MICROCOSM | Ambience

Escrito por Li Santos | Editado por Lelen

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Capítulo 31 – Planets Align

  Janeiro de 2019

  Cinco anos se passaram, a família segue feliz, fortalecida e unida.
  Bem, nem tão unida assim. Mas, vamos explicar brevemente o que ocorreu para que possam entender. Algumas semanas após a reconciliação de e , a mulher descobriu a gravidez de seu terceiro filho, no qual nomeou Akira em homenagem ao seu pai – que aliás ficou bastante lisonjeado com a homenagem da filha. Hoje, o garotinho está com 5 anos, tem cabelos pretos iguais aos do pai quando mais novo, os fios caindo em seus olhos em uma vasta franja. Sayuri, a filha do meio, completou 7 anos, continua uma criança alegre e sonhadora com seus longos cabelos e uma franja arrumadinha em cima de seus olhos. Meiga e gentil com todos, Sayuri não consegue ver os defeitos das pessoas, pelo menos não costuma falar para elas sobre. A garotinha gosta de coisas que combinam com a personalidade dela. Por isso que seu quarto é inteiramente rosa, cheio de pelúcias de unicórnios e outros bichinhos adoráveis aos olhos da pequena . Sua grande paixão – e orgulho – é ter ganho do padrinho um conjunto de cama cheio de nuvens estampadas nas cores azul e rosa. Além, claro, de uma almofada em formato de nuvem sorridente. A cara da Sayuri. Já o filho mais velho do casal, Fuyuki, completou 8 anos, cortou os cabelos recentemente e os usa para cima com um topete na frente. O garoto, ao contrário do que era aos 4 anos, tornou-se mais frio, calado e às vezes inexpressivo. Fissurado por astronomia, Fuyuki decorou seu quarto com tudo do tema. Miniaturas de planetas, luminárias que simulam a Lua, roupa de cama da galáxia, mini telescópios e lunetas para observar as estrelas à noite. Ele ainda frequenta o ensino fundamental, uma série à frente de sua irmã, mas já se interessa por matérias da área da Física e Astronomia e até algumas biológicas.
  Bom, a parte onde a família não está unida em sua totalidade se dá pelos irmãos Fuyuki e Sayuri. Ambos vivem em pé de guerra, discutindo por qualquer coisa e, por vezes, brigando fisicamente. Isso reflete nos pais dos dois. , 38 anos e mais duas tatuagens de tulipa, tenta se manter passiva e não tomar nenhum lado, ninguém está certo ou errado no momento da briga. Os dois filhos recebem o castigo adequado. O mesmo não ocorre com . O homem, que completou 40 anos, em quase todas as brigas entre os filhos, toma o lado de Sayuri como o certo pelo fato dela ser mais nova.
  Na cabeça do guitarrista, ele tem uma dívida com a filha.
  Quando Sayuri nasceu, não acompanhou seu nascimento, com isso ele tenta compensar essa “falta” mimando-a de todas as formas. O problema é que ele acaba negligenciando, ainda que sem consciência, o filho mais velho. Quando Fuyuki era pequeno não percebia essa diferença de tratamento do pai, mas hoje ele percebe. E isso o magoa. Consequentemente, essa diferença de tratamento o afasta do pai, não porque faça propositalmente, mas porque Fuyuki não quer mais. Mais novo, ele adorava o pai e tudo que lhe lembrava o mais velho. Hoje, já não faz diferença pro maduro Fuyuki.

OFF
Ainda ocorrem cenas eventuais onde Fuyuki deixa sua armadura, criada por ele mesmo, cair brevemente para ser fofo com o pai, o chamando de papai. Mas, dura poucos minutos e logo ele volta a chamar apenas de pai.

  “Mas, e a relação entre Fuyuki e seu irmão mais novo, o Akira?”
  Vide o relato da raiva incontida do mais velho sobre a irmã, podem achar que o mesmo ocorre com o mais novo. Mas não. Fuyuki não tem raiva de Akira justamente por ele ser apenas uma criança de 5 anos, inocente. Aos olhos de Fuyuki, seu pai foi “roubado” pela Sayuri e isso o enfurece internamente. Intensamente.
  A grande novidade na família é que o casal segue com os preparativos para seu casamento. Isso mesmo, eles irão se casar novamente. A ideia é realizar uma nova cerimônia para comemorar os 8 anos de casados com direito a Akira entregar as alianças. O pequeno está bem animado com a função no casamento dos pais e não fala de outra coisa na escolinha com os amiguinhos e professoras.
  Hoje é terça-feira, Sayuri está em seu quarto sentada em frente a sua mesa de estudos, haverá uma prova importante amanhã e ela precisa estudar. Sayuri não é uma má aluna, bem comportada, estudiosa, tira boas notas, mas essa matéria é a sua perdição. Definitivamente ela odeia História.
  — Não acredito que você falou aquilo pra ele, Sayuri!
  Fuyuki invade o quarto da irmã, arreganhando a porta que estava encostada e assustando a garota. Sua expressão irritada a assusta ainda mais.
  — De quem está falando? — indaga ela, o lápis parado no ar ainda em sua mão e o olhar arregalado virado para o irmão.
  — Kenji Sato! — ele diz, simplesmente, e Sayuri levanta-se rapidamente da cadeira ainda mais assustada.
  — Co-Como soube? — a menina larga o lápis no chão e aproxima-se do irmão.
  — Aposto que foi o idiota quem espalhou por toda a escola, sua tonta.
  — Não fala assim comigo! — briga.
  — Não estou mentindo, sua tonta! — rebate o mais velho, dando um passo à frente e ficando mais perto da irmã. — Você sabe que o Kenji é um idiota e como ele se age com garotas como você.
  — O que quer dizer? — Sayuri sente o coração acelerar erroneamente.
  — Ele não gosta de você, só quer sua ajuda pra passar de ano. Só a baka nika que não enxerga — baka nika refere-se a “estúpida”.
  — Cala a boca! Sai do meu quarto!
  Sayuri o empurra para fora e sente algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Kenji Saito é um garoto da mesma turma que ela, mais um ano mais velho, por quem Sayuri é apaixonada. Claro que é uma paixão de criança. Kenji é o tópico garoto popular entre as garotinhas do colégio e se aproveita de sua singela fama para conseguir coisas delas. De Sayuri, ele pediu um trabalho que vale boa parte da nota do semestre, o professor deu tempo para todos fazerem um bom trabalho, três meses é o suficiente. Mas, Kenji não quer perder esse tempo, por isso pediu para Sayuri, que ele sabe ser gamada nele, para fazer o trabalho dele. Agora, a pequena filha de está presa tendo que construir dois trabalhos de História: a matéria que ela mais odeia.
  Fuyuki vê a irmã deixar o quarto, ainda chorando, e vai atrás dela. As portas dos cômodos ficam de frente uma para outra, o que facilita as provocações por parte de ambos. Sayuri chega à cozinha discutindo com o irmão. Lá, encontram o restante da família.
  — Hey, hey, mas o que está havendo agora?! — grita para que consiga ser ouvido pelos filhos. Ele está ajudando a esposa a preparar o jantar.
  — O Fuyuki, papai! — expõe Sayuri.
  — Eu? Não tenho culpa se você é burra, garota tonta! — rebate o garoto, furioso, e arrepende-se de ter xingado a irmã na frente do pai.
  — Como disse, Fuyuki? — deixa os legumes sobre a pia, enxuga as mãos no avental que usa e vai até o filho. — Repete.
  Poucas vezes na vida Fuyuki sentiu medo, porém toda vez que seu pai falava com aparente calma pra ele, o garoto tremia.
  — se aproxima do marido, tentando apaziguar. — Ele não quis dizer isso, não é, filho? — o olhar da mãe também o assustava às vezes.
  — Si-Sim — gagueja, engolindo a resposta desaforada que tinha para dar.
  — Por que estavam brigando?
  — Porque o Fuyuki é um chato! Ele foi ao meu quarto me atrapalhar, eu estava estudando — Sayuri emburra a feição, cruzando os braços.
  — Já disse pra não fazer isso, não disse, Fuyuki? — volta sua postura irritada com o filho. Postura essa que reacende a raiva do menor.
  — A Sayuri é uma mimada! — grita o garoto, de repente. — Culpa sua, pai!
  — Não fala assim com seu pai, Fuyuki! — se intromete, já farta das brigas entre os filhos e o marido.
  — Mas é verdade, mamãe!
  — Fale direito comigo, Fuyuki — exige , dando um passo à frente. Sua raiva só está aumentando.
  — Você mima tanto a Sayuri que ela virou uma boke! — xinga o garoto, raivoso.
  — Você sabe o que acabou de dizer, moleque?! — boke é usado para se referir a alguém, pejorativamente, insinuando que a pessoa tem raciocínio lento.
  — Eu falo como quiser! Você não manda em mim! — volta a gritar, peitando o pai, o mais velho se enfurece, pensa em fazer algo que se arrependeria, mas apenas berra com o filho.
  — Vai… vai pro seu quarto agora! ordena.
  Se arrependimento matasse, certamente teria caído duro sem vida no chão. Ele não queria gritar em seu filho, nunca fez isso com nenhum deles e não seria agora que começaria. Mas, a raiva pelas brigas dos filhos atrelada aos preparativos do casamento com e, ainda mais, a produção do novo CD da Flow estão tirando horas de sono e a paciência dele. O cansaço quase sempre o vence, o apagando em qualquer canto confortável ou não. Porém, por vezes, a raiva explode. Só dessa vez gostaria que ele estivesse apenas com sono.
  Fuyuki prende o choro e sobe as escadas até seu quarto, batendo a porta com muita força após entrar. Desde o episódio com Hayato, quando ainda tinha 4 anos, onde o homem o ameaçou, que o garoto não consegue demonstrar mais seus sentimentos, por medo de ser julgado como chorão e fraco. Pelo menos ele evita fazer, preferindo guardar tudo para momentos como esse onde ele está sentado no carpete em frente a cama, abraçando os joelhos e chorando baixinho para não ser ouvido.
  Talvez seja por isso que ele brigue tanto com a irmã, por ela ser emotiva demais, acaba chorando por pequenas coisas e é vista como boba e fraca. Fuyuki não quer ser taxado assim e, muito menos, que rotulem sua irmã dessa forma.
  De um jeito idiota, Fuyuki quer proteger a irmã.

  Duas semanas depois…

  Hoje é o casamento de e .
  A cerimônia é para comemorar os cinco anos de casados e os muitos que estão juntos. Todas as dificuldades que passaram, os meses separados que quase os matou de saudade, os momentos felizes e tristes. Tudo isso faz parte da vida deles em família e, para o casal, tudo era importante e merecia uma comemoração. Após a briga com o filho mais velho, o guitarrista da Flow pediu desculpas ao Fuyuki por ter gritado com ele, por ter se exaltado como ele nunca havia feito anteriormente. O menino não disse nada, apenas assentindo para o pai. às vezes queria que o filho não fosse dessa forma. Se lembra quando Fuyuki era pequeno e se aconchegava em seu colo, contando as coisas que tinha feito durante o tempo em que estava longe do pai. Ele se abria mais, confessava suas inquietações. Agora Fuyuki é fechado, sério e mal demonstra carinho pela mãe, com quem ainda fala uma coisa ou outra.
  Pra não dizer que ele não fala com ninguém de seu ciclo familiar, Fuyuki e seu padrinho tem uma relação de unha e carne.
  Em meio a todo o clima controverso vivido pelo casal , hoje é um dia especial. Ver o pequeno Akira carregar a almofadinha com as novas alianças está sendo um momento único em suas vidas. Até mesmo as risadas dadas por todos ao ver o pequeno correr do meio do caminho até o altar e cair derrubando as alianças no chão. Sorte que o padrinho estava em alerta e correu para acudir o pequeno.
  A cerimônia segue seu ritmo normal até o momento do beijo que sela a união entre e .

  Fevereiro de 2019

  Alguns meses se passaram e tudo parece igual.
  Igual por se tratar das mesmas pessoas e também pelas circunstâncias vividas atualmente após o casamento de e . O casal principal ainda tenta lidar com as brigas, cada vez mais frequentes, dos filhos mais velhos. e ainda vivem conflitos com o pai da mulher tentando influenciar na criação de sua neta Asuna. Os únicos que possuem novidades são o casal e . E esse é o assunto da conversa de agora.
  — Ainda estou impressionado — solta que está sentado ao lado de sua esposa no sofá do camarim.
  — Ih, vai começar… — prevê imaginando o que o irmão falaria.
  — O que foi dessa vez ? — indaga .
  — Você é tão distraído, cara, ainda não sei como conseguiu engravidar a .
  — Baby! Pelo amor de Deus! — diz , espantada e segurando o próprio riso.
   está grávida de sete meses, é a primeira filha do casal e se chamará Saki (flor de açúcar). Desde que conheci o amigo que brinca com o fato de ser meio, digamos, distraído. Os outros amigos, que estão reunidos no camarim de um grande festival em Tóquio.
  — , por favor — alerta o irmão mais velho, rindo da fala do mais novo.
  — Quando ele se concentra, faz coisas incríveis — revela , deixando o marido vermelho de vergonha.
  — Wow!!! — exclamam todos.
  — Meu Deus, estou imaginando! — diz com uma expressão de nojo com a imagem que lhe veio à mente. — Amor, me salva, me dá um beijo! — ele puxa para si, dando um beijo nos lábios da esposa. — Ufa, parei de imaginar!
  — Seu besta! — dá risada com a bobeira do marido.
  — Suas desculpas pra beijar a estão cada dia mais criativas, cara — comenta Iwasaki ainda rindo.
  — É meu jeitinho! — com uma piscadela, gargalha após e abraça a esposa.
   segue envergonhado com o comentário de , mas não pode negar sua distração e muito menos a parte de que quando se concentra consegue realizar coisas incríveis. Vide a satisfação de com o marido, ela realmente não tem o que reclamar dele.
  Talvez a toalha molhada em cima da cama, mas isso é só um detalhe.
   volta sua atenção para os filhos, que estão no camarim com os outros, pouco antes de subir ao palco para o início da apresentação da Flow, e os vê conversando. Fuyuki e Sayuri estão lado a lado na poltrona, ambos com a feição de vergonha, tímidos por estarem perto um do outro. O mais velho não consegue ouvir as palavras proferidas pelos filhos, mas imagina que estejam se acertando, se alinhando com dois planetas em seu universo.
  Mas, o que não sabe é que as brigas estão apenas começando e que assim como um eclipse o alinhamento é temporário.

CONTINUA...



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