosa em saber mais detalhes. tinha voltado para o palanque para que a costureira terminasse os ajustes.
  — Disse — reafirma . — E eu venho pensando nisso.
  — Olha, , lhe sendo bastante sincera — introduz , se olhando no espelho e olhando a amiga por ali. — Conheço o a menos tempo que vocês, só lembrava dele quando a falava na época do colégio ainda, mas posso te dizer que ele te ama muito. Acho bem difícil ele ter te traído.
  — Por mais que a cena dissesse isso — completa e afirma com um gesto de cabeça.
  — Confesso a vocês que é difícil para mim lembrar — diz , respirando fundo e dando um gole em seu champanhe. Naquela altura, as três já tinham bebido uma garrafa inteira. — Ai, que inferno sentir isso. Desconfiar de quem…
  — De quem se ama? — completa ainda olhando pelo espelho.
  — Sim — afirma . As irmãs Inoue trocam olhares pelo espelho.
  — Amiga, se você ama o , por que não o perdoa?
  — Meu coração ainda está magoado, amiga — responde. — E ainda teve o beijo…
  — Beijo? Em quem? — fica curiosa e praticamente sacode a amiga para que responda logo.
  — Bom, tiveram três beijos… — faz uma expressão engraçadinha de quem aprontou. Lembrando seus filhos.
  — Três? , conta essa história direito! — exige já alcoolizada.
  — Queremos detalhes, hein — diz também animada.
  — E quem foi o primeiro beijo?
  — No Pon.
  — Você beijou o Pon?!?! Ahhhhh, meu Deus!
  — Seu ex namorado? ! — dizem e , respectivamente.
  — Foi o momento, gente. Estávamos nostálgicos e acabou rolando.
  — Rolou só isso ou teve mais coisa? — deduz , sugestiva.
  — Não, , foi só um beijo — não consegue esconder a vermelhidão em seu rosto, mas continua rindo com a empolgação exagerada das amigas.
  — Ok, e o segundo beijo? — quis saber .
  —
  — Não acredito! — grita . — Você beijou o ? Meu Deus, quando foi isso?
  — Há alguns meses, no início da primavera, acho.
  — Isso faz tempo, !
  — Eu sei, — e as risadas continuam.
  — E como foi, conta!
  — Diferente — confessa . — Não sei explicar, foi estranho beijá-lo depois de tanto tempo e, o segundo beijo foi ainda mais…
  — Teve outro beijo? Calma, me perdi — se confunde , meio tonta.
  — O terceiro beijo foi nele também — abre a boca, incrédula.
  — A separação de vocês é estranha. Toda hora tem beijo, que delícia.
  — ! — repreende , rindo. — Não é bem assim.
  — Para rolar sexo falta o que?
  — !!! — as três gargalham.
  — Amiga, agora falando sério — a Inoue mais nova controla o riso, recuperando-se. — Você deveria investigar direito essa história de “traição” — ela faz sinal de aspas com as mãos.
  — Hmmm, sim, — concorda . — Eu não me convenci com a história da tal modelo lá.
  — A Ayumi — lembra ela.
  — Isso. Você mesma disse que ela já fez coisas contra você na Star — diz , deixando pensativa. — E se ela também armou esse flagrante para que você terminasse com o ?
  — Olha, é bem provável, viu? — ratifica .
  A mesma coisa que o Pon disse, mas em outras palavras.
  Agora está ainda mais desconfiada de que há algo errado com tudo isso. Confrontar Ayumi seria em vão, já que ela só sabe se esquivar feito um peixe fresco. Take se lembra um pouco daquele dia. Disse que algo se apagou de sua memória e só se recorda de estar no salão e depois dos gritos da esposa o acordando e o fazendo notar que estava seminu em uma cama.
   não sabia como descobrir tudo, mas sabe de quem e como arrancará a verdade.

[🌟]

  Algumas horas depois…

   encontra o noivo em um shopping perto da loja de vestidos para almoçarem juntos.
  — Oi, meu amor — ele a cumprimenta com um beijo carinhoso atrelado a um dos braços envolvendo sua cintura. — Como foi a prova do vestido? — indaga, curioso.
  — Está lindo, neném — ela retribui o carinho, dando a mão para ele e ambos caminham pelo interior do shopping. — Espero que você não chore muito durante a cerimônia — comenta, risonha.
  — Não prometo nada — eles riem. — Ao contrário do , eu sou bastante emotivo e admito isso.
  — Ah, com certeza — concorda a mulher. — Por falar no
  — Hm, o que tem ele?
  — Estava com a agora a pouco e, amor, preciso te contar — empolga-se ela.
  — O que houve para te deixar tão eufórica assim? — é bem mais enérgica que , ele crê que seja esse o charme dela e o fato que o fez apaixonar-se.
  — , e eu estávamos conversando sobre como o “flagrante” em que a pegou o com a tal Ayumi foi estranho.
  — Hm, também pensam isso? — diz ele, atraindo a atenção da noiva.
  — Você também? — para de andar, puxando o braço de .
  — Eu e a banda inteira. Ah, e a produção também — ele solta uma risadinha.
  — Tenho certeza de que ela mentiu quando disse que dormiu com o — crava ela, convicta.
  — Também tenho. ama a , ponho minha mão no fogo em afirmar que ele não a trairia.
  — Concordo, neném. E a também está desconfiada de que tudo foi uma mentira.
  — Sério? — eles voltam a caminhar, olhando eventualmente as lojas.
  — Sim! E eu sei como ajudá-la.
  — O que está aprontando, mocinha? — conhecendo bem a noiva, sabe que ela fará algo no mínimo questionável.
  — Nada de mais — defende-se, olhando a vitrine de uma loja de móveis. — Apenas terei uma conversinha com a tal de Ayumi.
  — Amor…
  — Calma, não irei bater nela ou algo assim. Apenas irei conversar, quem sabe ela confesse a safadeza que fez com nossos amigos, não é? — diz, piscando para , que balança a cabeça para os lados.
  — Tenha cuidado, disse que ela é perigosa e sabe levar as pessoas na lábia — alerta .
  — Sou jornalista, amor, tenho meus métodos — ela sorri e volta a olhar para a vitrine. — Olha que lindo, amor — a mulher aponta para um lindo sofá da cor preta com almofadas cinzas.
  — QUer comprar para nossa casa? — sugere o vocalista. o encara com a sobrancelha arqueada.
  — Não temos uma casa ainda, amor — lembra ela, rindo.
  — Quem disse que não?
   paralisa, lesando as mãos à boca.
  — Você…
  — Estava esperando os papéis saírem. O corretor ligou ontem para confirmar que está tudo ok — sorri para a noiva. — Temos uma casa, meu amor.
  Emocionada, o agarra pelo pescoço e o beija com paixão. é tudo que ela desejou na vida: fofo, romântico e extremamente lindo. A jornalista está convicta de que é com ele com quem ficará pelo resto de sua vida ou, pelo menos, boa parte dela.

Capítulo 26 – Casamento

  O tão esperado casamento de e finalmente chegou.
  A cerimônia já havia acontecido e agora o casal , já casados, cumprimentavam seus convidados. Ainda é cedo. Eles escolheram casar-se de dia para poder aproveitar melhor a festa e por causa das crianças também, para que possam se divertir.
  Assim como tinha previsto, chorou quando a viu entrar ao lado de seu pai – que reclamou bastante sobre como o vestido não era “adequado” para um casamento “decente”. Ela nem ligou para as palavras do pai, então o homem foi atrás de sua outra filha para falar novamente sobre a exposição de sua neta. teve que intervir mais uma vez e ser mais enérgico com o sogro, fato que gerou um mal-estar entre os dois pelo resto da festa.
  Por falar na filha do vocalista com sua coelhinha, Asuna corria pelo gramado do local juntamente com seus primos, Sayuri e Fuyuki, todos vestidos de gala, muito fofos e contentes com o espaço para brincar. De longe, a mãe dos irmãos observa os filhos brincando e, na mesma linha de seu olhar, está seu ex-marido. havia esquecido o quão lindo fica de terno. Ele sorri, conversando com , e , e vez ou outra direciona seus olhos para a ex-esposa. Todas as madrinhas usam o mesmo vestido: azul marinho, com alças finas, longo e com uma generosa fenda em um dos lados. Mas em está simplesmente perfeito. Única. Isso na visão de homem apaixonado, assim como a de .
   se distrai com o sorriso dele e resolve se afastar um pouco em busca de ar.
  Passeia pelo local, tranquila em saber que seu irmão e cunhada estão cuidando dos filhos. Os pais dela haviam pedido para os netos ficarem na casa deles por alguns dias, então após a festa as crianças já irão para casa deles. tem uma taça de champanhe em mãos, bebericando vez ou outra. Desde que se separou de que tem tido menos assunto com os amigos que adquiriu na banda. Eles ainda se falam, claro, mas não é como antes. Dava a entender que estavam traindo o quando falavam com ela, de alguma forma, não tinha sentido e ninguém tocava no assunto, mas eles sentiam-se assim. Ela sente tanta falta…
  De repente, a presença de alguém que a mulher jamais imaginaria que estivesse ali a surpreende.
  Ayumi está na festa.
  Usa um longo vestido na cor verde-água, os cabelos soltos em suas costas, molhados de gel. Seus olhares se cruzam e, curiosamente, a segunda modelo mais requisitada da Star caminha na direção de . Não querendo que haja comunicação entre elas, sai de onde está, fingindo que não a viu, caminhando lateralmente até outra mesa de comes e bebes. Segundos depois, ela sente a mão gelada de Ayumi tocar seu ombro.
  — Ah, oi, Ayumi — diz ela, como se não a tivesse visto.
  — , podemos conversar? — Ayumi está séria, diferente da postura que sempre se coloca diante da .
  — Falar de trabalho justo hoje? Pode deixar para quando estivermos…
  — É sobre o — a modelo a interrompe e sente seu coração disparar, ficando séria.
  — Se vai dizer que estão namorando, eu…
  — Ele não a traiu, — revela Ayumi, voltando a interromper a outra.
  — O que? — diz , agora ofegante. — Do que está falando, Ayumi?
  Ainda séria, Ayumi pergunta se elas podem conversar em um local reservado. Mesmo com medo de ouvir o relato de Ayumi, aceita e a leva até uma das salas internas que ficam após o salão de festas, onde está o bolo do casamento protegido de uma possível chuva.
  Lá, Ayumi inicia seu relato.

  Flashback On

  Evento da Adidas, Hotel Hilton Tokyo

   estava em mais um evento como garoto-propaganda da Adidas, representando a marca. também tinha sido convidada, mas infelizmente não pôde estar ao lado do marido, pois tinha um evento em outro local da cidade no mesmo horário. Simpático, ele socializou com os outros convidados, cumprindo as poucas exigências que a marca lhe pediu. Tinha apenas que ficar pouco tempo na festa, pelo menos até o horário do discurso do representante da presidência, que seria em menos de uma hora.
  — Oi, — disse a voz provocante de Ayumi, ela tinha duas taças em mãos.
  — Ayumi, oi — respondeu, sem muita emoção, mas ainda educado.
  — Que bom que te encontrei aqui.
  — Eu já estava de saída — mentiu.
  — Prometo que não tomarei tanto seu tempo — pediu, colando o corpo no dele, que se afastou um pouco.
  — Eu realmente preciso ir — insistiu. — Outro dia nos falamos.
  — Ah, , vamos tomar uma tacinha, só uma — ela fez um beicinho pidão, estendendo uma das taças para ele.
  — Eu não estou bebendo, vou buscar a de carro no outro evento e…
  — Não fale da Ito — interrompeu ela.
  — Somos casados, Ayumi. O sobrenome dela é — corrigiu.
  — Whatever, honey — voltou a estender uma taça. — Só uma tacinha, pelos velhos tempos.
   não queria, mas sabia que ela continuaria insistindo. Ayumi era perigosa, adorava cercá-lo para conseguir o que queria. O guitarrista se recordava bem na época em que se relacionavam eventualmente. Vencido, pegou a taça e deu um pequeno gole no drink que continha ali. Mas, ardilosa, Ayumi empurrou sua mão para que ele bebesse mais que um gole. Ele reclamou, mas acabou engolindo bastante e bebeu o restante do drink.
  Foi seu pior erro.
  Poucos minutos, estava tonto. Parecia que tinha bebido litros de vodka mais forte do mundo. Conseguindo o que queria, Ayumi fingiu para as pessoas em volta que estava passando mal e pediu para levá-lo até um dos quartos para poder se recuperar por alguns instantes. Hipnotizado pelos seios quase totalmente à mostra dela, o gerente do hotel conseguiu um quarto para eles.
  605
  Lá, à sós com , a modelo enviou uma mensagem para seu parceiro e uma para seu alvo.
  “Consegui o quarto. está desmaiado, esse remédio é muito forte. Onde conseguiu? Você também virá? Já enviarei a mensagem para a insuportável da Ito. Não demore.”
  Assim que enviou essa mensagem, enviou uma outra, desta vez para , mas de um número anônimo.
  “Prezada Senhora ,
  Seu marido passou mal, por favor venha até o Hilton Hotel, quarto 605, sexto andar. Estaremos aguardando a senhora.”
  Agora ela só precisava tirar as roupas de e as próprias roupas, aguardando a chegada de . O difícil para ela era deitar ao lado de sem poder transar com ele.

  Flashback Off

  — O Hayato?!
  Espanta-se , perplexa com a história que Ayumi acaba de narrar. O cúmplice da modelo naquele flagrante era o melhor amigo de faculdade de .
  — Não é possível…
  — Ah, é sim, . Não seja ingênua assim — rebate Ayumi, impaciente.
  — Como ele? Você? Explica direito, Ayumi! — exalta-se a mulher, nervosa.
  — Bem simples: Hayato nunca aceitou o fim do namoro de vocês.
  — Isso faz anos!
  — Ainda assim ele não superou e fez tudo por debaixo dos panos para ainda passar de bonzinho — acusa a modelo.
  — Que desgraçado! Não acredito que ele teve essa coragem, meu Deus! — brada , irritada, e vira o olhar para Ayumi. — E você também o ajudou nessa porque queria o só para você, não é?
  — Confesso que a notícia do namoro de vocês me irritou — admite o óbvio. — O casamento nem se fala.
  — Você é asquerosa, Ayumi — xinga , engolindo em seco.
  — Não a julgo por pensar isso de mim — Ayumi está estranhamente quieta com a ofensa e concordando com tudo. — Até concordo com você.
  — Por que me contou tudo isso? E por que só agora?
  — Agradeça a sua amiga.
  — Que amiga?
  — A noiva — a revelação faz abrir a boca, surpresa.
  —
  — Há dois dias ela apareceu em minha casa. Ela é uma boa jornalista, até conseguiu meu endereço… — a mulher ri com a lembrança.
  — Por que ela iria até lá? — indaga , confusa.
  — Segundo ela, para me arrancar a verdade — Ayumi volta a rir. — Mas foi bom ela ter ido, assim eu pude perceber o óbvio.
  — Conta isso direito, Ayumi, pare de me enrolar!
  — A foi até meu apartamento para saber se eu estava ou não mentindo sobre a história da suposta traição do . E eu confessei que sim, eu menti para todos fingindo ter dormido com ele.
  — Meu Deus… — leva as mãos à boca.
  — Não estou te contando isso porque quero que me perdoe, , sei que não mereço seu perdão — esclarece, de repente, erguendo mais o tronco e o queixo. — Você sempre foi a preferida de todos e do também, né? — Ayumi ri sem humor.
  — Não estamos em uma competição, Ayumi. Não sou sua inimiga — diz , ganhando um tímido sorriso da outra.
  — Eu sei que não — ela engole em seco. — Mas eu achava isso, estava cega. Realmente estava perdida em meus sentimentos que eu achava ter por .
  — Você amava ele ainda? — no fundo, não quer saber a resposta, mas sua curiosidade anseia por ela.
  — Achava que sim, mas era óbvio que ele ama você. Sempre amou. Mesmo que vocês de fato se separassem para sempre, eu nunca teria lugar no coração dele.
  — Não sei o que te dizer.
  — Nem diga nada, não precisa — Ayumi sorri novamente. — me fez enxergar isso, o sentimento que eu tinha era para outra pessoa. Me fez enxergar também que eu só ajudei o Hayato porque eu estava com dor de cotovelo — não consegue aguentar e acaba rindo.
  — Desculpa — ela tampa a boca, controlando-se.
  — Tudo bem, até eu ri depois que entendi que era verdade — ela dá de ombros também rindo. — Sabe, , lhe sendo bastante sincera agora.
  — Diga.
  — Eu, no seu lugar, também acharia que o meu marido estava me traindo. Não te culpo por não acreditar nas palavras do quando a cena dizia o contrário e também não quero que saia acreditando nas minhas palavras, afinal, já te fiz muito mal, né?
  — Não vamos falar nisso — limpa a garganta. — E como posso comprovar o que você está falando?
  — Confronte o Hayato — diz, simplesmente.
  — Se for verdade, ele não irá confessar — o conhece bem, até demais.
  — Tem razão — Ayumi fica pensativa por alguns segundos e sorri encontrando uma solução. — Já sei o que pode fazer.
  — Me diz, então, quero tirar essa história a limpo.
  — Deixe-o vulnerável — franze a testa.
  — Como assim?
  — Hm, você pode chamá-lo para sair, algo assim. Deixe o Hayato à vontade, ele fica bastante falador quando está relaxado.
  — Ah, tem razão — recorda-se. — Ele ficava falador demais até — ela solta uma risada.
  — Pois então, você pode convidá-lo para um almoço ou jantar, sem ocasião especial, ofereça vinho, converse com ele e, quando Hayato estiver relaxado e falante, você o confronta.
  — O ruim dessa sua ideia é que ele vai dar em cima de mim ou achar que eu quero algo romântico com ele. Tem feito isso desde que soube de minha separação.
  — Isso é bom.
  — Bom?
  — Sim, pense comigo: Hayato diz que ama você, mas o que ele sente é um sentimento de posse ridículo. Por isso, ele faz qualquer coisa para te ver feliz, você pode chantageá-lo caso ele não queira confessar — sugere Ayumi, deixando boquiaberta. — Ameace acabar com a amizade de vocês para sempre caso ele não diga o que fez.
  — A velha Ayumi usando seus dotes para o bem. Que novidade agradável! — comenta , rindo e batendo palmas.
  — Só quero reparar o mal que te fiz e aos teus filhos também — diz.
  — Eles estão sofrendo com isso tudo — lamenta-se , engolindo em seco. — Mas tudo bem, Ayumi. Eu acredito em você.
  — Não vai confirmar a história com o Hayato?
  — Vou, mas por hora eu acredito em você — sorri, segurando o próprio choro.
  — Quero te falar outra coisa.
  — O que?
  — Continuamos como concorrentes na agência, ok? — Ayumi sorri de canto e gargalha em seguida. — Brincadeira, mas eu não quero sua amizade, caso tenha passado pela sua cabeça em algum momento.
  — E nem eu quero a sua, querida — ambas riem.
  — Bom, eu vim apenas para te falar a verdade. Vou cumprimentar os noivos e ir embora — Ayumi se levanta e a acompanha. — Ah, suponho que irá reverter sua separação com o , certo?
  O coração de dispara erroneamente.
  Engraçado como ela não tinha pensado nisso até agora.
  — Se eu fosse você, não perderia mais tempo, Ito.
  Provoca a mulher, rindo de canto, e pisca para que devolve o sorriso. Ayumi deixa o local e pensa no que fazer. Ela acredita nas palavras de Ayumi, de verdade. Sempre desconfiou de que tivesse algo errado, mas sua mágoa não a deixava enxergar o óbvio. Assim como Ayumi ficou cega pelo sentimento que achava ter por , ficou cega pelo ciúme e mágoa do marido.
  Marido.
  Ela precisa vê-lo agora!
  A mulher deixa a sala, atravessa o outro cômodo onde está o bolo do casamento, e volta ao jardim onde ainda está acontecendo a festa. Seus olhos correm frenéticos pelos rostos em busca do rosto dele. Onde está? Ela precisa perdoá-lo, precisa pedir perdão, precisa tocar nele novamente, abraçar, beijar…
   correu toda a festa sem encontrá-lo. Angustiada, ela se aproxima do cunhado, que está com Asuna no colo, a garotinha dorme confortavelmente no ombro do pai.
  — — chama ela, aflita.
  — Aconteceu algo, ? Está agitada — percebe o vocalista.
  — Você viu o ? Eu preciso falar com ele, é urgente.
  — Não o vi, mas o que houve? É algo com as crianças? — preocupa-se o homem.
  — Não, as crianças estão bem — responde, acalmando-o. — Eu apenas preciso falar com ele agora.
  — Amiga, o que houve? — indaga , aproximando-se e vendo a aflição de .
  — Você viu o ? — repete a pergunta.
  — Ele disse que iria embora mais cedo porque estava se sentindo mal — diz ela e completa: — Deu um beijo nos filhos e saiu, faz meia hora mais ou menos.
  — Ai que merda! — xinga a mulher, irritando-se com a ausência dele. — Desculpa!
  — Tudo bem, mas o que aconteceu?
  — Em breve vocês vão saber, mas agora eu preciso correr.
  Ela sai, deixando os amigos sem entender e sem nenhum norte do que poderia ser. Antes de ir embora, diz pro irmão cuidar dos filhos até que seus pais chegassem para buscá-los, o que não demoraria, segundo a mensagem recebida por ela há pouco. Agora ela tinha que correr e chegar o mais rápido possível no apartamento de .
  Tomara que ele esteja lá…

  Quase uma hora depois…

   está com uma dorzinha na lateral de sua cabeça.
  Ele aperta o local, massageando-o, e fecha os olhos. O apartamento está escuro, todas as janelas e cortinas estão fechadas para não piorar sua dor. Ele tem esse tipo de sensibilidade com luzes fortes quando já está com dor de cabeça. De repente, a campainha toca.
   não está com a menor vontade de atender, por isso se mantém calado e imóvel no sofá. Voltam a tocar a campainha e, desta vez, batem com força na porta repetidas vezes.
  Irritado com a insistência e grosseria da pessoa, o guitarrista se levanta, bufando, e abre a porta brutalmente.
  Antes de bradar sua irritação, ele sente um par de braços o agarrarem e lábios beijarem sua boca, surpreendendo-se com quem está fazendo isso.
   está em seus braços, o beijando.


  Nota: Leia mais sobre a reconciliação do casal no spin-off +18 Itohen.

Capítulo 27 – Viés de discussão

  O casal está junto novamente.
   e estão, neste exato momento, ainda deitados na cama dele, ambos sem suas roupas, aconchegados um no outro. O edredom cobre seus corpos, ajudando a aquecê-los enquanto degustam o carinho mútuo. Durante o sexo de mais cedo, não pôde deixar de notar que ainda usa sua aliança, fato que o emocionou intensamente. E ele também nunca tirou a dele. No fundo, ele tinha esperança de que o perdoasse, que tudo voltasse como antes mesmo que as circunstâncias não o favorecessem. Que bom que ele nunca desistiu.
  As ligações cessaram.
  Lidariam com elas depois, porém agora, precisam esclarecer as perguntas que vagam nas cabeças de ambos.
  — Baby — chama , fazendo um carinho gostoso na nuca da esposa. A mulher ergue o rosto para vê-lo e sorri. — Linda… — sela seus lábios num beijo demorado.
  — Te amo… — declara-se ao fim do beijo.
  — Nunca deixei de amar você, baby, nunca.
  — Obrigada por não desistir, por esperar pela verdade — agradece ela, dando mais um beijo no marido.
  — Pode me dizer o que houve? Ainda estou confuso — diz, soltando uma risada abafada, nervoso pelo que irá ouvir. — Não que eu esteja reclamando… — ele ri com o próprio comentário. se ajeita no peito dele, subindo o corpo, e deixando seu rosto apoiado no travesseiro ao lado de .
  — Descobri toda a verdade.
  — Como?
  — Ayumi me contou hoje, durante o casamento — suspende as sobrancelhas, surpreso.
  — Não sabia que ela tinha sido convidada — comenta.
  — a chamou — esclarece . — Segundo a Ayumi, foi à casa dela para esclarecer o que eu deveria ter feito desde o início. Me culpo por não ter sido madura o suficiente para isso.
  — Não se culpe, baby — ele acaricia a bochecha dela com o polegar, a mão encaixada em seu rosto. — Não temos culpa do que houve, seja lá o que for.
  — Eu sei, mas no fundo não deixo de me sentir assim — concorda, suspirando. — Enfim, a comentou comigo que possivelmente poderia haver algo errado, Pon também tinha comentado.
  — O Pon? Ah…
   tenta disfarçar o ciúme ao ouvir o nome do ex namorado de , limpando a garganta forçadamente e controlando sua vontade de despejar as perguntas que sua mente fez à época que saíram as notícias sobre eles dois.
  — Bom, eles falaram que poderia ser alguma armação e estavam certos.
  — Me conta melhor sobre isso porque eu não estou entendendo direito — pede ele, levemente angustiado.
  — O que você se lembra daquele dia? Acho que eu nunca te perguntei sobre, né?
  A mágoa da modelo, na época, foi tão grande que ela nem deixou explicar nada. Para sua mente e, principalmente, seu coração, estava tudo claro demais e dispensava explicações.
  Talvez, se ela tivesse ouvido o marido…
  — Lembra que você também tinha um evento naquele dia e eu ia te buscar depois?
  — Lembro sim.
  — Então, eu não queria beber. Não bebi nada na festa justamente porque eu ia dirigir, mas aí a Ayumi chegou com um drink e…
  — Você bebeu, não é? — interrompe a mulher, completando o pensamento dele.
  — Bebi, mas não foi muito, baby, eu juro — apressa-se.
  — Eu sei que não — ela acalma o coração dele e o cala com um beijo breve. — O drink estava com sonífero.
  — Sonífero? — surpreende-se vendo a esposa manter sua expressão serena.
  — Sim — confirma.
  — Como que… Por que Ayumi fez isso?
  — Para separar a gente, — diz , óbvia, e completa: — Ela teve a ajuda do Hayato.
  — Do Hayato? — exalta-se ele. — Aquele… — o guitarrista se interrompe, fechando os olhos de raiva.
  — Também estou com raiva dele — compadece-se , pondo a mão sobre o rosto do marido que abre os olhos para encará-la. — Estou com raiva porque eu dei corda para ele mesmo sabendo que ele nunca tinha me esquecido e superado nossa separação. Ainda por cima ele odeia você desde a época que namorávamos.
  — Ele foi longe demais, , longe demais! — afirma , bravo.
  — Não pense nisso agora, baby — o afago da esposa faz o efervescer do sangue do homem acalmar-se gradativamente. — Eu deveria ter ouvido você… me sinto tão culpada… Me perdoe…
  — Você não teve culpa, baby — se aproxima mais dela, envolvendo os braços no corpo da esposa. — Agiu conforme os fatos mostravam e eles diziam que eu estava te traindo, apesar de não ter sido verdade — ele tenta acalmá-la, os olhos percorrendo o rosto dela. — Está tudo bem, baby, não há o que perdoar.
  — Me arrependo tanto do que fiz com você, com nós dois, nossa família… — lamenta-se, encostando o rosto em , que suspende o pescoço para encaixar a cabeça dela ali.
  — Não se culpe, baby — ele pede novamente, sussurrando. — Eu te amo, .
   a acolhe, distribuindo beijos pelo rosto dela.
  É tão maravilhoso estar com ele novamente e perceber que nada mudou na sintonia do casal. Mesmo com os meses separados, a química entre os dois continua a mesma, quiçá mais forte que antes.
  — Vou me vingar dele… — a voz de sai abafada por conta do abraço de , mas ele consegue ouvir o que ela diz e a afasta de seu corpo e olha para a esposa.
  — De quem, amor?
  — O Hayato. Ele terá o que merece.
  — Baby, o que você vai fazer? — preocupa-se o homem.
  — Eu vou chamar o Hayato para jantar.
  — Hã? Como assim? Achei que a gente…
  — Estamos bem, baby — esclarece, rindo da feição que ele faz agora. — Está com ciúmes? — brinca ela.
  — Claro que estou — admite pela primeira vez em anos. suspende as sobrancelhas, surpresa. — Você sabe que eu nunca confiei nele.
  — Não tenha, baby — puxa o rosto dele. — Só tenho olhos e alma para você, meu amor.
  — Awn, que frase sexy, te amo — ela ri e o beija. — Ok, mas você vai jantar com aquele traidor de quinta por quê?
  — Quero confrontar ele. Quero ver se ele terá coragem de dizer na minha cara que fez tudo isso, agora que eu tenho provas.
  — Amor — chama take, ficando sério novamente —, é delicado, pode ser até perigoso, melhor…
  — Eu sei me cuidar, baby, sei como lidar com o Hayato — está convicta no que fará para confrontar o ainda amigo.
  — Eu tenho medo de…
  — Hey — volta a beijá-la brevemente e completa: —, ele não vai me roubar de você porque eu sou sua esposa, sua baby, eu te amo.
  — Você não existe, … — ele sorri, bobo com a declaração — Te amo.
  — Confia em mim?
  — Claro que confio — responde, sem pestanejar.
  — Então não se preocupe. Eu vou te contar o que irei fazer.
   conta o que pretende fazer para tirar a verdade de Hayato. tenta não demonstrar tanto que está com ciúmes, mas está um pouco difícil, principalmente quando a ouve dizer que dará corda às cantadas do Hayato.
   respira fundo.
  — Espero que ele não tente nenhuma gracinha com você — ao fim da explicação do plano da esposa, a abraça, aconchegando-a em seus braços de novo.
  — Se tentar, eu bato nele — dá de ombros e a agarra, beijando seu rosto.
  — Awwwn, minha baby é brava, adoro! — brinca, fazendo-a rir.
  — Ah, baby, eu preciso te contar uma coisa — recorda-se , de repente, deixando o clima tenso.
  — Fala, baby — não sabe o que esperar.
  — É sobre os rumores de que Pon e eu estávamos namorando.
  — Baby, se vocês estavam ou não, não é um problema porque a gente estava separado, né? — a afirmação feita por ele é mais para si mesmo do que para a esposa. — Teoricamente ambos estavam solteiros e…
  — Eu beijei o Pon.
   paralisa.
  Por mais que isso fosse uma possibilidade real, ouvir que de fato aconteceu o surpreende e o magoa.
  — Uau, eu… — o guitarrista engole em seco, atordoado com a revelação.
  — Foi em um momento de fragilidade minha e…
  — Amor — ele a interrompe, mantendo o tom de voz calmo —, você sente ou sentiu algo além da amizade pelo Pon? — o questionamento do marido surpreende .
  — Não — responde a modelo sem pestanejar. — Não é o mesmo que sinto por você, se é isso que quer saber — sorri.
  — É normal sentir atração por outras pessoas mesmo estando em um relacionamento, como é nosso caso — diz ele. — Acho que o problema é executar essa atração e ficar com a pessoa em questão.
  — Concordo, baby — eles sorriem em sintonia e se beijam. — E você? Sente ou sentiu algo pela Ayumi ou alguma outra mulher? — retribui a pergunta.
  — Ayumi é bonita, confesso que, anos atrás, eu sentia uma forte atração por ela, mas isso passou a partir do momento em que eu entendi meus sentimentos por você — com a sinceridade de sempre, profere. Sinceridade esta que admira e ama.
  — Bom ouvir isso — confessa, fechando os olhos rapidamente e suspirando. — Se isso mudar, me fale, ok?
  — Será a primeira a saber caso eu enlouqueça. Porque só assim para que eu deixe de desejar você.
  — Ah, baby, você é tão… — emocionada, a mulher se aninha no corpo dele, depositando beijos no tórax do marido.
  — Se algum dia sentir atração tão forte por alguém a ponto de querer mais a outra pessoa do que a mim, por favor, me avise, baby — ele devolve o pedido e responde, ainda aninhada a ele:
  — Isso não vai acontecer, . Eu te amo.
  Acontece mais um beijo carinhoso e cheio de saudades.
  Eles ficam mais alguns minutos conversando e, no meio da conversa, menciona que está em seu período fértil e que, por não ter relações com mais ninguém, ela não estava tomando anticonceptivo ou qualquer coisa do gênero. Nem camisinha eles usaram. também não tinha dormido com ninguém desde a separação. Nem se atreveria. O guitarrista brinca dizendo que possivelmente em breve descobririam a gravidez do terceiro filho do casal. O que seria mais uma gravidez muito bem-vinda.
  Durante a conversa, o casal planeja o que farão após o retorno do casamento. A mídia noticiou bastante especulação sobre namoros entre e Pon, e Hayato e até mesmo especularam um possível namoro entre e Daiki, fotógrafo mais requisitado e famoso da Star. Com houve o mesmo. A imprensa adorava especular motivos fantasiosos para o término, não dando credibilidade ao real fato. O casal não quer lidar com isto agora, não quer lidar com a declaração de que voltaram e mais mentiras inventadas sobre os motivos do retorno do casamento. Já conseguem imaginar que tipo de invenção iriam dizer. No que eles se apegam no momento é o planejamento de uma segunda lua de mel.
  Quando se casaram, há três anos, não puderam sair da cidade devido a agenda apertada de ambos. Porém, desta vez a volta merece uma comemoração só os dois.
  E eles já sabem até para onde vão viajar.

[🌟]

  É a terceira vez que Ayumi perde a paciência e manda Hayato sair de seu apartamento.
  Por algum motivo ele havia descoberto que a mulher contou a verdade para . O que o homem não sabe é que Ayumi contou tudo.
  — Você é uma grande traidora, Kobayashi! Como pôde contar a ela? Hein? — berra Hayato, raivoso, andando de um lado a outro da sala.
  — Eu só fiz o que achei certo! — rebate, ofegante por estar gritando.
  — Ah, não me diga que teve dor na consciência? Que bonitinha… — debocha, retorcendo o rosto em uma careta. — Ninguém acredita no seu rostinho angelical, Ayumi.
  — Está me ofendendo, Hayato — alerta, engolindo em seco.
  — Você é tão podre quanto eu.
  — Cala essa boca!
  — Não tem o direito de se irritar — devolve, se aproximando dela que também está em pé. — Sabe perfeitamente que o que você fez com o guitarristazinho foi por vontade própria. Eu não te obriguei a nada.
  — Me convenceu a fazer aquilo, eu não queria… — ele a segura pelo pulso, sem usar força.
  — Cinismo é o seu forte, não é mesmo? — volta a debochar, rindo. — Como eu disse: você é podre, Ayumi. Não se isente da culpa que você tem. Fez aquilo porque quis também e não só porque eu sugeri.
  — Idiota… — ela se solta dele e caminha pela sala.
  — Sem contar o que fez aos filhos do casal. Eu me lembro bem… — Ayumi o encara. — Eles sabem o que você fez aos pequeninos?
  — Não e nem precisam saber.
  — Seria curioso se soubessem, não é? Vamos testar contar a eles…
  — Não se atreva, Hayato! — explode a modelo, indo até ele e ameaçando bater em seu rosto.
  — Ah, Ayumi — ele segura seu pulso novamente. — Você é muito tola.
  — Eu não contei a sobre você, disse que a ideia foi minha, tá legal?
  — Sei que está mentindo — ele a encara de cima para baixo. — Sei que não perderia a oportunidade de me dar uma rasteira.
  — Eu não faria isso, Hayato! Estamos juntos nessa, não é? — indaga, engolindo em seco, esperando uma confirmação dele.
  — Sorte que eu gosto de você.
  Hayato abre a boca, roçando os lábios no queixo de Ayumi, o gesto a faz suspirar, fechando os olhos. Ela não pode pensar com o coração agora, não pode, não deve e não vai.
  — Mas eu amo a — diz ele, cortando qualquer clima que pairasse no ar. Ayumi se recupera de seu transe.
  — Você é obcecado por ela — rebate, soltando-se dele novamente.
  — Eu a amo — repete não convencendo a modelo.
  — Não, Hayato, você não a ama — Ayumi sustenta seu argumento, arrumando sua postura e erguendo o queixo. — Você é obcecado pela . Há diferença.
  — E desde quando você sabe o que é amor? — desdenha, rindo.
  — Infelizmente, eu sei.
  Ela se vira de costas para Hayato para que ele não a veja agora. Seus olhos estão marejados, o choro preso em sua garganta.
  Ayumi gosta de Hayato.
  Durante esse último ano em que juntou forças com ele para separar e , ela tentou não se envolver emocionalmente com ele, já sabendo da índole errada que Hayato tinha. Mas, há algumas semanas vem percebendo que deixou de desejar como desejava antes. Tal desejo agora era por Hayato. Justo por ele, o homem mais idiota que conheceu na vida.
  Hayato abraça Ayumi pelas costas, beijando a área na região de sua nuca. Ela não tem nenhuma reação aparente, por dentro luta contra seus instintos de agarrá-lo de volta. Ele nunca seria dela de verdade, nunca se apaixonaria por ela. O homem estava realmente obcecado por e Ayumi não poderia mudar isso. Nunca.
  Mesmo assim, ela se rende a mais um sussurro dele em seu ouvido.
  — Vamos para o quarto, minha gostosa.

Capítulo 28 – Revanche

  Setembro de 2014…

  Uma semana se passa.
  A mídia ainda não sabe sobre o casamento entre e ter sido retomado, assim como não sabe que a traição era uma mentira armada por Hayato e Ayumi para separá-los. A notícia é de conhecimento apenas dos pais de ambos e dos amigos próximos que estão radiantes em saber que poderão conviver com o casal sem brigas e climas estranhos.
  Enquanto o irmão ainda não retorna de sua viagem de lua de mel com a esposa, vive um dia difícil dentro de sua própria casa. É uma sexta à tarde e seus sogros chegaram faz algumas horas. No momento, estão acomodados no quarto de hóspedes, enquanto ele e estão na cozinha preparando o jantar. Asuna brinca na sala sendo supervisionada periodicamente por seu pai.
  Em pouco tempo que está na casa, Koda, pai de , já mencionou cerca de quinze vezes sobre o modo como o casal cria sua neta, como arrumam a casa, como ensinam as coisas para Asuna e, até mesmo, como a vestem. Devido ao sucesso que a garotinha fez, sem querer, na internet, algumas marcas de roupas infantis entraram em contato tanto com quanto com para fazer parcerias entre eles. Até uma campanha fotográfica foi feita com a família reunida. Asuna se divertiu bastante durante os ensaios das fotos.
  Porém, na cabeça de Koda, era algo inadmissível toda a exposição da pequena.
   ouve a voz do sogro vindo da sala e se cala. Ele e estavam conversando justamente sobre as falas duras do homem a respeito deles. A mulher continua cortando os legumes, enquanto confere o cozimento do arroz e, ao fim, vai até a sala.
  — Papai! — exclama Asuna ao ver o pai surgir e sai correndo até ele, deixando o avô sozinho sentado no chão.
  — Minha pequena — a carrega e tem o pescoço agarrado pelos bracinhos da filha que lhe dá um beijinho no rosto.
  — O jantar está pronto? Estou com fome há algum tempo — reclama Koda, levantando-se do chão.
  — Se precisarem de ajuda, basta falar, — o tom usado por Nara é bem mais amigável, disfarçando a rispidez do marido.
  — Tudo bem, senhora Nara, já está quase pronto — responde o vocalista, ignorando o sogro e põe a filha no chão.
  — Está me ignorando, rapaz?
   apenas negou com a cabeça, sorrindo e caminhando de volta para a cozinha. Ele é seguido por Koda.
  — Há algo de errado, ?
  — Não, senhor Koda, nada errado — diz sem olhar para o mais velho. A presença deles deixa em alerta, ela segue cortando os legumes.
  — Você mente mal, — alfineta Koda entrando na cozinha. — Se tem algo de errado, basta falar.
  — Já disse que está tudo bem, senhor — solta o ar fortemente pelo nariz, controlando sua vontade de externar o que há de errado. Vendo o esforço do marido, tenta ajudá-lo.
  — Não há nada errado, papai, apenas coisas do trabalho e…
  — Estou falando com o — interrompe Koda de maneira grosseira. — É falta de educação interromper uma conversa em que você não está participando — o tom duro do pai faz sentir-se novamente com cinco anos de idade.
  — Também é falta de educação ser grosseiro desta forma — diz, se pondo instintivamente entre e o pai. Ele é encarado pelo sogro.
  — Que atrevimento, rapaz.
  — Não vou permitir que seja assim com a dentro da nossa casa — sustenta .
  — Amor... — larga a faca sobre o balcão e segura as costas de , que relaxa um pouco o corpo.
  — Assim como?
  — O senhor é autoritário e não sabe como se portar diante de uma mulher, ainda mais quando a mulher é a sua filha — Koda ri.
  — Vai me dizer como falar com minha filha agora, rapaz? Sério?
  — Só estou dizendo que não deve falar de maneira grosseira — tenta consertar minimamente sua fala anterior. No fundo, ele não quer discutir com o sogro e nem criar um mal-estar entre ele e . — Talvez se fosse…
  — Não me ensine como criar minha filha, ! — bastante alterado, Koda o interrompe, assustando que se encolhe atrás de . Essa reação da mulher deixa possesso com o sogro.
  — Não está vendo o que faz com a ? Ela já é adulta e, mesmo assim, tem medo de você.
  — Isso é ridículo — o outro ri em deboche. — Quando você for pai…
  — Eu já sou pai — diz, óbvio. — E eu ajo com minha filha de um jeito que a eduque, que a faça sentir vontade de estar perto de mim e não repulsa.
  — O que está insinuando, rapaz? — Koda se impõe, inchando o peito para falar com .
  — Eu estou dizendo que…
  — !
   o interrompe, puxando a cintura dele com força, o fazendo se calar e olhar para ela. está novamente trêmula, amedrontada e com a expressão de choro. Apesar de estar neste estado, a mulher empurra o marido para trás de si e enfrenta o pai.
  — Já chega vocês dois — sua voz sai mais tremida do que gostaria, mas ela se mantém firme. — Não quero que…
  — Você tem medo de mim, ? — indaga o mais velho, aguardando uma resposta negativa. É óbvio que ela não tem medo dele.
  — Nã-Não, papai — diz, sem convencer a ninguém, nem a si mesma.
  — Era óbvio que era exag…
  — Mas também concordo com o — ela o interrompe, forçando o pai a olhar para ela. — O senhor é sempre tão reativo a tudo que eu e a fazemos. Está sempre… reclamando.
  — Faço isso porque quero o bem de vocês, não seja burra.
  — Não fale assim com ela, senhor Koda! — exige , irritado. volta a tocar nele, calando-o.
  — Não posso mais dar minha opinião sobre o que vocês fazem?
  — Quando sua opinião é tóxica, não — engole em seco, sentindo breve arrependimento de ter exposto pela primeira vez o que acha do pai.
  — Me acha tóxico? Garota…
  — Não sou mais uma garota, papai — rebate , a mão quente de segura sua cintura com firmeza, em um claro sinal de que ela está indo bem.
  — Mas age como uma! — devolve Koda, esbravejando. — Finge estar em um casamento, está brincando de casinha com um homem que nem emprego tem!
  — Senhor Koda, não vou admitir que me ofenda dentro da minha casa! — enfurecido, dá a volta no balcão central, sendo seguido por a tempo de segurá-lo.
  — , por favor — fica na frente dele, as mãos sobre seu peito, empurrando-o para que não avance em Koda. O olhar raivoso dele recai sobre a mulher e sua raiva se dissipa parcialmente. — Papai — ela se vira para o mais velho, ainda na frente de . — Eu não estou fingindo estar em um casamento. e eu somos casados. Não usamos alianças à toa — ela mostra a aliança em seu anelar esquerdo.
  — Nem na igreja vocês entraram, não serve como…
  — Se e eu aceitamos um ao outro, vale sim. Claro que vale! — diz . — Nós nos amamos, amamos nossa filha e é isso que importa — Koda apenas resmunga.
  — Papai… — a voz infantil de Asuna toma conta do ambiente, fazendo os adultos olharem para ela.
  — Filha! — assusta-se , indo até a pequena e a carregando.
  — Ah, ela escapou de mim — anuncia Nara, entrando na cozinha. — Me dá ela, filha, vou levá-la para a sala — a mãe de carrega a neta e, antes de deixar a cozinha, diz: — Por favor, encerrem essa discussão.
  O pedido direto de Nara deixa todos pensativos por breves segundos. Até o momento que resolve encerrar definitivamente a discussão.
  — Não quero mais brigar, papai — afirma a mulher, voltando a ficar entre e o pai. — Mas também não posso deixá-lo se meter na minha vida. Sobre a criação da Asuna, apenas e eu temos o direito de opinar, um com o outro. Nós somos os pais dela — pontua. Koda abismado encarando a filha. — O mesmo vale para nossa casa e arrumação que fazemos nela e também para o nosso casamento que é válido sim. Eu me chamo , tenho o sobrenome do meu marido. Não é porque nos casamos apenas no civil que não seja válido.
  —
  — E, além disso, tem sim uma profissão — ela interrompe a fala do pai, puxando o ar para continuar falando sem chorar. — Ele é vocalista de uma banda famosa no mundo todo, ele é guitarrista, compositor, desenhista e um excelente pai para nossa filha. é o homem que eu amo, o homem que eu amei desde adolescente e que hoje é o melhor marido e pai que eu poderia pedir à vida.
  — Coelhinha… — sussurra , emocionado com as palavras dela.
  — Agora, se o senhor não aprova nossa vida do jeito que ela é agora, eu sinto muito, mas eu não quero e nem irei mudá-la apenas para agradá-lo.
  Koda está sem palavras.
  O homem não consegue rebater, não tem o que acrescentar e não tem mais forças para continuar discutindo. Ela abraça , enterrando seu rosto no tórax do marido, e chora todas as lágrimas que segurou até agora.

[🌟]

  Apesar de sua felicidade, não consegue esconder uma preocupação.
  Ele já havia voltado ao seu lar, com seus filhos e esposa, há cerca de dez dias. As novidades foram muitas, pelo menos na visão de seus filhos que lhe contaram absolutamente tudo que ocorreu em suas vidas nos meses em que o mais velho ficou longe de casa. ouve a cada história com atenção redobrada, ama ficar com os filhos e saber de suas, para alguns, “coisas de criança”, mas que para ele sempre era a melhor melodia.
   não está em casa.
  Hoje aconteceria o jantar com Hayato para esclarecer, de uma vez por todas, a história contada por Ayumi. A apreensão do guitarrista se deve ao fato de não saber como será a reação de Hayato ao ser confrontado. Ele pode ficar violento, assim como ficou quando o negou na época que ainda namoravam. também se questiona se ele deve ou não ir ao restaurante, apenas para conferir se está tudo bem, porém desiste e resolve seguir com o plano, ficando com as crianças, confiando plenamente em sua esposa.
  Já no restaurante, ocorre tudo como planejado.
  Hayato segue sem desconfiar que saiba do envolvimento dele na armação. Ela disse que, mesmo com Ayumi contando para ela sobre o ocorrido, que não acreditou na palavra da modelo e segue separada de . Assim é melhor. Caso Hayato descubra a volta dos dois, certamente não se abriria. E ele está começando a ceder.
  — Me conta, , o que você anda fazendo? Além de estar deslumbrante esta noite — indaga o homem, galanteador e levemente alcoolizado.
  — Estou seguindo a minha carreira normalmente, fiz alguns trabalhos para a Adidas, Dior e um serviço de streaming me chamou para um papel em uma série, mas eu recusei.
  — Ito atriz! Que maravilha! — exclama ele, animado com a ideia.
  — , Hayato. Ainda uso o sobrenome do .
  — Bobagem! — desdenha Hayato. — Deveria mudar logo. Quando sai o divórcio, aliás? — respira fundo antes de responder.
  — Não deve demorar — diz, simplesmente, e completa: — Mas isso não importa agora, quero saber de você, faz tempo que não nos falamos. O que anda fazendo?
  — Você sabe, né? — fala ele, retoricamente. se debruça sobre a mesa, prestando atenção no que ele diz. — Comandar jovens é difícil, todos cheios de ideias, sempre querendo inovar demais…
  — Achei que a empresa prezava por inovação, por ser uma empresa de mangá — deduz a modelo. — Seria o óbvio, não?
  — Sim, mas não do jeito eufórico que eles querem. Nossa! Isso me lembra os tempos de escola, todos agitados demais e sempre querendo mudar. Não tenho paciência para isso — ele ri com o próprio comentário, dando um gole no vinho dentro da taça, o olhar caçador penetrando os olhos de .
  — Você nunca gostou de mudanças, não é? — comenta, propositalmente.
  — Detesto! — concorda, rindo abertamente.
  — Me lembro do dia em que terminamos, você estava calmo, mas por dentro parecia querer explodir — pontua, o encarando.
  — Por que está falando sobre o passado agora, ? — pergunta, pondo a taça sobre a mesa. — Gostaria de relembrar outras coisas? — o tom sugestivo quase faz a mulher exibir uma careta de reprovação, que logo é contida por seu cérebro.
  — Hayato, eu…
  — Podemos ir para o reservado, se quiser — propõe, mostrando um sorriso safado.
  — Não, obrigada — dispensa. — Na verdade, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta sincera e quero, por favor, que me responda com sinceridade.
  — Sempre serei sincero com você, — a mulher segura outra expressão de repulsa que quase apareceu. Mentir é o que Hayato mais tem feito.
  — Você tem a ver com a armação que fizeram contra e eu?
  A pergunta foi direta e simples. Tão simples que faz Hayato soltar uma risada abafada antes de proferir outra mentira.
  — Claro que não, . De onde tirou isso?
  — Eu sei de tudo, Hayato, toda a verdade — ele ri.
  — Que verdade, ?
  — Pare de enrolar e conte o motivo de ter feito isso — tenta não chorar de raiva, o que é quase impossível diante do cinismo do homem diante dela.
  — Ayumi te contou isso? — debocha ele, recostando na cadeira e cruzando as pernas. — Ela odeia você, sua tola.
  — Não fale assim comigo! — exige. — E sim, foi a Ayumi quem me contou a verdade sobre sua armação chula. Você quase acabou com a minha família, seu imbecil! — ela grita, chamando a atenção das pessoas das mesas próximas.
  — É melhor irmos ao reservado, — Hayato tenta ludibriar a modelo na tentativa de fazer ela parar de gritar. Mas não adianta.
  — Não adianta tentar me enganar, Hayato, eu não acredito mais em você — ela se levanta, irritada, não era bem isso que tinha planejado.
  — Está envenenada pela Ayumi, , acorda! — Hayato a acompanha.
  — Estou bastante acordada — afirma com convicção. — Agora eu consigo ver o que você sempre foi e eu nunca enxerguei — o olhar que direciona a Hayato o assusta. Sua máscara tinha caído, ela sabe que ele está mentindo. Não há como consertar. — Você sempre tão gentil e educado, por trás escondendo uma pessoa traiçoeira e podre.
  — Vem comigo — Hayato dá a volta na mesa, segurando o braço de , que se livra de seu aperto.
  — Me solta! — exige ela, gritando.
  — Vem comigo, Ito!
  Hayato volta a segurar o braço dela com força, a arrastando por entre as mesas do restaurante. As pessoas seguem encarando a cena, achando tratar-se de uma briga de casal e resolvem não se envolver. Apenas um dos garçons se aproxima, perguntando se está tudo bem, e Hayato interrompe a fala de dizendo que estava sim tudo bem, nada demais. Ele a leva até a área reservada previamente por ele, onde há poucos casais, afastados uns dos outros. é jogada no sofá de couro, onde Hayato também se senta.
  — O que quer me arrastando até aqui? Vai me agredir e não quer uma plateia para isso? — ela o enfrenta
  — Eu jamais bateria em você, . O que acha que sou? Um monstro? — rebate ele, horrorizado com o pensamento dela.
  — Vai negar que armou tudo com a Ayumi? — repete , engolindo em seco. Ela está com medo de Hayato, pela segunda vez ele reagia assim. Talvez ela não devesse ir sozinha. tinha razão.
  — , eu amo você — declara-se, segurando a mão dela, que puxa de volta. — Eu fiz porque eu não aguentava mais ficar longe de você, eu…
  — Isso não é amor, Hayato! — a modelo se afasta um pouco para o lado, sendo seguida por ele que a segura forte pelo braço. — Se me amasse de verdade, não agiria assim. Você quase destruiu minha família por conta de um capricho!
  — Capricho? — Hayato a solta, passando as mãos pelos cabelos. — Só pode estar brincando comigo, ! Eu digo que te amo e você compara com um capricho? — o horror no rosto dele lhe saltando os olhos. — O que é amor, então? Daquele guitarristazinho de merda?
  — Não fale do meu marido! — defende , se impondo com o corpo ereto. — Sua máscara não durou muito tempo, não é? — agora é a vez dela se horrorizar com o descontrole dele. — Eu prezava sua amizade…
  — Prezava? — repete, torcendo o pescoço ao falar.
  — Sim — afirma . — Não ouse me ligar ou se aproximar de mim novamente. Nossa amizade acabou! — se levanta, mas tem o corpo puxado de volta por Hayato, quase sentando no colo dele.
  — Você nem me deixou explicar.
  — Não há o que você explicar, Hayato. Você já confessou a coisa horrível que fez, o que mais irá falar? Que foi por amor? — ela faz uma expressão de nojo. — Não me faça rir, Yoshida.
  — , me escuta — desesperado, Hayato percebe que perdeu a batalha, quiçá a guerra, e tenta um último suspiro de vitória.
  — Seja sincero pelo menos uma vez — pede ela, encarando-o, e sem esperar uma responde, completa: — Você, alguma vez, maltratou meus filhos? — Hayato arregala os olhos.
  — O que?! Jamais faria isso,
  — Pare de mentir! — ela engole o nó em sua garganta, juntando os fatos em sua mente. — Agora entendo o motivo de Fuyuki não gostar de você — pontua. — Sempre achei que fosse ciúme do pai.
  — Ele é uma criança, . Normal ele ter…
  — Fuyuki nunca mentiu — interrompe. — Agora consigo enfim entender o motivo desse desgosto. Aquele dia que você o levou à natação, o que fez com ele? — indaga com medo da resposta.
  Tal dia mencionado por ela a mulher não contou a ninguém, nem mesmo sabe sobre isso, tem medo da reação dele perante a o fato. Mas, o ponto era que Hayato levou Fuyuki à natação, há algumas semanas, quando não podia levar o filho. Pouco tempo se passou e recebeu uma ligação da escolinha dizendo que Fuyuki não queria entrar na piscina, chorava muito e dizia que queria ir para casa. Mesmo estando no meio de uma sessão de fotos, pediu um intervalo para buscar o filho. Antes de chegarem à agência Star, onde ele ficaria até a mãe terminar o trabalho, Fuyuki contou à mãe, aos prantos, que não queria voltar à natação nunca mais. não entendeu, Fuyuki sempre amou nadar, foi ensinado pelo pai desde bebezinho. Não fazia sentido. O real motivo não sabia, mas Hayato contou mentiras para o pequeno dizendo que os pais tinham se separado por causa dele, que ele era o culpado. Apavorado, Fuyuki não queria mais fazer nada a não ser ir para casa.
  — Ele amava a natação — prosseguia , se segurando. — O que você falou ou fez a ele? — refaz a pergunta.
  — Deve ter acontecido algo com os coleguinhas, , ele é pequeno ainda…
  — Hayato! — ela o chama a atenção. — Não subestime minha inteligência. Pare de mentir para mim. Diz tanto que me ama, que amor é esse que mente desse jeito? — confronta, furiosa com a possibilidade dele ter feito algo contra seu filho. — Você é um idiota mentiroso! Podre!
  — Está exagerando, foi apenas uma brincadeira que eu fiz…
  — Brincadeira? — sibila a modelo, levantando-se do sofá apenas para se afastar de Hayato. Se ficasse mais um instante próxima a ele, certamente o degolará. — Fique longe de mim e da minha família — volta a dizer, pegando a bolsa e, antes de se afastar, se vira novamente para Hayato. — A nossa amizade acabou aqui, não me procure nunca mais e, caso chegue perto dos meus filhos ou do meu marido novamente, eu não responderei por mim, está me ouvindo?
   não espera ele concluir, sai dali e o deixa sozinho.
  Algumas lágrimas caem de seus olhos enquanto caminha para fora da área reservada e depois do restaurante. É revoltante para ela saber que apenas agora, após tantos anos de amizade, ela perceba quem Hayato é de verdade. É difícil de engolir. pede um táxi e volta para casa ainda pensando em tudo que aconteceu. O jeito que Hayato falava, com desdém, era o que mais a revoltava. Fez bem em terminar a amizade, uma pessoa assim não é bom nem ter como amigo.
  Ela deixa seu corpo relaxar um pouco durante a viagem até em casa. Tudo que deseja é estar dentro do abraço de seu amado marido.

  No dia seguinte

  Ele não devia estar ali.
  Ninguém sabe para onde ele foi e nem o que pretende fazer. saiu de casa sem avisar à esposa para onde ia, deixou um bilhete dizendo que voltava logo e agora estava em Yokohama, na empresa onde Hayato trabalha. Normalmente ninguém podia interromper o trabalho de Hayato Yoshida se não fosse um cliente importante ou o diretor da empresa. Mas, para sorte de , a nova secretária do chefe de produção é muito sua fã e de sua banda. Sem avisar, o guitarrista entra no escritório de Hayato, caminhando fortemente até sua mesa.
  — O que faz aqui, guitarristazinho? — indaga Hayato, levantando-se. Sem dizer nada, apenas dá a volta na mesa e soca o rosto dele. — Seu merda!
  O guitarrista é atacado por Hayato. Tentando se manter de pé, ele leva socos no rosto e estômago, mas também revida, socando o rosto de Hayato com toda sua força. odeia brigar, é um homem pacífico e calmo. Porém, não tem sangue de barata. Justamente por isso que está ali batendo em Hayato. O que lhe contou ontem o deixou possesso de raiva. Saber das coisas que seu filho ouviu daquele calhorda o enojava e o fazia sentir uma vontade de matar o autor de tais absurdos. Sem contar a reação agressiva que o outro teve ao ser confrontado por .
  É preciso que a segurança invada o escritório para tirar de cima de Hayato que levava socos e mais socos do guitarrista. O chefe de produção berrava para que chamassem a polícia para prenderem por agressão, mas antes mesmo disso acontecer, o guitarrista deixa o prédio com uma sensação de satisfação imensa e um sorriso no rosto.

Capítulo 29 – Renovação

  Toda a imprensa já sabia da volta do casal .
  Eles optaram por fazer um pronunciamento único no Instagram, através de uma foto legendada, que o casamento havia sido retomado e só teria acabado por conta de uma armação feita por terceiros, sem mais detalhes. Claro que houveram especulações sobre os autores da armação, alguns mais fantasiosos que os outros. Até Pon sobrou como culpado da separação, tendo que se pronunciar a respeito. Em relação aos fãs da banda e da , o cenário foi dividido. A maioria geral ficou feliz em saber do retorno do casamento, torcem pela felicidades do casal. Porém, outros ficaram levemente recalcados com a notícia. Com isso, algumas das mensagens ofensivas que recebia no início do namoro com retornaram.
  Mas, com a mente mais madura, a mulher ignora todas elas, focando em seu casamento e carreira apenas.
  Por falar em sua profissão, está se preparando para uma nova campanha. O produto da vez é um hidratante corporal. A ideia dada pela produção é de estar sem roupa, coberta apenas por um lençol para mostrar o efeito de maciez deixado pelo produto. está de folga da banda hoje, portanto ele foi até a Star a sessão de fotos. Ao contrário da última vez que presenciou a esposa, que na época era sua noiva, o guitarrista se comportou apenas admirando a desenvoltura dela na hora das fotos. O fotógrafo não era o Daiki, pois o homem, que virou amigo de , estava viajando para um trabalho importante.
   estava sentado tirando fotos de quando o fotógrafo pediu cinco minutos de intervalo para ir ao banheiro. Nesse meio tempo, aproveita para falar com o marido.
  — Está tirando fotos minhas também, baby? — indaga ela aproximando dele e depositando um beijo demorado em seus lábios.
  — Preciso abastecer meu acervo particular — explica ele, dando lugar para sentar-se ao seu lado, ela enrolada no lençol. — Passei meses sem você, preciso disso — lança um olhar sugestivo para a esposa, que ri com o comentário.
  — Mais tarde iremos resolver seu probleminha.
  — Podemos resolver agora — ele puxa o rosto dela, mordiscando o lábio inferior da esposa.
  — Depois, , depois.
  Eles riem com cumplicidade e nem notam a aproximação de Ayumi.
  — Vejo que se acertaram — diz a modelo, recebendo o olhar suspenso do casal .
  — Ayumi — lança sem emoção.
  — Que bom que apareceu, Ayumi, precisava mesmo falar com você.
  Ayumi enruga a testa, sem entender o que a outra tinha para falar com ela. Distraída, não nota quando levanta-se e lhe estapeia a face. O movimento de seu corpo faz o lençol que a cobre cair, mas é mais rápido e o segura antes que deixasse a esposa desnuda.
  — Baby! — alerta o homem, já de pé atrás de .
  — Ficou louca? — a modelo põe a mão no rosto, ardendo pelo tapa.
  — Isso foi pelo que fez aos meus filhos, sua falsa maluca! — berra sendo controlada por , que envolve seu outro braço na cintura da mulher.
  — Amor, calma.
  — O que eu fiz?
  — Ah, você não lembra que quase criou uma intriga entre meus filhos? E pior: quase matou a Sayuri provocando aquele acidente — só agora se dá conta do que falava. Ele havia contado que Fuyuki lhe disse a verdade sobre o dia em que a irmãzinha se machucou.
  — Eu não…
  — Não diga que não teve intenção, você sabia perfeitamente o que fazia! — grita . As pessoas em volta ficam sem entender o contexto, mas sabem que não agiria assim sem motivo. — Irresponsável!
  — Mas ela não se machucou tanto assim — defende-se Ayumi se afastando de . A mulher parece uma leoa prestes a atacar.
  — Eu deveria…
  — , fica calma, baby — repete ainda segurando a esposa. — Ayumi, vai embora! — ordena, irritado.
  — , você sabe que eu não quis machucar a…
  — E o que queria então? — rebate o homem. — Me conquistar machucando a minha filha? Você é inacreditável, Ayumi!
  — Desapareça da minha frente antes que eu destrua seu rosto! — tinha guardado toda sua raiva para esse tapa. E faria muito mais se não a estivesse segurando. — Que sirva de alerta, Ayumi, não haverá uma segunda oportunidade para machucar meus filhos.
  — É uma ameaça?
  — Óbvio que sim.
  Nada mais foi dito. O fotógrafo retorna do banheiro, notando o clima pesado no ambiente e vê Ayumi deixar o estúdio. abraça , ainda segurando o lençol, e tenta acalmar a mulher que segue furiosa. Ele pede ao fotógrafo mais cinco minutos para que se recupere e a leva ao camarim. Chegando lá, o homem lhe faz uma massagem nos ombros.
  — Precisa se acalmar, baby — alerta o guitarrista, massageando os ombros dela.
  — Se ela se atrever a chegar perto dos nossos filhos, eu irei fazer aquilo que quis fazer quando ela ficou falando sobre o quão interessante você era na cama, ! Estou falando sério.
  — Calma, não precisa fazer isso — ele solta uma risada abafada.
  — Paciência tem limite, !
  — Hmmm, ela tá bravinha, minha baby — abaixa o rosto, mordendo a bochecha dela.
  — Idiota! — ri, batendo nas pernas dele.
  — Mais tarde eu te mostro algo que te fará feliz, tá?
  — Hm, o que é?
   sussurra no ouvido dela o que fará, arrancando um largo e safado sorriso da esposa.
  — Acho que vou terminar de uma vez essa sessão de fotos para irmos logo para casa.
   gargalha e vê a mulher se levantar, segurando o lençol, e deixando o camarim arrastando o marido consigo
  Mais tarde haveria mais uma noite de amor do casal .

[🌟]

  O trânsito de uma quinta à tarde em Yokohama continua meio caótico.
   havia se esquecido o quão complicado seria se deslocar de Tóquio até a cidade vizinha no meio da tarde, porém foi o único tempo disponível que teve. viajou cedo para Kamakura a trabalho. tinha ido com ela, deixando com Asuna. O mais velho estava em casa com sua filha, pensou em levar as crianças para reverem a prima e o tio, mas a ideia de levá-los para ver os avós maternos lhe pareceu melhor. Mesmo andando lento, para o seu gosto, retornar à cidade lhe trouxe lembranças boas da época em que namorava a . Tantas vezes ele fez este mesmo percurso somente para vê-la.
  O guitarrista estaciona o carro em frente à garagem da casa dos sogros, buzinando para indicar sua chegada. Ao ver a figura do vovô Akira surgir pelo jardim, as crianças gritaram felizes ainda de dentro do carro. desce do veículo, abrindo a porta traseira para retirar os filhos dali, um de cada vez, e é surpreendido pelo cutucão do sogro em suas costas.
  — Vamos finalmente tomar aquele vinho que comprei, meu genro? — interroga o mais velho, brincalhão.
  — Claro, senhor Akira! — diz também animado. — Pretendo dormir aqui se não for incômodo.
  — Nunca incomodam, são sempre bem-vindos. Sabe disso, ! — garante Akira e vê os bracinhos da neta estendidos para ele. — Ahhh, Sayuri, como está grande!
  — Está, não é? — brinca , tirando a filha do carro e entregando para o avô. — Vem, filho.
   carrega Fuyuki e o coloca no chão para poder pegar as malas no fundo do veículo. O pequeno segura a mão do avô e caminha, olhando eventualmente para trás, vendo o pai tirar as malas e carregá-las andando atrás dele. viria na manhã seguinte e eles passariam quase o final de semana inteiro na cidade, retornando no sábado para que pudesse fazer o show de domingo em Tóquio. No meio de sua caminhada, ainda no caminho que corta o jardim frontal da casa dos sogros, sente seu celular vibrar em seu bolso.
  — Ichiro-kun? — indaga ao homem ao atender, repousando uma das malas ao seu lado.
  — , será que pode me ajudar? Não sei mais o que fazer — o tom do jovem, que hoje está próximo de fazer 25 anos de idade, soou desesperado, aflito demais para o gosto do guitarrista.
  — O que houve?
  — Soube pelo papai que estaria em Yokohama hoje, é verdade?
  — Já estou aqui na casa de seus pais, vem amanhã. Mas, o que aconteceu pra te deixar tão aflito assim?
  — A Harumi está estranha comigo, mas nem é isso que está me afligindo agora, será que tem como vir aqui?
  — Na sua casa?
  — Sim, eu te passo o endereço.
  Explicando com brevidade a situação para os sogros, deixa as crianças com eles e vai ao encontro de Ichiro. Ao chegar no apartamento que o jovem divide com a esposa, se impressiona com o caos instaurado ali. Caminhando até o centro da sala, nesse curto trajeto, ele nota que há roupas molhadas sobre o sofá misturadas com as roupas que aparentemente estão limpas. No chão perto da cozinha ele vê água empoçada e uma espuma perfumada em cima.
  — Ichiro, o que houve aqui? — indaga com medo da resposta.
  — A máquina de lavar deu algum problema, não sei o que houve, me ajuda, ! — implora Ito, angustiado e já pensando na bronca que levará de Harumi.
  — Onde está a máquina?
  — Na área de serviço.
  Os dois vão até o local, passando pela cozinha encharcada de água e sabão, agradece mentalmente por ter tirado os sapatos e as meias antes de entrar. Chegando na área de serviço, ele vê a máquina de lavar ainda funcionando e expelindo mais água e muito mais espuma, uma quantidade absurda. puxa a tomada do objeto e a joga em cima do balcão que há perto.
  — Caramba, Ichiro, não me diga que todas aquelas roupas que estão na sala estavam aqui dentro? — vira o rosto para olhar o cunhado e encontra a expressão de culpado dele, um sorriso amarelo estampado. — Ichiro!
  — Não é assim que lava? Eu sempre via a mamãe lavar muitas roupas e nunca deu problema — defende-se.
  — Certamente ela lavava aos poucos — deduz sacudindo as mãos molhadas após mexer na água. — Ela lavava roupa quase todo dia, né?
  — Pensando bem… sim, era quase todo dia mesmo — recorda-se ele. — Mas eu tive que lavar tudo, pois Harumi me pediu para lavar todas.
  — Quando ela te pediu isso?
  — Ah, não sei, há duas semanas, acho — Ichiro coça a nuca.
  — Duas semanas? Tem roupas de duas semanas aqui? — repete, incrédulo.
  — Ela vai ficar furiosa — lamenta-se o jovem, resmungando em seguida.
  — Era pra você ter lavado aos poucos, garoto — diz o óbvio. — Talvez seja por isso que a Haru-chan está estranha com você.
  — Por que eu não lavei as roupas?
  — Claro — mais uma vez fala como se fosse algo óbvio. — Por exemplo, sua irmã fica possessa toda vez que eu me esqueço de fazer uma tarefa em casa e isso desencadeia coisas erradas.
  — A onee é brava mesmo, igual a Haru — eles riem.
  — Mas, falando sério, você tem feito as tarefas que ela te diz pra fazer?
  — Chego sempre cansado do trabalho, aos fins de semana eu só quero deitar e jogar videogame e…
  — Perguntei se você faz as tarefas, Ichiro — diz como se tivesse falando com um de seus filhos.
  — Confesso que não — admite. — Ah, oi, garoto — Ichiro se surpreende com o enroscar em suas pernas do gatinho frajola que ele e Harumi adotaram recentemente.
  — Oh, quem é esse rapazinho? Ou mocinha — indaga , mudando a expressão.
  — Fuji. É um macho.
  — Deu o nome do monte pra ele? Criativo — o guitarrista ri. — A criatividade para nomes de gato é de família, então.
  — A onee consegue me superar — eles riem novamente. — Bom, , você pode me ajudar com… sabe… — ele aponta com a cabeça para a bagunça que está na área.
  — Ajudo, mas não estarei aqui todo dia, nem em Yokohama eu moro — alerta , risonho.
  Ichiro sorri sem jeito e põe Fuji no chão da sala sendo seguido por . Olhando mais minuciosamente, o guitarrista nota que a casa está precisando de uma faxina. Além de não lavar as roupas, Ichiro negligenciou as pequenas tarefas como passar pano nos móveis, aspirar o chão, catar as roupas limpas do varal, coisas básicas. não planejava passar parte de sua tarde limpando o apartamento do cunhado e ensinando algumas lições de vida para o jovem, mas fez de bom grado. Ichiro é como um irmão para ele e o homem sabe que ele não fez por mal, apesar de não concordar com a displicência do Ito. Após boa parte do apartamento estar limpo, incluindo o caos da área de serviço e cozinha, dá mais alguns conselhos valiosos para Ichiro.
  — Acho que daqui em diante você consegue terminar, né? — pergunta , enxugando a mão em um pano de prato e o pendurando no suporte.
  — Consigo sim, , muito obrigado — Ichiro curva o corpo para agradecer.
  — Não exagere — ele levanta os ombros do jovem. — Mas, me escute: a Harumi deve estar cansada de te falar para fazer as coisas, apenas faça sem ela mandar, ok? Deve ser cansativo para ela chegar todos os dias do trabalho, depois de ter ido para faculdade, e encontrar a casa bagunçada, as tarefas acumuladas — Ichiro encara com atenção. — Ela é sua esposa e não sua empregada ou sua mãe, entendeu?
  — Sim, , eu sei disso.
  — Então aja como tal, você é marido dela,seja o marido dela.
  — Obrigado, , obrigado — ele volta a agradecer, envergonhado pelo sermão, mas grato pelas palavras.
  — E, qualquer coisa, conversem. Chame ela para conversar e sejam sinceros um com o outro, ok? — Ichiro apenas assente, sorrindo.
  O conselho caiu como um tapa em Ichiro, um choque de realidade que o garoto precisava ouvir. Tudo que Harumi queria falar para o marido, mas não tinha forças e paciência para dizer, apenas deixava ele descobrir sozinho. Mas, Ichiro é um pouco lento nesse sentido, precisando vir alguém de fora da relação para lhe abrir os olhos. deixa o apartamento do cunhado com a esperança de que agora dará certo e que Ichiro tomará um rumo diferente em seu casamento e convívio com a esposa. Foi difícil para o próprio no início do casamento com também, mas aos poucos e com muita conversa eles foram se acertando.
  Em resumo, a vida de casado é assim, baseada em conversa e regada com muito amor para dar certo.

Capítulo 30 – Órbita perfeita

  Duas semanas depois…

   firma seus passos ao caminhar pelo backstage.
  Os últimos shows foram monótonos para o guitarrista sem sua esposa no camarim lhe esperando ao fim de cada um, era seu combustível. Mas, agora que retomaram o casamento e estão bem de verdade, tudo voltou à sua órbita perfeita. O homem abre a porta do camarim, vendo-o cheio de rostos amigos, família. Asuna, Fuyuki e Sayuri correm por debaixo das pernas dos adultos que estão de pé, como se estivessem em um labirinto, gargalhando cada vez que se esbarravam e caíam de costas no chão. e estão conversando, rindo perto da mesa do fundo enquanto bebem suco de limão. e conversam animados com os outros integrantes. E, mais ao canto esquerdo do local, está que dá conselhos para Ichiro e Harumi, que melhoraram a relação após a conversa do jovem com o cunhado, mas ainda precisam acertar alguns ponteiros.
  Para , ver o camarim cheio assim é o correto. É o mais o deixa animado antes de um show.
  Hoje é um dia temático e único, até então, na carreira da banda.
  Eles estão em um parque aquático. Há um espaço festivo com um grande palco, que é usado em algumas apresentações do parque. Será ali o local do show. dá um beijo em sua esposa ao mesmo tempo que o produtor do evento chega com as fantasias que irão usar. A ideia é promover a nova atração: as focas treinadas. Para isso, a Flow fará um show vestidos à caráter.
  — Papai foca! — grita Fuyuki rindo ao ver o pai com uma fantasia de foca que lhe cobre todo o corpo. O guitarrista tem as pernas agarradas pelo filho e o carrega no colo.
  — Estou bonito?
  — Tá sim, papai — Fuyuki sorri com o dedo na boca e abraça o pescoço do pai.
  Todos da banda estão adoráveis fantasiados de foca, e os outros que não participarão do show riem com a fofura transmitida por eles. Os integrantes da Flow vão para o palco e iniciam o show. A vibração do público segue a mesma: bem alta. Mas para há um sabor especial no show de hoje, além de ser o primeiro que conseguiu vir após voltarem a morar juntos, há outra coisa que ele gostaria de compartilhar com seu público.
  No meio do show, como já haviam combinado, interrompe o som e cede a palavra para o irmão que pega o microfone para iniciar seu pequeno discurso.
  — Prometo que não irei me estender — diz ele, suando por conta da fantasia quente. — Quero chamar ao palco uma pessoa muito importante para mim, alguém que me fez rever minhas vontades e perceber o que era o amor. — ele chama a esposa e ouve-se a explosão do público, que grita feliz, em sua maioria, com a entrada da modelo. — Oi, baby — sussurra o guitarrista ao abraçar a esposa.
  — Oi, foquinha — brinca ela, sussurrando de volta e é abraçada pelos ombros, segurando a mão livre do marido.
  — Como todos já devem saber, e eu passamos um tempo separados, tenebrosos meses, confesso — ele ri sem humor. — Mas que serviram de lição para mim, creio que para também — aponta para a esposa que concorda com um gesto de cabeça. — Ficar longe um do outro nos fez enxergar mais do que nunca o quão importante somos um para o outro e o quão bem fazemos para nós, a família linda que construímos e todo o amor que sentimos. Não vou me estender sobre o motivo de nosso término, tudo já foi esclarecido, mas quero deixar público o meu pedido de perdão a minha esposa.
  — Baby… — se vira para ele, pondo a outra mão sobre o peito do guitarrista.
  — Mesmo que ela já tenha me dito que não precisa, eu quero pedir perdão por tudo mesmo que eu não tenha feito nada errado. Não fizemos nada errado a não ser acreditar nas pessoas, não é? — ele sorri para que lhe retribui, concordando.
  — Já passou, baby.
  — E, quero reafirmar que eu te amo, , para sempre e nada irá mudar esse amor — as palavras de emocionam a modelo que sente os olhos se encherem d’água e a impulsiona para beijá-lo.
  — Também te amo, baby.
  A declaração aquece os corações de todos que aplaudem o casal, principalmente os integrantes da banda que estão mais aliviados por saberem de toda a verdade e que agora está tudo bem de novo. agarra , apalpando as costas dela e descendo a mão até sua bunda.
  — , estamos no palco — alerta a mulher, longe do microfone, e vira de costas para que ninguém veja a cena.
  — Acho que vamos ter que transar de novo em um dos camarins vazios. Não vou aguentar chegarmos em casa, baby.
  — ! — ela ri, batendo no peito dele. — Se controle, foquinha.
  — Quando estivermos a sós, vou te mostrar a foquinha em ação.
  Ele mordisca os lábios dela e volta a beijar a esposa.
  — Ah, esqueci de uma coisa importante! — toma de volta o microfone de . — Posso falar, baby?
  — Pode — sorri, cúmplice.
  — Eu vou ser pai de novo!
  — Ohhh!
  Outra vibração.
  Mais um filho na família . abraça e desce o rosto até a barriga da esposa, beijando o local enquanto é aplaudido novamente. Ele a carrega no colo, meio desajeitado, e vê o brilho nos olhos da esposa, que segura seus ombros para não cair.
  Uma felicidade inexplicável percorrendo o corpo de e .
  Mais um mini planeta orbitando o casal.

[🌟]

  Arrepios e gemidos.
  Sensações que faziam falta na vida do casal . Deitados na cama, sem roupas, após mais um momento de prazer, proporciona a uma trilha de beijos como ele costuma fazer desde que tiveram a primeira vez lá em Paris, anos atrás.
  — Baby — chama a mulher, manhosa, mas segue tocando os lábios em seu corpo, deixando beijos molhados espalhados. — Tenho que te mostrar uma coisa.
  — O que? — ele ergue a cabeça, parado perto da virilha dela, curioso.
  — Deixa eu pegar meu celular — dá espaço para ela esticar o braço e pegar o aparelho na mesinha ao lado da cama. senta-se, ajeitando os travesseiros atrás de si e desbloqueia o aparelho. — Eu fiz há alguns dias, mas queria terminar antes de te mostrar.
  — Hm, estou curioso — também senta-se na cama, se cobrindo com o lençol e ajeita os cabelos com as mãos.
  — Aqui — ela estica o celular para o marido, mostrando o bloco de notas aberto com algo escrito. percorre o olhar atentamente pelas palavras. — É uma música, baby? — ele ergue brevemente o olhar para encarar .
  — Não é nada demais, apenas algo que fiz quando estava inspirada — a modelo fica envergonhada, não sabe dizer qual o real sentimento do marido sobre sua composição.
  — “Deixe brilhar no passado, presente e futuro com esta luz do amor…” Isso é lindo, baby! — anima-se ele, sorrindo, e alivia o coração de .
  — Sério? — pergunta um pouco receosa.
  — Claro! Ah, espera!
   deixa o celular na cama e levanta apressado sem notar que ainda está sem roupa. sorri com a visão traseira do marido e o vê pegar o violão dentro do armário. O guitarrista retorna para a cama, arrumando o corpo para abrigar o violão em sua coxa e começa a dedilhar algumas notas.
  — Tome — ele dá o celular dela de volta. o segura. — Cante quando eu disser já.
  — Eu? Cantar? — arrega o olhar.
  — Sim, baby — está com a atenção voltada para as cordas do violão, ajustando algumas folgadas antes de continuar dedilhando.
  — Mas eu não sei cantar, baby.
  — Basta seguir o ritmo que eu tocar, eu amo sua voz, ficará perfeito, amor.
   solta um beijo para incentivá-la e volta a dedilhar. As notas não parecem boas o suficiente para a letra feita por ela. Alguns minutos trocando as notas e combinando as que mais gostou, finalmente tem o início da melodia e dá o sinal para que o acompanhe.
  Então, ele começa a tocar.

“Nosso encontro inestimável
Deixe brilhar no passado, presente e futuro com esta luz do amor
Estaremos conectados
Com o passar do tempo, nenhuma mudança,
Nem o direito de viver nem a vida
Ele se espalha

Se você está triste, divida ao meio; Se você está feliz, multiplique por dois
O fio que compartilhamos e giramos é o nosso vínculo…”

   está com vergonha por cantar desafinada, mas está dando seu melhor para transmitir a música que fez para seu marido, sua família, representando o amor que sente por eles que é inquebrável. Nem mesmo uma grande intriga foi capaz de destruir o que sentem.

“Os milhares de links coloriram lindamente meu mundo
Porque você estava lá, estou caminhando agora pelo caminho do meu sonho
Foi concedido? Foi coincidência? Foi inevitável? Seja o que for, vamos!
Obrigado por esta oportunidade maravilhosa

Uma conexão querida
Os milhares de fios se entrelaçam conectando-se às infinitas possibilidades do meu universo
Vou pular ainda mais alto porque você está aqui, minha estrela brilhante número um.”

  O casal passa a madrugada daquela noite pós show aprimorando a música que fizeram juntos: na composição e na melodia. Normalmente a parceria do guitarrista era com seu irmão ou até mesmo com , mas ele adorou fazer sua primeira música com sua amada . Gratificante.
  No dia seguinte, empolgados pela novidade, o casal ligou para os outros integrantes da Flow, os convidando para irem até a casa deles. Ao chegarem lá, foram recebidos pela grande novidade da música nova. De cara, a acharam incrível e bateram o martelo que será o novo single do próximo EP que irão lançar. e aprendem a letra e cantam ao som de . Iwasaki cria batidas para acompanhar e Gots faz sons com a boca para simular seu contrabaixo. A música está quase pronta, só precisam gravar e lançar nos streamings.
  Tudo está perfeito novamente, voltando a dar alegria ao guitarrista após um ano bastante difícil longe de sua baby. Como diz a letra da música escrita por ela: “Vou pular ainda mais alto porque você está aqui, minha estrela brilhante número um.”
   sente-se assim: capaz de ir muito mais além, explorando o universo que criou com sua , porque sua maior estrela está novamente ao seu lado, brilhando com sua luz e iluminando sua vida.

“Tenho certeza do que temos
Não consigo contar
Sonho que me tornei realidade
Não se preocupe, seja feliz, está tudo bem!”
– AMBIENCE, FLOW –

Continua em “Ambience”

CONTINUA EM AMBIENCE



Comentários da autora


  N/A: Oiee!
  A terceira fase de MICROCOSM chegou ao fim, estamos na METADE da história. Sim, você leu certo, faltam mais 30 capítulos pra acabar. Coisa pouca kkkkkkkry ~eu que lute~ Vim anunciar que só irei atualizar agora quando eu conseguir organizar a quarta fase da história, já que haverá acontecimentos que requerem atenção de minha parte, peço que não me abandonem, please <3 Prometo que volto assim que começar "Ambience", tá?
Caso queiram me acompanhar nesse processo, me segue no insta que sempre to postando o dia a dia de escrita hehe
  Beijinhoooos e agora um recadinho do "baby" pra vocês:

  Recadinho do Take: "Olá! Que bom que estão lendo minha história. Espero que estejam gostando. Eu sei que está longa, mas de agora em diante iremos ~a autora e eu~ falar sobre o que aconteceu em minha vida ao lado de minha baby e nossos filhos com eles já crescidos. Criar três filhos não é fácil... ainda aconteceram algumas coisas a nível mundial que puta merda, nos distanciaram, mas tudo ficará bem, né? Vai sim, não se preocupem! Vejo vocês em 'Ambience' e, por favor, se puderem deixar um comentário aqui pra dizer o que estão achando, nossa família agradece.
  Beijos do Take-chan!"