ENTRE LOBOS E HOMENS
Escrito por Ray Dias | Revisado por Mariana
Nota de autora inicial: Essa é uma fanfic escrita em 2012 por mim, postada em outros sites anteriormente, agora, a história está entrando no Espaço Criativo sob nova revisão e edição. Para quem leu antes, há mudança de narrador e algumas cenas.
Playlist da história
Capítulo Um - A chegada
Quando era um pouco mais jovem e adolescente, sua melhor amiga, Bella, partiu da cidade de Phoenix. Foi morar com seu pai, em uma cidade que a própria detestava. , sempre otimista, muitas vezes dizia à melhor amiga que mudanças são importantes. Mudanças podem ser, muitas vezes, salvadoras. Mas para a atual, após alguns anos de experiências não tão felizes com mudanças de planos — as quais não foram planejadas —, esta visão otimista que ela outrora deu à sua amiga podia ser na verdade uma maneira de se enganar.
agora estava encarando um destino irreconhecível. Via-se no lugar de sua amiga, só que mais velha, formada, e com expectativas saudosistas de encontrar Bella. Mudanças, sejam elas salvadoras ou desastrosas, deveriam ser encaradas, e por isso não se apavorou com a grande diferença de cenário ao qual estava adentrando.
Forks. Uma cidadezinha terrível se comparada à Phoenix. Até mesmo para Isabella Marie Swan, que nunca fora fã do entusiasmo natural de Phoenix. , ao se deparar com o condado, jamais havia imaginado lugar tão monocromático.
Há três semanas ela havia chegado à cidade e conhecido Erick, quando o policial lhe ofereceu ajuda com a mudança ao passar em frente à sua nova casa. Erick não poderia evitar aproximação ao notar que alguém finalmente havia se mudado para Forks, e menos ainda ao notar que esta pessoa escolhera o pior bairro de toda a cidade.
As poucas semanas de convívio e “boa vizinhança” por parte do policial, foram o suficiente para que os dois se tornassem amigos. Ou um pouco mais do que isso. Estavam terminando de ajeitar a mudança de , e Erick, sempre cortês e gentil com ela, pediu licença para atender a um chamado de seu chefe.
Quando recebia as poucas notícias de Bella por e-mail, ela sempre citava a monotonia de Forks de uma forma exagerada. Talvez até fosse, mas o fato é que em cidades pequenas novos moradores tornam-se uma atração, e isso incomodava Bella. Não incomodaria , afinal, a mulher tinha uma maneira despojada de lidar com este tipo de atenção. Em algum momento distinto dos anos passados em que Bella trocava mensagens com , ela lhe citou poucas vezes um lugar chamado La Push. Lugar tal, que parecia à ter deixado sua amiga muito à vontade. Foram estas mensagens e esta fascinante curiosidade de que a levaram a ir conhecer Forks. Por fim, acabou mudando-se para aquela cidade por eventualidades da vida, mas não se esqueceu da tal praia de La Push e da tão falada Reserva Quileute que, aliás, estava ansiosa para conhecer.
Naqueles dias de recém-chegada, Erick contou para que a reserva indígena Quileute era muito antiga, talvez até mais antiga do que o próprio condado de Forks, notícia essa que fazia a moça imaginar que motivos teriam para que Bella houvesse suportado ou gostado daquele lugar, uma vez que era difícil pensar nela feliz ali. E na verdade, não conseguia assimilar nada que pudesse atrair Bella para uma reserva indígena.
Apesar da tarde fria de sábado, Erick não trabalharia e havia combinado com de saírem juntos, se não fosse um chamado de emergência do seu chefe, Charlie Swan. Só depois que Erick desligou sua ligação e contou à o nome do seu chefe, que a garota percebeu tratar-se do pai de sua melhor amiga antiga. Queria conhecê-lo, mas julgava que a iniciativa para isso deveria vir da própria Bella, por isso, quando Erick despediu-se em sua varanda, retornou à sua sala, pegou as chaves do seu carro e dirigiu até o endereço da casa do delegado Swan. Embora não tivesse o endereço, o próprio Erick lhe explicou onde ficava quando lhe informou que Charlie era seu único vizinho, alguns metros de estrada à frente.
estava ansiosa para reencontrar Bella, e ao chegar frente ao quintal da casa simples, seguiu cautelosamente a bisbilhotar. Subiu as escadas da varanda, bateu à porta de entrada. Bateu uma vez, duas vezes, três vezes, mas ninguém a atendia. espreitou as janelas fechadas, assim como as cortinas igualmente fechadas tentando observar o interior do imóvel. A casa dos Swan, apesar de organizada — não como se ali existisse uma família grande, e sim, organizada como se fosse inabitada —, de fato, estava vazia. estranhou, por não sentir resquício de uma presença viva ali, mas retornou para o seu carro e, sem ter muito o que fazer, afinal, ela não conhecia nada por ali e ninguém, a mulher dirigiu seguindo a estrada. Encontrou poucos transeuntes em seu caminho, e pediu-lhes indicações de como chegar à praia de La Push.
O lugar, apesar de inóspito e descolorido, apresentava um ar paradisíaco e sombrio. Algumas rochas grandes próximas ao mar, fincadas à areia da praia chamaram a atenção da jovem visitante, que decidiu ir até lá. Caminhando distraída, trombou em algo que mais do que a vista do mar, lhe chamou maior atenção. Um homem alto com peitoral largo, pele incendiada tanto na cor quanto temperatura, cabelos curtos escuros, a encarava surpreso a segurar os braços dela. Não seria surpresa que o rapaz não a tivesse percebido aproximar-se, pois ele realmente era enorme comparado a ela. ficou encarando de volta ao peitoral à sua frente — que a mesma julgou atraente —, hipnotizada. Ao notar a surpresa da mulher, o homem deu uma risada abafada e discreta, o que deixou suficientemente embaraçada ao ponto de não conseguir formular uma frase que fizesse sentido.
— Desculpe! Distraída com o mar, é lindo aqui… Não vi à frente — ela disse tudo muito rápido, sem ponto ou vírgula e denotando transparente seu constrangimento.
— Como? — O homem a olhou confuso e lhe perguntou, indiferente no olhar, mas sem parecer hostil e soltou-a.
— Ah… Eu estava distraída com a beleza do mar e não o vi se aproximando, me desculpe. — sentiu-se sufocada por sua vergonha, mas respirou fundo sem encarar diretamente o olhar à sua frente ao explicar-se. — Claro… La Push é realmente linda.
A voz dele, trovejante, mas também melodiosa, soou e então sorriu.
— Não se preocupe, na verdade a culpa é minha. Eu deveria olhar para baixo, você é relativamente pequena.
Por mais que sua voz não demonstrasse ofensa, sentiu-se insultada. Estava na defensiva e ainda que não costumasse ser grosseira, foi bem direta em sua resposta:
— Não te passa pela cabeça que você seja grande demais? Tipo, acima da média?
O homem não mentia ao chamá-la de pequena, e compreendeu que a garota à sua frente e que ele julgava estar vermelha por raiva, e não mais vergonha, havia se ofendido. Sem sorrir ou demonstrar a menor simpatia, ele a olhou desculpando-se:
— Tem razão, me desculpe.
— Tudo bem… Me desculpe também — ela respondeu com um fraco sorriso.
Os dois, como se analisassem um ao outro, se mantiveram conectados aos olhos um do outro. Ele, que antes estava sério pela defensiva da mulher, suavizou a sua expressão e viu a chance de apresentar-se devidamente.
— Eu me chamo . — Estendeu a mão em direção a ele.
— Jacob Black — ele limitou-se a responder apertando a mão dela sem sorrisos extensos.
O nome dele não soava estranho aos ouvidos dela.
— Jacob Black?
— Sim. Você me conhece?
encarava Jacob, duvidosa e tentando se recordar do motivo pelo qual o nome dele era tão familiar a ela. Ele, por mais contido que se demonstrasse, havia ficado curioso com a maneira como a garota parecia o conhecer. Para Jacob, absolutamente, nunca houvera se deparado com olhos castanhos tão intensos e atrativos.
— Não diretamente, mas sinto já tê-lo escutado — ela o respondeu.
— Bom… Deve tê-lo ouvido por aí, todos nos conhecemos aqui em La Push — o rapaz respondeu displicente.
— Não. Não foi aqui. Eu acabei de chegar à cidade e é a primeira vez que eu venho a este lugar e até então, não esbarrei em ninguém além de você — respondeu sorrindo tímida com as mãos nos bolsos da própria calça.
Jacob observou os trejeitos curiosos e tímidos da mulher, e respirou fundo. Um silêncio torturante se estendeu e novamente o clima tenso se estabeleceu entre eles. Por mais que pudesse julgar que a razão para tal estivesse sob o frio local, e o clima ainda mais denso das nuvens misturadas ao ar e maresia, não era. O clima constrangedor se dava à presença forte e máscula de Jacob, que assim como , sentia-se constrangido pela presença extrovertida e atraente da mulher. E tratando-se de “frio”, a falta de agasalhos em Jacob não passou despercebida por . Enquanto ela estava abarrotada de blusas grossas e quentes, ele estava sem camisa. E por mais que fosse pouquíssimo acostumada às baixas temperaturas, acreditou não ser normal que, mesmo um nativo, não estaria incomodado com a crescente rajada gelada de vento àquela praia. Sendo assim, julgou Jacob, à primeira vista, peculiar. Por sua vez, ela também se autojulgava dessa forma.
— Bem, de qualquer forma, seja bem-vinda à La Push, — Jacob respondeu rompendo o silêncio, e virou-se saindo de perto da visitante em despedida e sem nenhuma formalidade.
Apesar de ter sido educado, para , Jacob parecia apresentar uma personalidade rígida e antissocial. Com isso, ela começava a assimilar a razão pela qual Bella gostou tanto daquele lugar. Se as pessoas locais fossem antissociais como Jacob lhe pareceu, Bella, que era a pessoa mais antissocial que conhecia, certamente esteve confortável. E, como num estalo, um rompante de memória acometeu . Foi Bella quem falou do Jacob para ela, e observando boquiaberta o homem que se afastava devagar, deu alguns passos à frente e lhe gritou:
— Bella!
Rapidamente Jacob se virou com uma expressão de certa raiva e desconforto. Sem receio, se aproximou um pouco mais à medida que ele a encarava.
— Isabella Swan me falou sobre você! Eu sabia que o seu nome era familiar!
— Argh! Há quanto tempo ela falou sobre mim?
O resmungo ou rosnado de Jacob fizera estranhar sua reação, e ele se aproximou ainda mais. Estava desconfortável, curioso pela resposta, ansioso e seu corpo tremia um pouco. Entendendo que não foi bem recebido o nome de sua amiga, limitou-se a empolgar-se menos e ser mais clara nas justificativas.
— Há alguns anos. Dois ou três… Não nos falamos há muito tempo, mas…
Antes que ela pudesse terminar de contar a ele sua relação com a antiga Swan, Jacob saiu apressado na direção dos pequenos rochedos atrás dela, e aos poucos correu adentrando a mata que parecia ser a mesma que margeava a estrada por onde dirigiu.
não compreendeu nada do que havia acabado de acontecer, mas deu de ombros e retomou o caminho às rochas que pretendia escalar para sentar-se e observar o mar. E assim o fez até que adormeceu involuntariamente ali. Quando a noite já se fazia apresentar, foi acordada educadamente por outro rapaz. Ele era alto e bonito, assim como Jacob e bastante parecido fisicamente. O frio gélido do mar chicoteava a face de numa brisa pesada, e os sussurros do vento e das ondas uivavam o princípio da noite. A moça, num rompante, sentou-se assustada, e sonolenta teve dificuldade de abrir os olhos. Sentia-se cansada e exausta ainda, devido ao trabalho daquela manhã em sua casa. Desde que se mudara, não havia descansado direito. O rapaz que a encontrara levemente a sacudia pelos ombros e a chamando.
— Ei, moça! Você está bem?
Com certa dificuldade e preguiça abriu os olhos e pôde ver nitidamente o rosto dele, após algumas piscadelas. Um belo rosto com olhar profundo.
— Sim. Estou bem.
— O que faz aí a essa hora?
— Eu estava andando pela praia e me sentei nas rochas por um momento, mas não me percebi adormecendo… Quais as horas, por favor?
— É um pouco tarde. Beirando sete horas da noite.
— Certo! Preciso ir embora agora mesmo! — Alarmada, notou a escuridão e a lua fraca refletindo-se no mar. — Droga! Como vou encontrar o meu carro nessa escuridão?!
O rapaz, percebendo-a assustada, preparou-se para ajudá-la a retornar.
— Se acalme. Eu vou te ajudar. Primeiro temos que descer. Venha! — Ele estendeu a ela sua mão e guiou por entre as rochas.
Quando os dois já pisavam na areia firme, ele a encarou perguntando:
— Consegue ter alguma ideia de onde deixou o seu carro, moça?
— Não andei muito longe. Estava a uns dez metros das rochas quando encontrei Jacob, então logo à frente, perto da estrada…
— Jacob? Você o conhece?
— Não exatamente. Trombamos aqui e acabamos nos conhecendo.
— Certo… Vamos logo. — O rapaz sorriu e pegou a mão de pondo-se a puxa-la.
Ela não enxergava nada e não sabia como o rapaz podia ter um senso de direção tão bom. Logo, os dois chegaram ao lado do carro dela e respirou aliviada.
— Este é o seu carro? — ele perguntou.
— Sim. Mas como…? Enfim, obrigada!
Por mais confusa que estivesse, estava mais com frio e pressa de se aconchegar ao carro em segurança. Desistiu de ficar parada ali conversando e explorando perguntas ao estranho, já era tarde para ela estar naquela situação sendo uma completa novata na região, e ainda que o homem lhe tenha sido simpático e prestativo, precisava ir logo para casa.
— Consegue encontrar o seu caminho de volta? — ele perguntou quando a viu remexer sua bolsa atrás da chave do carro.
Ela então olhou à sua volta, a estrada reta, mas percebeu-se com incerteza sobre o caminho de volta. Ela havia chegado ali por indicações, e se estivesse mais claro talvez reconhecesse o lugar melhor.
— Sem querer abusar, eu ficaria grata se pudesse me explicar de verdade. — Ela sorriu e o rapaz riu da situação inusitada.
— Tudo bem… Se não se importar, eu posso te levar de volta dirigindo.
Poderia ser perigoso, afinal ela não o conhecia, mas não tinha muitas opções, mal sabia explicar seu endereço direito ainda. Ou aceitava a ajuda ou corria o risco de se perder na estrada e passar a noite dentro do próprio carro no meio do nada. A segunda opção a apavorava muito mais, e por mais errado que fosse, aceitou a ajuda.
— Claro que não me importo, na verdade eu fico muito grata.
Ele sorriu tranquilamente e ela lhe entregou a chave, o homem abriu o carro e os dois adentraram. A luz do automóvel deixou as características físicas do estranho ainda mais evidentes. Era tentador, não tanto quanto Jacob, mas perdia por décimos para ele. Para piorar a situação dela, o rapaz também estava sem camisa.
franziu o cenho, e de soslaio observou o rosto do homem se perguntando, silenciosamente, se as pessoas de La Push não teriam roupas. Ou se elas realmente não sentiam o frio absurdo do local. Aquele momento de surpresa por um corpo tão exposto, trouxe novamente a hipnose que ela experimentou ao se deparar com Jacob. Ao notar que a mulher estava muito calada e aparentemente assustada, o homem rapidamente estendeu sua mão na direção dela e se apresentou:
— É um prazer conhecê-la. Meu nome é Embry Call.
Indiscutivelmente simpático e bonito, com dentes brancos e afiados como de cães em um sorriso descolado, o rapaz deixou mais confortável ao se apresentar.
— . Muito obrigada pela sua ajuda — ela respondeu sorrindo simpática e um pouco sem graça.
— Não há de quê. Nota-se que você é nova na cidade. Lembra-se ao menos do seu endereço? — Embry riu divertido e brevemente desculpou-se pela piada. riu também, afinal, era inusitado que uma pessoa não soubesse voltar para casa.
— Então, Embry… Eu moro em um lugar bem inóspito aqui de Forks. Sabe a estrada Sul, saindo da cidade?
— Sim, estamos nela. — o encarou, confusa, e ele abafou uma risada divertida concentrando-se em ligar o motor, finalmente, enquanto lhe explicava: — Esta é a estrada Sul, nós estamos a oitenta quilômetros da saída da cidade. É uma estrada única.
— Sim, eu sei disso… — ela disfarçou tentando parecer menos ridícula. — Eu só queria te dizer para pegar a direção norte da estrada Sul.
E ao se dar conta da confusão que quase fazia para indicar sua casa, revirou os olhos sentindo-se patética.
— Você é engraçada… — O rapaz sorriu fofo para ela e manobrou em direção à estrada.
— Acho que estou mais para patética. — Ao ouvi-la, Embry lançou a um olhar de reprovação pelo que ela havia dito, mas ela não se importou e continuou: — Então… Sabe onde é a casa do delegado Swan?
— Você mora perto?
— Não muito, na verdade. Uns quinze quilômetros da casa dele.
— Eu sei onde é. Você mora no antigo bairro Kalil. — Ele a olhou curioso e espontaneamente perguntou: — O que te fez comprar uma casa em um lugar abandonado? Não sei se você sabe, mas é a única moradora de lá.
— É, eu percebi isso desde que cheguei. Infelizmente, foi o único bairro onde eu pude comprar uma casa. O fato de não ter habitação me fez pagar uma mixaria por ela. Mas por que o bairro é tão desabitado?
— Bem… Forks tem muitas lendas. Logo você saberá — ele respondeu tranquilo e mudou o assunto: — Então, , há quanto tempo chegou?
— Comprei a casa há quatro semanas, mas somente há três me mudei.
— E você mora sozinha?
ficou receosa em respondê-lo. Pensou ela que talvez não fosse adequado já que ele era um desconhecido, mesmo que já não lhe fosse tão estranho. Pelo menos ela sabia o seu nome e por onde poderia, supostamente, encontrá-lo. Ela, por fim, chegou à conclusão de que se fosse para ele lhe fazer algo ruim, aquela informação seria ridícula, já que ele estava a levando à própria casa. Uma atitude muito irresponsável da parte dela, mas não sentia que Embry era alguém do qual ela devesse correr. Este sentimento, de estranheza e fuga, ela havia sentido brevemente por Jacob.
— Sim, mas Erick me faz companhia e estou providenciando um bom cão de guarda — ela respondeu-o.
— Eu sou um ótimo cão de guarda. — Ela não compreendeu e se assustou ao ver que o rapaz ria alto. — Piada interna… — justificou-se Embry e, ficando sério, falou: — Um dia, quem sabe, eu te explico?
— O que me denunciou?
A pergunta súbita de foi recebida com confusão e desconfiança por parte de Embry.
— Como?
— Quando você disse “nota-se que é nova na cidade”, o que me denunciou? Quero dizer… Foi só pelo fato de eu não saber onde estou, para onde vim ou vou? — Ela riu discreta e Embry lhe sorriu com ternura.
— Seria o suficiente. Mas na verdade quando eu disse isso, ainda não tínhamos descoberto que você está completamente perdida. Eu percebi pelo fato de nunca antes tê-la visto em La Push ou dentro da reserva. Eu, com certeza, não deixaria você me passar em branco.
O rosto de corou a fazendo perceber aquilo e estranhar, por ser algo muito incomum a ela.
— E eu percebi ainda mais, na verdade, primeiramente pela sua pele.
— Como assim?
— Com exceção de nós, os quileutes, os habitantes de Forks não são muito bronzeados.
— Ah… Isso é porque a reserva de vocês tem, privilegiadamente, uma praia em seus territórios?
— Hm… Não — ele murmurou sorridente. — Não sei se já percebeu, mas Forks não é um lugar muito quente e o Sol se esconde daqui.
— Mas ainda estamos no inverno — ela falou convincente.
— Ele se esconde. Você verá.
Os dois sorriram e logo, Embry animou-se mais para conhecer . Ela também, aos poucos, se sentia mais tranquila para conversar abertamente com ele.
— De onde você vem, ? É bem diferente das garotas daqui, e vai perceber logo isso.
— Posso considerar isso um elogio?
— Com certeza. Os rapazes confirmarão o que eu digo — ele brincou.
— Eu venho de Phoenix — ela respondeu risonha.
— Hm… De onde disse conhecer Jacob?
— Da praia mesmo, eu não o conheço de fato. Uma amiga que me falou dele.
Embry deslumbrou-se com a novidade e sustentou um olhar sacana ao pensar de que amiga se tratava.
— Uma amiga, é?
Antes que ele pudesse perguntar mais coisas à , ela espontânea, adiantou-se nas perguntas.
— Você e ele são parentes?
— Hm… Na Reserva, a maioria de nós somos.
— São irmãos?
— Praticamente.
— Praticamente? Isso não soa muito afirmativo.
— Tem razão! — Ele riu. — Sim! Somos irmãos — Embry falou mais convicto, e percebeu que arqueava a sobrancelha em tom de dúvida, mas ele não deu muita importância àquilo. Ele apenas sorriu para ela, e fez a pergunta que coçava em sua língua. — Esta sua amiga… Qual o nome dela? Talvez eu a conheça.
— Com certeza deve conhecer! Pelos e-mails que ela me mandava, parecia que Bella estava quase se tornando uma moradora da Reserva! — respondeu animada e não notou quando Embry arregalou os olhos e empalideceu.
— Como disse que ela se chama?
— Isabella Swan. Ela é a filha do delegado Swan… Charlie, não é?
Embry se posicionou mais contido, e desconfiado observando as reações de a respondendo:
— Eu a conheci sim… Veio a Forks por causa dela?
— Quase isso. Talvez eu possa dizer que “praticamente” isso. Nosso último contato foi há uns três anos se não me falha a memória, e por e-mail. Desde que Bella se mudou para cá eu não a vi mais. Só nos comunicamos poucas vezes pela internet, ela deu uma sumida, sabe? Então eu mandava e-mails para ver se havia acontecido algo, e vez ou outra ela passou a me responder e enviar e-mails também. Muito raramente. Como terminei a minha faculdade no ano passado, e já que estava curiosa para conhecer a cidade que sequestrara Bella, vim aqui num rápido passeio. Conheci uma senhora simpática, que após algumas conversas me falou das oportunidades de emprego aqui para o meu cargo… Eu achei que mudar poderia ser uma boa coisa dessa vez, então juntei tudo o que eu tinha, e aqui estou. Quero rever a Bella, mas fui à casa dela e não a encontrei. Sabe onde posso encontrá-la?
— Não. Bella se mudou e há algum tempo ninguém mais a vê ou tem notícias dela na cidade.
— Nem mesmo o Charlie? — perguntou estranhando aquilo.
— Ele não gosta nem de falar sobre ela.
— Ela voltou a morar com a Renée?
— … A Bella se casou. Foi embora da cidade com a família do noivo. É como se ela nunca tivesse estado em Forks.
As últimas palavras de Embry… “Como se ela nunca tivesse estado em Forks” trouxeram um arrepio frio na espinha de que, sobressaltada, engoliu a saliva seca em sua boca.
— Jacob não pareceu confortável quando me ouviu falar o nome dela…
— Bem, é melhor você não falar mais nela. Pelo menos não com ele, é doloroso.
— Acho que seja sim, ele saiu correndo e rosnando.
— Rosnando? — Embry manteve o olhar fixo à estrada, mas estava intrigado com o que ouviu.
— Resmungando, é lógico. Mas… — começou a rir discreta. — Parecia mais um rosnado de lobo.
Com aquilo, Embry tornou-se constrangido e preocupado, mas sorriu para a fim de disfarçar que por pouco ela não havia descoberto o que não devia. À medida que ia contando tudo, Embry empalidecia um pouco mais e ela até percebeu, tendo ponderado algumas vezes se deveria ou não continuar o assunto.
— Hã, como posso dizer… — Ela notou as sobrancelhas de Embry unindo-se como se ele estivesse pronto para ouvir algo reprovador e com isso, ela ficou mais temerosa a falar: — Esquece!
— Fala! Pode falar, ele o quê? Ele fez algo?
— Não exatamente…
— E então? — Embry a interrompeu subitamente, deixando evidente o seu olhar aflito à mulher.
analisava-o preocupada sobre o que ele imaginava que ela iria dizer. O que Jacob poderia ter feito para deixar o garoto naquela apreensão?
— Me desculpe, afinal ele é o seu irmão, mas Jacob me parece ser antissocial e arrogante.
Embry aliviou-se por completo, suas mãos soltaram levemente o volante que apertavam, e seus braços, enrijecidos, aos poucos relaxaram.
— , Jacob é amargurado quando o assunto é a Bella. Ele foi apaixonado por ela, mas então, as coisas tomaram rumos diferentes… Ela deve ter comentado algo sobre isso com você, não?
— Não comentou, e nem comentaria. Bella nunca foi o tipo de garota que falava em namorados ou paixões. Mesmo com a sua única amiga.
— Única? — ele perguntou surpreso ao encarar .
— Bella é bem antissocial, e por isso eu achei que ela tivesse se sentido tão atraída por La Push. Foi a impressão que tive das pessoas do lugar, assim que esbarrei em seu irmão.
— Acho que não conheci a mesma Isabella que você. Ela era quieta, mas sociável do jeito dela.
— Com certeza a mudança para Forks transformou a personalidade da minha amiga. E La Push deve tê-la feito muito mais feliz do que o costume, eu presumo.
— Sim… Bella mudou muito por aqui, mas não acho que a Reserva a fez feliz. Eu diria, talvez, apenas confortável… — e Embry sorriram um para o outro, tímidos, e por fim haviam chegado à casa dela.
Com a conversa amena, mal perceberam o tempo passando. Embry estacionou ao lado externo da casa, paralelo no que seria a garagem e assim que desligou o motor, ele abriu a porta e desceu. Rápido, surgiu à porta de impedindo-a de descer sem sua ajuda. Seu cavalheirismo foi notado por ela, e a fez sorrir.
esqueceu-se de manter as luzes da varanda acesas ao sair, pois de fato não imaginou que voltaria àquela hora. Embry olhou em volta aos arredores da casa e, como se estivesse esperando algo acontecer, ele passou o próprio braço à frente do corpo de pedindo-lhe para esperar antes de entrar.
— É melhor eu ir à frente, se não se importa. Está muito escuro. E bem… você sabe que estamos a sós, ou pelo menos devíamos estar. — Embry a encarou de uma forma que não dava a ela opções de negar, como uma ordem, e não o contestou. — Pode me dar a chave da sua casa?
— Um momento… — Ela procurou em sua bolsa o chaveiro de cãezinhos e assim que encontrou, o entregou ao rapaz, um pouco nervosa: — Aqui está.
— Desculpe, , parece que eu estou assustando você, mas eu só quero mesmo verificar se não há perigo para você. — Ele segurou as mãos dela de forma reconfortante. — Fique dentro do carro, está bem? Eu vou na frente, acendo as luzes da varanda e volto para te acompanhar.
— Certo…
Embry avançou cauteloso e o observou, até perceber que o rapaz aspirava o ar profundamente, como se buscasse farejar algo. E, óbvio, achou aquilo deveras esquisito. Embry mantinha-se respirando fundo e contraído da cabeça até os pés, como em posição de guarda. Ele subiu os degraus da varanda, abriu a porta e entrou. Logo as luzes foram acesas pela casa, em todos os cômodos. notou que ele olhava realmente se a casa estava vazia e aquilo a deixou mais preocupada. Depois de poucos minutos, Embry retornou até ela e novamente abriu a porta do carro acompanhando-a até sua sala.
— Está tudo certo! Nem cheiro de… Quero dizer, nem sinal de perigo.
— Você aceita um café?
— Aceito, mas em outra ocasião. Agora eu preciso ir.
— É verdade, está ficando tarde… Espera, mas como você vai voltar?
— Isto não é problema! — Ele sorriu a ela, despreocupado. — Eu sou bem rápido e conheço bem a região. — Como se desse conta de que faltava algo, Embry ergueu as sobrancelhas e fitou por um instante e, duvidoso, lhe perguntou: — Onde está o tal Erick? Seu namorado… Você não disse que ele lhe fazia companhia?
— Ah, é! Bem, ele deve estar na delegacia. Talvez em casa… Ou talvez haja algum recado no meu telefone… Ele me faz companhia de vez em quando.
desconfiou que insinuar que Erick era seu namorado, foi uma estratégia de Embry para sanar a própria dúvida, então ela deixou clara a situação.
— Nós não somos namorados, só amigos.
— Se você quiser, eu posso ficar aqui. Claro, não quero que pense mal…
— Tudo bem, eu agradeço! Mas não é preciso, é melhor você ir… Pode ser arriscado, então volte com o meu carro, amanhã você traz de volta!
— Não precisa, . Eu agradeço.
— Tem certeza? Eu não vou precisar dele por hoje, e acho que não tem táxi aqui a esta hora e…
— , fique tranquila, eu tenho certeza. Não precisa se incomodar.
— Sendo assim eu te acompanho até lá fora.
— Sendo assim, você me acompanha até a porta da sala e tranca a casa toda, e descanse! Vou deixar meu telefone com você pode ser?
— Claro!
correu até o balcão que separava a sala e a cozinha, e pegou uma caneta e a agenda ao lado do telefone. Embry então anotou o seu número, e os dois trocaram sorrisos e olhares.
— Caso precise, pode me ligar a qualquer hora. E eu falo sério! Fico um pouco… Preocupado com você aqui sozinha… É muita loucura para quem acabou de te conhecer?
— De forma alguma, até porque se for, estamos ambos loucos. — Os dois ficaram se olhando sorridentes, até que Embry beijou a testa de , suave, passou uma das suas mãos pelo braço dela, e afastou-se devagar.
Ela o acompanhou até a porta apenas, e verificou todas as trancas da casa. A garota não queria admitir a ele, mas tinha medo de ficar sozinha ali desde que notou que seu bairro era realmente deserto. O bairro Kalil era um cenário ideal para um crime silencioso, e isso a fazia se arrepender aos poucos. recordou-se de Embry dizer-lhe que Forks tinha muitas lendas e, decidida, descobriria cada uma.
Enquanto se preparava para dormir, pensou em Bella e nas coisas que havia descoberto sobre a antiga amiga. Ela queria procurá-la, mas talvez fosse melhor não. Se Isabella havia feito questão de sumir sem dar explicações, pensou que talvez ela não fosse tão importante para sua amiga quanto pensou.
Aquilo de certa forma a magoava, mesmo após tanto tempo, mas sabia que precisava pensar em sua nova vida em Forks, organizar seus planos referentes à vaga de emprego que pretendia preencher pelo início da semana, como esperançava.
Com dificuldade, tentou dormir. Ficou observando o teto de seu quarto por muito tempo enquanto recordava o dia mais bacana que tivera ali desde sua chegada. Não sabia se pela linda praia da Reserva Quileut, ou por sua — aparentemente — nova amizade com Embry. Ficou decidindo se deveria telefonar para saber se ele havia chegado bem, mas concluiu que era melhor fazê-lo ao dia seguinte pela manhã cedo. Sem dúvidas Embry era cativante e começava a achar que seria difícil andar distante dele. E aquilo significava muitas visitas a La Push.
Um tempo apegada bastante à praia. Bella tinha razão. Coisas maravilhosas estavam escondidas por lá.
Capítulo Dois - Indo às Compras
Na manhã seguinte, acordou bastante descansada. Devia isso ao cochilo nas rochas, que lhe aliviou um pouco a tensão daquelas semanas. Ela desligou o seu despertador do celular, e após ir ao banheiro realizar sua higiene, retornou ao seu quarto e arrumou sua cama grande. Abriu a janela de seu quarto, no segundo andar, para ventilar o ambiente e foi até a cozinha preparar seu café da manhã. Enquanto a água fervia em sua chaleira, pegou a agenda e discou o número de telefone de Embry. Estava quase desistindo quando uma voz trovejante atendeu a chamada.
— Alô? Bom dia, o Embry se encontra? — perguntou com a voz tímida e só ali percebeu que o relógio da cozinha marcava o horário das sete da manhã. Para ela já não era tão cedo, mas não sabia dizer se para a voz que a atendeu era igual. Uma pequena sensação de estar sendo inconveniente lhe surgiu.
— Ele está dormindo. Quem deseja falar com ele? — a voz trovejante respondeu.
— Hã… Desculpe-me por incomodar, mesmo! Eu não percebi o horário. Meu nome é , e só estou ligando para saber se ele chegou bem em casa ontem à noite. Fiquei preocupada.
O rapaz do outro lado da ligação ouvia atentamente às palavras da mulher enquanto era observado por um grupo de garotos à mesa do café. Ao notar que se tratava de uma garota procurando por Embry, ele segurou uma risadinha abafada, o que fez com que os demais ficassem curiosos.
— ? Ele chegou bem sim, pode ficar tranquila. E não há problema em ligar a esta hora, nós acordamos bem cedo aqui. O Embry é que deve estar exausto pela noite de vocês, por isso ainda não acordou. — A indireta quase indiscreta do rapaz ao mencionar o que e Embry teriam feito não passou despercebida por ela, assim como os burburinhos abafados do outro lado da chamada também não.
A voz trovejante tornara-se um sussurro que pedia “Shh! Fiquem quietos, parem com isso”. percebeu que o homem não estava sozinho, e agora mais pessoas tentavam descobrir ou faziam piadas em relação a ela e Embry. não entendia muito bem o que ela era para Embry ao ponto de gerar aquele pequeno tumulto, bem como não compreendia a razão para tanto alarde, mas sentiu-se ligeiramente envergonhada pela situação.
— Bem, de qualquer forma desculpe-me o incômodo. Com quem eu falo? — decidiu despedir-se logo.
— Sam Uley.
— Certo, Sam. Poderia dizer ao Embry que a amiga dele o telefonou?
— Claro, ! Mais algum recado?
— Não, não. Obrigada. — Assim que o rapaz despediu-se lhe dando bom dia, encerrou a ligação.
Do outro lado da cidade, na Reserva Quileute, onde Sam e outros garotos tomavam café à mesa, o assunto após aquela chamada não poderia ser outro: quem era e que ligação ela tinha com o descontraído Embry?
sorriu para o telefone à sua frente, e seguiu até o fogão onde a água para coar seu café já estava fervilhando. Sam era educado, ela pôde perceber, mas indagava-se se ele era outro irmão de Embry. A voz de Sam era forte, quase como a de Jacob, mas ele lhe parecia mais velho do que ambos. Talvez Sam fosse o pai deles? E claro, havia outros garotos! Ela notou imediatamente ao sentir que sua presença causou surpresa e leves sussurros debochados, e com isso, certamente deveriam ser adolescentes.
Enquanto fechava a garrafa térmica com café recém-coado e pegava uma xícara em seu armário para se servir, o celular de tocou estridente do outro lado do balcão da cozinha. Ela caminhou apressada pela sala seguindo o som até encontrá-lo jogado ao sofá. Erick estava a telefonando.
— Bom dia, ! Como você está? — Sua voz animada se fez ouvir logo que ela deslizou o ícone verde de chamada na tela.
— Bom dia, Erick. Estou ótima! Como foi a sua tarde ontem? — igualmente animada e sorridente, ela respondeu.
— Argh! Eu poderia tê-la passado com você, seria muito mais divertido! Só papéis e mais papéis! — O tom de voz contrariado era nítido no rapaz, bem como o arrependimento: — Desculpe por isso… Sei que havíamos combinado…
— Não tem que se desculpar. Foi um chamado de última hora, está tudo bem! Mas me diga, como você está?
— Bem, bem… E você, o que fez ontem?
Imediatamente, animou-se para contar a Erick a aventura de ir até a casa de Charlie e em seguida à reserva. Sentou-se ao banquinho alto de sua ilha simples na cozinha, e colocou a chamada em viva voz. Passou geleia em algumas torradas, embora não fosse muito de comer pela manhã, e narrou com voz nítida e animada suas novidades:
— Ah, Erick, foi ótimo! Você nem pode imaginar! Eu dirigi até a casa do senhor Swan, mas não encontrei Bella por lá. Com isso, já que não tinha muito o que fazer, eu fui à praia de La Push. É realmente um lugar lindo, apesar da paisagem mórbida causada pelo frio. Acabei passando horas observando a paisagem, e até tirei uma soneca nas pedras! Pense bem! — Ela riu. — Ah! E eu conheci um rapaz da Reserva Quileute chamado Embry Call. Você conhece?
— Conheço — respondeu menos animado do que . — Hm… Legal o seu passeio por Forks… E você e Embry se divertiram?
A falta de interesse e o resquício de desapontamento na voz do policial deixavam claro para que Erick não havia curtido muito a ideia de ela ter conhecido alguém da reserva. Ou, que talvez, Erick tivesse algum problema pessoal com o rapaz Call.
— Foi bem rápido, na verdade. Eu até que gostaria de ter passado mais tempo com ele, me pareceu uma ótima pessoa.
acreditava de fato que Embry fosse alguém bacana de se estabelecer laços, mas disse aquilo para instigar Erick a dizer algo contrário, assim teria certeza se o policial desaprovava a ideia de Embry ser seu amigo.
— Olha, , eu tenho que desligar agora… — A resposta, a fez erguer as sobrancelhas, surpresa. — Mas antes, eu quero te fazer um convite. Charlie Swan me convidou para uma pescaria, e mesmo que eu ache que não vá te agradar muito, não custa perguntar. Gostaria de nos acompanhar? Com direito a molinetes e anzóis?
Erick, mais do que certo de que ela aceitaria, falou diretamente e deu uma risadinha sem graça. havia notado que ele a chamou pelo seu nome todo, e desde que se conheceram e vinham se encontrando, o rapaz apenas a chamava de . Era uma maneira com a qual os dois iam ganhando mais intimidade e se aproximando, e ao perceber que Erick estava desconfortável com a ideia de Embry e ela se conhecendo, e confirmando que ele havia dado um suposto passo para trás na intimidade com ela, achou que aquela atitude teria algum significado.
— Seria quando? — ela perguntou referente à pescaria.
— Hoje.
— Desculpe, Erick, mas eu vou recusar. Quem sabe outro dia? Tenho outros planos para hoje.
— Irá novamente à Reserva Quileute? — A reposta dele, como ela imaginava, confirmava que ele não gostava da reserva ou do que fosse relacionado ao lugar.
— Talvez, mas a minha urgência é outra. Bem… Eu tenho que ir, até mais, Erick.
— Até mais… Beijo… — ele despediu-se desanimado.
A mulher desligou a chamada e deu uma mordida grande em sua torrada. Estava realmente desconfiada pela reação do homem, e pensou que seria apropriado conversar com Erick em outro momento sobre a impressão que ela teve. Gostaria de entender os motivos por ele supostamente desaprovar La Push ou seus moradores.
Terminou o seu café da manhã e lavou a pouca louça que sujou e não demorou a subir aos seus aposentos para se arrumar e sair pela cidade. Ela precisava, e queria, encontrar Sue. Por isso buscaria informações sobre a mulher que lhe indicou o emprego na cidade. Infelizmente, não recordava o sobrenome daquela senhora, mas tinha uma ligeira certeza de não ser um nome muito comum. Acreditava que não havia muitas “Sues” em Forks, e menos ainda, outra com traços físicos como o da senhora que ela conheceu.
Abrindo o velho guarda-roupa de madeira embutido à parede do quarto, escolheu vestir uma calça jeans surrada no estilo boyfriend, uma camiseta branca simples e não se esqueceu da jaqueta jeans e o cachecol. O Sol estava dando sinais de luminosidade no céu, mas o clima “ameno” de Forks não se comparava nada com o que seria o clima “ameno” de Phoenix.
Desceu as escadas de forma apressada, pegou os seus itens pessoais espalhados na casa, como a carteira, os documentos, o celular e alguns drops de bala e jogou-os em sua bolsa que já estava à sua mão. As chaves do carro estavam penduradas ao lado da porta da sala, e as chaves da porta enfiadas à tranca, logo foram retiradas por ela e colocadas na tranca anterior.
caminhou até o seu carro dando uma observada aos arredores de sua, sempre solitária, casa e não demorou a entrar no automóvel. Jogou a bolsa para o banco do carona, afivelou os cintos e ligou o rádio sintonizando numa rádio local qualquer. Depois de manobrar pela saída de sua garagem aberta alcançando a estrada, dirigia cantarolando os acordes iniciais de uma música dos Beatles, que acabara de ser anunciada.
O Sol batia fraco no para-brisa e o reflexo nos olhos dela atrapalhavam um pouco. buscou vagamente seus óculos de Sol no painel do carro e não os encontrou. Olhou para o banco do carona e puxou a sua bolsa, cantarolando e tateando, no meio de suas coisas bagunçadas, se a caixinha dos óculos estava ali. Até que se recordou de deixá-la no porta-luvas, e se esticou para alcançar o botão de abertura do mesmo. Entre uma espiada e outra à estrada, desviou a sua atenção na busca pela caixinha entre a bagunça de papéis. Assim que a encontrou, com dificuldade abriu-a e puxou seu Chilli Beans os vestindo ao rosto. De repente, houve um estrondo antecedido de uma freada brusca e de duzentas batidas a mais aceleradas ao coração dela e que foi possível que a própria escutasse.
ergueu a cabeça devagar olhando à frente, as duas mãos coladas ao volante, a boca aberta em susto e os malditos óculos a poucos milímetros da ponta do seu nariz. Soltou o peso do corpo à poltrona e jogou a cabeça ao encosto do banco à medida que seus músculos relaxavam, e ela retomava a consciência do que havia acontecido. A garota praguejou alto, irritada e aliviada por estar bem e saber que o pequeno acidente havia sido puramente irresponsabilidade dela. Ela abriu a porta do carro, soltou-se do cinto e desceu desesperada observando o que havia acontecido ao seu automóvel. E como em cenas de filme americano, chutava o para-choque e gritava consigo mesma.
Poucos metros atrás, na estrada pelo caminho recém-percorrido por ela, vagarosamente um Rabbit vermelho se aproximava à cena do acidente. O carro foi estacionado atrás do carro de , com certa distância segura. A mulher bufava e foi até o interior de seu veículo batido para pegar a própria bolsa puxando as chaves da ignição, e procurou seu celular, quando notou a presença de outra pessoa perto de si. Para sua surpresa o homem que desceu do Rabbit parecia-lhe muito familiar, e de fato era. Jacob Black se aproximou devagar parando à frente dela, com as mãos à cintura observou o estrago feito.
— Tomando umas rasteiras da estrada? — ele perguntou olhando-a de lado, sem sorrir. E sua pequena frase irritou . Era para ser uma piada? Caso fosse, não deu certo.
A mulher estava estressada e entendeu a aproximação dele como uma afronta, já que o homem não lhe sorria solidário e ao menos a olhou ou perguntou se estava bem. Parecia mais reprová-la pelo acidente do que qualquer coisa.
— Na verdade não. Desviei a atenção enquanto dirigia. — Ainda olhando os estragos do próprio carro e decidindo não se importar com Jacob, o respondeu. Mordeu os lábios, pensativa e retornou ao interior do veículo tentando ligar o motor.
O ronco não estava como de costume e logo se constatou que o estrago era grande. O carro até poderia aguentar chegar à cidade, mas pensava se era melhor tentar levá-lo de volta para sua casa já que havia dirigido aproximadamente uns 10 metros. Recostou a cabeça desanimada ao volante, e escutou a voz trovejante de Jacob lhe perguntar:
— Por que fez isso?
levantou o olhar para ele, e o homem caminhou ainda sem a encarar, abaixando-se um pouco próximo ao carro para analisar melhor os amassados. Ela puxou a chave de novo da ignição e saiu de dentro do veículo, encarando Jacob que aguardava resposta.
— Ah, sei lá… Estava a fim de bater o carro numa árvore. Sabe como é, né? Tédio — ela respondeu revirando os olhos.
Jacob então desviou o olhar para ela, confuso e pensando um pouco respondeu:
— Vou supor que está sendo irônica.
Ele se levantou e caminhou para próximo de sem demonstrar expressão alguma em sua face.
— Tanto faz — a mulher respondeu enquanto discava o número de Erick em seu celular.
— Posso perguntar para quem está telefonando?
— Para um amigo, ele deve conhecer algum reboque ou mecânico.
— Abre o capô — Jacob ordenou puxando o aparelho celular da orelha de , desligou a chamada e em seguida o devolveu à dona.
— Você é mecânico? — ela perguntou sem se importar com o que ele havia feito, e puxou a trava do capô perto da porta do carro, Jacob observava o interior da “máquina” e fazia umas caras e bocas das quais podia imaginar que não seria boa coisa.
— Praticamente.
“Praticamente. Ótimo, um amador!” pensou ao ouvi-lo.
— Olha… Seu carro não vai mais a lugar nenhum sem alguns pequenos reparos.
— Tem certeza?
— Tenho.
— Dá para eu, pelo menos, empurrá-lo de volta para casa? Fica a…
— Vou rebocá-lo até lá para você — ele disse a interrompendo. — Entra aí.
Jacob deu as costas para e correu em direção ao seu Rabbit. Seguiu os procedimentos para engatar o reboque de um carro no outro e quando já ia, de fato, seguir para a direção do seu veículo, , que observava a tudo incrédula, lhe perguntou:
— Você vai me deixar explicar onde eu moro?
Havia caminhado até a frente do corpo de Jacob parando ali, séria e irritada, de braços cruzados. Não sabia dizer por que, mas Jacob a estava irritando com sua postura tão autônoma e desinteressada à presença ou ajuda dela.
— A uns dez metros. No casarão abandonado — ele respondeu com um sorriso ladino e uma sobrancelha arqueada em tom convencido.
virou-se de costas e afastava-se dele, olhando-o por sobre o ombro com expressão raivosa, enquanto caminhava em direção à porta do próprio carro. Abriu-a bruscamente e entrou no veículo, emburrada. Jacob sorria vitorioso observando a cena da mulher contrariada que se afastava, e viu seu sorriso sarcástico pelo retrovisor.
Enquanto Jacob guiava o próprio carro arrastando o de , a mulher ao seu volante controlava a direção de seu automóvel atrás do Rabbit. Ao chegarem à casa de , ela estacionou como pôde o carro em sua garagem — que na verdade não era uma garagem propriamente, mas sim um galpão lateral.
As casas de Forks eram bem diferentes das casas de Phoenix. Em Phoenix tudo era muito colorido, em Forks, monocromático; as casas de lá têm garagens anexadas às laterais da entrada, já em Forks, poucas casas têm garagem.
Depois que Jacob estacionou o carro dele de modo a auxiliar a estacionar o dela, ela saiu do carro e ele também. Jacob recostou-se à porta do seu Rabbit, e a mulher com as mãos nos bolsos traseiros da calça e sua bolsa atravessada ao corpo, se aproximou dele mais calma e agradecida.
— Deixe-me adivinhar… Táxi aqui é só em televisão, não é? — ela perguntou em tom de desânimo.
— Você pode esperar um ônibus — ele respondeu a observando, e sorriu irônico ao vê-la se animar: — Claro que… Não é muito comum passar algum por aqui.
E com a expressão de tristeza que não conseguiu segurar, Jacob riu abertamente em deboche a ela. Era a primeira vez que via-o rir ou sorrir. Não conseguia definir muito bem, porque era como se o rosto dele fosse travado. Como alguém que desaprendeu como se faz para alargar um sorriso bonito.
— Certo… Como vocês fazem por aqui? — perguntou curiosa.
— A maioria dos moradores de Forks tem seus próprios carros e quando eles não têm como ir à cidade, é comum pegarem carona. Sabe como é, todo mundo se conhece e uma mão lava a outra.
assentiu silenciosa num meneio de cabeça e sorriu para Jacob. Eles ficaram em silêncio se olhando até ela desviar o olhar para o chão e Jacob suspirar profundamente a encarando e dizendo:
— Eu poderia te dar uma carona já que estou indo à cidade. Mas…
— Mas?
— Você não está sendo muito gentil com alguém que estava tentando te ajudar. Então você poderia reverter essa situação, não é?
— Não estou sendo gentil? Olha quem fala! — riu da petulância de Jacob, revirou os olhos e, levando suas mãos à cintura, encarou o chão.
Como se estivesse se preparando para ir contra seu próprio orgulho, ergueu a cabeça para o céu de olhos fechados, bufou fracamente e disse:
— Hm… Está certo! Senhor Jacob Black, poderia, por favor, me dar uma carona até a cidade? Eu ficaria muito grata. — Sorriu ela sem graça.
— Senhor Jacob Black? Muita formalidade, não?
— Certo, então, que tal… Jake? — O pequeno sorriso ladino que Jacob apresentava se desfez em uma linha rígida de desconforto.
— Então vamos. Não posso demorar e acredito que você esteja atrasada — ele respondeu voltando a ser rude e antissocial com ela.
Abriu a porta em que segundos antes estava parado, e posicionou-se ao volante esperando dar a volta ao carro e posicionar-se ao lado dele. Ela adentrou o carro, e estava surpresa pela postura do rapaz e permaneceu calada enquanto analisava a atitude dele. Pensava ela se seria transtorno de bipolaridade ou Jacob apenas não gostou do apelido que ela lhe dera. A mulher julgava que a maioria das pessoas apenas responderia que não gostaram, mas ele fora totalmente outro, enluvando novamente uma atmosfera de constrangimento entre os dois. Mas o que não poderia saber é que para Jacob, ouvir aquela garota o chamar de “Jake” lhe trazia à mente lembranças não tão doces.
Calados permaneceram por uma boa parte do trajeto, até que desviou o olhar da estrada pelo vidro de sua janela e encarou a face rígida e séria do homem ao seu lado que pensativo, porém tranquilo, não tirava os olhos das listras marcadas ao asfalto à frente.
— Jacob, por acaso você conhece alguma senhora chamada Sue? — ela perguntou quebrando o silêncio.
— Talvez. Por quê?
— Nada importante. Preciso agradecê-la, porém não consigo me recordar do sobrenome dela.
— Como ela é?
— Uma senhora morena de cabelos longos e escuros, muito simpática. Tem um sorriso acolhedor também.
— Muito esclarecedor. — Ele sorriu sarcástico olhando-a de modo desafiador.
— Ah, qual é!? Não devem ter muitas “Sues” por aqui!
— Sue Clearwater — Jacob respondeu sorrindo para ela. — Seria essa?
— Sim! — , animada, exclamou o fazendo assustar. — Desculpe, mas é ela mesma! Onde eu posso encontrá-la?
— Na Reserva. Desculpe a pergunta, mas… Pelo que quer agradecê-la?
— Graças a ela eu fui admitida no meu novo emprego.
— Sue é muito generosa. Você vai gostar de conhecê-la melhor.
— Tenho certeza disso.
Os dois sorriram um para o outro e notou, novamente, como Jacob era lindo. De uma beleza bruta, altamente atraente e máscula. Jacob também não era cego, e por mais que jamais fosse confessar aquilo, a primeira vez que se deparou com foi impossível não sentir seu estômago estremecer e a garganta embargar. Ela era linda, com seus cabelos longos ondulados e escuros, e com sua pele tão parecida com a dele na cor, mas fria como somente um morador normal de Forks poderia ser.
Ao retornar sua atenção para a paisagem do trajeto, tinha um turbilhão de pensamentos à cabeça, sendo a maior dúvida dela: o que Bella teria feito a Jacob para deixá-lo tão amargurado? Embry já havia lhe dito aquilo e a cada instante perto de Black, a garota podia notar ser verdade. A personalidade até então contraditória dele, para ela soava até engraçado. Ora Jacob era simpático, descontraído, lançando piadas de humor fraco que até a agradavam; ora, ele emburrava a face e se fechava como se ela não estivesse presente. De alguma forma, Jacob havia posto uma barreira entre eles. Uma barreira invisível que não os impedia de se ouvirem e conversarem um com o outro, mas impedia-lhes de se aproximarem. sentia-se incomodada com aquela inconstância, até mais do que ela poderia explicar.
O estridente som da campainha do celular dela se fez ouvir e, puxando o aparelho de sua bolsa, viu o nome de Erick ao visor. Atendeu à chamada despreocupada com a presença de Jacob, que disfarçadamente espreitava o assunto. Erick perguntou onde ela estava, a mulher respondeu que seguia a caminho da cidade na companhia de Jacob Black, e que em seguida iria até a reserva falar com Sue Clearwater. Ela poderia dar-lhe explicações maiores e mais detalhadas do que ocorreu, mas não era de ficar prestando satisfações às pessoas. Após ouvir o tom desgostoso de Erick ao se despedir dela e encerrar o assunto, ficou irritada por ter tido a chamada encerrada rudemente por ele.
— Que grosseiro! — reclamou encarando o próprio celular.
— Aconteceu alguma coisa?
— Erick Jones. Isso que aconteceu! — Sua voz era realmente irritadiça.
— Espera… Ele? Você namora o Erick Jones?
Jacob também não lhe pareceu muito satisfeito com a notícia e frisou bem o nome do policial ao qual falavam.
— Por que pergunta?
— Embry não disse que você namorava, e muito menos com ele.
— Embry falou de mim, é? Quando?
— Esta manhã, quando Sam contou que você ligou. Foi impossível fugir às perguntas, eu estava por perto e acabei escutando o seu nome.
— Hm… Bem, Embry não poderia dizer nada já que eu não namoro mesmo, e muito menos o Erick. Ele é só um amigo.
— Ah… — Jacob murmurou desconfiado.
— Escuta… Vocês têm algum problema com o Erick?
— Digamos que ele tem um problema conosco.
— Hm… Posso saber qual é?
— Pergunte a ele. E se descobrir, me conte — ele falou dando de ombros e a informando: — Já chegamos à cidade.
— Parece que demorou, não é?
— Um pouco. — Ele sorriu abertamente.
Sim, novamente o sorriso de alguém que desaprendeu a sorrir e que fazia ter vontade de desvendar a vida de Jacob.
— Você vai fazer o que aqui? Sem querer ser intrometido.
— Compras para minha casa, e algo imediato para preparar de almoço.
— Bem, o mercado da família Carter é o mais barato e tem de tudo. Aconselho você a ir lá.
— Bem, obrigada, Jacob. Mesmo. Pelo carro, a carona e… — Ela paralisou observando os olhos escuros, semicerrados e atentos de Jacob a ela. — Pelas conversas.
Havia uma expressão de dúvida no rosto de porque eles não conversaram exatamente, apenas tiveram breves diálogos, era o que ela diria. Mas sua expressão facial e certo desconcerto em agradecê-lo, provavelmente soaram com graça para Jacob, que não segurou uma risada farta. Riu mesmo, divertido. E , ao se deparar com tão genuína atitude dele, corou admirada.
— Você acha que demora aí? — ele perguntou para ela e apontou o mercado.
— Não sei. Talvez uns vinte minutos se não houver fila…
— Se eu estiver por aqui te dou uma carona de volta. Pode ser?
sorriu satisfeita. Queria passar mais tempo com aquele Jacob tranquilo, e até não se importaria com um pouco do emburrado, amargurado e antissocial Jacob, se eles pudessem ter uma oportunidade de se conhecerem.
— Eu vou adorar — ela respondeu simpática e antes de sair pela porta, sorriu para ele despedindo-se: — Até mais. — Fechou a porta do carro dele após descer, e acenou com a mão pelo vidro da janela.
Ao dar as costas a ele caminhando em direção ao mercado, sentiu que sua face estava corada. Sorrindo simpática, ela olhava para trás por sobre o ombro de vez em quando. Quando viu que Jacob havia descido e se encostado à porta de seu Rabbit e não deixou de observá-la, a garota acenou novamente.
Entrou no mercado atenta às pessoas simpáticas que sorriam para ela como quem lhe dava boas-vindas. O mercado dos Carter, a julgar pelo pensamento de , era um mercado grande para Forks.
Enquanto ela comprava as coisas necessárias, também pensava na risada de Jacob minutos antes. Ali, pela primeira vez, ele demonstrou a gargalhada mais sonora e linda que já havia escutado. Os olhos dele se apertavam miudinhos e sua boca alargava-se mostrando seus dentes brancos e belos. Ele era como um sol escondido por nuvens. Todo o “bate-papo” entre eles passou pela mente de em flashbacks. Os momentos que ele travava como se lembrasse da barreira invisível que ele mesmo pusera entre ambos, e em outros, tão displicente, entregando suas minúcias sutis e encantadoras. Tudo compunha um cenário de memórias fotográficas recentes, e que faziam sorrir sozinha entre uma estante ou outra do mercado.
Quando chegou ao caixa de pagamento, percebeu que as pessoas a encaravam tanto que ela se sentiu obrigada a cumprimentá-las. Muito felizes, responderam de volta e conversavam com ela. Diziam-lhe o quanto ela iria adorar Forks, elogiavam como ela era bela e, claro, tocavam elogios à cor de pele linda que tinha. Uma senhora a perguntou:
— Você é a namorada do jovem Erick Jones?
Respondeu que não, que eles eram apenas amigos e que Erick a ajudou muito nas primeiras semanas de mudança. E a senhora respondeu:
— Erick é um excelente rapaz!
não evitou rir discreta da situação, pois pareceu que a senhora queria “promover” Jones. Quando a vez de na fila de pagamento chegou, um senhor aproximou-se se apresentando:
— Seja bem vinda, senhorita. Sou Junior Carter. Dono do mercado e patriarca da família.
Ele também a apresentou sua esposa, que era a senhora da pergunta sobre Erick, e os filhos, Scott e Peter.
— Pode contar conosco para o que precisar aqui na cidade.
— Muito obrigada, Senhor Carter. É muita gentileza de todos vocês, meu nome é .
— Desculpe-me, … Você é por acaso parente de algum quileute?
— Não senhor, mas… Por que pergunta?
— Você é bem bronzeada — disse Peter, o filho mais novo, olhando admirado para .
Embry estava certo quando disse “É bem diferente das garotas daqui, vai perceber logo isso (…). Os rapazes vão confirmar o que eu digo”. O irmão mais velho de Peter, Scott, chamou-lhe a atenção dizendo que ele estava sendo indelicado e Peter desculpou-se com .
— Tudo bem, Peter. Eu sou bronzeada mesmo, mas é porque eu venho da ensolarada Phoenix. Espero não perder essa característica, adoro o tom da minha pele. Acho de um dourado lindo.
— E é, querida — falou a senhora Eva Carter, mãe dos meninos.
— Com certeza, você é linda, — Scott se pronunciou e fez corar com o elogio tão direto.
Ao perceber que seus filhos não iriam mais falar nada, o Senhor Carter continuou sondando já que Peter interrompeu-o.
— Bem, , pergunto porque de fato você se parece uma quileute. Mas se não é parente de nenhum ainda, logo será. Estou enganado? — Ele sorria apontando para a porta e olhando de modo curioso para a jovem mulher.
Jacob andava de um lado a outro na porta do mercado esperando ela, até que ele olhou para dentro e viu que todos o observavam. Acenou sem graça e se direcionou à entrada do estabelecimento. Enquanto isso, se explicava:
— Jacob me deu uma carona apenas. Meu carro quebrou na estrada e nos conhecemos hoje. — Sorriu sem graça em resposta.
— Algo me diz que tem alguma coisa na reserva quileute esperando você, . Pode não ser Jacob, mas há algo ou alguém lá a sua espera.
Jacob, que acabara de se aproximar, ouviu toda a “premonição” de Carter, calado e sorrindo torto. Havia chegado e pegava as compras de enquanto o velho Sr. Carter falava. A resposta do senhor Carter ficou no ar, sem resposta. Após pegar todas as sacolas pesadas e com uma agilidade incrível, Black sorriu para a família do mercado, e cumprimentou-os.
— Bom dia, Carters.
Todos o responderam, Scott e Peter eram amigos de Jacob e deram um soco cúmplices em cada ombro dele.
— Sr. Carter, tem mesmo alguém esperando na reserva — ele disse sorrindo e despedindo-se de todos.
— Foi um prazer. Espero revê-los brevemente — disse e saiu seguindo Jacob.
Já no lado de fora do mercado, olhava discretamente para o vidro da vitrine com as mãos no bolso da sua jaqueta e todos ainda estavam os observando juntos. Jacob guardava as sacolas no banco traseiro do seu Rabbit e, virando-se para ela, parou na sua frente, sorriu e perguntou-lhe:
— Você quer ver Sue ainda hoje?
— Não sei se vai dar… Tenho que ir para casa. Ainda tenho que preparar o almoço e até chegar à reserva…
— Sue já te espera para o almoço — Jacob disse sorrindo e abrindo a porta de seu carro para entrar: — Vamos?
— Jacob… Eu não sei. Eu realmente pretendo falar com ela, mas tenho tanta coisa para organizar em casa…
— Seu namorado está te esperando para o almoço? — ele falava olhando para o lado como quem foge ao olhar nos olhos da mulher, ainda segurando a porta.
— Eu já disse que Erick não é meu namorado. E não, ele não está me esperando para nada. — Então, com sua resposta, Jacob encarou apontando com os olhos para o banco do carro, e ela logo aceitou ao convite: — Tudo bem! Mas eu não posso demorar!
— É… Estou sabendo.
Jacob bateu a porta ao fechá-la, fazendo se assustar levemente e pelo retrovisor ver que ele dava a volta no carro sacudindo a cabeça e sorrindo para o chão. Ele acenou para os Carter que ainda os espiavam.
— Cidades pequenas! — disse entrando no carro e sorrindo para .
— Sou a atração. Acontece muito por aqui?
— Já tem algum tempo desde a última grande atração. — Jacob pigarreou e ficou sério. A barreira estava erguida novamente.
Jacob não era de escutar músicas enquanto dirigia, e apesar de todo aquele silêncio incomodar muito , ela não se atreveu a pedir-lhe que ligasse o rádio. O caminho seguiu silencioso. Algumas vezes eles se olhavam e sorriam sem graça.
apreciou a paisagem durante todo o percurso e ao passar pela sua casa, Jacob perguntou se ela gostaria de parar para guardar suas compras. Ela concordou e ele estacionou na entrada. Jacob agiu da mesma forma que Embry na noite em que a trouxe em casa. Quando perguntou o que ele estava fazendo, respondeu-lhe: “Apenas verificando”. Tudo estava normal, como imaginava que estaria, mas a verdade é que algo havia de estranho. Jacob sabia, e Embry também.
abriu a porta de sua casa convidando o homem a entrar, e ambos carregavam algumas sacolas. Ela colocou as compras dela sobre o balcão ilha da cozinha, e indicou Jacob a fazer o mesmo. Assim que ele fez o que a mulher pediu, retornou ao carro para buscar o restante enquanto procurava as compras que eram de geladeira. Ao retornar, ele elogiou sua casa e foi a empurrando de volta para o carro assim que viu a mulher terminar de guardar os itens perecíveis.
— Céus, qual o seu problema?
— Você não vai querer perder as melhores partes, não é? — Ele sorriu novamente aquele sorriso solar e tímido.
Capítulo Três - Descobrindo a Reserva
Ao chegarem à reserva, muitas pessoas, muitas mesmo, estavam conversando alto e sorrindo uma para as outras. Os quileutes, para , lhe pareciam pessoas muito felizes. Ela avistou Sue colocando travessas em uma mesa enorme de madeira, esculpida à mão e que se encontrava ali no meio do que seria uma espécie de “pátio”, abaixo de um enorme carvalho. Era como um piquenique no meio da floresta.
adorava as cenas e lamentava apenas não estar com a sua câmera profissional, aquele cenário merecia registro. Seriam fotografias lindas. Até poderia sacar a câmera do smartphone e fotografar, mas acreditou ser invasivo, ofensivo e até estranho fazê-lo. Enquanto olhava-os de dentro do carro, aos poucos eles iam percebendo a presença do Rabbit vermelho estacionado e de duas pessoas dentro dele. Jacob então tocou o braço dela, como se quisesse a acordar de um sonambulismo.
— Você está bem?
— Ótima. É tudo tão perfeito aqui. — Ela sorria.
Todos do lado de fora ainda observavam curiosos, calados e sorridentes. Aquela recepção toda era para ou eles eram assim mesmo?
— Eu não trocaria esse lugar por nenhum outro no mundo — Jacob disse também admirando todos à sua frente.
— Certo, vamos! Já estamos parecendo dois loucos.
Jacob abriu a porta para ela descer, assim que ele se pôs ao lado de fora. Ao descer, avistou Embry vindo em sua direção de braços abertos e sorriso contagiante. Como um urso, ele a abraçou forte, arrancando dela gargalhadas.
— Ei, Embry! Não me envergonhe. Tem muitas pessoas aqui!
— Relaxa. Eles estão acostumados com a minha espontaneidade.
sorriu para o rapaz dando um soco fraquinho em seu ombro. As pessoas começaram a se aproximar e a se apresentar. Sue, sempre muito simpática e sorridente, abraçou a garota e a parabenizou pelo trabalho conquistado. retribuiu o gesto carinhoso.
— Eu quem devo agradecê-la, se não fosse por você eu não teria o emprego e nem estaria aqui!
— Nesse caso, viva a Sue! — Embry dizia alegre fazendo corar.
— Está apavorando-a, Embry. — A mesma voz trovejante que falara com ela ao telefone se pronunciou. — Seja bem-vinda, . Sou o Sam Uley. Já nos falamos, lembra?
— Sim, foi nessa manhã. É um prazer conhecê-lo.
— Olá , eu sou Billy Black. Venha, deve estar com fome.
observou ao Billy por um tempo enquanto o acompanhava. Percebeu que se tratava do pai de Jacob a supor pela idade e interação entre eles, porém, ela não observou nenhuma característica comum entre os dois. Talvez tivessem alguma, mas de fato naquele momento a mulher não conseguiria perceber.
Jacob estava sentado em um toco um pouco afastado da grande mesa, ao lado do carvalho gigantesco. Ele estava de costas para a mesa absurdamente grande e magnificamente esculpida à mão.
— Ei, , Jacob comportou-se direitinho com você? — Embry perguntou e todos riram, menos Jacob, que o olhou de soslaio.
— Bem, ele se comportou como deveria, eu acho — respondeu tímida, sorrindo fraco.
— Tudo bem, querida, esses meninos gostam de piadinhas, mas não acreditam quando dizem a eles que eles não têm a menor graça — disse Sue sendo abraçada em seguida por Jacob que havia se levantado. Ele disse a ela: “É por isso que eu te adoro, Sue”.
Black a olhou e sorriu sem graça; Sue olhou para ele e para a visitante discretamente.
— Posso ajudá-la? — ofereceu.
— Tudo bem, querida, Emily e as meninas já me ajudaram bastante. Fique à vontade. — Sorriu.
— Ok. — se sentiu inútil e paparicada, e odiava se sentir assim.
— Ei, ! — Embry gritou. — Vem cá! Tem uns bobões querendo conhecê-la!
— Você está transformando a garota em uma atração, Embry — disse Emily, sendo acompanhada pelas risadas de todos.
— Embry é muito animado. Não se preocupem, e depois, não pode ser pior do que foi no mercado dos Carter’s — ela atestou a fim de não ser o centro das atenções.
— Você é muito gentil — disse Emily.
Emily tinha uma cicatriz bem grande no rosto e evitava falar com olhando-a totalmente de frente. Talvez, por receio de alguma atitude da outra, contudo, fingiu não perceber as marcas.
— Obrigada, Emily, você também é. — Soltou uma risada divertida e isso deixou Emily mais à vontade.
Abraçando Embry de lado, a nova amiga do rapaz resolveu se soltar um pouco mais:
— E então, onde estão os bobões, Embry Call?
Todos riam. Embry apresentou-lhe mais alguns garotos da reserva, incluindo Quil Ateara, outro irmão. Em seguida foram almoçar assim que Billy os chamou e ajudou a organizar tudo depois da comilança. A mulher surpreendeu-se ao notar que os quileutes tinham mesmo um apetite e tanto.
Depois de um tempo, Embry convidou para descerem à praia. Naquela hora, Jacob surgiu ao lado dele e sussurrou: “Pode não ser uma boa ideia”. Então Embry disse em sussurro que não teriam problemas. Foram descendo em uma trilha escorregadia e com algumas pedras até a praia. caiu algumas vezes e a cada tombo, os dois se acabavam de rir. Como ela estava muito estabanada, ao chegarem à parte mais pedregosa, Embry parou.
— O que houve? — ela perguntou.
— Como você está? — arguiu Embry a encarando de cima a baixo.
— Apenas alguns hematomas. Nada grave, por quê? O que houve?
— Nesse caso, peço-lhe desculpas e licença, mas eu preciso fazer isto — dizendo aquilo, ele tomou-a em seu colo.
Com o susto agarrou-lhe o pescoço. Ele olhou para ela e a expressão de seu rosto era cômica, Embry começou a rir do semblante assustado e constrangido da mulher, até que ela começou a rir junto.
O quileute era muito rápido e ágil, conseguia andar sobre as pedras como se os seus pés já tivessem as medidas certas das duras figuras. Entre um pulo e outro, o casal conversava, embora sentisse um pouco de constrangimento com aquela situação.
— Está confortável? — ele disse zombeteiro.
— Bastante — E ela respondia sorrindo e encarando seu peitoral. — Obrigada pela carona. Você me livrou de alguns hematomas mais sérios e um longo tempo sem poder me sentar. — Embry gargalhava.
— Ah não — disse o rapaz após parar de rir.
— O que foi? — perguntou olhando para frente.
— Já chegamos. Infelizmente! — Embry a olhava atrevido e ela ainda não entendia a razão por ele lamentar o fim da trilha até a praia, até que ele explanou: — Estava me sentindo muito bem em carregá-la.
— Bem, pode fazer isso mais vezes se você quiser.
— Certo, então eu acho que eu deveria continuar, afinal nós vamos subir nas rochas para nos sentarmos e como você mesma disse, melhor evitar hematomas mais sérios.
sorriu, mas ficou apreensiva. Pensou que poderia não ser uma boa ideia já que carrega-la enquanto escalavam as rochas lhe parecia muito arriscado. Indagou se era a respeito das impetuosas ideias de Embry que Jacob falava antes dos dois descerem. Achou melhor afastar aqueles pensamentos e se concentrar em cair o mais seguramente possível. Embry conseguiu subir com ela nos braços sem o menor esforço, e , atenta a ele, tinha algumas perturbações em mente: Como ele conseguia ser tão ágil daquela forma? E por que ele estava tão quente? Aliás, desde a noite anterior, ela notara que a pele do rapaz parecia incendiada.
Ao sentir a brisa fresca do mar tocar-lhe a pele, ficou ainda mais curiosa em quais circunstâncias genéticas daquele povo permitia-lhes não estarem cobertos com suéteres. Forks não era quente apesar de estarem também em uma praia, e absolutamente todos os rapazes indígenas ali estavam descamisados.
Embry colocou-a sentada sobre as rochas mencionadas e logo se juntou a ela, sentando ao seu lado e beijando sua face.
— Você parece sentir frio — mencionou o rapaz ao sentir a pele gelada do rosto dela.
— Vamos confessar que está, de fato, frio. Vou fingir que você se veste de vez em quando.
— Eu me visto. Estou de calças, não é o suficiente? — Olhou-a travesso e rindo.
— Sério? Ok! Então me diga que todos na reserva não estão vestidos apenas por minha causa!
— É complicado… Basicamente nosso metabolismo deixa a nossa temperatura corporal acima da média — Embry falava como se fosse a coisa mais comum do mundo.
poderia começar a congelar a qualquer momento, tamanho era o frio que sentia e ele lá, com aquela vibe: “Eu sou hot, baby”. O problema seria com ela? Embry percebeu que não era uma situação muito comum para a mulher deparar-se com aquela desculpa. Na verdade, nos últimos tempos, ele vinha sentindo-se aquecer mais do que os demais irmãos. Na tentativa de inventar desculpas mais convincentes, ele continuou suas explicações sobre o fenômeno, sem que entregasse o seu segredo:
— Claro que nós sentimos frio e nos agasalhamos, mas também vivemos a vida inteira em Forks. Nós nos acostumamos ao clima ameno daqui. Provavelmente você está estranhando as baixas temperaturas para alguém que veio de Phoenix, como se estivesse no próprio Alasca! — Olhou-a de soslaio com um sorriso de canto zombeteiro.
sorriu e olhando para as pedrinhas abaixo de seus pés, fingiu acreditar enquanto seus pensamentos o contradiziam: “Sim, claro, eu e toda a cidade que viemos de Phoenix…”.
— Está com frio? — Por fim, perguntou a ela de modo amigável.
— Sim, e parece que o tempo está virando ainda mais — respondeu brincando com algumas conchinhas na rocha e contou-lhe: — Eu lhe telefonei mais cedo.
— Eu soube.
— Seus amigos estão enganados a nosso respeito.
— É, eu sei — justificou-se rindo. — Não ligue para eles, tá?
Embry abraçou a mulher aninhando-a em seu peito. Em seguida, pediu desculpas e perguntou se podia fazer aquilo, alegando que o abraço era apenas para que ela se esquentasse um pouco. Lógico que não recusaria, assentiu calada e colocou suas mãos nos bolsos da própria jaqueta. Um silêncio absurdo pousou naquela praia sendo desafiado pelo rumor das ondas furiosas.
— ?
— Sim?
— Por que você disse lá em cima que nossas reações não poderiam ser piores do que foram no mercado Carter?
Ela ergueu a cabeça à altura do queixo de Embry para espiá-lo. O garoto fitava o horizonte com olhar enrugado, aquele olhar que molda rugas na testa.
— Não foi nada de mais, por quê? Eu ofendi o pessoal?
— Não. Só que… Eu falava sério quando perguntei se o Jacob havia se comportado. Ele é bem instável, sabe? Eu não fui o único a ficar apreensivo com o que ele poderia dizer a você, quando soubemos que ele a socorreu em seu carro e te traria para cá.
— O que ele poderia dizer ou fazer comigo para tanta preocupação? — perguntou curiosa.
— Não é nada ruim, mas é que… Jacob pode ser bem rude quando quer. E você é amiga da Bella…
— É eu já percebi. Não que ele tenha sido rude, mas Jacob é um mistério. Ao mesmo tempo em que ele se aproxima, ele se afasta. Não sei se não gosta de mim, se tem medo das pessoas ou os dois — falava voltando a olhar o mar e ainda abraçada com Embry. Ela não o soltaria por dois motivos: aquela situação era deliciosa e estava aconchegante e quente.
— Não acho que seja possível não gostar de você — Embry falou acariciando os cabelos dela. — Jacob vai se soltar assim que te conhecer melhor. Não se preocupe.
— Certo. — E se lembrando da pergunta, que parecia que ela tentava evitar, respondeu notando que começava a chuviscar: — Respondendo a sua pergunta… É que lá no mercado dos Carter insinuaram que o Jacob e eu tivéssemos algum tipo de relacionamento parentesco.
— Como assim?
— O Sr. Carter perguntou se eu era uma quileute, pois parecia muito pelo tom da minha pele. Quando eu esclareci tudo, ele viu o Jacob me esperando na porta do mercado e insinuou que se eu não era parente de alguém da reserva, em breve eu me tornaria. Então quando eu esclareci as coisas novamente, ele meio que… — parou de contar e começou a rir lembrando-se: — Profetizou que havia alguém me esperando aqui na reserva, ainda que não fosse o Jacob.
— Você deveria levar um pouco mais a sério as “premonições” do Sr. Carter. É só um conselho. Costumam funcionar.
A chuva tornava-se levemente maior e mais grossa.
— Sério?
— Bem, de fato esperávamos você aqui, não é? — Novamente Embry gargalhava divertido. O humor dele era contagiante!
— Seu bobo! Você entendeu! O Sr. Carter falou como se tivesse algum tipo de namorado para mim por aqui — a mulher disse voltando a erguer seu rosto para o queixo dele e falou de maneira óbvia.
— Talvez tenha. — Embry devolveu baixando o rosto dele a ponto de olhá-la nos olhos.
Suas faces estavam muito perto e a chuva começava a encharca-los. Embry pousou sua mão quente no queixo arredondado dela e os dois se beijaram. Um beijo calmo, tranquilo e harmonioso. A forma como Embry a prendia contra seu corpo era delicada, se sentia confortável para tocá-lo e abandonar-se nos braços musculosos e fortes do rapaz. Ambos pararam o beijo e começaram a rir pela cena adolescente de um casal aos beijos tomando chuva. Ele novamente colocou-a em seu colo, e ela o agarrou mais uma vez, dando risadas divertidas enquanto Embry fazia caretas fingindo não aguentar o peso dela.
— Ei, mocinha, esse beijo te engordou — disse piscando saliente.
— Esse beijo te enfraqueceu, você quis dizer! — sorria cada vez mais largo.
— É… Ou isso — concordou fazendo uma cara engraçada. — Agora vamos, já estamos muito molhados.
Subiram a mesma trilha pedregosa e ao chegar ao topo, ainda na mata e um pouco afastados do acampamento quileute, Embry a colocou no chão. Jacob estava ali ofegante e observava-os. Ao perceberem ele, desenrolou seus braços do pescoço de Embry.
— E aí, Jake? Aconteceu alguma coisa?
percebeu que a reação de Jacob ao ouvir Embry pronunciar aquele apelido foi bem diferente da forma como ele reagiu com ela. Era como se ele não ligasse, como se fosse indiferente ouvir aquele nome sendo dito por Call.
— Não. Eu só estava indo atrás de vocês. Parece que vem uma tempestade por aí.
— Tudo bem, nós estamos bem — Embry disse. — Vamos, a vai precisar se trocar.
Ela sorriu para Embry como se fossem duas crianças que haviam feito travessuras. Jacob deu-lhes as costas e saiu, enquanto o casalzinho o seguia. Já no grande pátio da reserva, saídos da mata, Jacob foi direto para a casa de Billy que estava sentado na varanda. Seu pai estranhou que o humor do filho parecia afetado e lhe direcionou palavras, mas Jake não ouviu. Apenas entrou molhado, sendo seguido por Billy.
Sue e Emily estavam deitadas em umas redes na varanda da casa de Sam e a maioria das pessoas que estavam na reserva já haviam ido embora. Junto com as senhoras, sentados na varanda, estavam Quil e Sam.
— Para onde foram todos? — perguntou a Embry enquanto se aproximavam dos novos amigos.
— Acredito que para suas casas. — O rapaz apontou para o norte da mata da reserva: — Outras cabanas afastadas um pouco mais a frente.
Quando notaram os dois se aproximando, Quil e Sam se olharam e riram discretos entre si. Pela expressão do irmão, voltaria mais vezes à tribo. Sue, toda preocupada, entrou para pegar uma toalha e Emily puxou para dentro da casa também.
— Emily, eu vou molhar todo o assoalho — a visitante reclamou ao entrar.
— O assoalho seca! Já uma gripe… São litros e litros do chá caseiro da Sue, que apesar de ser uma ótima cozinheira e muito boa pessoa… Bem, é melhor você evitar aquele chá — ela disse sorrindo. — Vamos! Empresto algumas roupas a você.
— Obrigada. Você mora aqui então? — Sue apareceu entregando uma toalha à moça e sorrindo, em seguida foi à cozinha.
— Desde que Sam e eu nos casamos.
— Ora! Eu não sabia que vocês eram casados. Bem, formam um casal lindo, de verdade! — mostrou-se simpática entrando no quarto, embora ainda cautelosa.
— Obrigada. — Emily já se sentia muito mais confortável com e olhando para trás, notou-a na porta estática evitando entrar. — Ora, vamos! Entre. Não precisa se preocupar com o chão. — voltou a olhar seu guarda-roupa enquanto entrava tímida. Namorou um vestido e erguendo-o perguntou: — Esse está bom para você?
— Está mais do que ótimo!
— Não, é sério! Tenho outros, pode escolher se não te agradar.
— Esse é lindo, Emily. Está muito bom — a mulher afirmou com o vestido em mãos.
— Bom, então o banheiro é ali, pode trocar-se. Caso não lhe sirva, deixarei outros aqui na cama para você escolher. Vou descer e volto já.
— Certo. Obrigada.
A casa de Emily e Sam era acolhedora e linda. O tipo de casa que agradava muito à : cabaninha rústica, simples, feminina e alegre. A sua nova casa não estava assim tão perfeita. Precisava de algumas pinturas e reformas, e logo a recém-moradora conseguiria deixá-la totalmente ao seu gosto. Porém, o que fazia a cabana de Emily perfeita, na opinião de , era a sua localização. se encantou pela reserva, pela praia de La Push e irrevogavelmente pela vizinhança. Se o seu casebre fosse ali, com certeza seria perfeito!
O vestido caiu-lhe como uma luva. Um pouco justo pelo tipo de tecido, mas nada vulgar. sabia que sentiria frio, mas não recusaria uma gentileza e faria exigências!
Dobrou suas roupas molhadas e pegou seus sapatos, e ao entrar novamente no dormitório da quileute, os vestidos estavam lá como Emily dissera. Não encontrando a dona das roupas ali, decidiu chama-la para guarda-los. Abriu a porta do quarto e topou de cara com Embry. Ele enxugava os cabelos desgrenhados — tal como os cabelos de — e ainda estava sem camisa, com “a roupa” molhada.
— Uau! Alguém deveria dizer à Emily que esse vestido cai muito melhor em você do que nela.
— Obrigada — agradeceu encarando o chão visivelmente sem graça.
Emily apareceu atrás de Embry, mas não foi percebida pelos dois que ficaram se olhando.
— Vai se trocar, Embry! Antes que a Sue te veja ainda molhado e corra para preparar o chá. — Embry piscou para e saiu esfregando os cabelos em direção a outro quarto.
— Eu já ia te chamar. Pode guardar seus vestidos e muito obrigada, Emily! Acho que ficou bom, não é? — deu uma voltinha para ela.
— Sim, ficou ótimo! — Emily disse animada puxando-a de volta para o quarto: — E se disserem o contrário é só você olhar para o rosto do Embry e ficará certa disso! Vocês também formam um casal lindo. Fico muito contente por vocês. — A mulher soltou de uma vez suas teorias e abraçou deixando a outra confusa.
— Hãm… Eu agradeço, Emily, mas somos apenas amigos.
— Arrãm! Mais alguns beijos e tudo ficará certo! — A morena arregalou os olhos e a quileute gargalhou, explicando: — Ele não disse nada, eu só percebi que vocês voltaram diferentes. Me desculpe, ! Nem nos conhecemos direito, mas, por favor, me conte! — Emily dizia enquanto puxava a visitante para se sentar na cama dela.
— Ah, tudo bem. Vai ser bom ter uma boa amiga para contar segredos! — revelou e Emily batia as palmas como uma adolescente. — Foi só um beijo, um pouco antes de subirmos. Mas foi ótimo. Embry é… Como dizer… Hãm…
— Delicioso? — Emily falou e a olhou surpresa. — Bem, Sam é delicioso. Eu só dei um palpite.
— Acho que eu poderia dizer isso, mas não é a palavra certa… Só sei que eu me senti muito confortável com ele.
— Isso é lindo! — Emily disse sorrindo. — Olhe, desça com sua roupa. Sue vai colocá-la na secadora.
— Não é preciso, eu já vou embora. Antes que a tempestade me pegue.
— De forma alguma! Ficará aqui mais um pouco. Embry ou Jacob levam você para casa. Enquanto eu arrumo aqui, vai descendo, o café de Sue já está cheirando! Sente?
assentiu num meneio de cabeça. Abriu a porta do quarto e novamente esbarrou em Call. Ele a cobriu com um enorme casaco dele.
— É claro que ninguém vai se ligar que você é uma friorenta até começar a ficar roxa.
— Eu pensei a mesma coisa. Tenho sorte de você ser esperto, não é?
— É, eu sou esperto.
— Tenho sorte também de você estar por perto, certo?
— Você eu não sei, mas eu tenho muita sorte de tê-la aqui. — Embry segurou em seu queixo e, novamente, a garota perdeu o ar se imobilizando. Os dois beijaram-se mais uma vez, e foram interrompidos pela porta que se abriu, revelando Emily que fez uma careta engraçada por ter atrapalhado.
— Ah não! — ela disse quando viu que os dois se afastavam: — Continuem! Por favor, eu nem estou aqui! — Piscou e saiu rumo ao andar de baixo.
Desceram atrás dela, entregou as roupas a Sue e pegou uma bandeja e, depois de muito implorar para parecer útil, conseguiu convencê-la a deixar que servisse a todos.
Ao chegar à varanda, avistou que Jacob estava lá. Todos pegaram suas canecas e quando chegou a vez do rapaz, ele colocou a mão na dela, e, sem retirá-la da bandeja, começou a encarar os trajes que a garota vestia. Ergueu a sobrancelha em dúvida para ela, a respeito do casaco. Quil fez uma piada sobre “o defunto ser maior” e eles riram, então explicou que o moletom era de Embry. Sam zombou divertido: “Hummm… Já estão dividindo as roupas? Quanto até chegarem às escovas de dente?”. Embry não gostou muito da piada e jogou uma almofada no mais velho mandando-o se calar, ao passo que apenas sorriu bem pouco constrangida.
Ela passou o fim de tarde ali conversando com eles. Os meninos contando piadas e a garota, na maioria das vezes, rindo. Vez ou outra era instigada a contar alguma também e fazia certo sucesso. Até Jacob estava se divertindo.
Começou a chover mais forte e sentia ainda mais frio. Embry, ao perceber, a abraçou e aquilo gerou uma confirmação geral de que “algo” estava rolando. Nem ele e nem ela confirmaram nada de fato, porque não tinha nada a confirmar. Então, se pronunciou a eles sobre ter que ir embora, pois já era tarde.
Antes de obter qualquer resposta, Billy apareceu na porta da casa de Sam e chamou os garotos com certa urgência; Sue e Emily se olharam cúmplices. Ninguém notou que tinha uma atenção apurada ao que a rodeava, e tal como estavam, ela sentiu a todos apreensivos. Embry aproximou-se e disse a ela que precisaria sair com os rapazes, pois havia uma matilha de lobos solta na mata e eles deveriam afastá-los.
— Mas como vocês vão fazer isso? — perguntou um pouco preocupada.
— Tudo bem, nós estamos acostumados, eles sempre aparecem. Nós não os matamos porque é contra nossas tradições e regras quileutes. Todos ficarão bem. Relaxe — ele disse sorrindo. — Jake levará você de volta, tudo bem?
— Claro! — Ela sorriu de volta.
— Nos vemos depois? — Embry disse um pouco desconcertado.
— Se você não ligar, eu ligo — falou convincente.
— Eu vou ligar — disse e a beijou.
Aquilo foi suficiente para que os rapazes soltassem gritinhos de aprovação e zombaria.
Eles partiram mata adentro e Billy se aproximou da visitante do dia. Disse para não se preocupar, e que todos ficariam bem. Sue trouxe as roupas dela, secas, em uma sacola. Despediu-se de Emily e Sue, agradeceu imensamente pelo dia maravilhoso e Jacob acompanhou até o seu carro, abrindo a porta para ela. Os dois seguiram em silêncio durante todo o percurso, a menos por um pequeno diálogo.
— Esses lobos… — E antes que ela terminasse a pergunta, Jacob a interrompeu:
— Ficarão todos bem. Principalmente Embry, ele é sagaz. — E soou rude como Embry havia lhe dito.
percebeu que ele estava áspero, com cenho vincado em preocupação e se encolheu no banco do automóvel tamanho era o desconforto que sentiu. A voz de Jacob soava muito mais trovejante e bravia.
— Não se preocupe, . — Black a encarou, acuada, e pôs-se a parecer mais educado tentando amenizar o clima, porém, ofendida, nem mesmo olhou para ele.
A mulher continuou observando a mata à sua janela. No caminho eles se depararam com o carro de Charlie Swan. A viatura parou e Jacob estacionou no acostamento, ele desceu do carro e foi falar com Charlie. Conversaram uns pequenos instantes e logo voltaram aos seus cursos. Jacob não contou para a mulher o que havia sido dito e ela também preferiu não perguntar.
Ao chegar em sua casa, a tempestade estava alta com muitos relâmpagos e trovões. não parava de pensar nos rapazes no meio da floresta e do risco que corriam com os lobos e o mau tempo. Jacob seguiu aquele mesmo ritual de “verificar se tudo está bem” antes de permitir que ela descesse do carro; um ritual, para ela, desnecessário e assustador. Era como se, quando faziam aquilo, demonstrassem que ela corria sérios perigos. sentia medo, tudo parecia horrendo com o cenário do seu casebre isolado e a tempestade. As luzes fracas dos postes da rua se apagaram e ela abriu a porta de sua casa, tentando acender as luzes.
— Ótimo. Faltou energia — resmungou.
Jacob já havia notado e, com delicadeza, a instigou a entrar logo; em seguida, ele fechou e trancou a porta. Apesar de desconfortável, ela não o expulsaria de sua casa sem mais nem menos, o avisou que tinha algumas lanternas na cozinha enquanto ele ficava parado na sala. Depois que pegou e acendeu as lanternas, retornou para o cômodo onde ele estava lhe entregando um objeto, e então, eles ouviram um estrondo no telhado.
Jacob correu até as janelas e ficou imóvel e cauteloso observando do lado de fora. Enquanto procurava a caixa de interruptores ouviu um rosnado alto e próximo, depois um silêncio. A garota correu em direção à sala, onde Jacob estava e perguntou o que era aquilo. Ele falou que era um lobo na porta, mas que já havia ido embora.
Black se ofereceu para ficar com ela aquela noite, pois, sem energia e com lobos à solta, em uma casa isolada e aparentemente inabitada poderia ser perigoso que ela ficasse só. de fato estava apavorada e não pensou em recusar por nenhum momento. Levou Black ao quarto de hóspedes para que soubesse onde ficava e lhe entregou algumas roupas de cama.
Depois eles desceram, e Jacob se ofereceu para olhar a instalação elétrica. O interruptor geral ficava na cozinha, Black analisava-o com a lanterna e espalhou algumas velas acesas pela casa. Com um pouco de dificuldade, ela começou a guardar as compras que estavam sobre sua bancada e ele a impedira de guardar mais cedo. “Deixa isso, eu te impedi de guardar mais cedo então te ajudo assim que acabar por aqui”, Black disse. Então deixou tudo de lado e preparou um café rápido. Sentou-se na banqueta do balcão com a sua xícara de café, pousando a xícara dele ao lado da sua.
— Tudo bem, Jacob, acho que o problema foi geral. Senta aqui, seu café vai esfriar. — mordiscava uns biscoitos que conseguiu servir apesar do escuro.
— Você está certa. O problema não é na sua instalação, porém ela precisa de uma revisão — ele disse fechando a caixa e dirigindo-se para o banquinho ao lado da mulher, sentou-se de modo que os dois ficaram de frente um para o outro.
— Café a luz de velas. — Jacob ergueu a xícara para um brinde e sorriu sem graça, brindando de forma bem-humorada com ele:
— Ao escuro — ela disse.
— Ao escuro? — Black riu confuso.
— Você consegue pensar em algo melhor para brindarmos? — Ela bebericou seu café amargo, o olhando por cima da xícara de uma forma travessa.
— À minha companhia, é lógico!
— Sua companhia? O que o faz pensar que isso é algo do qual eu deva brindar?
— Não gosta de ficar perto de mim?
— Eu? Imagine! Não sou o tipo de mulher que se retrai pelos outros. Pelo contrário, você é que não gosta muito de pessoas.
— Tudo bem, se você diz. — Jacob sorriu e continuou bebendo e comendo.
Continuaram conversando aleatoriamente coisas sem nexo. Para , qualquer coisa que ela conversasse com Jacob seria sem nexo. Ela o sentia tão distante, tão perto, tão igual a ela apesar de ver o contrário! Ele a confundia e isso não era nada, absolutamente nada, bom, tratando-se de um ser meticulosamente curioso como . Então a garota observou uma tatuagem no braço do rapaz e ficou olhando-a silenciosamente.
— É coisa de irmãos e clã — Black respondeu olhando para ela, de um modo frio.
— Ah… — disse envergonhada: — É muito bonita.
Ela estava sendo sincera, mas Jacob riu entre as narinas e abaixou a cabeça a fitar o chão. Levantou novamente a visão para o rosto da mulher à sua frente, de modo direto, enquanto fingia observar qualquer objeto na sala para escapar à encarada dele.
— Você é muito curiosa — ele disse fazendo com que voltasse a olhá-lo.
— É? Como sabe?
— Percebo as coisas. Isso eu percebi no dia em que nos conhecemos em La Push.
— Como?
— Só percebi.
Inteiramente enigmático. Um tipo intrigante de pessoa que toca em um assunto para depois distanciá-lo. Após beber duas xícaras de café conversando em quase silêncio com o galante Black, ela decidiu guardar as compras ou pelo menos aliviar o número de sacolas espalhadas na cozinha.
Levantou-se retirando as xícaras e levando-as à pia para lavar, porém Jacob interveio segurando em seu braço e dizendo amistoso: “Eu faço isso”. o respondeu com um sorriso e foi às sacolas; logo ele se pôs a ajudar.
Black estava completamente perdido na cozinha da casa dela, o que fez com que não contivesse uma boa risada ao vê-lo andar atrás de si com as coisas na mão pronto para entregá-las, batendo nos armários e esbarrando nas banquetas. Alguns itens ficavam em um armário alto, ela abriu a porta dele e com a lanterna buscou algo em que pudesse subir a fim de alcançar as prateleiras. Entretanto, Jacob se ofereceu para guardá-los dizendo que seria bom que ela evitasse acidentes, já que ele percebera que a garota tinha um declínio para tombos e fazia o tipo desajeitada.
Ouvindo aquilo, ela sorriu enviesada e decidiu não negar, virava-se para pegar algumas coisas sobre o balcão abaixo do armário alto e iria entregar a ele, mas a mão de Jacob foi mais rápida do que a dela. Ele estava atrás de e com sua agilidade surpreendente colocou os itens no armário. A mulher ficou meio presa entre ele e o balcão do armário, sentindo a proximidade dos seus corpos lhe causando um novo desconforto.
Quando ele havia terminado de guardar as coisas, pôde olhá-lo novamente, sem graça, estavam mesmo muito perto. Jacob se aproximou mais, ao ponto de sentir a sua respiração que começaria a se alterar a qualquer momento. Ela até pensou que ele a beijaria, porém, o rapaz apenas esticou o corpo para pegar uma última lata de conserva que estava mais distante sobre o balcão. permaneceu olhando para baixo quando ele a pegou e guardou e, fechando as portas, se distanciou dela.
— Acho que acabaram. Não vejo mais nenhuma sacola. — Jacob olhava em volta. — Se bem que, nessa iluminação…
— Sim, sim. Já guardamos tudo. — Ficaram se olhando em silêncio, as luzes da vela iluminavam suas faces de um modo terrorista e, quase em sussurro, perguntou:
— Você quer mais alguma coisa, Black?
— Não, obrigado, estou bem. E você, quer alguma coisa? — o rapaz respondeu sentindo a mesma aura palpável de tensão.
— Não… — ela disse absorta a olhá-lo, até recuperar os sentidos de vez: — Tá. Eu vou subir… Tomar um banho e descansar, mas fique à vontade!
— Eu também prefiro me recolher se você não se importa.
— Certo… — Ela ainda estava desconcertada, mas não conseguiu assimilar uma razão para aquilo.
Instantes antes estavam os dois falando como duas pessoas comuns e à vontade; e no outro, novamente se tratavam como se pisassem em ovos. Era culpa da barreira, talvez, a tal barreira que sentia que Jacob impunha entre eles e não a deixava esquecer.
— Pegue uma lanterna então. Apagamos as velas e se no meio da noite você quiser descer…
— Tudo bem — Black disse pegando o objeto e apagando as velas da cozinha de repente, deixando a ambos totalmente no escuro.
— Hã… Jacob, eu não enxergo — ao dizer isso, sentiu uma respiração muito próxima à sua. Ele estava em sua frente e muito, muito perto.
— Desculpe. — Pegou a mão dela, e acendeu a lanterna sob seus rostos.
sentiu certo medo, naquele momento ele parecia um psicopata, mas ao mesmo tempo — de forma contraditória — ela se sentia bem com ele. Jacob a guiou pelo caminho, ela pegou a própria lanterna e foram apagando as velas espalhadas nos outros cômodos. Subiram as escadas e ao chegar à porta do quarto da garota, os dois pararam.
— Bem, você conhece o caminho. — Ela apontou o quarto em que ele ficaria.
— Boa noite, . Durma bem. — E pela primeira vez, ele pareceu gentil.
— Você também. — sorriu alegre. Ele deu-lhe as costas, mas ela voltou a chama-lo permitindo a ele encará-la de novo. — Obrigada pela companhia e pelas compras… — disse fazendo uma das suas caretas ridículas.
E mais uma vez, ao notar como ela mesclava-se entre a desconfiança e a ingenuidade, Jacob Black lhe direcionou o sorriso travesso de quem não sabe sorrir. Lamentavelmente, começava a se apegar àquele sorriso.
— Não tem que agradecer por nada — falou voltando-se ao quarto.
Quando entrou em seu quarto, preparou-se para tomar banho pegando seus pertences e direcionando-se ao banheiro que ficava do outro lado do corredor. Não demorou naquela tarefa básica. No corredor, na parede de frente a ele, lateral à porta do banheiro havia uma janela pequena coberta com uma cortininha caipira. Ao sair do banho, distraída, deu de cara com uma figura alta e gritou assustada. Os reflexos dos relâmpagos que incidiam pela janelinha, iluminaram o rosto à sua frente. Era Jacob, e ele segurava a sua mão tentando a acalmar.
— Tudo bem, , sou eu. Só vim ao banheiro — falou a olhando assustado e aflito.
— Isso está parecendo um filme de terror! — a mulher resmungou, por fim, ofegante.
— Você está bem? — Jacob a analisava de cima a baixo.
— Sim. Agora sim.
— Certo, então eu posso entrar?
— Claro.
Desajeitados e ansiosos, os dois se esbarravam tentando passar um pelo outro até que Jacob parou, permitindo que a mulher, assustada, saísse primeiro. olhou para trás e ele já tinha entrado. Jacob ainda estava sem camisa, e novamente ela indagou-se da capacidade que os quileutes tinham em não sentir frio.
Tentou dormir com certa dificuldade, em seus pensamentos não saía a sensação e memórias recentes dos beijos e momentos com Embry. Pensou também naqueles rapazes lá fora, atrás de lobos. Pensou no tal lobo, que horas antes Jacob dissera estar na porta da sua casa. Pensou em Jacob e ela na cozinha, com as compras, com as velas, e finalmente na porta do banheiro. Tantos pensamentos a impediam de dormir; então desceu a fim de beber um copo de água e se acalmar.
Chegando à cozinha, a mulher viu um vulto passar pela janela do lado de fora, e decidiu se aproximar de forma imprudente e automática. Com passos leves e tímidos foi andando até a janela, até que um homem apareceu por trás dela, prendendo-a pela cintura e com outra mão silenciando-a. Era Jacob, de novo.
— Sobe! Eu vou lá ver — sussurrou.
Parecia nervoso e agitado, tinha uma feição enojada. teimou com ele, mas Black a convenceu. A morena subiu meia escada, então ele olhou na sua direção e apontou para que ela subisse de vez e, contrariada, ela o fez. No topo da escada espionou-o.
Jacob saiu, ouviu um rosnado forte por alguns minutos e depois silêncio. Quando decidiu descer para checar se Black estava bem, o quileute apareceu na sala. Trancou a porta, conferiu todos os trincos, foi à cozinha e demorou uns minutos. Quando ia atrás dele, Black apareceu com uma jarra de água e um copo. Pediu a ela que subisse e ela o obedeceu sem saber por quê. Jacob a seguiu até que pararam novamente no corredor.
— Jacob! — chamou-o como alguém que exige explicações.
Jacob abriu a porta do quarto dela entrando, e a mulher seguiu-o um tanto confusa e surpresa, o homem deixou em sua mesinha de cabeceira o copo e a jarra com água e os dois voltaram a se encarar. Ela, incrédula e curiosa.
— Os lobos estão agitados esta noite. E estão por perto, não sei bem por quê. Não se preocupe que ao raiar do sol eles somem.
— Lobos? — fez uma pausa, desconfiada e afirmou: — Escuta, o que eu vi foi um vulto humano.
— Bom, realmente era um lobo. Você deve ter se confundido.
— Jura?
— Você não o ouviu rosnar para mim? — Jacob perguntou de modo esnobe.
— É… Eu ouvi. Como se livrou dele? — A mulher continuava duvidosa.
— Tinha uma vassoura perto da porta. Não será problema se não vier em bando. De qualquer modo, aqui dentro estamos seguros, ele não vai assoprar sua casinha como fez com os três porquinhos. — Black ironizou bem-humorado.
— Tudo bem.
Apesar de concordar com ele, fingia acreditar. Estava muito certa de que era um humano o dono daquela sombra, e não um lobo. Jacob saiu do seu quarto fechando a porta sorrindo e depois de tudo aquilo, a garota fechou os olhos para dormir. Com sucesso não conseguiu mais acordar, pelo menos, até o sol da manhã queimar o seu rosto.
Capítulo Quatro - O Flagrante de Erick
Amanheceu. escovou os dentes, sentiu o cheiro do café e desceu, Jacob estava na cozinha mexendo na geladeira e a garota encostou-se à bancada sorrindo.
— Bom dia, Black. — O indígena virou-se para ela e sorriu.
— Bom dia. Belo penteado.
— Desculpe te decepcionar, não sou como as donzelas de filme que acordam belas, maquiadas e penteadas — ela disse em um tom divertido pegando uma xícara e se servindo daquela bebida quentinha e cheirosa.
Jacob, fechando a geladeira e pousando o queijo no balcão, olhava para , quase que admirado, com um olhar indecifrável e um sorriso de canto tímido e ainda assim, ousado.
— Corrigindo: você só não acorda penteada e maquiada. A outra parte é verdade — falou pegando uma xícara.
Ela sorriu pelo elogio gentil que ele lhe fez e percebeu que Jacob tinha olheiras fortes, observou por sobre o ombro dele notando a camiseta que estava no sofá.
— Não dormiu ou dormiu no sofá?
— Dormi um pouco. Na cama, mas acordo cedo — falou preparando um sanduíche. — A propósito, perdoe-me por invadir sua cozinha e mexer em suas coisas.
— Ai, fala sério. Não tem que se desculpar. — Revirou os olhos e abanou as mãos ao respondê-lo.
— Bom apetite. — Jacob lhe entregou um sanduíche aparentemente apetitoso.
— Obrigada, Black, mas eu não sou de comer de manhã. Fique à vontade.
— Por isso está assim, um graveto.
— Acha mesmo que estou magricela? — perguntou desencostando seus cotovelos da bancada e dando uma volta para ficar ao lado dele.
— Se quiser ser forte como eu, trate de comer e não me fazer essa desfeita.
— Tudo bem, eu não quero ficar forte como você — a garota zombou dos grandes e extensos músculos dele.
Passaram os primeiros instantes do café da manhã comendo e conversando, e combinaram de que Jacob levaria o carro batido de para a reserva e faria os consertos necessários por um preço camarada. Black também se ofereceu para ajudar com a reforma da casa dela.
Após arrumarem a bagunça do café, ele prendeu o Munstang preto ao Rabbit vermelho dele e pegou sua camiseta e chaves. Na porta de casa, os dois se despediam quando outro carro chegou: uma viatura da delegacia. Erick desceu aproximando-se muito contrariado. pôde perceber que Jacob revirou os olhos ao vê-lo e tratou-o com desdém.
— Estou atrapalhando? — disse Erick com seu humor um pouco alterado.
— De forma alguma, eu já fiz tudo o que eu vim fazer — disse Jacob para o policial piscando para em seguida, claramente provocando Erick. — Eu já estava de saída.
— Então tenha um bom dia — Erick disse grosseiramente.
— Erick!? Qual o seu problema? — advertiu pela falta de educação.
Ele ignorou, subindo os degraus da varanda indo até ela e parando ao seu lado.
— , se precisar pode me ligar. Deixei meu telefone no seu quarto. — Erick se exaltou ao ouvi-lo e puxou a mulher para entrarem, mas se soltou e olhou reprovadora ao policial. — Vou analisar melhor seu carro e qualquer coisa eu te aviso.
— Certo, também pode me ligar quando quiser. Depois combinamos a reforma, pode ser?
— Com certeza! — Jacob disse animado.
Erick estava parado atrás da garota, de braços cruzados, observando a tudo muito contrariado. Black subiu os degraus se aproximando, parou à frente dela encarando-a; passou as mãos em seu rosto e deixou extremamente confusa com o gesto. Até que ele sorriu travesso e a mulher percebeu que ele pretendia irritar ainda mais a Erick. Então, segurando o seu queixo, Jacob beijou a face dela de um jeito demorado, em seguida a abraçou carinhosamente e piscou caminhando até seu carro.
Depois daquela cena, o policial adentrou a casa pisando fundo e bufando. , não gostando da atitude do homem, revirou os olhos e acenou para Jacob em despedida. Esperou que o carro se distanciasse para entrar e ao passar pela porta, se lembrou do que Jacob dissera sobre o lobo na noite anterior. “Havia uma vassoura ao lado da porta…”. percorreu o local com o olhar e não enxergou vassoura alguma. Não havia nada com o que ele pudesse defender-se de um lobo.
Erick estava na cozinha e distanciou a mulher de seus pensamentos com uma série de perguntas:
— O que ele fazia aqui? Ele dormiu aqui, não é? Tomaram café juntos? Fala, ! Explique-se! — dizia percebendo a recém-arrumação de um café da manhã a dois na cozinha.
— Em primeiro lugar, não devo explicações da minha vida a você — ela disse enraivecida com a arrogância de Jones.
— Ah não? E o que nós temos? — Erick perguntou se aproximando.
— Não temos compromisso algum um com o outro, Erick! Você é um amigo.
— Vai negar que existem sentimentos entre nós?
— De forma alguma. Mas eu não considero um ou mais beijos um compromisso. Pelo menos não sem um diálogo que nos leve a essa conclusão. Eu sempre deixei muito claro isso, Jones, que nós somos amigos.
— Considero isso o quê? Um ultimato de que você e esse quileute esnobe estão juntos?
— Não estamos juntos! E não fale dele e de nenhum outro quileute assim na minha frente! — esbravejou ofendida pelo tom utilizado pelo homem. Tentando se acalmar, explicou: — Jacob dormiu aqui sim. A energia acabou, estava escuro e a casa circundada por lobos!
— Lobos? Billy Black esteve na delegacia ontem à noite dizendo que haviam espantado novamente os lobos das proximidades de Forks!
— Sim, mas havia lobos aqui.
— Está vendo? Sempre tem alguma coisa errada! Os quileutes estão sempre atrapalhando com as tradições estúpidas deles! Atrapalha o serviço de todo o regimento e nada resolvem. Ninguém vai tirar da minha cabeça que eles são os causadores de todos os ataques que vêm acontecendo! Entende agora por que eu não gosto da ideia de você metida com eles? Eles não são boa gente, !
— Para! Para! Espere! Que história é essa? Que tradições? Que ataques?
— Esquece! Eu fiz plantão a noite toda e vim passar o dia com você, mas eu entendi que não significo nada, não é? Melhor eu ir para casa.
— Erick, pare com isso! — interpelou segurando as mãos dele. — Suba, tome um banho. Pode ir dormir um pouco se quiser. Eu preparo algo para você comer. Sem drama, ok? Somos amigos e não namorados. Você sempre soube disso.
— Está interessada em outra pessoa? Jacob? Outro cara de La Push?
Ela sabia que precisava ser sincera com ele. Em momento algum pretendia magoá-lo. Agiu errado não deixando as coisas totalmente claras, talvez. Erick e estavam ficando desde uma semana depois da sua chegada à cidade. Ela o adorava e queria muito tê-lo sempre por perto, mas as coisas estavam seguindo intensas e rapidamente. O beijo com Embry também a deixara muito confusa. Seu coração estava revirado, sua mente confusa e sua alma parecia ter fugido para outro lugar distante do seu corpo. Nada obedecia e a situação tornava-se sufocante.
— Erick… Tem outra pessoa da reserva sim.
— É! Depois de vê-lo sair daqui, não era de se assustar! — Ele bufava.
— Não é o Jacob!
— Isso ajuda muito! — Erick vociferou irônico com mágoa nos olhos e saindo violentamente.
Capítulo Cinco - Os Segredos Começam
Passaram-se três semanas e Erick não telefonava para ela, não mandava notícia nenhuma. Os Carter lhe perguntavam sobre ele, mas sempre inventava alguma desculpa. Scott Carter demonstrava interesse na garota e ela estava incomodada com aquilo. Ficou amiga tanto de Peter quanto de Scott. A rotina estava tranquila e as coisas seguiam em busca de um eixo. Embry e não estavam namorando, mas continuavam se curtindo. Apesar de gostar muito dele e de saber que era recíproco, ela sentia que faltava algo, e Embry também não demonstrava qualquer necessidade de firmarem algum relacionamento sério.
Sobre a reforma da casa dela, Jacob e Embry apareciam em sua casa duas vezes na semana, eles se empenharam mesmo em ajudar com a obra. E Charlie Swan passava em frente à casa de todos os dias na volta do trabalho, mas eles não se falavam até então, embora o delegado da cidade sempre lhe acenasse, educado. Algumas vezes, os garotos quileutes estavam lá e eles iam até Charlie para conversar. servia um café, mas não passavam dos cumprimentos “leis” da boa ética.
O Munstang ainda estava na reserva, nas mãos do instável Jacob Black. tivera que ir ao mercado pela semana e o único jeito era ir a pé e tentar encontrar uma carona para a volta ou, por força da raridade, um táxi. Então, saiu cedo de casa com um carrinho de feira. Andava tranquilamente na estradinha não muito fria mais, já que se aproximava o verão. Ela escutou um som baixo de carro e um “bip” de sirene. Olhando para trás viu que era uma viatura, imaginou ser Erick, mas pelo caminho que fazia, a probabilidade maior era de ser Charlie. E era. Ele foi diminuindo a velocidade, e ela diminuindo os passos.
— Bom dia, senhorita. Quer uma carona?
— Sr. Swan, eu não vou recusar. Poupará muito meu tempo.
Ele desceu do carro, pegou o carrinho de compras da garota guardando-o no porta-malas; abriu a porta do carona para que ela entrasse e seguiram parte do trajeto em silêncio. Ambos estavam desconfortáveis, até que Charlie iniciou um diálogo inesperado:
— Erick me falou que você era amiga da Bella. — E olhou apreensivo para .
— Sim. Há algum tempo. Estudamos juntas em Phoenix, mas depois que ela veio para Forks, nunca mais nos vimos e pouquíssimas vezes nos falamos.
— Já deve saber que ela não está mais aqui, não é?
— Sim, eu sei. — Muitas coisas gostaria de perguntar, mas evidentemente se calou: — Erick… Como ele está?
— Vocês não têm se falado?
— Briga boba. — Ela sorriu sem graça e desviou o olhar.
— É por causa dos rapazes da reserva, certo?
— Erick não aprova a minha convivência com os quileutes — ela explicou vazia olhando a mata pela janela, concluindo: — E nem tem um motivo decente para isso.
— Ele é um bom rapaz, . A birra dele com os quileutes está além de ciúmes. Erick é um policial muito dedicado e desconfia até da própria sombra.
— Sim, eu sei disso, mas isso não implica em ele desrespeitar as minhas escolhas.
— Ele só quer protegê-la. Ainda que não tenha percebido que o pessoal da reserva não é inimigo. — Ele fez uma pausa. — Você e Bella… Qual era o grau de amizade?
sorriu e vagueou por sua mente buscando na memória indícios daquela amizade antiga, surda, e aparentemente escondida já que aparentava que Bella nunca falara sobre ela com ninguém. Ninguém sabia da sua existência como amiga, única, aliás, de Isabella Swan.
— Bella não era o tipo de garota que sabia lidar com pessoas. Ela sempre foi muito reservada. Um dia eu a defendi de alguns garotos que a paqueravam… Não sei se o senhor sabia, mas ela sempre foi péssima em lidar com paqueras. Enfim, ficamos amigas. Melhores amigas. Eu cuidava de Bella o tempo todo e gostávamos da companhia uma da outra. Depois que ela se foi… Bem, a vida às vezes nos joga por rumos diferentes, não é? — disse com mágoa. amava Bella como uma irmã e sofreu por não encontrá-la, sofreu pelo afastamento repentino dela.
Ao sentir a mágoa de em sua voz, Charlie ficou emocionado, olhando para a jovem de forma paternal. sorriu em agradecimento, por notar a empatia de Charlie com seus sentimentos, ele a encarava com extrema ternura.
Ao chegarem à cidade, os dois desceram do carro e ele entregou a ela o seu carrinho de compras.
— Obrigado. Muito obrigado pela companhia, .
— Imagine, eu quem o agradeço.
— Espero que vá me visitar — Charlie pediu ternamente e ela, sorrindo sem graça, acenou afirmativa em um meneio de cabeça. — Sue me falou muito sobre você.
— Sue Clearwater? Não sabia que eram amigos…
— Somos noivos — ele disse feliz e envergonhado.
— Bem, de qualquer forma não haveria como eu saber ainda. Mas fico feliz, Sue é uma pessoa maravilhosa e o senhor com certeza também é. Vou querer acompanhar essa felicidade de perto! — a jovem recém-chegada falou amigável.
— E nós vamos querê-la por perto também. E, por favor, não precisa me chamar de senhor.
— Tudo bem, Charlie! — disse engraçada e os dois esboçaram um quase riso.
— Eu espero mesmo que você possa me visitar. Eu adoraria conhecer uma amiga de minha filha que… — Charlie suspirou deixando as palavras morrerem sem conclusão. — Enfim, estou ansioso para conhecê-la!
— Irei visitá-lo com certeza!
Ao entrar no mercado, Eva Carter e seus filhos, Peter e Scott, cumprimentaram , como sempre muito sorridentes. Ela seguiu em direção às suas compras parando em frente à prateleira de enlatados. Scott estava atrás dela e a surpreendeu:
— Posso ajudar, senhorita?
— Olá! Muito obrigada, Scott, mas eu não vou atrapalhar o seu serviço. Já estou familiarizada com o mercado — disse simpática, porém, na hora de pegar uma das latas da prateleira acabou derrubando mais algumas.
— Eu acabei de arrumar isso aí — Scott disse de olhos fechados, brincalhão, e desviando-se de observar a bagunça no chão. Não era grande, mas ainda assim, havia derrubado algumas latas e era uma situação muito chata.
— Eu disse que não atrapalharia seu serviço? Que mentirosa! — ela zombou se abaixando junto com ele para pegar os itens caídos. — Me desculpe.
— Tudo bem, pode deixar. Peter me ajuda com isso. — Scott sorriu se levantando e a fazendo levantar-se também.
continuou se desculpando e Scott sorria achando graça pelo constrangimento dela, até que outra mulher aproximou-se analisando aos dois, e soando soberba diante de :
— Olá Scott. — Sorria para ele e olhava a outra de esguelha.
— Olá! , essa é Daniela Parker. Dani, essa é — Scott falou apresentando as duas.
estendeu a mão e Daniela cumprimentou-a indiferente.
— Sei quem ela é. É a namoradinha do “nosso” Erick Jones. — A mulher enfatizou a palavra “nosso” e olhou para Scott, convencida.
— Está enganada. Eu não sou namorada de ninguém.
— Hm… Nesse caso, é bem pior. — Daniela mencionou como uma ofensa, olhando grosseiramente para , que deu uma risadinha cínica em resposta.
— Foi um prazer conhecê-la, queridinha — zombou , sem passar mais tempo diante da tal Daniela. Ela deu um “soquinho” no ombro de Scott e sorrindo se despediu: — Até depois, Scott, mais uma vez me desculpe aí pela bagunça na sua prateleira organizada.
Daniela Parker na verdade não gostou muito de associar a Erick, ou até mesmo a Scott. Ela tinha sentimentos pelo policial e, apesar disso, era uma estranha que recém chegava ao condado, chamando atenção demais. Parker, não gostava nada de perder os holofotes. Igualmente a ela, também não gostou nada da forma como ela a tratou.
Se aproximando do caixa, viu que Peter organizava as latas que ela derrubou, e apesar do trabalho, ele cantarolava todo alegre. Peter tinha 20 anos e era muito engraçado. Scott conferia alguns preços das prateleiras em sua tabela de mão e aparentemente ignorava à Daniela que não parava de segui-lo. Eva Carter sorriu e iniciou um diálogo com .
— Como está, ?
— Muito bem, obrigada. E por aqui, senhora Eva?
— Tudo como sempre! Junior falou que você está atendendo na farmácia agora!
— Sim, mas só de vez em quando. Continuo com os trabalhos de pesquisa no laboratório.
— E está gostando de trabalhar para os irmãos Vincent?
— Sim, o emprego é ótimo! Já saí do período de experiência e agora sou contratada. Estou muito feliz.
— Parabéns! Eles quase não aparecem por aqui, mas são ótimas pessoas.
— Sim! Sim! Muito simpáticos.
— Olha, não pude deixar de perceber o que houve ali — Eva disse apontando para o corredor onde derrubou as latas: — Não ligue para a senhorita Parker.
— Ah, imagina! Eu costumo ignorar essas coisas — falou sorrindo.
— Me desculpe por entrar nesse assunto, mas… Meu Scott está bastante encantado com você. — A senhora a olhou como se esperasse alguma resposta que a jovem provavelmente não daria.
sentiu-se como se estivesse naqueles comerciais de festa surpresa, onde os balões estão suspensos esperando a hora de serem jogados em cima da vítima com muitos aplausos depois.
— Eu gosto muito do Scott, ele é muito divertido e solícito. Um grande amigo! — disse sorrindo sem encarar Eva, mas então olhou para a mulher, sem ação. Eva ainda a encarava aguardando algo mais. — Bem, eu nem sei o que dizer, senhora Carter… Eu só posso agradecer o carinho.
— , você tem sido o assunto de muitos rapazes na cidade. É comum por ser nova por aqui. Eu temo que Scott se apegue muito a você, e apesar de saber que você não faz nada para que ele crie esperanças, eu gostaria que deixasse claro o que sente por meu filho. Já falei para ele que você tem muito apreço pelos quileutes.
Parecia um crime ser amiga ou gostar dos quileutes. se incomodava com o fato de que aquilo sempre vinha à tona, com um peso maior do que, a ela, realmente havia.
— Hã… Senhora Eva, eu realmente não permiti que o Scott criasse expectativas. Porém, eu deixarei mais claro para ele sobre a nossa amizade. Não quero magoá-lo e adoro muito estar com ele. Prezo nossa amizade. Assim como também prezo pela minha amizade com os quileutes.
— Não precisa se explicar, querida, apenas estou dizendo isso para que esteja preparada quando ele decidir falar de sentimentos com você.
despediu-se da senhora pegando suas compras, ainda pensando no motivo ilógico pelo qual a senhora Eva dissera aquelas coisas. Proteger o filho de desilusões? Poderia ser, mas ainda assim, não havia necessidade daquela abordagem naquele momento. Chegando à porta de saída do mercado, a moto de Jacob estava estacionada beirando a calçada na frente dela. olhou para os lados o buscando, mas avistou Seth Clearwater distraído.
— Seth?
— Ei, ! — Ele veio andando em sua direção. Seth só tinha 20 anos de idade, mas era tão lindo quanto seus irmãos de tribo. — Te ajudo com as sacolas!
— É a moto de Jacob? — ela perguntou admirando aquela bela motocicleta, um pouco velha, mas admiravelmente conservada.
— É sim! Estive na sua casa, mas como estava tudo fechado imaginei que você estivesse aqui na cidade. Embry me falou uma vez que você costuma fazer compras as quartas e eu associei as datas. — Seth sorria muito alegre, como sempre. — Jake me pediu para te buscar e deixou que eu viesse no “bebê” dele.
— Pilotando na moto do Black? Que honra, hein! — piscou fazendo aos dois rirem, e, pela confiança de Jacob nele, Seth sorriu orgulhoso. — Mas, o que ele quer comigo?
— Seu carro está pronto.
— Já? Que rápido. Tem o quê… — Ela parou de falar, pensativa, contando o tempo mentalmente e, espantada, proferiu: — Umas quatro semanas que eu o bati?
— Jake tem esse hobby e ele andou se empenhando no seu carro dia e noite. Na verdade, ele tem se empenhado com seu carro, sua casa… Há tempos não o víamos assim. — Seth olhou para ela com ternura.
— Hm… Bom, eu vou, mas e as compras?
Scott apareceu para pegar umas caixas que estavam na porta do mercado e ao ver Seth, foi cumprimentá-lo.
— Rapaz! Você não para de crescer? — Carter disse olhando-o e rindo para os amigos que conversavam na porta do mercado.
Aqueles dois se conheciam desde muito novos, Scott estudou com os meninos da reserva com a mesma faixa etária de Jacob. Peter e Seth estudaram juntos também, sendo os mais novos.
— Nem de crescer, nem de ser lindo — Seth respondeu e sorriu zombeteiro.
— Ei, Scott, vocês fazem entregas? — perguntou.
— Sim, mas hoje estamos sem moto e não dá para eu ir fazer as entregas. Peter também não, afinal, é um risco, ele pode não chegar vivo ou inteiro. — Fez uma pausa, rindo descrente. — Por que perguntou?
— Preciso ir à reserva com Seth, mas de moto e com essas compras, não dá. Eu posso deixá-las aí e pegar depois?
— De jeito nenhum. Eu te dou uma carona até sua casa, de lá você segue com o Seth.
— Mas você disse que não poderia fazer entregas… — Seth tirou as palavras da boca de .
— Sim, entregas, no plural. Uma saída rápida não tem problema. Vou pegar o meu carro, esperem aqui — o rapaz disse sorrindo e saiu.
— Ora, ora… Scott Carter tão solícito para a “nova diva da cidade” — Seth falou fazendo a mulher rir.
Eles seguiram conforme combinado deixando as compras de em casa; ela despediu-se de Scott brevemente e o agradeceu, então partiu com Seth rumo à reserva. Sue foi a primeira a ser cumprimentada por , assim que chegaram à reserva. Ao seu lado estava uma mulher morena de cabelos curtos, e com um semblante nada amigável.
— Esta é Leah, minha filha mais velha, . Ela está fazendo faculdade de medicina um pouco distante e nos visita quando pode — disse Sue, muito feliz.
Leah cumprimentou-a de maneira discreta, arredia. A garota começou a achar que havia algo errado com ela, já que era a segunda mulher no dia que a tratava com desdém. Sempre escutou que tinha uma beleza única, invejável, mas nunca fora tratada com tamanha indiferença – ousaria dizer até rivalidade – por outras mulheres. As pessoas em Forks eram assim tão desconfiadas?
— Jacob já voltou, mãe? — Seth perguntou.
— Não, nem Paul e nem Sam. Vamos entrar, ! Seth, guarde a moto!
Leah entrou à cabana de sua família, e Sue puxou educadamente para a sua casa e as duas puderam conversar sobre a carona que Charlie havia dado à . A senhora Clearwater ficou feliz por saber que Charlie e encontraram-se e conversaram, ela sabia da relação de com Bella; e também sentiu-se vaidosa ao saber que ele havia mencionado o noivado com ela. Contou à moça que iniciaram um relacionamento sete anos atrás, após o falecimento do pai de Seth e Leah, que inclusive, tal como Billy, era um grande amigo de Charlie. Sue explicou que inicialmente foi uma situação difícil, que ela sentia culpa pela memória do esposo, mas com o apoio de Seth ela conseguiu lidar com as dificuldades impostas também por Leah.
Leah não cogitava a ideia desse casamento e nem apoiava, pois imaginava que ela e Bella deveriam se tornar mais próximas com isso. E a quileute, não gostava nada, nada, de Isabella Swan. Para era um tanto estranho ouvir o modo como as pessoas falavam da sua antiga amiga, alguns com tanto remorso e decepção; outros como um tabu. E desde que chegara a Forks, para ela, falar de Bella também se tornava um feito incômodo. Quase como se… O passado estivesse se apagando aos poucos…
As duas permaneceram conversando, até que Jacob apareceu ao lado de Paul, Sam e Billy.
— Ora, ora! está de volta! — disse Paul sorridente.
— Olá, rapazes.
— Estou incluído no “rapazes”? — Billy perguntou também surgindo à varanda da casa de Sue.
— Claro que sim! — Sorriu largo fazendo os meninos e Sue também sorrirem, e Leah ainda estava distante e séria.
— Fico lisonjeado — Billy respondeu simpático. — Hora do meu chá. Usarei sua cozinha, Sue! — A mulher assentiu risonha e Billy empurrava sua cadeira para dentro da cabana, com uma lata de ervas no colo, antes de entrar totalmente, ofereceu: — Aceita uma xícara, ?
— Sim, claro.
A mulher não notou que antes de dar sua resposta a Billy, Seth, Quil, Paul, Sam e inclusive Jacob, acenavam reprovadores para ela e quando a garota aceitou a bebida, todos eles abaixaram a cabeça fazendo cara feia. Jacob cruzou os braços e olhou para numa troca de olhares rápida, e sorriu. Poderia jurar, apesar de conhecê-la há algumas semanas, que ela não se incomodaria com o paladar singular de seu pai. Aquela era a primeira vez que Black sorria para ela tão espontaneamente.
Uma das preocupações de era o sumiço de Embry que não lhe telefonava ou visitava há alguns dias, portanto, ela aproveitou a ocasião para perguntar sobre ele. Os rapazes disseram que Embry havia ido para o extremo sul de Silverdale, uma cidadezinha um pouco maior que Forks e um pouco mais colorida, que fazia divisa com outros centros urbanos e era mais próxima da rodovia federal de Seattle. Segundo Black, Embry estava visitando uns amigos antigos da tribo.
Enquanto os demais continuavam conversando, observou Leah agindo naturalmente com Seth e Quil. Aquilo a intrigou um pouco, pois, por mais reservada que Leah fosse, sua reação de repulsa destinada a si demonstravam um afastamento proposital. O que Leah poderia ter contra ? Notando os olhares analíticos da moça, Jacob se aproximou discretamente dela e tocou-lhe o braço com o seu, ao lado da garota.
— Ela vai te aceitar. Ela é assim mesmo, leva um tempo — informou ao capturar a atenção de para si.
Jacob começava a trincar aos poucos a barreira invisível que havia entre eles, deixando a mulher mais confortável também. Não que ela sentisse medo de Jacob, até porque “assustador” não era a palavra que combinava com uma figura bonita, galante e sinceramente amigável como a dele. Mas o incômodo que aquela barreira de distância impunha a ela, para soava como uma injustiça. Havia algo em Jacob que a fazia querer desvendá-lo, estar perto e criar laços, contudo, toda vez que o quileute erguia um muro, se entristecia. Era como a criança que quer muito tocar o leão, mas precisa contentar-se com o vidro protetor de um zoológico. Jacob parecia mesmo uma fera solitária e aprisionada.
— Então já acabou com o conserto do meu carro? — Ela desconversou após sorrir em agradecimento pelas palavras anteriores dele.
— Pois é, eu tenho um dom — disse e sorriu convencido.
Jacob não percebeu, mas desde que a conheceu e vinha convivendo com a mulher – ainda que muito pouco –, ele reaprendia a esboçar sorrisos, mesmo tímidos.
— Vamos, está lá no galpão — chamou-a, se levantando e andando para fora da cabana. Enquanto caminhavam, recordou-se do que havia escutado minutos antes e resolveu zombar da moça. Olhando para ela com curiosidade, perguntou: — Quer dizer que pilotar a minha moto é uma honra, senhorita?
— Seth te contou?
— Era segredo? Ele não é muito bom com segredos, já aviso.
— Não, não era. Mas sim, para ele é uma honra.
— Você pilota?
— Sim.
— Depois de ver o que fez com seu carro… Céus, você deve ser uma suicida em cima de uma moto. — Riu discreto.
— Ei! Qual é!?
— Pobre moto… — Jacob ainda se divertia zombador, e lhe deu um soco no braço a fim de que ele parasse: — Ai! Nem doeu, sua fracote!
— Pode zombar! Só porque é maior do que eu.
— E mais forte.
— Anormalmente, mais forte — ela respondeu.
— E mais bonito também. — Continuou a provocando.
— ‘Tá legal, aí você já está sonhando! — zombou de volta.
— Estou? — Jacob a encarou surpreso como se o fato de ser lindo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Claro! Você é bonito, mas aí dizer que é mais do que eu? Quem andou te enganando? O Billy ou a Sue?
— É, tem razão, podemos concordar que você é muito linda — falou sério e fez uma pausa pensativa, pigarreando ao dizer: — Mas temos de convir que eu também não sou nada mau. Se fosse um ranking, nós dividiríamos o pódio.
— Certo, entraremos em acordo: Eu sou linda e você é legal. — Apesar do elogio dele deixando-a animada por saber que ele a achava uma mulher bonita, esboçou desinteresse ao provocar de novo.
Os dois haviam chegado à porta do galpão em que provavelmente o carro dela estava, quando Jacob perguntou-lhe:
— Preparada para ver isso?
— Preparada sempre e para tudo.
Ele empurrou a pesada porta de correr do galpão, permitindo que mais luz entrasse ali além das claraboias do telhado, e avistou seu Mustang novinho em folha. Duvidou inclusive se aquele era o mesmo carro.
— Uau. Esse aí não é meu carro! Tem certeza que não trocou? Posso verificar o chassi?
— Bom, eu dei uma polida e um trato na pintura também, ficaria um trabalho porco se eu mexesse apenas na frente batida… — Jacob olhava o carro admirado com o que havia feito.
— Black… Não sei se com os meus salários de bióloga e farmacêutica eu conseguirei pagar po… — Black não a deixou terminar, interrompendo-a antes que viesse falar de mudanças no preço:
— Garota, o que tínhamos combinado era um preço camarada! E eu não sou de quebrar as minhas promessas. Foi um passatempo cuidar do seu Mustang, o pagamento combinado já é o justo. Não se preocupe com isso.
— Certo, mas você não fez promessa alguma para mim, Jacob.
— . Você pode deixar eu te mimar um pouco? Já tem algum tempo que eu não conserto uma máquina foda como essa! A gente pode combinar de, além da grana, você não sair batendo o carro por aí, que tal? Afinal, é a minha obra de arte ali.
Segurava a capa do carro e deixou-a em um canto ao se aproximar da mulher com todas aquelas justificativas. A expressão dele não era de alguém que estava brincando e, na cabeça de apenas uma frase se repetia:
— Você quer fazer mimos a mim? Posso saber que papo é este agora?
— Considere um pedido de desculpas por toda a minha grosseria quando nos conhecemos.
— Não. Eu não posso aceitar isso, Jacob! — ela falou apontando o próprio carro.
— Quer deixá-lo comigo? — Jacob arregalou os olhos sorrindo fraco.
— Não. Lógico que não! Tira o olho do meu carro, posso no máximo te deixar dirigi-lo às vezes, mas não aceito aquele orçamento que você deu! Mexeu em mais coisas do que o combinado, então eu vou pagar. O meu valor justo.
— Nesse caso, me vejo obrigado a recusar.
Os dois permaneceram naquele debate por menos tempo do que duraria, graças a Seth os chamando e avisando que Billy a procurava. Jacob assentiu e, apontando um dedo para ela, afirmou que aquela história de preços e consertos não seria discutida mais. passou os dedos na lataria do automóvel com um sorriso maravilhado e os olhos brilhando de felicidade. Ela era apaixonada por aquele carro e estava radiante com o resultado entregue.
Ao chegarem à varanda da casa de Billy, o cadeirante estava lá com um sorriso simpático no rosto e uma caneca na mão. Quil, Paul, Leah, Seth, Sam, Emily e Sue observavam de onde antes e Jacob estavam: a cabana ao lado.
As cabanas dos quileutes eram uma de frente para a outra, em um formato circular no seu espaço reservado da mata. Eles dividiam-se em grupos dentro da reserva. Eram todos integrantes de uma só tribo, porém o grau de parentesco influenciava nas separações. Um exemplo nem tão claro era a família de Quil, que morava mais ao norte da reserva, então viviam em outro ponto da reserva as famílias Call, Ateara, Magwire e Koto. No Sul da reserva, que ironicamente compunha a entrada dela dado o acesso à estrada, as famílias Black, Clearwater e Ulley. Apesar disso, Quil residia com Embry e Paul na cabana de Sam. Jacob residia com o pai na mesma cabana, mas todos eram uma só família.
não entendia as razões para os rapazes morarem juntos ao invés de Quil e Embry estarem com suas famílias primárias, mas adotou como explicação aquela história de Embry dizer que era “praticamente” irmão dos meninos. Portanto, por uma amizade ou escolha, ele e Quil decidiram morar com Sam. Em todo caso, para ela ainda era confuso compreender aquele papo de “clãs”, sendo que a reserva inteira era uma única tribo: quileutes.
Pegou o chá estendido amigavelmente por Billy e notou que todos estavam, seja na varanda de Sue ou dos Black, encarando-a apreensivos. Ela começava a observar a bebida procurando algum problema aparente. Leah olhou para de maneira desafiadora e a garota ouviu os comentários dela com um dos rapazes:
— Ela não vai conseguir beber — Leah afirmou firme para Paul ao seu lado.
— Caso dez dólares com você como consegue — ele respondeu.
arqueou a sobrancelha encarando a xícara com a bebida escura de cheiro tão forte como fumo e grama recém-cortada.
— Você consegue — Jacob sussurrou ao ouvido dela, e destinou-se a sentar ao lado do pai em seguida.
Billy entregou outra caneca com a bebida para o filho, e só então, compreendeu do que se tratava tanta expectativa: apenas os Black conseguiam beber aquele troço de aparência e cheiros duvidosos.
— , o que achou do seu carro? — disse Billy muito simpático, mais do que o de costume.
Ela encarou o senhor que lhe lançava um olhar de desafio, diante do sorriso simpático. Por um breve instante, enxergou semelhanças entre o rosto dele e de Jacob, além é claro, de sentir o tom de quem achava que ela desistiria do chá.
— Perfeito demais. Mesmo para mim — ela disse e os três riram.
fez que ia levar a caneca à boca, tão desafiadora ao encarar os dois Black, quanto eles com ela. O restante da plateia continuava encarando a cena apesar de disfarçarem com conversas sutis entre eles. A mulher começou a rir e, por fim, soprou o chá afastando a fumaça e foi sentar-se em um banquinho rústico e muito bonitinho em frente à cadeira de Billy. Tomou então o primeiro gole do chá e ouviu Paul comemorar contra Leah, mas a mulher rebateu quase rosnando para ele, alto o suficiente para que escutasse:
— Um gole? Isso não foi beber o chá! Espere, Paul, você me deverá dez dólares!
— Jacob que fez. Não é maravilhoso? — Billy soou orgulhoso pelo filho, atraiu de novo a atenção de para si, ao apontar um dos banquinhos que a mesma se sentou, admirando.
— Pai… — Jacob resmungou revirando os olhos.
— É sim, um trabalho muito delicado. Você tem muitos dons não é, Black?
— Nada de mais, .
— Bom, eu não conseguiria — ela disse dando de ombros.
— Qualquer dia ele te ensina, — Billy afirmou sorridente.
— Se ela quiser, pai, não imponha… — Jacob bebia vagarosamente seu chá olhando-a por cima da caneca com a sobrancelha arqueada.
Aquilo lhe soou também desafiador e não recusava desafios ou aventuras. Uma de suas qualidades e defeitos.
— Eu vou adorar! — respondeu a mulher.
— Agora beba seu chá, senão vai esfriar mais. Ou não quer? — Billy perguntou, divertido com a premissa de que uma simples caneca de chá se tornou um ritual de aceitação da intrusa aos quileutes.
As conversas cessaram na cabana ao lado e o silêncio dominou a floresta. podia escutar o cricrilar dos grilos e algumas risadinhas dos meninos. Jacob a encarava confiante, tão confiante como ela mesma não poderia confiar, e lhe pareceu que se tratava de um ritual.
— Vou encarar como uma missão ou um ritual de chegada à tribo — afirmou risonha erguendo a caneca na direção dos Black, e depois, em direção aos demais que ainda observavam curiosos, com sorrisos divertidos e piscou especialmente para Paul.
Suspirou e virou a bebida em um gole maior que o outro. O gosto era péssimo, mas o azar de Leah era não saber que tinha o hábito de bebidas fortes e amargas, e o chá de Billy, por mais que parecesse coado com a meia de um ogro de montanhas vulcânicas, não era diferente de qualquer chá forte demais, escuro demais e amargo demais. virou outros goles da bebida que já havia esfriado o suficiente.
Ouviram-se os gritos dos garotos quileutes ecoando o nome dela como um coro de final de campeonato, outros gargalhavam, e ainda havia alguém entre eles praguejando um grande nojo pela bebida. Se quisesse saber um dia como se sentiam os heróis das batalhas com gladiadores, soubera naquele instante. Não pode deixar de se divertir com tudo aquilo e começou a rir trocando olhares engraçados com Billy e Jacob.
— São 10 pratas, Leah! — Paul ria com a mão estendida para a outra.
Leah bufou batendo na mão do rapaz de forma violenta e os dois trocavam olhares em silêncio, de repente ecoou-se uma risada geral só entre os rapazes. Como se tivessem escutado uma piada.
— Billy trapaceou. Aquele não era o mesmo chá de esterco que ele bebe! — Leah resmungou apontando incrédula para Billy.
O mais velho respondeu ameno:
— Deixe de ser irritante, Leah, eu não trapaceio. Você quer experimentar para tirar a prova?
— Não vou engolir bosta de vaca. — A mulher saiu brava para dentro da sua cabana e Paul a seguiu.
— , não é esterco, não se preocupe — Seth gritou do outro lado, gargalhando da reação da irmã. — Só é um chá de mato ruim para caramba!
Billy deu de ombros e deixou sua caneca num banquinho ao seu lado. Puxou a carteira do bolso de sua camisa de flanela, e encarou Black com certa decepção ao entregar a ele cinco dólares.
— Entendi agora. Alguém mais apostou por aqui? — falou olhando a todos, sorrindo em falso tom de ofensa.
— Valeu, . O velho não queria me pagar essas cinco pratas há algum tempo — Jacob disse colocando a mão sobre o ombro do pai que riu desanimado.
— Você é corajosa. Gostei ainda mais de você — Billy comentou: — É das minhas!
— Espero não ter mesmo bebido bosta de vaca fervida em água. — arqueou a sobrancelha e Billy riu fartamente como Jacob.
— É uma bebida de ervas medicinais que Sue e eu cultivamos. Eu tomo há muito tempo, desde que tinha a idade de Jacob. Meu avô passou para o meu pai, que passou para mim. É de fato um ritual quileute.
— Apenas os quileutes mais fortes e líderes natos dão conta de beber isso — Jacob falou alto provocando aos outros garotos.
— É amarga e picante. O gosto picante tem um fundo que me lembra o de um tempero que eu utilizo muito. O que são essas ervas?
— Ocimum Basilicum e Aloe Vera. Como bióloga deve conhecer, não?
— Claro! Babosa e Manjericão. Conheço muito. As propriedades nutricionais do manjericão e da babosa são excelentes. Grandes remédios. Principalmente o Aloe Vera que cura ferida interna, previne tumores, reduz colesterol e outras infinidades de propriedades!
— Babôssa? Mândiéricao? — Billy perguntou com sotaque carregado por não conseguir pronunciar as palavras em português como .
Foi ali que ela notou a curiosidade no semblante dos Blacks, pelo idioma português dominado por ela, bem como os nomes desconhecidos das ervas.
— Bem, acho que vocês podem saber um pouquinho mais sobre mim. — Ela sorriu enquanto eles se encontravam atenciosos.
convidou os outros que estavam na cabana de Sue para se juntarem a eles, e ouvir a sua história.
— Só falta o Embry… Mas depois eu conto a ele! — Suspirou e começou a narrar: — Eu não conheci a minha mãe, ela faleceu no parto e o meu pai conviveu pouco tempo comigo. Mas enquanto ele era vivo, nós chegamos a fazer uma viagem à terra de nossos ancestrais, como ele mesmo dizia. No Brasil. Meu avô não nasceu lá, mas o meu pai sim. Algum tempo depois da morte do meu avô, o meu pai voltou para os Estados Unidos. Nessa viagem que fomos juntos, eu conheci um pajé da nossa tribo. E então, eu também tenho sangue indígena… — ela contou como se fosse uma surpresa e estava repleta de orgulho de sua história.
— Eu desconfiava — Billy falou sendo assentido por Sue.
Todos estavam interessados em ouvir mais sobre , em especial, Jacob que a encarava intrigado.
— Pois é… O meu pai foi nascido na tribo Bororo ou também chamada de Coxiponé. E o meu avô nascido por descendentes americanos da tribo Cheyenne que, infelizmente, é uma tribo extinta hoje. — Billy e Sue se entreolharam curiosos. — Fomos à tribo Coxiponé no Brasil e, conhecendo um pajé amigo dele, eu aprendi muitas coisas lá. Inclusive sobre plantas de cura. Foi onde me interessei por biologia.
— Seu avô era um Cheyenne? — Jacob perguntou.
— Pouquíssimas vezes minha tia e eu conversamos sobre essas coisas. Não tenho certeza se ele era Cheyenne ou apenas conviveu com eles. Ela disse uma vez que ele passou muito tempo em outra tribo. E que nessa outra tribo fora onde ela nasceu e viveram até os cinco anos de idade dela, depois todos foram para o Brasil. Já meu pai nasceu lá.
— Sua tia? — Quil perguntou confuso.
— O meu pai faleceu quando eu tinha 12 anos, então eu fui criada pela minha tia Pearl. Aos dezesseis anos, por curiosidade e nostalgia das memórias últimas com meu pai, eu voltei à tribo no Brasil. Quase morri, diga-se de passagem, porque não me reconheciam, e eles têm alguns conflitos territoriais que não facilitam em nada a convivência com estrangeiros. São um povo desconfiado por natureza. Na ocasião, eu convivi um pouco mais com o pajé e aprendi um pouco mais sobre as ervas, plantas, curandeirismo…
— Essa tribo aonde o seu avô passou um tempo até a sua tia nascer… Você não sabe mais nada sobre isso?
— Não me lembro de muita coisa, Sue. Eu era mais nova quando minha tia me contou, e raras vezes nós voltamos a falar do assunto. Mas engraçado… — iria falar alguma coisa, porém foi interrompida por Sam que se levantou bruscamente atraindo toda a atenção.
Ele olhava para o vazio à frente. Jacob se levantou em seguida imitando os gestos dele e logo todos os meninos fizeram o mesmo. Parecia uma hipnose. Billy estava apreensivo e disse forte e sério “Entrem!” e os meninos seguiram-no. Leah também foi atrás.
ficou naquela varanda sem entender muita coisa, quando Emily e Sue chamaram sua atenção para uma conversa. Ela não percebeu o que as mulheres diziam e nem mesmo respondeu, pois olhava para dentro da casa de Billy ansiosa e curiosa.
Todos os meninos vieram novamente à varanda e olharam aflitos na direção de . Encaravam uns aos outros silenciosos. Sue levantando-se, disse que iria tirar os biscoitos que assava do forno e traria para todos, mas os garotos não falavam nada e Billy puxou uma conversa aleatória da qual não conseguia entender nada. Ela apenas olhava para os meninos. Todos visivelmente nervosos e aflitos. Os músculos enrijecidos, olhares ansiosos.
Quil, por natureza, era o mais estressado ou nervoso; ele sempre ficava inquieto e parecia explodir. Seth tocou o ombro dele, como se lhe pedisse para se controlar. Então encarou Jacob, que passou do estado de “desinibido” para “altamente fora de aproximação”. Aquela barreira que ela começava fervorosamente a odiar, se reergueu.
— Então, , o que achou do chá? — Seth pronunciou para tentar descontrair um pouco o clima.
— Fichinha — ela respondeu sem muito humor, mas arrancando fracos risos.
Diante da situação que ela notava ser apreensiva, pediu licença e permissão a Billy para levar as xícaras à cozinha da casa dele, mais do que rapidamente ele agradeceu e permitiu. Lógico, ela não queria se afastar, mas sabia que era por sua causa que nada estava sendo pronunciado. Aquela foi uma retirada estratégica.
Leah, assim que voltou de dentro da casa, estava distante da varanda. De repente, ela bufou e saiu correndo, havia entrado na mata como um furacão. Algo ali estava intrigando muito a jovem , e esta impressão não era surpresa. Na verdade, os quileutes, desde que ela topara com Jacob na praia, tornaram-se uma espécie de necessidade para . Ela sentia como se precisasse ficar perto e não era apenas por Embry ou qualquer outra coisa. Ela se sentia confortável com eles. Ousaria dizer até… Parte deles.
Lavou as xícaras muito atenta aos burburinhos que se esforçava em ouvir. Assim que acabou, ela foi dando passos calmos e silenciosos até a varanda de volta. Talvez a vissem e se calassem ou, na melhor das hipóteses, estariam tão concentrados na conversa que não notariam a sua chegada. Batata.
chegou próxima à porta e escutou Sam exclamando baixo:
— Ela não pode saber! Embry precisa de ajuda agora!
— O que houve com Embry? O que eu não posso saber? — impulsiva, se intrometeu.
Jacob pegou em seu braço guiando-a para onde estava o carro dela. Ele mantinha-se sério, de humor afetado e como se fosse explodir de raiva.
— Jake! Calma aí! — Paul dizia.
— Eu resolvo isso! — Jacob gritou para eles arrastando para o galpão.
— Black, me solte agora! O que você está pensando? Está me machucando, seu louco!
Jacob nada disse, apenas soltou-a aflito por não perceber o que estava fazendo. Entrou com ela no galpão e puxou a imensa e pesada porta do lugar. Pegou as chaves do Mustang no seu bolso e as entregou.
— Tá. Estou sendo expulsa. Entendi! Só que não saio daqui sem saber o que está acontecendo com Embry! — parecia uma ursa raivosa.
— Não, ! — Black estava nervoso, mas não bravo, apenas nervoso com algo. — Você não está sendo expulsa. Não queremos que pense isso. — Pousou as mãos no rosto dela fazendo-a olhá-lo nos olhos. — Desculpe ter machucado você.
— Então o que foi tudo isso? — A mulher estava confusa e estressada por ser culpa dele a deixar daquele jeito, tão irritada e frustrada.
— Eu não posso lhe explicar direito. É coisa de clã. Embry está bem, apenas saiba disso.
— Coisa de clã… Entendo, eu não tenho esse direito mesmo… Peça desculpa aos outros pela minha intromissão.
— …
deu as costas a ele entrando em seu carro e saindo da reserva sem olhar para trás. Avistou Seth correr até Jacob que, já no meio da floresta, olhava o carro partindo. espiou pelo retrovisor Black sair olhando por cima do ombro, devagar. Ela chorava. Não esperava ser tão íntima deles, mas achou que merecia alguma consideração, afinal, ela não pediu nada além de notícias de Embry.
O que estava acontecendo com ele que ela não poderia saber? Entretanto, de uma coisa ela tivera certeza: se Embry considerasse-a como dizia, ela acabaria sabendo das coisas.
Capítulo Seis - Lobos à Porta de Casa
Algum tempo se passou desde que saiu revoltada da reserva; ela não passava por lá e não recebia notícias de ninguém, nem mesmo de Embry. Diante de sua chateação por ter sido tratada por Jacob daquela forma, e por sentir-se excluída dos fatos, adiantou parte do dinheiro da sua poupança a fim de pagar os serviços de Black. Apesar de saber que não deveria mexer naquela poupança, pois estava juntando capital para o projeto do seu laboratório, a mulher não queria enrolar mais para findar aquele assunto do reparo de seu carro. Num primeiro momento, a sua mágoa contra os quileutes desconsiderou o fato de que nenhum deles tinha obrigação de inteirá-la aos seus assuntos, e só depois de um tempo que notou sua insensatez. Entretanto, ela não poderia desconsiderar a mágoa por parte de Jacob, pela forma como ele a tratou, tampouco pelo descaso de Embry em lhe mandar notícias.
estava contente com o trabalho na farmácia, embora fosse algo de meio período, mas seu foco era o laboratório dos irmãos Vincent. Como uma excelente bióloga pesquisadora que se enveredou na farmacologia natural, o ambiente químico era o que ela mais gostava de atuar. Quando viera para Forks, os irmãos Vincent foram muito solícitos com ela pelos dois empregos: como químico-farmacêutica no laboratório Vincent’s Co, e como farmacêutica responsável na Drogaria H&J. Sue tivera alta participação na contratação de , uma vez que ela foi quem a apresentou aos patrões.
Eles contaram à que Sue foi a responsável, tempo atrás, por algumas descobertas de ervas locais aos irmãos Vincent, que trabalharam em um novo projeto de flora medicinal a partir dessas plantas. Esse novo composto medicinal que eles criaram, com a ajuda dos conhecimentos indígenas de Sue, rendeu-lhes muito prestígio no âmbito da ciência e, lógico, o início de carreiras de sucesso no ambiente fármaco. Para , trabalhar com os dois irmãos foi uma tacada de sorte do destino, e claro, com a ajuda de Sue a quem ela seria eternamente grata já que, sem a ajuda dela os primeiros passos de para aquela cidade não seriam dados.
ainda não compreendia tão bem como foi fácil para eles a aceitarem nos empregos dada apenas à recomendação de Sue — que em contrapartida também não a conhecia —, mas ao perguntar em um dia que conversava com Julian Vincent, ele lhe contou que Sue dissera-lhes que tinha ótimos pressentimentos por desde o momento em que ela, visitando a cidade, a abordou para uma conversa sobre o lugar. Sue nunca comentara com ela sobre essas ótimas impressões.
Julian havia dito aquilo um pouco depois do episódio em que havia saído da reserva, chateada. A mulher sentia que devia desculpas por aquela situação; à Emily, Sue e até mesmo a Seth, que sempre lhe soou tão ingênuo.
Estava no laboratório fazendo a distribuição dos químicos nas cápsulas a pedido de uma nova encomenda de Julian e Hernando quando os mesmos chegaram:
— Bom dia, — disse Julian.
— Bom dia, Julian. Eu aguardava-os mais tarde. — Ela o olhou e procurou o outro irmão, continuando seu trabalho e sorriu para ele: — Hernando não veio?
— Veio sim, está descarregando uma caixa. O que faz aqui tão cedo?
— Tenho andado tensa, e trabalhar me faz bem… Ocupar a mente.
— Não tem receio de sair da sua casa às cinco horas sozinha? É um pouco escuro, não? — Nesse momento Hernando chegou dando-lhe bom dia. respondeu a ele e continuou a conversa com Julian sem distrair-se das cápsulas.
— Hm… Nos primeiros dias eu estive mesmo receosa com os lobos. Eles têm acampado na entrada da minha casa, eu acho, sinto pelo cheiro…
Quando ouviram o que ela dissera, os irmãos se viraram para ainda mais interessados e curiosos.
— Mas eu acredito que essa minha movimentação matutina tem afastado eles.
— Tenha cuidado, . Ouvimos relatos bem sérios sobre os ataques.
— Acredite, Hernando, eu tenho escutado muito mais.
— Se refere ao Erick, certo? — Hernando sorriu sugestivo. — Ouvimos falar que você e o policial prodígio estão juntos.
— Na verdade não estamos juntos. Apenas saímos algumas vezes, mas não só ele fica me dizendo para ter cuidado com os ataques. A cidade não fala de outra coisa, então é difícil não escutar os casos dos clientes.
Terminando seu trabalho, se encaminhou aos armários do laboratório para pegar as caixas de dispensação. Dispensando as cápsulas e bulas, ela entregou os pedidos a eles, enquanto os irmãos trabalhavam no outro lado do laboratório.
— Rapazes? Aqui está o pedido das cápsulas de ácido valérico.
— Obrigado, , pode deixar na recepção?
— Claro. Vocês querem mais alguma coisa ou posso ir para a farmácia?
— Na verdade, nós gostaríamos de conversar com você. Pode nos esperar um pouco? — Hernando disse.
— Sim.
Ela não tinha ideia a respeito de que assunto os dois Vincent teriam com ela, por isso, caminhava até a recepção, ansiosa. Pegou sua bolsa e tirando o jaleco, dobrou-o e guardou na bolsa. Já agitava as chaves do seu carro na mão, claramente nervosa, quando Julian e Hernando chegaram e os três se sentaram ao sofá da recepção vazia para conversarem.
— Temos uma proposta a você, . — Hernando, sempre muito direto, iniciou o diálogo.
— Está difícil e corrido para Hernando e eu sairmos de Seattle para vir à Forks apenas dirigir os pedidos a você e lidar com a administração da farmácia. Nosso laboratório não é aberto ao público, servindo apenas para que você faça as formulações. Então temos pensado em transformá-lo em uma sede de um novo projeto.
— Temos trabalhado com cosmetologia e perfumaria. Nosso laboratório em Seattle tem crescido e pensamos em focar apenas nesses estudos. Temos muitos planos.
— Portanto, a área medicinal é algo que aos poucos nós iremos nos desligando. Porém, você é ótima com tudo isso e não podemos findar com a farmácia, já que somos o principal fornecedor de fármacos da cidade.
— Então propomos a você que gerencie a farmácia e fique com ela em horário integral. Quanto ao laboratório, não há necessidade de continuar nele, pois, como dissemos estamos estudando se enviamos alguma equipe para cá ou simplesmente o transformamos em uma loja com nossos produtos já concluídos. O que você acha?
— Bom, eu desejo muita sorte a vocês! Acredito que terão muito êxito com a cosmetologia, a última amostra do creme que me apresentaram é realmente muito boa. Agora… Eu realmente não esperava por isso.
— , confiamos muito em você. E no seu trabalho, é claro, por isso não queremos perdê-la.
— E eu fico honrada e sempre muito agradecida. Vocês deram um impulso fora de sério para mim aqui em Forks. Porém, a farmacologia não é o meu foco. Eu lhes disse isso no início, não me levem a mal.
— De forma alguma. O que te incomoda nisso tudo? — Hernando disse simpático como sempre eram os dois irmãos.
— Não é questão de incomodar. Longe disso. Acontece que eu tenho estudos de biologia próprios e o fato de ter seguido farmácia é justamente para o desenvolvimento desses estudos. Com isso, assumir a farmácia em tempo integral seria um pouco inviável para mim. Há algum problema em Steve continuar comigo?
— Não — eles disseram olhando-se e sorrindo juntos. — Mas você assume a gerência da farmácia para nós?
— Bem, eu não vejo problema com isso, Julian.
— Ótimo! Nós mandaremos a documentação toda para você ler e analisar se quiser. Não muda muita coisa, apenas não precisaremos mais vir aqui tratar de alguns assuntos. Você fará por nós. Ah, e obviamente nós ajustaremos o seu salário de acordo com o novo cargo.
— Sim. Mas… Quanto ao laboratório… Vocês poderiam me emprestá-lo enquanto não tomam alguma decisão sobre ele? — perguntou um pouco temerosa da reação deles.
— Emprestar? Posso perguntar para o quê? — Hernando pareceu calmo assim como Julian.
— Justamente por esses estudos que citei. Eu ainda não tenho todo o dinheiro para iniciar a construção do meu pequeno laboratório e seria de muito auxílio que eu pudesse continuar tendo acesso a ele.
— Bem, … É um assunto delicado. — Julian pronunciou-se. — Você poderia nos dizer quais são esses estudos?
— Estudos com plantas medicinais. Não é nada absurdo, apenas meu prosseguimento com o que venho desenvolvendo dentro da farmacologia homeopática.
— Nesse caso não vejo problema, desde que nós possamos acompanhar os resultados enquanto estiver utilizando o nosso laboratório. Apenas por formalidades, se é que entende. Não queremos nos envolver nos seus estudos. Fique tranquila com isso — Julian afirmou olhando para Hernando.
— Eu também não — Hernando disse sorrindo.
— Eu sou imensamente grata.
Eles despediram-se sob o acordo de que recebesse os papéis para a análise e formalização da proposta, e ela seguiu para seu carro. O laboratório ficava na parte de trás do centro de Forks, uma parte menos movimentada, não isolada. Os irmãos Vincent, que haviam se esquecido durante a conversa, entregaram a ela um convite antes que a mulher saísse do local.
No caminho até a farmácia, pôde ver os Carter cumprimentando-a do mercado. A localização da loja deles era próxima à loja dos Vincent. Na verdade, o centro de Forks tinha os seus pequenos estabelecimentos próximos, com exceção da escola municipal e da delegacia que não se enquadravam naquele aglomerado de comércios. Educada, os cumprimentou de volta com um sorriso largo em seu rosto e avistou que Daniela Parker estava na porta do mercado, ao lado de Peter. Foi notório ver o desgosto na face dela.
nunca foi de preocupar-se com repulsas alheias, mas começava a achar aquilo um tanto quanto precipitado. O que, afinal, ela teria feito contra Daniela? Seria pela revelação que Eva lhe prestou ao dizer que Scott interessava-se por ela? Seria por seu envolvimento com o Erick? Que razão Parker tinha para encará-la como se fosse sua própria inimiga? Um lampejo de outra ideia surgiu em sua mente: seria por sua relação antiga com Isabella Swan? Bella parecia ter deixado mágoas em algumas pessoas da cidade, o que deixava ainda mais intrigada. Pensando sobre tudo aquilo, ela também pensou em Erick… Ele de fato desaparecera de seus dias.
Talvez ela devesse procurá-lo? Ou manter-se apenas distante conforme o espaço imposto por ele? Eram muitas as dúvidas de em relação à expectativa e curiosidade que algumas pessoas da cidade tinham sobre ela. Durante aqueles tempos em que ela estava mais presente à cidade, e mais afastada da reserva, pôde evidenciar o quanto ela estava mexendo com as pessoas da cidade. Murmúrios sobre o que ela teria vindo fazer ali passavam ligeiros aos seus ouvidos com frequência, e pareceu que ser “amiga” de Bella não era mesmo um bom presságio.
Abriu as portas da farmácia e pendurou sua bolsa na saleta aos fundos notando que algumas caixas tinham chegado, e supôs que os irmãos Vincent teriam as deixado ali antes de irem ao laboratório naquela manhã. Enquanto ela se preparava para levá-las ao mesmo quarto dos fundos, Scott apareceu na porta da farmácia.
— Bom dia, ! — ele disse escorado na porta.
— E aí, Scott! Bom dia — ela respondeu indo cumprimentá-lo, e recebeu um abraço forte.
— Como você está, ?
— Estou bem e você?
— Um pouco mais calmo. Hoje estou mais absolvido do mercado! Ganhei uma folga! — Ele riu.
— Pobre Peter. — olhou para o semblante gentil à sua frente, por sobre os olhos iniciando o sistema do balcão.
— Ah, pois é. Acredita que ele quis um pagamento extra por me cobrir hoje? — Scott se aproximou do balcão e ficou bem próximo olhando as tarefas de com seu queixo escorado em suas mãos.
— Hm… E o que ele pediu em troca? Alguns telefones? — sorria fazendo insinuações sobre as garotas que viviam correndo atrás de Scott, “o bom partido” da cidade.
— Na verdade… — Scott pôs-se a rir tampando o rosto com as mãos. De um jeito muito fofo, vale citar. — Ele está me fazendo um grande favor. Pediu o telefone da Daniela.
— A Parker?
— Sim.
— Ela é a fim de você? — perguntou mais interessada parando de digitar no teclado.
— É sim. Por quê?
— Acho que agora entendo por que ela não me engole.
— Está falando precisamente do quê? — Scott ficou sério e de certo modo, esperançoso com a insinuação escutada por .
— Acho que… Ela me vê como uma ameaça.
— Qualquer uma dessa cidade deve te ver como uma ameaça. Você tem tudo para isso.
— E posso saber o porquê?
— Algumas garotas correm atrás daqueles que consideram bons partidos da cidade. E você é uma forasteira que tem tudo para atrapalhar os golpes do baú.
Aquela era a primeira vez que a sinceridade de Scott regada a elogios para a deixava constrangida.
— Mas acha que Daniela aceitaria sair com Peter? — ela disse sorrindo em dúvida.
— Não. Mas acho que ela faria qualquer coisa para chegar a mim de alguma forma.
— Entendi. — Os dois começaram a rir. — Deve alertar o Peter, não acha?
— Ele é novo, mas não é bobo. Sabe muito bem de tudo isso.
Scott se ofereceu para ajudá-la com as caixas que ela tinha que guardar. Enquanto ele as carregava, limpou a farmácia, atualizou o sistema e em seguida ele se despediu dizendo que aproveitaria o dia em outra cidade. Ela lhe desejou boas diversões e na porta da loja, Scott a abraçou apertado beijando seu rosto demoradamente. Lógico, aquilo foi o suficiente para que Parker e companhia pudessem olhar para ela, de onde estavam, com sangue nos olhos.
A manhã correu tranquila como sempre. Poucos clientes a serem atendidos; um movimento sutil na rua… E lia e escrevia suas anotações — como era hábito quando as tarefas de seu expediente já haviam sido feitas e ela ficava com horas sobrando —, tentando se concentrar. Mas em sua mente a culpa por saber que não havia sido gentil com Sue, Emily, Seth e até mesmo Billy e os outros garotos na reserva estava a incomodando. Portanto, assim que ela fechou seu caderno de pesquisas e procurou terminar uma tarefa que havia se esquecido no computador da loja, decidiu telefonar para a matriarca Clearwater.
Logo que a atendeu, Sue disse que estava preocupada com a moça. Gostaria de ter telefonado, mas ao mesmo tempo quis dar-lhe o espaço que era pressuposto. desculpou-se pelo modo tempestivo com o qual saiu da reserva e pela forma grosseira que se manteve distante. Confessou que estava chateada com todos, mas em seguida compreendeu que os assuntos deles não eram os assuntos dela. Sue nada disse, o que deixou a ainda mais certa de que queria ser uma deles mais do que uma “visitante” e amiga. Ela sentia o desejo de ser parte do clã, um desejo, aliás, irreconhecível que nela despertava-se pouco a pouco, e assustava . Sue lhe perguntou quando ela voltaria para vê-los, e esquivou-se numa desculpa de estar ocupada. A verdade é que estava evitando encontrar-se com Black, e ainda mais com Embry que lhe demonstrou mínima consideração. Contudo, convidou Sue a ir vê-la quando quisesse e pediu para falar com Seth.
— Você está com raiva de mim? — E, direto sem rodeios ou voz amargurada, Seth atendeu à chamada com claro sentimento de culpa.
— Não, Seth, isso seria impossível. Eu queria ver você inclusive…
— Sério?
— Pode vir à farmácia?
— Claro! Eu pego a moto do Jake e chego rapidinho!
— Não! Quero dizer… Não diz a ele que vem me ver, pode ser?
— Segredinho nosso, gata — Seth disse com uma voz propositalmente sexy que nem sabia que ele teria, mas compreendeu estar rodeada de um bom humor do garoto.
— Ah! Seth, a sua mãe preparou umas plantas da reserva para mim. Então não se esqueça de trazer as mudinhas, por favor.
— Cuidado com essas plantas, hein… — Seth zombou dando uma risada sutil.
— São apenas as mudas de babosa e manjericão que o Billy utilizou no chá, é bem difícil achá-las por aqui, mas o Billy tem um cultivo próprio.
Aquelas plantas eram o novo objeto de estudo de , que atribuiu ao universo uma boa coincidência de logo Billy, logo ali na reserva quileute, ela as encontrar.
Assim que Seth chegou à cidade, estacionou animado em frente à farmácia e sorriu abertamente para . Queria ter ido visita-la, mas sua mãe o impedia dizendo que era melhor dar a ela o próprio tempo.
— Ei, pequeno Clearwater! Estava com saudades suas! — ela confessou se aproximando dele e o abraçando.
— Não sou tão pequeno assim, ! — ironizou arqueando a sobrancelha com seus pequenos olhos apertadinhos num sorriso. — E nós também sentimos a sua falta! Deveria ter aparecido!
— Eu estive ocupada…
— Mentirosa! — A acusou. — Você está evitando o Jake. Ele foi rude, mas não tinha a intenção de te magoar, …
— Não importa, não é para justificar a ele que eu te chamei… — deu de ombros e puxou um envelope do bolso de trás de sua calça e o entregou a Seth. — Entregue nas mãos de Black, por favor. É o dinheiro do conserto do Mustang.
— Então você só queria um garoto de entregas… Para trazer plantas e levar dinheiro… — reclamou.
— Não só isso, eu também queria ver este rostinho lindo! — riu apertando as bochechas do rapaz. — Me faça esse favor, vai? Eu não quero vê-lo por enquanto, mas quero menos ainda ficar devendo dinheiro.
Seth suspirou assentindo e guardando o envelope no bolso de seu agasalho.
— Tudo bem, mas ele vai recusar. E pior: vai vir até você! Escreve o que eu estou dizendo, eu conheço o Jake! Ele é mais transparente do que você imagina.
Seth se despediu a abraçando e convidando novamente para voltar à reserva quando quisesse, porque ninguém havia ficado magoado com ela.
— Você tem notícias do Embry? — ela perguntou, antes que ele ligasse a motocicleta, e Seth ficou sério. A expressão de ansiedade e preocupação tomando-lhe o rosto. não precisou ouvir o que quer que fosse. — Deixa para lá, seu rosto já disse tudo. Entendi o recado do Embry…
— , desculpe, mas…
— Esquece, Seth! — Ela sorriu amenizando sua fala ao interrompê-lo. — Não vamos envolver outras pessoas na nossa amizade, ok? Se o Embry quer ficar longe, então eu ficarei. Dele, não de você. Prometo.
Clearwater tentou esboçar um sorriso, mas a sua expressão de seriedade se mantinha. Ele trocou um cumprimento de soco à mão dela, e engatou a moto, partindo sob os acenos distantes da garota.
Ao chegar a hora do almoço, esperou por Steve para a troca de turnos; assim que ele chegou ela voltaria para casa, mas quando daria partida em seu carro, a viatura da polícia parou na lanchonete badalada da cidade. Avistou Erick sair dela sozinho e o seguindo, trancou o seu carro e foi até ele.
A lanchonete tinha uma daquelas sinetas que fazem barulho quando se abre as portas. Não estava vazia e todos olharam para a entrada a fim de ver quem chegava, inclusive Erick, que, sentado à mesa, a olhou de soslaio, o policial enrijeceu da postura ao rosto quando a encarou.
— Erick. Como você está?
— Bem. E você?
— Também… Será que eu posso me sentar?
— Eu não posso demorar, . — Ele desconversou.
— Eu não pretendo alugar você por muito tempo — ela disse já se sentando e Erick permaneceu sério e desconfortável. — Até quando vamos ficar sem nos falarmos, Erick?
— O que você quer, ?
— Conversar com você. Mas aqui não é hora e nem lugar. Quando podemos nos ver?
— Vai estar em sua casa hoje à noite?
— Como todas as noites. — Assim que ela o respondeu, ele se afeiçoou de uma expressão de sarcasmo.
— Passo lá — falou seco, frio e voltando-se à garçonete, ignorando a mulher à sua frente.
— Até mais então. — despediu-se e levantou-se saindo irritada de dentro da lanchonete.
Abriu a porta do carro com raiva de Erick. Ele precisava ser tão ridículo, tão imaturo? O que ela fizera a ele para ser tratada com tanto desdém?
Pensando sobre aquilo com a sua cabeça encostada ao volante, achava aquela atitude de Erick um exagero. E a culpa também era do próprio por ter se iludido. Contudo, algo lhe ecoava que de um jeito ou outro, sendo culpa diretamente dela ou não, havia magoado os sentimentos de alguém e aquilo devia desculpas. É assim que funciona: você tem que mandar o orgulho pular do barco para a humildade navegar nele.
Horas depois, em sua casa, foi replantar as novas mudas que Sue havia lhe dado, depois cuidou do seu jardim da frente. Ao pôr do sol, com o relógio marcando aquilo que deveria ser um fim de tarde, guardou seus aparatos de jardinagem e tomou um banho. Desceu já vestida com um moletom e uma camiseta dos Ramones ansiosa para ler o convite que Vincent havia lhe dado.
O convite consistia em um jantar na casa de Hernando, às 20 horas no fim de semana próximo, em sua casa em Seattle. sentiu-se honrada e imaginou que aquele jantar seria algo sofisticado apenas pela aparência do convite. Bebericando um pouco de suco na cozinha, ela escutou um estrondo de tábuas caindo aos fundos.
Os lobos continuavam rondando a sua casa durante aqueles tempos e ela sabia disso pelo cheiro. Algumas noites, os uivos eram bem fortes como se eles estivessem se comunicando. identificou que um deles dormia à porta de entrada, pois todas as manhãs havia pelos em seu tapete. Já estava acostumada a barulhos como aqueles, mas pensava, a cada vez que percebia a presença dos animais selvagens: “Será que os quileutes sabem que lobos ainda estão rondando minha casa?”.
A considerar as atitudes dos rapazes, ou melhor, de Black quando soube dos lobos, ela poderia jurar que seria um fato preocupante para eles. Mas os quileutes não a procuraram e não davam notícias sobre Embry, muito menos sobre aquele assunto. Eles estariam caçando-os como naquela vez? Eles estariam tentando controlá-los? E seria por isso que os lobos estavam acampando em suas terras: por serem expulsos do território da reserva? E quanto aos ataques humanos? Se eles fossem mesmo perigosos, os quileutes a deixariam sem aviso sobre aquilo?
colocou o copo na pia após aqueles pensamentos e pela primeira vez desde que chegou ali, fizera algo impulsivo em relação àqueles barulhos: abriu a porta da cozinha e foi aos fundos da casa. Naquela hora do dia, geralmente era quando os lobos chegavam, mas não pensou nisso. Ela pensava em Embry. Na última vez que eles se viram antes dele sair para caçar. Quando se deu conta do que estava fazendo, ela já estava no meio do quintal dos fundos sem nada nas mãos e longe da porta da cozinha. O que quer que pudesse vir a acontecer ali, ela precisaria ser ágil.
Algo se mexia nos arbustos da floresta que dava para o fundo da sua casa, e mais uma vez, impulsiva, deu passos à frente. Onde ela estava com a cabeça? De repente, uma buzina soou na entrada da casa, tirando-a daquele transe de curiosidade e deixando-a ser tomada pelo desespero do que havia feito. correu para dentro de sua casa de novo e, caindo na realidade do que havia feito, imaginou se algo terrível tivesse lhe ocorrido. Aleatoriamente, em sua mente, pensava como pôde ser maluca de comprar aquela casa abandonada com fundos para uma floresta, em um lugar que ninguém habitava. No mesmo instante, indagou-se silenciosa, se era hora de ter um cão de guarda, mas rapidamente percebeu ser a maior besteira fazer aquilo. Imaginou a loucura que seria ter um cão de guarda em uma casa cercada de lobos!
não poderia saber, ouvir e nem notar a presença de estranhos nos arbustos que a vigiavam no momento em que surgiu corajosa, movida a uma curiosidade fatal.
— Ela é louca! Não, não, ela é corajosa muito corajosa!
— Ela não sabia o que estava fazendo.
— Sim, mas, mesmo assim, cara, ela sabe dos lobos! Achei que ela iria para os arbustos.
— Anda, vem. Vamos ver quem chegou aí.
Capítulo Sete - Onde estará Embry Call?
Na entrada da sua casa, assim que saiu pela porta, viu Charlie indo até ela acompanhado por Erick.
— Boa noite, !
— Ei, Charlie, que surpresa! — disse lhe dando um abraço.
— Vim saber como estava, afinal, não tenho notícias de você há tempos.
— Ah, eu estou bem, tenho trabalhado bastante.
— Sue está preocupada. Você não aparece mais na reserva há quase um mês.
— Ela é adorável. Diga que você me viu inteira. Ela não acredita pelo telefone.
— Certo, eu digo sim. — Ele sorriu e deu outro abraço na jovem, cobrando: — Precisamos marcar um almoço de fim de semana lá em casa, hein?
— Ah, com certeza, estou devendo-lhe isso e eu não gosto de dívidas.
— Eu te ligo, querida. Até mais. Até amanhã, Erick.
— Eu vou aguardar o telefonema. Até mais, Charlie. Abraços a todos.
Charlie entrou na viatura e olhou para Erick sorrindo amigável; convidou-o para entrar, mas novamente passou um olhar meticuloso pelos arredores, os arrepios que tivera nos fundos de sua casa a amedrontaram como há algum tempo não acontecia. Erick chamou pelo seu nome, já de dentro da sala dela e ela entrou.
Após fechar sua porta, novamente em algum ponto escondido de sua varanda, os indivíduos que a espiavam se manifestaram:
— Certo, cara, vamos nessa. O policial está aí.
— Sim, vamos. Escuto os outros nos chamarem.
Assim que observou o rosto preocupado e desconfiado de , Erick também percebeu imediatamente o nervosismo dela.
— Está tudo bem, ? Está pálida… Parece nervosa.
— Antes de vocês chegarem eu estava lá no fundo e tive impressão de ter algo na mata… — Rapidamente ele empunhou sua arma e seguiu para a cozinha até os fundos.
— Erick… — chamou e foi atrás dele.
Erick caminhou em direção à moita, espreitou o arbusto e se manteve parada sob a porta dos fundos sem nada dizer. Nada havia ali, Erick adentrou um pouco mais à frente da mata e, olhando em volta sem nada pressentir, deu meia volta até . Acariciou seu rosto já à frente da mulher na varanda perguntando se ela estava bem. assentiu agradecida e eles entraram à cozinha.
— Sente-se. Vou preparar um jantar.
— Não posso demorar. Tenho compromissos, .
. Ouvir Erick chamá-la pelo seu nome e de forma tão áspera mutilava a sua consciência. Orgulho perverso o dela, que em todos os momentos impróprios se voltava contra si. O que há cerca de minutos parecia uma trégua com a preocupação dele, ao ouvi-lo dizer seu nome pronunciado como ele o fez, puxou-se de volta à situação real. Havia o chamado para ela pisar no seu próprio ego e lhe pedir perdão, ainda que não aceitasse estar errada.
— Um café então?
— Pode ser. — Ele sentou, incomodado por estar ali.
trocou olhares com Erick e pela expressão dele, talvez tenha clamado uma bandeira de paz pela sua forma de encará-lo. Ela estaria disposta a mostrar-lhe como, de repente, os dois soavam como dois estranhos e sem necessidade. Rapidamente Erick tentou puxar algum assunto.
— Então você não vai à reserva há quase um mês?
— Sim. Tenho andado ocupada.
— Ou se cansou de brincar de índio.
— Como é? — pronunciou pousando a xícara que segurava ao balcão, estupefata pelo tom utilizado por ele.
— Eles te excluíram, não é? — Erick a olhava convincente e piedoso. — Eu te avisei, ! Os quileutes não são boas pessoas! Eles nunca irão te aceitar, por mais linda, interessante e parecida com eles que você seja! São apenas índios egoístas com seus rituais extremamente suspeitos!
— Eu não te chamei aqui para pedir a sua opinião. Eu te chamei para pedir desculpas, Erick.
— Sei disso. E é por isso que te falo assim. Por que mais você me pediria desculpas a não ser por eu estar certo sobre esses índios estúpidos?
— Índios estúpidos?! — gritou. — Eu te chamei aqui para conversar sobre a forma como eu te magoei, seu idiota! E não por causa de quileute algum, mas sim por ter expressado mal os meus sentimentos por você! Erick! Você é tão babaca! Te ouvindo agora acho que eu nem deveria pedir desculpas a você! Estou aceitando um erro que não cometi!
— Não cometeu? Como você é hipócrita, . Você começa a se envolver com um índio atropelando nós dois e o errado sou eu?
— Cala a boca! Eu não atropelei nada. O que nós tínhamos? Saímos duas vezes e ainda assim você nunca deixou claro que pretendia algo sério. Eu me interessei pelo Embry assim como você poderia ter se interessado por qualquer outra!
— Ah, por favor, você quer que eu peça desculpas? — estava assustada por estar diante daquela parte mimada do homem e que ela não conhecia. Estava triste por ver que o que interessava para ele não era o bem-estar da sua relação, mas a briga infundida dele com os quileutes.
— Não. Não quero suas desculpas, Erick. Sabe por quê? Porque você quer que eu me desculpe por gostar de pessoas as quais você odeia sem motivos, e não por tê-lo magoado. Sua birra não é por mim. É por eles.
— Você não sabe o que fala. — Erick começou a rir ironicamente e muito nervoso. — Você defende aqueles marginais!
— Eles não são marginais! — gritou novamente, já avançando para cima de Erick entre tapas e socos infantis.
Ele até podia estar certo sobre ter sido excluída, mas ela ainda defenderia os quileutes! Era culpa da maldita sensação de se sentir uma deles! E sabia que não deveria julgá-los por seus segredos, afinal ela nada conhecia sobre eles.
— Eu preciso realmente ir. Minha namorada me espera e não quero mais perder tempo com você. — Erick frisou bem a palavra “namorada” segurando os braços de , na tentativa de afastá-la dele, com olhar desprezível.
— Melhor você ir mesmo. Mas antes que saia… Eu peço desculpas a você por ter alimentado involuntariamente uma ilusão sobre nós. Somente por isso.
— Se é do meu perdão que você precisa para viver… Eu te perdoo.
— Não! Eu tenho a minha consciência tranquila, minhas desculpas são apenas um favor que lhe faço, já que a sua consciência é surda e cega suficientemente ao ponto de te fazer não aceitar os seus defeitos.
— Não preciso da sua aceitação ou favores, . É você quem precisa daqueles índios… Olha para você. Totalmente dependente deles.
Ele estava certo. sentia uma necessidade de estar com as pessoas daquela tribo, daqueles ares, daqueles olhares e, urgentemente, dos seus mistérios. Ela não seria falsa em retrucar contra aquilo, mas precisava ainda saber de uma coisa…
— Por que você pronuncia a palavra “índios” com tanto desprezo?
— Porque este é o único sentimento que tenho por eles. Desprezo.
— Cuidado com isso. O sentimento que você tem é preconceito racial… E logo, o seu chefe será um deles. Não deveria repensar um pouco isso que você chama de “desprezo”?
— Se o senhor Swan não sabe escolher as suas esposas, eu não tenho nada a ver com isso, mas não tenho a menor obrigação de ser simpático com essa gente.
— Essa gente… — repetiu da mesma forma com que ele pronunciou, a fim de entender o que ela ouvia e presenciava. Em sua mente, aquela reação dele era tão absurda quanto nojenta. Que Erick era aquele? Fora por culpa sua que aquele ódio todo veio à tona ou ela estaria sendo muito prepotente?
— Até a vista, . Jessica já deve estar preocupada com minha demora.
— Adeus, policial Erick.
pode perceber com o susto que ele levara, que tratá-lo por “policial Erick” mostrou claramente o imposto distanciamento. Apesar da pose, parecia que Erick sofria com aquilo. Ele se aproximou dela e o olhava decepcionada. O policial ainda tivera a audácia de acariciar o rosto da mulher, antes de sair despedindo-se:
— Se cuida, . Eu só quero o seu bem, e essa gente… Enfim, você não precisa se misturar com um povo tão desprezível… — Ele beijou sua testa e quando já estava na porta, o chamou.
— Só para você saber… Eu sou filha de indígenas. — Erick então olhou para ela inexpressivo e saiu parecendo mais atordoado.
sentiu-se péssima com o que havia escutado. O olhar de superioridade, o preconceito com o povo indígena, e a ferida que aquilo lhe causava… Ela nunca havia sido julgada por ser uma descendente indígena, mas… Só de presenciar aquele ataque feito de Erick a respeito dos quileutes… estava com ódio. O que os garotos e o restante do povo da reserva não teriam ouvido de Erick, ou de outras pessoas da cidade que pensassem como ele? Ela mal esperou a viatura dele sair da entrada de sua casa, e fechou a porta trancando-a. A água para o café estava quase seca, então optou por utilizá-la apenas para uma caneca de chá. Um forte chá de capim limão.
Algumas horas depois da partida de Erick, os quileutes estavam na reserva discutindo sobre uma ação importante do clã.
— Ela vai ficar bem, Jacob. Não precisa ir!
— Pai, eu vou. Paul, Seth! Vocês vêm comigo?
Eles olhavam para Jacob, indecisos. Billy insistira naquela ideia de que Jacob deveria ficar fora daquilo tudo, mesmo sendo aquela uma noite aturdida para os quileutes.
— Eu vou com ele, Billy! — disse Seth.
— Leah também pode ir, Paul e Quil ficam comigo, Billy — Sam também ordenou passando confiança ao patriarca Black, que às vezes agia como se Jake ainda tivesse 16 anos.
Aquilo irritava Jacob de uma forma imensurável! Ele estava prestes a retomar a liderança do clã, embora não houvesse verbalizado a respeito com os outros, e seu pai ainda o tratava como um alfa problemático.
— Certo, então vamos antes que a princesinha fique em apuros — disse Leah em tom esnobe.
Os lobos saíram sob os olhares preocupados dos outros e ouviram os urros altos do perigo, olharam para trás preocupados, mas receberam a aprovação de Sam que lhes gritou:
— Vão! Nós damos conta disso! — Sam gritou e saiu sendo seguido para a mata junto com o restante da matilha.
— Não sei por que estamos nisso! Ela não corre perigo!
— Leah! Você ouviu o que Billy disse. — Seth brigava com a irmã, e realmente a garota estava dando nos nervos de Jacob ao agir daquela forma. Leah fazia com que ele se recordasse de tempos atrás. Tempos infelizes.
— Jacob… E o policial? — perguntou Seth preocupado.
— Ele não deve estar mais lá.
— Como sabe? Eles podem estar juntos. — Leah continuava sendo irritante diante daquilo tudo. Black controlou-se para não a morder e, notando a raiva dele, a outra loba se calou.
— Ainda que ele esteja lá nenhum deles está fora de perigo. — concluiu inteligentemente, Seth.
Em sua casa, bebia seu chá e já mais calma pela discussão recente, ela ligou o computador para procurar desvendar algumas das suas dúvidas, até que seu telefone tocou a interrompendo.
— Boa noite, . É o Steve.
— Boa noite, Steve, aconteceu algo?
— Não. Primeiramente, parabéns pela promoção, senhora gerente.
— Ah, obrigada. Não muda muita coisa.
— Certo… — Ele riu.
— E então, me ligou apenas para dar os parabéns?
— Não… Você vai ao jantar dos Vincent?
— Claro, já é neste fim de semana, certo? — Conferiu pegando o convite e lendo o dia e horário. — E você?
— Sim, também irei. Que tal se fôssemos juntos?
— Acho ótimo! Até porque eu não sei andar muito por Seattle.
— Eu passo aí às oito horas então, pode ser?
— Se importa se nós formos com meu carro?
— Não. Por mim tudo bem.
— Até lá então, Steve, e não se esqueça: qualquer problema com a loja, você pode me ligar.
— Entendido, chefinha — Steve disse brincalhão e os dois encerraram a chamada.
Voltando ao seu laptop, digitou nas pesquisas do Google “Bairro Kalil, Forks” e ficou abismada com a quantidade de manchetes e notícias trágicas envolvendo o nome de Forks. Notícias sobre mortes misteriosas, rituais sobrenaturais, ataques a turistas, campistas e alpinistas que não obtiveram respostas a não ser suspeitas de provirem de animais selvagens desconhecidos. Contudo, sobre o bairro Kalil ela precisou de uma procura mais detalhada e sua resposta fora que ali, exatamente ali naquele bairro inóspito, muitos destes corpos foram encontrados.
Então era aquilo que preocupava a todos: morava em um cemitério antigo. E se ali ocorreu a maioria dos ataques, ela estava mesmo correndo muito perigo! Por isso nenhuma outra casa, nenhuma outra alma habitava os arredores e, consequentemente, esta era a razão do preço baixíssimo pelo qual ela pagou naquele casebre.
Assustada e evitando aqueles pensamentos tenebrosos de filme de terror, fechou o aparelho e reuniu suas coisas, subindo ao seu quarto para tentar dormir, porém, os lobos pareciam cada noite mais agitados e naquela, precisamente, ela temia mais do que todas as outras. Nunca pensou tanto em Embry e Jacob como naquela noite. Em consequência disso, tivera um sono conturbado e sonhou com eles.
Ao amanhecer após toda a preparação matutina rotineira, não havia mais sinais de perigo, mas ainda sentia uma estranha premonição que a fazia arrepiar. Havia uma aura muito fria em torno de si, suspeitando ser apenas um pavor provocado pelo que havia lido na noite anterior, ela decidiu que não buscaria mais informações naquele dia. Exausta, sem ter dormido direito, não iria realizar suas pesquisas laboratoriais também.
Seguiu à porta para sair em direção ao seu turno da farmácia e avistou um envelope conhecido no chão, passado por baixo de sua porta. Ela o pegou e abrindo a porta para enfim sair, nem mesmo precisou abrir o envelope para reconhecê-lo ou conferir o que estava dentro. Havia um bilhete pregado nele dizendo: “Nada de pagamentos, esse foi o combinado”. Black devolvera seu dinheiro. entrou em seu carro, desanimada com o fato de ter que insistir naquilo.
Já na cidade, ela estacionou em sua vaga de sempre e mal pôde acreditar quando avistou Jacob Black saindo do mercado. Antes mesmo de olhar para a loja, trancou o carro e correu até o quileute:
— Black! — gritou ao vê-lo subir na motocicleta irrevogavelmente perfeita. — Espera!
Jacob olhou para ela retirando o capacete, ainda sentado. se encaminhou até ele parando bem em frente ao corpo que refletia exaustão e nenhuma postura elegante sobre as duas rodas.
— Bom dia. Parece cansado.
— Bom dia. Realmente preciso de um bom descanso. O que aconteceu? — Ele respondia desatento a ela, sem querer lhe dar muita atenção, mas arregalou os olhos ao ver que ela lhe estendia novamente o envelope.
— Não vou aceitar.
— Ora, Black. Não dificulte as coisas. O combinado foi um pagamento justo.
— Eu não quero. Você não pretende montar seu laboratório? Guarde-o para isso.
— Como sabe disso? — Ele abaixou a cabeça como se tivesse falado demais.
— Hm… Sue e eu estivemos conversando sobre você.
Black tinha uma particularidade: quando não gostava do assunto ou não queria falar, ou ainda quando não queria estar em alguma situação, mas era obrigado a isso, ele conversava sem olhar para a pessoa. Ficava analisando em volta com o olhar vincado e as sobrancelhas juntas. E não percebeu naquele momento, mas achava aquele um dos gestos engraçados e sexys de Jacob Black, dentre tantos outros que só notaria muito tempo depois.
— Conversando sobre mim. O quê? E por quê?
— Nenhum motivo direto. Ela apenas comentou que você planejava isso. Então pegue seu dinheiro de volta.
— De qualquer forma eu insisto.
— Façamos assim… — Ele estava cansado demais para discutir. — Você fica me devendo um favor. — Concluiu já se preparando para partir.
— Não, espera, Black… — Ele depositou um beijo na testa dela e piscou para ela se preparando para dar a partida da moto. — Jacob!
— , não. Depois nós conversamos. Preciso mesmo ir.
— Está tudo bem? Por que essas olheiras tão fortes? Você não tem dormido. O que está acontecendo? É com o Embry?
— Está tudo bem — ele disse e saiu veloz.
Mais uma vez sem notícias, sem vestígios, sem explicações. Se ficasse pensando nas coisas que vinham ocorrendo, surtaria. Então a garota decidiu pensar no jantar dos Vincent, no que vestiria para ir.
A farmácia sempre monótona pelas manhãs, decidiu surpreender. Primeiramente com a visita insossa de Jessica Parker. Infeliz a coincidência de ser irmã de Daniela? Bom, coincidências como essas eram muito comuns em Forks.
— Bom dia — disse.
— Um remédio para dor de cabeça — a outra respondeu de forma diretiva, séria e deixando notório que educação não era o forte dela.
— Alguma preferência?
— Não.
— O Aimovig custa dezoito dólares, caixa com vinte comprimidos. Temos o genérico.
— Esse mesmo. E os testes de gravidez ficam onde?
— Algum laboratório específico?
— Não. Pode ser qualquer um. — pegou um dos mais vendidos e entregou a ela.
— São vinte e oito dólares no total.
— Aqui está. — Jessica estendeu o dinheiro para , de forma esnobe.
— Boa sorte. — Em igual tom, disse sorridente olhando para o exame.
— Obrigada. Erick vai ficar muito feliz! Eu tenho certeza da gravidez.
Parker esperava atingir com aquela informação, mas a atendente continuava sorrindo falsamente simpática, o que deixou Jessica um tanto impaciente e respondeu:
— Sei que tem. Espero que ele fique mesmo feliz!
Após a visita nada agradável de uma, veio a visita da outra, porém Daniela nada consumiu. Apareceu tempestiva e exigindo informações:
— Bom dia, em que posso ajudar?
— Onde está o Scott?
— Oi? Por que eu deveria saber?
— Sei que você está de caso com o meu Scott, sua mulherzinha!
“Ah fala sério!” foi o que pensou, já entediada e, de certa maneira, se segurando para não responder à altura.
— Não sei onde ele está, primeiramente porque não tenho nenhum caso com ele, depois porque ao contrário do que você deseja, ele não me deve satisfações, e terceiro… Não perca seu tempo. Scott com certeza deve estar fugindo de você como sempre. Aliás, deveria perguntar à mãe dele em qual setor ele estaria. É no mercado que Scott trabalha e não na farmácia.
— Sua ridícula! Não se atreva a meter-se com Scott! — Enraivecida, Daniela invadiu o balcão da farmácia tentando entrar na sala reservada. — Scott! Scott!
a impediu, entrando em sua frente e assim que percebeu que aquilo só pioraria a situação, ela fez questão de acompanhá-la por cada cômodo da loja. Ao ver que estava surtando, Daniela saiu sem dizer mais nada. Com o nariz bem empinado. E para piorar o fatídico dia de maus encontros de , Erick também apareceu pela farmácia um pouco mais tarde naquela manhã.
— Bom dia, . Estou um pouco enjoado, o que você tem aí?
— Você tomou café?
— Sim.
— Tem sentido esses enjoos com frequência?
— Um pouco. Nada muito contínuo.
— Eu sugiro que você passe no posto ou no hospital. Não posso vender nada sem receita.
— Eu não posso, . Aliás, eu sempre tomo uns comprimidos para enjoo, me dê esses mesmo. O nome é… — Ele retirou um papel do bolso. — Bromoprin.
— Erick, eu não sou médica. Não posso vender esse tipo de medicamento sem receita. Você terá que ir ao médico ou conseguir uma receita.
E de repente, sem o menor preparo da parte dela, Erick a assustou. Ergueu a cabeça encarando o teto e, apressado, deu a volta no balcão da farmácia parando à frente de , um tanto impulsivo, e a puxou pela cintura. Enlaçando um de seus braços no corpo dela e com uma das mãos em sua nuca, beijou tão desesperadamente como se a melhora dele dependesse daquilo, sem aviso prévio ou consentimento. ficou tão sem ação que não reagiu. Enquanto era beijada, torcia mentalmente para que ninguém visse aquilo.
Ao partir o beijo e separar seus corpos, o encarou com medo, dúvida, raiva, surpresa e revolta. Desferiu um tapa ao rosto do homem, e antes que abrisse a boca para iniciar uma discussão do quanto aquilo foi errado, Erick saiu. Ao deparar-se com o olhar raivoso da mulher, sua mente pareceu elucidar como quem se dava conta do ato grave cometido. Não se beija e nem se toca em uma mulher sem o seu consentimento. Covarde, talvez, Erick fugiu.
permaneceu ali estatelada, sem qualquer esclarecimento do que havia ocorrido. Erick não voltou naquela manhã e, acabado o turno de trabalho, a garota de Phoenix foi novamente para casa. À tarde, continuou suas pesquisas e realizou uma limpeza doméstica. Embora sua casa sempre estivesse organizada e de certo modo limpa, ela quis ajeitá-la com mais afinco.
Ao tardar da noite tudo continuava normal. É absurdo declarar um bando de lobos, muitos uivos e rosnados como “normal”, porém, aquela era a realidade corriqueira da mulher que se espantaria se por acaso não encontrasse sinal de seus “amiguinhos” por ali, tamanha era a conformidade que ela já apresentava pela presença dos animais. Entretanto, foi ao acordar que toda a “falsa calmaria” da mente de obteve algumas de suas respostas. Ela acordou mais cedo do que o de costume e ao passar em frente à janela da sala, resolveu dar uma espiada. Afastou sua cortina e avistou pernas estendidas de alguém que estava escorado à sua porta. O susto era inevitável! Antes de abrir, agiu com sensatez e olhou novamente pela janela.
Black. Jacob Black. Ele dormira na sua porta! Mas por quê? Quando pensou em abrir, ela pôde avistar a figura de Quil Ateara indo em direção a ele. Ela rapidamente fechou as cortinas e se escondeu de modo que pudesse ainda os vigiar. Quil acordou Black e os dois saíram correndo em direção à estrada. Jacob, ainda sonolento, olhou para trás, se certificando de que estava tudo certo e de que não estaria acordada.
Aquilo a deixou raivosa e abismada. Uma chuva de perguntas e preocupações iam passando em sua mente: Por que ele estaria ali? E há quanto tempo? Mas e os lobos? Erick estava certo em dizer que os quileutes domavam e treinavam os lobos para atacar as pessoas? E o pior de todos os pensamentos: os lobos estariam a cercando por causa dos quileutes? E Embry? O que aconteceu com ele? Por que ela não tinha respostas sobre ele? Por que ele se afastou tão repentinamente?
Enquanto ela se preparava para mais um dia buscando frustrada, se acalmar, a sua mente vagueava nas lembranças das vezes que estivera com Embry. O almoço na tribo, o passeio na praia, o beijo nas rochas, o corredor da casa de Emily, o casaco dele, e finalmente a caça aos lobos. Ela não o viu mais, nem seu sorriso, nem seu olhar, nem ouviu a sua voz. Embora ele fizesse falta, o que sentia por Embry era superficial! Não de um jeito pejorativo, mas como se ela apenas se preocupasse com ele por tê-lo como um bom amigo, um companheiro. Sempre estivera certa de que não o amava, afinal, ela nunca foi o tipo de garota sonhadora que em um beijo se declarava apaixonada pelo homem da sua vida. achava tal comportamento insano e estranho. Ingênuo. Contudo, ela tinha muita consideração por Call e curtia estar com ele. Até porque, eles estavam iniciando algo muito bacana. queria seguir em frente com ele, mas como? Como se ele não demonstrava querer o mesmo? Como se eles vinham sendo afastados por aquele desaparecimento estranho? Como, se Black tomava mais espaço nos seus pensamentos com suas atitudes misteriosas do que o próprio desaparecimento de Embry? Céus! Black não deveria ter tanto espaço assim! Que droga! Ele tornava-se um tormento.
se vestiu tão rapidamente que se existisse um concurso, o tempo vitorioso seria o dela. Pobre do seu carro! Engasgaria com o tanto que a mulher ia acelerar para chegar naquela reserva. E assim o fez. Ao chegar à reserva, estacionou-o de qualquer jeito e deixou o motor ligado, inclusive. Ela personificava em seu corpo e semblante a raiva, o desespero e o medo. Sentimentos mistos, os quais ela não controlava naquele momento.
Ainda que Billy estivesse em casa, não deixaria de agir como agiu. Abriu de súbito a porta da cabana dele e adentrou buscando o quarto de Black. Um dos quartos estava arrumado, e nem sinal de Billy na casa. Encontrou outra porta semicerrada e avistou Jacob Black deitado em sua cama. Vestia apenas uma boxer e tinha o corpo perfeito descoberto. Embora a visão fosse tentadora, os sentimentos que havia na alma da mulher, no momento, eram bem maiores.
avançou para perto dele e começou a bater no rapaz gritando para que ele acordasse. De repente Jacob segurou os punhos dela e girou-a em sua cama, se colocando por cima de . Segurava-a com as suas pernas fortes, e com suas mãos largas e grandes imobilizava as mãos da mulher sobre o próprio abdômen.
— O que é isso, ?! — disse desesperado.
— Calado! Explique-me agora o que você fazia na porta da minha casa! Por que dormiu lá, Jacob? — gritava.
Com o escândalo, Billy, Sue, Paul e Quil apareceram no quarto de Jacob os deixando constrangidos com a situação. Paul e Quil deram risadas discretas e espantadas. se contorcia tentando se desvencilhar de Jacob que lutava contra ela, ainda vencendo e a deixando imóvel por seu corpo. Enquanto eles gritavam um com o outro e resistiam entre si, as pessoas presentes olhavam sem nada entender.
— ! O que faz aqui? — disse Billy finalmente.
— Eu quem quero saber por que Jacob dormiu na porta da minha casa e o que ele fez ou faz com os lobos à noite! — gritou ela, enfurecida e Sue tapou a boca com as mãos, assustada pela dedução rápida de , então todos ficaram sérios.
— Jacob! — Billy gritou com o filho lhe dando sinais de desaprovação.
— O que foi? Ela quem invadiu e começou a me agredir!
— Não é isso! — Billy disse colocando a mão sobre as têmporas, impaciente. — Saia de cima dela e vá se vestir! — O pai olhou para ele como se tratasse da coisa mais óbvia.
— Ah. Claro! — Jacob soltou o corpo da mulher e se levantou bastante constrangido, pedindo a Sue: — Desculpe, Sue.
Abriu o guarda-roupa de um jeito atrapalhado e puxando uma bermuda vestiu-a. ainda o encarava séria escorada na cama dele.
— Será que pode olhar para lá? — ele disse.
— Eu vou acabar com você se não começar a se explicar logo! — esbravejou ela para ele desconsiderando a presença de outras pessoas.
— , se acalme, querida — pediu Sue.
Fazendo o que ela pedia, a mulher ajeitou a roupa em seu corpo, se levantou desculpando-se com todos, inclusive com Billy por invadir a casa dele.
— Tudo bem, . Melhor, você e Jacob conversarem, nós estaremos lá fora. Acalme-se — Billy falou e antes de sair olhou sério para Jacob deixando claro ao filho que resolvesse a situação com cuidado.
— Ei, gatinha feroz, poderia me emprestar a chave do carro? Você deixou o motor ligado lá fora. — Paul se manifestou brincalhão à mulher que sorriu sem graça e jogou as chaves para ele.
— Até mais, . Tenha paciência com o nosso amigo — disse Quil abraçando-a e sorrindo travesso para a figura irritada de Jacob.
Depois que todos saíram, Black sentou-se em sua cama. Esfregando a face e encostando os cotovelos nos próprios joelhos depositou as mãos no queixo a encarar a figura da mulher que tentava o intimidar com o olhar.
— Estou esperando suas explicações, Black.
— Precisava mesmo disso tudo?
— Limite-se às explicações.
— Estou pensando.
— Está pensando? Ora, faça-me o favor! Diz logo, Black! O que fazia lá? — Ele ergueu um pouco o corpo a encarando sério, mas ainda sentado.
— Eu estava vigiando sua casa.
— Como é?
Jacob a puxou pela mão indicando para que se sentasse ao seu lado na cama. Virou-se para ela e continuou a falar olhando profundamente o castanho urgente dos seus olhos:
— É tão complicado, … Você não faz ideia de como eu gostaria de contar tudo o que sei, mas não posso. Eu estava te protegendo. Passei todas as noites possíveis dormindo à porta da sua casa.
— Black… Não insulte minha inteligência. Lobos rondam minha casa todas as noites, e todas as manhãs têm pelos espalhados pela varanda! Quer me convencer de que dormiu do lado de fora com eles?
— Lembra-se quando os rapazes saíram para espantar os lobos?
— Lógico.
— É que… Nós conseguimos controlá-los…
— Certo, mas eles estiveram nervosos uivando noites e noites, agitados! Ora, Black! Eu não sou idiota! — Parando um instante para raciocinar, teve uma ideia acerca do que escutara. — Erick é quem esteve certo o tempo todo!
Soltou-se das mãos de Black, que seguravam as suas enquanto ele lhe explicava sua historinha, e saiu do quarto, ainda mais furiosa. Billy, sentado na varanda, notou que as coisas não foram bem feitas por seu filho, quando passou e quase derrubou Sue com uma bandeja de café. Black surgiu correndo até a mulher, pedindo para que ela o esperasse e o ouvisse um pouco mais; foi aí que parou de respirar. Parou de pensar. Todo o seu corpo parou, sentia-se letárgica como se o sangue corresse em suas veias em câmera lenta. Embry estava saindo da casa de Sam. Embry estava lá!
— O quê? — sussurrou.
Capítulo Oito - Quem, ou o que, estão escondendo?
— O quê? — sussurrou , ainda chocada por ver a figura de Embry por ali.
Uma mão forte segurou o seu braço. Era o braço forte de Jacob que a virou para ele e, segurando seu rosto para encará-lo, começou a explicar:
— Acalme-se. Eu tenho muitas coisas para te falar. Vamos até o galpão?
— Há quanto tempo? — ignorou Jacob e disse correndo até Embry indagando-o pela resposta.
A mulher, mentalmente torcia para que ele a respondesse: “Agora há pouco, ” e assim, ela poderia acreditar que não estava sendo enganada. Todos estavam parados assustados, e olhavam para a figura do quileute e da mulher frente a frente.
— Não faz muito tempo desde que voltei, , você precisa se acalmar.
— Me acalmar, Embry? Me acalmar?! — gritou ela. — Você não tem ideia de como eu tenho tentado me acalmar desde que você desapareceu! Tem uma cidade inteira me odiando por sei lá… Eu existir! Tem um policial enchendo a minha cabeça de coisas a respeito de todos vocês, nas quais eu os defendo sem nem mesmo conhecer nada de cada um! Lobos selvagens circundam a minha casa o tempo todo! Descobri que eu moro em um lugar perigoso, aliás, descobri que Forks é um lugar perigoso! Escolhi um lugar terrível para viver! Você desaparece e ninguém me dá notícias! Black dorme na porta da minha casa e fica inventando coisas sem nexo, e de repente, como se nada acontecesse, você está aqui na minha frente! E está bem!
levou as mãos à testa, como se tentasse evitar a dor de cabeça pelo estresse repentino, e ainda mais nervosa, ela se aproximou de Embry lhe apontando um dedo ameaçador, e o rapaz deu um passo para trás, tão assustado quanto todos os outros ao ouvir ela gritando em sua direção:
— Me acalmar é o que eu venho tentando fazer todo esse tempo! Estou sozinha nessa cidade monótona tentando entender o mínimo, ou apenas me conformar em não procurar respostas! E de repente Isabella Swan é a pior conexão que me aconteceu na vida! Eu estava preocupada com você! Achei que tínhamos alguma amizade, ao menos, e você desapareceu e não me deu mais notícias principalmente depois de beijar a minha boca e me fazer crer que estava sendo incluída entre vocês! Então não peça para eu me acalmar, Embry Call!
No pátio florestal em que todos eles estavam, nenhum pio de ave era escutado, no mínimo o farfalhar das folhas nas copas das árvores era ouvido. Os quileutes encaravam , muito espantados por não saberem de todas as coisas que vinham acontecendo a ela; por não saberem tudo aquilo o que ela sentia e os únicos olhares confortantes que a mulher recebeu no meio de todos eles, surpreendentemente, foram de Leah Clearwater e Emily.
saiu correndo de volta para o seu carro sem dar tempo de Embry responder. Sue e Charlie, contudo, sem que ela percebesse, haviam se aproximado caminhando até ela e parando ao seu lado; seguraram em seu braço de forma tenra. Charlie, respeitosamente e um tanto culpado por saber que a presença de na cidade era culpa de Bella, a abraçou como um pai.
— Billy! — Sue gritou para ele com a voz embargada, de um modo suplicante ao notar a morena recebendo o abraço do delegado, com suas expressões de quem segurava um choro de decepção.
— … O que eu posso fazer por você? — Charlie chorava a olhando preocupado.
— Apenas me desculpe pela forma como eu falei da Bella… É só que…
— Não tem que me pedir desculpas por isso. Eu te entendo. — Charlie a interrompeu de justificar-se e os dois se abraçaram de novo.
Enquanto o senhor Swan e estavam dialogando brevemente, Jacob iniciou uma pequena discussão com o pai e Sue, na varanda. A matriarca Clearwater pedia para que os Black falassem em tom baixo, e então reparou a situação os olhando furtivamente, incompreensiva.
— As coisas vão se esclarecer, eu te prometo! — Charlie lhe garantiu. — Você terá que ser forte e esperar um pouco mais. Confia em mim?
A morena de cabelos longos e ondulados não sabia explicar o motivo, mas confiava em Charlie, e num momento cúmplice entre eles, soltaram-se do abraço e ela concordou com o que Charlie perguntou. Billy se aproximou pedindo para que ela ficasse por lá aquele dia, pois segundo ele, teria muito a conversar e ouvir. Reticente, encarou o redor. Os quileutes estavam todos a encarando esperando uma resposta, e da varanda dos Black, Jacob e Sue, lado a lado, eram os mais apreensivos para que ela dissesse que sim.
Então eles haviam decidido contar-lhe tudo o que ela quisesse saber? Explicariam os lobos e o sumiço de Embry? Ela não sentia que sim, porém, ao encarar Charlie, o delegado meneou a cabeça como se a aconselhasse a ficar. fez sinal positivo para Billy, e sacando o seu celular do bolso da calça, se afastou para telefonar e perguntar a Steve se o rapaz poderia a cobrir no seu turno de trabalho. Felizmente, ele poderia.
Jacob se aproximou e parou à frente da mulher, calado, cabisbaixo e triste. Charlie se afastou entrando na casa de Sue, e a Clearwater junto a Emily se aproximaram para abraçar , sorridentes e envergonhadas. Uma vergonha que não achou que as mulheres devessem sentir, mas Embry deveria. Seth também tentou a reconfortar com um sorriso e um “Que bom que está aqui” sussurrado em seu ouvido. Leah apenas sorriu de longe. Pelo menos alguma coisa estava evoluindo para melhor. Embry se aproximou e estava visivelmente abatido, cansado, bem mais forte fisicamente e não parecia ser mais o mesmo que conheceu há semanas.
— Desculpe. Eu não estive bem — ele disse.
Os dois se encararam silenciosos por um tempo e, deixando as lágrimas escorrerem em seu rosto, após segurar por todo aquele instante, então o abraçou. Jacob, que ainda estava parado perto deles, deu alguns passos para trás e virou-se de costas para o casal.
— Seu idiota — disse a Embry enquanto o apertava. — Por que não me mandou notícias? Eu estive tão preocupada!
Assim que se soltou dele e abriu os olhos, ela se afastou de Embry e o notou observando Jacob. Ela olhou para Black, e no mesmo momento ele virou-se de novo de frente para eles, como se tivesse sido chamado e sua expressão era muito irritada. Entre ele e Embry parecia haver algum debate por seus olhares, ou talvez, pensamentos, mas pensou ser apenas uma impressão sua. Até porque, ninguém era capaz de conversar por olhares e mentes, não é? Ela pressentiu uma estranheza no ar entre os dois, deduzindo que talvez estivessem também brigados.
— Eu não queria que se preocupasse. Só tentamos te proteger… — Embry disse por fim ao retomar o olhar para ela.
Mas aquele que estava diante dela, não era o mesmo Embry. Era visível que ele não estava bem, não sorria, não tinha o mesmo brilho nos olhos, nem a mesma alegria.
— O que houve com você? — perguntou, cuidadosa e acariciando o rosto do rapaz.
Foi então que, bruscamente, ele retirou as mãos dela do seu rosto e afastou-se. estranhou a reação, e sentiu-se triste com aquilo por saber que perdera o velho Embry. Ela sabia que ele estava mudado e não seria mais como antes. Jacob assistia aos dois, um tanto repugnante. O que ocorria era que ele culpava Embry por ter se precipitado na aproximação com a visitante, uma vez que se ele não tivesse se envolvido com ela da forma como aconteceu, tudo aquilo que Embry estava lidando agora não a magoaria. E Jacob achava que , de uma forma ou outra, acabaria se magoando.
— Eu já estou bem, . Não se preocupe mais, foi uma viagem para cuidar de algumas questões pessoais, mas estou de volta. Agora, com licença, eu preciso descansar.
Ao percebê-lo arredio e fugitivo, sentiu o peito inflar em raiva. Aquilo era maneira de tratá-la depois de tudo? Por que Embry agia como se ela fosse culpada por algum crime? O que, afinal, ela teria feito para tanta mudança? Incontestável, se pronunciou:
— E posso saber por que está agindo como se eu tivesse alguma culpa de seja lá o que for que lhe aconteceu?
Jacob trancou o maxilar em desaprovação. Embry estava mesmo fazendo tudo da pior maneira!
— Apenas estou cansado, não é nada contigo, … — Embry deu de ombros, dizendo de modo quase indiferente, mas na verdade estava era ansioso por vê-la sem ter tido tempo de se preparar. — Não estou a culpando ou fugindo, é só impressão sua. — Deu um sorriso mínimo e virou-se de costas para a moça, saindo.
Black olhou imensamente irritado para Embry quando este passou por ele. Jacob já estava conhecendo um pouco mais, pois, quando notou a expressão de raiva e injustiça no rosto dela, prevendo que a mulher novamente surtaria, o quileute deu passos em sua direção passando seu braço pela cintura dela e foi empurrando , que caminhava de ré para a direção da praia.
— Black! O que está fazendo? Me solta!
— Ei, se controla, certo!? Vem comigo — disse ele em tom firme e continuou a arrastando.
se virou para frente, caminhando de forma certa. Ela olhou para trás em busca do rastro de Embry, mas o rapaz já não estava em seu campo de visão, logo, ela bufou irritada. Jacob riu e disfarçou o olhar para frente, o encarou de modo ladino e percebeu que o braço dele ainda estava em sua cintura, dessa vez, a abraçando desajeitadamente pelas costas.
— Já pode se soltar da minha cintura. Estou indo com você, não está vendo?
Então, sorrindo torto com a birra da mulher, Black a colocou em seu colo.
— Me coloca no chão, Black! — reclamou se sacodindo em seus braços.
— Para com isso, mulher! Estou só te carregando pra você não escorregar nas pedras!
— Não precisa!
— Embry não fez isso da última vez? — Ele encarou os olhos da mulher, que notou um lampejo de descontentamento por parte de Black.
— O quê? Mas é diferente!
— Entendi! Ele pode né? — disse sério, agora sem qualquer tipo de humor, colocando a garota ao chão.
— Black, qual o seu problema? E ainda estava nos espiando? — não entendia nada daquele comportamento do rapaz e foi andando mais rápido até ele. Contudo, sua falta de atenção e conhecimento do terreno fizeram-na escorregar e cair.
Jacob olhou para trás quando a ouvir praguejar e retornou para perto dela, apressado e preocupado.
— Tudo bem? Você se machucou?
— Não foi nada… — encarou seu pé um pouco dolorido e sem graça estendeu o braço para cima, como se o pedisse ajuda para a levantar. — Você também pode, Black.
— Agora posso? — Ele arqueou as sobrancelhas, zombando em falsa irritação. — Chama o Embry agora!
— Black… Você está irritado com o que, precisamente? — a garota perguntou ainda sentada no chão, esmiuçando as feições do rapaz em busca de entendimento.
Numa falha tentativa de calar a pergunta dela, Black revirou os olhos e pegou a mulher em seu colo, com uma facilidade de quem levantava uma pena. Continuou caminhando entre as pedras, de forma silenciosa, até que insistiu:
— E então, bipolar? Não vai me responder?
— Não estou irritado com nada.
“PUUUUFFF”! Desceu a barreira antiga, impenetrável e transparente, mas que aprendia a cada vez mais que seria necessário quebrar aos poucos, com um martelinho imaginário. Ignorou a frieza repentina dele:
— Jacob Black… — sibilou o nome dele baixinho, como se contasse um segredo, e começou a rir zombando. — Você está com ciúmes?
— Ciúmes do quê?
— Não sei… De eu ter deixado o Embry me carregar?
— Eu estou te carregando, não estou?
— Sim, mas é diferente… — sussurrou sem o tom de piada e os dois se olharam discretos, um pouco atordoados e envergonhados, pois que intimidade tinham para que ela estivesse nos braços dele daquela forma?
A sensação daquele instante era de forte palpitação no peito de por motivos distintos: o primeiro, a frieza de Embry; o segundo, o corpo de Jacob tão perto. E Black ignorava o fato de que estar tão perto de uma mulher como ela daquele jeito, também estava esquentando o seu sangue. Tentou mudar o assunto ou afastar o pensamento que lhe veio à mente sobre ela.
— Você precisava mesmo entrar no meu quarto daquele jeito, ?
— Eu estava descontrolada… Desculpe por isso. — A mulher pediu envergonhada pela cena tempestiva que fizera no quarto dele, e viu que Jacob sorrir.
Jacob Black começava a esboçar um sorriso de verdade, vez ou outra, como se ele houvesse reaprendido a sorrir, embora ainda tímido, sem mostrar os dentes.
— Nas rochas né? Seu lugar favorito — Black perguntou ainda a carregando até o amontoado de pedras na areia, para que eles se sentassem.
— Sim… Mas por que estamos aqui, Black?
— Quero conversar com você — disse se sentando ao lado dela, na pedra.
— Pode falar.
— Primeiro… Por que Black?
— Ah… Não sei. Eu nunca senti que pudesse te chamar abertamente de Jacob e… Da primeira vez que o chamei por um apelido parece que você não gostou. — Ao ouvi-la, ele abaixou a cabeça se recordando exatamente do que ela falava.
— Eu gosto da sua voz pronunciando “Black”… — Jacob a olhou sorrindo fraco e disse, um pouco receoso: — Acho que eu também deveria poder chamá-la de algum outro nome.
— Quando eu era menor, minha tia dizia que eu parecia uma ursa quando ficava zangada…
— Não… Eu prefiro algo como “loba”. — o encarou admirada pelo apelido tão único e que faria tanto sentido para ela, já que sua casa era uma toca, aparentemente, de lobos.
Jacob notou a expressão quase infantil de contentamento da mulher e reagiu com um sorriso solar. O primeiro sorriso verdadeiramente tímido e solar que Black dera desde que o conhecera.
— Gosto de loba…
— , a loba irritadinha… — zombou e a mulher fez uma careta, mas logo Jacob voltou a ficar sério ao dizer-lhe: — Preciso te contar algumas das nossas lendas.
— Estou mais do que preparada para ouvir…
Black contou da relação íntima que os quileutes têm com os lobos, e do quanto os lobos são importantes para eles. Contou que eles conseguem se comunicar com esses animais de forma muito amigável, e por isso ele estava vigiando a casa dela.
— Black… Como… — Antes que ela terminasse a pergunta, Jacob se adiantou em explicações:
— Eu não estava perto dos lobos. Fiquei observando de longe. Eles estão nervosos ultimamente por causa das mudanças da lua. Isso é verdade, embora todos pensem ser mito. Então eu fico observando se eles não irão tentar invadir a sua casa. Naquele dia que você me viu, eles foram embora antes de amanhecer, como sempre fazem. Quando eu acordei, eles não estavam lá, então me aproximei para olhar direito e peguei no sono na porta da sua casa. Foi só isso.
— Por isso tem dormido tão mal?
— Sim.
— Mas teve um dia que você me disse que espantou um deles com uma vassoura e não havia vassoura alguma lá na varanda, Black.
— É… Eu disse isso para que você entendesse que eu consegui espantá-lo. Você não sabia ainda que nós nos comunicamos com eles.
— Entendi… Você podia me ensinar, assim eu não precisaria ter medo nem incomodar vocês — falou, e ele riu divertido.
A história toda lhe soou confusa, mas manteve a tese de que procurar entender aquele povo não traria bons resultados. Na verdade, não acreditou naquilo de “comunicação assertiva” com os animais selvagens. A menos que os tais lobos fossem treinados, o que a fazia se recordar das acusações de Erick. Mas… Charlie não seria de acordo com aquilo, certo? E, portanto, a mulher acreditou que era óbvio que ela estivesse apenas procurando uma explicação óbvia onde não havia.
Sem mais perguntas ou explicações por parte de qualquer um dos dois, permaneceram um tempo calados, contemplando a visão da imensidão do mar, até que Jacob se levantou.
— Vem, vamos subir. — Ele lhe estendeu a mão e os dois puderam descer e retornar às cabanas.
— Ei, Black, você poderia ter me avisado antes. Pode dormir na minha casa! É melhor do que ficar escondido por perto da minha varanda.
Jacob não disse nada, apenas se aproximou e a envolveu com seu braço dando um peteleco na testa dela, e logo os dois chegavam no pátio das cabanas vislumbrando Charlie se aproximando com sanduíches para os dois.
— Belo sanduíche, Charlie — disse brincalhona e faminta, e o delegado sorriu voltando a ajudar Sue com os copos na bandeja que a mulher carregava.
Estavam todos reunidos na grande mesa do pátio. Embry não olhava para e ela entrou no jogo, decidindo fingir que não o conhecia por mais que aquilo doesse. Jacob apertou a mão dela, ao notar a forma como percebeu a garota desviar o olhar de Embry e sussurrou para que apenas escutasse: “Vai ficar tudo bem”. Charlie, em certo momento, convidou para ir pescar com ele no dia seguinte.
— , que tal uma pescaria amanhã?
— Isso é algum outro teste, tipo aquele desafio do chá de Billy? — ela perguntou com a sobrancelha arqueada fazendo alguns rirem.
— Não, é só uma pescaria mesmo! — Charlie disse sorrindo discreto, e após uma breve pausa, lhe perguntou, fazendo com que a maioria prestasse atenção também: — Como estão as coisas entre você e o Erick?
— Ele é um idiota — ela respondeu dando de ombros e os meninos da reserva riram discretos —, mas eu sei lidar com os idiotas.
— Essa é a nossa — Seth falou beijando o rosto da mulher ao ir se sentar perto da mãe.
— Então você topa ir conosco?
— O Erick vai estar e por isso me perguntou sobre ele?
— Bem, não acredito que ele venha. Ele se convidou quando me escutou comentar algo na delegacia, mas eu disse que seria aqui na reserva, então…
— O fardinha não vem não — Jacob resmungou piscando para ela.
Charlie concordou, embora de forma discreta para não soar rude como Black.
— Mas é claro que aceito ir, Charlie! Mesmo se o Erick estiver eu não me importo nem um pouco. Estou mesmo lhe devendo uma, não é, Charlie?
— Está me devendo sua presença em um almoço. A propósito, almoçaremos na minha casa após a pescaria.
— Tudo bem. Eu vou adorar, só não poderei demorar. Amanhã à noite eu tenho um jantar em Seattle.
— Algo importante, querida? — Sue perguntou simpática ao notar o modo como parecia séria sobre o tal jantar.
— Sim, Sue, será na casa do Hernando.
— Ah, você irá adorar! — ela disse sorrindo, embora Billy e Jacob tenham trocado olhares insatisfeitos sobre aquilo.
— Durma por aqui, , Charlie e eu saímos cedo para pescar — disse Billy.
— Ah, Billy, eu não trouxe nem roupas.
— Isso não é problema — Emily disse sorrindo para a mulher.
— Também posso te emprestar algumas roupas… — Leah falou tímida e todos a olharam surpresos pela atitude de aproximação, o que a fez fechar a cara.
— Obrigada, Leah, é muita gentileza sua. — , ainda que surpresa, sorriu respondendo sincera e a outra assentiu, com um mínimo sorriso. — Obrigada mesmo.
Quando todos eles acabaram de almoçar, se levantou para recolher os pratos da grande mesa, e Jacob se aproximou de suas costas, brincando ao dizer-lhe baixinho:
— O que você fez com a Leah?
— Pare com isso. Fico feliz por ela estar me dando uma chance. — sorriu pegando alguns pratos e olhando discreta para a Clearwater que recolhia algumas coisas na mesa também.
Jacob ajudou a levar as coisas para a cozinha da casa de Emily, e quando a mulher estava distraída, ele pôs a mão no bolso de trás da calça dela, puxando o chaveiro do carro que estava pendurado para fora. o encarou, assustada e prestes a brigar, mas Jacob continuou andando porta à fora.
— Black! — ela gritou.
— Vou dar uma volta naquela máquina, cuido direitinho, você sabe! Até melhor do que você! — ele respondeu sorrindo discreto e, piscando, lhe deu as costas.
Por fim, passou a tarde na reserva conversando entre as mulheres locais. Quando ela conseguiu convencer Sue a deixar que ela servisse o café recém passado, , ainda com a bandeja em mãos, viu Leah se aproximar pedindo-lhe um momento para que conversassem.
Leah pediu desculpas pelo modo como a tratou e declarou que sentiu medo, porque quando Bella se aproximou deles como ela estava fazendo, foi muito doloroso para todo mundo. Diante daquela descoberta, não perguntou nada, já que também estava disposta a não saber mais nada de Bella. Toda vez que o nome dela era tocado, o clima entre as pessoas mudava e ficava nervosa.
Maus presságios sufocavam quando ela recordava da imagem da sua antiga amiga. Embry continuava a olhar distante para , outras vezes apenas encarava a paisagem. Ninguém tocou em nenhum assunto em relação a ele, e não se atreveu a tentar. Aguardava ainda o momento em que as conversas aconteceriam. Já estava quase escurecendo, e ela percebeu que talvez, os quileutes apenas lhe passaram a perna de novo. Exceto por Jacob vir com aquele papinho de “falar com lobos”, ninguém lhe explicou mais nada. E foi enquanto pensava onde é que ele havia se metido com o carro dela que ainda não havia voltado, que o avistou, dirigindo seu carro para o galpão.
— Por que ele… — sussurrou ela, mas foi tomada de assalto pela pergunta de Charlie.
— , como vão os trabalhos na farmácia?
— Muito bem, Charlie. Fui promovida à gerência.
Entre assuntos e assuntos, piadas e piadas, implicâncias dos garotos uns com os outros, Jacob retornou do galpão e foi chamado por Paul e Seth que lhe diziam qualquer coisa risonhos, e Quil se aproximou com uma garota ao seu lado. Ela era nova.
— , essa é Bruh Ateara. Minha irmã caçula.
— Não fala assim, Quil! — Bruh resmungou pela maneira que o irmão a fazia parecer uma criança.
— Olá! Muito prazer, eu me chamo !
— Prazer. — A garota não parava de olhar para Jacob que conversava com Paul, mal dando atenção para .
Mas ela já estava acostumada com as mulheres pouco educadas e muito arrogantes de Forks. Bruh era uma jovem de 18 anos, tão bonita quanto qualquer quileute. acompanhou o olhar da garota, enquanto todo o restante de pessoas ao redor conversava, e pôde reparar o que a menina tanto admirava. Jacob estava com uma camisa fina de longas mangas, que diferente das outras camisas largas que ele usava, dessa vez evidenciava seu porte atlético. Conversava distraído com Paul e percebeu o quanto Bruh analisava cada milímetro de Jacob. Não era um homem que parecia se interessar por mulheres tão novas, mas Bruh era mesmo muito bonita e se pegou pensando se ela interessaria a Jacob, como ele parecia interessar à garota.
Até que Paul percebeu a presença da garota se aproximando deles, e sorriu para ela, em seguida fizeram um toque de mãos. Só então Jacob notou-a. Black sorriu para ela e repetiu o toque de mãos de Paul, enquanto a menina sustentava um sorriso muito maroto para ele. Será que ele havia percebido o que aquele sorriso dizia?
— Bruh consegue ser mais insuportável do que eu e só tem 18 anos — Leah sussurrou para sentando-se ao seu lado e analisando o tipo da garota. Havia percebido o modo como a novata estudava os trejeitos de Ateara, e ainda mais como olhava desconfiada para ela e Jacob, e começou a contar para : — Ela é fissurada no Jacob, embora ele não dê a menor confiança. Para ele, ela ainda é uma criança.
apenas assentiu, sem saber o que dizer e sem dar muita importância para aquilo.
— Ela não vai gostar nada de você. Se prepare — Leah avisou e revirou os olhos em falsa surpresa ao dizer:
— Sério? Será que eu nunca conseguirei que alguém goste de mim de primeira?
Leah riu justificando que poderia sentir-se pouco empática à caçula dos Ateara também:
— Tudo bem, também não gosto dela. Ela é atrevida. Adoro o Quil, mas às vezes nem ele suporta a irmã. Se ela mexer com você, estou do seu lado.
— Sério, Leah? Ela é só uma garota…
— Uma garota que arruma problemas de gente grande quando quer. Você vai ser uma pedra no sapato dela.
— Por quê? Do que está falando?
Leah apenas sorriu misteriosa, se levantando. a acompanhava com os olhos e durante seu trajeto, Clearwater olhou para , em seguida para Jacob e riu. Então se deu conta, e abriu a boca em um pequeno choque descrente: Leah estava insinuando que aquela menina sentiria ciúmes de Black por sua causa? Aquilo era ridículo!
— E aí, chata? — Leah disse para a garota ao passar esbarrando nela.
— Já vai embora logo, não é? — a garota respondeu no mesmo tom.
— Para minha felicidade, sim. — Leah arqueou uma sobrancelha, e tanto Quil quanto os garotos riam da rixa das duas.
Enquanto olhava as duas birrentas, Jacob a observava diretivo caminhando em sua direção.
— O que foi? — ela perguntou o encarando de volta.
— Você vai ter problemas. — Black sorriu estendendo-lhe as chaves do carro dela.
— E você pode me dizer que motivo me traria problemas?
— Eu. Eu sou o motivo dos problemas que você terá com a Bruh — Jacob respondeu sincero, lançando um olhar atrevido para , que arqueou a sobrancelha para ele prestes a pedir mais explicações, mas apenas abriu a boca sem emitir sons quando ele concluiu: —, afinal, ela faz tudo para chamar a minha atenção.
— Ainda não entendi onde eu entro na história… — levantou-se para levar sua xícara de volta à cozinha, ficando de pé na frente de Jacob que estava escorado ao gradil da varanda de braços cruzados.
— Sou eu quem tenho a missão de vigiar os lobos na sua casa, oras…
sentiu que não era sobre aquilo que ele estava falando, sendo só uma desculpa. Entretanto, ignorou. Jacob Black era muito estranho e indecifrável, era loucura tentar ler suas entrelinhas.
— Você levou meu carro para o galpão por qual razão?
— Vai dormir na reserva, não é? — Black indagou de volta e que ainda não havia confirmado, percebeu que não haveria escapatória, então só assentiu e virou-se entrando na casa de Emily, com sua xícara vazia na mão e algumas curiosidades a mais na cabeça. Bruh notou a aproximação dos dois e observava-os conversando, curiosa e antipática.
Escurecia cedo na reserva, mas já estava bem tarde quando Charlie e Sue se recolheram. Billy já havia ido se deitar há algum tempo também. Quil e Bruh foram embora primeiro, dentre os demais quileutes que haviam ficado ao redor de uma fogueira noturna papeando. e Jacob estavam conversando sobre como ela se sentia em relação a Embry e aquela reação distante dele. Call havia se retirado para dormir, logo após Leah e Paul saírem também, e até aquele momento não mais havia conversado com . Jacob, atento aos dois porque precisava, quis investigar os sentimentos dela.
— Estou revoltada. Ele age como se nem me conhecesse… E semanas atrás enfiou a língua na minha boca!
— O problema foi justamente este… — murmurou Jacob, e não achou ter entendido corretamente.
— O que disse?
— Jacob? — Bruh se aproximou interrompendo a conversa dos dois e se abaixou beijando a bochecha de Black, que a encarou sério e nada satisfeito com aquilo. — Boa noite, até mais!
Bruh sorria, o mesmo sorriso travesso que viu mais cedo. E na hora de se despedir dela, a garota apenas encarou e meneou a cabeça sem sorrir ou dizer nada mais.
— É… Eu devo ser mesmo muito gostosa… — murmurou diante a mais uma rivalidade feminina sem sentindo.
— O que disse? — Jacob repetiu a pergunta dela, segurando um risinho de quem não sabia se havia escutado o que escutou.
— Boa noite, Jake! Até mais, ! — Quil se aproximou.
— Você precisa ter uma conversa com a sua irmã sobre educação e sobre quando um cara não está a fim dela, Quil.
olhou assustada para Black soar tão direto e grosseiro sobre a irmã caçula do amigo, diretamente para ele, mas julgou que pela forma como Quil reagiu e como os ainda presentes entre eles riram, Jacob talvez estivesse certo.
Restaram Emily, Sam, Seth, Jacob e ali fora, e assim que Emy e Sam se levantaram para entrar, e Jacob também o fizeram. Seth farfalhava a fogueira, afastando os tocos para abrandar o fogo, até que Sam jogou um pouco de água cortando o barato do garoto. ficou observando o grupo, e deu-se conta de que não sabia onde iria dormir.
— … — Emily começou a falar depois de bronquear com Sam e Seth pela pequena discussão que iniciavam.
— Ela vai dormir lá em casa, Emy — Black se pronunciou de forma direta.
— Ér… Tem certeza? — Seth perguntou olhando entre Jacob e um pouco incerto e a mulher já ia perguntar se aquilo era devido, quando a voz de Jacob trovejou de novo:
— Ela vai dormir na cabana dos Black. Algum problema, ? — ele disse de uma forma tão convincente que ninguém contestou, nem mesmo ela.
Poderia até contestar e decidir dormir na cabana de Emily, que era um pouco maior, mas ela sabia que Embry dormia lá, e na casa de Sue já estavam Seth e Leah. E talvez, ainda estivesse curiosa demais com a reação de Black, para discutir e contestar algo. Os outros três sorriram e se despediram seguindo seus caminhos, ficando Jacob e , ali fora, silenciosos. Ela não sabia o que dizer.
— Espera… Eu não quero incomodar e eu posso dormir no mustang e…
— Vem, ! — Jacob a cortou, pegando em sua mão e a guiando para a cabana dele.
gelou com aquele gesto. Para quem havia trincado a barreira com um martelinho, na praia, de repente a aura de quem a afastava havia desaparecido. O vidro havia se estilhaçado sem muito esforço, em apenas uma tarde.
Quando os dois entraram na cabana, tentou fazer o mínimo de barulho, já que Billy dormia. Observou ao redor e não avistou nenhuma cama feita na sala. Jacob entrou em seu quarto, e deu a ela passagem para entrar também. A mulher nem parecia a mesma que invadiu seus aposentos de manhã; estava tão sem graça de entrar ali, recordando-se da forma como o abordou mais cedo.
— Deixei suas coisas em cima da minha cama. Fui até sua casa buscar roupas para você. — Jacob colocou as mãos no bolso um pouco desconcertado após explicar e apontar para a pequena mochila dela.
— Obrigada… Então foi esse o seu passeio? — ela disse sorrindo, ao abrir a bolsa e vasculhar as próprias coisas.
— Pois é…
Jacob sorriu e tirou sua camiseta, de repente, deixando-a na cadeira. Estava sentindo-se mais quente do que o normal com a presença de em seu quarto, pois em sua mente, a lembrança de imobilizar a mulher sob seu corpo aquela manhã também lhe retornou. Ela ainda estava de costas observando o que ele havia pegado dentro da mochila, e ele explicou:
— O banheiro é no fim do corredor. Fique à vontade… Eu estarei na varanda… — disse saindo, encostou a porta de seu quarto.
Um sorriso começou a se formar no rosto de . Ela não entendia por que, mas estava muito feliz, como se finalmente ela fosse parte de tudo aquilo. Percebeu que a única coisa que a impedia de se sentir totalmente bem-vinda, era a barreira que Jacob impunha entre eles. Se até Leah estava a aceitando, Jacob também aceitaria cada vez mais…
Os dois tornaram-se amigos, e a amizade ampliaria aos poucos. Apesar dos avanços com os quileutes problemáticos, ainda havia a mudança repentina de Embry e o mistério do seu desaparecimento. Ao pensar em Embry Call, deixou o sorriso esmorecer, desanimando um pouco.
Uma chuva mansinha começou a cair do lado de fora da cabana. Remexeu suas mudas de roupa, atentando-se novamente ao que fazia, e puxou uma camisola. Black havia mexido nas coisas dela e trazido logo uma camisola? Claro que foi proposital, já que as roupas comuns para o dia seguinte, além de roupas para pescaria, haviam sido devidamente preparadas por ele. Que intenções Black guardava para aquela pequena estadia dela?
— Safado! Querendo me constranger, é? — murmurou para si, encarando a sua camisola, até comportada, nas mãos. Logo depois pensou que… Roupas íntimas! Jacob Black havia mexido nas roupas íntimas dela! puxou a calcinha, que estava dobrada entre a camisola e murmurou sentindo o rosto esquentar: — Minha nossa, que vergonha!
Eis que compreendeu a razão para ele a deixar ali, a sós dizendo que estaria na varanda; ele sabia que poderia se constranger ou ficar furiosa. Mas enquanto se dirigiu ao seu banho, ela pensava: Jacob pensou em tudo… Preparou uma mala com toalha, roupas para pescaria, roupas para o almoço após a pescaria, tênis, chinelo… Até absorvente ele pegara. Ela não precisava, mas ele não sabia, não é? sorriu ao perceber que até que Jacob era bem preparado.
Capítulo Nove - Uma nova sensação
Depois que tomou banho e retornou ao quarto, Jacob bateu à porta do mesmo.
— Entre… — a mulher murmurou.
— Com licença, … Precisa de alguma coisa?
— Só irei precisar de roupas de cama. Você pensou em tudo, menos nisso. Pensou até demais, eu diria. — Ela sorriu erguendo o pacote de absorventes.
Jacob que evitava a encarar vestida em sua camisola, a qual o mesmo pegara muito rápido sem dar importância ao estilo, ao olhar para a direção das mãos dela erguendo o pacote, estava muito constrangido.
— Dê um desconto… Eu fiz um grande esforço pensando no que uma mulher precisaria para dormir em uma casa só de homens. — Sorriu.
— Está de parabéns! Superou as malas que eu faria, até trouxe meu creme corporal — mencionou ainda sorridente pelo constrangimento aparente de Jacob.
— Hum… É… Escute, eu vou tomar um banho, você quer comer alguma coisa? Pode ficar à vontade, ok?
— Tudo bem, obrigada.
Assim que ela agradeceu, Jacob fechou a porta saindo, e sorriu de um modo confidente, como se percebesse estar se divertindo pelas maneiras tímidas de Black. Encarou-se em suas roupas de dormir, observando as pernas expostas. Não era uma camisola do tipo provocante, mas certeza que ela não deixaria de trazer um pijama de moletom, afinal, como Jacob dissera, era uma casa de homens, e se ela dormisse no sofá?
estava sorrindo e tentava imaginar a cena de Black em sua casa, no meio de seu quarto tentando preparar a mochila. Apesar de corada pela invasão à sua intimidade, ela sorria com as expressões que sua mente criava, ao pensar no momento em que ele fazia uma mala de mulher. Enquanto sua imaginação a induzia a criar aquele cenário, ela pegou o seu creme e começou a passá-lo nas pernas. Jacob deu dois toques na porta e a abriu, entrando de repente e fugindo o olhar de , novamente. Já ela sorria ladina por achar um tanto fofo o modo como a pele naturalmente avermelhada dele, corou ainda mais.
— Esqueci de pegar a minha roupa, me desculpe — ele disse.
Black movimentava-se pelo quarto, sem olhar para , e diferente do que uma postura de timidez soava, ele não se encolhia. Pelo contrário, o Jacob constrangido estufou o corpo e fechou o semblante, tal como fazia quando estava bravo ou sério com algo. escondeu um risinho o observando, e percebendo o motivo pelo qual era difícil ler ou constatar o que Black sentia, afinal, ele não tinha expressões e trejeitos diferentes para cada sentimento, o que o tornava às vezes um mistério, um enigma difícil de decifrar.
Ela ficou analisando o quarto do rapaz até que ele voltasse, sem saber exatamente em que lugar da casa ela dormiria. A chuva que há minutos começara e chegou branda, de repente demonstrava a presença dos relâmpagos, trovões e grossos pingos de água. O frio também aumentava, fazendo com que ventos gelados adentrassem a janela da cabana. O barulho das gotas chuvosas caindo nos telhados e na floresta ecoava ao ponto de nem mesmo escutar a própria respiração. Vasculhando a pequena mochila preparada por Black, constatou-se que não havia roupas de frio na mala, e a mulher nem as esperaria, visto que ninguém ali era tão friorenta quanto ela. Sendo assim, Black nunca pensaria que ela poderia sentir, frio.
Era até engraçado! Ele pensou em coisas tão pequenas e cuidadosas, e no mais provável, ele não pensou… sentir frio… Se fosse Embry, pensaria. Aquele pensamento surgiu-lhe de assalto. Talvez, se Black a conhecesse como Embry, ele também percebesse o quanto ela era sensível às baixas temperaturas, mas varrendo em sua mente as informações trocadas entre ela e Embry, e entre ela e Jacob… se empertigou com uma dúvida: o que exatamente Embry sabia sobre ela?
A mulher chegou à conclusão de que Embry Call nada sabia a seu respeito. Se não fosse aquela conversa sobre o corpo dele ser quente, ele não perceberia a temperatura friorenta dela naquela tarde da reserva, e então, talvez ele nem lhe trouxesse aquele casaco próprio. Não foi exatamente uma projeção de cuidado dele, foi uma constatação de que “ está com frio”. Analisando melhor, Jacob sabia muito mais sobre ela, somente pelo dia em que havia contado a sua história para a tribo. Um dos dias em que Embry não estava presente. franziu as sobrancelhas ao perceber aquilo tudo: ela e Embry nem tiveram tempo de sentir ou serem “tanto” um para o outro. Na teoria, ela vinha passando muito mais tempo com Jacob, então por que o pouco caso de Call a feria daquele jeito?
Quando Black entrou no quarto, não o escutou por causa da chuva. Ela estava pensativa, encolhida em seus próprios braços, e mexia nas pequenas miniaturas de madeira que o rapaz esculpiu. Então sentiu uma borrifada no seu pescoço e se virou, assustada.
— Eu me esqueci de trazer o seu perfume…
— E quem disse que eu gosto do seu perfume?
— Ninguém disse, mas agora está borrifado. — Jacob se aproximou dela, a cheirando levemente. — E sinceramente? Está ótima com meu cheiro. — Black sorriu, de um modo quase sedutor, mostrando apenas uma parte de seus caninos e se afastou caminhando de volta ao seu guarda-roupa, secando os cabelos com a toalha.
estava inerte, de frente para as costas largas e perfeitas do rapaz, um pouco chocada com o que lhe pareceu ser um flerte. Sua mente começava a beirar a insanidade e a mulher travava uma batalha interna consigo. Mordeu os lábios e, de olhos fechados, mentalizava: “Não! Ele não! Não pense em nada, !”. Quando abriu os olhos, deparou-se com Black a encarando, curioso.
— Tudo bem? — perguntou a ela se aproximando em passos lentos.
— Sim, é só… — tremia por frio e nervosismo, e nem pôde justificar-se de que estava com frio, pois Black a tocou em seus braços e a mulher, tensa com a aproximação e textura da mão dele em sua pele, prendeu a respiração.
— Está gelada.
— Convenhamos… Está muito frio.
— Vá se deitar. Quer que eu te prepare um chá?
— Não, obrigada. Onde eu durmo?
— Na minha cama, é claro — ele pronunciou certeiro, e a morena ficou parada, com olhar fixo aos dele, que correspondia. Mas Jacob não tinha uma expressão alarmada como a dela, e vasculhando o rosto dela com mais cuidado, ele sorriu ao constatar o que a preocupava:
— Eu vou dormir no chão, . — Ele começou a rir.
— Tem certeza?
— Quer que eu durma com você? — Ainda zombando com a cara dela, ele perguntou de um jeito atrevido.
— Não, mas eu posso dormir no chão! Até porque é a sua casa… ou no sofá!
— Cala a boca. — Ele fechou os olhos e abaixou a cabeça.
Jacob jogou sua toalha em cima de uma cadeira, foi até o armário e pegou um cobertor forrando um colchonete no chão, depois jogou uma almofada por cima. Em seguida, trocou as fronhas de sua cama e preparou-a para ela se deitar.
— Muito cavalheiro da sua parte.
— Vou pegar um cobertor para você.
— Não precisa! Eu me cubro só com o lençol mesmo.
— , você está gelada!
— Eu estou bem. Obrigada.
— Então tá… Eu não gosto de dormir com muita roupa, você se importa?
— Percebi pelas roupas que você me trouxe — zombou ela apontando a própria camisola. — Não me importo não, fique à vontade.
Black assentiu afirmativo e tirou a calça de moletom, ficando apenas de boxer preta, e por mais que houvesse dito que não se incomodava, ela também não esperava por aquilo. Ele continuou falando com ela, que por sinal desviava qualquer olhar para ele. Sem nem mesmo encará-lo, se lembrava da cena em que eles se encontravam de manhã naquele quarto, então imagine se ela ficasse admirando aquele corpo semidesnudo? E até onde aquela ação de Black não foi intencional?
— O que há de errado com a camisola que eu te trouxe? É a mesma que você vestia no dia que eu dormi na sua casa.
Então mais uma vez encarou a peça em seu corpo e só então percebeu o fato. Realmente era ela. Ele gravou a camisola que ela usou naquele dia!
— E olha que havia algumas roupinhas bem provocantes por lá. Fui até educado — disse a olhando e sorrindo sacana.
— Black! — percebeu o rosto corando, desconcertada, decidiu se deitar e se enrolar naquele lençol enquanto Jacob, ainda rindo da cara dela, se aproximou devagar. O que ele queria?
— Eu sou um bom rapaz… Boa noite, Loba! — disse em seu ouvido e beijou seu rosto.
Um ato que a pegou desprevenida e a fez virar o rosto para ele, sorrindo encantada.
— Boa noite, Black.
o observou se deitando no chão tão desconfortável. Sem nenhum cobertor. Nem precisaria, afinal, ele tinha a pele mais quente de todos os quileutes. Ela havia notado isso, ou talvez, ela que estivesse quente. Demorou a pegar no sono e ficou olhando as costas largas do rapaz, até que, não se lembrando de mais nada, adormeceu.
Quando acordou, Jacob não estava mais dormindo, então se espreguiçou e foi ao banheiro realizar sua higiene matinal. Retornou ao quarto e logo que entrou, Jacob surgiu com uma bandeja em mãos.
— Bom dia, Loba.
— Bom dia — respondeu sorridente com a cena.
— Senta aí.
Os dois se sentaram na cama dele, e Black colocou a bandeja entre ambos. começou a analisar a bandeja de madeira delicada, também esculpida à mão. Lindos os detalhes talhados.
— Você gosta mesmo disso, não é? — ela perguntou tocando os detalhes do artesanato.
— Sim. E consigo ganhar dinheiro com isso também.
— É verdade…! Eu nunca lhe perguntei, com o que você trabalha, Black?
— Além de consertos mecânicos, como pode ver, eu faço marcenaria. Os Carters vendem meus artesanatos no mercado e eu também os disponho em alguns outros pontos da cidade. Entretanto, os consertos mecânicos rendem mais, porque faço para as cidades dos arredores também.
— E você não quer aceitar o meu dinheiro? Está vendo!
— Coma. — Ele a serviu rindo pela insistência dela naquele assunto do conserto do carro. Black lhe serviu uma torrada com geleia, uma xícara de café e comeu junto com ela, já encerrando o assunto pela incontável vez. — Você me deve dois favores por causa dos serviços com o carro.
— Tudo bem… Mas, eu quero pagar alguma coisa. Afinal, você também ajudou com a reforma da minha casa.
— Vou te contar uma novidade: estou terminando de construir a minha oficina na estrada. Então, como pagamento, você me ajuda com a pintura e decoração.
— Sério, Jacob? Nossa, isso é incrível.
— Demorou um pouco, mas consegui com meu dinheiro suado e economizado.
— Tudo bem, eu aceito.
— Ótimo!
— Alguém mais acordou?
— Não. Você madrugou.
— E você não? — Ela o cutucou e os dois se encararam e riram.
— Como está o café?
— Está ótimo.
Jacob fez uma careta como se não acreditasse nela.
— Está brincando? Olha isso, Black! — apontou para a bandeja cheia de comidas. — Você caprichou. Está lindo e… Fofo. — Ela tentou medir bem as palavras antes de dizer qualquer outra coisa.
— Fofo? — Jacob a encarou apelativo.
— Bem, eu não encontrei outra palavra apropriada. Isso tudo é bem romântico, mas não é essa a atmosfera aqui, então… Eu só consegui pensar que…
— Eu entendi. — Ele piscou a interrompendo. — É de fato um ato bem romântico, mas não foi a minha intenção te seduzir. Fique tranquila. — devolveu a expressão de quem não acreditava, dessa vez, no que ele dizia, e os dois riram mais uma vez.
— … — Um breve silêncio enquanto comiam, e Jacob abaixou a cabeça com um jeito mais sério ao chamá-la e perguntar: — Como você está em relação ao Embry?
— Triste por não entender o que houve com ele. Ele se transformou em alguém que não reconheço… Fico lembrando o sorriso dele, Jacob… O brilho do olhar… Ele perdeu tudo isso. No que ele se transformou?
Enquanto dizia, algumas lágrimas fracas parecerem marejar os olhos dela e as conteve. Não deveria sentir-se tão sensível daquele modo por bobeira. Jacob afastou a bandeja entre eles, se aproximou dela e, meio sem jeito, a abraçou.
— Desculpe por isso, … — Ele apertou forte aquele abraço e ela estava quase se fundindo com ele. Para sua surpresa era tão bom estar ali com aquele Jacob. Daquele modo.
— Você não tem que desculpar-se por nada, Black.
— Eu sei como é triste e doloroso ver alguém que você tanto gosta se transformando em algo diferente… Em algo que você não gosta.
As palavras dele eram profundas e dolorosas. Jacob sabia exatamente do que estava falando e não tinha a certeza de que falavam da mesma coisa.
— Você o ama? — A pergunta veio a ela de repente, de surpresa, e Black a proferiu ainda abraçado ao corpo dela.
Diante àquela pergunta, ficou sem entender algumas coisas. Por que aquela pergunta? Por que logo Jacob estava perguntando aquilo? Ela sabia que não amava Embry, mas era tão difícil responder isso a Black! não entendia por que era difícil fazê-lo e, principalmente, que sensação estranha era aquela em ouvi-lo perguntar isso para ela, tão diretamente? Que receio era aquele de responder? afastou-se do abraço de Black e ficou olhando em seus olhos de boca aberta.
— Não precisa responder… Desculpe.
— Não… Tudo bem. Eu quero que você saiba.
— E então… — Os dois continuaram se olhando, curiosos e silenciosos.
— Eu não amo Embry como homem. Tenho um profundo carinho por ele como um amigo, companheiro… Nós não tivemos nada concreto a ponto de nos apaixonarmos, eu acho. Mas eu estava curtindo conhecê-lo e ficar com ele, mas Embry está tão distante… Ele se coloca tão além do meu alcance agora que eu não vejo mais nós dois como antes…
Depois de escutá-la, Black a abraçou ainda mais forte e beijou a sua cabeça.
Após aquele início de manhã tão agradável, Billy bateu na porta do quarto e Jacob e ela se assustaram olhando para a porta, mas Jacob não a soltou. Continuou abraçado a ela, preocupando-se em jogar um lençol nas costas dela. observou os gestos dele, ainda aproveitando o abraço, sem entender sua reação e não imaginando que Billy abriria a porta, porque se imaginasse, teria se afastado.
— Entra, pai!
No mesmo momento ela corou, assustada pelo que Jacob pretendia.
— Bom dia… Ah. Desculpe.
— Tudo bem, pai. — Black revirou os olhos.
ainda estava surpresa pela situação, mas continuou abraçada com Black. Acenou para Billy, um pouco tímida. Afinal, o que ele pensaria?
— Vou preparar o café, se arrumem.
— Pai… — Jacob sorriu observando o pai voltar. — Eu já fiz tudo.
— Ah, então desculpe… Não vou mais atrapalhar. Vocês fiquem à vontade.
Foi inevitável que assim que Billy saiu, eles caíssem no riso. Se soltaram e novamente Billy bateu à porta. De súbito, Black a abraçou de novo, a deixando ainda mais desentendida.
— Ér… … Ainda está de pé a pescaria? — Billy perguntou e Jacob fez uma careta zangada para ele. — Tá, desculpe… Não vou mais incomodar! Tchau. — O homem fechou a porta e Jacob permaneceu rindo, então soltou o corpo de .
— Por que fez isso?
— Meu pai sempre me deixa sem graça, é bom vê-lo sem graça também. Desculpe, mas tive que aproveitar, eu não tenho muitas chances assim de pregar peças do tipo.
Não tem muitas chances assim? Ele não se via no espelho ou o quê? concluiu que Jacob não era de muitos namoros ou de namoros sérios em casa.
— Entendo, mas você vai desfazer o mal-entendido… Imagina o que ele está pensando agora — dizendo isso, arregalou os olhos e tampou o rosto se jogando de costas na cama.
Black se levantou, a puxou fazendo ela ficar de pé em frente a ele.
— Ele deve estar pensando que nós nos amamos. Só isso. — E puxou a mulher para mais perto e a abraçando, beijou seu ombro. — Vamos! Você tem um longo dia, lobinha.
Após um bom banho, roupas apropriadas e todos os aparatos de pescaria em mãos, Charlie, Billy e seguiram à praia. Pescaram em uma encosta um pouco afastada da reserva. Até que se saiu muito bem na atividade, o que lhe rendeu o título de “anzol de ouro” entre os dois mais velhos. A mulher riu divertida com tudo aquilo e um pouco antes de irem embora, decidiu parar a sua pesca.
— Certo, eu vou dar uma parada e deixar um pouco de peixe para vocês, senão vocês irão passar um vexame quando voltarmos.
— Muito humilde da sua parte, querida — disse Charlie brincalhão.
Ela foi andando pela encosta e, no meio de algumas pedras onde as ondas arrebentavam, avistou um tipo de alga diferente. Algas laranjadas presas às pedras. O lugar não era de muito fácil acesso, mas devagar conseguia-se chegar lá. Era perigoso, pois as ondas arrebentavam fortes ali, a maré estava baixa e , não conhecendo o tempo de intervalos de altos e baixos dela, decidiu ser rápida para não sofrer nenhum mal.
Conseguiu, com um pouco de dificuldade, arrancar algumas amostras da alga pela raiz. Saiu rapidamente dali e ao voltar para os pescadores, depositou a planta em um recipiente com água do mar. A raiz da planta se mexia como se estivesse viva, então, fazendo um teste, jogou uma pedra dentro do recipiente, e quando as raízes a encontraram agarraram-se a ela. Não era uma planta marinha, era uma espécie de Rhodophyta. Uma planta animal. voltou ao local onde as encontrou, e percebeu que elas se nutriam do limo que ficavam nas pedras, então raspou um pouco daquele limo e jogou no recipiente.
Ao fim da manhã voltaram à reserva. Charlie decidiu preparar o almoço na casa de Sue, e enquanto limpava os peixes e ajudava Sue com o almoço, o delegado admirava as duas. Sue revelou para , então, que Charlie via nela uma figura filial. Gostaria de se aproximar da garota como um pai, primeiro porque gostava muito de , e segundo, porque ela ainda representava algo de sua antiga filha. deduziu que para ele sentir tanta falta desse tipo de relacionamento, Bella de fato o abandonara ou algo muito grave os afastara. Também ficou estranhando a forma como Sue falara: “antiga filha”…
O almoço foi ótimo, tranquilo e todos ficaram sabendo do posto de “anzol de ouro” cujo Billy e Charlie fizeram questão de espalhar. Era sempre tão magnífico para estar com os quileutes.
Após o almoço ela sentou-se atrás do grande carvalho e ficou pensando em como a sua vida fora tediosa nas semanas em que se afastou deles. Decidiu-se em nunca mais fazer algo assim, por mais difícil que fosse, até porque Jacob agora se tornara um amigo especial, e ela não se afastaria dele. Aquela era a chance de conhecer o mesmo Jacob Black que foi relatado nos e-mails de sua amiga há alguns anos. Aquele ser tão adorável… Estranhamente, contudo, não sentia a possibilidade de conhecer aquela mesma pessoa, porém estava gostando daquele ser atual, do seu tipo de Black e, ainda que o tipo descrito por Bella soasse mais encantador, o seu Jacob era, da sua maneira, muito mais incrível.
Então aquele ser magnífico e misterioso de pele avermelhada, olhos profundos, sorriso tímido, corpo tentador, toques pecaminosos, costas largas como um papel virgem em que desenharia as suas melhores rasuras, se aproximou sentando ao seu lado.
— Pensando em quê?
— Em como eu consegui ficar todo esse tempo longe da energia desse lugar… Entre outras coisas que você não precisa saber…
— Por quê? — Ele olhou curioso e sorridente.
— Porque são coisas íntimas. — No mesmo momento em que o respondeu, Leah desceu para a praia de La Push.
Ela passou pelos dois sorrindo e abaixou a cabeça, depois lançou um olhar cúmplice para que acenou de volta para ela com um sorriso.
— Por que ela te olhou desse jeito?
— Não sei… Ela está sendo gentil. — Black encarou a morena em dúvida, já que ele sabia claramente o que Leah havia pensado.
— Olha o que eu tenho para você — ele disse lhe estendendo uma caixinha.
Ao abri-la, era uma escultura em miniatura de um rádio feita em madeira. Tinha até uma anteninha de metal.
— Que coisa mais legal e fofa…
— Argh… Fofa… — Black riu. Sorrindo orgulhoso, revelou: — E funciona, tá?
— Jura? Mas como? É de madeira.
— Só por fora, eu instalei um pequeno esquema de som dentro, os botões funcionam e você escolhe as estações aqui. — Ele explicou e girou um dos botões. — Mas não pega muito bem, porque a frequência é baixa.
escolheu uma estação aleatória, e no momento tocava uma música brasileira, a qual ela conhecia, bem antiga e uma das suas favoritas. A mulher começou a cantar, mas Jacob não entendia nada, então ela foi recitando a tradução para ele:
“Talvez não seja nessa vida ainda, mas você ainda vai ser a minha vida. Então a gente vai fugir para o mar, eu vou pedir pra namorar, você vai me dizer que vai pensar, mas no fim vai deixar. Talvez não seja nessa vida ainda, mas você ainda vai ser a minha vida. Sem ter mais mentiras pra viver, sem amor antigo pra esquecer, sem os teus amigos pra esconder. Pode crer que tudo vai dar certo…”
— É linda — Jacob disse quando ela terminou de recitar.
— Sim, as canções brasileiras são lindas.
Jacob ficou a olhando de uma forma tão diferente… De repente, ele colocou a mão no rosto de e continuou olhando em seus olhos. A garota teve a leve impressão de que estavam muito perto, então, Bruh Ateara apareceu chamando por ele. Sue observava de longe a cena dos dois, e ao notar que ela os percebia, lhe sorriu sem graça. Sem dúvida, havia acontecido alguma coisa ali, um clima constrangedor, diria.
— Fazendo o que escondido aí, Jacob? — disse Bruh depois que se aproximou de onde os dois estavam sentados, escorados no tronco do carvalho.
— Tentando passar despercebido por você. Não vai cumprimentar a ?
Bruh revirou os olhos e simplesmente se afastou, ao notar como Jacob a encarava impaciente. não queria ter que lidar com as criancices da Ateara jovem e ainda teria que se preparar para o jantar à noite. Se levantou, agradecendo a Jacob pelo presente e caminhou até Sue que balançava na rede em sua varanda ainda, a olhando desde o momento que flagrouClearwater os espiando.
— Sue…
— . — Ela sorriu para a mais jovem, de forma doce e amigável e aquilo deixava , ainda mais constrangida. — Venha aqui, quero conversar com você.
— Claro.
Curiosa e receosa de que conversa Sue Clearwater gostaria de ter com ela naquele momento, se aproximou ainda mais da mulher, que havia se erguido da rede e sentado nela.
— Billy me contou sobre você e Jake. E eu estou muito feliz, eu sabia que…
— Sue! — a interrompeu. — Jacob fez uma pegadinha com o pai dele…
— Como?
— Estávamos apenas tomando café e conversando sobre minha situação com Embry. Black tem sido muito amigável. Eu me descontrolei um pouco e ele me abraçou, foi só. Mas quando o Billy bateu na porta ele quis deixar o pai constrangido e decidiu não me soltar. Uma brincadeira dos dois, algo do tipo, eu não entendi muito bem.
— Ah… Desculpe, eu estava vendo vocês e pensei que finalmente…
— Não… — Dando conta do que ouvira, perguntou curiosa: — Espera… Finalmente o que, Sue?
— Nada. Bobagem… O que você queria me dizer?
— Eu queria me despedir. Ainda tenho o jantar de hoje e… Está na hora de ir.
— Não dê importância para a Bruh. Ela ainda é só uma garota com um amor platônico de adolescência.
— Leah já me falou.
— Fico tão feliz por Leah ter se dado bem com você… Olha, , sei que tudo ainda está muito confuso. Sei que não é esse o Embry que você queria ver, ele tem passado por momentos difíceis e precisará da sua ajuda, mas não agora. Tudo vai se resolver. Nós estamos tentando ser… Sutis.
— Sue, falando assim você só me preocupa mais…
— Não se preocupe, concentre-se em seu jantar.
— Obrigada. — As duas se abraçaram carinhosas.
Sue lhe recordava muito o modo como imaginava que fosse a sua mãe… Toda vez que sua tia Pearl falava sobre ela, era do jeito de Sue que a imaginava. Doce, sincera, amiga, enérgica, forte e muito amorosa.
— Embry está lá dentro. Vá se despedir. Garanto que ele está sofrendo tanto quanto você.
— Está certo, eu vou tentar.
Seguiu até o quarto onde Embry estava e o encontrou sentado na janela observando a mata. Soava tão triste… não pôde deixar de se sentir angustiada quando o viu. O que fizeram com ele? Assim que a viu, Call caminhou até ela. Parou em sua frente, acariciou seu rosto e lhe deu um abraço forte.
— Desculpe! Eu vou te pedir desculpas por toda a eternidade…
— Pare com isso, Embry. Eu só quero entender o porquê… Assim eu vou saber como te ajudar, seja lá o que for.
— Não tem como ajudar, … Mas eu quero que você se recorde sempre de tudo o que eu te disse. Quero que se recorde do Embry que você conheceu. E quero ver você feliz.
— Por que está falando assim? Eu não estou gostando do seu tom de voz… Embry…
— Eu não entendia nada antes, mas agora entendo tudo… , você não veio aqui à toa… Você é muito importante para todos nós. Você é a chave de tudo… E eu te amo tanto… — ele disse e a abraçou novamente.
— Embry…
— Escuta… Eu quero, preciso e vou te proteger, mas por enquanto eu não posso ficar por perto. , prometa para mim que você vai deixar a pessoa certa te amar?
— Por que está dizendo essas coisas confusas, Embry?
— Porque você não acredita no amor, .
— Não acredito no amor? O que você está dizendo?
— Se eu dissesse que te amo aqui e agora, assim como o Erick, o que você diria?
— Só acho que amor é uma palavra muito forte para pessoas que não se conhecem direito.
— É exatamente disso que estou falando… O amor, na maioria das vezes, se manifesta imediatamente, , pelo menos é assim conosco, os quileutes… E você tem que deixá-lo se aproximar de você… Entende?
— E como vou saber quem é a pessoa certa? O amor também fere, Embry.
— Você saberá…
— Você está querendo dizer que está realmente apaixonado por mim?
— Não te amo dessa forma, . Mas a amo como alguém muito importante da qual eu deva cuidar.
— Eu também, Embry. Então me deixe cuidar de você!
— No momento certo você poderá… Tenha calma e confie na intuição do seu coração. Você é forte, garota, e muito especial.
ainda não compreendia nada daquela conversa com Embry, mas também não tinha mais a necessidade pela urgência das respostas. Ele falara tão sinceramente, ainda que enigmático… E mesmo sem o entender, confiava nele e sabia que deveria descobrir tudo na hora certa, seja lá o que fosse esse “tudo”. As palavras dele sobre ela não acreditar no amor caíram como um tapa de realidade. Será que ela se precipitou com os sentimentos de Erick e ele realmente a amasse? Será que ela não acreditava mais no amor? Ou fugia dele?
O que aconteceu com Embry, afinal? Ele nunca mais seria o mesmo! tivera certeza quando ele pediu para que ela nunca se esquecesse dele, como o conheceu. Depois de dar a ele um abraço dos mais fortes que já dera em alguém, ela saiu dali. As lágrimas vinham quase compulsivas e rapidamente entrou na casa de Billy, passando despercebida por todos.
No quarto de Jacob, deixou todo aquele líquido ocular derramar-se por sua face quente e vermelha. De repente o medo encobriu seu corpo, sua alma, e ela se recordou dos noticiários que lia sobre aquela cidade. Pegou as suas coisas, mas não conseguiu sair dali. E nem deveria, não com aquela cara. Black abriu a porta agressivamente e ela se assustou largando a mala no chão. Ele a abraçou de forma desesperada e rápida.
— O que aconteceu? Embry me disse para vir vê-la!
— Nada. Eu só fiquei emocionada. Eu tive uma conversa muito bonita com o Embry e… Jacob, é tão complicado me conter apenas com as perguntas! Estou com medo do que irá acontecer, do que está acontecendo que eu desconheço… Estou me sentindo acuada… Sozinha…
— Você não está sozinha.
— Eu sei… Eu sei. Provavelmente é só uma sensação tola.
Enquanto os dois estavam de novo abraçados, pensou no que Sue quis dizer com “finalmente” ao falar de Jacob e ela. Se sentiu um brinquedo nos braços dele por causa da diferença de tamanho entre seus corpos, e começava a sentir um passarinhar no seu estômago toda vez que ele a abraçava daquele jeito. pressentiu que aquilo não era boa coisa.
— Tenho que ir… Ainda vou a Seattle.
— Eu te levo.
— Não precisa, Black, como você vai voltar?
— Eu faço questão.
— Não. Fique aqui com seus amigos.
— Agora que Bruh vai começar a frequentar mais nosso lado da reserva, eu quero mesmo é me distanciar.
— Por que ela vem para cá?
— Coisas do Quil… — ele disse um pouco nervoso, pigarreando.
— Ela te admira. Só isso.
— Não, ela imagina coisas. É diferente. — Os dois ficaram em silêncio. — Como você vai para Seattle?
— Steve vai me buscar, nós iremos com meu carro.
— Steve? — Ele desconhecia o nome.
— O funcionário que pega o turno da tarde na farmácia. — riu com a falta de atenção de Black.
— Ah! É… — Ele sorriu sem graça se lembrando do rapaz, e sem o menor filtro ou raciocínio lógico, perguntou: — Vocês estão juntos?
— Black, que tipo de garota pensa que sou? Eu estava envolvida com Embry!
— Estava? — Ele olhou surpreso.
— É… Estava. — O rapaz ficou cabisbaixo. — Está tudo bem, Black, tudo esclarecido.
— Então tá… Eu te acompanho até o galpão.
Eles saíram da cabana e assim que se despediu de todos, inclusive de Bruh, a menina sem educação, Black e ela foram para o galpão. A caçula Ateara não gostou nada de ver Jacob em companhia tão próxima de . abraçou Jacob fortemente uma última vez e agradeceu por tudo o que ele fez e ao beijar o rosto dele, sentiu aquele passarinhar estranho de novo que invadia o seu estômago sempre que eles se aproximavam. Black repentinamente segurou-lhe a nuca e beijou o rosto de demoradamente, em seguida cheirou os cabelos dela levemente.
— O que está fazendo?
— As melhores lembranças guardam os cheiros.
Sorriu envergonhada e entrou no carro, partindo. No caminho, olhava para seu chaveiro de cãezinhos e lembrava da reserva, de Embry e de Jacob. Não conseguia compreender de início, mas recordou da história dos lobos e de como eles eram importantes para os quileutes. Então, em um flashback, lhe veio a fala de Jacob: “Não… Eu prefiro… Loba” quando ele escolheu um apelido só dele para a chamar. Só aí ela percebeu a indireta… Jacob dizia que era importante para ele. Dizia? Ou simplesmente assimilou o nome com a personalidade dela? A mulher não sabia explicar por qual razão, mas ela preferia acreditar na primeira opção.
Capítulo Dez - O Jantar dos Vincent
já estava em sua casa, pronta e aguardando que Steve chegasse no horário combinado, e o rapazote fora pontual. Ela lhe entregou as chaves do carro e assim seguiram para o jantar.
— Você já conhece a residência de algum deles, Steve? — perguntou assim que perceberam a casa nem um pouco modesta, que ao fim de um grande gramado podia ser vista.
— Não! Nos três anos em que trabalho para eles, apesar de sempre terem sido excelentes pessoas e patrões, eu nunca fui convidado pra evento algum. É por isso que eu fiquei daquele jeito desconfiado!
— Hm… — levou a mão ao queixo, pensativa. — Por que logo agora os Vincent chamaram-nos, então?
— Talvez eu só esteja aqui por que pegaria mal convidar uma funcionária e outro não? — Steve falou dando de ombros, um tanto indiferente se aquilo era ou não uma declarada preferência.
— Do jeito que você fala parece até que eu sou a queridinha!
— Eu acho que é! — O amigo riu e estacionou na entrada já se virando para com as mãos em defesa, dizendo: — Ei, mas nenhum problema com isso, ok? Eu não ligo nem um pouco! Você é uma gerente bam-bam-bam e eu, felizmente, apenas o atendente!
Os dois desceram sob comentários contraditórios a respeito da teoria exposta por Steve de que era o interesse dos irmãos e, consequentemente, o motivo de estarem ali, cessaram o assunto logo que avistaram Hernando abrindo a porta imensa da entrada com um vasto sorriso para os dois. De repente, sentiu-se absolutamente estranha e arredia.
Assim que chegaram à casa de Hernando, eles foram muito bem recebidos pelo chefe e anfitrião e por seu irmão, Julian. Também puderam conhecer as dignas esposas de cada um. e Steve até imaginaram que o jantar reuniria muitas pessoas, mas apenas estavam presentes as famílias de Julian, Hernando e os dois funcionários. Ambos os irmãos tinham simpáticos e lindíssimos filhos, pareciam esculpidos em carrara reluzente, de fato, duas belas famílias. E elegantes! Os dois convidados estranharam a elegância do que parecia ser um jantar tão particular, mas não poderiam de qualquer modo esperar menos que aquilo, tratando-se de Hernando e Julian.
As conversas da noite permearam assuntos como negócios a coisas corriqueiras das pacatas vidas de uns, e das agitadas vidas de outros. Todos jantaram e, mesmo os filhos deles muito bem-educados, também interagiram com os adultos. Eles conheceram com boa vontade da esposa e de Hernardo àquela imponente casa, e Julian logo se apressou a marcar um jantar para que Steve e também conhecessem sua residência. No terraço da casa que era composto por um jardim sustentável lindíssimo, enquanto a família e os dois funcionários conheciam o ambiente e conversavam, puderam também escutar uivos de lobos. Uivos muito altos e desesperados.
— Há lobos por aqui também?
— Não, nunca. Até hoje — disse Ashley, esposa de Hernando.
As crianças brincavam dentro da casa e não pôde deixar de sentir novamente aquele frio na espinha, o mesmo que sentiu quando viu Hernando lhe sorrindo ao recebê-la, que também era o mesmo que sentiu no dia em que Jacob dormiu em sua casa. Arrepio este que a fizera olhar para trás na expectativa de que realmente as crianças Vincent estivessem protegidas dentro da mansão.
— Vieram no cheiro da . — Hernando brincou ao complementar sua esposa, referindo-se ao fato de que aqueles animais sempre estavam circundando sua funcionária, tal como ela dizia.
Apesar do fraco riso em falsa descontração de todos, eles estavam surpresos com aquilo. Steve e , principalmente, assustados. Desceram novamente à casa e então os irmãos contaram uma novidade que poderia e, de certo modo, iria mudar a vida de . Eles se prontificaram a investir no laboratório da jovem pesquisadora com uma única condição: que ela continuasse fazendo parte da equipe deles nos estudos laboratoriais. Propuseram uma parceria, como eles continuavam mexendo com a cosmetologia, se encarregaria de estudar e desenvolver as fórmulas para eles, de produtos cosméticos medicinais para pele, em troca, obviamente, a patente desenvolvida seria dela. Era um bom negócio e, sem a menor dúvida, aceitou de imediato.
Ela estava radiante com toda a agradável noite, com o “presente” dos irmãos que sempre confiaram no seu trabalho, e com a entrega das papeladas da gerência da farmácia. Combinaram que tão logo o laboratório da mulher estivesse pronto, Steve pegaria turno integral, com aumento de salário e, caso o mesmo quisesse, novo cargo e funções. ainda iria ajudá-lo nas manhãs, entretanto, com menor frequência, já que para os irmãos, e para a própria, a dedicação ao laboratório seria mais importante. O irmão mais novo, Julian, disse para preparar o projeto arquitetônico do laboratório e contatar a construtora e assim que possível os avisar.
A felicidade da mulher era tamanha que não passou em sua mente em momento algum desconfiar ou indagar por quais razões estava recebendo tamanho apoio dos dois. Naquela noite, não bebera nada além de uma taça de vinho, por cortesia, pois sabia que entre ela e Steve, alguém teria que voltar dirigindo, e Steve esqueceu disso, saboreando mais de duas taças, embora não estivesse bêbado, certamente não o deixaria dirigir. No meio da noite, um pouco após todos terem escutado o uivar de lobos aos arredores, enquanto todos conversavam agradavelmente na sala de estar, o celular de tocou indicando uma chamada da senhora Sue.
— Sue, o que houve?
— Diga aos Vincent que sua casa sofreu um início de incêndio já controlado. Charlie passava em frente e rapidamente evitou maiores estragos e agora precisa de você no flagrante para prestar depoimentos enquanto a perícia investiga.
— O quê? — Pega em sobressalto, não entendeu se o que havia escutado de Sue era real, e tampouco a pressa e emergência na voz de Clearwater.
Os demais presentes perto da mulher começavam a prestar atenção em sua conversa, apertava o olhar para o chão na tentativa de se localizar na realidade diante às instruções de Sue.
— Seth e Quil estão indo buscá-la. Venha com eles imediatamente. Sem perguntas, , é urgente! Encontre-os fora da casa dos Vincent.
— Certo, eu estou indo.
— O que aconteceu, ? — perguntou Hernando assim que, desnorteada, ela desligou a chamada guardando o aparelho em sua bolsa.
fizera tudo como Sue pediu, explicando exatamente o que foi repassado pela mais velha aos anfitriões da noite que não deixaram de ficar preocupados. Após se desculpar inúmeras vezes com Hernando e Ashley, conseguiu convencê-los de que ela poderia ir embora sozinha com seu próprio carro. Também teve de convencer Steve a ficar para aproveitar a ocasião por mais tempo, já que Julian prontificou-se a levá-lo se ele quisesse. sequer deu tempo para que Steve não decidisse prontamente a vir consigo. Ela saiu rapidamente de dentro da casa, até o local estacionado de seu Mustang. Embora tudo tenha sido muito veloz, todos pareciam ter engolido a história e ao passo que ela se direcionava ao próprio automóvel, avistou a figura de Quil vigilante à sua espera, acompanhado de Seth parado na porta do motorista. Não se delongou em tentar entender as coisas, apenas jogou suas chaves para o caçula Clearwater.
— O que está acontecendo?
— Entre, — disse Quil fechando a porta do carona assim que ela entrou seguindo Seth, e escutou Ateara dizer para o amigo do lado de fora do carro: — Eu distraio ele. Vai direto, Seth!
Quil correu rápido na direção oposta ao carro e , mesmo olhando para trás, pela janela, não o viu desaparecer. Estava assustada. Seth dirigia rapidamente sem falar qualquer coisa, estando apenas tenso e vigilante ao redor.
— O que está acontecendo, Seth?
— Embry. As coisas se complicaram, ao chegarmos você vai entender tudo. Ou não.
— Para onde o Quil foi?
— Distrair Embry.
— Embry? Como assim? Que lobos são esses por aqui? O Hernando disse que não é comum! Ficamos todos assustados.
— É um lobo só, . E é o Embry.
O resto da sanidade que habitava na mulher começou a entrar em crise. Propositalmente, ela não assimilou as palavras de Seth. Piscava boquiaberta e confusa, pensando: “Ele me disse realmente que o lobo do qual eu falei era o próprio Embry? Que tipo de chá eles andaram bebendo aquela noite? Cannabis?”. Desesperada internamente, por fora tentou transparecer uma falsa calma. Respirou fundo algumas vezes, piscou incrédula e extremamente confusa. Olhou para Seth nervoso e concentrado. Seu pé afundava no acelerador e quase poderia prever uma morte que felizmente não ocorreu. O velocímetro encostava nervoso aos 200 km por hora e a sensação era de que o carro decolaria a qualquer instante.
Embora fosse arriscado instigar diálogos com Seth diante a forma com a qual ele conduzia o automóvel, precisava falar. Precisava tentar entender o mínimo do que acontecia. Percebeu uma placa na estrada, mas não conseguiu lê-la, contudo, reconheceu que aquela estrada por onde seguiam não compunha o caminho de volta a Forks.
— Para onde estamos indo? — perguntei.
— Silverdale. Lembra-se que Embry estava lá? É o lugar mais seguro para você por enquanto.
— Seth… Estou com medo.
Seth segurou a mão dela e sorriu:
— Estaria assustado se você não estivesse… Faz parte do show, . Você vai ver o grande espetáculo em que se meteu.
Quando Seth disse aquilo, novamente, outro arrepio percorreu a medula de . Envolver-se com eles seria realmente motivo de preocupação e a garota ponderava se Erick poderia estar correto. Ainda assim, ela não sentiu medo de estar naquela situação. Ela sentia medo do que poderia descobrir e de acabar não obtendo respostas que a satisfizessem.
A estrada ia se tornando cada vez mais escura obrigando os faróis altos do Mustang a darem o melhor de si. Também se tornava estreita à medida que aprofundavam nela. estava absorta em pensamentos que envolviam tudo o que ela havia passado desde que chegara àquela cidade. Não se arrependia de nada, porque apesar dos mistérios, ela pressentia muitas emoções. Emoções maiores do que a frenética batalha de Seth com as curvas da estrada. E como gostava de emoções, adrenalina e desafios! O problema é que ela se via imersa nisso tudo, às cegas.
Seth era muito habilidoso com o volante. Todos eles eram habilidosos, ágeis… apertou seu olhar na figura do amigo que dirigia e puxou em sua recente memória as características de cada quileute. Todos são lindos, ágeis, inteligentes, com uma temperatura corporal de autorregulação um tanto incomum, com físicos fortes e extremamente grandes. Os olhos do jovem belíssimo de vinte anos que se encontrava concentrado ao seu lado, fitavam a estrada sem nem mesmo piscar, como uma hipnose. chamou por ele em sussurros a fim de saber se ele realmente prestava atenção no que fazia, mas ele não a olhou. Seth previa as curvas antes mesmo de chegar nelas, e aquilo lhe soava assustador. Quando pensava que cairiam desfiladeiro abaixo, ele surgia na curva. As suas pupilas estavam dilatadas e a mulher pensou até mesmo ter visto suas írises mudarem de cor.
não tinha noção de tempo, espaço, de absolutamente nada, e decidiu que o melhor era parar de pensar e vigiar tudo o que estava acontecendo, inclusive o caminho por onde seguiam. Seth jogou o carro para dentro de uma estrada no meio da mata e o carro começou a subir floresta a dentro. Estavam em uma serra, mas o desfiladeiro desaparecera, permitindo-lhe dirigir mais calmo como se estivesse em território seguro e próprio, contudo, ainda havia urgência de chegar a algum lugar específico, que a própria não conhecia.
— Temos que chegar rápido, mas posso desacelerar um pouco. — Encarou os olhos da amiga e sorriu.
— Estou preocupada com o Quil…
— Ele está bem! — disse como se soubesse daquilo piamente. — Logo se unirá a nós. Não se preocupe.
— Seth, por favor… O que está acontecendo?
— Já estamos quase chegando, , mantenha a calma. Você está bem?
— Assustada… Mas estamos chegando onde?
— Na reserva Whitonn.
— Outra tribo?
— Sim. — Ele sorriu amigável. — Já não deve estar gostando tanto de tantos indígenas de uma vez só, não é? — Ele tentou ser bem-humorado, mas sentiu uma pontada de tristeza na voz dele.
Seth imaginava que tudo aquilo a espantaria deles, atitude que demonstrava que, definitivamente, ele não conhecia o tamanho do sentimento dela pela tribo.
— Eu nunca me cansarei de vocês. Até porque vocês me fazem querer estar cada vez mais inteirada no meio, mesmo com essas fugas, mistérios e prováveis perigos.
— Minha mãe estava certa. — Ele olhou admirado e sorridente para ela. — Você é mesmo uma loba perdida, é uma de nós!
lhe sorriu contente em ouvir aquilo. Apesar da loucura e situação quase cinematográfica que vivia no momento, tudo o que ela queria era ser considerada por eles.
de relance avistou uma fumaça escura e azul subindo ao alto das copas das árvores daquela floresta. Seth disse que estavam chegando. Passaram por algumas árvores grandes de troncos espessos e alguns homens os aguardavam, Seth abaixou o vidro e mostrou-lhes o braço com o símbolo do clã quileute. Os homens foram andando em frente e puderam continuar devagar com o carro, adentrando por uma tribo parecidíssima com a reserva quileute. A distribuição de cabanas era quase a mesma, as pessoas também eram parecidas com eles, porém tinham pinturas por todo o corpo seminu, e esmiuçava tudo ao seu redor com muita atenção e curiosidade. Contudo, ela não avistou nenhuma mulher, apenas homens.
Seth deixou o carro de numa espécie de clareira da mata, estacionado meio escondido com outro que ela reconheceu como sendo o Rabbit de Jacob e duas motocicletas. Uma era de Leah, a outra a que Black havia mostrado guardada no galpão. Ele nunca tocara nessa e pretendia dá-la a Seth se conseguisse convencer Sue daquilo, e por ver que a moto estava ali, supôs que Jacob havia convencido a mãe zelosa do caçula Clearwater.
Depois que desceu do carro, Seth abriu a porta para que ela descesse também e, abraçado com a amiga, a acompanhou até o centro de um círculo onde os indígenas se encontravam sentados proclamando frases em um idioma desconhecido. O mais velho deles gritava entre frases e outras, algumas palavras ainda mais ininteligíveis, e jogava um pó escuro na imensa fogueira do centro fazendo subir aquela fumaça azul escura. A visitante restringiu-se a apenas observar. O líder daquele povo, ao ver os dois juntos chegando, se aproximou de Seth e .
— Aiwaiko tundara yêshumute.
Seth apenas acenou afirmativo. O homem passou os dedos com tinta negra na testa de Seth formando algo parecido com o Sol. Após isso, os dois saíram do centro do círculo.
— Você deve ficar na cabana junto com as mulheres. Eu não posso entrar lá. Leah já vem.
— Como sabe que ela vem? — perguntou e Leah surgiu atrás dela, saída de uma tenda de pano.
— Ei, . Venha comigo. — A mulher abraçou o irmão e puxou pela mão até a tenda onde estavam Emy, Sue, Bruh e outras mulheres não-quileutes.
— Você não está entendendo nada, não é? — perguntou Emily enquanto dava um abraço em , percebendo mais do que a curiosidade dela, o espanto.
— Vamos prepará-la — disse Sue sorrindo e a levando para um quarto.
Dentro dele ficaram apenas as quileutes e uma única senhora mais velha da outra tribo. Ela pronunciou algumas coisas em sua língua olhando fixamente nos olhos da . Depois, conversou em tom baixo e separada com Sue já na língua anglo-americana, enquanto Emy e Leah ajudavam a retirar suas vestes superiores.
— Não adianta tentar ouvir, . Elas não irão falar nada até que se deva — Emily pronunciou à amiga que espreitava com os olhos, bastante atenta e se esforçando pra ouvir os cochichos das duas mais velhas.
— Por que estão tirando minha roupa?
— A anciã vai te preparar. E não é que eu seja fluente em língua Whitton, mas nem mesmo a velha Makaul sabe se isso vai funcionar com você — Leah falou com um semblante muito preocupado e diferente da sua habitual “cara fechada de mau humor”, encarava como se estivesse tentando ver algo nos olhos da mulher, e não conseguindo, suspirou afirmando: — Você é estranha, !
— Sério, Leah? — A moça ironizou com humor sarcástico. — Vindo de vocês, é realmente preocupante … Afinal, sou eu que estou sendo preparada para um ritual sei lá de que depois de Seth vir com uma conversa doida de que Embry era um lobisomem.
— Não somos lobisomens! Que ultrajante! — Leah beliscou o braço de , enquanto Emily sorriu por ao menos a quileute estar ajudando a manter serena diante aquilo tudo.
A matriarca Whitton voltou-se para , o semblante preocupado e com a mesma tinta que o homem pintou a testa de Seth, ela pintou o corpo de . Iniciou por seu rosto com uma linha vertical pontilhada que seguia da testa ao queixo. Fez outra linha pontilhada horizontal na testa. Ao colo da mulher, a anciã passou os dedos com tinta de outra cor fazendo rajados que desciam a partir de seus ombros. Ao finalizar aquela pintura rupestre, sorriu simpática e se afastou dando uma última encarada em Sue, e acenou com a cabeça de forma indecisa.
A pintura no corpo de era tão bela quanto tantas outras que ela viu naquele povo diferente, porém, a sua consistia de um desenho único. encarava-se, sem um espelho na tenda em que pudesse ver o todo. Sue, Emy, Bruh, que só então notou afastada em um canto da tenda, e Leah estavam dentro da barraca, silenciosas em expectativa.
— As mulheres não podem ficar lá fora? — perguntou.
— E adivinha de quem é a culpa? — Bruh mencionou sem encará-la.
— Cala a boca, pirralha! — Leah bronqueou e se levantou sorrindo amena para . — Vou pegar um chá para você, garota do chá!
Bruh olhava desprezível para e a outra sentia-se curiosa de quais as razões a levaram até ali. Começaria uma lista de questionamentos infinitos, quando Emy e Sue seguraram em suas mãos e disseram então que era hora de descobrir o inevitável. A história verdadeira das Tradições Quileutes.
Capítulo Onze - Acredite se puder...
— História verdadeira? Tudo o que Jacob me contou era falso?
— Nem tudo.
— Nós temos mesmo uma proximidade com lobos, . Mas está muito além do que você possa imaginar.
— Nós somos os lobos, — disse Emy concluindo a fala de Sue.
— Espera… Por isso que Seth disse que Embry era o lobo, quero dizer… Ele se transformou mesmo em um lobo?
Sue e Emy se entreolharam surpresas pela reação de , pois, apesar de soar muita loucura, ela ainda parecia acreditar no que as mulheres disseram.
— Por que estão me olhando assim? São vocês que estão me contando histórias sobrenaturais… — perguntou tão surpresa pela reação das duas quanto elas.
— Você acredita em nós? — Emily perguntou.
— Eu não sei se é uma questão de acreditar, mas… Eu sinto que tem alguma coisa estranha comigo desde que estive com vocês. Desde que estive em Forks, na verdade. Mas se eu não acreditar nisso, qual a explicação para todo este circo? — argumentou apontando ao seu redor. — Quero dizer… A menos que vocês sejam uma seita esquisita ou perigosa, eu não consigo ver nenhuma ação dentro de um provável normal por aqui. Então, antes de saber se eu acredito ou não, eu preciso ouvir o que vocês têm a contar.
— Não somos uma seita, . Somos um clã — Emily explicou sorrindo e deixou que Sue contasse a história:
— Há muito tempo nos primórdios de nosso povo, um líder quileute se transformou em lobo para defender sua tribo. Ele tivera seus filhos e assim perpetuou-se o segredo. Não são todos que têm o dom de se transformar. Emily e eu, por exemplo, não nos transformamos. Sam é o líder temporário da nossa matilha, ele foi o primeiro da nova geração quileute a se transformar. Contudo, Jacob é, por herança, o líder. Ele é neto de Efraim Black, o primeiro líder. Billy também foi o líder antes dele e assim segue-se sucessivamente.
— Mas… Jacob não estava preparado e era muito novo. Então Sam assumiu o posto por ser o primeiro e ter como preparar o restante da matilha que surgiria. — Emy concluiu.
— Mas por que Billy não continuou?
— Em uma luta Billy acabou ferido.
— Entendi… A cadeira de rodas. Então Sam assumiu para ele…
— Exatamente. Os garotos só afloram seus dons a partir dos quinze anos. Os últimos foram Embry, depois Jacob, Quil e por último Seth. A mais recente na matilha é a Bruh — Sue disse olhando a garota que estava de costas às três.
— Você está bem, ? Está tão quieta ouvindo essas coisas todas… — Emily disse preocupada.
— Estou… Parece que eu entrei em um livro, mas… Continue, Sue, por favor.
encarava o chão enquanto concatenava seus pensamentos e desconfianças. Mais perto de acreditar e se dar como uma maluca ela estava, do que de sair correndo.
— Os meninos foram treinados por Sam desde então. Aprenderam a controlar seus instintos, conhecer uns aos outros e… A defender a tribo de outros perigos.
— Que outros perigos?
— Existem muitos mistérios os quais você vai conhecer, . Por enquanto, você deve apenas saber o essencial sobre nós. — Emy a confortou com voz meiga, a fim de que esperasse e aceitasse apenas o que escutava naquele momento.
— No início é muito difícil. A primeira transformação é dolorosa e eles devem ser isolados. A maioria não aceita o fardo. Foi assim principalmente com Jacob, que descobriu que o seu era muito maior. Eles conseguem transformar-se a qualquer hora, mas precisam controlar algumas emoções… É que dependendo da tensão em seu corpo o instinto fala mais alto. Hoje eles já estão mais íntimos com seus próprios dons.
— Contudo, a Bruh… — Emily disse em tom mais baixo olhando-a. — É tudo muito novo para ela ainda.
— Sue… — respirou profundamente pensando exatamente no que mais lhe trazia incômodo nos últimos meses: os lobos em sua casa. E juntando os pontos, ela perguntou após tomar fôlego: — Sue, então os lobos na minha casa…
— Sim, querida, eles eram os meninos te protegendo.
Aquilo foi como uma faca dentro do peito de . Ela os havia desprezado na reserva por não lhe contarem nada do que acontecia com Embry e, no entanto, estavam a defendendo o tempo todo… Jacob… Ele era o que mais parecia empenhado dado o fato de estar dormindo tão mal, porém, se recordando também da sua primeira noite em sua casa… Se aquele vulto que ela avistou era um lobo, por que eles brigaram? Por que Jacob havia espantado aquela “coisa”? Era muita informação!
— Sei que é muita coisa e você não terá a resposta para tudo agora.
— Mas do que eles me defendiam?
— Chegamos ao ponto crucial — Emily disse tentando parecer humorada.
— … Tudo isso tem ocorrido porque algo inesperado surgiu. Até pouco tempo os garotos podiam controlar suas transformações, mas… Recentemente, Embry se tornou algo mais perigoso e incontrolável. Quando aconteceu, o trouxemos para cá, pois os Whitton têm conhecimentos vastos sobre isso. Tivemos que isolar Embry, por isso você não teve notícias dele. Nós sabemos muito pouco dessa nova transformação e temos tido contato direto com esta tribo para poder conhecer da mesma sabedoria que eles têm sobre o assunto.
Embry se tornando algo mais perigoso e incontrolável? Finalmente se deixou assustar com o que estava vivenciando. Leah surgiu com o chá em mãos, e viu que Bruh a encarou de modo implicante, então, ignorando-a, a filha mais velha de Sue perguntou-lhe se a mãe preferia que ela continuasse contando as histórias para a mãe descansar, mas Sue permaneceu firme. Emily ponderou se não era melhor dar um tempo para a cabeça de que, assustada, bebia o chá e se mantinha pensativa e silenciosa, mas a voz raivosa de Bruh as interrompeu:
— Ela deve saber de tudo logo! — disse.
Emily a chamou para fora do quarto a fim de que ela se acalmasse, e ficasse mais confortável com Sue e Leah.
— E então, como você está reagindo? — perguntou Leah assim que Emy e Bruh saíram da tenda.
— Eu não sei. Sinceramente. Sinto-me tremer inteira por dentro, mas… também me sinto apenas anestesiada.
— Devo continuar? — perguntou Sue.
— É óbvio! — Mãe e filha se olharam em dúvida quando exclamou.
— , naquela noite em que os meninos saíram para acalmar os lobos e Jacob te levou para casa… Bem, os lobos na nossa reserva não eram da nossa tribo. Eram daqui e levavam notícias de novas feras, muito piores em poder de destruição. Na sua casa… Jacob disse-nos que vocês viram um vulto.
— Sim! Ele insistiu que era um lobo, mas eu vi que não era! Andava como uma pessoa e agora sabendo disso, sei que ele lutou com aquilo!
— Não era uma pessoa apenas, era uma mistura de lobo e homem.
— Espera… Um lobisomem? Mas isso não existe, Sue! E a Leah acabou de dizer que vocês não são lobisomens… Eu…
— Você é engraçada! — Leah falou rindo com empatia. — Acredita que nos transformamos em animais, mas lobisomens não existem?
— Você acabou de me dizer o mesmo, Leah!
— Não, não! Eu disse que era ultrajante você nos chamar disso, e não que não existem. … Respire e apenas ouça a mamãe, tudo bem?
— Naquela noite, um lobisomem de uma tribo antiga, e agora extinta, veio para as proximidades de Forks. O chefe dos Whitton surgiu na nossa reserva contando-nos que há poucas semanas um homem apareceu lhes pedindo abrigo, pois toda sua gente havia sido dizimada. Ele era um lobisomem, como alguns dessa tribo onde estamos.
— Há lobisomens aqui? — perguntou apavorada para Sue.
— Sim, o ancião foi um e o atual chefe também. Eles não se transformam mais por causa do veneno que tomam, a vida deles teve de ser sacrificada para que isso que eles considerem “um mal”, não continue. Eles não devem ter muito tempo e nem tiveram filhos. Se empenharam a descobrir mais coisas e, com o passar dos anos, Billy e eu tivemos muitas informações dadas por eles. Eles sabiam sobre nós e vigiavam-nos por pensarem que seríamos da mesma espécie. Billy e eu nunca acreditamos nisso, pois já nos transformávamos há mais de sete gerações. Esse homem que lhes pediu abrigo transformou-se e fugiu para caçar. Essa era a noite que você estava conosco. Os Whitton acreditam que a única forma de acabar com isso é matando a fera, e assim fizeram com aquele último lobisomem da antiga tribo desconhecida. Ainda naquela noite, Embry se transformou também. Foi um choque para todos nós, nunca esperaríamos que acontecesse com um de nós. Entretanto, os meninos correspondem à sétima geração e pelo que sabemos agora, os homens lobos só se transformam na sua real figura, à sétima geração. — Sue chorava.
— Então todos estão condenados a…
— Não temos certeza, … Parece que sim, mas o que nos espantou é que por ordem, Sam deveria ser o primeiro. Contudo, fazendo as contas somente a partir de Embry que de fato houve as sétimas transformações. Então, teoricamente, Sam e Leah estão fora.
— Mãe, antes de continuar… Ela deve saber mais de nossos dons.
— Tem mais? — perguntou confusa, inerte e chocada.
— Tem. Nós podemos ouvir os pensamentos uns dos outros. Por isso temos essa ligação tão forte e somos como irmãos. A matilha defende um ao outro com a própria vida. Somos habilidosos, temos excelente visão, escutamos uns aos outros a distâncias longas e…
— Bem, isso explica um bocado. — interrompeu Leah. — Como a leve mudança de cor nos olhos de Seth agora há pouco e puxa…
— Pois é. O chefe Kwyto disse que um lobisomem pode ou não guardar suas memórias enquanto está transformado. Embry é um dos que podem, e segundo o chefe isso nunca aconteceu com nenhuma fera que ele tenha conhecido, nem mesmo com ele. E aí está mais uma dificuldade que enfrentamos, pois até onde um lobisomem é controlado se sua memória estiver preservada? Um lobisomem é capaz de matar em alto grau. Embry guardou você na memória dele e por isso a temos protegido dele. Na primeira noite, na porta de sua casa, era o Embry que Jacob tentou impedir de avançar e não o outro lobisomem desconhecido. Ele sente seu cheiro a distâncias e vai atrás de você, como fez hoje. Ele não quer matá-la, mas a proximidade de um lobisomem com alguém, ainda que ele nutra boas memórias, é perigosíssimo.
— Acho que agora, eu estou começando a entender melhor… Apesar de achar que posso ser mentalmente interditada a qualquer instante.
— A estadia dele por essa tribo foi de muita ajuda, . Não teríamos sabido lidar se não fossem os Whitton.
— Ah claro, isso porque impedimos que ele morresse! — resmungou Leah contra o argumento da mãe, e percebeu a reprovação no olhar de Sue para a filha. — Ah, qual é, mãe! Conta logo tudo, ela pode ficar doida e cair dura mesmo!
— Leah veio com Sam trazê-lo para cá. Não deixaram que nenhum de nós ficasse aqui, mas Leah se escondeu e como Sam não concordava em deixá-lo sozinho, ele permitiu que ela ficasse aqui. No meio da noite, Leah percebeu que pretendiam matar Embry e os impediu. Os Whitton acham que somos demônios e não há outra forma de cura a não ser matando o lobisomem. Mas nós acreditamos que podemos controlar isso! E Embry tem se empenhado muito nisso!
— O que eles estavam fazendo lá fora, Sue, quando eu cheguei e o porquê destas pinturas?
— Eles estão fazendo o ritual da grande Lua. Acreditam que essa fumaça e com as rezas que fazem, o Deus da Lua irá enganar o lobo-homem escondendo a lua.
— A lua os transforma? Como na mitologia?
— Não dá para saber até onde as histórias dos homens brancos são reais sobre esta “mitologia”. Mas alguns pontos batem com o que temos vivido. Não é que a Lua os transforme, mas a energia dela de alguma forma ativa algo. Por isso é tão complicado controlar.
— E no que consiste a pintura que fizeram em Seth e em mim?
— A pintura de Seth é uma defesa espiritual para o provável lobisomem que há nele. Pintaram um Sol. O contrário da lua. E a sua pintura é uma defesa para o lobo que há dentro de Embry. Ainda que ele se lembre de você, ao se aproximar é como se você fosse um espírito ruim para ele. Ele se afastaria.
— E eu acho isso tudo uma bobagem arcaica — Leah sussurrou para mim. — Se isso funcionasse, o chefe e o velho Whitton não teriam que sacrificar suas vidas com o tal veneno.
— Que veneno é esse, Sue?
— Eu ainda não sei. Eles não contam. Só sei que é uma mistura de várias ervas que eles injetam diretamente na veia. Nós chamamos de veneno, eles chamam de antídoto.
— Há quanto tempo os Whitton fazem isso?
— Desde que o chefe se transformou aos seus quinze anos. O velho índio foi o primeiro, mas tanto ele quanto a tribo, nada sabiam a respeito. O ancião se isolava toda vez que chegava a temporada da grande Lua. Ele serviu de estudo para a tribo, tem cortes por todo o corpo e só não o mataram por medo de acontecer com outro deles. Eles acharam que era um castigo dos Deuses e tiveram medo de matá-lo. Como eu te disse, essa transformação só acontece de novo na sétima geração. Foi quando aconteceu com o chefe Kywoto, filho do cacique da sétima geração. Nessa época, depois do ancião ter sido objeto de estudos, eles já haviam descoberto esse veneno que isola as células mutativas, aumentando o número de anticorpos que as combatem e destroem. É uma morte lenta… O chefe apenas se transformou uma vez, e não foi em lobisomem, foi em lobo, mas ainda assim o veneno não o impediu de, aos vinte três anos, tornar-se a grande fera. Daí eles perceberam que aplicar o veneno uma só vez, ainda na juventude do lobo, não bastava e passaram a drogar-se sempre.
— Mas se o ancião foi o primeiro e único, por que o filho do cacique herdou a genética? Eles têm alguma ligação?
— Qualquer um deles pode se transformar, mesmo que os pais não se transformem. Assim como nós. Paul, por exemplo, não é filho de lobos, mas transforma-se em um. Está no sangue do clã, , não no gene da pessoa.
— É místico. — Leah deu de ombros ao dizer, deixando ainda mais confusa sobre que tipo de misticismo a mulher era cética e qual não. Sobre seu clã ela acreditava em tudo, mas era irônico que achasse a cultura dos Whitton uma “bobagem arcaica”.
— O que aquela anciã te disse, Sue? Digo, antes de vir me pintar.
— Ela… Acha que há algo dentro de você que guarda o espírito de um lobo… Mas não sei se você deve acreditar nisso, querida.
— Seth disse que você pensa o mesmo.
— Não… Eu disse que você é parecida conosco, uma guerreira como nós. Foi em sentido metafórico.
— A minha pintura também consiste em me defender do meu suposto espírito lobo? — perguntou suspirando e encarando de novo apenas os braços pintados, agora que já estava coberta com suas roupas.
— Sim… Mas não se ligue a isso, . Se você tivesse um espírito lobo nós já saberíamos.
— Eu não sei o que dizer…
— Fico abismada de você acreditar em nós — disse Leah.
— Vocês se esquecem de que eu sou indígena também… Eu já ouvi sobre muitos mistérios dos meus antepassados Coxiponés. — Sue a encarou, curiosa.
— Numa outra ocasião… Eu adoraria saber também — ela disse.
— Depois que eu me recuperar de tudo o que ouvi e entender como esse capítulo vai acabar, Sue… — terminou de beber seu chá enquanto mãe e filha se olhavam satisfeitas por terem contado a ela a verdade, até que se lembrou e perguntou-lhes: — Onde está Quil?
— Ele acabou de chegar! — Bruh pronunciou entrando novamente no quarto e com o semblante mais satisfeito. Estava verdadeiramente preocupada com o irmão, por isso o mau humor.
— Ele precisava distrair Embry até amanhecer. — Emily falou assim que Bruh saiu novamente.
olhou pela entrada da tenda e o Sol da alvorada surgia fraco pela luz de um novo amanhecer. Nem percebeu que a madrugada lhe passara tão rapidamente desde que saíra da casa dos Vincent. Queria sair, mas por recomendação, teve que continuar dentro da tenda até que alguém dissesse que ela poderia sair.
— Vamos te deixar descansar um pouco. — Sue, Emily e Leah saíram deixando-a.
observou que na tenda não havia onde se deitar, mas um grande toco de madeira em formato de um banco rústico e não esculpido estava ali, como se fosse uma espécie de descanso. não sentia sono, estava com muitos pensamentos confusos à mente, então deitou-se no toco, com um pé fora dele e o outro em cima, escondeu seus olhos com o antebraço e sibilou para si:
— Como eu fui me envolver com isso tudo e por que eu? O que aquela maluca da Swan fez enquanto esteve aqui e por que ela desapareceu?
O som de passos firmes e um cheiro conhecido de suor amadeirado surgiu e tirou o braço dos olhos, se ergueu rapidamente sentando e viu a figura de Jacob parado em pé na entrada da tenda, a encarando com ansiedade.
— Loba! — Urgente, Jacob caminhou até a amiga e se agachando em sua frente, a analisou. Viu que ela estava bem e sorriu, mas não podia esconder o quanto estava cansado.
— Black! Que droga, Black! Como você está? — encarou o homem abaixado a sua frente e tomada por uma súbita preocupação, sentiu vontade de o abraçar. Não se contendo, ela o abraçou o mais forte que podia.
nunca tinha abraçado Black daquele jeito, mas era tão forte a sua felicidade e alívio em vê-lo bem, assim como era tão grande o seu medo de que o alto desespero interior que ela escondia, transparecesse. E transpareceu.
— Acabou… Acabou, … Foi a última noite confusa do Embry. — Jacob afagava os cabelos dela, dentro daquele abraço, enquanto lágrimas repentinas jorravam dos olhos de em direção aos grandes ombros de Black.
— Como ele está? Onde você esteve, Black?
— Ele está bem, cansado e um pouco machucado… Eu tive de caprichar em algumas mordidas… — Jacob riu sem graça. — Suponho que já tenha escutado tudo, certo?
— Vocês tiveram que brigar?
— Somente lá em Seattle quando Quil e Seth foram te pegar, eu tive que dar cobertura e Embry estava bem disposto…
— Como foi isso?
Esquece isso… Me diz, como você está? Não deve ter sido fácil ouvir a Sue, não é?
— Acho que eu estou bem, embora me sinta meio louca. Eu não estou num transe, não é? Ou em coma e sonhando com tudo isso?
— Bebeu algum chá? — Jacob brincou.
— Seria uma boa justificativa para tudo isso, parece mesmo que estou alucinando. E o que mais me assusta é que eu sinto que é verdade, acho que acredito, Black.
— Ainda acha que somos uma boa companhia depois dessa noite?
— Eu sou uma de vocês agora… Não sou?
— É sim… Esse é o preço por se envolver demais conosco… Nunca dá para esconder por muito tempo quando se aproximam demais. — Os dois riram de modo contido enquanto seus olhos esmiuçavam o semblante um do outro, profundamente. — Gostei da maquiagem! — Jacob disse zombando da pintura no corpo de que bateu em seu ombro. — Ei! É sério! É linda… A pintura…
Black se levantou estendendo a mão para que ela se levantasse também. Assim que ficaram em pé e de frente um com o outro, mais uma vez, foi o momento de Jacob a abraçar apertado. correspondeu também com força, mas ele gemeu de dor. As costelas dele estavam machucadas.
— O que houve?
— Não se preocupe, vamos. O dia amanheceu e…
— Anda, Black! Me deixe ver! — insistiu se afastando e, contrariado Black, ergueu a camisa do rapaz possibilitando-lhe ver o ferimento. Uma imensa marca de mordida. Dentes cravados em sua pele na altura de suas costelas, porém, não sangrava mais. — Você… Você tem que tratar esse ferimento, Black! — ela advertiu, nervosa.
— Eu sei, eu sei! Está tudo bem, não foi nada grave… Estamos acostumados a isso. Eu só queria te ver primeiro. Lobinha. — Jacob a encarou com ternura passando uma das mechas do cabelo dela para trás da orelha. — Agora vamos sair dessa tenda.
Os dois seguiram para fora da barraca e a tribo estava tranquila. Nem parecia que estavam realizando rituais num grande círculo de indígenas proferindo preces baixas, com aquela fogueira alta, apesar de mesmo apagada ainda ser possível ver o resto da fumaça subindo até os céus, e os indivíduos que participavam do ritual dirigiam-se às suas cabanas. As mulheres começavam a sair dos seus esconderijos e retomar suas rotinas; as crianças acordavam saindo para brincar; Billy e Sue conversavam com os precursores da sabedoria daquele povo acerca dos lobos-homens; e Seth, se afastando de Emy que estava na porta de uma cabana, se aproximou de e Black.
— Bela obra de arte! — Abraçou a amiga elogiando a pintura em seu corpo assim como Black havia feito, e os três sorriram. — Ei, Jake, vá cuidar disso.
olhou de Seth para Black entendendo que o mais novo falava do ferimento e os dois pareciam trocar informações sem nada dizer.
— Ele tem razão! Onde podemos fazer o curativo?
— Uow! Jacob te deixou ver uma ferida dele? — Seth encarou surpreso e olhou para Jake de forma brincalhona. — Sabe, , talvez você devesse cuidar desse curativo. Isso doeu bastante, e o Jake está fingindo-se de durão.
— Seth, estou exausto. Não me provoca, dê um tempo! — Black deu um peteleco na testa do mais novo, e se aproximou beijando a testa de que ainda estava abraçada ao amigo mais novo. — Você, descanse. — Black deu as costas a eles e se encaminhou para a cabana onde Emy estava à porta.
— , sobre o Embry, você quer vê-lo? — Seth perguntou.
— Eu posso?
— Vamos, ele está arrasado por você… No caso, pela razão que te envolveu nisso tudo…
Os dois foram atrás de Black e entraram na cabana maior onde estava Quil cuidando de alguns ferimentos, abraçado à sua irmã; Paul tomava uma sopa conversando com Emily e Sam e, finalmente, Leah estava fazendo os curativos em Embry, que se mantinha cabisbaixo ainda deitado em uma maca improvisada. Jacob estava sentando-se em uma maca perto de Paul e tirou sua camisa.
— Caramba, Jake, nunca vimos alguém te morder assim! — Paul falou para o amigo, e mesmo que tivesse sido baixo, deu para os outros escutarem.
Assim que Bruh percebeu a presença de Black, encaminhou-se até ele para tentar cuidar de seus ferimentos, ignorando o irmão. Uma pequena discussão baixinha iniciou-se entre Jacob, Bruh e entre Quil e Bruh. Sam revirou os olhos pelo comportamento da Ateara mais jovem, Emily ria da insistência da mais nova, e Paul acenou amigável para , que ainda estava ao lado de Seth. Ela observava a presença de todos, como se estivesse num campo de batalha, sentiu-se um pouco culpada por aquilo. Seth lhe abraçou e a encorajou a se aproximar mais de Embry e Leah.
— Você é incrível, não faz essa cara de culpada… — Seth sussurrou para ela sorrindo.
— Não… Vocês é que são incríveis… Olha o que vocês fizeram… — o respondeu sem saber ao certo se aquilo tudo era fascinante ou aterrorizante.
Leah e Embry, que já haviam notado a chegada de e Seth à cabana, estavam em silêncio, um pouco apreensivos em como seria a interação entre eles. Embry tinha os olhos marejados de arrependimento, culpa e preocupação por e antes da chegada dela, Leah tentava convencê-lo de que estava tudo certo com a não-quileute.
— Vê, Embry? Ela está bem! — Leah disse tentando confortá-lo de novo, assim que a mulher se aproximou dos dois.
— Não por minha causa, é óbvio.
e os irmãos Clearwater encararam-se e Seth puxou Leah para que os outros dois ficassem a sós.
— Eu fiquei muito preocupada com você, Embry… Como você está? Está muito ferido?
— Você é muito gentil… Mas deveria se preocupar em estar perto de mim, . Eu sou a razão para tudo isso estar acontecendo!
— Eu nunca irei me afastar de nenhum de vocês, Embry! Não importa o quão difícil possa ser… Eu queria ser e sou uma de vocês! É como me sinto, assim como a Emily…
— Se não fosse por Jacob, Paul, Sam e Seth… Você não estaria aqui, … Eu me tornei… Um monstro.
— Não! Não! Pelo que eu sei, ninguém sabe o que você teria feito comigo! Você me guarda em suas boas memórias e isso não significa que você me faria mal.
— Quando se é um monstro de mais de dois metros, o mal sempre acontece, mesmo que não seja intencional.
— Embry… Para de falar assim, tá? Eu te amo e nada vai me afastar de você. A não ser que você não queira mais ser meu amigo.
— Não é questão de querer… Eu não posso mais ser.
— Essa noite, depois de descobrir tudo, eu juntei algumas peças soltas e… Emily… A cicatriz dela, não foi um urso, não é? Foi o Sam.
— Sim.
— Eles se casaram e estão juntos apesar disso.
— Mas você não sabe dos sentimentos dele… Não é como se Sam pudesse ignorar o que sente por Emy e ela por ele…
— Exato, eles se amam! Sem dúvidas Sam tem medo e fica vigiando para que não faça nenhum mal a ela, mas o amor dos dois é muito maior, Embry. Apesar de nós dois não termos este tipo de sentimento nessa intensidade um pelo outro, não é como se…
— Ela é o imprinting dele, . É muito diferente. — Embry a interrompeu, calmo e com ar de mais sabedoria do que ela e até mesmo do que o seu “antigo eu”.
— Imprinting?
— Não te contaram?
— São muitas coisas a se saber, e pelo visto…
— Imprinting é algo como… O grande amor da vida de um lobo. Nenhum outro lobo pode fazer mal a pessoa de um imprinting, porque é como atingir o próprio lobo. Sam vive por Emily, não mais por ele.
— Todos os lobos têm isso?
— Em algum momento de nossas vidas acontece, nunca é igual e não tem um tempo definido. Acontece de repente. Lembra que eu te disse que o amor acontece de imediato pelo menos para nós quileutes? E você não é meu imprinting, , o que significa que eu não sei até onde eu posso segurar meu ímpeto violento… Nem mesmo Sam conseguiu em determinada vez… — Embry disse e os dois olharam para Sam e Emily que conversavam ainda com Paul.
— Você também me disse recentemente: “Quero que se recorde do Embry que você conheceu… Quero ver você feliz”. Recorda-se disso, Call?
— Sim, e quero mesmo que você seja feliz. Eu não sou mais o Embry Call que você conheceu na praia…
— Para mim, sempre será.
— Eu tenho medo do que eu possa te fazer, …
— Eu também. Não vou mentir! Mas eu acredito muito no seu coração, nos seus sentimentos e sei que você é muito mais forte do que tudo isso. Você sempre soube controlar seus instintos, não é? Então ainda que essa tribo Whitton diga o contrário, não é porque você se tornou um lobo maior e mais poderoso que signifique que você não se conheça.
Embry sorriu do tom de elogio usado por que fazia parecer que ser um “lobo maior e mais poderoso” fosse algo bom. Ele a abraçou sincero e aliviado. sabia que ele precisava ouvir aquilo dela, não era a transformação que o assustava ou que o revoltava, mas sim as pessoas das quais ele teria que se afastar, e as limitações novas que teria de impor. Mas agora ele sabia, assim como ela e todos os quileutes pensavam, que poderia ser apenas uma questão de tempo para Embry ter novamente o controle em suas mãos.
— Embry… Você também me disse que não entendia nada antes, mas que agora entende tudo, que eu não vim para a vida de vocês à toa. Que eu sou a chave de tudo… O que você quis dizer?
— Esses tempos na reserva Whitton me ajudaram bastante. Ajudaram a ver que você tem um papel fundamental entre nós. , eu não teria me transformado se não fosse você.
— Claro que teria… Sue me explicou.
— Sim, o que eu quero dizer é que eu não teria me transformado por agora. É algo ligado às sensações, à energia que você trouxe…
— Então eu sou culpada?
— Não! Nada a ver! Você entendeu mal… É complicado. Como muitas coisas que estão para vir, você descobrirá aos poucos. É algo da sua alma. E não se esqueça: eu também disse que eu quero, preciso e vou te proteger. Sempre.
e Embry se abraçaram sob os olhares de Jacob, que estava realmente feliz por eles estarem bem após tantos acontecimentos confusos. estava realmente aceitando tudo de uma maneira muito melhor do que o imaginado.
— Agora entendo a primeira piada que você fez quando eu te conheci, Call…
— Não me lembro…
— “Sou um excelente cão de guarda!”. — Quando respondeu, não apenas ela e Embry caíram na gargalhada como os demais presentes que acabaram escutando aquilo. Bruh era a única que não esboçava nenhuma reação, a não ser olhar para Jacob encarando a figura dele risonha a observar de um jeito diferente.
Com exceção de Embry que precisou ficar sob os cuidados do povo Whitton e Leah que ficou com ele porque ainda não confiava em deixá-lo sozinho, todos os outros retornaram para à reserva quileute naquele mesmo dia.
Capítulo Doze - Provocantes
Depois de algumas semanas, Embry estava mais confiante consigo e sua capacidade de autocontrole, o que dava esperanças ao clã inteiro. Os meninos treinavam com ele e o treinamento também era útil para toda a matilha, afinal, todos poderiam estar predestinados àquilo.
Após a descoberta de algumas coisas começaram a ser esclarecidas, como o dia em que Jacob a levou para casa, no exato dia do lobisomem solto na mata; Charlie parou a viatura no caminho para falar com Black. Charlie sempre soubera dos lobos, afinal ele estava noivo de Sue, então fazia sentido que algumas coisas ficassem “ocultadas” pela autoridade local. Seria por isso que ele não tomava atitudes deixando Erick cada vez mais intrigado com os quileutes? E se Erick descobrisse?
ainda queria algumas respostas, mesmo passando-se algumas semanas, tudo o que eles lhe haviam contado ficava martelando em sua cabeça. E Bella… A figura da amiga fazia menos sentido ainda agora. Será que Swan sabia daquilo tudo quando esteve por lá?
Quando seu carro adentrou a reserva ela estava vazia, silenciosa de um modo incomum. estacionou o carro e desceu observando ao redor, cautelosa. O sol surgia de forma tímida e habitual entre as copas das árvores, e ela caminhou até o galpão de Black em busca de alguém. Acabou encontrando Jacob sem camisa, com uma bermuda rasgada e descalço. Estava sujo de graxa e mexia em uma moto. pegou uma pedra do chão e bateu na imensa porta do galpão, surtindo um inútil som oco, que ele obviamente não ouviu.
— Black? — ela chamou o nome do rapaz, entrando, e o homem, escutando, se virou para abrindo um sorriso largo e limpando as mãos em algumas estopas no chão.
Aquilo era algo que notou e se felicitava: Black aprendera novamente a sorrir já fazia algum tempo, mas ainda não era o sorriso descrito por Bella em seus e-mails. Não era o sorriso que a própria esperava e imaginava ser digno dele. Entretanto, era um sorriso que só quando ele se encontrava com ela, esboçava.
— ! — Jacob parou o que estava fazendo indo até a mulher e ela tentou o abraçar, no entanto, ele a evitou. — Não! Eu estou todo sujo!
— Não me prive disso, por favor — pediu ignorando o afastamento dele e se jogando com precisão a um abraço nele.
Quando se soltaram do breve abraço, ele fez um dos seus gestos que era o favorito de : olhou para baixo rindo e bufando pelo nariz, depois olhou para o lado direito como se pensasse em algo que pensava se falaria ou não, em seguida a encarava fixamente gesticulando com os lábios um tímido formar de palavras ou sussurros. Jacob fazia isso constantemente, como trejeitos de homem tímido, e aquela era uma das imagens que gostava de ficar repassando em sua mente sempre que Jacob lhe vinha em pensamentos… Aos poucos ela ia percebendo e se dando conta do quanto conseguia enxergar mentalmente cada milímetro de Jacob.
Então as palavras gesticuladas em mímica por ele, ganharam voz:
— Por que, ?
— Por quê? Por que o quê?
— Por que pediu para eu não te impedir de me abraçar?
— Porque… Não sei, Black, mas… Faz bem para mim. Eu gosto. Acho que depois de tanto tempo sem um olhar sincero teu… Agora que somos amigos, qualquer toque é um troféu. — E os olhos dele arregalaram tentando manter alguma discrição.
— Entendo… Veio nos visitar?
— Também.
— Também?
— Tenho alguns assuntos pendentes dentro de mim e que precisam ser desabafados… Mas antes… Essa moto é aquela que eu vi na reserva Whitton? — perguntou se aproximando um pouco mais da motocicleta e a encarando com admiração.
— É! Ela mesma! Não está linda?
— Você faz um trabalho realmente magnífico! Ela parece tão mais nova…
— Não era para tê-la levado, mas na emergência… Esta semana eu dei uma polida nela e ajeitei a pintura também… Falta apenas trocar os pneus, que espero conseguir fazer em breve.
— Conseguiu convencer Sue a te deixar dar ela ao Seth?
— Ãn… Ainda não. E acho que vai demorar um pouco mais para que ela mude de ideia.
— Do jeito que o vi dirigir, ela está certíssima — disse em tom de piada, e riu acompanhada de um sorriso de Black.
— Ele se empolga às vezes, é verdade… Mas eu nunca vi Seth cometer nenhum erro em cima de uma moto ou atrás de um volante. Ele é muito bom em pilotar.
— E por que está reformando-a se ainda não vai pertencer ao nosso garoto? Algum motivo especial? — disse analisando a moto e andando em volta dela com as mãos no bolso.
— Não… — Black começou a rir alto.
— O que foi? Eu disse algo errado?
— É que vendo você assim nessa pose e toda interessada… Até parece uma motoqueira rebelde com esses jeans rasgados e tênis.
— E quem disse que eu não posso ser uma motoqueira rebelde?
— Nossa… — ele disse aproximando e se encostando no banco da moto de frente para ela, a encarando com fulgor e curiosidade. — Agora eu fiquei curioso!
devolveu o olhar intenso, deixando a mente de Black vagar um pouco pela informação de que ela poderia pilotar enquanto seus olhos perscrutavam o corpo dela, assim como os olhos dela mapeavam as expressões dele. Depois de alguns segundos em silêncio, com aquela atmosfera palpável de “tensão e química” entre eles, riu e desconversou:
— E então, Black, você pode parar um pouco o que está fazendo para conversarmos?
— Claro! Vamos para a minha casa. — Black cobriu a moto, reuniu as coisas que utilizava, como algumas ferramentas, e os dois saíram do galpão, depois que ele lavou as mãos e enxugou-as em uma toalha surrada que havia ali, porém, limpa.
— Onde estão todos?
— Eu não sei… Estavam todos aí mais cedo antes de eu vir mexer na moto. Tentou olhar nas cabanas?
— Não vi ninguém quando cheguei, também fui direto ao galpão.
Black olhou em volta vendo todas as cabanas fechadas, quando chegaram na clareira do pátio.
— Ah! Lembrei! Foram todos à festa de aniversário do primo de Quil.
— Ah… E por que você não foi?
— Não temos muito contato. — Jacob abriu a porta de sua cabana a convidando para entrar.
— Billy também foi?
— Não, ele foi pescar. Meu pai não é muito social — ele disse rindo.
— Percebi. Igual a você. — Jacob direcionou um olhar óbvio e jocoso para enquanto os dois entravam pelos cômodos da cabana.
— Vem, pode entrar. — Black abriu a porta de seu quarto, mas ficou parada ao batente da porta, e ele percebeu, estranhando. — Não vai entrar?
— Não. Estou bem aqui, posso te esperar na sala também, se preferir.
estava um pouco sem graça com a intimidade entre eles, depois de saber todas as coisas dos quileutes e descobrir que Jacob vinha dormindo na porta de sua casa. Sem falar que aquele abraço na tenda da reserva Whitton foi diferente. Ainda mais aconchegante do que todos os outros poucos que eles tiveram nos últimos tempos.
— Você dormiu aqui na minha cama não faz muito tempo. — Ele provocou rindo e se sentando na cama. — Ou já se esqueceu?
— Nem um pouco.
Black sorriu satisfeito com a resposta dela e deu de ombros. Sentou-se ao lado dele, e Jacob sorriu apertando a bochecha dela, como se a achasse ingênua. Se levantou e caminhou até seu guarda-roupas, tirou a camisa que estava manchada de graxa e a deixou recostada à cadeira, desviou o olhar sentindo-se enrubescer e Jacob puxou uma camisa limpa para vestir. Enquanto se vestia, ela espiou os músculos das costas do rapaz se movimentando e mordeu os lábios um tanto atrevida. Sacudiu a cabeça para afastar qualquer ideia errada que lhe surgisse e cessou o pequeno silêncio:
— Por que vocês não se dão bem? Você e o primo do Quil?
— Besteira dele.
— Que tipo de besteira? — ela perguntou, e então Jacob tirou as calças ficando apenas de boxer fazendo com que se remexesse incomodada, desviando o olhar mais uma vez.
Black virou-se para a responder e notou que ela estava tímida com ele e, sendo uma cena fofa e rara, decidiu tirar sarro de :
— Você se incomoda que eu fique apenas de cueca?
— É a sua casa, não é? Finja que eu não estou aqui… — ela disse tentando fugir da provocação, mas quando notou o sorrisinho e a sobrancelha arqueada de Jacob, ela bufou ao responder: — Pare de gracinhas! Apenas me responda e vista logo uma bermuda! Que tipos de besteiras, Black?
Jacob riu obedecendo as ordens dela e suspirou ao ter que falar daquele assunto que o irritava: Bruh Ateara.
— , você já deve ter percebido que a Bruh é um problema constante que eu tenho, não é? O primo dela me odeia por isso.
— Ah… Mas a Bruh ainda é muito nova e ela te admira, eu já te disse isso.
— Não. Ela imagina coisas. E eu também já te disse isso.
— Que tipo de coisas?
se levantou andando pelo quarto do rapaz até a janela e se apoiando nela. Ele estava de costas e então, caminhou até ela com um olhar estranho depois de ouvir a sua última pergunta. Se aproximou parando a centímetros de , e ela se conteve em não reagir de modo estranho, apenas encarando os olhos castanhos amendoados dele tão perto do seu rosto.
— O que está fazendo?
— O que você sente quando ficamos perto assim, ? — A voz de Jacob carregava um tom sério tal como o seu semblante que analisava de forma sensual o rosto atônito da mulher.
— Black… Ah… Eu não sei. — mentiu, mas sabia o que sentia: turbilhões no estômago, mas ela não arriscaria a dizer nada.
— Quando a Bruh faz isso comigo… Eu sinto raiva. Não sei por que, mas eu não gosto da ideia de tê-la tão perto — Jacob disse imóvel, encarando os olhos de de modo invasivo e forte, quase como se ele pudesse enxergar a alma dela, e o quileute continuou: — Não é como quando ficamos assim, você e eu… Eu me sinto bem desse jeito e você?
— Acho que… Também me sinto bem… É estranho, na verdade, o quanto me soa certo… — revelou sincera ainda controlando sua respiração e gestos.
Jacob sentiu-se eufórico com a resposta e sorriu tocando o rosto de , umedeceu os lábios e, sem desfazer o contato visual com ela, encostou as testas e permaneceu em seu diálogo:
— E quando a Bruh faz isso… Me tocando tão perto, eu tenho vontade de afastá-la…
— E agora? E comigo? — perguntou de forma repentina, fechando os olhos arrependida por falar sem pensar. Mas Jacob não respondeu à sua pergunta, apenas cheirou o pescoço dela devagar e delicado.
— Quando eu faço isso você não se sente… Invadida?
— Black… — ela apenas sussurrou o nome dele, não conseguindo evitar as reações de abandono aos toques dele.
Ainda mais ousado e desejoso, Jacob uniu seu corpo ao dela de um modo lento e preciso, passando seus braços na cintura de e subindo a cabeça do pescoço dela em direção à orelha, falou:
— Isso tudo não te faz pensar que eu vou beijá-la ou algo mais? — ele perguntou pausadamente, mas nada respondeu. Seu coração batia frenético em um descompasso novo para a mulher. — Esses tipos de coisas, … São coisas que a Bruh costuma tentar fazer. — Jacob afastou brevemente seu corpo do de , e os dois mantiveram seus olhares sustentados um no outro. , enfraquecida, uniu forças para ficar de pé enquanto escutava Jacob encerrar o assunto e se afastar dela aos poucos: — E ela faz isso imaginando muitas coisas que eu não quero que aconteça… Mas até tenho medo, .
— Medo?
— Quando se fecha o coração e a alma para o amor… Nos enfraquecemos por muito pouco… E a Bruh não tem limites em suas provocações e nem se importa se eu só a vejo como uma pirralha. — Jacob afastou-se de como se nada daquela cena tivesse acontecido da forma intensa como pareceu para ela, dando as costas e sorrindo, se direcionou à porta avisando: — Vou tomar um banho. Fique à vontade, eu não demoro.
— Ba-banho? — perguntou confusa, baixinho e nem poderia ter respostas dele, já que Jacob havia saído tão efusivamente do quarto: — Isso é hora de dizer que vai tomar banho por acaso?
Sentindo-se abafada, tornou a se recostar à janela. Tirou seu casaco fino deixando o ombro à mostra, pois a camiseta que usava tinha alças finas. Ela refletiu no que Black dissera e compreendeu a mensagem. Há muito ele não se permitia amar e Bruh o provocava como ele fez com ela, por isso Jacob tinha medo de cair em tentação de forma imprudente, e aquilo o fazia sentir cada vez mais raiva das atitudes da garota.
olhou ao redor do quarto de Jacob e o cheiro dele estava em cada canto, o que não ajudava em nada no calor que ele a fizera sentir há poucos minutos, então saiu dali em direção à varanda. Novos banquinhos haviam sido feitos e ela observou mais uma vez, admirada pela delicadeza das mãos do rapaz quando esculpia. “Mãos firmes, mas delicadas”, ela pensou sentindo ainda a sensação dos toques dele no quarto. Sacudiu a cabeça de novo e escorou-se no gradil da cabana, ficando ali de olhos fechados pensando no momento passado no quarto e ouvindo o chacoalhar das folhas na copa das árvores. Até que Black retornou chamando a sua atenção:
— Pensando em que, ?
— Em nada… Apenas escutando o farfalhar das folhas… Sente isso? Eu sinto como se o vento pudesse me tocar e como se as folhas me falassem coisas que eu não consigo entender. Eu sinto que estou em casa aqui. E isso é tão estranho… — A mulher meditando, disse tudo ainda de olhos fechados. Jacob tirou uma mecha do cabelo mal preso de , que caía no rosto dela e colocou-a atrás da orelha.
abriu os olhos sorrindo e deparando-se com um olhar admirado dele. Mas tanto as írises de Jacob como as dela, buscaram pela boca um do outro, e corou automaticamente dando a ele outro sinal de que a havia provocado de uma forma um tanto perigosa para aquela amizade.
— Olha… Desculpe-me por aquilo, … Digo… A brincadeira no quarto agora há pouco…
— Tudo bem… Acho que eu consegui entender perfeitamente a sua analogia…
Black sorriu em perceber que ela não se ofendeu ou zangou. Na verdade, nem mesmo ele sabia o que estava fazendo com ela, mas sabia que se deixou levar e por muito pouco não cometeu algo que pudesse fazê-lo se arrepender. olhou para a mão do rapaz que segurava uma caneca de café, e dando-se conta de que não a havia entregado, Jacob lhe estendeu a bebida.
— Como você consegue tão rapidamente esculpir novas coisas?
— É uma terapia que faço quando estou nervoso ou quando muitas coisas estão me perturbando…
— Foi uma semana difícil de treinamentos com Embry e a alcateia, não é?
— Sim, mas não foi isso que me incomodou. Tem muitas coisas me incomodando há algum tempo desde a transformação do Embry.
— Se quiser conversar sobre...
— Obrigado. E quando eu conseguir mais lenhas eu vou chamá-la para esculpir comigo, que tal?
— Eu vou adorar! — Eles sorriram bebericando o café.
— Fale, . Você disse que precisava desabafar, então vamos lá.
— Charlie sempre soube de tudo?
— Somente a partir de algum tempo depois que ele e Sue uniram-se.
— E aquele dia na estrada, quando você dormiu lá em casa… O que ele disse a você quando nos parou no caminho?
— Ele havia parado para me cumprimentar, mas eu aproveitei para alertá-lo sobre o lobo. O que mais você quer saber?
— Nossa… São tantas coisas… Bem, se lembra quando Embry e eu fomos à praia de La Push pela primeira vez?
— Não é como se eu pudesse esquecer aquele dia — resmungou Jacob entredentes, encarando a floresta em sua frente com um sorrisinho provocador.
— Ei, eu ouvi. E entendi, tá? Mas… Por quê?
— Esquece… Apenas prossiga, eu lembro sim, o que é que tem?
— Tá, mas depois eu vou querer saber mais sobre isso…
— Bem depois. — Ele riu e se fez curiosa.
— Por que você não achou boa ideia nós irmos até lá?
— Quem lhe disse isso?
— Ouvi vocês sussurrando.
— Que bela audição! Foi por causa do perigo. Esse foi o mesmo dia do ataque do lobo, e os Whitton já tinham nos avisado.
— E nesse mesmo dia eu vi um vulto na janela e Sue disse que era o lobisomem, porém, pelo que percebi, um lobisomem é bem maior do que um humano. E eu escutei apenas um urro. O seu urro quando desceu…
— Você insiste nessa ideia… O que mais seria se não fosse um lobisomem, ? — Jacob empertigou sua coluna argumentando de volta e sentindo-se um pouco incomodado pelo rumo daquela conversa.
— Tenho lido notícias antigas de Forks e não são os lobos os primeiros a serem acusados de assassinatos, principalmente no bairro onde moro. — Ao escutar o que ela disse, Jacob ficou estático e sério.
— Foi um lobisomem. Não precisa se confundir com essas lendas do povo da cidade. Muitos adolescentes inventam histórias e colocam na internet como forma de popularizar nosso condado.
— E por que a sua feição enojada ao perceber o vulto? Você não age daquele jeito diante de um lobo. Não subestime minha inteligência, Black, olha onde eu já cheguei aqui… — encarou-o de forma desafiadora e esperta, como se tivesse o deixado numa sinuca de bico.
— , aonde você quer chegar?
— Eu não sei. O que falta a você me dizer?
— Nada.
— Está certo… Por enquanto acho que é só… Eu vou acabar arrancando mais verdades, se não for de você… De alguém. — sorriu de maneira superior, mesmo tentando amenizar o clima denso que ficou entre eles, e desencostou do cercado da varanda sacudindo a caneca e indo para dentro da cabana de forma sensual, embora ela não soubesse que aos olhos dele soaram sensuais os seus gestos e perguntou: — Posso ir lá pegar mais café?
— Claro.
Quando saiu, , de modo esperto, se esgueirou pela sala cuidadosamente observando quais seriam as reações de Jacob. Ele pôs as mãos na cabeça como se estivesse aliviado de sair de alguma furada e ela notou que ainda estava lhe escondendo algo. Entrou na cozinha e serviu o café, ao retornar à sala, ela ouviu a voz de Bruh Ateara e, de novo, se manteve escondida escutando.
— Jake! — a adolescente gritou.
— Já te falei que não é para me chamar assim. Está fazendo o quê aqui, Ateara?
— Eu soube na festa que você estava sozinho e dei um jeitinho de vir fazer-lhe companhia.
— Não precisa — Jacob respondeu arredio, e quando viu que ela se aproximava da varanda da cabana, Black se ergueu do apoio que seu corpo fazia no gradil da varanda, e olhou cuidadosamente de relance por cima de seu ombro.
— Como assim não precisa? Você é o meu alfa e não deveria ficar sozinho… Se a alcateia não te respeita, eu te respeito como meu superior e como alfa… — Bruh se aproximou sedutoramente dele e, relembrando o que ocorreu no quarto e como Black se incomodava com aquilo, saiu do esconderijo e apareceu na varanda, ao lado de Jacob.
— Ah, a Bruh está aqui?
— O que ela faz aqui?
— Boa tarde para você também, Bruh! Estou bem, obrigada! — respondeu de forma jocosa, estendendo a Black a outra caneca de café cheia.
— Jacob? — Ateara insistiu, contrariada e ignorando a presença de . — O que ela faz aqui quando todos estão fora?
— Eu te disse não estou sozinho. — Bruh deu alguns passos para trás, encarando e começou a se sentir raivosa. Jacob rapidamente se pôs à frente de , pois como a menina ainda era nova com o controle da transformação ele temia que ela pudesse machucar .
— Vai para casa, Bruh! — falou firme, mantendo o corpo de atrás do seu e a mais nova respirava de forma descompassada e a raiva era expressada em cada gesto dela. — Bruh! Anda logo! Se acalme e vai pra casa! Não me faça te punir!
A adolescente virou-se de repente para o caminho de volta à mata e saiu correndo para longe.
— Obrigada, Black… Ela vai ficar bem?
— Tudo bem. Não se preocupe, ela vai dar um piti, mas vai ficar bem…
— Desculpa, eu não queria causar problemas para ela… — continuou encarando o lugar por onde a mais nova saiu, sentindo pena da garota.
Black, no entanto, tirou os olhos da mata, aliviado e encarou com um riso de zombaria sobre Bruh, ao dizer:
— Você precisa ficar mais tempo por aqui… Ela nunca se afastou tão rápido quando pedi.
— Você não é um pouco rude com ela, Black?
— Não. Sou muito compreensivo até… Ela é muito mimada, consegue ser pior do que a Leah foi com o Sam, e já sabe que a Leah é osso duro, não é?
Os dois gargalharam e ficaram conversando várias coisas diferentes por algum tempo, até que Jacob chamou para andar na praia. Eles não pretendiam entrar na água, mas foi caminhando um pouco à frente de Black e só então ele notou a tatuagem que ela tinha atrás do ombro esquerdo.
— Por que será que eu não reparei nisso antes? — ele perguntou.
— Talvez porque eu nunca deixei exatamente à mostra? E quando eu estive de camisola naquela noite… Bem, estava escuro e…
— E você ficou com medo do lobo mau e já foi se enrolando nos lençóis. — Ironizou Black, fazendo parar de andar e dar um soquinho em seu braço. — Mesmo assim, é estranho que eu não tenha notado.
— Estranho por quê? Você fica espiando meu corpo, é? — brincou o deixando sem graça dessa vez.
Jacob desconversou e pigarreou. Parou de caminhar e tocou no ombro dela, tateando as linhas da tatuagem, observando melhor.
— Que oportuno… Um indígena tatuado no ombro?
— É… Um Cheyenne. Dos meus antepassados.
— Por que de repente você surge tão perfeita em nosso caminho? — Black perguntou suspiroso, depois de se pôr ao lado de , a encarando.
— Eu não sou perfeita, Black…
— Tente me provar o contrário qualquer hora.
— Você é que não tem percebido, mas se analisar bem…
— Eu te analiso muito bem — o rapaz disse a interrompendo e se instaurou um silêncio enorme entre eles. — E parece cada vez mais que você tem um propósito aqui, mas… Será que você pode me contar um pouco mais da sua história algum dia?
— Posso, não hoje. Está escurecendo e acho melhor eu ir.
— Já aviso que não vou desistir disso.
— Estamos quites, porque eu também não vou desistir de descobrir muitos mistérios que você tem, Jacob Black!
Jacob sorriu depois de fazer o gesto favorito dela: aquele de olhar para baixo, lados e gesticular palavras tímidas, dessa vez, não pronunciadas.
— Vamos voltar! Eu deixei meu casaco no seu quarto…
Ainda mais cúmplices, um tanto mais amigos e até mais íntimos, os dois subiram de volta à reserva, conversando, sorrindo um para o outro e com uma aura cheia de outras intenções ainda não nomeadas. Black levou-a de novo até seu quarto, e quando se abaixou para pegar o casaco na cama dele, Jacob repetiu o ato e fez suas mãos se tocarem. Os dois sentiram um choque elétrico percorrer seus braços, e se empertigaram ao mesmo tempo. Black pegou o casaco das mãos dela, foi até as costas de , e silenciosos, eles apenas sentiam aquela atmosfera nova, aquele calor crescente entre si. fechou os olhos sentindo as mãos de Jacob passando por seus braços vestindo-lhe o casaco, até que os dois se encararam frente a frente.
— Obrigada.
— Não há de quê.
— Eu… Acho que já vou então…
— Antes… — Ele se aproximou devagar, mais uma vez, e tocou o rosto dela. Seus olhos se encaravam em expectativas e Jacob fechou os olhos rompendo o contato visual e a abraçou, afundando seu rosto na curvatura do pescoço de . Cheirou os cabelos dela e a apertava forte em seus braços. — Você disse para eu não a privar de me abraçar…
— Não mesmo… — respondeu também o abraçando.
Delicadamente, Black puxou mechas do cabelo de e afastou do pescoço nu dela, dando ali também outra fungada.
— Você tem um cheiro… Tão…
— Os cheiros guardam as memórias. Eu lembro — falou um pouco desconcertada e então ele riu jogando seu peso cada vez mais ao corpo dela, agora com um pouco menos de atmosfera sedutora.
— As melhores lembranças guardam os cheiros… É o contrário. — Ele riu de como quebrou o clima.
— Dá no mesmo.
Depois da resposta dela, os dois saíram e caminhou até seu carro, só então notaram que Bruh nem o percebeu estacionado à entrada da reserva debaixo de uma árvore, mesmo que ela tivesse surgido da região contrária.
— E aí, vai dormir na porta da minha casa hoje? — riu zombando ao perguntar sacana para Jacob.
— Não, mas quem sabe se você me convidar…
— Convite feito. E não precisa ser na porta.
Black fechou a porta de motorista por onde ela entrou e lançou a ela um riso sedutor, no mesmo momento em que ligou o som do carro e os acordes de “The White Stripes – Seven Nation Army” começou a tocar.
— Ousada, motoqueira e rebelde? A que veio me ver hoje está brincando com fogo…
— Se eu tivesse medo de brincar com perigo eu não me meteria com os lobos, não é? Se decidir, bata na porta. Só vou ficar devendo o pote de ração dessa vez… — Ela zombou mordendo os lábios e dando partida da ignição.
— Engraçadinha… Não me provoque.
Jacob queria dar a ela outra resposta mais ousada, porém, sentiu que as coisas estavam mudando rápido demais. Apenas se afastou acenando e viu que o carro dela acelerou com uma motorista de sorriso largo. voltou para casa radiante e se sentindo diferente de tudo o que ela já havia sentido desde que chegara a Forks. Naquela tarde, Jacob e ela deram um salto de quinze andares na sua relação sempre tão… Enigmática.
Capítulo Treze - Uma indígena muito próxima
Os trabalhos estavam cada vez mais agitados, e após a descoberta feita por sobre a planta encontrada na pescaria, ela dedicava seu tempo cada vez mais ao laboratório e à botânica. Em uma dessas tardes solitárias, recebeu um lindo buquê de flores, porém, sem cartão ou identificação. colocou as flores em um jarro bonito e passou a contemplá-las todas as tardes se perguntando quem as teria enviado. Uma semana se passou e ela dedicou-se cada vez mais aos seus estudos e ao planejamento da construção do laboratório, e não descobriu quem lhe endereçou as flores, porém, desconfiava, ou melhor, torcia para que fossem de Jacob.
Desde que Hernando e Julian fizeram a proposta naquele jantar, pensava no seu laboratório. Engajou-se em escolher e planejar da cor das paredes até a localização onde ficaria. Uma noite, estava a bióloga na sala desenhando um esboço do que ela desejava ser a planta da construção, quando observou uma sombra humana refletida no chão ao seu lado. Assustada, rapidamente olhou para trás, mas não havia ninguém dentro da casa. A mulher respirou fundo e encarou a porta e, por baixo dela, viu novamente uma sombra. Alguém aparentemente estava de fato em sua porta, e parecia disposto a entrar na casa a qualquer instante. Por sorte, o celular de estava em seu bolso e ela sacou-o já telefonando para Jacob. Ela estava morrendo de medo e, enquanto o aguardava chegar, foi atrás de algum objeto que permitisse que ela se defendesse. Todos os noticiários estranhos e misteriosos que havia lido sobre Forks e Kalil passavam em sua mente e ela tinha cada vez mais raiva por ter comprado aquele casebre.
se manteve acuada dentro de casa, espreitando agachada ao sofá de sua sala por qualquer movimentação estranha. Quando Jacob chegou, a mulher escutou alguns rosnados altos. “Seria Embry?”, pensou ela. Mas logo tirou aquela hipótese de sua cabeça, afinal, ela poderia jurar que daquela vez o vulto era de um humano. Não havia como ser Embry transformado. Black bateu na porta minutos depois, cerca de uns vinte minutos depois dos rosnados, e tudo já estava silencioso. Ainda assustada, caminhou até a porta para espiar quando ele bateu, deixando-a mais apavorada.
— ! Abra, sou eu, Jacob!
Assim que reconheceu a voz do quileute, abriu a porta com rapidez e se jogou contra o corpo forte e grande de Black. Tal como ela, Jacob também a abraçou de um modo protetor e angustiado, parecia preocupado em a proteger. Sem dúvida, não era Embry ali para deixar Jacob naquele estado.
— Quem era, Jacob?
— Vamos! Suba e faça uma mala, vou te levar para a reserva!
— Por quê? Quem era, Jacob?
— Era uma… Um… Eu não posso lhe dizer agora. Vamos logo, porque eu estou sozinho, Sam me acompanhou com Paul, mas eles já não estão aqui.
— Qual o problema de você estar sozinho? É muito perigoso?
— … Por favor, sem perguntas por enquanto.
Juntos, eles subiram ao quarto dela e Jacob a ajudou a preparar uma bagagem pequena com algumas roupas, itens pessoais muito necessários e, claro, as pastas de trabalho de , e seus documentos. Mal a mulher chegou à reserva, notou que todos estavam aguardando a chegada deles. Pareciam recém-reunidos e ansiosos. Embry, entre todos eles, era o único que parecia não ter saído da reserva para a mata. Os outros estavam ofegantes, como se tivessem realizado uma ronda noturna. Ele se apressou a ir de encontro a logo que ela desceu do carro, e a puxou urgente em um abraço acolhedor.
— ! Como você está?
— Muito assustada. Não era você, não é? — ela perguntou encarando o olhar aflito do amigo, que apenas acenou indicando em silêncio que não foi ele o motivo para algo ter aparecido em sua casa.
Sue dispôs-se a hospedar em sua cabana aquela noite, entretanto, a filha mais velha a encarou levantando a sobrancelha de um modo cúmplice e Billy, compreendendo o que Leah estava evitando, disse para dormir em sua casa, afinal eram apenas Jacob e ele.
— Tudo bem por você? — perguntou a Black, ainda um pouco sem graça após o último encontro deles.
— Claro, não é como se você não tivesse me colocado para dormir no chão antes — ele zombou tentando soar mais ameno.
Ao entrar em sua cabana, Black levou as malas dela para seu quarto e os dois se olharam um tanto divertidos pela ironia que estava sendo aquele “ir e vir” entre eles.
— Deja vú? — perguntou Black quando notou a garota paralisada em seu quarto encarando a cama dele.
— Deja vú — ela afirmou sorrindo.
— Pode tomar um banho se quiser.
— Obrigada, mas já estou limpinha. Vou apenas trocar de roupa!
Ela sorriu e saiu em direção ao banheiro da casa, segurando uma muda de roupa que puxou de dentro da sua pequena mala, e retornando para o cômodo, viu que Jacob havia preparado a cama para ela se deitar e estava ajeitando suas coisas no chão.
— Black, de novo não! — se aproximou do rapaz, tentando evitá-lo de forrar o edredom no chão. — Eu não posso concordar que você mais uma… — Jacob calou a mulher colocando a mão em sua boca de forma gentil.
— Eu jamais a deixaria dormir no chão. É anti-cavalheiro!
— Mas não é certo você dormir no chão! Eu posso dormir lá no sofá da sala!
— Está com fome? — Ele desconversou.
— Um pouco.
— Eu vou jogar uma água no corpo, mas fique à vontade na cozinha. — Jacob saiu e em seguida voltou advertindo a ela: — É sério, , fique confortável para fazer o que quiser. Sem frescuras. Você é de casa.
A mulher sorriu agradecida e minutos depois estava na cozinha dos Black, tentando preparar uma pequena bandeja modesta com algum lanche para dividir com Jacob. Encontrou a chaleira de Billy sobre o fogão, encheu-a de água e notou que havia algumas latas de ervas para chá sobre o armário. escolheu camomila para que, de alguma forma, seu susto e seus pensamentos se acalmassem, e pegou também algumas torradas prontas que estavam no armário.
— Eu me sinto muito estranha de estar mexendo na cozinha do senhor Billy… — riu ao sussurrar para si, achando estar sozinha.
— Bobagem… Considere esta a sua casa — Billy falou com sua voz tão trovejante quanto a do filho, a pegando de surpresa e fazendo a garota dar um pulinho, ele sorriu. — Te assustei?
— Um pouco. Eu ainda estou sob o efeito letárgico do medo.
— Bem, o que aconteceu antes de você chamar o Jacob?
— Tive uma sensação de estar sendo observada dentro da sala, mas não tinha ninguém dentro da casa comigo. Não teria como, eu havia trancado tudo e saberia se alguma movimentação tivesse acontecido no andar superior. Mas quando olhei para a porta… Parecia mesmo haver alguém na varanda, Billy. Eu fiquei tão assustada que eu nem me lembrei de ligar para o Charlie que mora tão perto! Eu só… — sentiu a bochecha ruborizar um pouco ao se dar conta do que ia dizer ao mais velho, pigarreou e concluiu: — Eu só pensei no Jacob.
— Fez bem em chamá-lo. Foi melhor do que chamar ao Charlie.
— Quem ou o que era, Billy? Por que Jacob não quis contar para mim?
— Tudo ao seu tempo — Billy respondeu arredio e olhou para a bandeja e a chaleira.
— Desculpa, eu não jantei e o Jacob provavelmente está com fome. Ele disse que eu poderia vir e mexer na cozinha, então estou furtando parte do seu chá de camomila e torradas. Aceita? — justificou-se e riu fazendo Billy rir também.
— Eu aceito o chá, mas não precisa se desculpar. Me sinto feliz em ver você e o Jacob se dando cada vez melhor ao ponto de cozinharem um pro outro.
— É, a gente… — deixou a frase murchar antes de suspirar. — A gente tem se dado bem. Quero dizer… Eu não poderia negar a minha amizade, e um pouco das próprias torradas para um cara que vem dormindo na minha porta há meses, não é?
Billy deu uma gargalhada humorada.
— Brincadeira, Billy… Eu sou muito grata ao carinho e cuidado de todos vocês, embora esteja descobrindo tantas coisas… Es… Estranhas, vai! Tudo bem se eu disser isso?
— Claro! Não esperamos que você nos achasse normais ou até mesmo acreditasse em nós de primeira, mas você acreditou e está lidando com tudo com muita consciência. É como se você também soubesse disso tudo dentro de você há muito tempo, não é? — assentiu silenciosa. — E isso lhe torna muito mais especial, .
— Obrigada, Billy. Gosto de estar aqui, gosto de ser tratada como uma de vocês — ela confessou sincera, e um pouco tímida.
Voltou a preparar a bandeja, e o velho Black se manteve em sua cadeira a olhando. Ele observava o quanto caía bem a figura da jovem ali, em sua cozinha, como uma filha que ele não tivera.
— Traga mais torradas, a alcateia está aguardando você e Jacob na varanda. — Ela concordou e viu que o anfitrião saiu com sua cadeira de rodas silenciosa pelo assoalho da sua cabana.
aumentou o chá e a quantidade de torradas e seguiu para varanda, onde os quileutes estavam reunidos, incluindo Sue. A matriarca Clearwater ajudou a dispor o lanche e as xícaras à duas banquetas de madeira.
— Não sei se o meu chá é tão bom quanto o de Billy, mas sirvam-se. Eu garanto que ao menos ruim não é.
Enquanto serviam-se, Leah e Embry mantinham-se próximos, calados e distantes de . Ela percebeu, assim como percebeu que Bruh Ateara também estava ali, pois agora ela morava junto ao clã, naquele lado da reserva, na mesma cabana que Quil, Sam, Emily e Paul. Seth contou para , algum tempo depois, que Quil faria a própria cabana para que ele e a irmã pudessem morar e tentaria trazer Paul também, já que Sam e Emily precisavam de mais privacidade. Estavam há muito tempo juntos, era hora de começarem a própria família.
— , Jacob falou que você queria nos contar um pouco mais da sua história. — Black sorriu travesso e divertido, assim que o pai o dedurou na frente de todos.
— Ah… É. Pois é, Billy…
— E ele me disse que você tem um Cheyenne tatuado no ombro. — Seth completou a fofoca, porém, dessa vez recebendo um olhar de reprovação de Jacob.
— Ele é péssimo com segredos, foi você que me avisou, lembra-se, Jacob? — comentou para Black, fazendo com que ele sorrisse junto a ela, e os dois sustentaram um olhar de cumplicidade. Não perceberam que estavam todos prestando atenção neles, até que olhou para Sue e viu como o restante escondia sorrisos e fingiram não notar que algo entre ela e Black estava diferente.
— Fofoqueiro, eu? — Seth desconversou para tirar o foco dos amigos. — Bem, não fui eu quem viu a sua tatuagem e veio correndo me contar!
— Não saí correndo pra te contar nada! Você que veio me perguntar por que eu estava… — Black, irritado, quase confessou na frente de todo mundo que, numa tarde pensando em e suas similaridades com seu povo, ficou risonho a sós, ao ponto de Seth lhe perguntar “por que esse sorriso e essa cara de bobão?”.
— Sorrindo sozinho e com cara de bobo. — Seth o entregou, e Jacob lhe jogou um chinelo. — Agora sim eu fofoquei! Ele estava pensando em você, !
Jacob negou tímido para ela e desviou o olhar não só dela, como de todos os outros. Bruh não evitou a cara feia e levou um cutucão de seu irmão.
— Bem, fofocas ditas, sim, Seth, eu tenho uma tatuagem de um cacique Cheyenne no meu ombro esquerdo.
— Podemos ver? — Quil perguntou.
assentiu e conferiu se estava de camiseta sem mangas por baixo do casaco de moletom, e estava. Ela puxou seu casaco pelo braço e afastou os cabelos soltos para seu lado direito, deixando exposta a tatuagem delicada do contorno traçado em um rosto. sentou-se de costas para o círculo de pessoas, para que todos pudessem ver sua tatuagem. Sue, um pouco surpresa, se levantou de seu banquinho e aproximou-se de , tocando o desenho.
— É alguém em especial? — ela perguntou tendo os olhares cúmplices de Billy para ela.
— Este é meu avô. Lembram que eu contei que ele era um descendente de Cheyenne? Não tenho certeza disso também, porque eu não sei qual a tribo natural dele, se era mesmo um Cheyenne ou se apenas conviveu com eles, mas era isso que a minha tia Pearl me contava.
— Seu… Avô? — Sue, repetiu quase em um sussurro encarando Billy com uma expressão ainda mais surpresa, ela estava assustada.
continuou a contar e foi a vez de Billy se aproximar para ver.
— Minha tia… Ela tinha este desenho dele… Contava que ele passou muito tempo em outra tribo. E foi nessa outra tribo que a tia Pearl nasceu, eles viveram ali até os cinco anos de idade dela, depois todos foram para o Brasil. E foi por isso que o meu pai nasceu lá… Dentre os coxiponés. Se lembram que eu havia contado sobre isso também?
— Sim. — Assentiram, uníssonos, Billy e Sue.
— Tia Pearl me dizia que como ela era muito pequena, pediu uma recordação do rosto dele. Meu avô era bastante talentoso com desenhos, projeções, e o próprio fez um autorretrato que ele copiou de seu reflexo em um rio e entregou a ela. Muitos anos depois, minha tia levou a caricatura a um artista e pediu que ele a aprimorasse recriando a imagem em um quadro. E aí ela me deu a imagem da folha. Com dezoito anos eu fiz a tatuagem.
Enquanto escutavam, os quileutes mostravam-se atentos e curiosos, não só pela história de , mas pela reação estranha de Billy e Sue que pareciam ver algo totalmente inusitado diante de si.
— A Bella, desde que se mudou para Forks, não se comunicava muito comigo… Quer dizer, não diante das proporções que éramos uma para a outra, mas houve um tempo em que ela me mandava muitos e-mails contando sobre vocês. Ela dizia que depois que passou mais tempo aqui, lembrava-se de mim e do quanto La Push parecia ser “a minha cara”. Apesar de distante, apenas lendo, eu sentia que alguma coisa realmente mágica existia entre vocês… Algo que me deixava ansiosa em conhecê-los. E bem… Nossa! Vocês são lobos e homens!
— Realmente, ! Todos nos assustamos com a forma como você se encaixa nas nossas tradições — pronunciou Quil.
— Como assim?
— Como se você fosse uma de nós, perdida por aí — concluiu Paul.
— Acho que Bella acreditou que eu me interessaria muito em conhecê-los… E ela não errou.
— Pelo menos alguma coisa certa aquela garota tinha que fazer, não é? — Leah se pronunciou finalmente, após se manter em tanto silêncio, e fez com que os outros soltassem risinhos de deboche.
mais uma vez sentiu que ainda precisava de respostas sobre Swan. Será que Charlie lhe contaria agora que eles já tinham algum contato a mais?
— Você também havia dito sobre seu avô conviver em outra tribo… O que você sabe sobre isso, ? — Leah perguntou como se escutasse Sue e Billy mentalmente.
— Não sei muita coisa… A tia Pearl… Engraçado, ela tinha um livro que… — retesou seu conto. Ela abriu a boca, pega pela surpresa e encarou a todos, com olhos esbugalhados, surpresa.
— Quê? — indagou Billy.
— Tia Pearl tinha um livro de histórias, lendas sobre homens que se tornavam cães gigantes. — ficou ansiosa ao se lembrar e começou a dizer um pouco mais urgente: — Minha nossa! Ela me contava algumas histórias antes de dormir! Agora eu… Me lembro um pouco do livro… Havia desenhos… Tinha alguma coisa sobre uma profecia, mas… Droga, eu era muito pequena e não me recordo de mais nada.
— , sua tia te deu este livro? — Billy perguntou.
— Não. Das coisas que estão guardadas e que pertenceram a ela, o livro… Realmente nunca mais vi. Ela o escondeu de mim, eu acho. Eu não me lembro de vê-lo desde os meus oito anos. Mas… Nas poucas vezes que conversamos sobre isso, tia Pearl me contou que essa tribo onde conviveu com o vovô até cinco anos de idade, era mágica. Tinha segredos que ela e o pai adoravam. Ela não entendia nada, mas quando cresceu e releu o livro de lendas que o próprio pai dela fez, compreendeu tudo. Ela dizia que vovô, de todos os lobos, era o mais sensível… — abriu a boca chocada. — Minha nossa…! Espera aí! Ela… Agora eu entendo… A tia Pearl não estava me contando fantasias, não é? Era a minha história! O meu avô não era só um Cheyenne. Agora eu entendo… Ele era um lobo! Eu achava que era uma forma de apelido de tribo, mas… Céus…
— , se acalme. — Jacob se levantou, ansioso, afinal, a aflição de era palpável entre todos eles. A mulher segurava os próprios cabelos com olhos arregalados encarando o chão, como se em uma epifania descobrisse sua própria origem. Então, Black se aproximou de e a abraçou tentando a confortar: — Não fique nervosa, essas podem ser apenas coincidências…
— Billy, há chance de o meu avô ser um quileute? — a mulher perguntou e até mesmo Bruh, que desprezava qualquer coisa sobre , estava atenta e extremamente curiosa pelo desfecho daquilo.
— Não sei afirmar, … Este rosto…
— Faria sentido! — exclamou após notar que Billy e Sue se encaravam em silêncio como se quisessem chegar a alguma conclusão, e contou um pouco mais: — Faria muito sentido com algumas coisas… Digo, não só as histórias que tia Pearl contava quanto às manias que ela e o papai tinham. Meu pai era um tanto… Esotérico. Ele e tia Pearl tinham um certo ar pajeísta, trejeitos muito próximos do que vi no Brasil entre os coxiponés, mas também muito próximos do que vi entre vocês. Essa coisa, por exemplo, de vocês ficarem andando sem roupa por aí num frio do cacete!
Os garotos riram divertidos da desbocada e um tanto ansiosa. Ela, em contrapartida, não prestava atenção em nada, apenas ia contando e narrando as coisas que vinham em sua mente, como se estivesse lendo-as em um livro.
— Eu sempre reclamei com tia Pearl e com papai do quanto eles não sentiam frio, e apesar de vivermos em uma cidade quente, algumas ocasiões eram estranhas para mim. Sem falar que… Agora me lembrei também de algumas tradições que os Coxiponés tiveram comigo quando meu pai me levou ao Brasil… O selo no meu umbigo, as pinturas na minha cabeça… Os Whitton também tiveram um ritual parecido. Será que aquilo tudo teria a ver com o meu avô ser um lobo? Meu pai era um lobo como meu avô? Eles seriam quileutes? Ou eles seriam alguma coisa parecida com o que vocês têm sido?
O silêncio geral foi cortado apenas pelo suspiro pesaroso de Billy, que imediatamente perguntou, calmo, a Sue:
— Sue, o que você acha? Você tem uma memória muito melhor do que a minha para feições… E me parece que reconhece este rosto, não é?
— É ele. Eu tenho quase certeza — Sue afirmou e se aproximando de novo de , a afastou do abraço de Jacob para olhar mais um pouco a tatuagem. A mulher passou as mãos no ombro da jovem absorvendo e observando meticulosa cada detalhe do desenho. — Eu não esqueço o rosto dele. Satade Ratara.
— Satade Ratara — Billy pronunciou o nome repetido por Sue, como uma sentença.
— Sim! Esse é o nome do meu avô, mas eu não acho que falei… — arregalou os olhos e começou a chorar emocionada.
— Você não contou, . Nós realmente conhecemos o seu avô — Sue informou emocionada e acariciou o rosto de . — Foi graças a ele que eu aprendi muitas coisas e inclusive entendi melhor por que eu… — Olhou para Seth e Leah. — Me tornei o imprinting do pai de vocês.
— Ele conviveu conosco, . Satade não era um quileute nem um Cheyenne. Não tenho certeza de qual era a tribo em que nasceu, mas ele era um nômade. Conhecemos o seu avô quando ainda éramos bem jovens, Sue e eu. A mãe dele era uma Cheyenne e o pai um Quileute.
— Uma Cheyenne de nome Shauna chegou à nossa tribo, antes mesmo de Billy e eu nascermos e se apaixonou por Isaac Akira, um quileute. Akira era o alfa da tribo e partiu deixando-nos para viver com sua mulher na tribo Cheyenne…
— Akira? O lobo desertor é bisavô da ? — Sam e Jacob disseram surpresos. Aquela história era repassada a cada alfa da tribo pra que nunca mais se repetisse.
— … — Billy a informou rapidamente. — Se não estivermos errados, você é mesmo bisneta do lobo traidor de nossa tribo. Como sabe, um alfa não pode abandonar a sua alcateia, a menos que tenha alguém para repassar o posto. Nós ficamos sem um líder por muitos anos desde a partida de Akira. Foi o pior tempo de nossa tribo… A ausência do alfa nos coloca em… Vulnerabilidade, assim vamos dizer.
— Mas Sue me disse que Sam assumiu ser o alfa no lugar do Jacob até que ele estivesse pronto. Por que não foi assim com este Akira?
— Porque não havia outro lobo líder… A cada geração quileute, nascem ao menos dois lobos fortes o suficiente para serem alfas, mas a liderança segue uma hierarquia sanguínea, depois dos Akira, a linhagem pertenceria aos Black, mas… a tribo aguardava o herdeiro de Efraim Black nascer para tomar o posto. Em nossa família, antes de mim, todos os alfas despertados eram do clã Akira. Algo como os nossos anciãos chamavam de “a maldição de Efraim”. Algumas gerações nasceriam sem o sangue do alfa, e passaram a vir em outro clã. Quando Isaac Akira partiu, nós caímos em muita desgraça, e acreditávamos que não haveria um Black alfa de novo, até que eu despertei.
— Billy manifestou sua transformação aos catorze anos. Foram treze anos de perdas entre nós, muitas baixas humanas em Forks e uma década de nosso povo se escondendo dos… Perigos. — Sue contou. — Mas quando Billy retomou o poder do sangue dos Black, as coisas voltaram ao normal e nós quileutes nos reestabelecemos.
— Seu pai e eu fomos amigos, eu acho… — Billy informou para .
A garota tinha um vinco na testa assim como todos os outros.
— Shauna… Shauna Ratara? — perguntou a si mesma e Sue e Billy se entreolharam como se assentissem que poderia ser aquele o nome da Cheyenne da história que ouviam.
— Não temos certeza o nome da Cheyenne. Apenas sabemos que é Shauna.
— Papai contava que a avó dele se chamava Shauna Ratara. Mas ele não se lembrava do nome do avô. E que seu pai, Satade Ratara, era um descendente de Cheyenne que um dia se apaixonou por Serena Araybá… Uma indígena brasileira. A história de como meus avós se conheceram nunca me foi passada, mas… Eu sei que sou neta de Satade Ratara e Serena Araybá, e filha de Hana e John Mani Ratara. — pronunciou e quando Billy escutou o nome do pai dela, ele sorriu para Sue, que sorriu ainda mais largo do que ele. Billy concluiu:
— É… eu conheci o seu pai. E conheci seu avô por um curto tempo. Depois dos Cheyenne do Norte terem sido dizimados, Satade, filho de Akira, retornou à tribo. Eu tinha quinze anos e já respondia como alfa. Os anciãos do clã Ulley e Black me treinavam, mas… Há muito não sabíamos exatamente como lidar com um alfa, então eu vim aprendendo a ser um lobo líder um tanto na prática. Até que Satade surgiu e partilhou conosco seus ensinamentos deixados por Akira. Apesar de não ser um alfa, Akira passou muitos segredos de clã ao filho. Seu avô surgiu quando já era um adulto, e seu pai era um pouco mais jovem que eu… A sua tia, ela…
— Uma bela jovem por quem Billy se apaixonou! — confessou Sue, rindo. — Claro, antes de conhecer a mãe de Jacob. Pearl… É verdade, houve uma jovem Pearl por aqui que foi minha amiga no curto tempo em que conviveram conosco.
— Por fim, Satade ensinou muitas coisas a nós. Me ajudou a treinar, e seu pai participava dos treinos e ensinou a jovem Pearl e Sue sobre muitas plantas. Suponho que tudo o que você aprendeu foi com sua tia, não é?
— Sim… Apesar do pouco tempo que tive com ele, papai me ensinou algumas coisas, mas foi a tia Pearl que me ensinou muito mais… Eu perdi minha mãe no parto, não a conheci.
— Sentimos muito — Sue confortou.
— Bem, sobre seus parentes, eles conviveram conosco por pouco tempo, e partiram um dia, sem dizer para onde. Foi quando nunca mais vimos seu pai e sua tia e nem mesmo o velho Ratara.
— Eu sabia que tinha algo em você… — Sue falou maravilhada, emocionada, e puxando para um abraço.
Os meninos riram da feliz coincidência.
— Isso explica muita coisa! Afinal, alguém tem mesmo um pé aqui! — disse Quil divertido enquanto o rosto de Bruh ficou avermelhado e raivoso.
— Pois é! Agora sabemos a razão de nos sentirmos tão íntimos por você quando a conhecemos, . — Paul abraçou a mulher como se lhe desse as boas-vindas.
— Eu sempre soube que era uma de nós! — Seth sorriu alegre.
— Cala a boca, Seth. Quem sempre disse isso é a Sue! — Sam bateu na cabeça do mais novo.
— E eu sempre concordei! Até já tinha dito a não é, ?
— É verdade, o Seth já dizia que eu tinha alguma coisa quileute… Mas acho que não só ele, como Sue e Jacob sentiram também. Na verdade, eu sempre me senti ligada a vocês. E isso tudo faz muito sentido agora…
— Estou curioso com uma coisa… Qual é o seu nome paterno? — Jacob do nada abordou uma pergunta que naquele instante não soou ter nexo algum para .
— Mani . Por quê?
— Por que nunca se apresenta pelo nome do seu pai?
— Tenho muito orgulho do nome dele, não pense o contrário! Não há um motivo, desde a escola sempre fui apresentada por .
— Lembra que eu procurava um nome para só eu chamá-la? — Jacob falou a encarando profundamente nos olhos com um sorriso admirado, o que deixou a mulher constrangida pela atitude e pela intimidade que ele demonstrava com ela diante os olhares de todos.
— Lembro, Black… O que isso tem a ver?
— Mani. — Ele sorriu de um jeito diferente de todos os que já tinha mostrado até ali, para ela ou na frente dos outros. — Minha Mani.
sorriu enviesado, um tanto acanhada e surpreendida. Não sabia o que era, mas alguma coisa boa estava acontecendo entre eles. Jacob segurou as mãos de , ambos sem saber dizer desde que momento e aquele toque, o sorriso e olhares um do outro, apenas fortaleciam as borboletas que faziam revoada no estômago dela. Não puderam ficar muito tempo se deliciando com a surpresa que eram as novas sensações, porque Paul e Seth, gozadores, começaram a soltar uivos salientes de zombaria, atraindo não só a atenção dos atores principais da cena, como os risos de todo o público restante.
— Lobos no cio… — brincou olhando sacana para Seth e Paul, zombando-os de volta.
— Ela sabe ofender! — brincou Paul surpreso.
— Você não sabe de nada! — retrucou Jacob explorando cada vez mais olhares maldosos e piadas.
De repente, entre os muitos risos e euforia de todos, Sam surgiu transformado à frente de , rosnando, a defendendo. E, à frente dele, havia outro lobo em pronto ataque. correu os olhos em volta e estavam em guarda para se transformar caso fosse preciso: Seth, Quil, Leah, Paul e, ao seu lado, Jacob, com o braço à frente do seu corpo também a protegendo. Billy impediu Embry de tentar aquele esforço.
pensou um pouco encarando a cena e percebeu o que havia ocorrido: Sam estava protegendo ela de Bruh. A loba negra à frente de Sam, parecida com ele, era Bruh Ateara. A menina tinha problemas em controlar a raiva e depois do que aconteceu entre Jacob e , já era de se esperar que a intensidade do ciúme fosse a descontrolar. Embry tomou pela mão a guiando para dentro da cabana de Black.
— Fique aqui. Eu vou lá ver como está a situação.
— Espera, Embry!
— O que foi? Você está bem?
— Sim, mas fica aqui. Eu… Quero conversar com você.
— Sobre o quê? — Embry ficou um pouco incomodado com o pedido.
— Você e a Leah estão me evitando desde que cheguei. O que aconteceu?
— Impressão…
— Não adianta mentir, Embry. — o interrompeu.
— Você quer mesmo falar disso agora?
— Eu não pedi para conversar depois, pedi?
— Senta aí. — Embry, por fim, olhou para ela como se não quisesse que aquele momento chegasse: — Eu preferia que Leah estivesse conosco…
— Não, Embry. Se for preciso, ela fala comigo depois. — Impaciente, estava sendo um tanto direta. — Olha, desculpe, mas não faça rodeios, tudo bem? Você sabe que gosto das coisas bem claras.
— Você se lembra de quando estávamos na reserva Whitton e conversamos na tenda?
— Claro que sim.
— Lembra quando te contei sobre o imprinting de um lobo? — Imediatamente surgiu à mente de a conversa daquele dia.
— É eu me lembro, sim.
— A Leah teve um imprinting há algum tempo… Por isso ela voltou para nos visitar… — Ele olhou para de um jeito óbvio, indicando quem teria sido o imprinting de Leah.
— Por isso que ela não gostou de mim no início!
— Depois daquela noite, eu passei aquele tempo na reserva Whitton e ela estava comigo. Eu também tive um imprinting há pouco tempo, . E foi com ela, só então a Leah rompeu a barreira do segredo e me contou.
— Entendi. Você e Leah são o imprinting um do outro.
— Nós íamos te falar, mas…
— Por que não me contaram? Quer dizer… Nós não temos mais nada um com o outro, não é?
— Sim, mas achamos que você poderia ficar magoada… Pelo menos era o que eu achava até alguns minutos atrás, quando todo mundo percebeu o óbvio.
— Como assim?
— Sabe… A Leah comentou comigo, mas eu não acreditei que você teria entendido tão cedo o que eu te disse.
— Do que você está falando?
— Você e o Jake lá fora… Alguns minutos atrás.
— Como? Ah! Não! Não, Embry! Black é só um amigo, nós não temos absolutamente nada um com o outro…
— É… Eu disse a Leah que ela estava enganada. — Embry analisou com uma expressão de sabedoria para ver se ela tentaria manter uma mentira.
— O que exatamente você quis dizer com “não acreditei que você teria entendido tão cedo o que eu te disse”?
Embry não pôde responder, pois Black surgiu na sala da casa com os olhos arregalados e chamando por .
— Está tudo bem, ? — perguntou aflito.
— Sim, sim. E com a Bruh?
— Já está mais calma.
— Vou deixá-los conversando — Embry disse levantando e novamente ignorando a pergunta de , não sem antes sorrir e lançar uma piscadela para a amiga.
Assim que ele saiu, Black pigarreou e sentou-se ao lado dela no sofá.
— Desculpe por aquilo… A Bruh se sentiu provocada e eu deveria ter ficado atento.
— Relaxe. Não foi sua culpa.
— E desculpe por isso também… — Ele apontou para o lugar onde Embry estava e para : — Por ter atrapalhado alguma coisa.
— Não atrapalhou nada, ele só estava me contando um segredo.
— Lobos quileutes não têm muito como guardar segredo… É difícil, sabe? — Jacob falou fazendo um sinal de fofoca em seu ouvido: — Muitas vozes na cabeça.
— Não tem um jeito de bloquear?
— Parcialmente dá para esconder algumas coisas… São mais os pensamentos que a gente pode ouvir… — explicou e perguntou a ela de forma curiosa: — Então você já sabe do imprinting deles?
— É, isso explica aquela carranca da Leah, né? — sorriu e cutucou as costelas de Jacob com o próprio cotovelo: — Você poderia ter me contado que ela só estava defendendo o território dela! Aliás… Parece que todas as mulheres de Forks implicam comigo por causa de homem, até parece que eu sou uma devoradora deles…
— Bem, se é, eu ainda não posso dizer, mas com certeza você soa como uma ameaça para todas elas. Exceto Emily e Sue…
— Você disse “ainda”? — indagou com ousadia tirando sarro do que Jacob havia dito, e então ele mudou o foco do assunto:
— Todos já foram para suas casas, menos Sue e meu pai que ainda estão lá fora conversando. Você já quer ir se deitar?
— Preciso falar com Julian antes, acabei me esquecendo de retornar a chamada dele mais cedo, quando tudo aquilo aconteceu.
— Ok, eu já volto. — Black beijou a testa de e saiu de volta à varanda para recolher as xícaras e bandeja.
se direcionou ao quarto, mandou uma mensagem a Julian se desculpando da demora e perguntando se poderia lhe telefonar apesar da hora. O chefe correspondeu-a de forma afirmativa, e ela tratou de alguns assuntos sobre seu laboratório.
— Eu acabei as minhas anotações. Quero dizer, o projeto do laboratório está pronto. Como você disse-me que entraria em contato com a construtora que vocês contratam, eu liguei para dizer que por mim já está tudo pronto.
— Ótimo! Vou agendar a visita deles com você para segunda-feira que vem, pode ser?
— Claro!
— Já encontrou um terreno?
— É… Eu tenho pensado em algo em torno de La Push.
— Sério? Mas La Push não pertence à reserva quileute?
— Bom, é só uma ideia, eu teria que conversar com o pessoal da reserva, Charlie, prefeitura… Não sei. Eu gosto daqui, mas até segunda-feira estará resolvido. Prometo.
— Bem, se você não conseguir, avise para eu remarcar com a construtora. Eles irão exatamente para conhecer o terreno.
— Certo. Eu avisarei. E Julian… Muito, muito obrigada. A você e ao Hernando. Vocês não têm ideia de como têm sido importantes e generosos comigo.
— Nós apenas sabemos quem você é.
— E quem eu sou? — perguntou rindo amena, e achando o tom utilizado pelo irmão mais extrovertido, um tanto profético ou misterioso.
— Alguém com um futuro brilhante a quem nós queremos muito bem. Você tem grandes coisas à sua frente, .
— Obrigada. De coração, Julian.
— De nada. Não precisa agradecer. Fazemos o certo. Se não tiver mais nada a tratarmos, eu preciso desligar agora. Ash está chorando e chamando por mim… — Julian falou se referindo ao filho.
— Claro! Boa noite, Julian! Um grande abraço. Mande um beijo meu à sua família. — se despediu desligando sorridente e Jacob Black entrou no quarto.
— Boas notícias? — ele perguntou.
— Sabe… Forks tem sido tão… Não sei…
— Especial? Surpreendente?
— Os dois.
— Vamos dormir! Já tivemos muitas emoções para uma noite… — Black falou fugindo do assunto que ele sabia que uma hora teria de abrir para ela.
— Sabe que eu tenho perguntas, não é?
— Sei, mas… Por favor, pode me dar uma noite para me preparar? — Ironizou ele, e rebateu:
— Para pensar nas desculpas?
— Não. Elas não funcionam mais com você e, de qualquer forma, você já começou a descobrir muitas coisas… É só que eu quero me preparar para te contar da melhor forma o que aconteceu hoje em sua varanda…
— Certo, eu vou escovar dentes e já volto para nós mudarmos a pauta do assunto e começar a discutir essa bobeira de você dormir no chão! — saiu sem dar tempo de Black retrucar qualquer coisa.
De olhos fechados, com água gélida escorrendo pela face, dando a cada gota impressão de navalhas afiadas, lavou seu rosto e congelou seus pensamentos em um tempo atrás. Um tempo não tão distante:
“— Algo me diz que tem alguma coisa na reserva quileute esperando você, . Pode não ser Jacob, mas há algo ou alguém lá a sua espera”.
A premonição do senhor Carter veio em um flash rápido que desencadeou uma corrente de outros flashes seguintes:
“— Você deveria levar um pouco mais a sério as “premonições” do Sr. Carter. É só um conselho. Costumam funcionar.”
“— Jake tem esse hobby e ele andou se empenhando no seu carro dia e noite. Na verdade ele tem se empenhado com seu carro, sua casa… Há tempos não o víamos assim.”
“— . Você vai deixar eu te mimar um pouco ou não?”
“— Não preciso da sua aceitação ou favores. É você quem precisa daqueles índios… Olha para você. Totalmente dependente deles.”
“— É tão complicado, … Você não faz ideia de como eu gostaria de contar tudo o que sei, mas não posso. Eu estava te protegendo. Passei todas as noites possíveis dormindo à porta da sua casa.”
“— Eu sei como é triste e doloroso ver alguém que você tanto gosta se transformando em algo diferente… Em algo que você não gosta.”
“— Eu não entendia nada antes, mas agora entendo tudo… , você não veio aqui à toa… Você é muito importante para todos nós. Você é a chave de tudo…”
“— (…) , prometa para mim que você vai deixar a pessoa certa te amar? (…) você não acredita no amor, (…). O amor, na maioria das vezes, se manifesta imediatamente, , pelo menos é assim conosco, quileutes… E você tem que deixá-lo se aproximar de você (…). Tenha calma e confie na intuição do seu coração. Você é forte, garota, e muito especial.”
“— As melhores lembranças guardam os cheiros.”
“— Minha mãe estava certa… Você é mesmo uma de nós.”
“— Existem muitos mistérios dos quais você vai conhecer, . Por enquanto, você deve apenas saber o essencial sobre nós.”
“— Ela… Acha que há algo dentro de você que guarda o espírito de um lobo…”
“— Eu sou uma de vocês agora… Não sou?”
“— O que você sente quando ficamos perto assim? (…) Quando Bruh faz isso comigo… Eu sinto raiva. Não sei por que, mas eu não gosto da ideia de tê-la tão perto. Não é como quando ficamos assim, você e eu… Eu sinto-me bem desse jeito e você? (…) Isso tudo não te faz pensar que eu vou beijá-la ou algo mais? (…) Mas tenho medo, (…) Quando se fecha o coração e a alma para o amor… Nos enfraquecemos por muito pouco…”
“— Sim, mas não foi isso que me incomodou. Tem muitas coisas me incomodando há algum tempo desde a transformação do Embry.”
“— Tenho lido notícias antigas de Forks e não são os lobos os primeiros a serem acusados de assassinatos, principalmente no bairro onde moro.”
“— Por que de repente você surge tão perfeita em nosso caminho?”
“— Isso explica muita coisa! Afinal, alguém tem mesmo um pé aqui!”
“— Pois é! Agora sabemos por que nos sentimos tão íntimos de você quando a conhecemos, .”
“— Eu sempre soube que era uma de nós!”
se recordou de tudo aquilo atordoada, enquanto escovava os dentes e se encarava no espelho. Oscilações de sentimentos mútuos, variantes do medo ao desejo, da dúvida à certeza, da confiança à curiosidade. Ao sair do banheiro, ela ficou alguns minutos parada à porta do quarto de Black, afastando todos aqueles pensamentos e com uma única certeza: esclarecer o episódio ocorrido no início da noite na porta da casa dela o quanto antes. Chega de segredos, Black!
— Tudo bem ? — perguntou Billy quando se dirigia ao seu quarto e a encontrou no corredor.
— Sim! Eu só estou… Pensando. — Ela sorriu e ele balançou a cabeça, negativo e rindo, achando que a garota só estava hesitante à porta do quarto de Jacob por outras questões.
— Boa noite… — Ele virou sua cadeira entrando em seu cômodo e antes de fechar a porta terminou lhe dizendo: — Novata quileute.
Feliz em ouvir aquilo, sorriu abertamente se apoderando do sentimento satisfatório que foi reconhecer um pouco mais da própria história, da origem de seus antepassados. Ela realmente poderia ser uma quileute. Seu avô era um lobo! Ela poderia ser uma loba. No fim das contas, a anciã Whitton estava certa: havia algo dentro dela que guardava o espírito de um lobo.
Capítulo Catorze - Será que estou me apaixonando?
percebia que não se sentia feliz daquele modo, como quando estava perto dos quileutes, há muito tempo em sua vida. Depois de ficar cerca de cinco minutos pensativa e parada à porta do quarto, ela entrou no cômodo se deparando com a figura também pensativa de Jacob, escorado à janela observando a noite. deixou sua necessaire no móvel ao lado da cama e tentou se aproximar silenciosa, pé por pé, mas quando iria tocar o ombro de Jacob, ele se virou alerta e segurou a mão dela a surpreendendo.
— O que você está admirando lá fora? — ela perguntou.
— Na verdade não há nada que eu possa admirar lá fora.
— Claro que há! Tem belas coisas por aí e você sabe disso…
— Não consigo pensar em nada melhor para se admirar, se não esse momento — Jacob falou de forma baixa, acariciando a mão dela, que ele ainda segurava e sustentando um olhar fixo ao dela.
não estava reconhecendo aquele Jacob Black. Ele havia se transformado em outra pessoa tão rapidamente que a mulher se perguntava onde estava quando aquilo aconteceu. A forma como os dois se sentiam mutuamente interligados, não soava real dado o tempo curto em que se conheciam e na verdade, mal tiveram um contato comum para se conhecerem. Tudo entre eles era sobre Jacob escondendo os segredos quileutes enquanto a protegia, e indo atrás dele desesperada por suas respostas. Mas será que eram apenas as respostas para os mistérios que ela buscava em Jacob?
— No que está pensando agora, loba? — Jacob perguntou risonho ao percebê-la em seus devaneios.
— Bem… — Mentiu, para não entregar que estava pensando na sua “relação” com ele: — Sobre o dia de hoje. Meu avô era um lobo, e todas essas coisas…
Black sorriu e, ainda com a mão dada à dela, ele a guiou pelo quarto para que sentassem na cama dele.
— Você é uma loba, afinal. Por isso nos sentimos tão atraídos por você… — ele explicou dando de ombros.
— Atraídos? Como assim? — arqueou a sobrancelha em dúvida sobre que tipo de atração era aquela que Jacob se referia, se ele estava lhe dando alguma indireta.
— Quanto mais você entrava em nosso mundo, mais sentíamos que era certo. Tentamos te poupar de se envolver demais, mas todos nós sentimos… Algo como se estivéssemos magnetizados pela sua presença… Paul comentou comigo que era como se você fosse a alfa, e não eu. — Black riu se recordando da fala do amigo. — E eu compreendi imediatamente o que ele queria dizer, porque mesmo eu sendo o alfa, pressentia que deveria seguir você por onde fosse. Achei inicialmente que fosse sobre estar muito perto do seu cheiro, fazendo a vigília da sua casa, mas aí, todos os outros relataram que se sentiam iguais. Mesmo Sam, com quem você pouco teve contato. Então nós começamos a ficar curiosos por quais motivos trouxeram-na para nós e por que você nos era tão familiar. Quando a nova transformação do Embry aconteceu, foi o momento em que Sue e meu pai acharam que era melhor, mais do que te proteger, te manter por perto.
— Mas pelo que eu entendi, os Whitton acham que eu sou a razão pra provocar isso no Embry…
— Não, não — Jacob a explicou calmo e didático: — Não é a razão. Eles acreditam que Embry está destinado a isso, como qualquer ser humanimado como nós: assumir uma face mais selvagem e evolutiva… Sobre você, a velha Makaul dizia que havia um espírito, uma energia sua conectada à nossa, e que isso surtiria um efeito de estímulo. Porém, mesmo que você não estivesse aqui, eles creem que as novas transformações podem acontecer.
— Está preocupado com isso? Com outros de vocês se tornando mais ferozes?
— Sim. Estou, não posso mentir. Mas nada me preocupa mais do que ser eu o próximo. Como alfa, isso pode ser um tanto quanto…
— Irreversível? Perigoso? — interrompeu completando o raciocínio dele, entretanto, igualmente preocupada.
— É isso. Tudo o que a gente desconhece é assustador, não é? — Black deu de ombros tentando aliviar a tensão do assunto. — Mas nós estamos investigando entre nosso passado qualquer coisa e averiguando com as tribos vizinhas.
assentiu sem dar-se conta de que ele contava a ela que havia mais do que os quileutes e os Whitton nos arredores de Whashington.
— Black, você acha que eu posso ser uma loba também? Que eu ainda só não… Despertei?
— Não. Ao menos nunca houve um relato tão tardio da manifestação. É comum que isso ocorra na puberdade humana, se você não manifestou, não vai acontecer.
— Quem sabe? Vocês não estão descobrindo novas coisas? — ironizou .
— É, pode até ser… Afinal, você tem alma ancestral quileute, mas eu acho que é só até aí que a sua conexão conosco se estende. Embora descender de nosso sangue não seja pouca coisa para nós. — Black e se encararam num misto de admiração, intimidade e mistério, e, avaliando o que estavam conversando, Black lhe perguntou: — … Você já pensou que o fato de você vir para cá pode não ter sido a Bella?
Aquela era a primeira vez que ouvia Jacob falar em Swan sem aquela repulsa de sempre.
— Mas se não fosse ela, como eu saberia de vocês?
— Acho que a Bella foi só uma artimanha para te trazer, mas ela não tem nada a ver com isso. Ela foi só… Um elo que o destino usou. Se o seu avô esteve aqui e o seu pai de certo modo… Quem pode garantir que você não teria nos buscado por uma força maior?
— Isso me lembra a premonição do Sr. Carter. Do que ele nos disse aquele dia, você lembra?
— Acho que eu nunca ouvi algo tão coerente entre as premonições do velho Carter. — Jacob riu.
— Black… Já que estamos aqui falando sobre isso, tem algo que eu também estava pensando…
— É sobre o que aconteceu hoje na sua casa? — Ele a interrompeu.
— Sim.
— Eu não posso dizer. Espera mais um pouco, é só o que eu te peço. Sei que você deve estar cheia de dúvidas ainda, mas pouco a pouco nós vamos juntos responder a todas estas perguntas.
— Não precisa dizer o que era então, mas só me diz por que você estar sozinho era tão perigoso?
— A matilha unida é mais forte.
— Alcateia.
— Como? — Black encarou com expressão confusa e ela começou a rir antes de o explicar:
— O coletivo de lobos é alcateia… Matilha é coletivo de cães. Não é possível que logo o alfa mal saiba como se referir corretamente ao seu bando!
— Você… — Jacob sorriu desviando o olhar incrédulo numa admiração jocosa pela mulher. — É uma implicante!
Jacob também começou a rir e depois de sacudir a cabeça em negativa, divertidos, eles se encararam mais uma vez. Black passou a mão nos cabelos de , colocando-os para trás e, a mulher analisou com cuidado o homem à sua frente. Concluiu que, definitivamente, não era o mesmo Jacob.
— O que está acontecendo? — ela perguntou a ele, abaixando a cabeça.
— Não sei. Eu… Posso afirmar que nunca passei por isso, mas todos dizem que eu estou melhor — Black confessou sincero erguendo a cabeça de pelo queixo, fazendo com que seus olhos e rosto se aproximassem sem que notassem.
— Confesso que sinto falta das suas oscilações de humor… Seus mistérios e sua instabilidade — falou como se estivesse descontente, e Jacob olhou para as próprias mãos, desapontado e soltando o rosto dela —, mas uma única coisa nisso tudo não mudou: seu olhar intenso, frio e amargurado.
Depois de ouvir aquilo, Jacob sentiu-se irritado, um tanto frustrado e realmente desapontado. Aquela era a imagem que ela tinha dele e não havia mudado nada?
— Então resumindo… Para você eu me tornei ainda mais repulsivo do que já fui?
— Não foi isso o que eu disse… — justificou com um sorrisinho discreto de quem havia conseguido o provocar e continuou: — Você perdeu um pouco do seu ar sombrio, daquela figura antissocial que eu conheci… Mas seu olhar tão repulsivo continua o mesmo.
Black soltou um muxoxo sarcástico e mordeu os lábios visivelmente irritado. Seu maxilar travado também indicava o quanto ele não gostou de ouvir as impressões de , e seus olhos já diminuíram formando as rugas na testa. Ela soube na mesma hora que ele estava a ponto de se levantar e a ignorar como fazia, mas travessa, começou a rir enquanto concluiu sussurrando ao ouvido dele:
— E o problema é que eu gosto de coisas repulsivas, como esse seu olhar de que é superior, quando na verdade, sabemos que eu é quem sou.
— O quê? — Jacob então sorriu tímido sem olhar para ela, percebendo que havia caído na provocação da mulher e abaixando a cabeça. Então foi a vez de erguer seu rosto para que ele a olhasse.
— Tem mais uma coisa que mudou em você que eu gosto muito.
— E o que seria? — A cumplicidade entre seus olhares era intensa.
— Você aprendeu a sorrir de novo. Eu não sei por que você não sabia, mas escondia um sorriso solar incrível e lindo dentro das suas trevas. Um sorriso que eu quero para mim. — não acreditou no que havia acabado de confessar, mas era a verdade mais impulsiva que ela já havia dito.
Black se aproximou devagar de , engatinhando pela própria cama e circundando a mulher até as suas costas, ele se sentou atrás de , recostado à cabeceira e a puxou contra seu corpo, de forma que, em um abraço íntimo, pôde se manter segura escorada no peito dele.
— Me deixa ficar assim? — ele perguntou segurando-se para não beijar a mulher. — Você está gelada.
— E você quentinho. É irritante esse calor quileute! Me faz querer ficar assim mais vezes… — Eles riram baixinho.
— Você pode me utilizar como seu cobertor quando quiser, mas nada te impede de se agasalhar, sabe? Não que eu não goste de trocar esse calor contigo… — Jacob ouviu o risinho malicioso dela e ruborizou, pigarreando e se explicando: — Não foi isso que eu quis dizer… — riu um pouco mais achando fofa a reação dele.
— Black, Black… Você está mudando da água para o vinho…
— Isso é ruim?
— Não. Eu gosto. Agora você até diz que eu posso me aproveitar do seu corpo quando estiver com frio! — gargalhou e ele a acompanhou, sem deixar de se sentir “enferrujado” com aquele tipo de conversa. — Mas eu prometo não abusar. Eu sempre tenho agasalhos no carro, mas eu acho que eu me esqueço de sentir frio de tanto que me sinto uma de vocês.
Black ajeitou-se melhor na cama e apertou o corpo de ainda mais em seus confortáveis braços. A moça sorriu e ergueu os olhos para encarar o rosto dele, estavam tão próximos e os olhares tão diretos… Ela já não tinha aquele pudor de antes com Jacob.
Em ato involuntário, encarou aos lábios dele, claramente sinalizando o que tanto desejava. Jacob também observou a ponta do nariz dela, avermelhado pela baixa temperatura da noite, ouvindo piados das corujas na mata próxima da cabana e encarando com a mesma intensidade aqueles lábios convidativos da mulher.
, de mansinho, ergueu um pouco o tronco, pensando se aquela barreira invisível entre eles realmente existiu. Jacob percebeu as intenções dela, mas não conseguiu se mexer. Os olhos dela eram intensos, e os sentimentos dele estavam tão bagunçados e confusos, que Black manteve-se imóvel para não cometer nada que pudesse se arrepender. Ainda não se sentia pronto para indagar por que o peito frequentemente acelerava perto dela. tocou o rosto dele com uma das suas palmas frias, e só então ele notou que ela estava pronta para tocar seus lábios com os dela.
— …? — O nome dela soou como uma dúvida no sussurro e olhar confuso dele. Aquilo foi um sinal para ela de que não deveria ter se deixado levar.
— Desculpe… — falou, ainda o encarando com desejo, e os lábios mal chegaram a roçar um no outro, a mulher foi se afastando, desvencilhando dos braços dele e se ajeitando para dormir.
— Eu não quis ser rude — ele falou preocupado em como ela poderia ter se sentido.
— E não foi. Eu é que me deixei levar… Está tudo bem, Jacob. — Ela sorriu amena, beijando o rosto dele e se deitando ao lado de Black, contudo, repousando o rosto no peito dele como se lhe pedisse para não sair dali. — Tudo bem ser meu cobertor por hoje?
Black assentiu e sorriu aliviado, deitando-se um pouco mais e puxando o corpo dela em um abraço protetor. Os dois adormeceram rápido e durante toda noite, Black era uma caverna aquecida, uma fogueira onde se mantivera presa. Por uma noite, se deu o direito de pertencer a ele, e ele, como se atendesse inconsciente ao pedido do corpo dela, não a privou de abraçá-lo. Não se deixou soltar dela. Por toda a noite.
não sabia o que viria naquela manhã após uma noite tão cheia de significados e ao mesmo tempo sem definição alguma. Não sabia o que aconteceria depois, mas já não se importava. Pensar nos fantasmas que atormentariam sua mente era uma injúria maligna para alguém que recebeu a graça tão grandiosa de ter o seu próprio lobo selvagem, domesticado.
Ao amanhecer, aquilo que ela pensou ser um sonho não era. acordou com calor e, olhando para cima, vislumbrou o rosto de Jacob que, mesmo dormindo, parecia tenso, pesado… Como se ele estivesse sempre alerta. E estava. Lobos selvagens não têm sono profundo porque é preciso que estejam atentos. Logo, ela soubera que para os quileutes também era assim. Contudo, apesar de compreender as memórias da noite passada antes de dormirem, não pôde deixar de sentir-se assustada ao se ver tão próxima de Jacob. Além disso, ela tinha nítida a cena do quase beijo. Ela tentou beijá-lo. Ela queria muito beijá-lo! Mas por que ele não correspondeu? Era unilateral?
encarou o peitoral atlético e esculpido de Jacob, sem perceber que suas mãos ainda estavam pousadas sobre ele, fechou os olhos e deslizou delicadamente a mão pelo peito de Black. Subitamente, um pensamento impróprio lhe ocorreu e a mulher, desconfiada e até decepcionada por não se lembrar do que lhe veio à mente, ergueu com cuidado o cobertor olhando por baixo. Aliviada, estava vestida e Jacob também. Ou melhor, não exatamente vestido, mas o suficiente para comprovar que depois daquele quase beijo, de fato nada teria acontecido.
Voltando a olhar para ele, Jacob ainda mantinha sua expressão séria e desacordada. Devagar, se desenroscou do aperto quente dos braços de Black. Vestiu seu hobby por cima da camisola e saiu do quarto a fim de melhor acordar. Precisava afastar também o calor incomum que sentia por estar nos braços dele.
Na cozinha, ela preparou um café da manhã em agradecimento a Billy e a Black pela tão simpática hospedagem, e claro, também estava agradecida a Jacob pela noite incrível com ele, mas esta era uma verdade que ela não diria. Já havia falado e feito demais. Pensou de novo no motivo pelo qual ele não tentou beijá-la de volta, até que Billy acordou e a encontrou na cozinha.
— Bom dia, .
— Bom dia, Billy. Como passou a noite?
— Bem. E você? — Ao perguntar-lhe, Billy sorriu e ergueu uma das sobrancelhas do mesmo jeito travesso que Jacob costuma fazer. Essa foi a primeira semelhança que notou em ambos.
— Dormi bem, sim — respondeu e sorriu para o mais velho tentando não demonstrar alguma reação que a constrangesse.
— Que ótimo. Espero que o Jacob não tenha roncado muito em seu ouvido esta noite. Quando fica muito cansado ele tem sonos perturbados — Billy informou ainda sorridente e ambíguo, encerrando o assunto ao complementar: — Vou buscar alguns ovos.
— Eu posso ir. Eu preparei todos os que tinham mesmo.
— Não é preciso. Termine de preparar seu café especial. — Billy manteve um sorriso feliz e girou sua cadeira saindo.
ficou observando-o por cima do basculante da cozinha e inclusive, descobriu onde ficava o pequeno galinheiro: atrás da cabana, um pouco afastado. Não tinham muitas galinhas, via-se que era uma produção para consumo.
Enquanto terminava de preparar a mesa do café, ela pensava no que o senhor Black quis dizer com “espero que Jacob não tenha roncado muito em seu ouvido”. Será que ele havia flagrado os dois dormindo juntos? Será que ele pensou que havia acontecido alguma coisa entre os dois? Ou pior… Jacob teria transmitido pensamentos por telecinese a respeito do assunto para seu pai? Se fosse a última opção a certa, já se sentia absolutamente irritada e traída com a probabilidade, embora tenha decidido não acreditar que Jacob fosse capaz de algo assim. Ela estava distraída quando Black surgiu atrás dela, acordado. Ele a abraçou por trás e beijou o pescoço de , lhe dando bom dia. Logicamente ela não esperava por aquela reação.
— Bom dia, Black.
— Como passou a noite? — perguntou ainda abraçado nela e virando-a de frente para ele.
— Bem… E você? — respondeu um tanto desconcertada.
— Que bom que fui uma boa companhia então — ele disse com um sorriso sacana e encantador em seu rosto.
A cena era cômica e constrangedora: Jacob e ela abraçados como um casal. Os dois se encarando e sustentando um sorriso desbravador, quando à porta da cozinha surgiu Billy flagrando os dois naquela aproximação bizarra. Billy arqueou a sobrancelha e olhou a cena curioso. Jacob notou a presença de alguém e virou o rosto para a porta dos fundos da cozinha, notando que seu pai sorria discreto, ao abaixar a cabeça. seguiu o olhar de Jacob e deixou o queixo se abrir em espanto e constrangimento.
— Essa cadeira tão silenciosa… — murmurou ela sem graça, e Jacob soltou um risinho em muxoxo.
— Já acordou, pai? — Black pronunciou sem jeito e totalmente envergonhado.
e ele se soltaram do abraço íntimo até demais, e ela retornou à tarefa de terminar de servir a mesa de café da manhã.
— Não. É só uma miragem sua. Ainda estou dormindo — Billy disse zombeteiro espreitando os dois que pareciam muito constrangidos ao seu olhar paternal. — Mas não se preocupe, acho que você não é o único tendo miragens, filho. Acho que eu também tenho tido algumas… — Billy disse olhando Jacob nos olhos e pronunciando para antes de sair da cozinha: — Já volto. Sua mesa de café está realmente convidativa.
apenas assentiu num meneio de cabeça e depois que estavam sós, Jacob, desconcertado, pediu antes de ir atrás do pai:
— Me desculpe por isso. Não achei que ele estivesse acordado quando te vi na cozinha preparando o café.
— Tudo bem — respondeu amena.
Jacob saiu e pôde soltar a respiração que estava apertada, até que seu rosto esboçou um sorrisinho ladino discreto por achar fofa a cena de Jacob constrangido diante do pai. Cada vez mais descobria e se encantava pelas peculiaridades do rapaz.
Mesa posta, ela rumou em direção ao quarto de Black para se trocar, mas no corredor interceptou um diálogo entre pai e filho ao qual ela espiou uma parte:
— Não é nada disso que você está pensando, pai.
— Não? É uma pena. Eu não me incomodaria nem um pouco.
— Do que está falando?
— É a , Jacob.
No momento em que Billy terminou de falar, Sue surgiu à porta chamando-os. correu para o cômodo de Jacob, mas ainda espreitou lá de dentro, atrás da porta, a última frase do pai dele:
— E já está na hora, filho — Billy disse e saiu em seguida.
Black estava sério e assim que o viu se aproximar, ela se afastou da porta. Ela mexia em sua mala quando Jacob adentrou calado.
— Está tudo bem, Black?
— Sim — ele disse observando-a mexer nas próprias coisas, e sentou-se na cama. — O que vai fazer?
— Tomar um banho e, depois do café, ir para minha casa.
— Você não pode ir para casa.
— Por que não?
— É perigoso.
— Então você decidiu contar sobre ontem — afirmou se aproximando da cama e de Jacob, atenta.
— Ainda não. — Ele se colocou de pé à sua frente. Mexeu nos cabelos da mulher e, sorrindo com olhar distante, falou: — Mani.
— Nunca soou melhor — ela respondeu.
— Tenho certeza disso… Minha Mani. — Black divertia-se com isso.
— Olha que eu vou acabar me acostumando… — afirmou sorridente, suspirando e fechando os olhos.
Sentiu um calor aproximando-se do seu rosto, mas não quis abrir os olhos. O hálito refrescante de Jacob bateu no seu ouvido em forma das palavras: “é para se acostumar” e os lábios quentes de Jacob pousaram em sua face. Tudo executado o mais lentamente possível. Quando ela abriu os olhos, Jacob a olhava invasivo. distanciou-se pegando suas coisas e indo para o banho.
— Até logo… — Desnorteada pela ação que cada vez mais demonstrava a tensão e atração entre os dois, pronunciou baixinho e saiu deixando um Jacob indecifrável jogado à própria cama.
revisava os seus projetos que estavam guardados em uma pasta enquanto Jacob tomava banho, quando algumas chamadas perdidas piscavam no visor do seu celular.
“Cinco chamadas não atendidas de Erick Jones”
Em dúvida sobre o que o policial estaria buscando com aquele contato, lhe telefonou, mas sem sucesso. Erick não atendia à chamada. Pensou em tentar mais uma vez, porém, Jacob surgiu no quarto inteiramente molhado e enrolado em uma toalha. Black sorriu de modo sacana ao notar que estava hipnotizada o encarando. Aquilo tirou o foco da mulher que sorriu para ele e, desviando os próprios olhos para a janela, tentou falar novamente com Erick, de novo, não conseguiu. Ficou observando o celular em busca de alguma mensagem e preocupada com a anterior insistência de Jones. Teria acontecido alguma coisa?
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Jacob já vestido e aproximando-se dela.
— Não.
— Parece aflita com seu celular. Alguém te ligou? — Insistente no assunto, Jacob a encarava, mas não achava prudente dizer que a aflição se chamava Erick Jones. Estava preocupada com o que Black pensaria a respeito daquele contato.
— Não, só alguns telefonemas desconhecidos. — Ela mentiu guardando o celular.
Black sorriu e os dois saíram do quarto, passando de mãos dadas pela sala onde estavam Sue e Billy conversando à porta.
— Bom dia, Sue.
— Bom dia, minha querida. — A senhora Clearwater acenou sorridente e discretamente olhou para a mão de presa à de Black, e amena cumprimentou o rapaz: — Bom dia, Jake.
— Bom dia, Sue. — Jacob soltou a mão de e chegou perto de Sue, depositando um beijo filial e muito carinhoso em seu rosto.
Sue intercalou os olhares dela entre Billy, e Jacob, bem rapidamente como alguém que tentava compreender o cenário. O que aquelas mãos juntas dos jovens queriam dizer? Ela notou que e Jake mal deram-se conta do que faziam, como se fosse um gesto automático, portanto, lançou novamente um olhar surpreso e curioso a Billy, que deu de ombros ao entender a dúvida da amiga. Sue nem precisou prolongar sua investigação ocular e discreta na observação do casal jovem porque Jacob em seguida, involuntariamente, confirmou a ela o que estava pensando. Mesmo que estivesse errada, não adiantaria: Sue já torcia para que aqueles dois ficassem juntos de verdade. Soltando-se do abraço com Sue, Black caminhou até , novamente pegando sua mão entrelaçando-a com a dele e guiando Mani até a cozinha, convidando a mais velha:
— Tome café conosco, Sue! quem preparou tudo! — Jacob falou sem esconder uma animação incomum, e lançou sobre um abraço de urso todo feliz e orgulhoso.
sorriu sem jeito para Sue, quando viu o semblante da mais velha a encarando com o típico sorrisinho sábio e malicioso que ela já havia visto também em Billy anteriormente.
— Obrigada, Jake, mas há três lobos famintos em minha casa que eu alimento. Logo eles acordam. Desculpe, , fico te devendo um café da manhã preparado por você. — Sue sorriu animada e orgulhosa, passando a mão de forma simpática nos ombros da garota que ainda estava meio abraçada por Jacob que não a soltara.
— Ah, tudo bem. Eu entendo — falou baixinho, tão sem graça quanto quase sufocada por Jacob.
— Fica para outra vez. Sem dúvidas não faltarão oportunidades. — Sue completou olhando para Jacob e ela. Entendendo o que ela disse, Black pigarreou, finalmente soltando-se de . Billy e Sue, mais uma vez, entreolharam-se cúmplices e se despediram. — Até mais, garotos!
— Até mais, Sue — Jacob e disseram uníssonos.
Assim que a Clearwater saiu, Billy, Jacob e foram à cozinha tomar café. Na mesa não havia muito o que falar. estava um tanto abalada com aquela aura de manhã entre namoradinhos adolescentes, e que nem mesmo era real. Billy olhava aos jovens adultos à mesa de um modo sorridente que assustava a mulher, e Jacob encarava sério o pai. Mentalmente, os dois dialogavam um contra o outro: Billy o provocando e Jacob ficando ranzinza com o mais velho.
O café da manhã seguiu tão rápido quanto em silêncio, entretanto, não era um clima desconfortável para os três. Na verdade, a convivência entre eles parecia bem natural. Foi quem quebrou o silêncio após terminar seu desjejum.
— Sem querer ser má educada, muito obrigada, Billy e Jacob, mas eu preciso ir.
Os dois olharam-se em dúvida. Na verdade, Jacob trocou um olhar duvidoso com Billy. Ele ainda estava preocupado com a mulher sozinha no bairro Kalil.
— Tudo bem, . Jacob a leva para casa, mas tem certeza que não quer ficar mais um pouco?
— Eu agradeço, mas eu tenho que ir para a farmácia e terminar alguns estudos… Ah… Isso me lembra de que… Billy…
— Sim?
— Como sabe, estou no meio do projeto de construção do meu laboratório com investimento dos Vincent. E eu pensei em… Quero dizer, eu gostaria de saber se é possível que eu o construa pelos arredores de La Push, não só se você, como chefe da reserva, permitiria quanto como se há um lugar disponível para isso… — ela falou e notou que Billy franziu o cenho um tanto silencioso e pensativo e logo foi voltando atrás: — Mas eu entenderei perfeitamente se não puder.
— … Eu lamento, mas… Isso implicaria em… — Billy pausou e tentou uma negativa empática e didática: — Imagine se eu deixo você construir dentro da reserva e outras pessoas saibam… Eu já impedi muitas pessoas de trazer qualquer tipo de comércio ou empreendimento para cá e, embora eu confie em você, isso me faria perder a razão diante dos outros. Apesar de ser uma região vasta, esta é a nossa casa. E a nossa casa é uma reserva ambiental e histórica. Você compreende?
— Entendo. Imagine, Billy! Eu compreendo! Já havia permeado em minha mente que não seria possível, mas não custava ter certeza.
— Por que quer construir seu laboratório por aqui? — Billy perguntou genuinamente curioso.
— Eu me sinto muito bem em La Push. Seria incrível trabalhar por ali, e eu estaria mais próxima a vocês… — justificou sorrindo. — Estou ficando um pouco dependente dos ares da reserva — ela disse e ficou ruborizada em como o comentário poderia soar, e ainda mais sem graça quando viu que Jacob sorriu satisfeito a encarando.
— É compreensível, afinal você é tão solitária onde mora… — Billy, sorridente, depositou um olhar compreensivo sobre a jovem e, tentando ser discreto, olhou para Jacob que parecia querer perguntar algo.
— Por que não se muda para cá? — o rapaz falou, tomando certa coragem.
— Seria legal, mas não dá, Black. Eu comprei um elefante branco.
Billy e Jacob olharam-se de novo compartilhando pensamentos, dessa vez, concordantes, e então Black levantou-se da mesa se prontificando a ajudá-la:
— Bem, então eu vou pegar as suas coisas. Tem certeza que não quer ficar por aqui mais um pouco?
— Se você me falasse o que eu quero saber, quem sabe? Fora isso, eu não vejo problema de voltar para minha casa.
Jacob suspirou contrariado e seguiu ao seu quarto para pegar as coisas de Mani. Um pouco depois, eles já estavam dentro do carro, a caminho do Kalil.
— Black… Só me responde uma coisa?
— Hm?
— Como chegou tão rápido à minha casa ontem?
— Por coincidência, eu estava por perto.
— Fazendo o quê?
— Então agora eu te devo explicações? — Jacob disse em tom divertido.
— Você me deve muitas explicações, Jacob Black. — Devolveu a brincadeira em tom óbvio.
— Eu voltava de uma entrega. Fui à Silverdale entregar uma mesa que esculpi.
— Ah… E a oficina?
— Com os últimos acontecimentos eu dei uma parada, mas a obra já está pronta. Falta só a pintura e a decoração.
— E onde ela fica?
— A dez quilômetros da saída de Forks.
— E quando você vai me levar lá?
— Quando você quiser — Jacob disse feliz e encantador. — Quer que eu a deixe em casa ou na cidade?
— Estou atrasada, mas preciso pegar meu carro antes de ir para a cidade.
— Se quiser eu te deixo lá e levo seu carro depois.
— Não, tudo bem. Não precisa se incomodar.
— Não é incômodo. Vou fazer isso, tudo bem?
— Tudo bem… — respondeu com uma expressão admirada e um sorriso simpático pelo gesto gentil dele. — Eu agradeço.
entregou a chave da casa para Black e ele a deixou na cidade, em seguida, então, a mulher abriu a farmácia e tirava a poeira da vitrine de vidro quando avistou Erick entrando na lanchonete. Certamente iria tomar café da manhã. Ela recordou-se das ligações dele e novamente tentou falar com o policial por telefone.
— Alô? Erick, bom dia. É a . Aconteceu alguma coisa?
— Bom dia, . Por quê?
— Você me ligou várias vezes…
— Ah, sobre isso… Eu gostaria de conversar com você. Pode ser?
— Claro. Estou na farmácia.
— Daqui a pouco passo aí.
Cerca de quinze minutos depois, Erick saiu da lanchonete e chegou calmo à farmácia.
— Olá, . Como vai?
— Bem, e você?
— Seguindo… — Erick pronunciou um pouco misterioso e calado, prostrando-se escorado ao balcão da farmácia.
— E então, o que houve?
— É que… Ontem houve alguns ataques nas proximidades de Kalil e eu te liguei porque estava preocupado. Fui à sua casa, mas você não estava lá.
— É, eu fui para a reserva. Aconteceu algo estranho ontem e eu liguei para o Jacob que por sorte estava por perto.
— O que aconteceu?
— Acho que iam assaltar ou invadir a minha casa. Eu não sei bem o que aconteceria, porque felizmente não deu tempo. Eu me desesperei com a situação e por sorte, o Jacob chegou bem rápido.
— Sabe que pode me chamar se precisar, não sabe?
— Obrigada, Erick… Eu não te liguei porque… As coisas estão estranhas conosco, não é? Além do mais, eu fiquei bem assustada e o Black foi a primeira pessoa em quem pensei para pedir ajuda.
— Bem… Sobre isso… Digo, sobre nós dois… Eu te peço desculpas. Tenho sido muito idiota com você. Mas eu ainda sou policial e seu amigo, se permitir. Pode me telefonar em ocasiões como essa, . É o meu trabalho te proteger.
— Tudo bem… Espero não ser necessário, mas na próxima, eu conto com você — ela falou sorrindo, e antes que um silêncio por falta de assunto se instaurasse, lhe perguntou: — E o bebê?
— Que bebê? — Erick perguntou confuso, se erguendo um pouco do balcão e ficando tenso.
— Achei que sua namorada estava grávida.
— Jessica? Desde quando?
— Já faz tempo desde que ela me falou.
— Ela te procurou? — Erick àquela altura estava visivelmente nervoso com a informação dada por .
— Não necessariamente. Ela veio comprar um teste de gravidez.
— O quê? Mas… Quando?
— Ah, não lembro, mas foi no mesmo dia em que você veio aqui e, abusado, me roubou aquele beijo. Acho que já se passou um mês. Desculpe pela notícia, Erick… Eu achei que já soubesse.
— Tudo bem, deve ter sido engano dela. Ela me falaria se estivesse grávida.
— Falaria! Com certeza!
— Nós terminamos há algum tempo — Erick justificou um tanto ansioso pela reação de .
— Sinto muito. Vocês eram mesmo perfeitos um para o outro. — Sorriu, apesar do tom de ironia.
— E você, o que achou das flores?
— Flores? Espera… Foi você quem mandou aqueles arranjos?
— Sim. Gostou?
— Claro. São lindas. Mas… Por quê?
— … — Jones suspirou e se aproximou devagar do corpo de , que estava parado à sua frente e com cautela, Erick tocou o rosto da mulher fazendo-lhe um carinho delicado. — Não consigo ficar longe de você. É torturante.
— Não, Erick. — o afastou com singeleza, mas de modo certeiro. — Por favor, não. Não cometa o mesmo erro.
— Desculpe, eu não te beijaria sem seu consentimento, mas estou sendo sincero. Eu acho que me apaixonei de verdade por você e eu espero que…
Um som oco e alto de motor os assustou, interrompendo Erick. Os dois olharam para a porta da farmácia e Jacob apareceu entrando na loja. sentiu-se surpresa e indagou-se mentalmente se ele teria visto que Erick havia tentado beijá-la. Black e Jones ficaram encarando um ao outro, em silêncio. Jacob o olhou de cima a baixo e em seguida observou o cenário. Ele estava perto de e os dois pareciam estar em uma conversa tensa. Já Erick, sentiu-se enraivecido por ser de novo “aquela gente” entre ele e . O desprezo era palpável entre os dois: o lobo e o homem.
— Suas chaves. — Jacob estendeu as chaves do carro e da casa de em direção a ela, que as pegou ainda um pouco preocupada. — Nos vemos depois?
— Claro que sim, Black. — Ela sorriu abertamente para ele. Então Jacob sorriu de volta e, ignorando a presença do policial, se aproximou mais da mulher, abraçando-a de um jeito apertado e lhe deixando um beijo no pescoço.
“Que mania era aquela agora?”, pensou. Se era para a enlouquecer, não só estava conseguindo como a mulher também estava aderindo àquela louca atitude, e mordeu o ombro dele, como havia feito antes. Aquilo parecia estar tornando-se um “cumprimento de despedidas” entre os dois, tal como eles, impetuoso, ardiloso e de certo modo, selvagem. Jacob sentiu os dentes de roçando seu ombro, apesar da camisa, em um gesto lento e sedutor, e olhou para ela sorrindo provocante.
— Eu também estou gostando e me acostumando com isso… — sibilou baixinho para que só ela escutasse e então a soltou, virou-se para Erick e antes de sair, educado, disse: — Passe bem, senhor policial.
Erick demorou um pouco para voltar a olhar na direção de depois que presenciou a cena dos dois. Estava nítido, não estava? Ela havia mesmo se envolvido com o quileute.
— Bem, espero que as flores possam tê-la convencido a me perdoar — Jones proferiu após encarar a rua por um tempo silencioso.
— Tudo bem. Acho que podemos recomeçar do zero, como amigos. Não gosto de parecer uma ingrata com você que tanto me ajudou quando cheguei. Além disso, embora seus defeitos sejam… Enfim, eu gosto de você, Erick.
— Não acho que tenha sido ingrata, apenas ingênua com suas escolhas.
— Erick… — o chamou como se fosse iniciar uma discussão, e o policial ergueu as mãos em postura de rendição e interrompendo-a:
— Tudo bem. Eu fico calado.
— Sobre o ataque… Pode me dizer o que era?
— Não sabemos. Essa vítima apresentava os mesmos sinais no corpo que a maioria das vítimas de alguns anos atrás.
— Como assim? Que sinais?
— Foi assassinada como todas as outras vêm sendo, mas dessa vez o corpo estava inteiro. Não parece que um urso ou lobo selvagem possa ter feito algo. É coisa de gente.
— Então esse ataque, diferente dos outros, não foi por um animal?
— Não tem nenhuma pista que leve a isso. Ainda aguardamos o que perícia dirá.
— E quem foi o atacado?
— Marcos Swood. Um rapaz de dezessete anos. Poucos conheciam. Dessa vez não era turista, nem alpinista. O pai disse à polícia que ele estava voltando da praia com a moto.
— Bem… Eu ficaria satisfeita se me mantivesse informada sobre esses assuntos. Por precaução.
— Certo, eu aviso se algo ocorrer. Talvez você devesse colocar câmeras de vigilância na sua casa, .
— Hm… Não havia pensado nisso. É uma ideia.
— Bom, tenho que ir. Tenha um bom dia. — Ele se aproximou de novo mencionando um abraço de despedida e correspondeu.
— Até mais, Erick.
— Bom poder falar com você novamente — ele disse baixinho no ouvido dela e saiu.
Capítulo Quinze - O que está acontecendo entre nós?
O dia seguiu como tantos outros: pacato. Steve pegou o turno da tarde e foi para casa. Ela concentrou-se nos planos de seu laboratório e, procurando pela internet, encontrou um ótimo lugar para construí-lo. Decidida a não perder aquela chance, foi atrás do vendedor, mas o terreno já estava vendido, e como havia reservado aquele momento para a tarefa, optou por vagar em busca de outros possíveis terrenos em Forks.
Após muita procura, sem sucesso, a fome lhe indicou o momento de pausa. Frustrada, ela retornou para sua casa e dedicou-se ao jardim, que estava sendo destruído por lagartas já que a mulher não tinha tempo para se dedicar a ele ultimamente. Enquanto tratava-o, ela observou como aquelas lagartas estavam gordas, realmente enormes. Insetos que pareciam monstros. De repente, indagou-se, “Tudo em Forks sempre nos remete a monstros?”. Felizmente, se elas eram enormes lagartas, logo, seu jardim estaria repleto de lindas e grandes borboletas.
Todo aquele cuidado com o jardim era, de fato, necessário. fora bastante relapsa com as suas plantas que morriam aos poucos. O que era para ser um lindo canteiro de vida estava a ponto de se tornar um cemitério de flores, com exceção das suas plantas de estudo que se mantinham em um ponto de sua casa, mais artificial e protegido. Aquelas sim, eram as plantas pelas quais dedicava-se sem se descuidar.
Depois de regar flores mortas, a mulher permaneceu observadora ao analisar a fachada da própria casa. Por mais que a pintura fosse nova, tudo ali era sombrio. Um jardim fraco que mal florescia, um casebre velho que em tudo rangia e soava ventos solitários e assustadores. Nem o cheiro de lá era bom… Era uma mistura de floresta e bolor. Parecia que a vida não gostava de se manter em Kalil, e ela começava a sentir uma repulsa forte por aquele lugar. Ficou ainda mais pensativa a respeito da última conversa que tivera com Erick: “Onde será que ocorreu o ataque? Seria perto demais da minha casa? Aquele homem na minha porta teria alguma coisa a ver com o assassinato? Era um homem? O que Jacob viu? E qual era o nível de perigo que eu corria agora?”, tantas perguntas sem respostas martelavam em sua cabeça.
Por fim, ela entrou em casa e após tomar banho retornou aos seus estudos da alga marinha encontrada em La Push. descobrira há algum tempo que a planta continha um poder muito alto de antídoto para veneno. Fizera alguns testes de reação com algumas substâncias tóxicas e naturais, e à maioria delas o sumo da planta combatia. Sua intenção era desenvolver no seu laboratório uma fórmula medicinal com o sumo da planta. Também descobriu que a própria alga recém-retirada da água quando em contato com a pele, produzia enzimas capazes de acelerar a cicatrização de queimaduras e cortes na pele humana. Era uma excelente, valiosa e revolucionária descoberta! Se Hernando e Julian sabiam daquilo, ainda não tinha conhecimento. Os irmãos lhe diziam que Sue ajudou-os muito em seus estudos, mas Sue não reconheceu a alga quando mostrou a ela no dia em que a recolheu, portanto, talvez fosse uma grande descoberta científica e inédita.
Por volta das sete horas da noite, Jacob telefonou para a casa de e ela atendeu com uma voz mansa de quem estava contente e contida por ouvir a voz do rapaz:
— Oi, Black, já está com saudade? — brincou ela referindo-se ao fato de que há um dia estivera com ele.
— Posso dormir aí? Estou preocupado com você. — Surpreendendo-a não só com seu tom sério como pelo pedido repentino, Black também a deixou preocupada.
— Está ciente dos ataques, não é? — ela perguntou não obtendo resposta e após um breve silêncio, o respondeu: — Não aconteceu nada até agora, mas pode vir sim.
O ataque que Erick disse ter acontecido perto da casa de já a apavorava, mas depois de falar com Jacob e perceber o quão sério ele estava, seu medo apenas piorou, foi amenizado apenas quando seu lobo favorito chegou.
— E aí, como você está? — Jacob perguntou assim que entrou na casa.
— Confesso que a cada dia que passa eu tenho mais vontade de sair desse casebre.
— Por quê? Aconteceu algo?
— Você deve saber, não é? Ontem teve um ataque aqui por perto. Erick veio à noite para saber como eu estava e ele estava me contando mais cedo, quando você o viu lá na loja…
— Falando nisso… Vocês dois… — Jacob buscava as palavras.
— Nós?
— Voltaram?
não gostou da indagação. Sentiu-se brava pela pergunta de um modo mais emocional do que racional, pois sabia que ela e Jacob não tinham nada. Na verdade, ela não sabia bem o que ou que nome dar ao que sentia por Jacob, mas estava claro que alguma coisa mexia com os dois e apegava-se àquilo. Embora se apegar a uma ideia vaga de sentimento não fosse tão inteligente.
— Como pode me perguntar isso, Black? — Devolveu-lhe, irritadiça.
— Ele tentou te beijar. — A voz de Black sequer tremeu. Era de uma certeza de alguém que presenciara a cena.
arregalou seus olhos em surpresa enquanto o quileute a encarou, sisudo. Aquilo causou nela um pequeno temor de que a barreira antiga se erguesse novamente, mas isso era algo que ela não deixaria acontecer.
— Você viu…
— Sim, eu vi. Por que não deixou ele te beijar?
— Queria que eu tivesse deixado? — Os dois fizeram silêncio e não deixaram de perscrutar os olhos um do outro, quase apostando que havia ali uma aura de ciúme e medo do que ouviria.
tentava descobrir o que Black sentia, no entanto, mal sabia que o lobo tentava o mesmo não apenas sobre ela, mas sobre ele próprio.
— Só quero saber se não o beijou porque me viu ou se há algum outro motivo…
— O quê…? — ela sibilou incrédula e mais irritada ainda por esperar que Jacob já soubesse do óbvio, que tampouco ela sabia. respondeu rudemente: — Eu não deixei ele me beijar porque eu não quis! — E se levantou indo até a escrivaninha da sala onde trabalhava, numa espécie compacta de seu “escritório”.
A mulher começou a guardar as suas pastas, sendo visível os gestos de quem estava brava e já não falaria nada. Mesmo escutando os passos pesados de Black em sua direção, não desviou ou tentou evitá-lo, apenas o ignorou, concentrada em organizar aquela escrivaninha.
— … — Black chamou-a baixinho, bem perto do corpo dela, porém sem tocá-la. Apesar de imóvel ela não se virou para o encarar, estava respirando de modo ofegante, zangada, mas teve suas pernas enfraquecidas quando ele, de novo, sussurrou a chamando: — Mani…
— O que foi, Black? — perguntou um pouco grosseira apoiando as mãos na mesinha e respirando fundo.
— Eu… Falei alguma coisa errada?
— O quê? — Ela se virou ainda mais eufórica. — Você não pode estar falando sério!
— , se acalma! Você está tendo uma atitude exagerada! Foi só uma pergunta!
— Não, Black! Não foi só uma pergunta! Foi a pergunta mais cretina que você poderia ter feito a mim!
— ?! — Jacob estava assustado e tentou pegar a mão dela, mas se esquivou e foi andando até a cozinha.
— Olha aqui, seu lobo peludo e irracional! Se você não sabe o que disse de errado, então esquece! Não quero falar sobre isso! — caminhou até a cozinha segurando-se para não ter a ridícula atitude de bater em Black, afinal, não adiantaria nada. sequer teria forças contra ele, além do que, seria ainda mais ridículo do que o xingamento infantil que ela acabara de proferir. Jacob, no entanto, seguiu-a sorrindo:
— Lobo peludo e irracional? — ele perguntou tentando disfarçar uma risada, mas ela permaneceu séria e concentrada nas panelas que usaria. Ao perceber que alguma coisa muito estranha estava acontecendo, Black a pegou delicadamente pelo braço de forma que pudesse olhá-la nos olhos. — ? O que houve?
— Nada… Me desculpe… Esquece isso.
— ?
— Ai, tá certo! — resmungou diante da postura insistente de Jacob. — Por que você me fez uma pergunta daquelas?
— Eu… Só queria… Não… Precisava saber.
— Precisava? Por quê?
— Não sei! Não sei! Eu vi os dois lá… Eu achei que… Não sei, me desculpe! — Jacob atrapalhou-se nas palavras até organizar melhor as justificativas. — Depois que vi vocês dois juntos na farmácia e a tentativa dele de se aproximar, eu precisava saber se você só não o queria por perto ou se não era o momento. — Enquanto explicava para ela, Black andava de um lado para outro evitando encará-la.
Como bem sabia ele, não tinha nada com a mulher capaz de justificar seu acesso do que parecia ser “ciúme”, nem mesmo declarações, entretanto, os dois tinham uma noite passada. Uma noite onde ficou bem claro que não existia apenas o Jacob e a . Depois daquela noite onde eles apenas compartilharam a temperatura de seus corpos e nada mais, ele achava que ficou esclarecido que a partir daquele instante se tratava de Jacob e . Juntos. Dois. Dupla. Não era como antes, duas pessoas separadas, desconhecidas e distantes. Alguma coisa os unia, se não a proximidade ou a amizade, alguma outra coisa. E tanto Black quanto estavam certos de que aquilo tudo precisava ser esclarecido, afinal, ambos estavam apegando-se aos sentimentos vagos. Não era somente uma falha de .
— Black… O que está acontecendo conosco? Você também percebe que há algo…?
— Do que você está falando precisamente?
— Da noite passada, Jacob! Nós dormimos juntos e mesmo que não tenha acontecido nada além de só dormir abraçados, não podemos negar que a nossa relação mudou. E desde então eu estou cheia de dúvidas sobre nós… Por que você agiu comigo daquela forma? Por que essa manhã tudo estava tão… Diferente?
— Eu não sei, sinceramente, . Não sei nomear e nem explicar essas mudanças. E também não quero, não por enquanto.
ficou frustrada. Ouvi-lo dizer que não queria saber era o mesmo que não aceitar o que ela dizia. E para a mulher teria sido melhor o silêncio dele. “Não quero saber”, aquilo era algo positivo? Na concepção de , não. Black estava a afastando, então ela não emitiu som algum, não demonstrou feição alguma. Agiu, no máximo que pôde, naturalmente. Se ele não demonstrara importância ou interesse nas oscilações que havia entre eles, ela também não mostraria!
Ao perceber o silêncio de , Jacob voltou a se pronunciar na expectativa das reações dela, mas a mulher relevou fingindo uma distração com qualquer coisa desimportante.
— ?
— Sim?
— Está tudo bem?
— Está!
— , eu não quis parecer um cafajeste… Ontem foi… Aquele nosso momento, a cumplicidade é maravilhosa, eu só…
— Black, tudo bem. Não temos que falar nisso. — Ela interrompeu o ignorando.
— Temos sim… Me deixe explicar — pediu e ela o encarou, insatisfeita, e Jacob continuou: — É que eu tive um vínculo com uma pessoa, embora eu não sinta mais nada… Nem sei se senti. É confuso… É que… Você é especial, desde você eu já não sei qual a razão desse sentimento antigo, e tantas coisas foram mudando…
— Black! Eu não tenho a menor ideia do que você está falando. Não precisa explicar… Até porque nem mesmo você sabe o que dizer — declarou duramente e os dois ficaram uma brevidade em silêncio, apenas se olhando, até ela mudar o assunto: — Vou preparar algo para comermos. Alguma preferência?
— Não… Eu te ajudo.
E o assunto encerrou-se. Enquanto preparavam lado a lado o jantar, durante todo aquele período eles permaneceram em constrangedor silêncio, rompido apenas quando estavam servindo seus pratos e jantando de fato. Black observou-a levando a garfada à boca sem o encarar e, incomodado, deu voz a dissipar o clima:
— Eu preparei uma coisa para fazermos amanhã…
— O quê?
— Se lembra que você prometeu me mostrar seus dotes de motoqueira rebelde? Que tal amanhã? — Jacob sorriu e o acompanhou, finalmente.
— Seria uma boa, mas… Não tenho uma moto.
— Mas eu tenho. Duas. E amanhã bem cedo nós vamos pilotar.
— Eu tenho turno na farmácia às oito.
— Prometo ser pontual.
O assunto realmente aliviou os momentos anteriores, mas depois da decisão eles jantaram calados, observando um ao outro. Pensativos, cada qual em suas próprias neuroses, arrumaram a cozinha juntos. Com o dito e não dito, percebeu o quanto tudo aquilo era torturante, pois antes havia uma barreira e os dois mal se falavam, porém era suportável. Mas ali, naquele instante onde ambos já sabiam da importância um do outro… Todo aquele afastamento era dilacerante. No corredor, indo aos quartos para dormir, eles pararam em frente à porta do quarto de e, ainda abalados, se despediram estranhamente.
— …
— Boa noite, Black. — Ela virou-se para entrar.
— , espera! — O rapaz a segurou. — Eu estraguei tudo, não é?
— Não. Está tudo bem. Estragar o que, não é mesmo? Boa noite. — Tentou sair, mas Jacob ainda segurava sua mão, o mesmo tom de voz e postura de insistência:
— , por favor… Não vamos ficar assim estranhos.
— É, Black… Você bagunçou bastante, sim. Você me bagunçou e revirou o que quer que estava indo bem entre nós… — dissera se controlando para não deixar lágrimas revoltadas caírem.
— Me deixa ao menos tentar me explicar melhor?
— Não. Não, Black. Eu estou cansada, com sono. Amanhã nós conversamos sobre isso se for realmente necessário. — Finalizou ela após dar um beijo de despedida no rosto do rapaz e entrar em seu quarto para dormir. Depois de tudo aquilo, só queria adormecer e não pensar em dúvida alguma.
[ —– ]
Ela despertou na manhã seguinte junto aos primeiros raios solares. Jacob, apesar de levantar cedo, ainda não estava acordado, uma vez que não o encontrou no térreo da casa. Ela abriu a porta da casa observando de sua varanda o início do dia ainda um pouco nublado. A entrada daquele casebre naquele horário proporcionava uma bela visão do nascer solar sobre a copa dos pinheiros, como se o Sol se ocultasse na densa mata à frente.
Enquanto inspirava a brisa matutina — com agradável cheiro de orvalho e uma pequena pontada desagradável de bolor —, ela se recordou de que raras vezes apreciara aquele momento lindo em sua quase “cabana dos horrores”. Ela observou o assoalho de madeira da varanda, repetindo de modo automático um gesto que sempre fazia na intenção de perceber a presença dos animais selvagens. Porém, aquele gesto já não causava as mesmas sensações. As sensações da misteriosa proximidade dos lobos. Porque naquela ocasião, já sabia de tudo. E ali, observando o seu piso coberto de poeira e nenhum pelo, a mulher imaginava qual seria a razão dos quileutes não mais a protegerem se ainda havia perigos. Perigos do tipo que faziam Erick procurá-la de madrugada para a alertar e ela ter que pedir socorro a Jacob.
entrou novamente em sua casa, preparada para iniciar a manhã com uma deliciosa xícara de café. Enquanto ela terminava a montagem do sanduíche com pasta de amendoim que Jacob tanto gostava, ele surgiu à porta da cozinha. Os dois ainda não sabiam ao certo como agir depois daquela noite cheia de tensão. Sentiam-se envergonhados por dizerem tanto ao não dizerem nada.
— Bom dia, Black. — Ela rompeu o silêncio com um cumprimento e um sorriso. — Dormiu bem?
— Bom dia, . Dormi e você?
— Mais ou menos — ela respondeu simples e Jacob se aproximou da bancada sentando na banqueta ao lado dela.
Ela estava de pé e Jacob virou o banco de forma que, sentado, ele ficasse de frente para e o corpo dela posicionado entre as pernas dele. O lobo a observava de forma intensa, analítico ao que poderia absorver sobre que humor ela tinha naquela manhã e, embora silenciosa, sentiu o olhar dele queimando sobre si.
— Coma — ela disse apontando para a mesa posta.
— Pasta de amendoim? É o meu favorito — Jacob falou pegando o sanduíche e ainda fugia do olhar dele servindo-se de mais uma xícara de café.
— É… Eu sei que é — concordou sentando-se ao lado do rapaz e mantendo-se em silêncio.
— … Sobre ontem…
— Black — finalmente o olhou à face e interrompeu o que ele diria, suspirou antes de declarar: —, não sei se eu quero falar sobre isso.
— Mas, Mani… Eu quero explicar. Eu preciso.
— E eu não quero ouvir! Não agora!
— Nós temos que falar disso! — Jacob foi um tanto enfático, tal como ela.
tornou os olhos para sua xícara, negando com a cabeça e bufando ao abaixar a cabeça. Black fechou os olhos arrependido por seu tom um tanto impetuoso e reclamou:
— Já estamos discutindo de novo.
— É isso que estou querendo dizer… Não estamos preparados… Na verdade nós não temos nem mesmo motivo para isso tudo. Temos? — falou ainda encarando a bancada.
— Temos! — Black proferiu certeiro e com singeleza ergueu o rosto dela para si ao tocar o queixo da mulher. — Mas concordo que podemos esperar para esclarecer qualquer coisa quando estivermos um pouco menos afetados emocionalmente.
— Ótimo! — ela declarou e, olhando para o relógio da cozinha na tentativa de afastar a mão dele de seu rosto, percebeu: — E então… Ainda vai dar tempo? — Black encarou ao relógio também e tocou-se de que precisariam ter saído bem mais cedo.
— Nossa! É mesmo! Perdemos a hora… Eu deveria ter levantado mais cedo.
— Eu também me esqueci do passeio… Me desculpe — pediu ela.
— Tudo bem. Nós dois fomos dormir tarde.
— Quando pode ser?
— Quando você quiser, Mani.
— Que tal amanhã? É sábado e eu não vou trabalhar.
— Às sete?
— Pode ser.
— Até lá então. — Jacob concluiu e beijou a testa dela, já se levantando para sair.
— Espera, Black… Aonde você vai?
— Embora? — ele respondeu com um sorriso calmo.
— Ah… Tá… Achei que íamos sair juntos… — mencionou um tanto confusa porque, apesar de tudo, queria passar mais tempo com ele, e constatar aquilo só deixava-a ainda mais perplexa com os próprios sentimentos.
Ela passou a mão na nuca, virando o restante de seu café em um único gole ansioso. Jacob começou a rir de modo discreto e fraquinho, como alguém que acha a situação engraçada e ingênua. Sacudiu a cabeça de um lado ao outro em negativa e encarou a mulher sentada na banqueta do lado, um tanto resistente entre ser “durona” ou pedir pra que ele ficasse.
— Ah … Você me perturba tanto… — declarou.
Atenta, virou seu rosto para encarar o dele acima de sua cabeça, foi surpreendida com os braços fortes de Jacob passando ao redor de sua cintura e a erguendo dentro de um abraço apertado, porém, acolhedor. Jacob deixou um beijo casto no pescoço dela e deixou um beijo indeciso no ombro dele. Os dois haviam então se despedido como sempre faziam. Ela o acompanhou até a porta e em seguida preparou-se para mais um dia de trabalho.
Capítulo Dezesseis - Entre homens...
Um pouco mais tarde naquela manhã, Erick surgiu na farmácia para deixar espalhado alguns cartazes de “procurado” nas paredes do estabelecimento como fizera por toda área comercial de Forks.
— Estes são os suspeitos dos ataques? — perguntou observando os rostos impressos nos papéis.
— Não. São assaltantes que têm importunado alguns alpinistas… — Ele ia contar um pouco mais sobre o caso dos ataques, mas a presença de uma das irmãs Parker adentrando o ambiente lhe chamou a atenção.
revirou os olhos em sinal de nenhuma paciência e se preparou para caso aquela fosse outra tentativa de lhe implicar, mas Daniela apenas a ignorou, sendo diretiva ao policial:
— Bom dia, Erick. — Abraçou-o. — Sumiu lá de casa, por quê?
— Daniela… Você sabe que não faz muito sentido, não é?
— Jessica está desesperada para falar com você. — A irmã mais nova dava o recado e o policial encarou-a, de certo modo, preocupado.
— Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceram muitas coisas, não é, Erick?
— Bom. Ela pode me telefonar e sabe disso.
— De todo modo… Por que não passa lá em casa? Essas conversas devem ser feitas pessoalmente, não acha?
, apesar da pequena curiosidade, atentou-se somente em seu trabalho como se estivesse sozinha na loja. Contudo, desconfiava de que Jessica estivesse grávida de Erick como a mesma declarou semanas antes.
— Tudo bem, Daniela. Diga a Jessica que pela noite, ao fim do meu expediente, eu estarei lá.
— Claro! — Assim que terminou de falar com o policial, Daniela lançou a um olhar de vitória e a outra mulher sorriu ladina, em total piedade.
Era lamentável a cena que aquelas duas faziam contra , em achar que todo e qualquer homem de Forks a interessavam quando a mesma tinha olhos somente para uma região daquele condado. Erick ficou parado à porta observando a interação das duas enquanto Daniela caminhou na direção da gerente.
— Bom dia, Daniela — mencionou educadamente.
— Bom dia. Preciso destes medicamentos. — A cliente esticou uma receita, desprezível e sem sinal de cordialidade.
— Só um minuto. — encarou-a de cima a baixo e pôs-se a ler o papel e digitar algo no computador. Conferiu o registro médico assinado no papel bem como as dosagens passadas, em seguida entregou-lhe a medicação. Daniela pagou e saiu despedindo-se somente de Erick.
— Qual é o problema de vocês duas? — o policial perguntou para apontando o percurso da silhueta de Daniela.
— Pergunte a elas a razão da implicância. Estas duas, desde que eu cheguei aqui, me odeiam.
— É porque você é muito bonita, diferente e atraente, — Erick mencionou risonho dando de ombros e o agradeceu aos elogios. — Mas o que acha do que ela me disse? Será que a Jessica está mesmo grávida? — Jones lhe perguntou.
— Bem, eu não sei, Erick. Você é quem deve saber, não é?
— O que ela poderia querer falar comigo?
— Juro que também não sei, apesar de sermos amigas íntimas — falou ironicamente com cara de óbvia para ele. Erick riu, apesar de não esconder que o modo como Daniela lhe deu o recado deixou-o ansioso. também percebeu e tentou o despreocupar: — Fique tranquilo. Não deve ser nada grave.
— É. Tomara. — Por fim, Erick bateu no tampo do balcão e lançou um beijo no ar para , saindo em despedida. — Fique atenta aos cartazes, !
— Pode deixar!
E ela ficou. Durante os momentos vagos de clientela, alternou o trabalho com momentos de contemplação aos cartazes. Observou-os como se quisesse gravar a cara dos assaltantes em sua memória, também se mantinha curiosa sobre quem seriam os suspeitos dos ataques e quando seria possível ver os cartazes deles. Ao fim de seu turno, após ser rendida por Steve, precisou passar do supermercado da cidade.
— Boa tarde, Carter! — ela cumprimentou o rapaz que estava parado ao lado de uma prateleira e seguiu caminhando entre as gôndolas.
— E aí, ! — Peter acenou.
continuou suas compras e encontrou Scott apenas no caixa de pagamento.
— Olá Scott!
— Tudo bom, ? — Simpático, sorriu para ela pegando os itens que a mesma colocava na esteira.
— Sim e com você?
— Vou indo…
— Parece cansado, Scott.
— Estou mesmo, um pouco.
— Hm… Scott, está tudo bem? — Preocupada com o semblante mais triste do rapaz, que era sempre tão risonho e altivo, perguntou o encarando sem se importar se pareceria indiscreta. Scott, por sua vez, suspirou longamente e parou de passar as compras dela pelo sensor e, com um toque de amargura nos olhos, encarou-a de volta. franziu as sobrancelhas tranquilizando-o. — Pode confiar em mim, Scott.
— Aceita sair comigo esta noite? Para conversamos.
Se o tom dele lhe ressoasse um resquício de galanteio, tentaria esquivar-se do convite. Mas não foi o que lhe ocorreu. Scott estava sério, como se decidido a ter alguma conversa realmente importante com ela e por isso não tivera dúvidas ao responder:
— Claro! A que horas?
— Pode ser às oito?
— Pode! Eu venho lhe encontrar na cidade.
— Combinado. — Ele sorriu forçadamente.
— E os seus pais? Como estão? — ela perguntou voltando a por suas compras na esteira e ele a registrá-las.
— Minha mãe foi acompanhar meu pai em uma consulta lá em Seattle.
— Está tudo bem com ele?
— Sim, são exames de rotina.
— Bem… Fico aliviada. — terminou de empacotar as compras e se despediu dele, embora ainda estranhando a reação do mais velho dos filhos Carter. — Até mais tarde então, Scott.
— Até lá. Se cuide.
— Você também! — Ela olhou para Peter mais afastado arrumando algumas coisas e acenou-lhe simpática: — Até mais, Peter!
— Beijão, ! — o mais novo lhe gritou sorridente.
saiu descontraída do mercado e até pensativa sobre o comportamento de Scott. O que estaria acontecendo com ele? Não era estranho que Scott estivesse em um mau dia, mas sim o modo como lhe fizera parecer que seu mau humor relacionava-se à própria . De repente, alheia à sua volta, esbarrou em alguém.
— Oh, me desculpe! — pediu esticando um dos braços na direção da pessoa e a ela também, erguendo os olhos.
Bruh. Bruh Ateara era a pessoa em quem esbarrou. A jovem quileute encarou a outra, a quem ela detestava com facilidade, de modo predatório, como se seus olhos transpassassem por dentro de . Mas, ao contrário do que imaginou, Bruh não ameaçou , que não via nada além de uma garota adolescente e revoltada diante de si. Portanto, a encarou de volta, sem abalar-se. As duas passaram em silêncio ao lado uma da outra, com a mais velha sustentando a intimidação de Bruh.
— O que foi, falsa quileute? Quer lutar? — Bruh perguntou zombeteira, quando notou que passava ao seu lado sem desviar-se de seus olhares e ameaçou: — Olha que eu faço um estrago, hein!
— Não me subestime, criança… Posso não ter as mesmas táticas que as suas, mas eu também sei ferir. Onde mais dói. — devolveu-lhe confiante e sóbria.
— Você acha mesmo? — Ateara retrucou, furiosa. — Não deu certo para ele uma vez e não dará de novo! Ele já sabe que garotas como você não podem curá-lo! — Soltou aquilo como se vencesse a uma provocação e saiu sorrindo torto. , porém, permaneceu confusa e estática.
Do que Bruh falava? Ela mencionara Jacob, era claro, mas… O que ela queria dizer com aquilo? Curar Jacob de quê? De que garotas estava falando? Não dar certo de novo? Apesar da sensação de perder informações importantes, tentou não dar tanto foco àquilo. Talvez Bruh só quisesse enganá-la ou dizer qualquer coisa para provocar reações em . Entretanto, era inegável que a jovem Ateara conseguira deixar irritada! Pensar em que garotas ela se referia ou situação, a fez rememorar as desculpas de Black na noite passada.
— Lobinha ridícula! Cachorra de meia-tigela! Quem ela pensa que é? Aquela pirralha… — xingava Bruh enquanto entrava furiosa em sua casa e de repente um lampejo racional veio à sua mente. De novo, as palavras de Bruh ressoaram como se a cena repetisse:
“Você acha mesmo? Não deu certo para ele uma vez e não dará de novo! Ele já sabe que garotas como você não podem curá-lo!”
E em seguida, mais uma vez, as palavras de Black:
“(…) É que eu tive um vínculo com uma pessoa, mas eu não sinto mais nada… Nem sei se senti. É confuso é que… Você é especial, desde você eu já não sei qual a razão desse sentimento antigo, e tantas coisas foram mudando…”
Se havia dúvidas antes de ouvir Bruh, depois, já não havia mais: Jacob tivera, ou ainda tinha, sentimentos por outra pessoa. Era alguém que definitivamente não deu ou não estava dando certo. Ponderou se poderia ser a própria Bruh… Mas não… Ele lhe garantiu que não a suportava! E depois… “sentimento antigo” ele dissera… Vasculhando suas memórias, teve um insight de outra conversa, mais antiga, entre ela e Embry:
“Sabe, , Jacob sente amargura. Ele era apaixonado por Bella, mas então… As coisas tomaram rumos diferentes. Ela deve ter te comentado algo sobre isso, não?”
Bella? A sua antiga amiga? Jacob falava de Bella? De certa maneira, até faria sentido… A garota como ela de quem Bruh falou, o sentimento antigo… Só poderia ser sobre Bella! Mas era tão estranho pensar que Jacob não conseguia se relacionar consigo por causa dela. Algumas coisas pareciam começar a fazer sentido, mas em todo o caso, não tinha a menor segurança sobre tal hipótese. Não sentia que fosse Bella a lembrança que se colocava entre ela e o quileute.
Durante o restante de seu dia, fez tudo o que pôde para afastar aqueles pensamentos. Estava começando a perder o controle sobre o que sentia. Jacob começava a ocupar uma parcela grande demais dos seus desesperos e tornava-se ainda mais, a cada dia, o motivo maior de sua insônia.
Às seis horas, parou com tudo o que fazia e foi preparar-se para escolher que roupa usaria no encontro com Scott. Concentrou os pensamentos no amigo, pois a preocupava vê-lo daquele jeito. Apesar da bela aparência e da excelente personalidade, Scott parecia ser muito solitário. O que era, também, muito controverso para alguém no qual a aura acarretava simpatias inúmeras, principalmente do público feminino. Daniela Parker que o diga! Scott parecia não ter amigos, sempre ocupado, sempre solícito, como alguém que cuida de tudo para os outros, mas não para ele.
Quando estava perto do horário de sair para ir até a cidade e o encontrar na casa dele como planejara, ela deparou-se com batidas em sua porta. Estranhou, pois justamente havia dito a ele que iria ao seu encontro, a fim de que não desse a entender ao garoto que era um encontro romântico, já que ela sabia dos sentimentos de interesse do rapaz. Mas Scott pareceu notar a intenção de depois que haviam se despedido e adiantou-se em ir buscá-la.
— Boa noite, ! Sei que disse que nos encontraríamos na cidade, mas fiz questão de vir buscá-la. É um tanto mais educado, não é? — ele falou assim que deparou-se com a mulher ao abrir a porta, de semblante confuso.
— Boa noite, Scott… Bem, eu… Tudo bem — disse ela, sorrindo ao final e o observando com mais atenção.
Ele estava muito bonito. Simples, mas irremediavelmente bonito, e a expressão cabisbaixa pareceu um pouco melhor. Talvez sair para conversar com ela o tivesse animado, e ficou feliz em ter aceitado o convite do rapaz, visto que poderia fazer-lhe um bem.
— Você está linda.
— Ah, obrigada, mas estou o mais natural possível.
— Eu sei disso — Scott respondeu com uma serenidade habitual de todas as vezes que rasgava elogios à amiga.
— Mas por favor, entre. Seja bem-vindo.
Scott adentrou a casa bem arrumada e aconchegante de , embora fosse igualmente sombria pela distância de tudo. Ele não deixou de notar os riscos, mais uma vez.
— Como consegue ficar tão só? Não tem medo, ? — ele perguntou com um humor fraco evitando ofendê-la. — Esse bairro… Me dá arrepios, confesso. E a sua casa tão solitária…
— Eu tenho medo, na verdade… Frequentemente, ainda mais. — Ela riu. — Mas eu a comprei, não é? Não vejo como me livrar dela e depois eu não tenho para onde ir por enquanto. Este é o único bairro disponível em Forks. Parece que as pessoas não querem sair daqui, mesmo apesar de tudo o que acontece.
— É… Tem razão. Mas você precisa de uma companhia.
— Uma companhia? — ela indagou curiosa e até irônica, porque se ele lhe sugerisse um cachorro, seria de fato engraçado.
— Sei lá — ele riu —, alguém para não ficar tão só… Um parente. Ou algo que a protegesse como um cão ou um marido.
— Eu tinha os lobos, mas parece que eles saíram de temporada. — Ironizou e reforçou: — E um marido? Sério, Scott? Não sei… Entre lobos e homens, acho que prefiro os lobos.
— Os lobos não deveriam te causar tranquilidade — o rapaz respondeu curioso, observando-a terminar de fechar a casa para saírem. — Não quer casar?
— Talvez um dia… Por enquanto, tenho outros planos.
— Entendo… Podemos ir?
— Sim, podemos. — pegou sua bolsa, apagou as luzes e trancou a porta da frente. — Aonde iremos?
— Nada público. Não queremos fofocas, não é? No seu caso… Mais fofocas.
— Sim, por favor! — Concordou risonha. — Algum lugar secreto?
— Um vilarejo próximo. Meia-hora de viagem. Mas garanto que não irá se arrepender.
— Tudo bem, eu gosto de vilarejos, lugares simples…
— E aldeias indígenas — Scott disse de modo objetivo.
— É. Você tem algum problema com isso? — perguntou recordando-se de quanto Erick era contra aquilo.
— Não. Eu também gosto, talvez você até fique surpresa…
não soube a respeito do que ficaria surpresa, mas enquanto ele dirigia, ela o observou meticulosa. O rosto pesado, a boca rígida, os olhos sem foco. Transparecendo uma alma assombrosa, perturbada, um fantasma interno. Ela estava tão desconfortável com aquilo! Ela queria e precisava ajudá-lo. Aquele não era o Scott que ela conhecera e qualquer que fosse o motivo de sua mudança, desejava que ele voltasse ao que era.
— Scott. O que está acontecendo? Você está tão triste e eu estou realmente preocupada.
— Está preocupada comigo? Por quê?
— Porque você é meu amigo. E eu sei que tem algo o incomodando… Não pode se abrir comigo?
— Desculpe, , eu não quero te preocupar ou fazê-la achar que estou sendo um imbecil de propósito… Fazê-la me desprezar ainda mais…
— Desprezá-lo? Eu nunca o desprezei, Scott. Nós já saímos tantas vezes, não é? Eu, você e o Peter. Menos vezes do que eu gostaria, mas em todas, acho que deixei claro o quanto gosto de você…
— Sim, deixou. E me desculpe, , talvez a culpa seja inteiramente minha por criar expectativas irreais. Mas acho melhor esperarmos chegar para conversamos sobre isso.
— É por minha causa que você está assim, não é? — Ele a olhou de soslaio, incomodado. E bastou. não precisava ouvir a reposta, estava clara. — Posso ligar o rádio? — perguntou ela.
— À vontade.
E no meio daquela música entorpecente e frenética, “From Now On” dos The Features, observou pela janela os pinheirais de Forks correndo como se tivessem vida própria. Começou a pensar no que dizer a Scott. Estava claro que o assunto dele era sobre o que sentia por ela. A sua mente traíra e cruel, no entanto, a importunava em distraí-la sobre Jacob ao invés de formular uma desculpa decente para Scott.
Jacob, Jacob, Jacob… sequer percebeu quando chegaram porque, como dito, ela travava uma luta interna consigo, segurando lágrimas, ódio e desejo por Jacob. O carro estacionou, ela de olhos fechados e escorada ao banco, e Scott a chamou algumas vezes.
— Você está bem? Chamei umas três vezes…
— Desculpa, Scott… Estava distraída.
— Ok… Vamos? Nós já chegamos.
assentiu sorridente, Scott abriu a porta do carro para que ela descesse e, ao fazê-lo, se deparou com um lugar incrível. Uma cabana com lâmpadas amarradas em cordas que se uniam, cabaninha por cabaninha; um pátio do tal vilarejo, que muito a lembrava a vila dos quileutes; pessoas sentadas em suas varandas, crianças correndo na rua, casais de namorados nas escadarias das cabanas e ao fundo, uma maior, por onde saía um som alto, barulho de vozes e risos. Era um bar. Típico “Saloon” de faroeste.
— Que lugar é esse, Scott? — perguntou sob uma expressão maravilhada em presenciar uma cena tão antiga de filme.
— Vilarejo Menitt Howa.
— É uma tribo indígena?
— Sim, mas não tão mais indígena há muito tempo… Alguns costumes foram mudados com o tempo.
— É um lugar incrível.
— É… Mas só tem isso — ele disse apontando ao redor deles e sorrindo. — As cabanas dos moradores e o velho bar.
Scott abriu a porta para que entrasse na cabana, ou “saloon”, onde o bar funcionava, enquanto a mulher esmiuçava com seus olhares atentos cada detalhe, cada pessoa.
— Tá brincando, Scott? Não tem mais nada?
— Não. É um esconderijo perfeito, não acha?
— É sim!
Os dois sentaram-se à uma mesinha ao fundo. O lugar parecia muito com os velhos salões de bebidas do faroeste que assistia nas antigas fitas de filmes, herdadas de seu pai. A não ser pela decoração cheia de carrancas, artesanatos de tribos e muitos rostos simpáticos que diferiam do cinema.
Scott fez sinal para uma mulher que aparentava seus oitenta e alguns anos, um cabelo negríssimo, com poucas mechas grisalhas que media até os joelhos, todo trançado; alguns penachos decoravam seu penteado, olhos pequenos e puxados. Lembrava o rosto dos asiáticos, mas a pele era vermelha, como da maioria das tribos americanas antigas.
— O que vai querer beber, ?
— Não sei, o que você vai beber ou me sugere? — disse admirando a mulher sorridente, que a observava como se a conhecesse há anos.
— Eu estou dirigindo. Quer uma cerveja?
— É, pode ser — respondeu absorta, ela ainda encarava a mulher de forma encantada. Aquela senhora era linda. Transmitia uma paz…
— Silakan melayani kita bir dan kaiak — Scott disse à mulher.
— Ya pak — a velha respondeu sorridente saindo em seguida.
— Mas o que foi isso? — perguntou com a boca aberta e o cenho franzido numa satisfatória surpresa.
— É a língua que eles adotaram ao virem da Ásia.
— Como sabe dessas coisas?
— Frequento aqui há bastante tempo… Eu trago a mercadoria para que eles vendam.
— São seus fregueses?
— Não. São meus amigos. Ninguém, até onde sei, de Forks sabe desse lugar.
— Além de mim?
— Sim e, claro, da minha família — ele disse rindo.
O astral de Scott começou a mudar. O que era totalmente compreensível estando naquele lugar.
— Eu forneço para eles a mercadoria a um preço pequeno, basicamente só repassamos o custo. É também nossa forma de ajudar, já que o que restou da tribo vive com tão pouco. Distantes de tudo. Eles também fazem os trabalhos manuais que são vendidos na estrada e têm suas receitas próprias aqui na cabana.
— Eu acho que você não poderia ter me trazido a um lugar melhor…
— É perturbador presenciar a forma como você fica diante de lugares assim… Imagino que foi o mesmo quando conheceu os quileutes.
— O que quer dizer?
— Seus olhos… Transmitem uma alegria que não vejo em você quando está na sua rotina. É como se você pertencesse a esse mundo.
— Seu pai estava certo quando me viu e perguntou se eu era quileute. — revelou e Scott espantou-se com o que ouviu. — Quero dizer… Eu não sou uma quileute, mas eu tenho sangue indígena.
— Sério? — indagou chocado de um modo positivo. — Isso explica algumas coisas.
— Meus pais… Eram filhos de indígenas.
— Você é realmente a pessoa mais surpreendente que Forks já viu… Nem mesmo os Cullen causaram tanto alvoroço nas pessoas.
— Os Cullen? — ouviu aquele nome e algo em si pareceu reconhecê-lo. Onde ou quem já havia lhe dito sobre eles?
— Uma família bastante singular que morou por aqui. Há alguns anos eles se foram. E a Bella foi com eles, ela casou-se com um deles, o Edward. Foi um grande evento… Ela destoava um pouco deles, não sei bem no quê, mas… Era estranho.
— Por que nunca me disse isso?
— Não sei, talvez não tivéssemos falado de nada que me levasse a comentar…
A senhora chegou com as bebidas ‘kaiak’, ‘ber’. Quando estava saindo, disse outras coisas para Scott e olhando para , sorriu:
— Dia benar-benar indah. Tapi masa depan mereka tidak menyeberang.
— O que ela disse? — logo perguntou, muito curiosa, sem tirar os olhos da senhora.
— Não entendi… — Scott, apesar de compreender, mentiu, pois não queria contar à moça que o que a senhora dissera foi que era realmente muito bonita, embora seus futuros não se cruzassem.
— Por que eu causo tanto alvoroço nas pessoas, Scott?
— Eu não consegui compreender ainda, mas… Papai disse que grandes mudanças vieram com você.
— E pode me dizer por que as pessoas se importam tanto com o que o seu pai diz…? Quero dizer, é como se elas confiassem na certeza das palavras dele.
— Meu pai nunca diz algo que não acontece. Ou que não tenha coerência.
— Ele é um tipo de profeta?
— Não. — Scott riu. — Mas sempre acerta, na grande maioria.
— E que mudanças são essas?
— Ele não diz. Acho que não sabe. Mas toda a cidade sente.
— Como assim?
— As pessoas sentem-se atraídas por você, mas não sabem se isso é bom… Não percebe isso?
— Atraídas? Por mim? — riu como se escutasse um absurdo. — E sentem medo?
— Não… É algo maior… — Carter disse aquilo como se estivesse buscando ou enxergando alguma coisa ao redor dela ou, ainda, como se soubesse que havia um mistério, embora, fosse incapaz de defini-lo.
e Scott beberam suas bebidas, encarando-se em silêncio. Ela esperando alguma resposta, e ele a analisando até declarar de novo:
— Seu olhar, … Ele é fulgurante. Anunciador de alguma coisa além do que podemos compreender.
— Você está me fazendo sentir como se eu fosse um mostro… — a mulher falou cortando o clima de suspense e fazendo Scott rir.
— Não. Só não é alguém comum. Nem surgiu para pequenas coisas. Conte-me! Como era a sua vida, suas relações com as pessoas, antes de vir para Forks?
— Ah… Eu sempre fui rodeada de amigos. Algumas intrigas também, mas para mim isso sempre foi normal.
— Sempre foi popular, não é?
— É, acho que posso dizer isso.
— Ninguém consegue imaginar você e a Bella como amigas. Principalmente porque a Swan era… Apagada. O contrário de você. Eu, por exemplo, sentia algo de sombrio nela. Acho que é por isso que algumas pessoas te evitam, ! Por saberem que a Bella trazia um desconforto para nós e quando se uniu aos Cullen isso ficou maior. Eles não eram más pessoas. Mas eram muito distantes de todos, um pouco estranhos. E acho que algumas pessoas querem ficar perto de você, pelo inverso, justamente porque para alguns, você desperta o contrário do desconforto de Bella.
— Bella não tem sido o melhor ponto de referência para mim desde que cheguei. Ninguém fala nada que possa explicar isso. Mas acho que ninguém sabe de fato sobre alguma coisa a respeito do que houve com ela.
— Só os quileutes. Eles devem saber, com certeza — Scott respondeu convicto sob um risinho sábio. No mesmo instante, sua expressão estava diferente de novo.
— Por que diz isso?
— Eles são conhecedores de todos os mistérios da cidade. É o povo mais antigo. Os primogênitos de Forks. É por isso que você é tão apegada a eles? Por causa da relação em comum com a Swan?
— Não. Eu realmente gosto deles.
— Quer outra cerveja? — Scott perguntou desviando o assunto para a bebida. Não precisava que ela de repente começasse a dizer o quanto era apaixonada por algum quileute, como o mesmo desconfiava que seria.
— Sim, por favor.
— Quer experimentar uma comida típica daqui?
— Hum, claro!
— Rasa Tanah. Rasa significa sabor e Tanah, terra. É o que eu mais gosto, na verdade é um prato à base de carnes e tubérculos.
Depois de explicar a , Scott chamou a velha senhora e fez os pedidos.
— Você me parece à vontade aqui.
Sim. É meu refúgio. Surya, além de tudo, sempre foi uma grande amiga, uma ótima conselheira.
— Surya… É o nome da senhora que nos serviu?
— Sim. Ela é a Ibu pemimpin keluarga da vila. A matriarca. É a mais velha viva.
— Qual a idade dela?
— Completou cento e quinze anos, mas tem alma e carinha de oitenta.
deixou o queixo cair com a informação surpreendente de uma vida duradoura como a de Surya.
— Ela é linda.
— Sim. O povo diz que Surya foi a mais bela mulher da aldeia. Desejada por todos. Mas casou-se com o filho do cacique.
— E ele?
— Morreu em uma batalha. Ela não era apaixonada por ele e quando ele descobriu, propôs ao homem que ela amava a disputa por ela. É um dos costumes da vila, que já não existe mais. Aqui o que manda é o sentimento das mulheres. Os homens devem zelar pela felicidade delas.
— Que incrível! — falou encarando-o de modo ainda mais admirado pelo amigo e ele notou.
— Por que está me olhando assim? — perguntou.
Outra pessoa foi os servir enquanto Surya apenas observava aos dois, cautelosa, do balcão.
— Como você pode ser outra pessoa tão encantadora quanto a que eu conheci no mercado? Eu jamais… Imaginaria você com tudo isso. — apontou para o entorno em que estavam.
— Então eu acertei. Eu sabia que quando a trouxesse aqui você gostaria mais desse Scott.
— Não. Não gosto mais. Eu continuo gostando de você da mesma forma, Scott. Só a minha admiração que aumentou.
— Que pena, então… Eu achei que conseguiria conquistar um pouco mais de afeto.
— Scott… Vamos voltar ao ponto que paramos no carro. O que você está sentindo, além de tristeza por ter sido desprezado, embora não tenha sido?
— Eu te amo — ele declarou de uma só vez, após a pergunta dela, sem receios. , no entanto, sentiu seu sorriso e reação de alguém pronta a confortá-lo esmorecer. — Evitei dizer isso todo o tempo. Mas acho que sempre deixei claro o meu interesse, não é?
— Amor? Isso é tão inconsistente, Scott…
— Por quê?
— Porque para amar a gente tem que conhecer.
— Embry já havia me dito que você não acredita em amor à primeira vista.
— O Embry? Quando falaram sobre isso?
— Já tem algum tempo. Nós também somos amigos. Eu contei a ele o quanto eu sentia a necessidade de estar mais perto de você, mas eu sabia que você não se interessava por mim. Então o procurei para perguntar se você estava com alguém da reserva. Tomei um susto quando ele me disse que vocês estavam juntos, mas já haviam terminado. Então ele disse que eu deveria ser sincero com você, mas só falar quando eu realmente estivesse preparado, porque você não acredita que um homem pode, sem pedir muito, amar de repente.
estava mais do que surpresa. Estava confusa. Guardou aquelas palavras que mereciam uma análise cuidadosa quando estivesse em sua casa.
— Estive me preparando essa semana para te dizer o que sinto e receber um “não”, bem grande. Mas confesso que por mais que eu já saiba o que você me dirá, é difícil me conformar.
— Sabe o que eu vou dizer?
— Que no momento você não está preparada. Que está confusa com algumas coisas, com outra pessoa. E que espera que possamos continuar amigos e irá dizer também para eu pensar um pouco mais no que eu sinto. Porque não quer me magoar e não quer que eu me confunda.
— Você é bom — ela disse envergonhada. — Isso é… Constrangedor. Eu já sabia que o assunto era mais ou menos sobre os seus sentimentos relacionados a mim… E que eu teria que dizer alguma coisa, mas não consegui pensar em nada para falar. Nem mesmo pensei que ouviria tudo o que você disse. E como você também afirmou, eu não tenho como lhe prometer ou permitir que aconteça algo… Eu estou em um momento um tanto… Indescritível até mesmo para mim.
— Isso significa quê?
— Que você não deve ter esperanças, Scott. Não é que eu esteja te rejeitando de um modo permanente. Pelo contrário, você tem atributos e qualidades que muito me atrairiam. Pode ser que um dia… Sei lá, as coisas me levem a nós, mas não confie nisso. Eu nunca vou tomar alguma atitude até que eu tenha certeza dos riscos. Na verdade, isso é mentira… — repensou o caminho que o próprio discurso estava tomando e recalculou os argumentos sinceros. — Eu tenho me arriscado muito ultimamente e não consigo refrear esses atos impensados, mas sei que quando o risco não virá para mim e sim para alguém importante a mim, eu analiso com cuidado. Eu não arriscaria nem um fio de cabelo de quem eu amo.
— De quem ama… Como pode dizer isso? Há pouco falou que para amar a gente tem que conhecer… — desafiou-a de um jeito calmo e sereno. O jeito de Scott.
— Eu… Scott… A questão não é essa! Eu amo você, amo o Peter, o Erick, os quileutes… Os poucos amigos que tenho aqui, como iguais. Mas o amor ao qual você se refere, não é amor. É paixão. Não estou dizendo que você não pode me amar, só estou dizendo que o que você sente ainda não pode ser amor.
Scott a olhou apoiando a cabeça nas mãos em cima da mesa. Bebeu seu kaiak e fitou-a como se tentasse invadir seu interior.
— Que cara é essa? — perguntou aflita.
— Estou tentando decifrar você… — Ele a fez sorrir sem graça descontraindo o clima desconfortável que havia ficado. — Então quer dizer que… Eu posso manter a esperança, mas não acreditar em nós? — indagou com certa confusão, pois a desculpa dada pela amiga era, de fato, contraditória.
sorriu largamente ao ver a expressão de quem tentava a pegar desprevenida com aquela retórica. E o sorriso dela, contagiou o dele. virou um gole e, suspirando, pediu para que eles esquecessem aquele assunto:
— Scott… Só vamos deixar que aconteça o que, e se, tiver que acontecer.
— Tudo bem. Eu sei que não sou eu. Sei que não vai acontecer, mas uma única vez… Eu vou te beijar, . Porque não existe outra que eu queira tanto, e nem vai existir. — Ela escutou aquilo surpresa, e ficou sem resposta. Não sabia o que dizer a ele.
encarou Scott com seus olhos arregalados enquanto os dele transpareciam calmaria, no rosto do belo homem havia um grande sorriso. A velha senhora aproximou-se dos dois após observar um pouco da dinâmica do casal e, encostando a mão no ombro de Scott, disse como alguém que surgia apenas para intrometer-se:
— Gadis itu bingung. Dan kamu menipu dirimu sendiri. Gadis itu bukan milik tujuanmu.
(— A menina ficou perplexa. E você está se enganando. A menina não pertence ao seu propósito.)
— Dia mungkin bukan miliknya, tapi dia ada di dalamnya.
(— Ela pode não pertencer, mas está nele.)
observou a conversa entre os dois, confusa, claro. Mas sentiu ainda mais curiosidade, pois entre os dois pairava uma atmosfera de que o assunto era ela. E caso estivesse certa, ela sabia que Scott não lhe contaria, por isso, pegou seu celular e pôs-se a gravar o que eles falavam, sem que os dois notassem.
— Jangan kejam pada dirimu sendiri. Itu tidak akan bertahan lama, dan apa yang kamu rasakan hanyalah tandanya.
(— Não seja cruel com você. Não vai durar, e o que você sente é apenas o sinal disso.)
— Tapi tanda-tanda itu bisa menjadi hal yang baik, dan aku menginginkannya.
(— Mas esses sinais podem ser uma coisa boa, e eu quero.)
— Dia bukan untukmu, terimalah.
(— Ela não é para você, por favor, aceite.)
— Aku merasakannya. Aku merasakannya. Dan itu tidak berarti dia juga bukan bagian dari diriku… Aku juga bisa terhubung dengannya.
(— Eu senti. Eu sinto. E isso não significa que ela não seja também parte de mim… Eu também posso estar ligado a ela.)
— Jika seperti yang kamu katakan, jika kamu ingin menempuh jalan itu, maka kuharap kamu benar-benar siap.
(— Se é como diz, se quer seguir por este caminho, então espero que esteja realmente pronto.)
— Aku sudah siap untuk waktu yang lama.
(— Estou pronto há muito tempo.)
— Jalur ini tidak bisa kembali, hanya ada satu kesempatan untuk memilih.
(— Este caminho não tem volta, só há uma chance de escolher.)
— Aku sudah tahu apa yang akan dia pilih. Jadi mencoba tidak akan menyakitiku.
(— Eu já sei o que ela vai escolher. Então não é como se tentar fosse me prejudicar.)
— Bocah riang, tidak tersesat…. Aku akan selalu ada di sini untuk apa pun yang kamu butuhkan.
(— Menino despreocupado, não se perca…. Eu estarei sempre aqui para o que precisar.)
— Saya menghargai itu, Nenek.
(— Agradeço por isso, vovó.)
A senhora sorriu para Scott depois daquele diálogo e olhando a expressão curiosa e confusa, também um pouco boquiaberta de a encará-los, sorriu para ela também, e em seguida a anciã saiu.
— Eu vou arriscar, apesar de achar que não, mas… Você vai me deixar saber o que disseram?
— Não. É melhor não.
— Tudo bem…
Apesar de desejar interrogar o amigo e arrancar qualquer informação que a mesma pressentia ser sobre si, ela não o fez. Os dois continuaram conversando e nada mais sobre aquele assunto foi dito. Um pouco depois de comerem e beberem, Scott quis levá-la para o pátio da vila e conheceu todo o vilarejo.
Eles caminharam como bons amigos de braços dados, Scott apresentou ela a muitos moradores da vila e, embora fossem dez horas da noite, não parecia que os nativos dormiriam tão logo. Era um povo muito animado! E todos se referiam a Scott como “Anak laki-laki riang”.
As crianças da tribo gostaram do cabelo de , não só pela mistura dos tons negros e mechas castanhas, para elas incomum, como pelo volume farto e as ondulações que diferiam da maioria dos cabelos indígenas da região, sempre tão lisos.
— O que significa “Anak laki-laki riang”?
— Menino alegre, menino despreocupado… Mais ou menos isso — Scott a respondeu orgulhoso.
— Puxa, era mais fácil que eles apenas dissessem o seu nome já que, de fato, pensar em você é pensar em alegria. Sem falar que “Scott” é bem mais curto… — comentou um pouco altinha da bebida e Scott não conteve o sorriso de quem achava graça nela a cada expressão que fazia.
Não demoraram mais a ir embora. Então Scott e se despediram das pessoas com quem conversavam na vila e a mulher prometeu que voltaria. Os dois entraram de novo no carro de Scott e, enquanto ele dirigia fazendo o caminho de saída do vilarejo, as crianças nativas corriam atrás do carro. ficou observando-as sorridente e Scott acenou para elas da janela, afirmando:
— Acene também, senão elas virão atrás de nós até você acenar.
riu fartamente, alegre de fato pela noite tão incrível que tivera e pendurou-se na janela do carro acenando de volta e gritando “até mais” para as crianças. Só então as crianças pararam de correr e acenaram de volta, logo dando as costas e voltando para a vila.
Aquela noite fora uma experiência muito inusitada para ! Não mais que outras que ela havia vivido em Forks, mas era tão especial quanto. Ela estava muito feliz e um pouco bêbada, então, gargalhava divertida e animada no banco do carro, já recomposta, mas segurando sua barriga. Não era risada de graça, era risada de deslumbramento, admiração e alegria genuína.
estava eufórica no banco, digerindo aquelas memórias todas que mais pareciam-lhe ter entrado em um livro de contos e lendas, e Scott a observando sereno, satisfeito. Logo ele começou a rir junto com ela, porque não dava para não achar cômica a reação da mulher que ele não sabia se estava mais surpresa ou sob efeito de uma “metamorfose alcóolica”. Ao vê-lo alternar os olhares entre ela e a estrada, com boas risadas de tudo aquilo, foi acalmando sua efusividade e parando de rir, trocou um olhar indagativo a ele e perguntou:
— As crianças correriam até Forks? O que foi aquilo? — E riu de novo, mas fracamente. — Elas realmente me esperavam acenar! Que divertido!
— É minha culpa — Scott começou a explicar —, acostumei a acenar para elas quando corriam atrás do carro e acho que elas pensam ser um cumprimento obrigatório. Tornou-se um ritual de despedida. Só param de correr quando eu aceno. E como você estava comigo, elas esperavam você acenar também…
Um breve momento de calmaria se colocou entre os dois no carro e , já plácida e ainda mais curiosa, sorriu de maneira singela para Scott, o agradecendo.
— Obrigada.
— Pelo quê?
— Por dividir isso comigo. Você disse que ninguém mais além de você veio até aqui… Que você nunca trouxe alguém…
— Eu ainda posso dividir muitas coisas com você, . — O tom dele não só era sério, como era sedutor de um jeito sutil.
percebeu Scott com outros olhos naquele momento. Era talvez, a primeira vez em que ela o olhava como um homem a quem ela poderia beijar se as circunstâncias atuais fossem outras. Buscando afastar a onda de curiosidade sobre como seria o beijo do amigo, mudou de novo o rumo da conversa:
— Agora… Responde uma coisa?
— O que você quiser.
— Eles não são apenas seus amigos. — Tão logo ela contestou, Scott suspirou como se entregasse a resposta da prova de matemática nas mãos da professora enquanto colava.
— Você percebeu…
— É. Percebi o quanto você faz parte daquilo tudo… É pelo lado do seu pai, não é?
— Sim… Ele é neto de Surya. Mas o meu pai não vem muito aqui por causa da morte dos meus avós.
— O que houve com eles? — perguntou ajeitando-se a sentar de lado no banco, sem retirar o cinto de segurança, muito atenta para ouvir a história que Scott contaria.
— Quando os indígenas começaram a ser caçados pela América, os Menitt Howa perderam muitos deles. Meus avós estavam entre alguns assassinados e os poucos que restaram, fugiram para esses lados, assim como em algumas outras tribos da região. Esse vilarejo é o que restou dos antigo Menitt.
— Por que nunca ouvi falar dessa tribo na história que retrata os povos originários dessa região?
— Porque não é legitimamente americana. A aldeia mesmo era toda de povo indonésio, ao virem para a América os povos misturaram-se entre Apaches e Menitt.
— Como você pode esconder isso tudo de mim? — retrucou indignada, pois, como bem sabia o amigo, ela era uma aficionada por histórias antigas e lendas, além de ser uma curiosa fã de estudar as civilizações indígenas e já havia comentado com ele sobre suas motivações e raízes.
— Era a minha última cartada. Tive que esperar o momento certo. — Ele riu dando de ombros.
— Mas você é completamente diferente… Digo… Vocês não têm essa ligação… Seu pai, o Peter… Não é como os quileutes com a coisa de serem tão parecidos entre si.
— É… Não tinha como sermos idênticos, não é?
— Só na personalidade, Anak laki-laki riang. Você, Peter e o Sr. Carter são igualmente adoráveis.
Os dois riram quando mencionou o apelido de Scott de um jeito atrapalhado. Durante a volta, acabou adormecendo e só acordou quando já haviam chegado e Scott a carregava.
— Ei… — Scott sussurrou e levantou a cabeça que estava recostada no peito dele, e observou ao redor ainda sonolenta, mas reconhecendo sua própria sala. — Acorda, aventureira — ele sussurrou de novo e se explicou: — Desculpe, , tive que pegar a chave em sua bolsa. Não quis acordá-la, dormia tão tranquila, mas achei errado só te deixar aqui e ir embora sem me despedir. — Scott terminou de falar já colocando-a no sofá.
esfregou os olhos e jogou as costas para trás, bocejando, e riu quando voltou a olhar para o amigo em pé, de braços cruzados à sua frente, com um sorriso ladino.
— Tudo bem. Obrigada por me trazer em seus braços fortes, Scott — ela riu — e desculpe por dormir durante todo o caminho.
— Tirando os roncos, está tudo bem.
— Roncos? — Ela arregalou os olhos um tanto envergonhada.
— Estou brincando — Scott disse rindo e se abaixou para acariciar o rosto dela de modo delicado. — Você parecia uma criança cansada dormindo. Acho que foi efeito da cerveja também, não é?
Sentindo os dedos carinhosos dele em seu rosto e a ajeitar alguns fios de seu cabelo, o sorriso simpático e respeitoso de Scott, ficou o olhando com algumas dúvidas e surpresas. Quantas revelações sobre ele, ela tivera naquela noite. O tempo todo havia alguém como ela bem à sua frente. Alguém que não era uma espécie de metamorfo ou lenda, mas sentia-se parte de algo maior. De uma história, uma ancestralidade. E, de novo, percebeu que Scott era atraente de um jeito novo. Enquanto ela ficava calada o esmiuçando, o homem achou estranha a atitude dela. Ficou pensando em o que estaria se passando na mente dela ao encará-lo daquele jeito, e presos em olhares estudando um ao outro, Scott colocou uma mecha do cabelo dela para trás da orelha.
— O que você está estudando em mim? — ele perguntou.
— Como a vida é engraçada… Eu achei que estava cometendo algum crime desviando-me para os quileutes e que estava sozinha… Porque por mais que eu os adore, eles não conseguem me compreender… Quero dizer, eles me acolhem, me tratam como um deles, mas não compreendem os lamentos da minha alma tão confusa… De algum modo, eles e eu somos distantes e muito próximos, mas aí… Você…. Surge com toda a sua normalidade igual a minha, e com os dois pés fincados em um mundinho tão seu… Você é igual a mim, Scott — declarou de um modo quase filosófico. Scott riu fraquinho e abaixou o olhar como quem pensava distante, só tornando a encará-la quando a amiga lhe perguntou: — E você, o que estava analisando me olhando desse jeito?
— Desde que eu a vi, eu já te conhecia. Meu pai também sentiu que já te conhecia, mas ao contrário de mim, ele falou, não foi? Eu guardei cada traço teu, de antes dessa noite, e agora… Enquanto te olhava gravando os traços de uma diferente após ter conhecido a vila, eu pensava… Analisava, ou melhor, tentava analisar… O quanto a sua direção mudou. Porque seus olhos sobre mim já não são os mesmos.
— Isso é ruim?
— Não. Só me pergunto se fiz as coisas no tempo certo.
— Não acho que devamos marcar as coisas com tanta ordenação do tempo… Isso não faz diferença em alguns casos.
— Mas é assim que as coisas são. O tempo organiza. E ele é necessário até mesmo para desorganizar… Então, será que na tentativa de organizar algo confuso entre nós, eu tenha desorganizado ainda mais?
Aquela pergunta pairou sem resposta por alguns instantes, estava deslumbrada. A cada palavra de Scott Carter ela descobria um novo ser, um novo amigo, um novo homem e um novo alguém que talvez fosse capaz de compreendê-la totalmente.
— Boa noite, . Eu tenho que ir agora.
— Tudo bem… Eu te acompanho até a porta — ela sibilou quase inaudível de tanto que estava imersa nas palavras ditas por ele. Se levantando sob um clima de tensão diferente entre eles. Os dois caminharam em direção à porta de entrada dela, quando Scott retesou os passos no meio do caminho. — O que foi, Scott?
— Agora eu fiquei com medo.
— Medo? Medo de que, Scott?
— De acordar amanhã e tudo não ter as mesmas proporções…
— Co-como assim? — A amiga encarou os olhos dele sobre si, um tanto confusa, inebriada.
— Eu vou ter que fazer uma coisa, … Só para que eu possa seguir em frente… Porque se eu não fizer, tanto posso retroceder como continuar no limbo em que estou, mas eu quero arriscar saber o que vem depois.
— Do que está falando? — se aproximou de Scott e tocou no braço dele, preocupada e confusa.
E foi assim que ele tocou a mão dela que repousava em seu braço, com a cabeça acima da dela, pela diferença de altura, firme a manter uma linha direta do olhar que encarava os lábios da mulher. percebeu aquele olhar como se uma chama de paixão pudesse sair das irises de Scott recaindo em si, e a atmosfera ao redor dos dois mudou.
Foi estranho, foi hipnótico, foi envolvente. Ela não sentiu os próprios pés dando pequenos passos de encontro a se aproximar ainda mais dele. Era como se um ímã os atraísse para perto, contudo, com pouco fogo. Não era luxúria, não era paixão, era um misto de estranheza ingênua, como quando adolescentes estão prestes a dar o seu primeiro, atrapalhado e tímido beijo. tocou com a outra mão o rosto de Scott sem desfazer o contato visual, e o rapaz envolveu a cintura dela com seu braço, a trazendo delicadamente para perto.
— Scott? — No silêncio confuso da ausência de resposta dele, o resultado foi um beijo.
Os dois colaram suas bocas, com os olhos fechando devagar, e explorando e experimentando um ao outro, o ósculo era calmo e curioso. Era manso, cuidadoso, macio, uma sensação bem típica de Scott Carter causar. Totalmente contrário do que seria o arrebatamento de beijo quente e luxurioso que faria perder-se nos braços de quem a beijasse. Entretanto, aquele beijo ingênuo tinha notas de maturidade e confiança capazes de deixar que ele guiasse as reações dela, e não o oposto. E só isso, por si, já foi para uma surpresa enorme, quando sentiu uma mão de Scott em sua nuca, entrelaçando dedos por seus cabelos, segurando a cabeça dela como se a movimentasse para onde ele quisesse. Scott Carter, como alguém que manipula o boneco de ventríloquo, dominou o corpo de . E ela deixou-se beijar por ele, como a outro, talvez, não deixaria; sem o menor pingo de disputa por “quem está beijando quem”.
Foi Scott que parou o carinho, afastando o rosto um do outro e explorando, já com olhos atentos, a expressão dela. A mulher com olhos ainda fechados, a boca entreaberta na espera de que ele retomasse ou dissesse algo. Um sorriso brando, ladino, de ladrão que surrupia uma maçã na feira sem ser pego e depois sai caminhando tranquilo, lustrando a fruta na camisa e a mordendo, estampava ao rosto de Carter. então abriu os olhos notando-o satisfeito, sentindo a mão dele baixando de sua nuca num deslizar respeitoso pelas costas dela, e ela estava completamente assustada pelo modo como ficou dominada por ele. Sequer aproveitou o momento para também explorar alguns carinhos entre os braços, costas ou pescoço dele. Lembrou-se de Theo, seu antigo noivo beijava-a daquele jeito.
— Desculpe por isso. — Scott, por fim, rompeu o silêncio se afastando mais.
— Não tem que se desculpar. Acho que estávamos os dois curiosos por isso, depois de tudo… — ela disse recobrando a consciência e os gestos. — Não… Não peça mesmo desculpas por isso…
— Eu não sei o que vai ser quando nos vermos de novo. E nem vou ficar no seu pé ou fazendo dessa noite uma cobrança. Eu vivi o que queria contigo hoje, e…. O beijo… Eu realmente me culparia se saísse daqui sem ao menos deixar essa memória a mais pra nós dois.
— Scott, não pretendo te evitar por causa disso ou das suas confissões. Não se preocupe! Eu acho que no fim a gente realmente terminou a noite num encontro! O que era para ser só uma saída entre amigos, mas não me arrependo.
— Eu fico feliz por isso, de verdade. — Ele sorriu um sorriso de garoto travesso. — Eu acho que consegui mudar um pouco a minha imagem, não é?
— É, não posso negar. Agora você tem um… — riu entrando no clima de gozação que o amigo estava provocando para descontrair. — Tem um tempero a mais, malandro….
Os dois riram e ele apontou a porta para ela, sorrindo.
— Tenho que ir.
acenou e continuou o acompanhando à saída. Abriu a porta para ele e os dois se despediram em um abraço. Ela aguardou que ele entrasse no carro e assim que Scott fechou a porta, ela acenou e entrou, trancando a própria casa. Apagou as luzes da sala e subiu correndo para seu quarto e depois de acender a luz do abajur da mesa de cabeceira, espiou em sua janela entre as cortinas: o carro de Scott ainda estava parado em frente à sua casa e o homem encarava o próprio volante, em inércia, pensativo. suspirou e saiu das escondidas da janela, observando-o com mais atenção e Scott, dentro do carro, suspirou pesadamente.
— Você fez o que podia no momento mais apropriado, Scott. Agora é deixar as coisas acontecerem ou não — falou sozinho para si, e debruçou-se um pouco sobre o volante batendo a chave na ignição. Olhou para cima e notou na janela, o observando. Piscou na direção da amiga e acenou sorridente, logo ela correspondeu ao sorriso, e ele partiu do lugar.
Capítulo Dezessete - Naufrágio em um coração de pedra
Já era sábado e acordou com as batidas ocas que escutou à porta da sua casa, mas não se levantou da cama, pois ainda estava sonâmbula como se sonhasse com aquilo, até que seu telefone ao lado da cama começou a soar estridente, fazendo-a finalmente abrir os olhos e o atender.
— Alô? — disse com a voz cansada.
— ? Está tudo bem? — Ela reconhecia a voz do outro lado, mas não conseguia se lembrar de quem seria, por puro efeito do sono e da leve ressaca que sentia desde a noite passada com Scott. — ? Alô?
— Jacob?
— Sim. Está tudo bem?
— Está... mas o que houve?
— Eu estou aqui na sua porta... tínhamos um passeio... — Jacob explicou soando confuso, sem compreender se ela quem havia esquecido, ou ele que entendera errado o encontro.
No mesmo instante, a mulher deu um salto da cama deixando o telefone jogado sobre o colchão, descendo as escadas de sua casa apressada e resmungando um pouco desesperada para si:
— O passeio! Esqueci do passeio com o Jacob! Como pude esquecer?!
Ela pegou o molho de seu porta-chaves e o chaveiro de cachorrinho batia entre os dedos, enrolando-se entre os objetos pendurados, enquanto ela buscava sonolenta, qual era a chave da porta.
— Espera aí, Black! Não vai embora! — gritou na esperança de que o homem à porta ainda a aguardasse.
— Tudo bem, não precisa correr... — Jacob devolveu a fala, enquanto guardava o celular no bolso de sua calça e sorria de canto, imaginando que a mulher do outro lado da porta estaria descabelada e envergonhada por ter se esquecido.
Tal como imaginou, o trinco da porta girou fazendo um típico barulho de destrave e a maçaneta igualmente deu espaço para visão que ele já esperava: ofegante, de olhos esbugalhados, um sorriso sem graça e amarrotada da cabeça aos pés.
— Oi! Bom dia! — A voz dela soou baixinha e um tanto rouca.
Jacob sustentou um sorrisinho encantado em seu rosto e como se estivesse provocando-a, ele olhou para da cabeça aos pés, lentamente. Em seguida assobiou e disse:
— Hoje você se superou! Não sei se você é o lençol ou a cama inteira.
Ela olhou-se de cima a baixo, e virando o rosto para o lado pôde ver seu reflexo em um pequeno espelho que havia na parede ao lado da porta. Ao constatar seu rosto cheio de marcas de travesseiro, os cabelos tal como ninho de passarinho e a remela nos olhos, saiu correndo em direção às escadas da casa, e subia-as pedindo enfática:
— Espere na sala! Espere na sala!
Black sorriu e entrou lentamente pela casa, fechou a porta da sala e foi até a cozinha. Como bem sabia, ela desejaria ao menos uma xícara de café antes de saírem, então ele ligou e preparou a cafeteira automática dela, embora já tivesse dito a ele que preferia o café feito manualmente.
entrou em seu cômodo arrancando o pijama em seu corpo e buscando roupas limpas para vestir. Foi pega de surpresa com a data do passeio, pois não havia se lembrado que já seria no dia seguinte ao encontro que tivera com Scott, e, portanto, deitou-se sem sequer lembrar de despertador. Depois de definir o que vestiria, ela correu para o banheiro fora de seu quarto, batendo a porta ao fechá-la e entrando no chuveiro apressada. Alguns minutos depois, saía enrolada na toalha quando avistou a figura de Jacob no topo da escada já adentrando o corredor.
— Eu falei para esperar na sala, Black! — Ela enfatizou entrando ao próprio quarto quase como uma fugitiva. — Nem pense em entrar! Eu vou me trocar aqui!
Jacob encostou-se no corredor ao lado da porta dela e cruzou os braços como um guarda-costas. Esperou o tempo em que ela já estaria possivelmente vestida e com as falanges do dedo indicador, deu dois toques na madeira.
— Já se vestiu?
— Sim! — ela respondeu alto, mas não abriu a porta. Black girou a maçaneta e entrou sorrateiro no quarto.
caminhava de um lado ao outro buscando outro par de algum sapato que não sabia onde deixara. Ele olhou para a cama dela de casal, bagunçada. Olhou ao redor do quarto para ver se encontraria peças de roupas que não fossem dela. E, ainda caminhando lento, como um detetive, foi até a janela olhando para baixo.
— Jacob? — indagou ao notar que ele parecia procurar alguém, mas quando ele se abaixou olhando sob a cama, foi que ela realmente sentiu-se incomodada: — Você perdeu alguma coisa aqui, por acaso?
— Ainda não tive a chance de deixar nada meu por aqui — ele zombou e, escorando sentado na janela, cruzou os braços perguntou: — Está sozinha? Achei que pudesse ter atrapalhado alguma coisa.
— Estou. Claro que estou sozinha! De onde tirou essa ideia?
— Você não é de perder a hora assim, parece que dormiu tarde. Eu só pensei que talvez você estivesse com alguém.
— E? — calçou o par de sapato que havia encontrado, sem desfazer contato visual com Jacob, e tinha em seu semblante muita indignação pela atitude do rapaz.
— E o quê?
— Jacob! Quem te deu o direito de vir vasculhar meu quarto atrás de alguém?
— Eu... não quis ser invasivo, eu só estava brincando, — ele explicou ainda com um sorrisinho cretino no rosto, mas não a olhava nos olhos, pois não admitiria que sentiu um leve desconforto com a hipótese de encontrar alguém ali.
— Brincando? — Ela se levantou da cama e com as mãos na cintura o encarava de pé na frente dele, disse categórica: — Certo. Que seja. Mas, se eu estivesse com alguém, sabe que não tem o direito de se meter, não sabe?
Black desfez sua expressão e ficou mais sério, porém, não estava irritado com as maneiras dela como geralmente ficava. Na verdade, sentiu-se constrangido porque enquanto passava o café na cozinha, sua mente lhe soou um “Será que ela dormiu com alguém aqui e por isso se esqueceu do nosso combinado?”. Claro, ainda tinha o fato de que o cheiro de uma presença masculina estava impregnado nela e na sala, misturado ao cheiro da própria e também, perto do sofá. Algum cara havia estado ali, ele só não reconhecia quem. Então, a impulsividade de subir as escadas até o cômodo particular dela foi tão instintiva que Jacob sequer percebeu que não tinha aquele direito.
— Desculpe — ele falou baixinho e pigarreou se erguendo da janela e dando alguns passos na direção da mulher que ainda o encarava. — É que eu farejei outro homem.
— O quê? — perguntou com uma face confusa, mas deixando seu corpo relaxar, já que imediatamente se lembrou de Scott se despedindo dela na noite anterior.
— Eu... outro cara. Tem o cheiro de outro cara na sala, deu pra saber que não foi uma mulher, e quando você abriu a porta... Você também tinha... — Jacob suspirou constrangido demais por aquela sua demonstração dos traços selvagens — o cheiro de outro homem impregnado em você.
sentiu o rosto ruborizando e coçou a orelha, extremamente envergonhada ela abaixou-se pegando a toalha sobre a cama e deu as costas a Jacob indo até a própria cabeceira. Deixou sua toalha na cadeira, e ainda de pé, um tanto aturdida, ela tateava alguns itens básicos de maquiagem e começou a preparar o rosto. Se maquiava curvada para o espelho e olhando para Jacob através dele.
— Hrm... — Pigarreou. — Você sentiu o cheiro de outro cara e simplesmente subiu no meu quarto sem mais nem menos? Pode dizer por que fez isso?
— Eu só... — Jacob coçou a nuca envergonhado porque teria que admitir um comportamento tão irracional daquele. — Foi mal, às vezes eu perco um pouco o domínio do que seria humano... quero dizer... foi uma coisa meio de alfa...
sorriu escondendo a vontade de rir debochada e analisando a figura dele pelo espelho, ela arqueou a sobrancelha ao dizer:
— Então você demarcou seu território por aqui, é isso?
— Eu vou te esperar na sala... — Jacob disse simples caminhando até ela, parou bem perto de , que girou a cabeça e a ergueu para encarar o homem sem graça, em pé ao seu lado que pegava a toalha na cadeira frente a ela.
— Quando você fez isso? Quando começou a dormir na minha porta?
No mesmo instante Black notou o sorrisinho debochado de para si.
— Você sabe que é vergonhoso pra mim e está tirando um sarro da minha cara, não é?
— Eu só fiquei curiosa para entender... vocês fazem como os cães que urinam nas coisas ou tem outro jeito? — Ela sorriu um pouco contida pela risada que queria soltar.
— Está sendo extremamente grosseira, aliás. — Jacob desconversou suspirando, embora julgasse que talvez ele tivesse sido mais grosseiro primeiro. Farejar outra presença e entrar no quarto dela procurando alguém, era um descontrole bem pior do que a genuína curiosidade humana.
A pergunta dela era vergonhosa para ele, mas completamente plausível. Se os quileutes demarcavam territórios como ela estava imaginando, era comum que ela perguntasse aquilo. Ele deu as costas para sair do quarto com a toalha dela em mãos, e olhou novamente na face quase ingênua da moça que ainda esperava uma resposta.
— Não é assim. Basta a nossa presença contínua num local para demarcar como nosso.
— Ah... então, é por isso também que só você dormia na minha porta? Porque como alfa você deve ter umas vantagens, não é? — largou o rímel sobre a penteadeira e virou-se realmente interessada para ele.
— Digamos que sim... ser o alfa também tem este tipo de peso. Nenhum lobo da matilha ou de outras entra no território do alfa sem permissão.
— Hm... Isso dá um pouco de sentido a algumas coisas... Então você realmente demarcou a minha casa... Não é? — sorria para ele espertalhona, e notando que Black ainda estava constrangido ela tocou na bochecha dele apertando e dizendo: — Agora nenhum lobo vai entrar aqui sem você deixar, não é? Como você é territorialista, Jacob!
— Nenhum lobo vai tocar em você — ele disse sério e de uma única vez. — Não sem antes lutar comigo por isso.
soltou o rosto dele devagar, sentindo-se quente e com o olhar confuso. O que ele estava querendo dizer com aquilo?
— Eu não demarquei só a sua casa. Eu demarquei você.
— C-como?
Ao perceber que ele havia conseguido deixar ela sem graça, como uma vingança sutil pelo constrangimento passado, Jacob sorriu e se aproximou do ouvido dela explicando sussurrado:
— Eu deixei meu cheiro em você várias vezes, então saiba que agora você pertence ao alfa, .
Ele a abraçou sutilmente, enquanto ela ainda estava estática com o que ouviu, depois ele se afastou dela e sorriu cretino ao encarar a expressão ruborizada dela. Caminhou rumo à porta com a toalha em mãos e saiu por ela. soltou o ar que prendia sem notar, e pensou a respeito do que havia acabado de ouvir, mas nem tivera muito tempo de ser pega de novo pela artimanha de Jacob, que voltou alguns passos até a porta do quarto dela e explicou mais uma vez:
— Ah! E sim, eu sou mesmo territorialista. — Depois de dito aquilo, Jacob saiu descendo sorridente pela casa dela.
Se achou que teria pegado uma fraqueza dele com a vergonha que ele sentia pelo que fizera, agora ele também havia incutido uma fraqueza nela. Afinal, pensar que Jacob a marcou como sua propriedade seria o bastante para deixar a morena perturbada um pouco. Embora aquela fosse uma verdade, não foi intencional da parte de Jacob. Era algo natural e instintivo, até involuntário. Por isso, os lobos alfas tendem a ser mais reclusos da alcateia, já que a simples presença ou toque deles é capaz de demarcar. É um símbolo de sua força, mas também, é uma fraqueza. estava demarcada desde o momento em que ele não só estava na casa dela, quanto ao momento em que ele a tocou pela primeira vez. E ela percebeu aquilo, no momento em que ele retornou dizendo: “eu sou mesmo territorialista”.
Ela terminou de fazer sua maquiagem diária simples, e olhou-se no espelho, satisfeita. Ainda pensando em Jacob a aguardando na sala, pegou um perfume e passou em si. O cheiro de Scott estava nela? Ainda estaria? Borrifou perfume. Um pouco culpada, ela pensou na noite anterior desacreditada de como poderia ter “capotado” ao ponto de se esquecer do compromisso com Black. Então relembrou-se de que não havia simplesmente apagado. Na verdade, ela custou a dormir, por causa de sua atitude impensada com Scott. E ao retomar aquilo, já não tinha cara de encarar Jacob... aliás, será que Jacob já sabia quem era o homem que estivera na casa dela?
desceu e encontrou Jacob sentado à bancada da cozinha a esperando com duas canecas de café. Ela se aproximou dele ainda um pouco sem graça por tudo, e Jacob lhe esticou a xícara.
— Não está do jeito que você gosta, porque eu fiz na cafeteira, mas já estamos atrasados.
— Obrigada — ela falou dando um gole e olhando o relógio da cozinha dando-se conta do horário: — Seis e meia em um sábado!? Você está doido, Jacob?
— Nós marcamos às sete.
— Eu sei disso! Mas a que horas você chegou?
— Cinco e meia. E bem... — Ele ironizou. — Que bom que eu vim cedo, do contrário, alguém estaria até agora roncando!
— Tem razão... — Ela deu de ombros e voltou a reclamar: — Mas podia ter avisado que estávamos com tempo! Me fez achar que estava atrasada!
— Não me culpe, eu só cheguei cedo. Você quem ficou agindo como se tivesse cometido algum crime. Você fez alguma coisa errada, mocinha?
A piada sarcástica dele fizera novamente ruborizar. Então, ela virou o restante da bebida de uma só vez sob os olhares curiosos de Jacob.
— Vou pegar meus documentos, vai trancando a casa, por favor.
— Já está tudo fechado, não abri nada.
Enquanto pegava suas coisas, Jacob lavava as canecas e logo os dois estavam caminhando para fora de casa. Ela trancava a porta da entrada, quando perguntou para ele, ainda um pouco sem graça:
— Eu quero perguntar uma coisa...
— Hm?
— Essa coisa de cheiro... — comentou e pigarreou antes de concluir: — Eu... Eu ainda estou com cheiro de outra pessoa?
Jacob a olhou de soslaio, e ela se virou de frente para ele ainda um pouco tensa. Ele, igualmente, ficou de frente para ela, analisando o quanto aquela informação parecia mexer com ela.
— Se eu disser que sim, isso te incomodaria ou te confortaria?
umedeceu os lábios e olhou para os próprios pés. Jacob entendeu que ela estava pensando em uma forma de mudar de assunto.
— Está com cheiro do seu perfume agora. Eu tirei o cheiro dele de você quando te abracei. Seres humanos comuns não conseguem demarcar uns aos outros dessa forma, podemos farejar rastros das pessoas por alguns dias em lugares, coisas, pessoas, mas, quando se trata de deixar algum rastro, o cheiro dos lobos se sobrepõe ao cheiro dos humanos.
— Então você quer dizer que agora não tem mais o cheiro de outras pessoas perto de mim?
— Eu sinto, mas não tão forte quanto o meu. Por quê? Você quer saber como perder o meu rastro?
A mulher apenas suspirou e negou silenciosa.
— Não é isso. É só que eu não sei como me sentir... Não sei se é desconfortável ou não andar marcada por aí como sua propriedade...
Jacob sorriu abaixando a cabeça e então tocou a mão de a confortando:
— Não ligue tanto para isso, não é como se você fosse minha propriedade, não é? E depois, não tem muito como impedir. É tipo quando você está perto de outros animais e o seu bichinho de estimação reconhece que você esteve com outros. Não que eu seja seu animal de estimação, vamos deixar isso claro. — O comentário dele foi capaz de deixá-la mais descontraída.
Então olhou para a rua, onde a caminhonete de Jacob estava estacionada com duas grandes motos na carroceria, e ela sorriu largamente.
— Certo! Vamos logo!
— Espera... — Jacob ainda segurava a mão dela quando a mesma tentou passar por ele: — Você está chateada comigo? Digo, com a minha atitude esta manhã? Eu não quis ser...
— Eu sei! — o interrompeu sorrindo. — Territorialista, você ia dizer, não é? Eu sei que não quis ser invasivo e que a sua atitude foi uma ação instintiva.
— Mesmo assim, quero que saiba que controlar este tipo de impulso é algo que nós fazemos. Afinal, nós somos racionais e humanos também. Minha condição de lobo não deve justificar ações de controle sobre você... Se algum dia eu fizer isso contigo de novo, por favor, ...
— Eu te mordo. — Mais uma vez ela falou o cortando, e levando a mão até o rosto dele explicou: — Não é assim que se mostra respeito? Mordendo a orelha do outro?
Jacob riu bem-humorado e menos culpado.
— Você assiste muito Animal Planet, não é?
— Pior que não, eu deveria?
— Anda, vamos logo, Mani! — Jacob sacudiu a cabeça em negativa e passou o braço ao redor dela a guiando até o carro.
Os dois entraram, afivelaram o cinto, Jacob ligou o rádio do carro e logo perguntou o que estava curiosa para saber:
— De onde veio a caminhonete?
— Da oficina. Eu geralmente a uso no trabalho.
— É bem bonita. É uma Chevrolet Truck 53, não é?
— É sim... Você entende mesmo de carros. — Ele sorriu e zombou: — Não o suficiente para evitar batê-los em uma árvore.
— Ah, esquece isso! — Ela riu e tocou o couro interno do painel, analisando: — Parece que foi reformada, você quem fez?
A mente de Jacob viajou de volta alguns anos, no momento em que recebeu de Charlie a Truck vermelha detonada pedindo que ele “desse um trato” no polimento e uma revisão mecânica, porque seria o presente da filha do policial.
— Foi sim. Ela estava bem pior, tinha um amassado grotesco na porta que quem fez, tentou consertar com um serviço porco. Digno de um Cullen.
O comentário dele ativou uma memória da conversa com Scott.
— Espera, essa Truck foi de algum Cullen?
Jacob suspirou e umedeceu os lábios antes de contar:
— Era da Bella, e ela deixou para trás junto com Charlie.
queria fazer muitas perguntas sobre aquilo! Estava curiosa ainda por tantas questões em torno da ex-amiga, mas ao mesmo tempo, sentia que tocar no assunto traria mais desconforto do que esclarecimento.
— Você saiu ontem? — Então Black mudou o tema da conversa, antes que ela perguntasse mais alguma coisa sobre Bella. — Não estava em casa, estive lá.
— Por que foi até minha casa?
— Nada em especial... Só queria ver se estava bem.
encarou aquela resposta com estranheza. Os dois haviam estado juntos recentemente, e mesmo assim, Jacob foi até sua casa na noite passada “só para ver se ela estava bem”?
— Por que não me telefonou? — ela perguntou,
— Porque você não me deve satisfações, Mani — Jacob respondeu de modo óbvio.
— Eu saí para beber ontem... — respondeu receosa se deveria dizer com quem.
— Sozinha?
Ela balbuciou prestes a dar uma resposta, mas não emitiu som algum, então Jacob notou que talvez ela não quisesse falar.
— Não precisa contar se não quiser. Sua vida particular não me diz respeito, .
— Não se trata de não querer, é só que... — pigarreou e no mesmo instante seu telefone apitou uma notificação recém-chegada. Aproveitou a deixa para ler a mensagem, e se assustou ao constatar que era Scott.
"Bom dia, , obrigado pela companhia maravilhosa e pela noite incrível. Confesso que acordei um pouco preocupado com o que aconteceu. Espero que nada tenha mudado entre nós. Prezo muito para que possamos manter ao menos a nossa boa amizade, mesmo depois das confissões... Enfim, até breve. Um beijo."
Logo que leu, a sensação de algo preso à garganta retornou, assim como a culpa. Sentiu-se péssima por estar lendo aquilo com Jacob ao seu lado. Ele, no entanto, não tentou espiar a mensagem, apenas observava os trejeitos dela. Notou que algo a estava incomodando, e sabia que tinha a ver com outro cara. Ao mesmo tempo que Black queria saber tudo, ele entendia que ela não precisaria contar ou explicar nada. Por mais que ele viesse, dia após dia, sentindo como se ela fosse sua, Jacob compreendia que aquilo não era certo. Ela não era dele nada além de uma boa amizade, e por mais que às vezes o desejo de mudar aquilo falasse mais alto, se envolver com qualquer pessoa nunca foi algo simples para ele. Se se tornasse uma lembrança dolorosa, Jacob não aguentaria outro tombo. Por isso, ele estava lutando contra seu instinto e seu querer, contra sua racionalidade e sua emoção, desde que conhecera aquela mulher tão perfeita para ser a líder fêmea de um alfa.
— Black... — ela sibilou após apagar a tela do próprio celular. — Ontem eu saí com...
— Você não precisa mesmo me contar o que faz ou deixa de fazer da sua vida, . — Interrompeu ele a fala dela antes que escutasse o que não queria. — Está tudo bem você ter os seus segredos, sair e namorar com quem bem entende.
— Por que parece que você está repetindo isso mais para se convencer?
Os dois trocaram olhares curiosos. Jacob suspirou ficando sério, e guardou o celular no bolso da calça novamente, pigarreando e olhando para frente. Logo tomou um fôlego e encarou Black, mesmo que a atenção dele estivesse focada à estrada.
— Não quero te esconder nada, mas fico insegura se eu deveria falar tranquilamente o que fiz ontem, porque eu não sei como nós estamos e o que nós temos de fato. Quero construir uma cumplicidade com você, na verdade... Acho que eu quero...
— Podemos falar disso depois? — Jacob pediu a interrompendo pela quarta ou quinta vez naquela manhã. — É melhor esclarecermos tudo.
— Depois? Não pode ser agora?
— Eu prefiro. Para poder olhar nos seus olhos.
— Tudo bem.
A música continuava tocando como fundo musical calmante. E Jacob e permaneceram dialogando tranquilos, sem mais falarem em sentimentos, cheiros ou pessoas paralelas em suas vidas. Apenas conversavam sobre carros, motos, sobre o lugar em que fariam o passeio e Black ainda contava como Seth ficou chateado por não ser convidado a estar com eles.
Depois de alguns bons quarenta minutos, Black estacionou no acostamento de uma grande estrada vazia, com nada além de poeira e chão grosso ao redor. Aquela era a rodovia que saía de Forks, aos arredores de La Push, e que estivera antes. Jacob olhou para o lugar como se alguma memória dali estivesse se mostrando em sua mente. o encarou enquanto caminhava até a parte traseira da carroceria e ele permanecia silencioso e contemplativo.
— Está tudo bem?
— Sim... Já faz um bom tempo que não venho aqui pilotar... — ele respondeu fitando o nada, até encará-la com um olhar desafiador: — Preparada?
— Sempre e para tudo!
— Que perigo — Black disse zombeteiro.
subiu na carroceria da caminhonete para desamarrar as motos e empurrá-las até Jacob. Ele retirou a camisa antes de pegar as motos e o encarou com a sobrancelha arqueada como se lhe perguntasse o motivo para aquela exibição desnecessária.
— O que foi? Graxa mancha a roupa, sabia?
— Você só quer exibir esse tanque de guerra que eu sei... — Ela revirou os olhos arrancando risos dele que, tão sutil como quem pega um copo de vidro, cuidadosamente levantou as duas motocicletas de quase trezentos quilos.
— Qual vai ser a minha? — perguntou ao descer.
— Eu te indicaria a vermelha, a capacidade é melhor para iniciantes.
— Então ela é sua — a mulher respondeu puxando a chave da mão dele e se preparando para montar na moto preta. Colocou o capacete, piscou atrevida a Jacob e já estava se preparando para sair.
— , é sério! Você pode se machucar...
— Nos encontramos em que ponto? No fim dessa estrada? — Ela ignorou o aviso dele, dando partida na motocicleta e, sem esperar resposta, acelerou.
Jacob a observava surpreso pelos zigue-zagues audaciosos que fazia na pista. Ela provou que realmente não era iniciante em nada daquilo e, de braços cruzados, Black sorria todo bobo. Não demorou muito a alcançá-la e emparelhou ao lado, a mulher girou a cabeça para encará-lo e viu que Jacob sorria de volta para ela, pelos olhos já miúdos dele.
Os dois continuaram o percurso batalhando manobras por alguns metros na estrada, até que ela fez uma manobra de retorno, por ele inesperada, e os pneus cantaram. gargalhava do quanto aquilo teria assustado Black e ao retornar ao ponto de partida, ela desceu da moto retirando o capacete, Jacob parava ao lado dela, eufórico. se encostou na lataria da frente da caminhonete e colocou os seus óculos de sol, sorrindo para ele como uma garota marrenta. Jacob igualmente tirou seu capacete, passou a mão ajeitando o cabelo curto e, sorrindo ladino, caminhou até ela a surpreendendo com seus braços fortes prendendo o corpo dela entre ele e a caminhonete.
— Você é doida? Quer me matar de susto? — disse tranquilamente, a encarando bem próximo.
— Por quê? — riu divertida.
— Que manobra foi aquela?
— Nunca te disseram que se não sabe brincar, não deve começar?
— Quer brincar mesmo? Então tá. Eu só não imaginava que você sabia mesmo pilotar desse jeito.
— Mas eu te avisei. — Ela deu de ombros.
— Tenta não me matar, ok, motoqueira selvagem?
— Matar? — ajeitou sua postura, fazendo com que Jacob se endireitasse ficando reto, e com um risinho sacana ela deslizou o indicador do queixo de Jacob até o início do abdômen vestido dele, enquanto provocou: — Matar não... Mas, enlouquecer, quem sabe?
E em seguida o afastou caminhando mais uma vez para a motocicleta, vestindo de novo o capacete e se preparando para outra volta. Black ficou um tanto inerte com a atitude dela, mas logo olhou para o chão soltando um riso fraco, e preparou-se para retornar à pista. Eles ficaram explorando a estrada de cascalhos dessa vez, por um caminho mais trilhoso que o próprio Jacob indicou a ela que o seguisse. E após quase uma manhã inteira de trilha, retornaram para a Chevrolet Truck, extremamente felizes e risonhos e claro, cheios de poeira.
— Você é mesmo muito boa. É sempre boa em tudo?
— É um dom. Mas você não sabe nem da metade das coisas que eu sei fazer, Black!
respondia tranquila, livre de malícias, depois de ajudar a colocar as motocicletas de volta na caçamba do carro, e enquanto os dois caminhavam para a frente da camionete. Jacob pegou duas latas de refrigerante dentro da caixa térmica que estava no carro, ficou em pé de frente para a lataria da caminhonete e Jacob estendeu a ela a latinha. Ela abriu e ele deu um gole no dele, em seguida respondeu:
— Estou me preparando inteiramente para conhecer todos os seus dons, Mani.
sentiu que havia certo tom de malícia na fala dele. Ela bebeu um gole do seu refrigerante sem desfazer o contato visual com ele. Deu um passo para trás para encostar na lataria, e percebeu Jacob caminhando em direção a ela. A manhã não estava quente, sequer havia sol forte no céu, já que as nuvens nubladas formavam um cobertor térmico. Os dois não sorriam mais, porém, mantinham seus olhares ardilosos um sobre o outro. Black estava tão mais próximo dela, que imaginou que ele fosse finalmente lhe dar o beijo que há muito ela esperava. No entanto, ele deixou a lata de seu refrigerante sobre o carro, passou os braços em torno do corpo de e a abraçou, posicionando as mãos nas costas das coxas dela e a colocando sentada no capô do carro. Ficaram silenciosos encarando-se, ele em pé entre as pernas dela e enlaçado à cintura da mulher; ela aceitou o abraço dele em sua cintura, o abraçando de volta e repousando a cabeça no ombro de Jacob.
O que quer que fosse a intenção de Jacob ali, para , tratava-se daqueles tipos de “silêncio” que muito dizem.
— E agora? — ela perguntou, mas se referia aos dois, e não ao passeio.
— Conheço uma estrada de cascalhos... É bem radical. Mas você não vai pilotar.
— Por mim tudo bem — disse aceitando que não era o momento de falar sobre o que é que estavam sentindo um pelo outro.
Retomaram a estrada rumo ao outro ponto em que Jacob queria levá-la, uma trilha bem mais sinuosa e mais isolada, além dos limites de Forks. Depois que desceram do carro, Jacob retirou apenas uma motocicleta preparando-se para pilotar.
— Vem — ele disse montando na moto preta e batendo às suas costas para que sentasse à garupa. Ela sorriu animada, obedecendo, e Jacob não perdeu a chance de provocar quando falou em tom sensual piscando para ela: — Segura direitinho.
— Assim? — agarrou firme a cintura do rapaz e travou as coxas ao redor das pernas dele, devolvendo a provocação.
À medida que Jacob acelerava e a poeira subia deixando-os ainda mais sujos do que antes, a sensação de liberdade era incontestável. A adrenalina causada pela velocidade e pela proximidade entre os corpos um do outro, o vento refrescando a pele, e o olhar fixo de Jacob às curvas dando a ele uma expressão ainda mais sexy, tudo aquilo causava em uma urgência. Ela repousou a cabeça nas costas dele, apertando-o ainda mais em seus braços, desejando que aquele momento durasse cada vez mais, e assustando-se por perceber o quanto necessitava de Jacob. Estava mesmo apaixonada, e ter consciência daquilo começava a doer porque não sabia se era certo ou, no mínimo, correspondida.
Depois de passarem cerca de quarenta minutos naquela trilha, onde chegaram a um cume que possibilitava-os ver onde a caminhonete estava parada lá embaixo e ficaram contemplando um pouco do Sol que ali no alto era mais acessível; os dois retornaram ao ponto de partida. Aos poucos Jacob desacelerava e a caminhonete se aproximava ainda mais. Assim que parou a moto, Black virou o rosto para , sorridente, porque ela não o soltava e mantinha-se de olhos fechados com a cabeça repousada no ombro dele.
— Só para constar... Já estamos parados.
— Eu sei, mas não quero soltar.
— Ah... Sabe, sem problemas você ficar assim agarradinha em mim, mas é que... Podemos pelo menos ir para o carro?
— Quer que eu te agarre dentro do carro? — falou risonha e provocante.
— Não foi o que eu quis dizer, mas já é meio dia e eu estou faminto... — Ele riu fraco pelo nariz.
observou o modo como ele sorriu constrangido, e não deixou de notar que a resposta dele foi um tanto evasiva. Ela desceu da moto ficando em pé na frente dele. Com braços cruzados, a mulher sorria analisando a reação de Jacob. adorava a forma como ele olhava para os lados, encarando o chão e tentando dizer alguma coisa, abrindo e fechando a boca sem de fato emitir som. Era o jeito dele que mostrava o quanto Jacob ficava afetado com algo, envergonhado como um adolescente ansioso. E saber que de algum modo ela causava ansiedade nele, tornava a centelha de esperança maior. A esperança de que ela não estava se apaixonando sozinha.
— Não acredito que consegui deixar Jacob Black visivelmente sem graça. Isso é sério?
— Não é nada disso, sua boba — ele respondeu sem jeito, olhando-a com ternura.
— E então, o que é? — perguntou se aproximando dele, gradualmente, enquanto o silêncio aguardava o momento de ser rompido por uma resposta ou ação. E foi a ação dela que veio primeiro. Lentamente, aproximou o rosto dele, cautelosa como quem quer acariciar uma fera, ela pousou a mão no rosto dele e encarou os lábios de Black. Foi se aproximando, aproximando, até Jacob segurar o rosto dela com as duas mãos, de modo delicado, mas depositar um beijo no rosto dela, em seguida, afastando-a, ele saiu da moto.
Jacob Black havia fugido do beijo. observou-o dando-lhe as costas, sentindo-se uma idiota. Uma otária apaixonada. Jacob estava de costas para ela, encarando os pés, com uma mão na cintura e outra sobre as têmporas, claramente, aturdido. Ele não acreditava no que acabara de fazer: como pôde negar a investida dela daquele jeito. Suspirou profundamente, certo de que deveria explicar a ela o motivo para não permitir que o beijo entre eles acontecesse. Se até ele queria aquilo, por que sentia tanto medo de que acontecesse?
Quando finalmente se virou para falar com ela, , que parecia derrotada como se tivesse acabado de ser reprovada em uma prova importante, caminhava rumo ao carro.
— Vamos, Black.
— , desculpa. Eu...
— Não precisa de ajuda para guardar a moto, certo? — Ela o cortou abrindo a porta da cabine e entrando já no banco do carona.
Jacob queria que, naquele momento, pudesse voltar no tempo um minuto. Mas só restava a ele guardar a moto e tentar conversar ao longo do trajeto de volta. Enquanto fechava a porta da carroceria, observou pelo retrovisor, e a expressão dela era de quem estava tentando controlar a própria raiva. estava séria observando a estrada, mordendo os lábios, e aquilo era algo que ela fazia involuntariamente quando estava prestes a explodir, mas não queria.
Depois que entrou no carro, notando que a mulher evitava olhar na direção dele, Black afivelou o cinto de segurança, bateu a chave na ignição, deu a marcha e segurava o volante, mas não fizera menção de pisar no acelerador. Continuou imóvel encarando ao volante. resolveu não dizer nada, não fazer nada, deixá-lo decidir o momento de sair dali, afinal, como ela iria encará-lo depois daquilo? Em sua mente, seria torturante ver a rejeição nos olhos cortantes dele ou ouvir qualquer desculpa seguida de “eu não tenho este tipo de sentimento por você”. No fim das contas, lá estava ela pagando por uma paixão unilateral que a própria foi incapaz de evitar.
— ? — ele disse finalmente se virando para ela, ainda com o carro ligado. — Você está bem?
— Por que não estaria? Eu apenas tentei beijar você, mas não é o que você quer — ela respondeu ainda sem encará-lo e segurando a denúncia de decepção que poderia vir da sua voz, tentando manter alguma racionalidade madura: — Eu posso lidar com isso, não tem motivo para não estar bem.
— Não era a minha intenção te rejeitar.
— Eu já entendi a sua intenção, Jacob. Agora, vamos, por favor... Ou tem algum problema com o carro?
— Não... Com o carro não tem nenhum problema.
Jacob abaixou novamente a cabeça, olhando para o volante, decepcionado, e deu partida. Queria dizer a ela que também desejava o beijo, mas não podia ceder a uma coisa de momento e arriscar perder mais uma amiga. Eles seguiram o percurso, calados, intermediados apenas pelas músicas que tocavam no rádio. Ao contrário do efeito que imaginaram, logo estavam dentro do distrito de Forks de novo. A volta foi rápida, mas longa o suficiente para que na mente de muitas hipóteses se passassem, e na mente dele, muita culpa.
Ela refletia que por mais doloroso que fosse o sentimento de rejeição, precisava manter a maturidade. Racionalidade, aliás. Tudo bem uma pessoa não corresponder aos sentimentos dela, certo? Mas então por qual motivo ele jogava com ela? Ou apenas levava a sério toda aquela brincadeira de flerte que vinha ocorrendo entre eles há meses? Sem saber o que foi manipulação dele e o que foi ilusão da fértil imaginação dela, tentava elencar por pensamentos as respostas. Jacob não a queria e ponto. De algum modo, o passado interno dele era muito mais vivo do que ela pensava. Acreditava ter subestimado as lembranças de Bella, ou seja lá quem fosse a pessoa que habitou tão ferozmente o coração dele, e o deixou retalhado daquele jeito. Ela já não queria saber.
Contudo, por mais que ela se calasse, não poderia impedi-lo de falar. A voz trovejante de Jacob ecoou, com a súbita necessidade dele de deter as perdas da confusão gerada, antes que se despedissem um do outro:
— . Eu quero conversar sobre o que aconteceu agora há pouco. Não posso deixar nossa manhã terminar assim com esse peso de quem acabou de enterrar um cadáver. Eu sei que só estou piorando as coisas e...
— Black, eu não quero conversar. — o cortou de novo: — Só me deixa em casa. Por favor.
Jacob deu seta, parou no acostamento da estrada fazendo lamentar porque, sem dúvida alguma, aquela conversa não acabaria bem. Os dois estavam mergulhados em suas próprias frustrações e isso geralmente não dava certo.
— Jacob, por favor! Eu não quero lidar com... — começou a pedir, mas notou que Black estava trêmulo e ofegante. — Jacob?
— Você não pode me evitar de tentar explicar!
A voz dele soou baixa, mas rouca, raivosa, como se estivesse sumindo, como se ele estivesse lutando com uma força interna tão grande que explodiria. Ao mesmo tempo, Jacob começava a suar, e desafivelou o cinto de um jeito urgente e aquelas reações começaram a assustar .
— Jacob? Você está bem?
Ele abriu a porta do carro, ignorando a pergunta dela e ordenando enquanto abaixava a trava da porta do motorista e a fechava trancando dentro do carro:
— Fica aí! Não saia desse carro!
observou, assustada com o estrondo forte que ele deu ao bater a porta, mostrando que alguma coisa estava saindo do controle dele. Observou Jacob pelo retrovisor caminhando para trás da caminhonete, se afastando com as mãos segurando a cabeça e se contorcendo enquanto andava de um lado para o outro. Black parecia sentir alguma dor. era uma pessoa inteligente, mas na maioria das vezes, a impulsividade sobrepunha-se à sua inteligência. E aquilo se provava desde que ela viera para Forks, já que nos últimos tempos estava totalmente inclinada a se entregar às insanidades à sua volta. E foi em um rompante destes que ela sequer pensou o problema que poderia se meter ao desobedecer Jacob, soltar o próprio sinto, destravar a própria porta e sair do carro caminhando até ele.
Já desconfiava que Jacob perdeu o controle de suas emoções e estava prestes a se transformar no metamorfo, mas algo estava diferente! Ela recordava da transformação de Bruh, e não foi daquele jeito! Com Bruh, sequer havia piscado e a garota era uma loba. Mas Jacob estava sofrendo alguma coisa, e ela soube que estava certa quando ele caiu de joelhos no chão, encolhido quase em posição fetal apertando a cabeça. Então ela parou de caminhar cautelosa e correu até ele, desesperada.
— Jacob! O que foi?
A respiração dele ainda estava ofegante, e sua postura não mudou quando ela se aproximou. Ele continuava com a cabeça pressionada entre as mãos e os olhos voltados ao chão. então tocou o braço dele e sua pele incendiava, ele suava muito também.
— Jacob! — tentou levantar seu rosto, mas ele urrava como se lutasse contra a dor. — Jacob, por favor, olha pra mim! Me deixe te ajudar!
Só depois que ela gritou com ele Black percebeu que estava perto. Os olhos dele a encararam, e estavam diferentes, suas írises oscilavam entre reflexos de cor dourada e vermelho. Quando viu os olhos da criatura pela primeira vez, sentiu-se assombrada, no entanto, não queria afastar-se dele, não conseguia.
— B-Black... Você me ouve?
— Saia daqui! — Apesar do olhar dele dentro dos olhos dela, parecia que Jacob não a enxergava, a voz também era grave e trêmula, um tanto rouca. E vê-lo vulnerável como um animal acuado só a fazia querer ficar.
— Você precisa de ajuda!
— Vai embora ! Agora! — ele gritou, a empurrando para longe de si e caiu sentada ao chão.
Jacob, num rompante levantou-se ainda contorcido e aproveitou para fugir. Correu rumo à mata densa da floresta que permeava a estrada. não compreendia o que acontecia com ele, afinal, aquela era uma transformação comum de um alfa ou ele estava se tornando aquele metamorfo perigoso que Embry também se tornou?
Desesperada, correu em direção ao carro depois de se levantar e olhando atentamente à sua volta, pois percebeu que estava em uma situação muito arriscada. Depois que entrou pela porta que havia deixado aberta, ela fechou-a travando a segurança e pulou para o banco do motorista. Precisava chegar na reserva o quanto antes! Deu partida ligando o carro de novo, e se pôs a dirigir apressada.
As ideias que passavam por sua mente eram assustadoras! E se ela perdesse Jacob para a própria fera? E se aquilo o matasse? E se ele fizesse mal a alguém? Aquilo não poderia estar acontecendo com Jacob! Entretanto, ele era um dos sete herdeiros do clã. Pior, ele era o alfa. E saber aquilo a deixava ainda mais apavorada, então começou a chorar de medo e tirou o celular do próprio bolso da calça, discando o número de Embry com dificuldade, enquanto dirigia.
— ? Tudo bem? — Embry atendeu a chamada rapidamente, mas a ela parecia um pouco agitado.
— O Jacob, Embry! Aconteceu com ele! — gritava chorosa, ansiosa e confusa: — Ele precisa do clã!
— Vocês estão onde? Se afaste dele, !
— Já chegamos em Forks, na estrada limítrofe com Silverdale, mas ele correu para a mata. Estou dirigindo para a reserva — explicava tudo com um choro compulsivo e assustador que também espantava a Embry.
— Se acalme, ! Tenha cuidado ao vir e não se preocupe, ok? Sam, Paul, Quil e eu já iremos atrás dele! Não se preocupe! Ele vai ficar bem, agora só se controla e vem pra cá! Se acalme! A Sue e o Billy, estão te esperando.
— Tá, tá... Embry... Por favor...
— Eu cuido dele. Fica calma.
— Cuidado.
desligou e continuou dirigindo apressada, porém, foi tentando se acalmar, confiando que entre os rapazes, eles conseguiriam proteger Jacob. Sequer pensou em parar em sua casa, seguiu o caminho para a reserva direto com tanta velocidade que nem se surpreendeu ao ver a viatura policial, com Charlie dirigindo, seguindo-a. Ele fez sinal para que ela encostasse e obedeceu.
Quando Charlie avistou a Truck vermelha surgindo na estrada naquela velocidade, espantou-se. Primeiro porque aquele carro ele conhecia muito bem e não entendia qual a razão de Jacob estar dirigindo como um louco. E em segundo, porque não era Jacob quem estaria dirigindo, visto que soubera que o rapaz iria passear com .
— Onde pensa que vai a essa velocidade senh.... — Charlie dizia enérgico ao se aproximar da janela, mas parou de falar ao reconhecer a motorista: — ? O que aconteceu? Por que está chorando? E por que corria desse jeito? Esta Chevrolet é a do Jacob, onde ele está?
— Charlie... Desculpa... Mas é que o Jacob...
— O que tem ele? — Charlie perguntou abrindo a porta do carro e percebendo o estado ansioso de , um pouco assustada também. Ele desafivelou o cinto dela, que retomou o choro compulsivo e deu a mão para ela sair do carro.
— Estávamos juntos no carro, a caminho de casa quando ele... Surtou, sei lá, acho que é a transformação... — explicou com dificuldade e Charlie a abraçou consolador.
— Se acalma, .
— Ele saiu de controle, Charlie! Foi assustador! Correu pra floresta e eu liguei para o Embry. Os rapazes foram atrás dele, Billy e Sue me esperam na reserva. Pelo visto a coisa é mesmo séria!
— Tudo bem, querida. Ele vai ficar bem. — Afagou os cabelos dela, e acariciou as costas da mulher, como um pai acolhedor. — Vamos. Eu te levo para a reserva. Você não deve dirigir neste estado.
— Mas o carro...
— Eu reboco. Agora, vamos.
retornou entrando na Chevrolet ao lado do carona aguardando Charlie terminar de prender a viatura policial no reboque da caminhonete. Quando o delegado subiu no banco do motorista e deu partida com o carro, atento à estrada e em , percebeu que a mulher não conseguia se acalmar. Alguma coisa deveria ter acontecido entre ela e Jacob. E por mais que tentasse se controlar, era impossível. Uma culpa corroía o seu interior. não sabia exatamente por que, mas sentia que tudo o que acontecia com Jacob tinha ligação com ela. Como se fosse ela quem despertava a fera, e em meio ao julgamento próprio, ela se lembrou de ouvir Billy dizendo ao filho: "— É a , Jacob (...) E já está na hora, filho".
— ? Tudo bem? — Charlie perguntou depois de dar a ela algum tempo de silêncio, no qual aos poucos ela parava de chorar. — Quer conversar sobre mais alguma coisa?
— Sobre o que, precisamente?
— Algo que a distraia... — Arriscou ele: — Me conta o que você e Jake foram fazer hoje...
— Ele me levou até umas estradas desconhecidas e andamos de moto.
— E se divertiram?
— É... — ela respondeu ainda incomodada.
— Eu não estou ajudando muito, não é?
— Desculpe, Charlie... Quem sabe se mudarmos o assunto?
— Tudo bem, filha! — Charlie assentiu e sorriu.
Mas aquela palavra... “Filha”... Pegou de surpresa. Não que fosse a primeira vez que Charlie lhe demonstrasse um carinho paternal, entretanto, a palavra bateu diferente daquela vez. ficou olhando sem graça para o delegado Swan, que ao se dar conta do que dissera, pediu desculpas:
— Desculpe... Não é que eu esteja te comparando a ela.
— Tudo bem, eu sei que você sente falta da sua filha.
— Sim. Mas não é por isso que eu gosto de você. Você é muito diferente dela, tem o seu jeito próprio de cativar. Eu me sinto ligado a você de alguma forma.
aproveitou-se daquele momento em que Bella era o assunto e resolveu perguntar:
— Afinal, o que houve com ela, Charlie?
O delegado olhou para e foi possível enxergar uma dor antiga em seus olhos. Algo como a dor de um pai que perdeu para sempre uma filha. Porém, mesmo com aquela verdade escondida no fundo do olhar, Charlie sorria ao dizer para a mulher:
— Logo você saberá.
— Tudo bem. — Apesar de sorrir, soltou um muxoxo descontente. Já deveria imaginar que não saberia, pois todos sempre trocavam de assunto quando ela perguntava demais. Ela não insistiu e voltou a observar os pinheirais passando pela janela.
— Posso te fazer uma pergunta um pouco indiscreta? — Charlie perguntou um tanto constrangido e a jovem, com cenho franzido e curiosa, assentiu que sim. — O que está acontecendo entre você e o Jake?
— Nossa... Não imaginei que perguntaria sobre ele! — , surpresa, começou a rir.
— O que foi? É uma pergunta muito invasiva? — Charlie perguntou desentendido.
— Não, é que... Eu nunca tive alguém próximo de uma figura paterna me perguntando sobre as minhas paqueras ou namoros... Foi algo novo.
— Figura paterna?
— Como você acabou de dizer, eu também sinto uma ligação com você Charlie. E embora não seja o meu pai, eu gosto de imaginar como seria.
— Fico honrado. — Ele riu e arqueou uma sobrancelha. — Então... Pelo que entendi, vocês estão de paquera ou de namoro?
— Não... Nem um, nem outro.
— Tem certeza?
— Também não. — o encarou, falando de forma triste e direta. — Até essa manhã eu achei que fosse diferente, mas... Acho que foi só ilusão minha o tempo todo.
— Tenho certeza de que não foi. De alguma forma, Jacob está sempre se apaixonando pelas minhas meninas, acho que é fixação dele querer ser meu genro... Então não foi ilusão sua.
— Fala sério! — riu um pouco mais divertida.
— ... Sei o quanto é complicado para você, porque também foi para mim. Mas uma hora todas as peças vão se encaixar, inclusive Jacob. Você só precisa ter um pouco mais de paciência. Se não for demais para você...
— Não é. Eu suporto. Tenho suportado até mais do que eu imaginei poder suportar.
— E conte comigo para o que precisar.
— Obrigada, Charlie.
— E, por favor, não dirija mais daquele jeito.
— Pode deixar.
— Chegamos — ele disse entrando na reserva.
O policial estacionou o carro de Jacob, enquanto cumprimentava Sue na varanda de Billy com um forte abraço. Billy caminhou com sua cadeira silenciosa até ela, e Charlie logo se colocou ao lado de , e beijou Sue em cumprimento.
— , você está bem?
— Um pouco melhor, Billy, obrigada. E os meninos?
— Se acalme. Eles estão bem.
— Já deram notícias?
— Não, querida, mas fique calma. Estão bem! Eles sabem o que fazem — disse Sue para a mulher.
— Nem todos, Sue, nem todos — disse olhando para Charlie que entendeu ao comentário e sobre o que ela se referia. O delegado não ficou por ali, pois ainda estava em serviço, então a abraçou e perguntou antes de ir:
— , querida, tem mais alguma coisa que eu possa fazer por você?
— Tem sim.
— Pode falar.
— Não me multar por excesso de velocidade seria muito bom. — A mulher riu.
— Eu não vi nada. — Ele piscou e saiu, deu meia volta apontou o dedo para e disse: — Ah! Só dessa vez, certo?
— Não teremos outra — ela respondeu firme.
Assim que ele saiu, sentou-se no banquinho da varanda da casa de Billy e ficou com os olhos fixos encarando a mata.
— Aceita um chá com bolo? — Sue perguntou para ela, sentando ao seu lado.
— Não precisa se incomodar, Sue. Estou sem fome. Obrigada.
— Tudo bem, melhor guardar a fome para o almoço que já, já, sai.
Apesar da matriarca Clearwater, simpática, tentar lhe confortar, não tirava os olhos da floresta, preocupada. Atenta ao menor sinal, no aguardo de boas notícias. Aliás, boas notícias que iriam apenas a acalmar para que ela pudesse ir embora para sua casa. Não havia motivos de comemorar nada, porque ainda estava chateada com o ocorrido entre ela e Jacob, no entanto, não poderia negar a preocupação. Por isso, logo que surgissem com novidades, os rapazes a tranquilizariam daquele susto para que ela fosse embora.
— Conte-me o que houve, — disse Billy parando a cadeira ao lado dela.
— Ele parou o carro e começou a tremer. Mandou que eu ficasse na camionete e saiu descontrolado. Eu fui atrás dele, ele caiu de joelhos no chão e começou a urrar, era notório que sentia dor e a pele dele incendiava. Eu nunca vi nenhum de vocês apresentar estes sintomas, Billy. Jacob segurava a cabeça como se evitasse alguma coisa em sua mente. E os olhos dele... Estavam dourados, mas no reflexo avermelhavam e ... Não sei, Billy... Eu não sei o que aconteceu, apenas que ele saiu correndo.
olhou para o lado e avistou Bruh escorada na cerca da varanda escutando o que ela dizia. olhou para a mais nova com raiva e Bruh não se intimidou. Billy pigarreou e então, voltou sua atenção a ele.
— Entendi... Mas não era sobre isso que eu estava perguntando. — Billy encarou a jovem mulher de forma sábia, calmo e ergueu a sobrancelha.
— O quê? — balbuciou confusa, ouviu passos pesados e virando a cabeça, notou que Bruh havia saído de perto com ainda mais raiva.
— Eu me referia ao "o que aconteceu" para deixá-la assim tão desapontada? Certamente, vocês brigaram, não é?
— Não... Não foi nada... Foi o susto. — Ela desviou o olhar de volta à floresta, mas Billy era astucioso e insistiu:
— Vocês não conversaram sobre vocês?
suspirou profundamente e se controlou. Ter a toda hora perguntas de todos os lados, sobre Jacob e ela, começava a irritá-la demasiadamente.
— Não. — Se levantou, dizendo arredia: — Billy, obrigada, mas... Eu vou pra casa. Preciso descansar disso tudo... Só não deixa de me avisar, tá?
— Não. Você vai ficar. Não pode ir ainda.
— Por que não?
— Porque a primeira coisa que Jacob vai querer ver é você e saber se está bem.
— Ele pode me ver outro dia — ela mencionou nervosa.
— Então vocês brigaram.
— Billy...
— Pessoal, venham almoçar! — Sue apareceu na porta da casa dela gritando para os dois.
— Vamos, . Não se preocupe, eu não farei mais perguntas.
— Eu não estou com fome. Obrigada.
— Deixe disso, . Não vou falar mais nada — Billy disse amigável.
— Eu não vou embora, Billy. Só não estou com fome...
— Tudo bem. Qualquer coisa, nós estaremos lá dentro — ele disse saindo em direção à casa de Sue.
Tudo o que mais queria naquele momento era a possibilidade de enxergar em um raio de dez quilômetros à sua frente, assim, ao menor sinal dos garotos retornando pela mata, ela sairia correndo até eles. Entretanto, a mulher só podia aguardar. E aguardou imóvel, pensativa e preocupada por algum tempo, até Sue novamente surgir insistindo para que ela almoçasse. Agradecida, negou. Ela estava absolutamente sem apetite. Ficava recordando a manhã de corridas e trilhas com Jacob, o quanto divertiram-se e o quanto ela decepcionou-se. A cena de Black fugindo de seu beijo passava vívida remoendo com a raiva que sentia, sequer compreendendo o motivo para aquilo.
Aos poucos, as pessoas que estavam na reserva surgiam após terem almoçado, entre elas, Emy e Leah, foram falar com . Bruh manteve-se na rede de pano, na varanda da casa de Sue, junto a ela.
— Não se preocupe, eles chegarão bem — disse Billy quando retornou com as mulheres, para sua própria cabana, e antes de entrar ofereceu: — Vou preparar um chá para você. Tudo bem?
— Obrigada, Billy.
— Como você está, ? — Emy a abraçou e em seguida Leah fez o mesmo.
— Estou bem, dentro do possível.
— Eu posso garantir que esta sua cara azeda não é por preocupação apenas. Afinal, já vi você em situações piores com a maior tranquilidade.
— Está se referindo ao episódio da tribo Whitton? — perguntou .
— Exato — Leah respondeu sorrindo.
— Se quiser conversar, pode contar conosco, . — Emy a olhava com carinho. — Somos suas amigas!
— Até mesmo a Leah? — Bedingfiled mencionou olhando com uma sobrancelha arqueada, em tom sarcástico para a filha mais velha Clearwater.
— Er... Por falar nisso... Eu te devo um pedido de desculpa e algumas explicações. — A loba mencionou um pouco envergonhada por seu comportamento anterior.
— Não, Leah! Eu e Embry já conversamos e não há nada para ser explicado ou desculpado. Está tudo certo!
— Mas eu gostaria que você soubesse que eu não tive a intenção de magoá-la.
— Fala sério, Leah! Magoar? Não me magoou. Eu posso não ter ou não ser o imprinting de alguém, mas o Embry exagera quando diz que eu "não acredito no amor".
— É, ele sempre diz isso! — Leah confirmou e as três mulheres riram.
— Pois é! O que me lembra que preciso ter uma conversa com ele sobre ficar espalhando essa visão equivocada a meu respeito...
— Ele não está errado. Vai dizer que você não é do tipo que acredita que o amor se conquista aos poucos? — perguntou Emy.
Com a pergunta de Emily, olhou para a caçula, Bruh Ateara. Ela encarava à bióloga certa e atenta à conversa que por sua condição era fácil ouvir, mesmo à distância. Diante daquela pergunta de Emy, percebeu que talvez fosse aquela a questão: Jacob havia sido conquistado pouco a pouco por Bruh.
Contudo, algo em seu coração ainda indagava-se “Será?”. A não-quileute sustentava o olhar de Ateara, sem sentir qualquer intimidação, e Bruh compreendeu de alguma forma o que pensava. Sorriu de canto, vitoriosa. Um sorriso que soou à uma real vitória de quem não só conseguira causar uma pressão psicológica, como também de alguém que talvez houvesse conquistado Jacob. Leah percebeu o quanto encarava a Ateara, e olhando na direção da lobinha, ela pescou o que acontecia entre elas, e foi logo dando a sua opinião sempre muito direta.
— Ah, fala sério! Acha mesmo que a Bruh conquistou o Jake? — Leah encarou a mulher, de forma incrédula, enfim atraindo a atenção de para si novamente: — Aquela pirralha?
— Não quero acreditar nisso. Porque seria nojento. Jacob seria nojento. Ela é só uma criança — disse e não tivera a intenção de ofender Bruh, mas ela realmente achava-a uma criança comparada a Jacob.
O que não percebeu é que a caçula escutou tudo e tentou levantar nervosa da rede em que deitava, mas Leah virou-se de frente para Ateara, em um repente, e ergueu a mão à frente do corpo gritando de modo incisivo:
— Se acalma aí, Ateara! Nem tente ou eu vou arrancar a sua orelha!
A mais nova entrou para a casa de Sue, irritada como toda loba adolescente com os hormônios aflorados, e Leah voltou à sua posição de antes: encostada na madeira da varanda de frente para , e as três mulheres continuaram conversando.
— Ela está nervosinha — Leah disse de um jeito que fez as três rirem.
— Isso é bullying, Clearwater — disse arrancando mais risos.
— ... Não se preocupe com a Bruh! Eu já te disse isso — Leah falou séria, a fim de consolar a preocupação da outra que ela ainda não sabia se provinha apenas daquela insegurança com a outra loba.
— Eu a encontrei na porta do mercado um dia destes e nós meio que discutimos — contou recebendo os olhares curiosos das outras duas.
— Discutiram? — Emily cruzou os braços tentando imaginar o motivo usado por Bruh para tirar da própria razão: — O que ela pode ter dito a você para que caísse na pilha dela, ? Este não é o seu estilo, é mais o da Leah .
— Bem, ela me encarou e me desafiou para uma briga. Então eu disse para ela não me subestimar e ameacei que também poderia atingir ela aonde doeria mais.
— No Jacob. — Leah constatou rindo orgulhosa e piscando travessa para .
— É.... Foi o que eu pensei.
— Mas espera... Ela te chamou para brigar? E vocês caíram na pancadaria? Tipo isso? — Emy falou assustada.
— Não! Claro que se fosse necessário eu não evitaria brigar com ela, mesmo ela sendo uma loba estúpida... Sei que ela não se transformaria no meio da cidade à vista de todos.
— Ei, não xingue o clã! — Leah repreendeu.
— Foi mal. — riu. — Enfim, se tivesse que lutar eu lutaria. Cravava dentes e unhas mesmo que não sobrasse nenhum pedaço meu depois, mas eu não sou de ficar brigando por qualquer coisa.
— Mas também não é de fugir. Por isso eu simpatizo com você — Leah confessou sorridente.
— Simpatiza, é? Quem queria comer o fígado da e mastigá-la entre os dentes como se ela fosse um pedacinho de carne inútil, mesmo? — Emy perguntou debochada, revelando algo dito por Leah tempos atrás.
— Ah, mas... Ela estava com o Embry e, sendo amiga da Bella, eu achei que a história toda se repetiria!
— Caramba. Escapei de uma boa por pouco... — zombou fingindo cara de medo para Leah. — E sabe... As pessoas precisam desassociar a imagem de Bella à minha, porque isso não tem funcionado! Não mesmo!
— Continua a história, — pediu Emily.
— Então... Depois que eu a provoquei, a Bruh falou algo que não saiu da minha mente. Ela disse: “Não deu certo para ele uma vez, e não dará de novo! Ele já sabe que garotas como você não podem curá-lo!”. E bem, eu acho que ela estava certa apesar de não ter ideia ainda do que exatamente ela estava falando.
— Acho que a está pensando que o Jake ainda não esqueceu a Bella — Emily comentou encarando Leah, e as duas olharam para a amiga de um jeito que passava confiança. Queriam que ela compreendesse o quanto aquilo era bobagem.
— E ele esqueceu, por acaso? Ainda que o Jacob tenha tido outra namorada, o único tipo de "garota como eu" que posso assimilar a tudo o que Bruh disse, é a Bella!
— Bella não era como você. E nunca será — Leah revelou, firme com muito desprezo em sua voz.
— Nós não somos parecidas mesmo. Mas a Bella é como eu, porque também é uma garota que não se transforma em lobo.
— É. Ela se transformou em algo muito pior. E isso também te faz muito melhor do que ela — Leah contou e entrou na casa de Billy, pois ele a chamava.
— Não entendi, Emy. — mencionou desconfiada.
— Você vai entender quando te contarem toda uma longa história.
— Tenho tempo. Pode me contar! Aliás... Vocês têm muitas histórias, alguém precisa a começar a dizê-las.
— Desculpe, ... Mas não serei eu a te contar a história entre Bella, Jacob e tudo o que isso gerou. — Emily sorriu quando declarou aquilo e logo Leah chegou com o chá de Billy, dizendo alegre:.
— Então, voltando ao raciocínio inicial... Revele de uma vez, o que aconteceu com você e o Jake hoje? Eu sei que tem alguma coisa no ar!
— Nós só saímos para andar de moto e na volta ele teve esse surto, ataque... Sei lá como vocês chamam isso.
— Ah, cala a boca, ! Você entendeu onde nós estamos querendo chegar! — esbravejou Leah. — Billy contou que você chegou aqui com a cara de quem mataria o Jacob assim que ele chegasse e não tem nada a ver com a transformação dele! Vocês brigaram, e se brigaram, eu aposto que tem a ver com toda a tensão sexual que existe entre vocês!
— O quê? — Alarmou-se um tanto indignada. — Não tem nada... Não tem tensão! Do que é que você....
— Desde o dia em que você e Embry estavam trocando carinhos na varanda da minha cabana — recordou Emily interrompendo — que essa tensão sexual existe, ! Pelo menos, pela parte do Jacob, sempre existiu.
— Vocês duas estão muito enganadas. Não acontece isso entre a gente. Eu até pensei que o Black poderia estar interessado, mas ele deixou claro que não.
— Como assim? Ele te rejeitou? — Leah perguntou irritada.
— Praticamente. Eu tentei beijá-lo hoje, mas ele fugiu.
— ELE O QUÊ? — Emy e Leah gritaram.
— Ele não quis me beijar e o discurso que se iniciou foi próprio de alguém que me daria um fora. Daí eu fiquei com raiva e só entrei no carro para ir embora negando qualquer conversa. A gente ainda estava discutindo dentro do carro quando ele começou a perder o controle.
— Como assim? Não entendo! Ele disse que... — Leah murmurava confusa, como se pensasse alto, mas não terminou a frase. Sua atenção foi tomada pelo instinto de loba, de repente.
Ela olhou para frente na direção da floresta, Emy e fizeram o mesmo, então avistaram os garotos começarem a surgir devagar entre as árvores. Jacob estava com eles, e seu semblante era sério, irritado. Imediatamente, largou sua caneca em um canto do chão ao lado do banquinho em que estava sentada, e caminhou de encontro ao grupo de lobos seguida pelas meninas logo atrás.
— E aí, Seth? Como vocês estão? — ela perguntou tocando o rosto do garoto caçula, que era mais alto do que ela, um tanto cuidadosa, analisando suas expressões.
— Tudo bem — Seth disse sorridente e calmo.
— Tudo bem? Como assim? — indagou preocupada e confusa.
Os rapazes olharam para Jacob todos ao mesmo tempo, aguardando que ele se aproximasse da garota. Black andou devagar até , olhando-a sério da cabeça aos pés, buscando certificar-se de que não a machucou.
— Você está bem? — Jacob perguntou em tom baixo.
— Estou. E você? — devolveu a questão, um tanto fria.
— Vou ficar melhor... Mas eu machuquei você?
— Não como você pensa — respondeu com mágoa e se virou para os outros garotos: — E vocês? Estão todos bem?
— Só alguns arranhõezinhos. Tem certo lobo que gosta de se esconder no meio dos espinhos — Sam falou abraçando Emy e zombando de Jacob.
— Bem, sendo assim... Agora que vejo que estão todos bem, eu vou para casa.
— Eu te levo — Jacob disse.
deu as costas para ele sem falar nada, enquanto todos os observavam, atentos. Claramente, eles sentiam que alguma coisa de muito errado havia acontecido entre eles. caminhou até a varanda de Billy pegando sua caneca no chão e entrando para deixá-la no lugar, silenciosa, ignorando a presença de Jacob que a seguia.
— Não precisa me acompanhar, Jacob — declarou sem olhá-lo.
— E você vai a pé, por acaso? — Black ironizou em tom arrogante, recebendo da mulher uma resposta tão atrevida quanto a dele:
— Vou até voando se eu quiser!
deu as costas para ele antes que Jacob a retrucasse, mas ele se apressou e tocou no punho dela a parando, se colocando à frente dela sério e, os dois enérgicos, encaravam-se com impaciência.
— Eu já disse que te levo, não foi um pedido.
A garota trincou o maxilar e soltou-se das mãos dele de um jeito rude, pisou fundo para fora da cabana, bufando e se controlando para não parecer tão afetada diante de todo mundo que ainda estava reunido do lado de fora, conversando. Assim que avistaram saindo pela porta de entrada da cabana, Leah ouviu Emily e Embry mencionarem para que ela não fosse até ele, mas a loba entrou correndo na cabana dos Black. Seth, Quil e Paul se despediram de , dizendo que iriam comer e dormir porque estavam todos exaustos da canseira que alcançar e controlar Black lhes deu. Embry, no entanto, permaneceu ao lado de fora, sentado, como se soubesse que queria falar com ele, e a esperasse.
— Ei — ela disse se aproximando dele. — Queria conversar com você antes de ir.
— Estava com muitas saudades de você — Call respondeu abraçando a amiga de um jeito apertado e perguntando curioso: — Por que mesmo não nos vemos há algum tempo?
— Eu não sei. Mas é normal quando um amigo começa a namorar, sabe? Principalmente quando a namorada é ciumenta — comentou rindo e o olhando cúmplice.
— É... Mas você também não apareceu mais na reserva, bonitinha!
— Estou meio enrolada com algumas coisas no trabalho...
— Leah disse que eu precisaria conversar com você.
— Disse? Sobre o quê?
— Ela não sabe, mas eu acho que faço ideia.
— E então?
— Scott Carter?
— Acertou. Agora você pode ler os meus pensamentos?
— Não. — Embry riu explicando: — Eu me encontrei com ele hoje cedo e fiquei sabendo de vocês...
— Eu não imaginava que vocês fossem tão amigos assim.
— Confesso que já fomos mais próximos.
— Hum... E o que ele te disse?
— Tudo.
— Tudo?
— Tudo — Embry a respondeu, com um olhar jocoso e desafiador sobre ela.
Imediatamente sentiu as bochechas esquentarem. Estava corada só de imaginar que Embry soubesse do beijo que ela e Scott trocaram.
— É... Pois é, ele se declarou. Assim posso dizer. E disse que você andou dando umas dicas.
— Não. Eu só o adverti da verdade.
— Você precisa tirar da sua cabeça essa ideia de que eu não acredito no amor, Embry. E claro, parar de ficar mencionando isso para os outros!
— Não é isso que eu digo. Você sabe! Responde, sinceramente : acredita no amor a curto tempo? — Call a encarava desafiadoramente como se já tivesse ganhado uma aposta.
Assim que ele terminou de falar, Jacob apareceu na porta da frente. Olhou para os dois conversando e foi até a casa de Sue.
— Eu não sei — enfim respondeu a Embry.
Leah apareceu logo atrás de Black, contrariada. Ela olhou para direção que ele havia tomado e gritou:
— Volta aqui, Jake! — Mas como ele a ignorou, ela apenas resmungou e entrou novamente, nervosa, para a cabana dos Black.
e Embry assistiram à cena, curiosos.
— O que essa maluca falou para ele?
— Você deveria se acertar com ele, seja lá o que aconteceu entre vocês, o Jake ficou muito preocupado contigo. E está se sentindo culpado, eu só não sei se é apenas sobre o ataque.
— Embry... — Ela tentou negar, mas então, cedeu: — Argh... Eu já volto.
Mal suspirou arrependida, Call escancarou um sorriso de confiança e ela seguiu atrás de Jacob. Entrou pela sala de Sue e não havia ninguém. Subiu as escadas imaginando que Jacob estivesse no quarto de Seth e caminhou pelo corredor devagar, o quarto do garoto era o primeiro. Bateu, mas ninguém atendeu. Então ela caminhou um pouco mais a frente e encontrou uma porta entreaberta dentre os vários quartos. tocou a maçaneta e abriu a porta devagar, sentindo como se o chão se dividisse sob os próprios pés. Ela poderia ver seus pedaços caindo lentamente, como se uma metralhadora a perfurasse por inteira. Mas não havia sangue, havia sombras. Faltou todo o ar em seus pulmões e lá estava ela sufocada. Por que aquilo lhe parecia um castigo?
Bruh e Jacob. Jacob e Bruh. Suas hipóteses confirmadas. A loba e o lobo. Eles se beijavam. Jacob não estava segurando a garota de um jeito romântico, apenas segurava as mãos dela sobre seu rosto, mas ainda assim, ele a beijava. E Bruh, o corpo inteiro dela demonstrava o quão feliz e fervorosa ela se sentia. não fez barulho, ela fechou a porta devagar, sentindo a garganta fechar. Escorou a mão na parede, e, quando se virava para sair pelo corredor, Leah surgia caminhando bufante, mas lenta.
— ? — a amiga sibilou ao notar a outra saindo dali com um olhar vago.
sequer respondeu, apenas ergueu os olhos para Leah que viu as írises brilhantes da amiga, sem nada entender. Silenciosamente, mas rápida, descia as escadas pronta a sair dali o mais imediatamente que poderia. Leah ficou surpresa e desconfiada, encarou a porta por onde parecia ter saído e foi até lá.
— Jake!? — Leah gritou ao ver Jacob finalmente separando-se da boca de Bruh: — Seu babaca!
Àquela altura, já surgia correndo pelo pátio saindo da cabana de Sue, apressada para a cabana dos Black. Ela sequer explicou algo a Billy quando passou a mão na chave da caminhonete de Jacob, pendurada atrás da porta. Embry e Billy assistiam a cena um tanto confusos.
— Vai atrás dela, ela parece nervosa demais, Embry... — Billy ordenou.
— , espera! — o amigo falou caminhando até ela, e quando a viu correr para o carro de Jacob, Embry se apressou.
— Embry! Vem comigo! — gritou se jogando no banco do motorista, e Call, sem entender nada, a seguiu para o banco do carona.
Antes que ele pudesse fechar a porta, o arranque e o som do acelerador soando ao mesmo tempo mostraram o quão nervosa estava para sair dali. Embry deu um grito assustado, batendo a porta e a olhando preocupado e pedindo:
— ! Me deixe dirigir!
— Fica quieto, Embry! — ela gritou arrogante e depois pediu com a voz mais fraca: — Só me dê um tempo!
— Tudo bem — o amigo disse a olhando assustado, prendendo o cinto de segurança, ele olhou para frente, respirou fundo e pediu: — Só tente não nos matar!
acelerava pela estrada, sem sentir o peso do próprio pé, sem sentir a aceleração, sequer estava focada na estrada. Era como se a cena de Jacob e Bruh se beijando, estivesse repassando pelo para-brisa.
— ... — Embry chamou ao sentir a velocidade subir. — ... — Repetiu, mas ela não o ouvia, até que ele notou o estado de choque dela e gritou-lhe: — ! O que está fazendo!?
— Ele e a Bruh estavam se beijando, Embry! — Ela respondeu gritando de volta, sentindo-se abalada e segurando o choro. Ela, aos poucos, foi caindo em si e desacelerando, o que fez Embry também suspirar aliviado.
Quando ele percebeu que a amiga estava calada, mas focada na estrada, com os olhos firmes e a aceleração normal do veículo dentro do limite, ele tentou entender aquela história:
— Quer conversar?
Mas ela nada falou. Mantiveram o silêncio até que chegasse em casa. Assim que o fez, ela estacionou a Chevrolet de Jacob de qualquer jeito na entrada, saiu do carro batendo a porta e jogou as chaves para Embry.
— Obrigada por vir para levar o carro! Já pode ir, Call — mencionou dirigindo-se à sua casa, cabisbaixa, mas Embry não deixou de seguir ela.
— , espera.
Ela não parou, apenas adentrou rápida e direta até a cozinha para buscar um copo de água.
— Vamos conversar? Acho que vai te fazer bem desabafar — Embry disse calmo e parado na soleira da cozinha.
— Não. Não precisa. Tudo foi esclarecido. Quase tudo, na verdade, mas não quero saber de mais nada. Nada de respostas. Nada de perguntas.
— , você está com raiva... Olha...
— Você queria saber se eu acredito no amor à primeira vista? Naquele amor ingênuo e platônico que simplesmente brota do nada? — o interrompeu dizendo dura e direta: — Não, Embry! Eu não acredito em nenhum sentimento desse tipo! Eu só acredito no amor que surge depois de muita convivência, cumplicidade e, sobretudo, depois que os dois lados permitem-se conhecer todos os segredos um do outro. Não é algo que eu espere mais que venha do Jacob, mas do Scott? Quem sabe!? Eu tenho essa possibilidade que poderia me fazer acreditar... No futuro, talvez eu tente!
— Você está nervosa . Não fala besteira!
— O Scott te disse que nós nos beijamos? — continuou falando e andando de um lado para o outro, como se a culpa do que aconteceu fosse de Embry e ela estivesse tentando jogar as coisas na cata dele.
— Não. Eu joguei verde com você.
— Pois é! Beijamos e foi um ótimo beijo, aliás! — caminhou até o barzinho que havia em sua sala, até então, pouco usado, e serviu-se uma dose uísque enquanto contava, com Embry atencioso e preocupado a encarando: — E descobri que somos mais parecidos do que eu pensava, Embry! Foi só um beijo, mas foi intenso o suficiente para Scott deixar uma memória e plantar uma semente de possibilidade na minha cabeça! — declarou virando a dose de uísque toda de uma vez, e deixou o copo vazio sobre o móvel.
Embry suspirou entendendo que tudo aquilo não passava de uma explosão dela querendo se convencer do que dizia, então se aproximou a abraçando:
— se controle, por favor! Você está surtando! Não se descontrola assim... Você e o Jake precisam conversar pra entender o que realmente aconteceu com ele e a Bruh e o que está acontecendo com vocês dois.
— Não tem nada mais para entender. O que eu vi foi esclarecedor o suficiente — declarou e se soltou do abraço do amigo, já o dispensando da sua casa: — Vai, Embry! Depois nos falamos! Obrigada! Agora leva essa merda de caminhonete daqui. Eu não quero nada do Black ou que me faça pensar nele perto de mim!
— Eu vou. Mas eu volto! — Embry beijou a testa dela e acariciou o rosto da amiga dizendo: — Se precisar de qualquer coisa, me liga, eu venho correndo, você sabe!
Capítulo Dezoito - Fossa Iminente
Desde que Embry foi embora, estava jogada em seu sofá abraçada à garrafa de Whisky, com uma caixa de lenços e aos prantos. Então finalmente ela poderia confirmar, caso ainda negasse, que sim: estava completamente apaixonada por Jacob. A escuridão da casa foi aumentando e após um dia quente como aquele, a chuva que caía no fim de entardecer não era uma surpresa.
Aos poucos, foi adormecendo pelo efeito de muito choro, mas também pelo entorpecente álcool que aliviava no momento a tristeza, mas que traria muita dor de cabeça ao despertar. Portanto, o melhor era se entregar ao doloroso sono, pois o irremediável viria a seguir.
Na manhã seguinte, ela acordou com o despertador estridente tocando. Aquela prevista dor de cabeça estava lá, se fazendo companheira no meio da solidão. Esfregou os olhos e sentou-se na cama. Para seu espanto, ela estava no próprio quarto, ainda com as roupas do dia anterior, mas não se lembrava de ter ido dormir. E tudo estava organizado demais para alguém que secou um John Walker sozinha. Ao lado, na cabeceira da cama, um bilhete dizia:
"Não consegui deixar de vir vê-la, e espero que acorde melhor amanhã... Se bem que após uma garrafa de whisky... Não se maltrate assim, . Te amo, boa noite!"
Quem o teria escrito? Embry? Era melhor acreditar nisso, pois seria muita falta de vergonha própria se Jacob aparecesse ali na surdina. No entanto, ainda sentia o cheiro dele, mas decidiu acreditar que era tudo coisa da sua cabeça, e não, Jacob não tivera a audácia de ir vê-la.
A mulher levantou da cama, com aquela miserável ressaca zombando de si. Apertava a cabeça no intuito de fazer a dor parar, mas só o banho gelado a confortou um pouco. Depois de se vestir e descer as escadas lentamente, já que o ritmo de seu corpo era o mesmo de uma pessoa recém-acidentada, ela foi preparar seu insubstituível café. Forte. Quente. Amargo. Tão amargo quanto a cena que não saía de sua cabeça. não era de definhar sob tragédias, preferia dar a volta por cima das perdas de forma rápida. No entanto, curtir aquela fossa poderia encerrar um ciclo. O ciclo Black. Pensava nisso e iria beber o seu primeiro gole de cura, quando o telefone tocou irritantemente.
— Alô?
— Bom dia, . Aqui é Julian. Tudo bem?
— Bom dia, Julian. Sim... Aconteceu algo?
— Aconteceu sim. Estamos dando uma folga a você e ao Peter. Uma semana de luto em nossa família, nenhum estabelecimento nosso funcionará. Aproveite para descansar e seguir seus projetos mais tranquila.
— Julian... Meus sentimentos. Se quiser conversar, sabe que pode contar comigo, não é? Como você está?
— Obrigado, querida, sei disso. Estou ainda triste, mas Hernando está mais magoado. Foi nosso avô. Eles eram bem mais próximos. Já estava idoso e doente. A lei natural da vida... Sabe como é. Hoje quem amamos está ao nosso lado, amanhã de repente, vai embora.
— Sei. Sei muito bem como são essas perdas. E por saber quero que, para o que precisarem, seja uma distração, um conselho ou companhia, não hesitem em me chamar.
— Obrigado. Fique bem e tenha uma boa semana.
— Obrigada. Beijo.
Desligado o telefone, não demorou muito a tocar novamente.
— Sim, Julian?
— Não. Não é o Julian... É o...
— Sei que é você Black. — Interrompeu ao reconhecer a voz dele e não escondeu a dureza no tom de voz: — E eu não quero falar contigo, por favor, me deixe...
— , espere! — Ele também interrompeu, insistindo: — Por favor, me deixe te explicar!?
— Não há nada a ser explicado, já entendi tudo!
— Não, você não entendeu! Nós ainda não conversamos! Foi tudo um engano.
— Foi sim, Jacob. Tudo um engano. E eu te peço que, por favor, me deixe em paz — pediu desligando na cara dele.
Aquela mísera troca de palavras foi suficiente para morder os lábios nervosamente na tentativa de segurar as lágrimas, mas não conseguiu por muito tempo. De repente se pegou caminhando até o sofá da sala com sua caneca de café em mãos, pensativa sobre as perdas que vivera até chegar em Forks. E lembrando-se que o propósito era se mudar para lá, a fim de deixar um pouco a dor de seu passado para trás, assim como, reencontrar sua antiga amiga. Mas não encontrou Bella e aquilo era tão estranho! Tantas coisas haviam acontecido até ali, que agora estava até mesmo sofrendo por amar quem não deveria. Quem diria! Depois de Theo, ela chorava de novo por um homem.
Ao menos, teria uma folga naquela semana e aproveitaria para ficar sozinha, pensar em muita coisa e organizar tudo o que já deveria ter organizado em sua vida: dos seus projetos profissionais ali, até mesmo retornar a Phoenix e resolver o que deixou esquecido por lá.
Após uma manhã de contemplação e de tentativas frustradas de achar qualquer coisa para assistir na TV que ela sequer ligava, retomou sua atividade no jardim da frente. Não se lembrava de ter acabado todos os seus suplementos de jardinagem, porém. Com isso, ela precisava ir à cidade.
Disfarçou em seu quarto a expressão denunciante de coração partido, com um pouco de maquiagem sutil, e saiu correndo com bolsa e chaves na mão até entrar no seu carro. Embora houvesse algum tempo que Black não entrasse nele, ainda sentia seu cheiro ali. Ligar o rádio não iria ajudar a pensar menos no quileute, pois ela tinha certeza de que, alguma música inimiga tocaria. Lembranças surgiriam. Aliás, tudo e qualquer momento era passível de lhe trazer alguma recordação dos momentos com ele naquela cidade.
aspirou ao silêncio enquanto dirigia devagar — algo que não era costume — e olhava à frente atenciosa ao gotejo fraco das nuvens. Chegando no centro do condado, como sempre se encontrava monótono. Algumas pessoas pulando poças, alguns acenos, agradecimentos, sorrisos, cordialidades, mas sua aura permanecera cabisbaixa. "Gardens and Earths" lia-se a simples frase em um letreiro de madeira esculpido à mão acima da porta da cabana pequena.
— Bom dia — a dona do lugar falou assim que a sineta da porta soou anunciando a chegada da cliente.
— Bom dia, senhora.
— O que vai querer hoje, querida?
— A senhora teria estes utensílios todos? — esticou a ela uma pequena lista, com caligrafia rápida.
Terra escura — 4 sacos de 10 kg.
Pá de mão — 1 pequena
Garfo de mão — 1 médio.
Lascas de lino — 5 sacos de 20 kg.
Sementes de girassol — 1 pacote de 300 gr.
Sementes de margaridas — 1 pacote de 500 gr.
Composto polivitamínico para plantas: (nitrogênio, zinco, cálcio) — 1 vidro de 200 ml.
Enquanto a senhora procurava os itens pedidos, passeava entre as gardênias e gerânios de estimação que ali eram cultivados.
— Hoje não está sendo um bom dia? — a velhota perguntou tímida.
— Não. Mas logo irá passar — respondeu , sorrindo fraco.
— Aqui estão, apenas a terra e o lino que eu pedirei para você pegar nos fundos da loja comigo, querida, estou sem meus ajudantes hoje.
— Claro, sem problemas! Pode deixar que eu pego.
carregou os sacos até seu carro de forma rápida, pois a chuva estava gelada. Retornou à porta da loja entregando o dinheiro e pegando sua sacola às mãos da vendedora de setenta e poucos anos. Correu de volta ao carro, até que ouvindo a sineta do Coffee & Bar tocar, ela decidiu que um pouco de waffles com mel e mais um café quente poderiam complementar o desjejum mal feito. Como parecia tornar-se um hábito involuntário, ela encontrou Erick sentado aos fundos do bar, entretanto, fingiu não o ter visto, assim como ele também não a avistou (ou fingiu como ela). Logo que se sentou ao balcão de atendimento, coincidentemente deparou-se com Scott sentado ao lado.
— Bom dia, waffles com mel e um café forte, por favor.
— Bom dia ! — Scott sorria muito feliz em vê-la.
— Olá, Scott! Bom dia... Tudo bem? — cumprimentou-o, abraçando.
— Sim... Mas você não me parece muito bem. Aconteceu alguma coisa?
— Nada que não possamos falar um outro dia.
— Tudo bem. — Ele sorriu.
Erick foi ao caixa pagar sua conta e, voltando para o balcão, cumprimentou e Scott, demonstrando assim que não a tinha evitado como ela fizera.
— Ele ainda está interessado em você...
— Ah, Scott, eu prefiro apenas tê-lo como um bom amigo. Não daria certo entre Erick e eu. Já descobri sermos diferentes demais.
— Que bom que você está decidida quanto a isso, mas ele ainda está interessado. Embora...
— Embora?
— Ele voltou a sair com a irmã da Dani.
— Eu espero realmente que eles sejam felizes.
— Eu também. Só queria que a Daniela saísse do meu encalço — Scott comentou revirando os olhos e os dois se encararam trocando uma risada.
— Ela ainda insiste?
A garçonete entregou o café da manhã dela, e Scott aproveitou para pedir outra panqueca e mais uma caneca de chocolate quente.
— Acho que ela não desistirá nunca. E eu nem sei por quê! — Ele sorria surpreso.
— Você é um cara encantador, Scott. Aceite isso.
— Vindo de você... Como não aceitar? — o rapaz respondeu com um sorriso mínimo e sincero.
sorriu, constrangida, e mudou de assunto:
— O mercado fechado?
— Sim, o avô dos Vincent faleceu. Não soube?
— Soube, claro. Mas o que tem a ver?
— Meus pais sempre foram muito amigos da família Vincent. Eu não quis ir. Planejei uma trilha hoje, mas choveu, talvez seja tristeza e luto.
— O restante dos comércios fechados têm alguma associação com o falecimento dele?
— Sim! Acho que não te contaram... A família Vincent tem muito prestígio aqui, pois eles descendem dos fundadores de Forks. O avô deles foi um grande médico que fundou o hospital de Forks. Até então, um posto de saúde pequeno é o que dava conta dos atendimentos.
— Uau. Eu sempre soube que os Vincent eram pessoas amáveis e admiráveis e lógico, muito discretos, mas ninguém me contou sobre o legado deles aqui na cidade.
— Forks tem muitos segredos .
— É... Já deu para perceber... E o que você fará hoje?
— Ainda não sei. Peter quer ir até a tribo... Mas eu não sei. Se a chuva piorar, podemos acabar ilhados por lá.
— Bem, mande abraços meus às crianças, à sua avó...
— Sinta-se convidada a ir, caso nós formos.
— Hoje não, Scott, mas outro dia quem sabe...
— Tem certeza que não quer conversar?
— Tenho sim, e na verdade eu preciso ir agora, Scott — ela respondeu terminando de mastigar o último pedaço de seu waffle e virando o último gole de seu café,
Os dois se abraçaram apertado em despedida, agradeceu a ele pelo carinho e preocupação, pagou seu lanche e saiu rumo a seu carro e sua manhã de jardinagem. No horário do almoço, ela já havia terminado parte das tarefas com as plantas. Tomou um banho quente e um antigripal – porque enquanto remexia na terra sob uma garoa fina, ela já sentia uma leve coriza em seu nariz. Descia as escadas de volta à sala de casa, vestindo um suéter quente e ouviu batidas fortes na porta de entrada. Quem poderia ser?
— É aqui que mora uma mulher maluca, metida à loba?
— Leah! — sorriu largo pega de surpresa. — Emy! Você também veio!
Elas se abraçaram e deu passagem às mulheres que a visitavam pela primeira vez.
— Embry está a caminho, ele foi à cidade.
— Mas o que estão fazendo aqui?
— Ei! Quer que vamos embora?
— Não, Leah! Não, por favor, não interpretem assim. Fiquem à vontade.
— Sua casa é aconchegante.
— Não tanto quanto a sua, Emy. Ainda deixarei ela do meu jeito, algum dia, eu acho...
— Já estou abrindo a geladeira! Eu posso né? Você disse para ficar à vontade.
— Claro que pode, Leah. — sorriu, enquanto Emily reclamou:
— Leah! É a primeira vez que viemos aqui! Cadê seus modos, Clearwater?
— Não, Emy, tudo bem! Apesar de nunca terem vindo, é como se estivessem sempre por aqui. Obrigada por virem, meninas.
— Sem mi-mi-mi, por favor! — Leah sempre muito seca ao seu modo, falou apontando para a dona da casa: — Agora escute, mocinha! Faremos um almoço italiano aqui! E nada da senhorita reclamar!
— Almoço italiano?
— Leah e Embry pensaram em massas, você adora, não é?
— Sim! — sorriu. — Obrigada pela atenção, gente.
agradeceu verdadeiramente emocionada por notar que sim, eles estavam sendo bons amigos com ela, já que a razão da visita poderia ser a “iminente fossa escrita em sua testa, mesmo à distância”, que Embry provavelmente relatou às duas após sair de sua casa na noite anterior.
— E não viemos só para comer! Viemos para conversar também e saber como você está.
— Eu não estou muito bem... Gostaria de estar melhor... Mas é uma fase necessária.
— Eu também vim para lhe contar algumas coisas! — disse Leah da cozinha.
— Se for sobre ele, Leah... Não me conte. Eu não quero saber de mais nada.
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Outros Segredos
— Primeiramente, senhorita "eu não quero mais saber, mentira, conte tudo!"... Eu não vim defender o Jake, se é o que está pensando...
— As coisas têm tomado proporções maiores, , e embora Sue e Billy achem que você ainda não deva saber... Leah e eu pensamos ser o momento de começar...
— Ouça bem: começar! — Leah interrompeu Emy, que fez uma cara desaprovadora.
— Como eu dizia... Começar a te deixar mais à parte das histórias de Forks.
Quando as duas terminaram de falar e se entreolharam, um estrondo foi escutado da varanda da frente. Era apenas Embry, limpando os pés e abrindo a porta da sala com as mãos cheias de sacolas de compras.
— Você deveria manter essa porta trancada, . Não é nada difícil entrar sem ser convidado.
— Seu idiota! Que susto me deu! — ela reclamou com a mão no peito.
— Idiota é você, que se encheu de whisky na noite anterior...! Tomando um porre, ? Não conseguiu pensar em nada menos clichê? — Embry ralhou com ela, o que a fez ter certeza e certo alívio por ser ele o responsável pelo bilhete matutino.
— Consegui sim, eu pensei em pegar meu carro e sumir de Forks... Mas me lembrei que minha vida agora é aqui e não vai ser tão fácil me livrar dessa cidade.
— Não vai ser tão fácil é se livrar de nós, garota! — Bronqueou Leah sempre muito autoritária, se jogando no sofá da sala.
Embry foi tomando posse da cozinha, que, por ser conceito aberto, o permitiria participar da conversa das mulheres enquanto preparava os pratos italianos.
— Bem, ... Não vamos retroceder muito à histórias antigas. Acho que tudo o que temos que lhe dizer deve ser começado pela chegada de Bella.
— Ei, ei! Emy! O que vai fazer? — Embry se alarmou encostando-se na bancada americana que dividia os cômodos.
— Embry! Já está na hora da conhecer um pouco mais desse assunto que tanto mexe na vida dela sem que ela tenha consciência! — Clearwater advertiu para seu namorado.
— Billy deixou claro que não podíamos falar nada ainda, Leah!
— E não vamos! Como membros da alcateia, não podemos, mas é a Emy que vai contar tudo.
Embry não fez uma cara aprovadora, mas quando se tratava de um embate com Leah Clearwater, a loba era osso duro.
— Ótimo! Eu estive mesmo pensando esta manhã em como foi ela a razão para eu vir até aqui, mas desde que cheguei não só descobri que Bella é como a fumaça quanto uma lenda que ninguém quer contar. Então chega, é hora de alguém realmente tocar no assunto! — falou determinada ajeitando-se de frente para Emily no sofá em que estava e ordenou: — Conte-me tudo, Emily!
— Bella chegou aqui em Forks e as coisas de imediato começaram a mudar drasticamente... — Emy começou a relatar o que de fato aconteceu: — Era para ela seguir a vida dela sem muitas novidades, mas a própria era uma grande novidade para as pessoas da cidade que conheceriam a filha do delegado Swan. Na verdade, ela foi assunto mais entre a juventude local mesmo. O restante das pessoas não se importava muito, era só a filha adolescente do delegado. Não deveria ter nada de especial nela. Billy e Charlie sempre foram muito amigos, e Jake já conhecia Bella de infância e de alguns poucos verões que ela passou com o pai. E bem... Ele se encantou com ela logo que a viu novamente.
— Só falava nela. O tempo inteiro... Um saco! Eu nunca gostei dela, na verdade! Só trouxe problema pra todo mundo! — Leah desabafou rolando os olhos com altiva antipatia.
Embry e Emily trocaram olhares rindo do comentário ciumento de Leah, embora também fosse sincero. Bella só causou problemas.
— Os Cullen eram uma família muito antiga e peculiar aqui em Forks... — Emily continuou.
— Scott me falou deles. Comentou que eram estranhos...
— Scott? — Leah perguntou com a sobrancelha arqueada e abanou o ar com a mão para que elas continuassem: — Você vai nos contar a sua historinha depois, garota! Mas... O Scott estava errado. Estranhos somos nós... Os Cullen são... desprezíveis!
Leah, novamente com seu humor ácido, se pronunciava totalmente contra os tais “Cullen”.
— Os Cullen só andavam e socializavam entre eles...
— Tipo vocês?
— Nunca nos compare! — Embry se meteu no assunto ao ouvir a pergunta genuína da amiga, justificando-se em seguida: — Eles jamais chegarão aos nossos pés, ! Nós somos família de verdade.
— Ok... — falou de modo curioso: — Já identifiquei uma desavença forte.
— Sim, ... Não temos muita simpatia com eles — Emily falou e encarou aos outros dois, quase como Sue prestes a dar uma bronca: — Olha, gente, não me interrompam mais, ok? Antes que eu desista de contar tudo e...
— Não, não! — exaltou-se advertindo com expressão zangada aos amigos: — Calados, Embry e Leah! Eu quero ouvir tudo o que a Emy tem a dizer!
— Os Cullen tinham hábitos incomuns... Que você vai entender depois! Acontece que Edward Cullen, um dos filhos, se apaixonou por Bella e ela por ele. Pasme. Jacob e Bella nunca tiveram algo tão sólido quanto o que ela teve com o "frio"... E foi Edward quem Bella escolheu. O ponto chave de tudo é que os Cullen eram um outro tipo de ser do qual nós, quileutes, devemos defender a todos de Forks. Não são pessoas, . São monstros. São vampiros. E nosso dever era mantê-los bem longe de todos, mas há muitos anos, um acordo entre o Carlisle Cullen e o chefe de nossa tribo fora feito, onde eles prometiam não fazer mal a nenhum humano local, e poderiam viver aqui misturados entre todos.
— Cara! Para! Vampiros? Sugadores de sangue e tal? — perguntou boquiaberta, e com o aceno positivo dos outros três, ela zombou: — Olha, isso é muita viagem! Vampiros não existem!
— Assim como é muita viagem nós sermos lobos metamorfos? — Embry gargalhou da descrença de , e disse aquilo arrancando risinhos das duas quileutes que observavam a outra garota com a expressão confusa.
— Ela é maluca, ela escolhe acreditar no que quer! — Leah zombou de , espantada, e tomou a narrativa no lugar de Emily: — Escuta, , eu vou resumir! Bella apaixonou-se pelo vampiro e engravidou, aí o bebê monstro nasceu e para que ela não morresse no parto, o vampiro transformou-a em um deles, o Jake queria matar todo mundo, e quando iria fazer isso, pasme! Ele teve um imprinting com o bebê monstro! E nos impediu de fazer a festa matando aquela corja de sugadores. Fim.
— Leah! — Emily reclamou não só do modo como a amiga contou, como o quanto ela contou.
— Ai, Emy, você demorou demais!
— Ok... — ainda processava tudo: — Estou catatônica! Bella é uma vampira então? E depois? O que aconteceu com eles, onde estão e porque o imprinting do Jacob era um bebê? Isso é... Meu Deus, que loucura!
— Depois, , achávamos que ia ficar tudo bem com a recente ligação entre Jake e Renesmeé, a filha de Bella, mas os Cullen eram ameaçados pelos Volturi...
— Que são...? — interrompeu tentando acompanhar o raciocínio.
— Um outro clã de sugadores, que acham ser os reis entre eles, mas são todos uns covardões!
— Leah! Deixe a Emy falar logo... — Embry pediu, sempre rindo dos comentários da namorada.
— Os Volturi sempre estiveram esperando um momento oportuno de condenar os Cullen por algo, pois tinham interesse em Edward, Alice e Bella pelos poderes extraordinários que tinham como vampiros. Um dia, Jake e Renesmeé estavam na praia, e ... O instinto dela foi maior... Não caçava há algum tempo.... Renesmée atacou algumas pessoas que vinham para a praia, e no meio de outros que viram tudo. Para consertar o que havia feito, ela teve que matar os restantes. Mas Jacob, apesar do imprinting, tinha o dever com seu clã de defender as pessoas dos frios. O fato de ter ido contra Sam por causa de Bella o fizera tomar seu posto de alfa, e isso é maior até mesmo que um imprinting, mas somente ele poderia fazer algo contra seu próprio imprinting. Por isso, , ele pôs fim em Renesmée — Emily contou, contida, como sempre à espera das reações de para saber se deveria continuar ou não. , no entanto, tinha olhos arregalados, boca semiaberta e sobrancelhas franzidas por tudo o que escutara.
— Jacob matou Renesmeé para cumprir seu dever com o clã?!
— Isso causou uma grande confusão entre os Cullen e os Quileutes novamente — Emily declarou após assentir à pergunta dela. — E um novo acordo foi feito entre as espécies... Nós, quileutes, declaramos o exílio de Forks para os Cullen. Bella tentou assassinar Jake várias vezes depois disso... Mas por algum motivo que ainda não temos certeza, ela se afastou para sempre desde a última tentativa. Abandonou Forks e tudo que havia aqui e que ainda pertencia à história pregressa dela, incluindo Charlie.
Capítulo Dezenove - Trincando o Passado
Depois de descobrir todas aquelas coisas sobre o passado de Bella, ficou ainda mais confusa e preocupada. Embry, ao contrário das meninas, não estava nem um pouco confortável em desacatar as ordens de Billy, portanto, após Emily contar tudo o que achava ser necessário, por ora, eles continuaram o dia de visita à amiga sem tocar, em momento algum, no assunto "Jacob". Até porque, estava bastante irritada ainda com o ocorrido do beijo entre ele e Bruh Ateara. E o que mais lhe irritava era a consciência de que ela se encontrava perdidamente apaixonada por ele.
Após alguns dias, voltou sua atenção aos seus trabalhos com pesquisa, e algo que descobrira sobre aquelas algas marinhas um tempo antes, se confirmava naquele momento. Despertou sua curiosidade e antes de ir até a única pessoa que poderia ajuda-la, ela terminou suas anotações. Passou toda a manhã analisando fatos, fórmulas, textos antigos, autores conhecidos, conceitos e mais artigos acerca da sua nova pesquisa. Tudo apontava para a mesma direção. Era como se algo dentro dela a guiasse às descobertas. Ela foi reunindo as informações das histórias que Emily contara e remontando peças em sua mente. Mas o que a sua pesquisa teria a ver com tudo aquilo? Não havia certeza sobre isso ainda. No entanto, a sensação de agouros premonitórios a estimulavam a cavar ainda mais. precisava continuar a trincar aquele passado de Forks!
Estava decidida a ir até Sue e arrancar o máximo de informações que pudesse. E desta vez, Billy também abriria o jogo. Estava farta de mentiras, de omissões. Era direito seu estar ciente de tudo, afinal, ela estava inserida no meio daquela confusão de alguma forma e não era certo que não soubesse a verdade completa.
Enquanto se preparava para sair, seu telefone notificou uma mensagem de Scott:
"Espero que esteja melhor hoje... Confesso que fiquei pensando em você aquele dia, e mal consegui dormir. Queria conversar. Tudo bem se nos encontrarmos hoje à noite?"
respondeu a Scott que gostaria de vê-lo mais tarde, mas como estava ocupada, ela mandaria uma mensagem combinando um horário melhor. Pegando as chaves do carro, saiu apressada até a reserva. Por ser hora do almoço, todos estavam reunidos em volta da grande mesa no pátio e, assim que ela estacionou o carro na entrada, as atenções se voltaram para si. A maioria dos rostos sorriam, mas entre eles, lá estava a expressão de susto e esperança no rosto de Jacob. E Bruh, também estava lá, com sua raiva de sempre estampada num sorriso vadio. respirou fundo controlando o ódio iminente que sentia. Bateu a porta do Munstang ao sair do carro com um largo e falso sorriso em seu rosto. Provaria ter superado aquela decepção e Black sentiria amargamente o seu desprezo.
— Eu não acredito! Olha quem decidiu lembrar que tem amigo! — disse Seth com ar de deboche e alegria.
— Desculpe, gracinha, eu andei muito ocupada. Não justifica o sumiço, eu sei. — Depositou um beijo no rosto do garoto e um forte abraço. — Mas... Para a alegria de todos: I’m back! — bradou um pouco mais alto e todos riram, exceto Bruh, que se sentiu provocada.
— Venha, , sente-se! O almoço está servido.
— Sue... Senti saudade de suas comidas tão gostosas!
Ela abraçou a senhora Clearwater, recebendo o maternal abraço da mulher de volta. Charlie também estava lá, e sentou-se ao seu lado, também a abraçando e beijando sua testa.
— Como você está?
— Estou bem, bastante atarefada apenas.
— Me preocupei com você.
— Por que, Charlie, aconteceu algo?
— Não quero ser invasivo, mas eu soube do ocorrido com o ... — Ele inclinou a cabeça para o lado onde Jacob estava sentado.
— Pelo que sei, não é destino das suas meninas ficarem com ele.
— Eu estarei sempre disposto a ouvir. Basta me chamar.
— Eu sei. E agradeço muito. Nós iremos conversar mesmo, logo mais.
Charlie e sorriram um para o outro e continuaram o almoço. Após colocar as fofocas em dia com todos à mesa e auxiliar Sue com a limpeza, coisa que ela sempre evitava de permitir aos outros fazerem, Emy, Leah e foram à varanda da cabana de Sue. Seth estava deitado na rede e as três se sentaram nos banquinhos próximos a ele.
— Sabe, ... Se bem me recordo, alguém está nos devendo uma explicação sobre o que estava rolando com um tal rapaz da cidade! — disse Leah, sorrateira.
— É verdade! Você nos deu a volta aquele dia, mas pode ir contando tudo! — Emily reclamou.
— Então você e Scott estão finalmente juntos? — Seth pronunciou olhando para com um sorriso atrevido em seu rosto.
— Ei, gracinha, o que você sabe que eu não sei?
— , você sabe que eu e Scott somos amigos...
— Espera! Meu irmão caçula sabe de tudo e eu não? Qual foi, projeto de indígena? Pode ir falando! — Leah bronqueou com tom de escárnio ofensivo à amiga, fazendo com que e os outros dois relevassem e rissem por sua postura.
— Bem... Scott e eu saímos algumas vezes, mas não temos nada além de amizade.
— Não é bem assim... — cantarolou Seth colocando mais “lenha na fogueira”.
— Bom... Ele confessou que gosta de mim, mas já que soube da fofoca, então você sabe muito bem que eu não dei falsas esperanças a ele, Seth!
— E o beijo que aconteceu entre vocês? — o mais novo Clearwater inquiriu desafiador.
— NÃO ACREDITO! — Leah bradou revoltada, arrancando alguns sorrisos de Seth, Emily e um olhar constrangido de .
— Foi só um beijo! Não conversamos mais sobre isso... — explicou sentindo-se um tanto estranha de contar aquilo e logo ali na reserva. Pensativa, concluiu: — Mas talvez você esteja certo, Seth. Não posso deixar de conversar sobre este beijo com o Scott, até porque ele nutre algum tipo de sentimento. Não quero magoar ninguém.
— Você deveria dar uma chance a ele. Está solteira e pelo que sei, não tem mais nenhum interesse no policial. Não é? — Seth perguntou.
— Não sei se deveria — revelou.
— Scott é um cara legal. Fora da reserva, talvez o mais legal que você tenha conhecido. E vocês formam um par bonitinho.
— Quanto ele te pagou para convencer a , hein, Seth? — Emily perguntou risonha, estranhando tal como a irmã dele, a insistência do garoto.
— Ele não me pagou nada. O pior é isso! — Seth levantou-se da rede adentrando a casa, não sem antes dizer a elas: — Só acho que você mereça ser feliz, e ele demonstrou coragem de expor o que sente e tentar algo, não é?
e as meninas ficaram um tempo em silêncio olhando para onde Seth havia caminhado.
— Talvez o pirralho esteja certo, — Leah declarou suspirando em seguida: — Embora eu shippasse outro casal... Mas, alguém fez merda.
— Concordo com a Leah. E com Seth. Você está solteira, não existe mais possibilidades entre você e o Erick. Ou existe?
— Não, Emy! Torço todos os dias para que ele e Danielle se acertem.
— E pelo que sabemos, você não está disposta a perdoar o Jake... Não é?
— Emy, eu não quero nem mesmo ouvir a voz do Black para não dar brecha de enfiar um soco na cara dele.
— Bem, então é isso... , ouça de alguém que viveu a solidão por muito tempo e não recomenda a ninguém. É muito triste viver sozinha. E você está muito sozinha aqui em Forks. Tirando a sua ligação conosco, o que mais você tem? Pense bem, talvez criar vínculos mais sólidos e menos complicados do que nós... Seja o melhor para você.
Leah sorriu, colocou a mão no ombro da amiga e entrou na casa. Emy e ela ficaram na varanda mais um pouco, em seguida, explicou que precisava falar com Sue e entrou também.
— Sue... Eu preciso da sua ajuda.
— Claro, querida! Tem a ver com Jacob?
Leah, que estava na cozinha com elas, se retirou dizendo que deixaria as duas a sós, e Charlie apenas observava as reações de sentado tomando café.
— Não. Absolutamente nada a ver com ele.
— Me desculpe, achei que sua vinda era por isso.
— Não precisa se desculpar. Sei que a maioria aqui na reserva está ansioso por essa história, mas sinto desapontá-los. Eu vim até aqui porque preciso conversar com vocês três.
— Nós três? — perguntou Charlie.
— Onde está o Billy?
— Está na cabana. Eu vou preparar o chá dele. Enquanto isso você pode ir chamá-lo.
— Não demoro — falou saindo da cabana de Sue, em direção à cabana de Billy.
Torcia para não encontrar Jacob, porém, como todo o azar que ela vinha tendo, ele esbarrou com ela no meio de sua sala. Seus cabelos molhados e bagunçados denunciavam que acabava de sair do banho. Seu cheiro era ainda mais gostoso, com o acentuado amadeirado ainda maior. E sentia falta daquele cheiro.
Os dois permaneceram imóveis, se encarando surpresos.
— Mani...
— Eu preciso falar com Billy. Onde ele está? — cortou-o, seca e ríspida.
— No quarto dele, mas olha... Nós precisamos conversar.
— Não. Você precisa é chamá-lo para mim, é urgente. — declarou se virando em direção à porta até que Jacob segurou, com cuidado, em seu braço pedindo:
— Por favor. Todo mundo tem direito a se explicar.
— Eu não quero explicações, Black. Você escondeu seus sentimentos o tempo todo. Quando eu decidi me abrir a você, recebi a sua negação. E o que mais me deixa irritada é a sua incapacidade em ser franco. Era só dizer que estava envolvido com a Bruh... O que me faz lembrar que além de tudo você me fez de idiota!
— , não é nada disso.
— Mentiu quando disse que não tinha interesse nela, por ser muito jovem. Mentiu sobre não estar preparado para se envolver. E me fez de trouxa o tempo inteiro...
— ! Me escuta!
— Por favor, vá chamar seu pai — ela disse se distanciando, então Jacob a puxou novamente e a enlaçou em um abraço apertado. — Me solte, Black... — disse furiosa olhando-o nos olhos.
— Eu não estou envolvido pela Bruh. Nunca estive. Ela me atacou aquele dia! Eu não queria que você tivesse se magoado e por isso evitei tanto tempo que nós nos envolvêssemos. Você é a última pessoa a qual eu faria sentir a dor da rejeição! Acredite ou não, eu sei bem como é isso! Me perdoe, mas foi tudo um engano, . Eu não evitei o nosso beijo porque estava envolvido com a pirralha da Ateara!
— Belo discurso. Agora chame o seu pai, por favor. Estamos aguardando ele na cabana de Sue — disse finalmente se soltando dos braços fortes de Jacob e indo impassível à cabana de Sue. Estar abraçada a Black mexeu com suas estruturas e por muito pouco ela não se convencia das desculpas bobas dele.
Junto com Charlie e Sue, ela aguardava Billy e assim que ele chegara, os três foram para a casa de Charlie. Concordaram que era melhor ter a conversa em um lugar afastado da reserva por privacidade, e também porque queria evitar ficar mais tempo ali. Os mais velhos, preocupados sobre o assunto e desconhecendo-o, não viram problemas em aceitar o pedido da jovem.
Ao sair com seu carro, observou a figura amarga de Black na varanda de sua cabana, e Billy, que estava sentado ao seu lado no carona, observava tristonho a nula interação entre os dois jovens. Não era de se meter nos assuntos do filho, mas estava bastante triste por saber que tanto Jake quanto pareciam sofrer por aquele desentendimento que o próprio não entendera direito.
Assim que chegaram à casa de Charlie, e era a primeira vez que entrava lá, eles não foram adiando ainda mais a conversa. colocou os seus papéis sobre a mesa e entrou logo ao assunto:
— Vocês devem saber, ou não... Que eu já descobri sobre a história envolvendo Bella, os frios, e a reserva.
— Não era pra saber — Billy retrucou um pouco irritado.
— Me desculpe, Billy, mas era sim. Eu estou no meio disso tudo. Posso não estar envolvida com nenhum Cullen, mas estou envolvida com vocês. E já sei o bastante para não ter mais segredos entre nós. Acredito que a confiança é recíproca, não é mesmo?
— Claro — disse Charlie.
— Concordo com ela, Billy, há algum tempo eu já vinha dizendo que precisava saber onde estava se metendo.
— Ok, Sue. Já sei de suas colocações há muito tempo. Mas e você, Charlie? Preparado para desenterrar o passado? — Billy perguntou ao policial, com o rosto um tanto retorcido por desaprovar expor a mais segredos que poderiam colocá-la em perigo um dia.
— Billy, pode não sentir o mesmo, mas eu sinto que ela é como uma filha. Uma filha que eu não tenho como perder, dessa vez. Tudo que eu quero é que ela saiba a verdade, para que assim possa decidir se viver entre nós é realmente o que ela quer.
— Certo... Então, . O que você quer saber?
— Eles voltaram?
— Não. Não temos ideia de onde os Cullen estão desde a morte de Renesmeé. Você já sabe?
— Sim, o imprinting de Jacob que ele matou para defender a tribo... Eu tenho uma dúvida e quero compartilhar com vocês, tentar entender essa ponta solta... Por que a Bella, sendo mãe de Renesmeé e furiosa com Jacob... Partiria sem vingar-se?
— Isso, querida, é algo que todos nós ainda tentamos entender. Os lobos são muito fortes, mas não é mentira que se ela quisesse, teria travado uma grande batalha para se vingar de Jake. Não que ela não tenha tentado algumas vezes invadir a reserva e ir atrás do Jacob, sem sucesso, claro, mas... No fim ela desistiu.
— Acreditamos, , que minha filha, motivada pelos sentimentos de amizade e amor que tinha pelo Jacob... Tenha ido embora para poupar que a vingança destruísse o que restava desse sentimento.
— Os Cullen conhecem nossa história, . Bella sabia que o único que pode ferir um imprinting de um lobo é o próprio lobo. E por isso, nós acreditamos que Bella sabia o quão difícil foi também para Jake.
— Me desculpe, Billy, mas não acredito nisto. Pelo que entendi, Bella não teve receio algum de abandonar sua vida, seu pai, seus sentimentos humanos para se unir aos Cullen. Estas desculpas, para mim, não passam de uma retirada estratégica!
— O que quer dizer com isso, querida? — a mais velha Clearwater perguntou trocando olhares preocupados com os outros dois homens.
— Sue... A Bella não é mais a menina que veio para Forks morar com o pai. Ela não relutou, não foi?
— ... Já se passou tanto tempo desde que tudo aconteceu. Minha filha não teria motivos para voltar agora.
— Exato, Charlie. Muito tempo se passou. Ninguém se lembraria. Por que iriam se proteger? Como Sue mesma disse, ela poderia reunir forças para se vingar.
— , você não é de rodeios como eu. Então, onde quer chegar? — Billy perguntou direto, um tanto preocupado com algo que sabia, estava rodeando para dizer.
— Um tempo atrás, Billy, antes da transformação final de Embry, eu era recém-chegada e não sabia de nada ainda. Jacob dormiu na minha casa uma noite, e de madrugada eu desci para beber água. Vi uma sombra humana rondando minha casa, e aquela foi a primeira vez. Jake desceu e me calou, mandou que eu subisse e saiu pela porta. Ouvi rosnados, e na época ele dissera que eram lobos. Não acreditei porque sei o que vi, mas não tive como contestá-lo. Nunca me esqueci deste fato. Após descobrir a verdade sobre os quileutes, muitas coisas se encaixaram, mas esse era o único fato que ainda não se encaixava em nada. Outras vezes pude ver humanos rondando meu quintal. Não contei a ninguém, mas sei o quão insegura é a minha casa. Por um tempo, tendo a casa vigiada por lobos, em seguida disfarçando que estivesse muito movimentada sempre, eu consegui afastar essas visitas. Mas seja lá o que forem, não são burros e podem voltar a qualquer momento. Temo pelo que sejam. Conheço as lendas Kalil.
— Billy! Você sabia disso? — Sue dizia um pouco desesperada.
— Jacob me contou sobre o ocorrido uma vez, mas como não aconteceram mais após a patrulha dos lobos, acreditamos que não havia mais riscos para .
— Billy, isso era algo que você deveria ter me dito, ainda mais sabendo os motivos pelos quais me mudei para a reserva! — Charlie reclamou, sério.
— Como assim, Charlie? Você não mora mais aqui?
— , desde que Sue e eu nos casamos, decidimos continuar na reserva, é mais seguro. Como você mesma sabe, Kalil não foi um bairro dos mais tranquilos. E há pouco tempo em minha casa também havia rondas de seres humanos estranhos. Não os abordei por recomendações da reserva, posso ser o delegado Swan, mas a morte de um humano para um vampiro é como tirar doce de criança.
— Então eu realmente não estou segura ali!
— , as coisas mudaram muito agora. Achamos, Jacob e eu, que havíamos afastado seja lá quem fosse o frio que estava te rondando. Na verdade, os ataques aos alpinistas tinham relação com ele.
— Billy! Você deveria ter me dito! — Charlie reclamava ainda mais revoltado. — Estamos investigando estes ataques na delegacia há tempos!
— Se contasse a você o que causou, o que mudaria, Charlie? Você não teria como explicar um vampiro para aquele intrometido do seu policial, não é?
— Claro, mas diferente de Erick, eu deveria saber que não foram mesmo ursos! Vocês não deviam ter me escondido isso, eu sou o delegado de Forks além de tudo!
— Acalme-se, meu bem! — Sue pediu segurando os ombros de Charlie.
observava a expressão decepcionada de Billy, com ele mesmo, claro. O patriarca Black sabia que havia errado feio.
— Jacob tinha razão. Eu não deveria ter dado pouca importância a passagem desse frio em Forks... Ele tentou me alertar de que era melhor trazer para a reserva — Billy revelou suspirando. — Há quanto tempo você o viu pela última vez? Sabe dizer que aparência tem?
— Não consegui ver nada além de vultos humanos e na verdade, nunca estive tão perto deles, mas eu pressenti que era algo diferente de vocês, e perigoso. A última vez já tem muito tempo, não me lembro ao certo, mas desde a transformação de Embry... Por aí.
— Billy, precisamos agir! Não podemos ficar de braços cruzados com essa informação! — Sue afirmou.
— Diante de tudo o que você diz, ... Lembra da oferta sobre morar na reserva?
— Sim, Billy.
— Junte suas coisas, você volta conosco hoje mesmo. E amanhã bem cedo começaremos a construção da sua cabana. Até lá você fica em minha casa, que é a mais vazia. E não tem discussões! Seja lá o motivo que fez você se desentender com Jacob, vai dividir a cabana conosco até a sua ficar pronta.
— Ok... E a minha casa? — ela perguntou preocupada.
— Por ora, deixe fechada como fiz com a minha, — Charlie informou e em seguida comentou: — Acham que pode ser um Cullen?
— Não pisariam em Forks após o exílio se não tivessem uma razão forte, e nem o fariam sem vir até nós pedir trégua. Carlisle não é sem palavra, apesar de tudo — Billy afirmou sem dúvidas, mas a voz de plantou a dúvida:
— Um exílio não é nada para alguém que quisesse se vingar como a Bella poderia querer. Não acho que devam descartar que seja um desses Cullen, ainda... E depois, se está me rondando, não faz sentido ser alguém que me conhecia? Talvez minha ex-melhor amiga tenha sabido da minha presença aqui, do meu envolvimento com vocês... Isso poderia ser uma razão forte?
Os mais velhos entreolharam-se surpresos com o raciocínio de , e ela suspirou encarando o chão. Billy se retirou em direção à cozinha de Charlie, acompanhado de Sue. , apesar da postura de quem sabia decididamente o que fazer, estava atônita. Não falou nem mesmo metade do que pretendia, mas em poucos minutos perdera com poucas informações a autonomia de suas decisões. Se ela queria se mudar para a reserva? Lógico. Sempre quis. No entanto, não era o que desejava no momento. Seus planos de se desligar dos quileutes, em especial de um deles, iriam por água abaixo. Ela encarava a mesa em frente ao sofá, sem reação, quando Charlie se pronunciou ressurgindo ao cômodo:
— Venha, , vamos pegar algumas das suas coisas em sua casa. Eu te acompanho.
Capítulo Vinte
Uma nova moradora na reserva
— Certeza de que pegou tudo, filha?
— Sim, Charlie, por ora é o que preciso.
— Então vamos?
— Charlie, sinceramente, não sei se isto é uma boa ideia.
— Boa ideia ou não, , não deixaremos você sozinha aqui. É direito seu não querer ir para a reserva, mas é dever nosso deixar alguns dos meninos aqui com você.
pensou um pouco sobre o que Charlie disse e decidiu-se:
— Não. Não quero tirar ninguém da reserva, do seu lar, para proteger a princesinha aqui. Eu vou com vocês. Mas... De todo modo estou sendo um peso.
— Você nunca é um peso. Gostamos muito de você e todos ficarão felizes com a notícia. Você sabe disso.
— Nem todos, acredite.
— Jacob? Tenho certeza de que ele será o mais feliz de todos.
— Não, não é ele. O que me lembra que... Não tem mesmo um lugarzinho noutra cabana qualquer? Numa casinha de cachorro que seja?
Charlie começou a gargalhar divertido pelo que escutou, e só então parou para pensar no trocadilho involuntário que acabara de fazer. Ela balançou a cabeça em negação, com um sorriso constrangido no rosto. Pegou suas bagagens e Charlie, repetindo seu gesto e parando de rir, pronunciou:
— Você vai ficar bem acomodada na casinha do seu cachorro. Afinal, parece que você adestrou ele muito bem, não é mesmo? — Charlie fez piada e lançou um olhar desafiador para a mais nova.
— Não conte com isso.
Ela fechou a porta da casa e os dois entraram no carro dela, em direção à antiga casa do delegado Swan. Assim que chegaram, Sue e Billy apressaram-se para seguir à reserva, então interrompeu a todos:
— Esperem. Meu motivo de conversar com vocês não contava com essa mudança de planos. Eu ainda gostaria de falar algumas coisas.
Enquanto os três a olhavam curiosos, a bióloga se acomodou ao sofá e abriu seus papéis e anotações sobre a mesa de Charlie até que os presentes à cena se aproximaram.
— Há algum tempo enquanto pescávamos, eu colhi algumas algas marinhas e vinha estudando-as. Por isso precisava de sua ajuda, Sue. O que tem a me dizer dessa planta? — esticou alguns papéis com anotações e fotos da alga para a indígena. Sue pensou um pouco e mostrou os papéis a Billy.
— Querida, é uma alga antiga. Quase não é encontrada em abundância nas encostas de Forks, como antigamente. Preparei muitos xaropes com ela, e os distribuí às famílias da reserva para darem aos seus filhos ainda pequenos. É um tônico fortificante e estimulante do apetite.
— Nós utilizávamos, , em bastante quantidade, mas foi ficando escassa. Sem ter muita noção de como replantá-las, pois elas são típicas das encostas mais difíceis, nós paramos de colhê-las. Com o tempo voltou a brotar, mas é apenas mais um tipo das muitas ervas medicinais que nossa tribo utiliza.
— Exatamente, Billy. Medicinal. Descobri um teor bem alto de regeneração na planta, e aproveitei para fazer alguns experimentos. O insumo é forte contra infecções, inflamações, cicatrizantes. Mas o mais curioso não é isso... Recordei de quando estive na tribo Whitton com vocês, e os pajés locais utilizavam uma planta de aspecto parecido, porém seca. Foi o que deram para o Embry. Pensando um pouco mais, eu consegui chegar à conclusão de que esta alga apresenta poderes curativos. Ou talvez retardantes.
— Você acha, querida, que a utilização que fiz desta alga na infância pode ter retardado a transformação dos meninos?
— Sim. Faria muito sentido. Não há nenhuma comprovação científica a respeito, mas tenho estudado esta alga há bastante tempo, e lendas envolvem os poderes curativos quase mágicos dela. Em relatos mais antigos, encontrei uma assimilação do uso desta alga como "a regeneração da vida", ou "ressurreição dos frios". O que vocês podem me dizer sobre isso?
— Eu desconheço qualquer fato. Billy? — Sue olhou para Billy, tão curiosa quanto e Charlie.
— Há muitos anos, meu avô contava histórias sobre uma cura. Não era a cura que nós lobos procurávamos para nós, mas era algo que poderíamos fazer uso para o bem. No entanto, ele falava de magia. Nunca mencionou o uso de nenhum insumo ou planta.
— Bem... Fiz uso desta erva por um tempo. E realmente, testando em mim, pude notar que a regeneração de feridas é bem rápida. Não sei se provém dela uma cura definitiva para os lobos, mas pelo que vi na reserva Whitton, ela apenas funciona como um... Controle. Nada definitivo. Embry continua se transformando, só que de forma “controlada” agora, não é? Como antes, como se não tivesse passado para outro estágio. Mas retardou um processo mais grave a ele. E quanto aos frios... Bom eu continuarei a estudar, mas é um pouco difícil sem algum deles para que eu possa testar.
— Acredite, , contente-se com suas anotações, você não gostaria de testar nada em algum frio. São repugnantes.
Neste momento, após esta fala conclusiva de Billy, Charlie pigarreou e se levantou para que eles pudessem voltar à reserva. No caminho, Billy e não falaram nada do que haviam conversado anteriormente. No carro de Charlie, Sue tagarelava de felicidade de ter morando na reserva e Charlie concordava. Assim que chegaram à reserva, Sue e Charlie saíram do carro, e o delegado auxiliou Billy a descer enquanto dava a volta em direção a eles. Deixando a nova moradora a sós com Billy Black, Charlie seguiu para sua cabana.
— Antes de entrarmos, , eu gostaria de conversar com você.
— Tudo bem... Quer ir até a praia?
— Vamos apenas caminhando... Pode empurrar a cadeira?
assentiu e os dois seguiram em direção ao imenso toco de carvalho, próximo à entrada da trilha para a praia. No mesmo toco onde Jacob a presenteara com um rádio de madeira.
— Vamos, sente-se aí. Não é um caminho muito acessível para descer com a cadeira de rodas, essa trilha.
— Ok... — soltou a cadeira virando-a de frente para onde ela se sentaria e após recostar-se ao carvalho, a mulher encarou o patriarca Black.
— Sei que está zangada com meu filho, e não irei me meter na relação de vocês dois. Jacob é cabeça-dura como eu, então acredito que ele possa tê-la magoado muito com suas atitudes confusas.
— Você conhece bem o seu filho.
— E por conhecê-lo entendo as suas limitações em dar chance a um novo amor. No entanto, desde que você chegou, meu filho é outro homem. Você conseguiu restaurar muitas coisas em Jacob, . E sabe disso. Assim como sabe que restaurou aos quileutes a confiança em alguém que não seja como nós.
— Não pode dizer isso, Billy. Bem sabemos que as semelhanças que tenho com vocês e toda a afinidade é grande. Essa é a razão da confiança entre nós.
— Claro. Há algo de ascendente em você que nos conecta como a uma espiritualidade, mas essa afinidade também é a mesma com os Carter.
— O que você está querendo dizer?
— Não estou recriminando ou me intrometendo na sua relação com o filho mais velho dos Carter, mas eu soube que você já conheceu a tribo de sua família. Você realmente é fascinada por culturas indígenas, não é? O que me faz retomar que a sua felicidade, ao contrário do que eu pensava no início, pode não estar junto a nós. Entretanto, , quero que saiba da minha profunda admiração por você, e da nossa alegria em recebê-la aqui. Entre nós, você sempre terá um lar. E apesar da minha esperança infindável de que é com o meu filho que você deva ficar, eu desejo que você encontre alguém que realmente lhe complete. Ainda acredito em você e em Jacob. E saiba que pode conversar comigo quando quiser. Jacob pode ser indecifrável e ninguém melhor que o pai dele para que você tenha ajuda nisso. Claro, se é que você ainda quer decifrá-lo.
— Billy, tudo isso é... — não terminou de falar, soltando o pouco fôlego que a surpresa de todas aquelas palavras lhe causara.
Não só as notícias corriam rápido, como agora, a amizade dela com Scott parecia uma ameaça aos olhos dos quileutes para seja lá o que fosse que ela e Jacob viessem a ter. Ela piscou algumas vezes e, sacudindo a cabeça, respondeu ao Billy:
— Agradeço as palavras, o acolhimento e a compreensão. Não sei se há um nós entre Jacob e eu, assim como com Scott. Mas fico feliz em saber que posso confiar em você. Principalmente nestes difíceis momentos que virão com a minha estadia em sua cabana.
— Oras, não se preocupe com isso! Você é forte e decidida, tenho certeza que não será tão ruim quanto pensa. Jacob não vai amolar você, se você assim desejar. Ele ficou trancado dentro de si por muito tempo antes de você chegar, e se você o colocar naquele lugar opressor do próprio coração novamente, ele saberá lidar com isso.
As palavras de Billy a fizeram sentir certo remorso. E acreditou que era exatamente o que o velho senhor pretendia: causar nela arrependimento pela forma como julgou Black. Afinal, ele era o filho de Billy e tudo bem um pai defendê-lo com um pouco de chantagem emocional, não é? Billy sorriu para a garota e ela sorriu de volta a ele. Arrastando sua cadeira, sempre surpreendentemente silenciosa, Billy se retirou de volta para a cabana. se levantou suspirando e seguiu atrás dele, e então pôde ouvi-lo de repente:
— Ah! E estava me esquecendo! Como você sabe, não temos muitos cômodos então você vai dormir no quarto de Jacob.
— Billy! Não precisa incomodar Jacob com isso. Eu durmo na sala.
— De forma alguma, . Somos cavalheiros.
Conhecendo Billy, como ela já conhecia, sabia que continuar a discussão não adiantaria nada. Tão turrão quanto o filho, tão teimoso quanto ela. E não esquecendo que ela era uma hóspede de favor, não cabiam reclamações. A mulher seguiu atrás de Billy adentrando a casa e Jacob, avistando-os, caminhou em direção a eles. Saiu da casa de Sue com uma feição um tanto quanto alegre, e já imaginava a razão daquele sorriso sutil que ele não pretendia esconder.
— Então você vai morar aqui! — falou animado assim que parou próximo do pai, observador aos dois, e ainda tentando fingir evitá-lo.
— Pois é. Parece que eu vim mesmo para ficar.
— Vamos, filho, temos que acomodar no seu quarto.
— Eu vou pegar minhas coisas no carro — ela disse e Black seguiu logo atrás dela, ignorando o pai.
— Eu te ajudo, !
Enquanto eles tiravam as malas do carro e iam levando para o quarto, não falaram mais um com o outro. Para ela, era estranho estar novamente naquele quarto diante das atuais circunstâncias. Após a última leva de bagagens, e Jacob olharam um para o outro com dúvida sobre o que fazer a partir dali.
— Bem, eu vou pegar umas roupas de cama limpas para você.
— Obrigada, Black.
— Sabe que não precisa me agradecer. Eu é quem devo. — Ele sorriu. — E vou preparar também o meu acampamento na sala.
— Black, eu ainda estou muito magoada com você. Estar aqui não significa que as coisas mudaram. Contudo, nós teremos uma convivência pacífica e tranquila se depender de mim.
— Eu já sabia que não havia mudado nada, mas não me peça para não demonstrar o quanto estou feliz de ter você aqui. Entendo seus sentimentos e irei esperar o tempo que for preciso até você me perdoar. Eu já espero por você há muito tempo, não seria diferente agora.
Assim que terminou de falar, Black saiu pela porta de seu quarto deixando uma ainda mais confusa sobre seus sentimentos. Ela já não tinha tanta certeza se não teria chances de uma reaproximação entre eles. Na verdade, começava a se indagar se Jacob não era mesmo apenas uma vítima. Assim como ela. Tentando afastar esses pensamentos, a mulher voltou sua atenção ao quarto e às suas coisas que precisaria dar um jeito de colocar em algum lugar.
•-•--♦--•-•
— Bom dia, Mani. — Ela acordou com a voz trovejante de Black ao pé do seu ouvido, enquanto as mãos dele acariciavam seus cabelos.
Um cheiro agradável de café forte com hortelã inebriava os sentidos olfativos da mulher e abriu os olhos lentamente, processando a imagem do extenso sorriso de Jacob à sua frente. Endireitou-se na cama sorrindo de volta para ele, agachado à sua frente.
— Bom dia, Jacob. Sente-se. — indicou a cama do próprio para que ele se acomodasse.
— Preparei um café de boas-vindas. — Ele pegou a bandeja depositando-a com cuidado no colo dela. — Tem torradas, daquelas suas favoritas, morangos, iogurte de pêssego, queijo branco e peito de peru no delicioso pão de batata da Sue, e café forte com hortelã. Está tudo direitinho?
— Uau. Você não esqueceu de nada. Vai ser assim todos os dias? Meu café da manhã favorito na cama? — olhou para ele de um modo sarcástico, enquanto bebericava o café. — Posso me acostumar muito mal assim.
— Infelizmente não será assim todos os dias. Não na nossa atual circunstância, em que você está chateada comigo.
não quis discutir com Black o que aquilo significava.
— Não vai comer? — ela perguntou quebrando o clima que havia ficado entre eles.
Jacob apenas pegou sua caneca de café no móvel ao lado da cama, levantou-a e sorriu. Enquanto comia, ele observava-a com aqueles olhos de devoção.
— Sei que não é da minha conta, mas você sumiu ontem à noite. Algum problema na região? — a moça perguntou tentando manter algum diálogo a fim de evitar aquele olhar sobre si.
— Apenas fui aos Carter antes que fechassem, para fazer umas compras de última hora.
— Não me diga que... Jacob, este café da manhã não tem nada a ver com isso, né? — perguntou encarando os itens na bandeja e Black sorriu, abaixando a cabeça escondendo a resposta. — Idiota. Não deveria se incomodar assim.
— Deveria sim. Você disse que deixaria eu te mimar o quanto quisesse. Ou já esqueceu?
Ela manteve o silêncio, encarando séria os olhos atrevidos do rapaz como um sinal de que entendia o que ele estava tentando fazer, e não aceitaria as chantagens a fim de apagar tudo o que acontecera.
— Meu pai disse que conversaram um pouco sobre o passado... Desculpe, mas tivemos que entender a sua mudança tão repentina para cá.
— Fico feliz que todos já estejam sabendo. Me poupa de contar e encarar as reações.
— Ora, ! Sabe que as reações foram boas! Todos adoraram. Acredite.
— Pode ser... Mas é diferente ter uma hóspede e uma nova moradora permanente.
— Fico feliz com o permanente.
— Claro que... Por enquanto é permanente. A gente nunca sabe quando é hora de partir.
— E você pretende partir?
— Não sei, Jacob. Mal sei o que acontecerá daqui vinte minutos.
— Vai tomar banho e me ajudar na marcenaria.
— O quê?
— Você não tem trabalho, tem?
— Não, hoje não. Mas... Como você sabe?
— E então, sobre a história de Bella e os frios... Está com medo? — Jacob mudou o assunto.
— Olha só, alguém já consegue pronunciar o nome dela.
— Bella é um passado sem dor desde a sua chegada. — A declaração dele a pegou de surpresa, e mais uma vez evitando aquele assunto, desviou o diálogo:
— Não me respondeu como sabe que não tenho trabalho. Anda espionando minha vida?
— E você não me respondeu se está com medo dos frios.
— Perguntei primeiro.
— Teimosa — Black declarou negando com a cabeça e sorrindo fraco. — Digamos que Scott Carter e eu temos finalmente um assunto em comum.
— Eu não acredito! O que vocês andam falando sobre mim?
— Sua vez de me responder.
— Não tenho medo de nada. Na verdade, o que mais quero é encontrar um deles pra arrancar algumas respostas.
— Você não tem ideia do que está dizendo, ! Eu jamais vou deixar um deles se aproximar de você.
— Se vai ser meu cão de guarda é melhor pedir permissão à sua namorada antes — respondeu tão altiva e sem pensar que sentiu-se envergonhada pela grosseria repentina, abaixando a cabeça ao pedir desculpas: — Me desculpe. Não quis te ofender.
— , eu e Bruh não somos namorados. Eu já tentei te explicar, mas você não quer me ouvir.
— Vamos mudar de assunto?
— Como perguntou... Scott e eu não ficamos falando de você. Mas parece que vocês passam bastante tempo juntos, já que ele conhece o seu paladar tão bem... — Jacob disse com certo ciúme. — Se é que é só o paladar que ele conhece...
— Eu realmente vou fingir que não ouvi isso... — declarou olhando incrédula para o rapaz.
— Desculpa, você não deve satisfações a mim. Enfim, ele notou que minhas compras não eram literalmente para mim, e perguntou se eu tinha notícias suas. Contei que você estava passando um tempo na minha casa. — Jacob sorriu maleficamente. — Ele ficou surpreso e pediu para avisar que estaria aguardando o seu telefonema.
— Droga! Eu me esqueci! Ai não, não acredito! — se levantou da cama andando de um lado ao outro com a mão na cabeça, enquanto Jacob parecia se divertir com a situação.
— , como foi se esquecer do seu encontro?
— Não me provoque, Black! Scott não merecia isso!
— Não mesmo, apesar das nossas diferenças ele é um cara muito legal. Poxa, , você deveria ter telefonado.
— O quê? Seu idiota! — deu um soco no ombro dele, que gargalhava da sua reação. — Por que você não me passou o recado? Foi de propósito, não é mesmo? Seu grandíssimo babaca! — Ela avançou irritada sobre Black, com empurrões e tapas, até que ele a segurou.
— Ei, calma aí! O encontro era seu, meu amor. E eu, bem... Me esqueci.
— Não acredito em você — ela disse se soltando das mãos fortes de Black, indo até o espaço no armário que Jacob disponibilizou para que guardasse suas coisas.
— Isso não é novidade. — Jacob também se direcionou à sua parte do armário pegando uma toalha limpa e a entregou.
— Não precisa, eu trouxe — disse já mais calma.
— Te espero na sala então. — Assim que terminou de falar, Jacob a abraçou apertado dando um beijo em seu rosto.
Saiu pelo corredor do quarto e voltou de repente na soleira da porta dizendo com um sorriso sacana:
— AH! Você deveria ligar para o Scott. Coitado!
olhou para aquele moleque que ela ainda não conhecia, ou se conhecia havia se esquecido, e lançou sua expressão silenciosa de "caia fora!". Assim que Black saiu, a mulher ficou pensando sobre aquela manhã e sobre aquela reação amigável da parte dele. Talvez não fosse tão difícil a convivência como havia pensado. Jacob sabia das suas mágoas, respeitava-as, mas não havia esquecido a amizade que nutria por ela. Amizade que ela poderia não admitir, mas sentia falta. E seria imaturidade da sua parte negar a aproximação, até porque, no fundo... Ela não queria mesmo. Não desejava alimentar mais aquela história de orgulho, o tão antigo orgulho que impede de ser feliz.
Vestiu uma camiseta branca, uma bermudinha jeans e calçou uma bota para "trabalhar na marcenaria" com Jacob. Não sabia o que ele estaria aprontando com aquela história. Prendeu seus cabelos em rabo de cavalo alto, organizou o quarto e levou para a cozinha a bandeja de café, limpando tudo. No caminho, passou por Black que estava jogado no sofá, coisa rara de se ver.
— Você, deitado no sofá?
— Ei, garota, eu estou te esperando — o rapaz disse chamando-a para fora.
— E então, Black?
— Como você sabe, eu vendo minhas obras pela cidade. Tenho uma encomenda de souvenirs temáticos da cidade e uma mesa grande para entregar. Enquanto eu trabalho na mesa, você trabalhará nos artesanatos.
— Espera aí, bonitão! Eu nunca esculpi nada!
— Você aprende rapidinho. Nós sabemos disso.
Enquanto caminhavam em direção ao galpão de Black, ela pegou seu celular discando para Scott, e a ação foi notada por Jacob que, espiando o visor do aparelho dela, não evitou a provocação ao dizer sorrindo:
— Vai ligar para o seu novo namorado?
revirou os olhos e até responderia a Jacob, mas Scott atendeu a chamada.
— Alô? Scott! — Então ela caminhou afastando-se aos poucos de Jacob, o que o deixou um pouco irritado. — Primeiramente, mil desculpas! Ontem aconteceram muitas coisas, Charlie me trouxe para a reserva de última hora, e eu acabei adormecendo de cansaço ao anoitecer. Jacob não me deu o seu recado porque quando chegou eu já havia dormido. E hoje ao acordar eu me lembrei de você. Desculpe!
— Tudo bem , eu entendo.
— Não, não, Scott! Eu sei que você deve estar pensando que eu te dei outro fora, mas não é nada disso! Por favor, aceite o meu convite para o almoço de hoje! Ou um jantar! Eu tenho muito pra contar a você, e não quero que fique uma má impressão.
— , tudo bem, mesmo. Não se preocupe. Quando você quiser...
— Eu quero! É exatamente isso, Scott, eu quero me encontrar com você, eu quero sair com você, só que ontem eu tive muitas surpresas e acabei me esquecendo de telefonar para cancelar. Por favor, Scott — ela sorriu fraco pelo telefone ao falar: —, não desiste de mim, vai... Você é o amigo mais próximo da minha vida normal. Quero dizer... Adoro a reserva, mas às vezes é difícil, entende... Eu realmente sinto sua falta! — Scott ficou mudo por um tempo. — Scott?
— Oi... Er... — gaguejou tentando dar uma resposta: — Eu não posso almoçar hoje, , mas podemos jantar sim. E dessa vez eu não irei te aguardar, eu vou buscar você, para não correr o risco de você esquecer.
— Ótimo! Eu te aguardo às oito horas.
— Combinado.
Ela desligou a chamada e sorriu com a expectativa daquela noite. Na verdade, adorava passar um tempo com Scott, pois a calmaria dele era o que lhe faltava. E sempre tão paciente, Scott sabia a reconfortar, no entanto, aquela seria a primeira vez que eles sairiam sem que tivesse algo ruim, triste ou desanimador para despejar nele. E era de fato um encontro, não uma saída entre amigos. Essa coisa estava meio que explícita desde que eles se beijaram e não tinham conversado sobre aquilo, então, até segunda ordem, era um encontro e até estava animada com aquilo. Jacob continuava andando à frente dela, e quando a mulher entrou no galpão, ele perguntou um pouco desanimado:
— Se acertou com seu namorado?
— Sim, ele vem me buscar hoje às oito — ela disse sorridente, no automático.
— Espera... Vocês estão mesmo namorando?
— Não. Pelo menos não ainda. Mas... Eu ainda não estou preparada para me abrir sobre este assunto contigo, Black. Você entende?
— Claro. Eu não tenho nada a ver com a tua vida. Fico feliz que você esteja feliz. — A expressão de Jacob transmutou-se entre culpa, ciúme e decepção. não se sentiu bem em enxergar aqueles sentimentos na face dele.
Por que apesar de saber que ela não estava fazendo nada de errado, ela se sentia tão mal com aquela situação?
— Nós só estamos saindo. Como amigos — explicou, ciente de que não era obrigação sua justificar nada a ele. — Mas desta vez eu não estou impondo barreiras a algo mais. Como seu pai mesmo me disse, a gente nunca sabe de onde virá a felicidade.
— Faz bem. Seguir em frente... Lamento que eu não saiba fazer isso tão bem quanto você.
Os dois trocaram olhares tímidos, e enquanto observava ao redor desviando o olhar, Jacob pigarreou se direcionando a um balcão extenso.
— Venha! Vou te mostrar os souvenirs.
— Eu conheço, esqueceu que coleciono seus artesanatos em casa?
— Sim, eu sei, mas eu quero te mostrar como fazê-los.
Não demorou para que o clima de constrangimento se esvaísse entre eles. Jacob mostrou para ela alguns pequenos brindes, uns conhecidos, outros novos, mas Black explicou e demonstrou como esculpir devagar cada um deles.
Enquanto se concentrava em seu trabalho, Jacob se concentrava em sua mesa, ora ou outra espiando-a por cima de seus ombros. Ela, notava, repetia o gesto quando ele não estava olhando. Depois de um tempo, Black se levantou indo em direção a ela e parado ao seu lado observava o trabalho realizado por , até que se direcionou às costas dela e, abaixando-se, seu corpo a envolveu em seus braços, ele segurava as mãos de junto às suas, guiando o esculpir que ela executava. Jacob não fez por mal, estava a corrigindo, concentrado em orientar:
— Nesta fase de finalização, mantenha a mão firme, porém delicada. Embora a peça ainda vá passar pela lixa e pintura, é importante que a lapidação da madeira seja delicada, porque auxilia a não ter tanto o que finalizar com lixamento.
Já foi pega de surpresa com o gesto. Suas memórias voltaram aos inúmeros momentos como aquele, que anteriormente eles tiveram. Ela suspirou pesado, como se quisesse se livrar daqueles braços, e embora quisesse realmente, algo no seu íntimo contrastava com não querer. Black se afastou após lhe explicar tudo aquilo, girou o banquinho onde ela estava sentada de frente para ele e, sorrindo, disse:
— E então? O que achou?
— Achei relaxante... — ela mencionou baixinho, e reforçou: — A atividade é mesmo relaxante. Mas me diga você, o que achou?
— Que para a primeira vez você foi muito bem — Jacob respondeu sorrindo discreto enquanto observava os artesanatos dela.
sorriu de volta e levantando sua mão em direção ao rosto do rapaz, ela limpou as lascas de serragem que haviam na bochecha dele. Jacob fez o mesmo notando algumas lascas no pescoço dela. Os dois se encararam sentindo uma tensão no ar, que rapidamente partiu ao se levantar e afastar-se arrumando os materiais usados na bancada. Ele a ajudou e os dois voltaram para a cabana. No caminho de subida, Jake estava calado e ela também, até que ele pronunciou algo que o estava incomodando.
— Sabe, desde que você chegou... Eu não pude te dar um abraço.
Ela parou de caminhar e olhou diretiva para ele, em dúvida, notando um pequeno desconforto em sua face.
— Eu sei que está chateada comigo. Sei que está seguindo em frente com Scott ou não... Enfim, eu sei que forçar a barra não é a melhor opção e não quero isso. Eu pedi para você ser paciente comigo o tempo todo, até que estraguei tudo, então eu serei paciente com você, mas eu gostaria da minha amiga de volta. E sinto falta do seu cheiro, do seu abraço, das suas mordidas em meu ombro. Eu só queria dizer isso para você saber. Saber que eu entendo você... mas torço para que você possa me perdoar nas pequenas coisas pelo menos...
Os dois se mantiveram em silêncio por um tempo. olhou para frente e notou que estavam próximos à cabana, quase chegando no toco de carvalho. Então, observou os próprios pés, pensativa no que escutou. Jake começou a caminhar novamente, certo de que estava sendo ignorado, mas então, ela o segurou pelo braço.
— Espera. Jacob, eu não estou feliz com esta nossa situação. Mas é como você disse... Eu te esperei. Eu aceitei seu desprezo até achar que havia conquistado você. E no fim, não conquistei.
— Conquistou sim, . Eu é que fui idiota demais para impedir que a armação de uma criança te magoasse.
— Armação da Bruh, acidente ou não, o fato é que eu me magoei. E fiquei muito confusa. Foi tão difícil iniciar alguma relação contigo, enquanto que com o Scott foi tão natural... Eu não amo o Carter, assim como não amei o Erick, e não estou tentando despejar nele a frustração com você. Eu apenas gosto de estar com ele e me sinto bem. Já contigo... Eu não sei o que esperar de você, de nós... Enfim... Eu preciso de um tempo para voltar a ter controle dos meus sentimentos, sabe, Black. Também sinto sua falta. A falta da amizade. Mas eu fui de cabeça até você! Mergulhei em um sentimento confuso e agora eu preciso só desacelerar...
— É, foi tudo muito intenso. Sua chegada, nossos costumes e segredos. Entendo...
— Mas você pode sim abraçar a sua Mani, que sente muita falta disso! Mas só vamos manter o controle, para não confundir as coisas de novo. — Ao terminar a frase, sorriu segurando a mão do rapaz, e Black, mais do que rapidamente, a envolveu em seu abraço protetor. Cheirou o pescoço dela como sempre fazia e se manteve imóvel. Podia sentir-se estúpida de permitir que sofresse mais no futuro, mas um passo de cada vez. Não poderia negar seus sentimentos.
Jacob beijou a testa dela, sorrindo largo, e assim, continuaram a subida rumo às cabanas. Ao chegarem próximo ao pátio das cabanas, lá estava Bruh Ateara os espionando. Sua expressão raivosa já era conhecida, e se afastou um pouco de Jake. Ele por sua vez, se colocou na frente de , rígido e calado. Bruh olhou para a mulher de modo atravessado e saiu a passos fundos em direção ao seu canto da reserva. Se era possível sentir a aura de raiva dela, conseguia até mesmo tocar.
— A lobinha traiçoeira já sabe que eu estou morando aqui, pelo visto.
— É, sabe sim. E sabe de algumas coisas a mais... — Jake disse olhando de lado para .
— Como assim? Que coisas?
— Não se preocupe, ela não fará nada contra você.
— Ah, eu não me preocupo não. Bem, eu vou até a cabana de Sue. Nos vemos depois. — Depositou um beijo no rosto de Jacob e, acenando, foi até a cabana de Sue calmamente. Queria encontrar Leah, para poder contar sobre seu encontro com Scott.
— Bom dia, Sue!
— Bom dia, , como foi com o Jacob? — Sue perguntou sentando-se à própria mesa de sua cozinha, logo sendo seguida por Charlie, Seth e Leah.
— Sente-se! — Seth puxou a cadeira ao seu lado.
Todos olhavam para ela, com olhos de lêmures. Aguardavam ansiosos a resposta do "como foi com o Jacob?". riu baixo por aquela situação, puxou uma cadeira e serviu-se de café, encarando a todos, calma e divertidamente.
— Bem, plateia... — Os olhares de Charlie e Sue se encontraram em uma expressão pouco constrangida; Leah e Seth, por sua vez, não piscaram nem uma pálpebra. — O que exatamente vocês querem dizer com "como foi o Jacob"?
— Oras, ! Não enrola! Somos curiosos, ou fofoqueiros. Chame como quiser! Mas a gente precisa saber como foi passar a noite com ele! — Leah já estava impaciente e eufórica como sempre: — Vocês conversaram? Se acertaram? Os pensamentos dele estão um tanto descontrolados por isso, é bom você saber!
— Como assim? — perguntou surpresa e preocupada.
— É... Quando um alfa sai do controle até os segredos mais sórdidos é difícil de evitar ouvir... — Seth resmungou baixinho, constrangido e fazendo os outros se constrangerem também.
Leah dissipou o momento de exposição de Black e , tentando amenizar o comentário do irmão:
— Mas não é sobre o que passa na cabeça do Jacob que estamos falando. Ele fantasia muita coisa! Conta o que realmente queremos saber, vocês fizeram as pazes?
— Nós vimos vocês dois saírem sorridentes em direção ao galpão esta manhã, — Seth respondeu envergonhado pela reação da irmã, e compartilhava a mesma expressão de sua mãe e Charlie.
— Ah... Isso... Bom, ontem não trocamos muitas palavras. Ele saiu pela noite e eu adormeci antes mesmo de ele chegar.
— Então nada mudou? — Leah, mal esperou beber seu café para interromper, a fim de esclarecer aquela história.
Sue, ao observar a ansiedade da filha, pegou na mão dela e encarou , de modo compreensivo e terno. Embry chegou assim que Leah terminou de falar. Cumprimentou a todos e, selando os lábios da namorada, sentou-se ao lado dela. Embry pareceu ter ideia do que se tratava e não demorou muito para atacar os biscoitos, os bolinhos e outras gostosuras que Sue havia preparado e, com a boca cheia, olhou para , ansioso também. Aquilo tudo fizera a nova moradora da reserva sorrir ainda mais. Ela se recordou de Billy falando sobre a esperança que mantinha sobre Jacob e ela. Obviamente ele não era o único a torcer por aquele casal.
— Mudou sim. Esta manhã Black me acordou com meu café favorito na cama e uma oferta de paz. Eu resolvi que, em respeito à hospedagem dos Black, e pela minha amizade com ele, nós iríamos nos dar bem. Por mais chateada que eu esteja com tudo o que aconteceu, não faz sentido ignorá-lo agora.
— Muito bem, . — Charlie sorriu orgulhoso.
— Eu sei que você não vai querer escutar isto, mas acredite, ! Nunca aconteceu nada entre Jake e a pirralha sem noção da Bruh — Embry se pronunciou e todos o olharam apreensivos, talvez por acreditarem que ele estivesse sendo muito invasivo ou precoce naquele assunto.
Já estava calma, na verdade, Embry era o seu melhor amigo ali, e ele a amparou naquela história. Natural que tanto ele quanto Leah quisessem que uma pedra fosse colocada sobre aquele assunto de uma vez por todas.
Enquanto sorria serenamente para Embry abraçado à Leah, Sue e Charlie sorriam para os três observando-os de um modo íntimo. Charlie e Sue estavam orgulhosos pela maturidade de com tudo, inclusive com a formação do casal “Leah e Embry” que, de certo modo, ocorreu de um jeito que a envolvia no passado. Eles se tornaram bons amigos, e Sue ficava feliz pela aceitação de Leah para com também.
Estavam todos sorridentes, comendo e pensando em algum próximo assunto, quando Seth, tímido e um pouco deslocado, segurou a mão de fazendo-a percebê-lo. Ele parecia, aos olhos de , um tanto incomodado com os casais formados por sua mãe e irmã.
— E... O que vocês foram fazer no galpão esta manhã depois de um café na cama? — Leah mencionou, rindo maliciosamente e Embry também.
Sue e Charlie se levantaram da mesa como se quisessem não participar mais da história. percebeu que todos pensavam que Black e ela haviam passado a noite juntos, devido ao seu relatado “café na cama”.
— Nós não estamos juntos, se é o que vocês pensaram. Fui ajudar Jacob com umas encomendas de marcenaria.
— Talvez devessem perguntar por que motivo ele faria café na cama para ela, e não por que foram pro galpão de manhã... — Seth mencionou entrando na provocação.
— Isso a gente já sabe, infelizmente... — Leah mencionou negando com a cabeça e apontou para ao dizer: — Tem sorte de não ter seus pensamentos invadidos, loba branca!
— Não me digam que Jacob tem pensamentos eróticos que vocês podem ver?
— Ouvir. A gente escuta tudo o que o outro pensa... Claro, quando estamos cansados demais ou fora de controle. Geralmente todo mundo se esforça para esconder — Embry explicou e o rosto de se chocou, ao passo que Embry a acalmou: — Mas ele não teve pensamentos eróticos com você, não foi isso.
— Aquilo estava mais para um adolescente chorão pensando em como pedir desculpas pra namoradinha... — Leah reclamou. — Mas ele sonhou com você, e eu vi. Foi tão chato como só o Jake sabe ser... — Leah confessou e tanto Embry quanto Seth sorriram.
concentrou sua atenção no rosto de Seth e sua mão, que já apertava menos a de . Seth não percebeu que ainda segurava a mão dela como fizera momentos antes, e buscaria entender o que o deixou acuado daquele jeito. Então, se recordando do motivo de ter ido à casa de Sue, interrompeu um diálogo entre Leah e Embry.
— Ei, Leah... Eu precisava falar com você.
— Este é o momento em que nós nos vemos depois, amor — ela disse sorridente ao namorado e, se levantando da cadeira, chamou a amiga em direção ao seu quarto.
beijou a testa de Seth, que mantinha uma expressão preocupada desde o que ela havia dito, e aquilo a estava deixando curiosa, no entanto, acompanhou Leah até seu quarto. Ela escorou a porta depois que a amiga entrou e antes que ela pudesse sentar-se em sua cama, Leah já estava ansiosa de novo.
— Vamos lá, eu sabia que você estava escondendo algo naquela cozinha!
— Não é nada com o Black, Leah... Eu acho que você vai querer me matar quando eu disser e nem sei se deveria mesmo falar sobre isto contigo. Talvez Emy fosse a melhor opção... — sorria debochada.
— Você me chamou até o meu quarto para me insultar? Sua otária!
— Ok, mantenha a calma! Por favor!
— Você está me deixando muito nervosa, ... Não me diga que você e aquele imbecil do Erick estão juntos de novo?
— Não! Eu não voltaria com o Erick em hipótese alguma... Mas tem outra pessoa sim.
— Scott Carter.
— Como sabia?
— Seth é amigo do irmão caçula dele, e ultimamente tem passado muito tempo com os Carter. Outro dia o Peter esteve aqui. Ouvi os dois conversando no quarto dele sobre Scott e você.
— Eu sabia que eles eram amigos, mas não imaginava que fossem próximos assim... E o que eles disseram sobre mim?
— Algo sobre "meu irmão é totalmente apaixonado por ela", e o Seth dizer "e ela totalmente apaixonada por Jake".
— Eu vou matar o Seth! — declarou e Leah riu divertida com a cara de raiva e espanto da outra.
— Bem-vinda ao meu mundo. Agora imagina um bando de garotos adolescentes como o Seth se metendo em sua vida. Foi assim que passei a maior parte da minha adolescência.
— Enfim... O fato é que ontem eu tinha um encontro com Scott. Nós costumamos sair como amigos às vezes. E eu dormi e acabei me esquecendo. Só que Jacob, esta manhã, me contou que esteve com Scott ontem à noite no mercado e o boca grande contou a ele, antes de mim, que eu estava morando aqui agora. Scott deve ter ficado um pouco chateado e pediu para Black me dar um recado que, adivinhe você...
— Ele não deu... — Leah ria das coisas que havia dito. — O que você esperava? Que Jake fosse entregar você de mãos beijadas para outro?
— Não tem essa de "me entregar". Para dar algo a alguém, primeiro esta coisa tem que lhe pertencer. E eu não pertenço ao Black, ok?
— Pode até ser, mas é como Seth diz: não dá para encarar como se você e Jacob não tivessem algo, seja lá como vocês denominam isso!
— Tá, tá! — já estava irritada com aquela colocação. — Era tão previsível que ela mergulhou de cabeça nos próprios sentimentos não correspondidos por Black? Ela estava se sentindo a idiota da reserva.
— Não é como se ele não te correspondesse, ... Do jeito dele, Jake sente o mesmo. — Leah o defendeu como se pudesse adivinhar os pensamentos da amiga, ou ouvi-los.
— O fato é que liguei para Scott hoje, e ele virá me buscar às oito horas. Eu precisava dar uma satisfação e me desculpar com ele.
— E isto é um tipo de encontro?
— Eu não tenho certeza. Scott e eu nos damos muito bem, e é sempre um alívio estar com ele porque ele me traz sossego. A calmaria dele me contagia, sabe? Mas todas as vezes que saímos eu estava cheia dos meus problemas, então despejava tudo nele. Nunca dei uma chance de conhecer Scott de verdade. Quando ele me levou até a tribo da família dele, foi o mais próximo de um encontro que chegamos. Inclusive...
— Inclusive?
— Nos beijamos aquela noite.
— Vamos lá, ... Você está pensando em dar uma chance ao Carter?
Neste momento as duas ouviram um barulho vindo do corredor. Leah, visivelmente irritada, correu até a porta e, virando-se para a outra extremidade do corredor, gritou:
— Pode voltar, Seth Clearwater!
Seth logo entrou no quarto de Leah com o rosto tão vermelho de vergonha e a cabeça baixa.
— Eu ouvi tudo, desculpe.
— E aí, , o que vamos fazer com ele? — Leah perguntou encarando o irmão em reprovação.
— Senta aqui, Seth. — bateu ao seu lado no colchão e ele, arrastando-se, obedeceu, então ela lhe perguntou prevendo que algo o chateava: — O que está acontecendo? Eu sei que você está incomodado com alguma coisa.
— Eu sinto muito por ter invadido sua vida, falando de seus sentimentos com Peter, mas tanto eu quanto ele estamos preocupados.
— Que história é essa, moleque? — Leah sentou-se ao lado do irmão, julgando.
— Eu gosto muito de Jake, Scott e de você, . E Peter está preocupado com o irmão dele. Não é segredo para ninguém que Scott é louco por você, e você vai me desculpar, mas não é segredo também que você gosta do Jake. E o pior é que Jake também. Eu não entendo por que vocês não acabam com essa briga idiota. Bruh armou tudo aquilo! E todos sabemos, inclusive você, que Jake é completamente outro homem desde a sua chegada. Então, para mim está claro que vocês dois devem ficar juntos, mas tem o Scott no meio disso. E desculpe, , mas você o está colocando numa situação constrangedora. O cara é apaixonado por você, mas não é com ele que você quer ficar! E agora, olha você se envolvendo com ele a fim de sanar qualquer coisa, ou se vingar, sei lá...
— Garoto! — Leah acusou: — Outro dia você estava aconselhando ela a dar uma chance pro Carter! Espera... Foi ontem!
— Isso foi antes! — Seth justificou. — Antes de ter certeza que o Jake foi só muito burro com a armadilha da Bruh, e que e ele realmente se gostam! Você ouviu o chororô do Jake ontem à noite!
— Se ele souber que a gente contou isso pra , a gente morre. Você sabe, né? — Leah advertiu encarando o irmão com expressão ameaçadora.
— Mas o que eu disse antes ou agora não importa, ! Eu só espero que você não se engane achando que Scott vai entender se você só quiser se divertir com ele... — Seth concluiu.
Seth se manteve calmo e firme em tudo o que disse. Leah estava espantada, mas compreensiva com os sentimentos e palavras do irmão. E também.
— Você não está completamente errado, Seth, mas não é apenas por Bruh que eu me magoei com Black. — Leah já sabia do que estava falando e as duas olharam uma para a outra, cúmplices. — Já que você tocou neste assunto... Deixe eu te falar dos meus sentimentos, ok?
Seth assentiu dirigindo a ela, uma atenção ainda maior.
— É verdade que eu não correspondo aos sentimentos do Carter, mas eu o adoro. E quero a amizade dele. Não é que eu esteja me envolvendo com ele, eu só quero poder estar com ele sem nenhum compromisso ou preocupação e deixar que o que tiver que acontecer, aconteça. Eu fui muito clara com ele ao dizer que não iria lhe dar esperanças falsas, mas eu não vou me afastar de um amigo só porque ele se apaixonou. Pode parecer cruel, mas abrir mão de uma amizade por causa disso nunca fez sentido para mim. Eu sempre impus em situações como esta, que se eu quiser estar com alguém, eu estarei, a menos que esta pessoa me peça para ir embora. Se ela tem um amor não correspondido por mim, nós trabalharemos juntos nisso. Seja para me conquistar ou me esquecer.
Leah e Seth não viam muito sentido no que dizia, eles pensavam diferente da garota, e não era novidade. O histórico de amor não correspondido dos dois impedia-os de achar adequado o pensamento de . E olhar dos dois, para , a fizera se lembrar de quando completou dezessete anos e um dos garotos do High School em Phoenix havia se declarado para ela. Após dizer que queria apenas ser sua amiga, ele perturbava Bella com recados e desesperados pedidos de ajuda à sua melhor amiga. Assim que ela fez o mesmo discurso que acabara de fazer a Seth e Leah, para Bella, sua antiga amiga olhou-a assustada e disse:
— Você não tem coração. É cruel forçar alguém a conviver com você sabendo que a verdade é que você não vai corresponder aos sentimentos dele. É como se você quisesse ter um lacaio fiel e apaixonado.
Aquele dia, se recordou de ter discutido com ela. Bella nunca soube lidar muito bem com as emoções. E foi através de uma mensagem pelo celular que as duas fizeram as pazes. Então, explicou a ela da melhor maneira:
— Bella, é cruel forçar alguém a se afastar de você, mesmo contra sua vontade, apenas porque você não sabe lidar com sentimentos contrários aos seus. Eu não vou abrir mão de alguém especial para mim apenas porque ele não sabe lidar com um não. Nunca fizeram isso por mim, eu aprendi a lidar com todos os "não" e "sim" que recebi a vida toda. Nem tudo o que nós ganhamos é perfeito como queremos, mas pode ser perfeito como podemos ter.
E foi recordando desta fala que continuou a falar com Seth e Leah, que ainda estavam pensativos sobre o que havia dito, repetindo o discurso:
— É cruel me forçar a me afastar dele, mesmo contra minha vontade, apenas pela hipótese de ele não conseguir lidar com sentimentos contrários aos dele. Eu não vou abrir mão de alguém especial para mim apenas porque ele não sabe lidar com um não. Eu aprendi a lidar com todos os "não" e "sim" que recebi a vida toda. Não vou me afastar de Scott, assim como Jacob não se afastou de mim quando não correspondeu ao que eu sentia. Nem tudo o que nós ganhamos é perfeito como queremos, mas pode ser perfeito como podemos ter.
— Como assim, Jake não correspondeu? , ele está implorando para você perdoá-lo! — Seth disse um pouco incompreensivo e impaciente.
— Você não sabe quantas vezes eu investi no Jacob e ele desviou-se de mim! Eu mergulhei de cabeça nos sentimentos por ele. Deixei muito claro, e em todas as vezes eu recebi o desprezo dele, Seth! Quando eu ia tentar de novo, eu tive que dar de cara com Jake beijando a Bruh! E pode ser que eles não tenham nada, mas eu tive que lidar com o fantasma de Bella, ou seja lá quem for, o tempo todo. E eu cansei. Eu estou aqui, mesmo depois de tanto "não" da parte dele, mas não me forcem a fingir que nada aconteceu.
Após um breve silêncio entre os três, Seth se desculpou e, segurando a mão de , beijou-a.
— O problema é que todos os garotos desejam uma garota como você.
— Deixa de ser bobo, Seth! — sorriu. — Isso é um exagero. Eu não sou a garota perfeita. E não são todos os garotos, olha para você, por exemplo.
— Ingênuo da sua parte achar que eu não deseje ou já tenha desejado você. — Ele sorriu sedutoramente deixando boquiaberta. Leah também estava espantada.
— Ei, garoto! Que nojento. Se quiser dar em cima das minhas amigas, faça isso longe de mim!
— Cala a boca. — Ele olhou odioso para a irmã, e ambos ficaram encarando um ao outro, logo voltando suas atenções para , depois de Leah dizer:
— Eu nem sabia que você pensava nestas coisas! Eu vou contar pra mamãe! — Um diálogo mental estava acontecendo sem que pudesse notar.
— Se liga, Leah, eu não tenho mais quinze anos.
— Eu não quero falar com você sobre isso! Que horror! — Leah levantou-se da cama eufórica e precisou intervir.
— Eu não sei o que vocês estão conversando em suas cabeças aí, e nem quero imaginar o que você pensa a meu respeito agora, Seth... Mas podemos voltar ao assunto “Scott”?
— Desculpe, ... É que você não se enxerga da mesma forma que todos nós. — Seth falava dele e de "todos os garotos" se desculpando e pondo fim àquilo: — Mas fica tranquila, não estamos competindo por você. Seus únicos e exclusivos problemas são Scott e Jacob.
— E você já pode responder a minha pergunta: você está pensando em dar uma chance ao Carter, ? — Leah a encarava curiosa e confusa.
— Não. É como eu disse, eu não vou dar falsas esperanças a ele. Sei o que ele sente! Mas não vou impedir se por acaso acontecer alguma coisa. Vocês acham que eu estou sendo muito idiota com ele?
— Eu não sei, ... São os seus sentimentos, e não podemos falar por você. Mas se aceita meu conselho... Toma cuidado. São três corações envolvidos nesta história, e se dois ficam bem, um vai acabar se machucando. Não acho que tenha como evitar isto, a menos que sacrifique os três.
Assim que Seth terminou de falar, ele beijou a testa de e foi em direção à porta. Leah e se mantiveram caladas até ele sair.
— Puxa... Esse garoto é esperto! No final, não era nem você e nem a Emy que eu deveria ter procurado. — sorriu ao constatar.
— Eu vou apenas aceitar o agradecimento que eu não ouvi, ok? — Leah rebateu.
— Parece que seu irmãozinho, afinal, se tornou um homem.
— Você não tem ideia do quanto — ela disse como se recordasse de algo. — Eu sabia que um dia Seth iria crescer, sabe? Mas depois da morte do papai, ele continuou tão alegre e ingênuo. Não era a reação que eu esperava. Eu achei que ele fosse se fechar e rebelar-se. E quando Charlie surgiu, eu notei que ele estava tão bem com aquilo que pensava "esse moleque não sabe de nada". Mas no fundo, quem não sabia era eu. Parece que Seth herdou toda a sabedoria do papai e da mamãe. — Leah sorriu com orgulho.
— Vocês lidam com as perdas e traumas de formas diferentes. Não é que um saiba mais do que o outro... Mas por que eu acho que não é exatamente da morte de seus pais que você está falando?
— Em breves momentos que compartilhamos os pensamentos, eu vi que Seth passou por algumas coisas desconhecidas por mim, enquanto estive fora. Mas ele não quer se abrir comigo. Por algum motivo, descobri agora que ele se sente mais à vontade com você para isso. — Leah manteve uma decepção no rosto, mas uma compreensão na voz, e nada entendia. — Espero que você possa ajudá-lo mais do que eu.
— Do que você está falando? O que aconteceu?
— Seth está lá fora agora, quando você descobrir o que aconteceu no passado que ele esconde de mim, se puder, me conte. — Leah saiu do quarto e a seguiu.
Assim que passou pela porta de entrada dos Clearwater, viu Seth sentado no tronco grande de carvalho a caminho da trilha de La Push. Ela se aproximou calmamente, enquanto o garoto segurava uma expressão séria e reflexiva. Ao notar a presença da amiga, ele sorriu de canto sem encará-la.
— Parece que este é o carvalho das reflexões — disse e sentou ao seu lado.
— E o que você veio refletir?
— Eu, nada... O que você disse me ajudou bastante. Eu vim te dizer que se precisar, pode contar comigo. — Ele se virou para ela, sorrindo.
— Assim como você teve as palavras certas, talvez eu também possa ter. E se não as tiver, meu colo é bastante confortável — declarou, paciente.
— Não há nada que deva se preocupar, . Eu estou bem.
o abraçou e voltou a encarar a praia. Seth ainda mantinha seu olhar sobre .
— ... Desculpe pelo que insinuei lá no quarto — Seth pediu, sem jeito, se referindo à suposta história de ter se interessado por ela. — Não é como se eu estivesse dando em cima de você ou algo do tipo. Desculpe se foi o que pareceu, quero que saiba que te respeito e sei que sou um moleque que...
— Seth. — o interrompeu: — Não tem que pedir desculpas por nada. Gostei da sua sinceridade, e entendi o que você quis dizer. Não me senti desrespeitada. Surpresa, talvez. E você não é um moleque... Nem de longe se parece com um. Eu vejo um homem, e você realmente o é.
— Obrigado, ! — Ele sorriu beijando a mão dela novamente.
— Bem, eu vou subir. Posso não estar no trabalho, mas há trabalho a ser feito. — se levantou beijando o topo da cabeça do rapaz. — Não esquece, posso conversar sobre qualquer coisa. E o fato de não ser uma loba ajuda, às vezes.
Ele sorriu compreensivo. Enquanto subia em direção à cabana, Seth gritou, desta vez mais animado:
— Ei ! Se algum dia precisar de ajuda com o trabalho, é só me avisar. Eu aprendo rápido.
Ela acenou concordando e sorrindo com a mesma animação que a dele, e voltou às pesquisas. Ainda havia muito a descobrir sobre as propriedades medicinais de suas algas e faltava pouco para desenvolver seu emplastro caseiro. Se as suas expectativas sobre aquilo estivessem corretas, poderia ajudar muitas pessoas.
Capítulo Vinte e Um
Desvendando Seth Clearwater
Após subir para a cabana, pegou todas as suas coisas e continuou com a pesquisa durante o dia todo. Parou apenas para almoçar e auxiliar Sue nas arrumações. Por volta das dezoito horas, havia acabado parte de seu trabalho e estavam prontos os seus primeiros protótipos do emplastro. Ela já estava utilizando aquela pomada caseira há algum tempo, e observando as reações que poderia ter. Não houve nenhuma reação adversa com ela, e então planejou testar com os meninos, afinal, eles tinham uma genética totalmente diferente. Sem excluir a hipótese de aplicá-la a um grupo experimental, redigiu o Termo de Consentimento e os documentos necessários a serem encaminhados dentro dos protocolos de saúde. Enviou os documentos aos irmãos Vincent, e ambos que apoiavam sua pesquisa iriam proceder com o passo a passo da fase de testes. Logicamente, já havia dado um jeito de manter a patente original sob sua guarda.
Jacob entrou em seu quarto enrolado em uma toalha. Estava molhado, com os cabelos escorrendo por seu pescoço e o amaldiçoou mentalmente. Fingindo não ter reações sobre aquela tentação, ela o olhou rapidamente de lado, voltando sua atenção para a mesa. Ele foi andando calmamente até ela, secando seus cabelos. De pé à frente da escrivaninha, organizava os papéis na pasta, e reunia os pequenos potes transparentes com as amostras de pomada dentro. Jacob, estranhando aquela situação, parou ao seu lado. Embora o cheiro perfumado do rapaz a fizesse desejar pular em seu colo, manteve seu olhar no que estava fazendo.
— Você passou o dia todo nisso. Tem certeza de que não precisa de alguma ajuda?
— Eu já acabei, Black, mas obrigada. — Olhou para ele sorrindo e voltando à mesa.
Era verdade que não havia mais nenhum papel para organizar, mas em busca de fugir da situação, lá estava ela: mais bagunçando a escrivaninha do que arrumando. Black jogou a toalha que tinha em suas mãos em cima da cama e bagunçou seus cabelos agora secos. Quando menos esperava, ele a abraçou por trás cheirando o seu pescoço. Era habitual aquilo acontecer antes de eles brigarem e naquele momento, se indagou se, sem que notasse, havia se inserido em um tipo de jogo de Black.
— E o que você estava fazendo com estes potinhos? — O rapaz perguntou com sua voz rouca ao pé do ouvido dela.
— O que você está fazendo, Black? — perguntou, séria.
Ele a virou de frente para ele ainda enlaçado à sua cintura. Olhou para a mulher com expressão de dúvida e confusão.
— Nós tínhamos combinado de não forçar as situações — esclareceu ela.
— E você tinha dito que eu podia te abraçar quando quisesse.
Embora a olhasse com certa ingenuidade nos olhos, tinha certeza absoluta de que tudo havia sido premeditado. E não sabia se Jacob respeitaria o acordo. Na verdade, desconfiava de que ele encontraria inúmeras concessões no meio de uma cláusula ou outra que a própria impusesse. Ela pegou um dos potinhos em cima da mesa atrás de si, e ele a encarou. Estendeu o remédio a ele, que o pegou, finalmente a soltando.
— É um emplastro caseiro para cicatrizes. Teste. Eu vou entregar os outros aos meninos.
Saiu do quarto pegando seus potinhos e indo até a cabana de Sue e pôde ouvir uma risada fraca de Black assim que deu as costas a ele. Certamente, ele sabia muito bem o que estava fazendo a provocando daquele jeito.
Assim que explicou à Sue e Billy sobre o seu remédio, ambos acharam uma boa ideia testar com os garotos da reserva, e iriam distribuí-los entre eles. Em seguida, foi até o quarto de Seth e após três batidas na porta, ouviu sua voz dizendo:
— Entre!
Ele estava enrolado em uma toalha também, e observava o guarda-roupa como se escolhesse o que vestir.
— Ai desculpe! — exclamou ao vê-lo decomposto e daria meia volta, mas Seth riu baixo e chamou:
— ! Relaxa, pode entrar. Precisa falar comigo?
retornou, sem graça, e estendendo a ele o remédio que foi apenas uma desculpa, já que na verdade estava ali para saber se estaria tudo bem com ele.
— O que é isso?
— Uma pomada que eu fiz e estou testando com vocês, use-a quando se machucar. Ela é uma espécie de "super" cicatrizante.
— Ok. Obrigado! Eu não vou morrer não, né?
— É o que estamos tentando descobrir. — Eles riram e Seth guardou o potinho em seu guarda-roupa, enquanto o observava atenta.
— Não consigo escolher uma roupa bonita.
— Hm... Vai sair com alguma garota, bonitão? — A mais velha sorriu zombeteira observando Seth enrubescer.
— É, digamos que sim... — Seth riu apesar de um pouco envergonhado.
achou uma graça o trejeito de irmão mais novo com vergonha da irmã mais velha ao saber de suas namoradinhas. Sentia verdadeiramente um carinho fraterno pelo garoto. Ela se aproximou do armário e vasculhou entre as peças de roupa penduradas, escolhendo uma camisa e um jeans, ambos escuros, e apontou para os tênis claros que havia no espaço dos sapatos. Seth gostou da sugestão e arrancou sua toalha para vestir-se. Obviamente, virou-se surpreendida cobrindo os olhos e ele riu divertido, a avisando que poderia abrir os olhos, pois ele estava de cueca. De fato, os quileutes eram menos pudicos com seus corpos, lidando com naturalidade selvagem à nudez. Seth vestiu-se e calçou-se e perguntou, curioso, pelo fato da amiga ainda estar desarrumada:
— Você não deveria estar se arrumando para o seu encontro com Scott?
— Céus! Não! Eu já estava me esquecendo de novo! Quantas horas? — Ela procurou desesperadamente um relógio pelo quarto de Seth.
— Calma. Ainda não deu sete horas. O encontro é às oito, certo?
— Certo.
— Eu apenas estranhei porque vocês garotas demoram demais escolhendo suas roupas... Imaginei que você já estaria pensando sobre isso, mas pelo visto...
— Pelo visto o quê?
— Você não esteve nem um pouquinho preocupada com este compromisso. — Seth, sem querer acusá-la, acabou fazendo-o pela forma como a olhava.
— Ei! Primeiro, não tem essa de "garotas demoram a se arrumar e frufru!" — falou apontando a ele seu dedo indicador, tão incisiva na atitude quanto ele no olhar. — E depois, não é como se eu desse a mínima, eu só acabei me ocupando o dia todo com trabalho.
— E se esqueceu que tinha que sair com Scott. Você mesma disse! — O mais novo bufou ao dizer aquilo de modo frustrado, até irritado. E percebeu.
— Vamos lá, Seth! Por que você está agindo assim? Até parece que eu tenho dado furo com você e não com o Scott.
— Eu espero que você não continue com isso, . De verdade. — Seth a olhou decepcionado e abaixou a cabeça.
Foi então que , preocupada com ele, mas principalmente com o modo como as atitudes dela pareciam ser julgadas por ele, puxou Seth pela mão até sua cama e se sentou convidando-o a fazer o mesmo. Queria passar a ele a segurança de que não iria ferir os sentimentos do irmão mais velho de seu melhor amigo e nem mesmo os próprios.
— Olha, eu sei que você desaprova esta situação, mas eu já falei que eu não vou iludir o Scott. E eu sei que tem mais alguma coisa nesta história que está te afetando. O seu desconforto com minhas relações com Jacob ou Scott na verdade tem a ver com outra coisa, não é? Então... Se abre comigo? — Ao terminar de falar aquilo, o viu desviando o olhar, então cuidadosa, puxou o rosto do rapaz para que ele a encarasse.
— É muito difícil você amar alguém e não poder conviver com a pessoa. Mas imagino o quão pior é amar e poder estar todos os dias lado a lado da pessoa, mas não tê-la verdadeiramente. — Seth iniciou seu desabafo. — E é isso o que você faz com Scott. Pode ser involuntariamente, você diz que não quer e não vai magoá-lo, você diz que não abrirá mão da amizade dele apenas por Scott provavelmente não saber lidar com a sua negativa... Mas ele já tem o seu não desde que você chegou e tem lidado com isso. Então, , talvez não seja direita a sua escolha, se é melhor vocês se verem com frequência ou não. Talvez o Scott é quem deva saber o que é melhor. O coração partido, afinal, tem sido o dele.
ficou perplexa com todas aquelas palavras. Nem parecia o mesmo garoto dizendo a ela para dar uma chance a Scott dia antes.
— De repente você tem tanta certeza que eu não devo dar uma chance a ele... O que mudou?
— Não é isso que eu digo — Seth justificou. — Eu achei que deveria dar uma chance a ele se você realmente fosse capaz de gostar dele. Mas você está apaixonada pelo Jake, embora tente miseravelmente fingir que não, e ele por você. Então ninguém mais deveria se envolver nisso, que é apenas uma questão de tempo para acontecer.
— Seth... Eu prometo que cada palavra sua está sendo levada em consideração, ok? Eu nunca havia visto por este ângulo, mas estou preocupada. Esta sua reação de defesa pró-Scott... Tem algo a mais acontecendo?
— Tipo o quê?
— Hã... Sei lá... Você... Você reagiu como um lobo em defesa dele.
— O que está querendo insinuar? Pode falar abertamente.
— Você gosta do Scott? — Depois que as palavras foram proferidas, estranhou sua própria pergunta que já não lhe soava tão óbvio como dentro da sua cabeça.
— Você realmente acha que eu sou gay? — Seth sorriu de canto, ainda um pouco alarmado — Então esta é a impressão que eu causo? — Seth não estava bravo, mas surpreso.
— Não, é só que... Você reagiu como se quisesse defender alguém que ama muito.
— E quero. Estou tentando defender você de erros que podem te machucar.
— Eu não entendo como poderia me machucar por me aproximar do Scott...
— Eu que não entendo! — Seth gargalhou prestes a se explicar: — Só pra deixar claro, o Scott não faz o meu estilo. Eu prefiro pessoas com um pouco mais de curvas e não precisa de muitos seios ou pernas grossas. Não sou tão exigente, só tem que ser mulher, ok?
Os dois começaram a rir e sentiu-se envergonhada pelo que havia insinuado. Mas algo não passou despercebido por ela, que logo emendou:
— Entendi... E será que eu posso saber quem foi esta pessoa que você amou e não pôde ter? — Assim que terminou de falar, viu que Seth havia mudado sua expressão. Ele beijou o rosto da amiga e, levantando-se em direção à porta do quarto, disse para ela antes de sair:
— Talvez algum dia você possa me desvendar. Por ora, acho que deve correr para se arrumar. — E enviou um beijo no ar, seguido de um sorriso enquanto segurava a maçaneta da porta.
— Posso pelo menos saber o nome da pessoa de curvas com quem vai se encontrar hoje?
— Ela não é muito de curvas. Uma garota de curvas não olha para mim.
— Você é tão modesto! Acho que só precisa sair um pouco mais da reserva pra encontrar a pessoa certa.
— E você pelo visto teve que entrar, não é? — Seth riu divertido.
— Desculpe, eu não consegui entender o nome, você falou muito baixo. — , comentando com ironia, desconversou, tirando o foco do assunto sobre Jacob de novo.
— Lili. Lili Parker.
— Sério? A caçula dos Parker? Acho que você deveria fugir daquela família.
— E acho que você vai se atrasar se continuar na minha cama. Geralmente as meninas que acabam na minha cama, custam a sair mesmo. É normal. Mas sabe... Você pode voltar quando quiser — o rapaz falou de modo divertido e caminhou até ele, risonha, e bateu com as costas da mão no abdômen do mais novo respondendo:
— Me respeite, garoto! Eu poderia ser sua irmã mais velha.
— Nem é para tanto. Formaríamos um belo casal. — Seth ainda sorria travesso e enquanto fechava a porta, os dois ouviram Leah gritar do outro lado do corredor:
— Ei! Vocês dois aí!
A garota os olhava desconfiada e parou em frente ao irmão de braços cruzados, calada, encarou e Seth ainda sustentava o sorriso travesso. Leah se direcionou mais perto de Seth para farejar o ar na altura de seu pescoço.
— Aonde você vai? Por que está tão cheiroso assim? A mamãe sabe? O que vocês dois estavam fazendo lá dentro? — Assim que terminou de falar, olhou para de maneira inquisidora e antes que o som saísse da boca de , Seth se pronunciou:
— Grosseiro da sua parte pensar isto. — Leah, já percebendo que os seus pensamentos estavam sendo compartilhados, retornou o olhar ao irmão. — E fica feio você se expressar desta forma: "comer". Eu não como mulheres, eu dou carinho a elas.
— ... Desculpe, eu não... — Leah falou para a amiga, extremamente sem graça e bronqueando o irmão, disse: — Seu moleque, não tem que externar o que eu penso!
— Constrangedor, não é? — Ele devolveu mencionando uma vingança pelo que ela também havia feito com ele.
E assim que ele se virou para seguir adiante no corredor, Leah, tentando não sair por menos, bradou:
— Sai mesmo! Vai lá dar "carinho" a quem quer que esteja te esperando.
ficou observando a expressão furiosa da irmã que havia sido exposta, e ao mesmo tempo que estava constrangida, estava ciumenta por Seth. aguardou a loba recuperar sua calmaria e se pronunciou:
— Você precisa parar de agir como se ele fosse um garotinho. Já pensou que talvez por isso ele não se abra com você?
— É eu sei... De ontem para hoje pude notar que se tem algo que Seth não é mais, é um garoto.
— Pois é... E fala sério! Você realmente pensou que eu e ele estávamos no quarto dele, fazendo...
— Por que não pensaria? Depois de ontem no meu quarto, eu não sei se você se lembra, mas eu estive na mente dele!
— Eu tenho idade pra ser a irmã mais velha dele.
— E isso não quer dizer nada.
— Seria como você e ele.
— Que nojo, garota. Não chega nem aos pés! Ele é meu irmão, não seu.
— Para mim é como se fosse.
— Mas não é para ele...
— Como assim? Está dizendo que o Seth pensa nestas coisas comigo? Você viu o que na cabeça dele, hein? E puxa... Que invasão de privacidade, Leah!
— Escuta... Você não tem um encontro?
O modo como Leah se pronunciou deixou claro que ela não manteria aquele assunto e achou mesmo que era melhor nem saber o que quer que fosse que a irmã de Clearwater tinha em mente. E claro, aquilo a pegou de surpresa! Entre todos os rapazes da reserva, Seth, aos olhos dela, era só um garoto, não imaginou que ele teria algum tipo de atração por ela.
— Já estou indo.
•--•--♦--•--•
19:55 da noite.
Billy, Sue, Charlie, Emy, Sam, Leah e Embry estavam na varanda da casa dos Black e o vozerio ecoava junto às risadas. acabara de calçar seus saltos quando a porta do quarto entreabriu revelando um rosto preocupado: Jacob Black.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou ao notá-lo com sua expressão mesclada entre preocupação e surpresa.
Deparou-se com o olhar frenético e firme de Jacob sobre si, até que ele sorriu de lado como se acordasse de algum devaneio.
— Minha Mani vai sair com um menininho. Nem posso acreditar que este dia chegou — zombou, mas sem rir.
— O que? Estou tão infantil assim? — falou correndo ao espelho, um pouco preocupada. — É este penteado! Eu sabia, vou soltar o cabelo.
— Não precisa ficar insegura, você está linda. E não tem nada de... — Black emudeceu-se um momento quando ela sacudiu os cabelos, soltando-os e se virando para ele, continuando após um breve silêncio: — infantil.
— Em todo caso, vamos manter as madeixas livres. Cabelo solto não tem erro! — sorriu.
— Parece animada com o encontro... Você pretende dormir em casa?
— Eu pretendo.
— Droga...
— O quê? Você quer o quarto livre pra você hoje? Porque eu posso...
— Não! Não é isso! Pode ficar com ele todinho... O meu quarto, no caso! Eu vou estar na cama te esperando. Esperando você chegar, eu quis dizer.
sorriu enviesado de um jeito divertido encarando um Black atrapalhado com as palavras e, porque não dizer, transbordando ciúme.
— Tudo bem, Black, não me espere acordado — ela avisou e depositou um beijo no rosto do rapaz, seguindo em direção à porta logo depois.
Enquanto ela saía pelo corredor, Jacob, que vinha logo atrás, parou um pouco antes na saída do quarto e murmurou de um modo que só ele escutou:
— Merda, merda! Idiota!
Em seguida foi atrás de . Os dois chegaram juntos à varanda e todos olharam para ela. Os meninos com tom provocadores faziam piadinhas e assim que o carro de Scott surgiu à frente da casa de Billy, uma redoma foi formada nos degraus abaixo da cabana. Sam, Embry, Paul, Quil, e Jacob, respectivamente nesta ordem, desceram os degraus e formaram uma fileira à frente de . Scott desceu do carro e aproximou-se tranquilo, nem um pouco ameaçado com os quileutes em torno da amiga. Ele olhou para , sorrindo radiante como em todas as vezes que eles se viram. Leah, sentada na cerca da varanda, falou um pouco mais alto, em direção à amiga:
— Nossa, ele está mesmo um gato!
As mulheres na varanda riram e não pôde deixar de rir também. Afinal, quem mais imprópria do que Leah para externar um momento como aqueles? não pôde deixar de se sentir especial quando Charlie parou ao seu lado com os braços cruzados, olhou-a de canto sorrindo e voltou sua expressão séria para Scott. O convidado cumprimentou todos os rapazes que foram corteses embora intimidadores, e pousando os olhos em Jacob apertou sua mão. ficou atenta naquela interação. Jacob apenas acenou com a cabeça enquanto, com um aperto de mão, devolveu o cumprimento. Parando um degrau à frente dela, Scott deu boa noite a todos e logo pousou seu olhar aflito sobre Charlie.
— Delegado Swan...
— Apenas Charlie, Carter. — O homem assentiu sorrindo para o rapaz. — Onde pretende levar minha filha? — Aquela pergunta espantou a maioria dos meninos, mas não espantou Jacob, Billy, Sue e muito menos . Se algo a confortava imensamente era a paternidade adotiva que Charlie correspondia a ela. sentia falta do que era ter uma família, e se não fosse calejada com aquilo, provavelmente teria chorado com a atitude do mais velho. Teve vontade de abraçá-lo, porém, contendo-se, não o fez.
— Silverdale.
— Você não pretende beber e dirigir, não é?
— Não mesmo, senhor delegado. — Scott conteve um sorriso tranquilo e cúmplice ao dela.
— Charlie... Acho que eles não são mais adolescentes. — A voz de Sue ecoou doce ao ouvido de Charlie.
— É, Charlie! Daqui a pouco você vai dizer que horas o mocinho deve trazer a sua filhinha para casa! — Leah zombou, arrancando risadas de todo mundo e despertando o delegado Swan daquele transe.
— Não se preocupe, Charlie, vamos ficar bem — disse sorridente e amável para o senhor Swan.
— Em todo caso... — Charlie sorriu para Scott e para ela e, voltando a ficar sério, respondeu: — Eu ficaria tranquilo se ela voltasse ainda esta noite. — Tanto quanto Scott abaixaram a cabeça sorrindo e Sue cutucou o delegado. Os demais já haviam se entretido após o comentário humorado de Leah, de volta aos seus lugares.
Scott e ela seguiram para o carro, acenando e se despedindo de todos. Emy gritou um "divirtam-se" para eles e ao passarem por Black, os dois sorriram em cumprimento. Jacob apenas sorriu de volta, sem tirar os olhos de . Da janela do carro a “sua” Mani observou quando Black entrou de volta à cabana sem pronunciar nada a ninguém.
— Parece que a senhorita encontrou uma porção de irmãos para defendê-la — Scott disse sorrindo antes mesmo de o carro sair pelo portão da reserva.
— Sim! Enfim encontrei uma família.
— Meu pai tinha razão, afinal.
— As premonições de seu pai ainda não devem ser concluídas.
— Mas estão caminhando para isso — Scott afirmou e eles sorriram.
— Silverdale, então? — perguntou puxando assunto.
— Espero que goste de dançar...
— Muito! — ela respondeu animada observando Scott rir.
— Country? — então o olhou em dúvida, Scott deu risadas animadas enquanto vigiava a reação dela.
— Bem, eu não sou lá uma "expert". Mas eu aprendo rápido.
— Você vai gostar! Temos a noite toda para eu te ensinar... A menos que...
— Não se preocupe com Charlie, ele estava apenas brincando! — sorriu prevendo o que Scott diria.
— Não é bem com o Charlie que eu me preocupo.
— Os meninos não irão atrás de nós! — ela disse e Scott a observou desconfiado, então reforçou: — Nenhum deles!
— Bem, então hoje é o dia que você sairá de Silverdale dançando country!
— Hoje eu sou toda sua. Me ensine.
Embora animada e ingênua com a resposta, Scott observou a mulher com certa malícia, que logo se desfez em seu cavalheirismo iminente. Seja lá o que tinha se passado em sua mente, ele já havia afastado. E para , a expressão dele serviu como um alerta para pensar um pouco mais antes de falar, pois como havia prometido a Seth, não iludiria Scott.
— Você está linda. Não que isto seja difícil para você.
— Obrigada, mas você poderia ter dito que eu iria dançar country hoje, teria vindo à caráter!
— Então agradeçamos por eu não ter dito nada! — Ele sorriu ligando o aparelho de som do carro e uma música qualquer embalou o diálogo.
— Acredita que Seth saiu para um encontrinho com a Lili Parker?
— Não!? — Ele olhou surpreso para . — Ele não sabe onde está se metendo!
— É, eu avisei a ele, mas ele não quis me ouvir. Meninos...
— "Encontrinho", "meninos"... Por que se refere ao Seth como se ele fosse um pré-adolescente? Ele não é tão mais novo do que nós.
— Tem razão... Acho que eu peguei esta mania da irmã dele.
— Leah sempre verá o irmão como um moleque de 15 anos.
— Verdade, mas Seth é mais maduro do que ela pensa.
— Ele passou por muita coisa, afinal! — Scott comentou como se soubesse de algo que os outros, incluindo a própria família de Seth, não sabiam.
— Claro! Eu falava disto com Leah... — tentou pescar algo com aquela conversa através de Scott. — As pessoas agem diferente diante das perdas.
— E Seth amadureceu muito com as duas perdas na mesma época, não é? — Scott, ao observar o cenho de , desentendido com aquele comentário, notou que talvez ela não estivesse falando da mesma coisa que ele e, portanto, desconversou: — Mas Lili Parker? Ele não está em seu juízo! Eu vou perguntar ao Peter que tipo de amigo ele é para não avisar ao Seth do problema que é se meter com aquela família de mulheres obsessivas!
Os dois sorriram um para o outro dentro do carro e percebeu que Scott realmente sabia de alguma coisa.
— Acho que já que você não quer entrar na família e o sonho de Peter é conquistar Daniela, ele está tentando arrastar o melhor amigo para a mesma aventura.
— Precisamos salvar estes garotos!
O resto da viagem correu tranquila, e ao chegarem no restaurante onde Scott havia feito as reservas, não demoraram muito para jantar, embora estivessem agradáveis com o clima, a comida e a presença um do outro. Logo eles se apressaram para seguir à danceteria que Scott havia prometido levá-la. Noite do Country. Assim que adentraram, uma banda típica do local estava no palco não tão pequeno. Pessoas gargalhavam, um flashmob country ocorria no centro do salão, os mais tímidos aplaudiam. Os grupos de amigos bebiam, alguns pelos balcões, outros pelas pequenas mesas que circundavam os cantos do estabelecimento. E Scott puxou pela mão sorrindo animado.
— Vamos para alguma das mesas e eu pego algumas bebidas pra nós no balcão.
Ela concordou e eles rondaram em busca de alguma mesa. Assim que encontraram uma vazia, Scott perguntou o que ela queria beber e antes de sair, um homem alto e forte apareceu ao lado dele, chamando pela amiga:
— !
— Seth? Como assim? — Eles riram da coincidência e o jovem Clearwater abraçou Scott cumprimentando-o.
— Por que não disse que viriam para cá?
— Eu não sabia. Scott fez uma surpresa.
— Está tudo bem, Seth? — Carter perguntou ao notar que Seth estava extremamente feliz em vê-los.
— Bem, agora que vocês chegaram vai melhorar. — Seth, olhando para , completou: — Eu devia ter te escutado e ficado em casa! Aquela Lili é completamente insana.
Scott e riram.
— Nós vamos te salvar, garoto. Senta aí — Scott disse e foi buscar as bebidas. Seth disse que não bebia, então Scott não precisava se incomodar.
Sentando-se ao lado de e a abraçando como se ela fosse sua salvação, Seth olhou em direção ao banheiro feminino, impaciente. observava as danças pelo salão e assim que Scott chegou, eles começaram a desvendar qual tipo de furada Seth havia se metido. O mais novo explicou:
— Ela é insana! Ela acha que somos namorados e é a primeira vez que saio com ela! Ela não para de falar um minuto e, pelo amor de Deus... Ela não fala nada de útil!
Scott e só conseguiram rir enquanto conversavam com Seth.
— E aonde ela está?
— Na fila para o banheiro há uns 10 minutos. Bendita fila!
— As mulheres da família Parker são ótimas para serem suas amigas, até o ponto em que não cismam com você. Sempre chega um momento em que elas forçam uma situação. E se você não se cuidar, acaba sendo engolido pelos compromissos fantasiosos delas! — Scott explicou.
— Scott, eu mato seu irmão!
— Viu só? Eu sabia que o Peter tinha empurrado o Seth pra esta aventura, Scott!
— Ei, Seth, pode ficar conosco aqui o tempo que quiser. — Carter mencionou.
— De forma alguma, eu não vou atrapalhar mais o encontro de vocês!
— Ei, Seth, não tem problema! Scott e eu estamos ainda mais animados por ter encontrado você.
— É, a é ótima com as Parker. Tem algo na comunicação delas que é muito... Íntimo — Scott zombou rindo da amiga, enquanto ela sorriu fazendo uma careta vencedora.
— Olha, Seth, tem várias garotas por aqui e você facilmente encontra alguém. Claro que você não vai ser cafajeste de largar a Parker que você mesmo inventou de trazer, mas conversa com ela que o interesse não é mútuo. Talvez ela não seja como as irmãs. — Scott olhou para incrédulo com a sugestão que ela deu.
— Ok. Talvez ela não seja tão superficial como as irmãs. — Carter raciocinou, concordando.
— Pode ser, mas eu vou dar uma volta pra aproveitar que já vão completar 20 minutos que ela está na fila do banheiro. — Seth sorriu bem mais animado.
Scott e acenaram e em seguida brindaram.
— O que você está bebendo?
— É só um suco. Relaxe... Eu não me atreveria a desobedecer uma ordem do delegado Swan. — Ele riu.
— Eu vou te acompanhar no próximo. Não gosto de beber sozinha.
— Tem certeza? Eu posso cuidar de você se por acaso você não conseguir andar em linha reta até o fim da noite.
— Você já fez isso uma vez!
— Não necessariamente! Você apenas pegou no sono!
— É, mas hoje eu prometo que não vou dormir! E aí, quando começa a minha aula de dança?
— Agora! — Scott depositou os copos na mesa pegando as mãos dela, ele a guiou até o centro do salão onde ocorria "a grande dança".
De longe, observou Seth dançando com outras meninas e logo Lili Parker o encontrou, ela se aproximou timidamente. Seth foi um cavalheiro exímio e continuou a dançar com sua acompanhante, fazendo com que ela sorrisse abertamente. Talvez a caçula dos Parker não fosse uma caça-dotes como as irmãs, mas sim estivesse encantada por Seth.
Entre danças e danças, risadas e mais risadas, a noite correu muito divertida e alegre. Seth e Lili se juntaram aos outros dois, algumas vezes na mesa e descobriu que a garota era realmente mais tragável do que as irmãs. Embora, ainda assim, perdurasse a marca registrada dos Parker: "o egocentrismo". Nada que não houvesse salvação para ela. Após a chegada de e Scott, indubitavelmente, Seth ficou mais relaxado, então, de certa forma, a noite estava sendo boa para ele também.
Na saída, observou que Seth havia pegado o carro de Jacob emprestado. Ela disse a ele um "até logo", o garoto deu de ombros ainda em dúvida se eles se veriam logo ou não. Talvez Seth não voltasse para casa aquela noite. não poderia afirmar se mesmo após a sua chegada, as impressões dele sobre a jovem continuavam as mesmas.
Scott e ela voltaram de Silverdale para Forks muito mais animados do que antes. Conversaram sobre como ela se saiu bem dançando country, apesar de estar desengonçada devido ao seu vestido e saltos. Eles prometeram um ao outro que repetiriam a dose, porém, da próxima vez, vestidos à caráter. Quando finalmente chegaram à estrada de Forks, Scott pronunciou-se a respeito do encontro:
— Foi uma noite incrível.
— Foi mesmo. Obrigada pela segunda chance. Sei que eu andei vacilando muito contigo, mas acho que posso afirmar que foi uma das noites mais divertidas que tivemos.
— Já notou que toda vez que saímos é sempre divertido, ? Por isso que eu adoro quando você finalmente encontra um tempinho para nós.
— Prometo ser uma amiga mais atenciosa — ela falou sorrindo e os dois olharam-se, amenos, mas não pôde evitar ser sincera: — Sabe, Scott, eu tenho muito medo de te magoar. De te iludir. Eu sei dos seus sentimentos, mas lamento não poder correspondê-los como você merece.
— Eu sei de tudo isso, . E não fique com medo, eu não vou te pedir em casamento ou algo do tipo. Eu só quero estar com você e ficar o máximo que puder ao seu lado, porque é como eu disse, nós nos divertimos muito.
— Eu queria tanto poder corresponder seus sentimentos, de verdade. — suspirou pousando sua mão sobre a coxa direita de Scott, ele a olhou um pouco espantado. — Mas acho que expectativas não devem ser criadas de nenhum dos lados.
— Concordo. Eu só quero deixar as coisas irem acontecendo. E, no momento, se a sua amizade é a minha melhor oferta, eu a agarrarei.
— Pra ser sincera, você tem alguns méritos. Aquele beijo... Eu não o esqueci. — deixou escapar e logo em seguida arregalou os olhos espantada. Pensou “mas o que eu estava fazendo?!”.
Não podia negar que Scott tinha sua parcela de atração, no entanto, que sujeirada ela armaria se o fizesse crer naquilo para depois negá-lo. Estavam na entrada da reserva e ela nem notou que o carro já havia parado. Scott e ela se olharam tímidos, sem imaginar qual passo dar a seguir. Ele se aproximou de , prestes a beijar seu rosto em despedida, mas imediatamente olhou para a cabana dos Black e se recordou do dia em que viu Jacob e Bruh se beijando. De ímpeto, ela segurou a nuca de Scott aproximando os rostos e mordeu levemente o lábio inferior do rapaz. Carter segurou os cabelos dela os puxando para trás com calma, e os dois encostaram os lábios novamente, mas quando decidiu avançar impetuosa para Scott, ele segurou firme os braços da mulher a impedindo:
— Eu adoraria! E quero muito, mas eu acho melhor nós esperarmos outras saídas, para ter certeza se devemos...
— Você tem razão... — respondeu despertando do transe que aquelas lembranças haviam trazido.
Scott estava totalmente certo. não sabia se estava agindo por vingança ou se, ao lembrar de Jacob com Bruh, ela imaginava que Scott era o próprio Black. De qualquer modo, Scott ou Black, as reações foram as mesmas: ambos haviam negado seu beijo. Ela não culparia Scott por aquilo, ele estava protegendo seus sentimentos. Aliás, ela faria o mesmo se estivesse no lugar dele. Será que faria? Talvez não fizesse. Se Jacob se aproximasse daquele jeito, ela o teria beijado, mesmo sabendo que ele não a amava. Mesmo sabendo que no final da noite, o frio da sua cama continuaria esperando por ela.
Os dois se afastaram naquela atmosfera de quem não deveria agir por impulso e se despediram com um abraço. desceu do carro e não avistou o automóvel de Black na porta de Sue. Talvez Seth não houvesse voltado. Scott saiu da reserva e adentrou à cabana pé por pé, sem fazer barulho para não acordar os moradores. Tudo estava apagado e ela não quis acender a luz, afinal, Black dormia na sala e poderia acordá-lo. Entrou no quarto, fechou a porta, acendeu as luzes e, ao se virar, lá estava Black.
Sem camisa e deitado na cama, abraçado à camisola dela, o que pegou de surpresa. Ela achou a cena um tanto quanto fofa e sorriu sem perceber. Ele dormia pesado, então pegou suas coisas pronta a tomar um banho rápido e se preparar para dormir, saiu do quarto o deixando ali, com todo o cuidado em não o acordar ainda. Quando retornou, ficou em pé perto da cama, observando a figura de um homenzarrão todo encolhido, abraçado à uma peça de roupa com o cheiro dela. Ela sabia que as ações seguintes poderiam gerar uma extrema dor de cabeça, contudo, ela não conseguiu negar a oportunidade. Sair com Scott e não se beijarem no final foi um soar divino de que não era a coisa certa apagar um amor com outro, ou com uma tentativa frustrada, com outra prestes a ser também frustrada.
Algo no universo havia evitado que ela se afundasse ainda mais nos seus devaneios. Então, afastou o edredom e se deitou ao lado de Jacob. Aninhou-se em seu pescoço e enquanto esperava o sono chegar, se inebriou com o cheiro do rapaz, ela repensou em tudo que Seth, Leah e Billy disseram sobre Black e seus sentimentos a respeito dela. recordou-se de toda a conversa com Seth e, de fato, era melhor evitar corações feridos.
Scott foi maduro com a hipótese de continuarem se vendo, mesmo sem qualquer relação. No entanto, a sua mágoa sobre Jacob tê-la evitado durante tanto tempo, continuava. Ela não sabia se era correto se entregar ao desejo, independente do que ocorrera anteriormente. Não seria nada bacana que Black acordasse e a encontrasse em seus braços, pois estaria claro que ela poderia investir em quem quer que fosse, mas seria nos braços dele que ela desejaria estar. E o orgulho de a impedia de permitir tal descoberta. Ao mesmo tempo, era ali que a mulher queria estar e não se importava naquele momento, com o que aconteceria no dia seguinte. Desde que ela acordasse antes de Black, tudo poderia ficar bem.
Capítulo Vinte e Dois
Desvendando Seth Cleawater II
mal pôde acreditar quando abriu seus olhos e deu de cara com Jacob, que ainda dormia. Estava tudo resolvido: ela levantaria, tomaria um banho e faria o café antes que ele acordasse e quando perguntassem, ela diria que o sofá era um pouco desconfortável. Seria o plano perfeito se, por acaso, não tivesse ela se esquecido de que Billy era praticamente a coruja da madrugada. Ao sair pelo quarto, a mulher sentiu ainda no corredor o cheiro do café.
“Droga Billy! Por que você não dorme?” pensou e, irritada, retornou ao quarto para pegar seu roupão. Após cobrir-se e sair com todo cuidado para manter os olhos de Jacob bem fechados e seus sentidos adormecidos, bufou pelo corredor em direção ao banheiro. Enquanto escovava os dentes, ela praguejava mentalmente contra Billy Black: “Mas que droga, fica de guarda a noite toda?”, “Ele já tem idade, era para ser mais sonolento!”, “Aposto que Charlie está dormindo, afinal de contas, ele tem a Sue!”, “É isto: Billy precisa de uma mulher pra mantê-lo exausto!”.
secou o rosto, jogou seus cabelos que eram mais bonitos ao acordar do que quando os penteava, para trás, e de repente começou a rir sozinha no banheiro. Afinal de contas, que pensamentos eram aqueles contra Billy? Quando foi que ela havia se tornado uma adolescente de novo? Parecia até que seu pai havia a proibido de dormir com seu namorado. Enquanto ela abria a porta e saía sorrindo, se recordou de que em todo modo, Billy teria notado que nem ela e nem Black dormiram na sala. O que ela deveria fazer então?
— Bom dia, Billy — disse assim que adentrou a cozinha. — Tudo bem se eu fizer um bolo?
— Bom dia, . Não está muito cedo para você acordar? — ele respondeu, a mulher desconfiou do que ele estaria querendo insinuar com aquilo. — Afinal, você deve ter chegado tarde ontem. Como foi a sua noite?
— Ah, foi muito divertida, Billy, aprendi a dançar country! Acredita que Scott e eu encontramos Seth e Lili em Silverdale? Nossa, nos divertimos muito.
— Wow! Alguém ficou realmente empolgada. — Ele riu divertido e até mesmo ela, não entendia aquele tagarelar matutino do senhor Black — Eu nem sabia que Seth estava saindo com uma garota.
— Na verdade, ontem foi o primeiro encontro deles e não tenho certeza se repetirá.
— Por quê? O que houve?
— A princípio ele não se deu muito bem com Parker — respondeu e riu.
— Bem, isso deve ter mudado, afinal, Sue está com os nervos exaltados porque ele não voltou para casa e nem avisou que não dormiria. — Billy gargalhou com a travessura de Seth. — Ela não entende que o filho dela já não é mais um menino! Imagine, como se ele fosse ligar...
— Eu fico feliz por ele ter se divertido então. Eu posso conversar com Sue sobre isso depois... Acha que ela ficará chateada comigo, Billy?
— De forma alguma! É apenas ciúme de mãe. Ela é mente aberta, afinal, foi ela quem fez o Charlie se tocar ontem, não é?
Enquanto já misturava os ingredientes do bolo, os dois morriam de rir lembrando as reações de Charlie. Na verdade, ela estava rindo muito mais por contágio da alegria de Billy aquela manhã. Ele não era muito de brincar, mas estava mais animado que o habitual. No meio dos risos, a garota se recordou de algo que talvez Billy pudesse esclarecer.
— Ei, Billy... Ontem Scott me disse algo que eu não entendi muito bem. Ao falarmos sobre a maturidade de Seth, ele disse que "Seth havia passado por duas perdas ao mesmo tempo, e que embora difícil, aquilo ajudou ele a amadurecer". Você sabe do que ele estava falando?
— Não, . Não faço ideia! A única perda significativa para ele foi o pai. E agora você também me deixou curioso.
— Fica entre nós, Billy... Leah e eu temos achado Seth um pouco introspectivo, e eu tenho tentado conversar com ele. Nós duas achamos que seja lá o que for, ele pode acabar me contando. Então poderíamos deixar isso entre nós?
— Claro, saiba que se precisar pode contar comigo com isso. Se nosso Seth precisa de cuidados, faremos o que for preciso.
— Obrigada.
— Quer deixar entre nós também você e Jacob terem dormido juntos de novo?
Na hora em que bebia seu café, pois já havia batido a massa de bolo que naquele momento Billy colocava ao forno, a mulher engasgou diante àquela pergunta.
— Você sabe que sou discreto, mas não posso deixar de perguntar: o que aconteceu?
— Ah, isso... Droga Billy! — exclamou correndo até a porta da cozinha para se certificar de que Black não estaria ouvindo, e o pai dele apenas sorriu. — Não aconteceu nada! Estava cansada demais para deitar no sofá. Ele é quem não deveria ter dormido no quarto.
— Como foi com Scott?
— Bem... Eu não posso iludir ele, nós gostamos de sair e somos bons amigos. Vocês todos que criaram expectativas sobre ontem.
— Eu criei mesmo, mas só quando fui ao quarto de Jacob ontem o chamar e o peguei dormindo aninhado à sua camisola, e ao acordar hoje pela manhã e não ver nenhum dos dois no sofá que voltei a sentir esperança.
— Com todo respeito, Billy, você precisa de uma namorada! — Ele se espantou com a colocação de , que logo foi se justificando: — Não quero ser uma abusada, mas se você tivesse uma namorada não ficaria “de guarda” a noite toda e eu teria conseguido acordar antes dos dois.
Billy gargalhou com as ideias da moça e enquanto estava emburrada, o ancião guiou sua cadeira até ela. Estava sentada à mesa e ele pegou na mão da jovem sobre a mesa, e acariciando-a parou de rir, transformando o riso em um sorriso paterno:
— Os cães devem ficar de guarda. Desculpe este lobo velho que quase não tem mais sono. Eu não queria deixar você sem saída. Eu juro!
— Pois é, mas meus planos foram por água abaixo. Planejei acordar antes de todos e fingir que dormi no sofá!
— Jacob a ama, . — O velho Black a encarou tenro, mas ao mesmo tempo, firme. — Depois que você saiu, ele entrou e foi para o quarto. E não saiu mais de lá. Quando fui vê-lo, havia dormido e tive pena de acordá-lo. Afinal, eu nem sabia se você voltaria para casa. Achei melhor deixá-lo lá. E você? Quer falar sobre o que aconteceu quando chegou?
— Bem... Quando o vi dormindo com minha roupa... Eu não sei explicar, mas me senti culpada. E ao mesmo tempo feliz. Eu queria estar com ele, no entanto, senti que não devia. Foi aí que decidi deitar lá e ficar abraçada a ele, e no dia seguinte se tudo desse certo — mencionou com certa ênfase — eu acordaria como se nada tivesse acontecido.
— Entendo... Mas não acha cruel fazer isso? Você mata a sua vontade de estar com ele, porém, ele acorda com a triste lembrança de uma peça de roupa nos braços?
— Desde quando você é poético, senhor Black?
— Estou gostando da nossa relação! — Billy confessou risonho com mais uma ironia da mulher. — Mas é sério, . Você o ama, não tem motivos para não viverem isto.
— Pode ser um pouco cruel, mas... E o que ele fez comigo? Não estou falando de Ateara, estou falando de todas as outras vezes que ele não soube apenas dizer o que sentia, fazendo eu me sentir uma completa idiota que achava que conseguiria quebrar as barreiras no coração dele.
— Sabe, eu não tenho o direito de te contar sobre o passado dele, e é por isso que vou deixar que ele conte quando achar que deve. Apenas pare de remoer os erros entre vocês dois. Isso não está ajudando nem você e nem ele. Acabam se afastando quando sentem falta um do outro, e sabem que juntos são muito mais felizes.
— Você tem razão, mas... Ele teve o tempo dele e eu tenho o meu.
— Devo ficar quieto sobre tudo então?
— Eu mesma contarei a ele que dividimos a cama esta noite. — sorriu revirando os olhos, de um jeito teimoso, e perguntou tímida: — Posso te dar um abraço, senhor Black? — Billy assentiu e após receber um abraço do velho lobo, atentou-se ao forno, pois o bolo estava pronto.
Jacob havia acordado e entrou na cozinha com uma expressão de mau humor, como há muito tempo Billy e ela não viam, mas ao colocar os olhos em vestida de roupão com o tabuleiro nas mãos, ele sorriu abertamente dizendo:
— Como assim?
— É, eu também não acredito, Billy podia me dar este forno quando eu me mudar! Eu nunca vi um bolo assar tão rápido — comentou arrancando um sorrisinho sarcástico do mais velho.
— Não, eu estou dizendo que... Achei que você não dormiria em casa! — Jacob respondeu beijando a testa dela após se aproximar um pouco eufórico e confuso por não ter certeza se ela havia ou não dormido em casa.
— Eu vou ver se o Seth já chegou e acalmar a Sue para tomar um café conosco. Pela hora Charlie já foi trabalhar. — Billy piscou para e saiu balançando a cabeça. Jacob estava ainda mais confuso.
— Vai, senta aí para tomar café — ordenou sorrindo para Black.
— Você... Olha, eu não...
— Black... — Ela o interrompeu. — Do que você está falando? Eu dormi com você. — Black estava mais confuso ainda. — Você não percebeu que dormi ao seu lado? — ela perguntou.
— Eu não tenho certeza...
— Não foi um sonho, Jacob. Eu cheguei tarde ontem e você dormia na cama abraçado com minha camisola, e eu estava cansada demais para dormir no sofá. Apenas deitei ao seu lado. Só não imaginei que minha presença fosse tão imperceptível.
— Não é isso... — Não pretendendo se explicar, Jacob apenas sorriu e afagou os cabelos dela.
Eles tomaram o café da manhã com contando para Jake as partes divertidas da noite. Ela não contou nada sobre Scott e ela, e o que havia ocorrido. Beijando-o ou não, decidiu que não havia por que dar explicações a Jacob sobre aquilo, não naquele momento. Quando Sue chegou, as duas se abraçaram e novamente a mulher contou sobre a noite para os presentes, inclusive comentou sobre Seth estar em um encontro. Sue ficou visivelmente incomodada enquanto Billy e Black riram do garoto.
Depois que havia se arrumado para o trabalho e quando saía pela porta da cabana, encontrou Seth descendo do carro, indo em direção à casa dos Black. Ela bateu em sua mão quando pararam de frente um para o outro na varanda.
— Então você não dormiu em casa... “A Parker é um chata, a Parker isso, a Parker aquilo” — zombou dele fazendo voz de criancinha.
— Ei! Ela continua não sendo o meu tipo, ok?
— Ah, cachorro! Agora você diz isso né?
Seth, beijando as mãos da amiga mais velha e olhando para ela com cara de súplica, explicou:
— Eu não dormi com a Parker, tudo bem?
— O quê? Seth, você tem muito a me contar!
— Mais tarde, agora estou com fome e com sono! Você tem que trabalhar, né?
— Sim, eu tenho! E tô pensando seriamente em te empregar, sabia? — zombou de novo, mas havia um tom de verdade na sua fala.
— Ok. — Ele beijou-a na testa. — Bom trabalho, até mais tarde. ‘Tô em fuga pra casa de Jake, porque quero evitar minha mãe. Tem café aqui?
— Tem bolo que eu acabei de preparar, café, frutas, queijo, leite... E tem também uma outra coisinha...
— Ok, ok! — Seth disse se virando e a ignorando.
— Bom café da manhã explicando-se para sua mãe.
Imediatamente ele voltou até , a segurando pelo braço e a guiando até o carro dela, como se realmente ele fosse um fugitivo.
— Não brinca!?
— E aí, vai encarar ela na sua casa ou na casa dos Black?
— Se eu for para casa, posso tomar café por lá e dizer que estava o tempo todo no meu quarto.
— Eu acho que ela procurou pelo filho dela no quarto dele, né?
— Tem razão. Vou dizer que saí com o Quil e acabei dormindo lá.
— Seth... Sem mentiras, ok? — a amiga aconselhou revirando os olhos sem entender o que Sue poderia fazer de tão ruim ao garoto. Tudo bem que ela era muito ciumenta, mas aquilo era exagero. — Até porque eu contei para eles que ontem nos encontramos. — Assim que terminou de falar, Seth respirou fundo e enfim entrou na cabana dos Black. entrou em seu carro e seguiu para o trabalho na cidade.
Na hora do almoço ela passou no mercado dos Carter para fazer umas compras, almoçou, voltou ao trabalho na farmácia e após as 15 horas, deixou Stuart trabalhando e finalizou suas tarefas de gerência do dia.
Seguiu para a reserva e antes de prosseguir, parou em sua casa. O bairro Kalil parecia ainda mais assustador, e a casa com todas as coisas dela ali e sem movimentação deixavam o ambiente pior. pegou suas plantas colocando-as no carro e continuou seu caminho de retorno para a reserva.
Assim que chegou, pediu a Billy e à Sue para deixar os vasos de plantas nas varandas deles até que ela tivesse, enfim, uma casa na reserva. Perguntou onde estavam todos e Emy, muito animada, respondeu:
— Atrás da cabana de Sue, preparando o alicerce para a sua cabana!
— Não brinca! Eu quero ver isso! — correu para trás das cabanas e sorriu de orelha a orelha ao ver todos engajados daquele jeito.
— Café da tarde, alcateia! — Sue gritou da janela de sua cozinha.
Os meninos todos olharam para ela e, largando pouco a pouco suas ferramentas, foram se encaminhando para a casa. Passaram por a cumprimentando com beijos e abraços suados. Embry lambeu a bochecha da mulher que apenas fez cara de nojo, e Seth ia em sua direção aparentemente exausto.
— Obrigada por isto. — pegou sua mão andando acompanhada ao amigo. — Mesmo cansado está ajudando com minha cabaninha.
— Ei, não tem que agradecer... — Seth sorriu beijando-lhe a mão.
— Eu assumo daqui, pode ir tomar um banho, comer e descansar!
— Valeu! Vou mesmo aceitar! — Ele sorriu aliviado e enquanto estava de costas, gritou:
— Como foi com sua mãe?
— Tranquilo! Sobre ontem, te conto depois!
sorriu afirmando. Olhando para trás, Black e Charlie estavam vindo no mesmo rumo que ela, então a mulher os aguardou. Agradeceu aos dois e recebeu seus abraços de volta, depois continuaram andando em direção à cozinha de Sue.
— Desde quando ele conta sobre as noitadas dele para você e não para mim? — Black perguntou se referindo a Seth.
— Eu sou muito mais divertida e posso ajudá-lo com as mulheres melhor do que você.
— Também posso! Na verdade, era eu quem vinha fazendo isso e muito bem por sinal! — Charlie e riram do ciúmes de Black. abraçou a Charlie de lado e ignorou a cena de Jacob.
— Obrigada por ser meu pai aquela noite — disse ela para Charlie. — Eu nunca soube como era.
— Eu que agradeço por me deixar fazer parte disso.
— Eu posso me habituar facilmente a chamar você de pai, gostaria de saber se teria algum problema — confessou um pouco tímida e no mesmo instante o delegado parou com sua caminhada.
Disfarçando a emoção, Charlie puxou para um abraço e beijou o topo de sua cabeça. Swan revelou:
— Eu serei muito feliz com isso.
O delegado se afastou da mulher, um pouco constrangido e sorriu feliz sentindo Jacob parado ao seu lado e sorridente com a cena. Black a abraçou pelos ombros, contando:
— Ele sente falta. E Leah mesmo depois de aceitá-lo, nunca pôde chamar ele de pai. Nem Seth. Mas Charlie entende. O Sr. Clearwater era muito amado por todos, inclusive por Charlie.
apenas sorriu de volta para Black, se aninhando cada vez mais em seus braços, Jacob a acompanhou pela sala de Sue. Charlie, saindo do banheiro e os encontrando, disse:
— Black! Solte minha garota e vá lavar suas mãos.
Ao restante da tarde, todos voltaram seus trabalhos à nova cabana. Foi necessário voltar à cidade, e decidiu ir acompanhada de Emy e Leah para comprar alguns materiais de construção e assim, elas aproveitaram para ouvir os detalhes da noite de fofocados pela própria. Ao contar do quase beijo, tanto Emy quanto Leah concordaram que manter a amizade de Scott era o melhor caminho e assim que comentou sobre sua conversa com Billy pela manhã, as duas quileutes assinaram embaixo de tudo o que velho lobo dissera.
O restante da tarde e início da noite foi de muito trabalho focado na construção da cabana. Os rapazes quileutes estimaram que no máximo em três meses a cabana de estaria pronta. O jantar foi feito na casa de Sue para comemorar o primeiro dia de trabalho na cabana da nova quileute. estava mesmo muito feliz, mas em determinado momento, sentiu falta de Seth e foi ao seu quarto. Deu duas batidas na porta e logo Embry estava ao seu lado. Havia saído do quarto de Leah com um CD em mãos.
— Tudo bem, ?
— Sim. Que música vamos ouvir?
— Leah e essas bandas esquisitonas que ela escuta... — Embry riu mostrando a capa de uma banda que não fazia ideia de quem era. — Escuta... Está tudo bem com Seth?
— É isto que eu vim conferir. Estar cansado sobre ontem, ok. Mas ele não está apenas cansado. Você sabe de alguma coisa?
— Vocês estão muito amigos, não é? — Embry sorriu nostálgico.
— Eu sou amiga de todos vocês. Só que vocês oscilam em momentos diferentes. E que bom, porque eu não daria conta de ser psicóloga de todos ao mesmo tempo. — Embry sorriu a abraçando e ralhou apontando: — Sabe qual o problema? Essa falta de privacidade mental de vocês!
— Não, isso é algo que todos estamos habituados. O que está mexendo com ele é algo que aconteceu há algum tempo. Ele tem remoído isto, mas ficará bem. Mas é como a Leah diz... Seth não se sente mais à vontade como antes para se abrir com a gente, mas com você tem sido diferente. Agora acho que pode ser justamente pelo o que você disse: este vínculo que vocês não têm deve deixá-lo mais confortável para falar sem medo.
— Você é sempre tão esperto. — abraçou Embry e disse que o encontraria logo, no andar de baixo.
Estranhando a demora de Seth em atender as batidas à sua porta, ela resolveu abri-la devagar e deparou-se com ele dormindo. A mulher não sabia se deveria acordá-lo, mas sentiu que poderia entrar e observá-lo de perto. Então, avançou alguns passos, e encostou a porta. Ele estava de costas para ela, se sentou na beira da cama e, tal como uma irmã preocupada, iniciou um cafuné em seus cabelos.
Seth remexeu-se um pouco na cama e virou para o lado dela. Em outros momentos, outros dias, estaria sem graça pelo que fez. Acharia que estava invadindo o espaço dele, mas a verdade é que ela sentia que pertencia cada vez mais àquela imensa família, e sentia por Seth a mesma preocupação que sentiu quando Embry precisou do seu ombro amigo. Pensava nisto enquanto afagava os cabelos de Seth, e mal percebeu quando ele passou as mãos em sua cintura e a puxou sobre ele colocando-a deitada ao seu outro lado da cama. ficou tão assustada e inerte com aquilo e já ia gritar com ele, quando ele, se aninhando a ela, deitou seu rosto no pescoço da amiga e sussurrou um nome: “Anna”.
Anna? Quem diabos era Anna? E por que Seth a estava confundindo com essa tal de Anna? observou melhor o rosto dele e pôde notar as lágrimas que escorriam de seus olhos. Lembrança ou apenas sonho, Seth estava sofrendo. Ela colocou a mão em seu rosto a fim de acordá-lo e sussurrou seu nome baixinho, Seth, em resposta, colocou a mão sobre o rosto da amiga e esboçou um sorriso confuso. Ao abrir os olhos fracamente, ela disse para ele:
— Seth... Sou eu, a ...
Ele soltou o rosto da amiga, confuso, e foi se afastando devagar. Sentou-se na cama e a encarou envergonhado.
— Tudo bem... Não precisa ficar mal. O que aconteceu só vai ficar entre nós, ok? — disse e Seth levantou apavorado. Ao se olhar apenas de cueca, correu para pegar sua bermuda e a mulher não pôde deixar de rir com aquilo.
— O que aconteceu ? — ele disse espantado.
— Nós transamos — a outra zombou, dizendo de forma calma e séria.
— O quê? — Seth correu até a porta do seu quarto, trancando-a, desesperado: — Como assim? Não é possível... O que eu...
Era nítido o pavor no rosto dele, e mesmo com ela rindo da situação Seth não desconfiou de nada, então resolveu parar com a “trolagem” antes que ele saísse correndo perguntando aos outros o que havia acontecido.
— Senta aqui, Seth. Nós não fizemos nada, seu idiota, se acalma. — Seth, sem entender, respirou fundo se acalmando, e colocou a mão sobre os olhos quando a ficha caiu de que tudo não havia passado de uma brincadeira.
— Você enlouqueceu ou o quê, ?
— Nossa, não precisava ficar apavorado... — Ela riu.
— Não! Imagine!
— Por que este desespero?
— Você é mulher proibida, ! — Seth disse óbvio voltando a sentar-se ao lado dela na cama.
— Que papo é esse, lobinho?
— Você é a mulher do meu amigo...
— Ei! — interrompeu o discurso. — Desconheço este fato!
— Desconhece por enquanto...
— O que você sabe que eu não sei? — ela perguntou já imaginando se ele saberia sobre a outra noite que havia dormido novamente com Jacob.
— O que aconteceu para você ficar preocupada assim? Agora você vai me contar!
Ela tratou de desconversar, pois notou que ele havia se reanimado como antes:
— Olha, eu vim até seu quarto saber de ontem, o que aconteceu e tal... Mas aí você estava dormindo, me aproximei, te fiz um carinho e você praticamente me jogou nos seus braços e me chamou de Anna. Quem é Anna? A mulher de curvas que dormiu com você ontem?
Seth arregalou os olhos e ficou um tempo em silêncio. Tempo aquele que estava a incomodando bastante e já pensava em falar algo quando ele disse que iria ao banheiro de seu quarto escovar os dentes, porque não iria explicar nada a ela com “bafinho de sono”. Ela aguardou que ele voltasse ainda sentada na cama, e logo Seth se juntou à amiga. Ele cruzou as mãos e como quem procurava as palavras iniciou:
— Vamos lá, podemos falar sobre ontem primeiro?
— Podemos falar sobre tudo o que você quiser.
— Podemos começar por você?
— Podemos, mas não sei se vou falar tudo que aconteceu comigo ontem antes de você falar o que aconteceu com você.
— Você transou? — Seth perguntou travesso.
— Não. O que isso tem a ver?
— Então o que você não iria me contar? — ele disse sorrindo e ela assentiu, e ele continuou: — Já eu, transei. Então tecnicamente não posso te contar nada. Vamos lá, comece!
— Ei! Você vai me contar sim! Não precisa explicitar sua noite sórdida, mas temos um acordo de manos aqui! Não temos?
— Um acordo de manos? — ele disse zombeteiro. — Se eu tivesse um mano como você, teríamos realmente transado.
— Cala a boca que você quase caiu para trás com a minha brincadeira. Faltou sair correndo pelo corredor.
— Ok, desculpe, mas é como eu disse...
— Eu não sou mulher de amigo seu e nem de ninguém! — corrigiu e mudou a rota do assunto de vez: — Vamos ao ontem... Depois que deixamos vocês lá em Silverdale, Scott e eu voltamos para casa conversando o caminho inteiro sobre como a noite havia sido divertida e quando chegamos aqui, nós quase nos beijamos. Mas Scott foi mais sensato do que eu e nos parou antes que o fizéssemos. Decidimos que é cedo para “deixar rolar”. É isso, e você?
— 'Tá faltando coisa — Seth falou com uma expressão desconfiada e um sorriso cretino para ela.
— 'Tá nada! Que história é essa?
— Você morde o lábio inferior quando mente ou está escondendo algo, ! — A amiga olhou para ele sem entender desde quando Seth havia notado aquilo, mas o rapaz explicou: — Jacob e Embry me contaram isso. Na verdade, Embry soube primeiro e Jacob apenas concordou depois.
— Droga... Não posso sequer mentir pra vocês... — suspirou e contou sem deixar de apenas rodear pelo assunto: — Eu cheguei e vi Jacob dormindo com minha camisola em seus braços, e ele estava na minha cama, então... Eu estava cansada, não ia dormir no sofá! — Seth começou a gargalhar e sussurrou um “eu sabia!”. — Sabia do que, garoto?
— Que você ama o Jacob!
— Ai, cala a boca, Seth.
— Mas e aí, o que aconteceu depois?
— Nada, oras! Dormimos e acordamos.
— Espera... — disse Seth óbvio após ouvir seu relato. — Não é a primeira vez que vocês dormem juntos, não é? — Seth gargalhou ainda mais.
— Quando foi que eu disse isso?
— Não precisa nem dizer! “Dormimos e acordamos”? É óbvio que se fosse a primeira vez que isto aconteceu, você estaria toda desesperada sobre essa atitude! Eu não sou bobo, tá?
— Ok. Você venceu. Já aconteceu antes, há muito tempo. E não, nós não transamos.
— E por que não transaram ontem?
— Seth! Você acha que é assim que funcionam as coisas? “Ei, Black, vem cá, vamos acasalar!”
— Acho.
— Ah, cala a boca, garoto!
— Se eu tivesse a mulher que amo ao meu lado, não hesitaria.
— Bem, isso me lembra que minha história acabou. Sua vez.
— Ok. — Seth suspirou pesadamente. — Eu trouxe a Lili para casa ontem. Conversamos e expliquei que ela estava fantasiando muito e criando expectativas e, diante disso, eu não queria magoá-la, e achava melhor irmos devagar. Ela concordou comigo. Falou que se divertiu bastante, e quando eu quisesse era só procurá-la. Então voltei para o carro e meu telefone tocou. Era a Paige, uma amiga do colegial. Ela chorava muito e perguntou se eu podia ir encontrá-la na casa dela. Eu já estava na rua mesmo, então eu fui. Assim que cheguei lá, os pais dela não estavam em casa porque tinham viajado. Meu alerta mental soou dizendo “cai fora” imediatamente. — Ele parou de contar e vagueou em suas memórias tristonho.
— Então. Por que mesmo você tinha que cair fora? — atraiu de volta a atenção dele.
— Ela disse que havia sonhado e que ninguém mais podia acalmá-la se não eu. Ela começou a desabafar sobre como eram difíceis as lembranças para ela, mesmo depois de tanto tempo. E no meio das lágrimas e do choro que consumiu nós dois, eu acabei não resistindo e quando ela tentou me beijar, eu correspondi. E dali por diante... Bem você já sabe né.
— Tá... — pensava sobre o que havia escutado. — Não preciso de Jacob e nem de Embry para me dizerem que também está faltando história... O que ela sonhou? Por que vocês dois estavam chorando sobre estas lembranças e que lembranças são estas? E afinal, quem é Anna?
— Droga... — Seth deixou uma lágrima escorrer. — Eu vou ter que me abrir com você.
— Não precisa fazer isto se não quiser, Seth, eu só quero ajudar.
— Eu sei. Desculpe. Eu só posso fazer isto com você... Não me sinto confortável de falar com mais ninguém sobre isto.
— Tudo bem, eu estou aqui.... — virou-se para Seth e o abraçou apertado sendo correspondida.
— Um pouco antes do meu pai morrer... Eu tive um imprinting com uma garota chamada Anna. Meu pai era o único que sabia. Ele havia dito que era muito cedo para ter acontecido meu imprinting e que não era para eu me preocupar com aquilo, apenas aproveitar a companhia da Anna. Éramos amigos desde o dia em que fui para o colégio na cidade.
“Algumas semanas depois, meu pai faleceu e Anna me apoiou da melhor forma que pôde. Sem meu pai, eu não sabia como contar para minha mãe sobre aquilo ou apenas com quem desabafar. Peter Carter não sabia de nós, e na verdade nem eu sabia que ele descendia de outra tribo da região. Então eu pensei em falar com algum dos meninos, mas além das coisas estarem muito conturbadas na época, eu observava como todo o assunto da matilha deixava de ser pessoal. E como a Leah sofria em relação ao Sam, eu não queria nenhum deles controlando. Todos estavam ocupados demais com as... As coisas que iam acontecendo em nossas vidas. E eu ainda tinha minha mãe para ajudar a consolar. Peter acabou sendo o amigo que eu tive para contar certas coisas.
“Eu não havia dito nada para ele sobre imprinting, mas confessei gostar da Anna. E era correspondido. Estava tudo voltando a ficar bem, mas numa noite Peter me ligou dizendo que Anna havia sido internada. Ela estava doente e por isso foi levada para Phoenix. Quando eu pude ir vê-la, ela já estava muito mal, e na primeira noite que eu dormi no hospital, Anna não resistiu. Eu perdi meu pai e meu imprinting na mesma época.
“Quando voltei, Peter, que sabia dos meus sentimentos, notou que eu não superava Anna e foi quando ele me contou sobre a Paige. Paige era a irmã gêmea de Anna e confidente dela. Eu achei estranho não conhecer ela ou Anna nunca ter mencionado a irmã. Peter disse que Paige morava em outro país e Anna não falava muito sobre a irmã para evitar as saudades e a melancolia. Mas depois que ela havia falecido, Paige estava vindo. Então eu tive que me preparar, afinal, a irmã gêmea da minha garota estava vindo a Forks.
“Quando todos souberam, acharam que Anna era apenas uma paixonite de colegial e Embry foi quem mais parou de viver o caos do mundo para viver meu caos comigo. Mesmo assim eu não tive coragem de dizer a ele que eu havia perdido não uma paixonite, mas o meu imprinting. Só se tem um imprinting uma vez na vida, e enquanto todos sonham em como será o seu, eu já não teria o meu.”
Seth chorava como se tudo aquilo que ele estava contando para tivesse acontecido aquela semana. E a única reação dela foi de abraçá-lo e confortá-lo. Sobre aquilo de imprinting, ela não poderia opinar a respeito, apenas tentar compreender. A medida que Seth foi se acalmando, perguntou:
— E o que aconteceu quando Paige chegou?
— Peter se apaixonou por ela e nós dois nos tornamos muito amigos. Anna era e é tudo o que temos em comum. Eu contei a Peter logo depois sobre o imprinting, foi quando descobri que na tribo dele há algo parecido. Ele acreditou e me compreendeu e se compadeceu da minha tristeza. E durante esses anos, eu superei e tudo ficou bem. Mas... Depois de você aqui ...
— Oh-oh... Não gosto quando as pessoas dizem isto.
— Tudo bem, não é como se você fosse culpada de algo, mas você chegou e Jacob mudou, Embry mudou, Leah finalmente encontrou o seu imprinting e você não sabe como fiquei feliz com tudo isso! E aí, você e Scott começaram esta história e ao mesmo tempo você e Jacob... Fiquei pensando sobre os sentimentos de Scott, perguntei a Peter e ele me garantiu que não é algo como um imprinting que Scott sente. E eu fiquei aliviado. Sei o quão doloroso é não ter quem você mais sonhou um dia encontrar. E não é o caso entre vocês, mas me peguei pensando de novo nisso tudo. E procurei a Paige depois de todo esse tempo. Andamos nos vendo e conversando sobre a Anna... Até então ela estava bem, me apoiando e dizendo que eu logo encontraria alguém... Tudo parecia bem até ontem. Quando ela desabou com toda essa história que eu desenterrei e acabou se entregando para mim, e eu idiota que fui... — Seth parou de falar fechando os olhos de um jeito culpado.
— Entendo, mas, Seth, não se culpe. Tem sentimentos demais de ambos os lados. O que houve com a Paige e o Peter?
— Terminaram há muito tempo. Como você sabe, Peter é apaixonado por Daniella Parker. Mas ainda me sinto sujo de ter dormido com ela. Ela era minha amiga, gêmea da garota que eu amava e ex-namorada do meu melhor amigo.
— Não, não pensa assim. Vocês dois estavam fragilizados e acabaram cedendo a algo que já existia dentro de vocês. Este interesse não veio de agora, pode ter sido notado agora, mas não se culpe! Você não fez nada de errado e nem ela. E quanto ao Peter, ele virou a página e não acho que tenha motivos para dizer isso a ele. A menos que você e Paige decidam...
— Não! — Seth interrompeu a fala da amiga, enfático. — Não vai acontecer mais nada. Hoje pela manhã me desculpei com ela e ficamos numa boa. Só é duro lidar com a minha consciência.
— Ei, imagino o quanto tudo isto deva ser difícil, mas você precisa continuar. Sabe disso, não é? Olha a sua irmã! Havia desistido de amar, e entendo que com ela aconteceu o inverso do que com você, mas não é porque a pessoa do seu imprinting não está aqui que não exista mais ninguém possível para você amar. Seth, você está me entendendo?
— Você é mesmo incrível — ele disse sorrindo para ela, a olhando com ternura.
— Obrigada por compartilhar isto comigo, Seth.
— Eu que agradeço, ...
— Eu só não entendo... Eu não sou como vocês, não posso entender exatamente a força disto tudo... Do imprinting... — Seth, ouvindo-a, sorriu franco. — Você tem várias pessoas que entendem e te acolheriam, cuidariam de você... Então por que não compartilhar com eles?
— Por entender, eles me olhariam com pena. Isso se tornaria um fantasma sobre quem eu seria dentro da matilha. E não é este o olhar que quero.
— Por causa da Leah, não é?
— Exatamente, eu vi o que ela passou.
— Bem, todos estão preocupados com você agora. Sua irmã, me pediu para conversar contigo. Embry, Billy... O que eu faço?
— Apenas diga que eu me apaixonei pela pessoa errada. — Seth encarou firme a amiga e, compartilhando seu olhar mais carinhoso, completou: — Mas já estou me curando.
Os dois ficaram ali abraçados um tempo. Se acomodaram na cama e com sua cabeça no peito de , ela fez cafuné em Seth até que ele adormecesse novamente. Na verdade, por mais que tentasse, não sabia como lidar com aquilo. Os quileutes não a prepararam para saber lidar com "imprintings" perdidos. Este capítulo era desconhecido e ela sentiu o quanto aquela tradição, ou benção, ou seja lá o que fosse, era algo profundo e íntimo para os lobos. Doía ver que Seth, no auge de seus 20 anos, teria aquela bagagem toda de perdas. E após saber daquilo, pôde compreendê-lo melhor. sempre soubera que as pessoas se tornam aquilo que as suas experiências transformam elas. E Seth se tornou um homem íntegro, maduro, amoroso da melhor maneira, mas sob as mais difíceis circunstâncias. Ela orgulhava-se ainda mais dele após saber daquilo tudo.
Antes da conversa com , quando foi lavar seu rosto, Seth destrancou a porta e alguns segundos após ele adormecer no colo da amiga, alguém abriu lentamente a porta os procurando. Era Jacob. O quileute olhou para os dois, curioso e espantado e sorriu fazendo um sinal com a mão para ele entrar. Um diálogo breve em sussurros, para não acordar Seth, iniciou-se entre eles:
— O que houve com ele?
— Dor de amor. Mas ele ficará bem.
— O que eu faço? Embry pediu para eu vir vê-los e todos esperam uma resposta.
— Eu já desço. Deixa só eu conseguir me soltar dele sem acordá-lo.
Jacob saiu um pouco contrariado. Devagar e delicadamente desvencilhou o seu corpo do de Seth e ajeitando-o da melhor maneira que ela pôde, a amiga fraternalmente beijou o rosto do rapaz longamente, acariciou seus cabelos e se retirou devagar do quarto.
Parada à porta, antes de fechá-la, o observou uma última vez aquela noite e, enfim, deixou uma lágrima escorrer. Ela segurou o máximo que pôde, mas aquela pequena lágrima teimosa insistiu em descer de seus olhos revelando a realidade de alguém que, por conhecer o medo da solidão também, temia por ela. enxugou seu rosto e foi ao encontro de todos.
Capítulo Vinte e Três
O Ataque Surpresa
desceu as escadas da cabana de Sue ao encontro de todos à varanda e Jacob a esperava no último degrau. Eles se entreolharam, e ela não pôde deixar outra lágrima guardada. Jacob, se compadecendo da situação de Seth mesmo sem saber ao certo do que se tratava, enxugou aquela trilha molhada no rosto de e abraçados os dois seguiram casa à fora.
— Está tudo bem com o Seth, ?
— Vai ficar, Sue.
— O que ele tem? Conseguiu descobrir? — Leah perguntou disfarçando sua aflição.
— Ele se apaixonou por alguém que não pode corresponder.
Todos assentiram encarando , curiosos. Leah olhava profundamente nos olhos da amiga e nos olhos de Jake. Então, Paul, prosseguindo com o falatório daquela tarde, concluiu:
— Ele vai ficar bem quando o imprinting dele acontecer.
E percebendo que ninguém ali teria a dimensão do que o Seth precisava, sorriu se despedindo, afirmando que ia descansar, até estava mesmo cansada, mas Embry e Leah ficaram a observando, estranhos. A mulher correspondeu ao olhar curioso deles como alguém que implorava para que eles entendessem o que os seus olhos tentavam dizer. Ela deu as costas em direção à cabana de Billy e ouviu passos a seguindo devagar, porém não olhou para trás. Apenas depois que estava deitada na cama de Jacob ela o ouviu entrando no quarto, e se sentando ao lado dela. Black passou um dos braços acima do abdômen da mulher, com as mãos apoiadas na cama, em uma espécie de abraço discreto.
— O que houve com ele, de verdade?
— Eu não tenho este direito, Jacob.
— Ele já teve um imprinting, não é?
— Eu acho que você deveria perguntar a ele.
— Eu não vou contar para ele e nem o torturar por isso. Seth pode ter se esquecido, mas, as pessoas que mais o compreenderiam com isso sou eu, e talvez a Leah.
— Seja como for, ele não se abriu comigo para que eu saísse contando a vocês o que o aflige.
— Tudo bem. Mas e sobre você, pode me contar?
— Contar o quê?
— Para alguém que “não acreditava em amor” como Embry insistia em dizer, e para alguém que não compreende a dimensão de um imprinting… Você ficou bem abalada.
— E você está achando que sabe demais, não é?
— Não precisa ficar nervosa. — Ele riu.
— Não estou nervosa.
— Não está. Devo me preparar para ser mordido? — Jacob olhou para ela, zombeteiro.
— Sabe, eu queria muito morder você agora. De verdade!
Jacob a estava irritando com aquele assunto e não sabia ainda o motivo para se incomodar tanto com aquele sentimento antigo. Algo que havia ficado no passado, tão remoto, tão distante, e que se iniciou numa latente recordação de dor.
— Você pode me morder — e, se aproximando do rosto dela, Black sussurrou — quando você quiser.
— Você está confundindo as concessões que lhe dei, Black.
— Uma coisa por vez, primeiro, conte-me o que te magoou tanto com a situação de Seth.
— Eu enterro certas coisas que nem mesmo a minha sombra reencontra.
— Uau. Entendi. Isto nos faz pular para a próxima pauta.
olhou para ele, confusa, e saltando sobre ela, calmo e com sua respiração próxima e olhar fulgurante, Jacob se deitou ao seu lado. Apoiou a cabeça em uma das mãos e a encarou sedutor:
— Vamos falar de nós.
— Nós? Não há um nós, Black. Há eu e há você.
— Você e Scott se beijaram?
— Achei que falaríamos sobre “nós” e não sobre mim.
— Você precisa se decidir...
— Eu não acho que lhe devo alguma explicação da minha relação com Scott.
— Não, não deve. Mas eu estou tentando consertar as coisas entre nós dois.
— Ah é, e posso saber por quê?
— Porque é estupidez demais continuar negando um para o outro o que sentimos.
— As coisas sempre são assim contigo? Na sua hora?
— Ora, vamos, ! Você é extremamente teimosa!
— Pode até ser, mas quando eu quis investir nisso — a mulher apontou para os dois — você ergueu um muro de Berlim! E agora, porque você quer, acha que pode vir e dizer “Scott, cai fora!”?
se virou na cama, sendo espelho dele e o encarava furiosa.
— Eu só quero que saiba que eu já me arrependi de tudo o que eu não fiz. E quero que fiquemos bem de novo.
— Nós estamos bem, eu te disse quando voltamos do galpão. Até te abracei.
— Não é o suficiente.
— Que merda, Jacob! O que você quer?
— Você e Scott estão juntos mesmo ou não?
— Ainda não! Satisfeito?
Silêncio.
— Ele me ama — confessou enquanto seus olhos e os de Jacob encaravam-se de forma apreensiva um pelo outro.
— Ele disse?
— Tantas vezes quanto as que corri atrás de você. — Ela lançou e novamente um silêncio se prostrou entre eles, até que ela falou um pouco mais duramente: — Não… Não corri tanto assim atrás de você. Não foi preciso, você me dispensou bem rápido. Ele disse que me ama muito mais do que isso. Não é segredo para ninguém nesta cidade, e só você não enxerga que eu poderia ter tido qualquer cara desde que cheguei…
Ela decidiu não continuar a frase. Não poderia esclarecer para Jacob o poder que ele tinha sobre ela.
— E você pretende dar uma chance a ele?
— Por que isso te interessa agora?
— Porque eu amo você e estou disposto a lutar por isso — Jacob confessou de um jeito totalmente firme.
Ele se aproximou dela lentamente. Seus olhos hipnotizados um no outro. Ele umedeceu seus lábios, tão chamativos, e quando os roçou aos de , ela o empurrou. Levantou da cama um pouco ansiosa, com uma das mãos na cintura e a outra bagunçando os próprios cabelos. Já Black a encarava tranquilo. queria bater nele por ele fazer aquilo depois de tanto ela sofrer. A mulher pegou o próprio casaco as chaves do seu carro e saiu do quarto com Jacob a seguindo, mas parando quando ela pediu:
— Me dê um tempo. Eu quero ficar sozinha, Black.
Billy, Sue e Charlie conversavam ainda na varanda de Sue, e estranharam a saída repentina dela.
— Onde vai, ? — perguntou Charlie com autoridade paternal.
— Só dar uma volta, pai! — ela gritou sem perceber o que havia dito, e ao fechar a porta do carro, o olhou pedindo: — Er.. Desculpe, Charlie.
Ele apenas sorriu, indicando que ela poderia chamá-lo por “pai” quando quisesse. Sue o abraçou de lado e sussurrou feliz algo para ele obtendo o cativo sorriso de emoção do delegado. observou o pequeno grupo pelo retrovisor uma última vez, e lá estava Billy a analisando com sua habitual feição indecifrável. Jacob surgiu na porta da cabana e, encostado nela, olhou sereno para ela. Os dois trocaram olhares cheios de significados e ela deu partida sem pensar duas vezes.
Dirigiu pela estrada, devagar. Não estava nervosa e nem com medo, nem sentia ódio ou raiva, estava, na verdade, feliz. Feliz pelo que havia escutado. E confusa. Confusa porque era como se Jacob estalasse os dedos para que ela fosse em sua direção. já havia passado de Erick a Embry, de Embry a Jacob, de Jacob a Erick, de Erick a Jacob, e enfim, de Jacob a Scott... deu-se conta de que ultimamente ela brincava de malabares com os corações. Inclusive o seu próprio. Se pegou indagando para si: “Se eu, não tivesse me envolvido com a reserva, Erick e eu estaríamos juntos?”. Chegou rapidamente à conclusão de que não. Eles eram muito diferentes.
E não haveria como ela não se envolver com La Push, uma vez que foi a Forks justamente pelo desejo de conhecer La Push. Bella havia falado tanto naqueles e-mails sobre a reserva, a praia, os indígenas… Era claro que nunca quis conhecer Forks. Nem mesmo quando no passado…
— Ei, linda, e se fôssemos até aquela cidade aonde o pai de Bella mora? Como se chama mesmo, Bell?
— Forks. Não acho que gostaria de Forks. Ela é ensolarada demais para um distrito como aquele.
— Exatamente, Theo! — disse beijando o namorado. — Não vamos mudar os planos! Iremos para a Califórnia nas férias!
— Theo, por favor, nós custamos a convencer René…
— Eu sei, Bell, mas não acho que sua mãe se importaria caso quiséssemos voltar uma semana mais tarde, apenas para você visitar o seu pai.
— Theodor… Eu não vou a Forks. Eu odeio lugares frios!
Bella riu, olhando cúmplice para Theo. Ele pegou sua namorada no colo, enchendo-a de carinhos e sussurrou em seu ouvido: “Eu faço tudo por você, você não poderia fazer isto por mim?!”.
Após ser tomada por aquela memória triste, balançou a cabeça afastando as lembranças. Theo... Ela já não chorava por ele há muito tempo. Dirigindo ainda, ela olhou para o céu à sua frente e a mistura de tons indicavam um céu sombrio e estrelado que só existia em Forks. deu-se conta de que não havia ido a Forks nem mesmo por Theo, o que fazia ela sentir que o traíra por isto. Ela havia ido a Forks exatamente por La Push: o paraíso escondido de Bella. E quão falso aquilo soava, uma vez que Bella havia ido embora como fumaça que se esvai sob a chuva. Não havia sequer o fantasma de sua antiga amiga.
Às vezes sentia como se tudo houvesse existido apenas em sua mente. Todos aqueles e-mails pareciam histórias fantasiosas de alguém criativo o suficiente para se tornar um escritor. Por onde estaria Bella? E como ela pôde sumir do mapa, abandonar o pai, La Push… E Se Embry não tivesse o imprinting com Leah, eles estariam juntos? E se estivessem juntos, ela e Black teriam se tornado amigos? também sentia como se fosse empurrada para Black desde o primeiro instante. Aquele Jacob do quarto era tão oposto daquele homem que esbarrou com ela enquanto caminhavam na areia da praia. Tão oposto daquele que socorreu o seu carro quebrado na estrada. Tão diferente daquele que a levou até Sue, e tão diferente daquele em sua cozinha no escuro, o qual já havia instigado desde aquele momento nela, algum fascínio…
Se fosse responder sobre amá-lo ou não, talvez diria que não o amava, mas que dependia dele. Aquela era uma sensação tão estranha e doentia. Tudo soava como se Forks não fosse o seu lugar sem ele. E se ela não pudesse tê-lo, por que estar ali? Se ela desejasse e pudesse amar a Scott seria tão prudente. Tão mais fácil! Eles poderiam ser uma família comum de pessoas apaixonadas com filhos divertidos, que se reúnem aos domingos na casa dos avós… E… Oras... O que ela estava pensando? Nada naquele lugar era comum. Nada. Nenhuma pessoa. Tudo em Forks era peculiar demais para quem deseja ser medíocre.
Rompendo com aquela confusão de pensamentos atravessados, parou o carro em frente à grande casa branca da cidade. Abriu o portão preto, alto, de grades pontiagudas ouvindo-o ranger. Caminhou na curta trilha de pedras, e bateu à porta.
— ?
— Como vai senhora Eva?
— Ótima. Que surpresa! Ora, entre.
Dando-lhe espaço para entrar, ela avistou que o senhor Carter estava sentado em sua poltrona, mas dobrou os jornais em seu colo e se levantou para cumprimentá-la.
— Como vão as coisas, ? — Eles apertaram as mãos.
— Estão bem. E por aqui?
— Hã… Algumas décadas são necessárias para uma grande novidade surgir outra vez em Forks.
— Entendo, depois da “amiga da misteriosa Bella”, vão levar alguns anos. — fez piada e eles riram breves, mas rápida ela explicou sua presença ali: — Desculpem-me atrapalhá-los a esta hora, mas eu gostaria de saber se o Scott estaria em casa.
— Oh, querida — Eva voltou com uma xícara de café para ela, respondendo um tanto chateada: — Lamento, mas ele saiu.
— Certo, tudo bem. Não era nada importante… — bebericou o café com os olhos do casal sobre si.
Viu que foi uma péssima ideia ter ido até lá. Peter descia as escadas e sorrindo ao vê-la, se aproximou e logo a abraçou.
— Procurando o Scott?
— Sim.
— Ele saiu com a Parker.
Eva pigarreou olhando-o reprovadora.
— Ér… Ele não deve demorar. Você sabe como ele é em relação as Parker.
— Tudo bem, Peter! Você me acompanha até lá fora?
— Claro, se quiser aguardá-lo eu te faço companhia.
— Pode ser. Tenho mesmo que falar contigo sobre um assunto aí…
Os dois saíram pela varanda e Peter fechou a porta da casa sob sussurros e caretas aos pais. sorriu discretamente por notar que eles haviam mesmo ficado surpresos. Caminharam até o carro dela e Peter acomodou-se no banco do carona enquanto entrava pelo outro lado.
— E aí, o que você quer saber do Scott?
— Eu não quero saber nada dele. Quero saber que ideia estapafúrdia é esta a sua de empurrar o Seth para a Lili, Peter?
— Bem, antes eu podia contar com meu irmão para me aproximar de Daniela, mas aí você surgiu…
— Você sabe que ela é apaixonada pelo Scott, não sabe?
— Ela é apaixonada pelo dinheiro da nossa família, e não por algum de nós.
— Você sabendo disso não acha também que merece uma pessoa melhor?
— Eu gosto dela. Não dá para evitar por quem nos apaixonamos… Não é, ?
— É.
Um breve silêncio se fez até Peter se pronunciar novamente.
— Posso te perguntar uma coisa?
— Se eu gosto do Scott?
— É.
— Ele é muito especial para mim, um amigo que eu sinto que posso contar tudo e que sempre estará ao meu lado. Não importa o que eu faça de errado. E… É como se ele fosse igualzinho a mim, sabe? O mais próximo da realidade que eu já pertenci um dia. Não sei explicar. É um sentimento fraternal.
— Então, por que você dá esperanças a ele?
— Eu não dou, Peter. Seu irmão e eu acordamos que não vamos evitar um ao outro independente de nossos sentimentos.
— Típico dele. Escolheu se contentar com a sua amizade mesmo sabendo que isso o destruirá por dentro.
— Peter, do jeito que você fala é como se eu fosse um veneno para ele.
— E é. Scott sempre deixa os sentimentos dele o intoxicarem. E eu torço a cada dia para que ele um dia se apaixone por alguém capaz de amá-lo.
começou a se sentir afetada e culpada com a sinceridade expressa nas palavras de Peter. Ela sorriu sem graça para ele e girando a chave de seu carro, se despediu:
— Bem, Peter, eu não quero fazer mal ao seu irmão… Fique tranquilo quanto a isto. — Sorrindo ainda sem jeito, concluiu: — E eu preciso ir agora.
— Não era a minha intenção constranger você, eu não tenho nada a ver com a relação de vocês, me desculpe.
— Imagina! Tudo bem, eu realmente tenho que ir.
— Ok.
Peter beijou o rosto de e saiu do carro. O sr. Carter aproximou-se da porta do motorista sem que ela percebesse e a assustou ao dizer:
— , tenha cuidado na volta para casa, certo?
— Obrigada, Sr. Carter. — Ela o olhou em dúvida, sentindo que os olhos do velho Carter se tornaram diferentes, mais opacos.
Ela deu partida deixando os dois homens para trás acenando em sua direção. Scott chegou antes que ela pudesse se afastar demais, constatou ela pelo retrovisor. Mas não quis mais ficar e falar com ele, por isso apenas continuou acelerando. Ao passar pela sua casa à beira da estrada, parou o carro no que antes era um gramado. Sem cerimônias, abriu a porta da sala deixando um rastro de pegadas na varanda empoeirada. acendeu as luzes e foi até a cozinha. Havia esquecido algumas coisas na geladeira que acabaram por apodrecer e como se fosse melhor momento para aquilo, ela iniciou uma limpeza em sua cozinha. Então, o seu celular alertou a chegada de mensagens:
“Aconteceu alguma coisa? Onde você está? — Scott.”
“Está tudo bem, Scott. Estou em casa, no Kalil. — ”
“Posso passar aí? Você veio até aqui e eu não estava… Daniela me chamou para um jantar na casa dela e eu não deveria ter ido. Foi extremamente desagradável. — Scott.”
“Que chato. Você é gentil demais para se livrar da Daniela, não é mesmo? Fique tranquilo, não precisa se explicar. — .”
“Desculpe… Isto é ciúmes? :D — Scott.”
“Não. É só um toque. Se não gosta da situação, por que não se livra disso? — ”.
“Algumas situações eu simplesmente não sei como me livrar... Você não respondeu se posso passar aí. :/ — Scott.”
“Precisa aprender. E acho melhor não, Scott, eu comecei uma faxina. Nos vemos depois, beijos! :* — ”.
Scott digitava uma mensagem quando o interrompeu enviando outra:
“E antes que pergunte, eu não estou chateada” — .
Ele não digitou mais nada. Depois de limpar toda a cozinha, subiu as escadas com os objetos de limpeza em mãos. Abriu a porta do seu quarto e então estranhou a janela aberta. Pensou por alguns segundos recordando o último dia que estivera ali, e não havia engano. Alguém havia invadido a casa. Assustada, ela enviou uma mensagem a Jacob:
“Estou no Kalil. Venha rápido, acho que tem alguém em minha casa” — .
Ela estava com medo demais para sair do quarto ou fazer qualquer barulho. Sua mente dizia para ter coragem e ir até o corredor vasculhar outros cômodos, mas algo dentro dela estava fazendo-a sentir frio demais. Seu corpo congelava e aquele vento assobiando pela janela do quarto não trazia uma boa sensação. novamente pegou o telefone e discou uma chamada para Erick, mas ele não atendeu. Então telefonou a Charlie que, ao atender, disse:
— Não faça nada , você está bem?
— Sim — sussurrou.
— Fique onde está. Tem alguém com você aí?
— Não sei. A janela do meu quarto estava aberta quando cheguei. Alguém esteve aqui ou está — sussurrou de novo.
Então, ouviu o barulho das tábuas rangendo no andar inferior da casa.
— Ouvi barulhos, tem alguém na sala.
— Esconda-se e não faça nada! Estamos chegando.
desligou e discou novamente para Erick, a chamada ainda não havia sido atendida, então ela colocou o celular em seu bolso depois de abaixar ainda mais o volume dele. Saiu cautelosa do quarto, embora Charlie houvesse pedido para não se mexer. Há algum tempo, ela escondia tacos de beisebol em lugares estratégicos da casa. Pegou um deles embaixo da sua cama e saiu pelo corredor sorrateiramente. No alto da escada, olhou para a sala e não avistou ninguém, felizmente, as luzes estavam acesas. Ela desceu degrau por degrau com o taco de beisebol a punho. Nenhuma sombra. Nenhum som. Deu as costas para a entrada da cozinha, e foi quando ela ouviu a voz dele:
— Você é muito mais bonita do que nas fotos espalhadas pela casa.
Um tom de voz sedutor e firme. se sentiu ainda mais fria do que antes, e poderia afirmar ter tido uma queda considerável da sua pressão arterial. Virou-se, amedrontada, mas curiosa, para o homem. Ele vestia uma blusa fina de mangas compridas, preta e justa. Calças jeans surradas que caíam levemente de sua cintura. Botas pretas de cadarços. Era forte, notava-se pelos braços cruzados à frente do corpo. Seus olhos eram pequenos e escuros, quase negros e sua barba bem-feita e ruiva no mesmo tom dos cabelos, também impecáveis.
— Quem é você e o que faz na minha casa?
— O que você faz sozinha numa casa como essa? Pode ser perigoso sabia? — Ele se aproximou aos poucos, rodeando-a à medida que ela fugia devagar em passos cuidadosos para longe dele.
— Responde a minha pergunta! — ela disse enérgica tentando passar confiança ao seu corpo em tremores.
— Que brava! — O homem sorriu mostrando os dentes. — Eu posso ser seu amigo. Ou não. Depende de você.
Chegando à frente dela, ele segurou firme o taco de beisebol na mão de e retirou-o com agilidade sussurrando:
— Mas posso garantir que um taco de beisebol não é uma boa arma para defesa, gracinha.
se manteve muda, o encarando com a respiração muito mais ofegante do que ela esperava. Ele aproximou-se do pescoço dela afastando os seus cabelos. notou um anel em seu indicador direito, com as iniciais “KM”. O homem cheirou o local do pescoço dela roçando seu nariz gelado na pele macia e dourada de .
— Doce… Mas há algo diferente em você, gracinha.
Mantendo um invasivo contato visual e hipnotizada nele, o deixou parar novamente em frente ao seu corpo. Muito, muito perto. O homem puxou o braço dela com agressividade e sentindo a veia sobressaltada no punho de , ele levou o braço novamente ao seu nariz.
— Mas embora confundível… Doce. O que é você?
— Quem é você? — insistiu.
Com uma risadinha irônica ele puxou o braço em suas mãos fazendo seu corpo chocar-se ao de . Tão mais perto, ela pôde notar que os olhos escuros dele não eram como achou, quase negros, mas sim, tinham uma tonalidade de vermelho sangue, um vinho escuro...
— Eu quero você comigo — ele declarou roçando o nariz dele na face de .
E de repente a porta da casa se abriu revelando Erick, com a arma apontada na direção dos dois. O policial gritou:
— Solte-a e se afaste imediatamente!
O homem continuou rindo e quando Erick ameaçou atirar, ele beijou os lábios de . Ela encarou Erick de olhos saltados, à espera de que ele fizesse algo a mais do que largar a arma no chão e sair pela porta da frente. Que raios de reação foi aquela de Erick? Era sério que ele a abandonaria ali?
Ao partir do beijo, o homem sorriu para ela. Havia um olhar maligno nele. estava assustada demais para se mexer, então ele afastou seus corpos e voltando-se em direção à cozinha parou próximo à mesa de recados. Pegou o porta-retratos de e o observou lhe perguntando:
— Qual seria o seu último…
Imediatamente parou de falar e olhou descontente em direção à porta da sala. Deixou o porta-retratos no lugar e sorrindo com a mesma ironia de antes, concluiu para :
— Qual seria o seu último desejo? Reflita sobre isso, gracinha.
E saiu pela cozinha ao terminar de falar. escutou o barulho de portas de carro. E logo, Charlie surgiu com a arma empunhada, a encontrando sozinha e trêmula.
— Tem mais alguém por aqui? — perguntou se aproximando dela cauteloso, balançou a cabeça silenciosa, negativamente e logo ele estava a abraçando. — O que houve, filha? Está tudo bem?
— Cadê o Jacob?
— Já está o perseguindo.
— Ele demorou!
— Eu o fiz vir de carro comigo, desculpe.
— E o Erick?
— Não havia ninguém lá fora e nenhuma viatura. Ele esteve aqui? — disse Charlie confuso.
— Sim! Entrou e ameaçou o cara. Deixou a arma cair ao chão antes de sair pela porta. Parecia hipnotizado.
— Vamos sair daqui, Jake sabe se cuidar e vai nos encontrar na reserva.
aguardou Charlie no sofá da sala enquanto ele verificava e trancava os cômodos da casa. A ficha dela caiu e a partir dali a mulher se deu conta do risco corrido. Afinal, quem era aquele homem?
Ao entrar na viatura, Charlie não perguntou nada até chegarem à reserva.
Capítulo Vinte e Quatro
Os frios
Passados alguns minutos que a viatura de Charlie havia saído da casa de , ela se lembrou de que havia deixado o carro parado em frente à sua casa. Contudo, antes mesmo de retornarem, Jacob telefonou para ela. Enquanto ela o lotava com indagações pertinentes a quem era aquele homem estranho, Jacob pediu calmo para que também se acalmasse. E assim, avisou que os encontraria na reserva. pediu para que ele levasse o seu carro, cujo as chaves, a mulher havia deixado na mesa da sala.
— Como vou entrar para pegar a chave? — Jacob perguntou a respeito de estar tudo trancado.
— Não importa mais, pode arrombar a porta se for preciso. Amanhã mesmo eu retornarei para esvaziar esta casa!
— Tudo bem, tente se manter calma.
Charlie e ela não conversaram no caminho até a reserva. observava a mata do lado de fora imaginando se aquele homem peculiar estaria por lá rondando a região. Olhou para o rosto de Charlie na intenção de afastar os seus pensamentos e se distrair, porém, a face sempre tão pacífica do delegado se emoldurava num cenho ranzinza e meticuloso. O que o senhor Swan estaria a pensar? Decidida que sua curiosidade esperaria, manteve o silêncio, deixando Charlie a sós com seus pensamentos.
A viatura parou no pátio da reserva e Billy balançava-se em sua varanda, numa cadeira de balanço. Sue, ao seu lado, conversava com Seth. O jovem lobo, ao notar a chegada, ergueu-se indo em direção à e Charlie.
— ! Você está bem? — disse Seth abraçando-a apertadamente.
— Sim, por sorte.
— O que houve, Charlie? — O delegado apenas encarou Seth e e, abaixando a cabeça, seguiu na direção dos mais velhos.
— Viemos em silêncio todo o caminho, ele compenetrado em seus pensamentos. Onde estão os meninos?
— Foram vasculhar.
— O que você acha que está acontecendo?
— Primeiro me conte a sua história — Seth pediu.
Os dois foram andando na direção dos outros, e logo contou sobre o ocorrido. Billy, Sue e Charlie se entreolharam duvidosos. Ela já conhecia muito bem aqueles olhares e sabia que não conseguiria arrancar nenhuma informação antes da hora. Apenas aguardou Black voltar, bem como os demais garotos. Seth e ela conversavam afastados dos mais velhos, e com ele, sentiu que poderia arriscar uma resposta.
— E então, o que você acha, Seth? Será que era apenas um ladrão?
— Eu diria que pode ser um ladrão ou um assassino, ou qualquer coisa. As características físicas não podem definir. No entanto, a reação de Erick me preocupa… Você disse que ele pareceu hipnotizado?
— Erick não abandonaria o seu posto. E jamais me deixaria em risco, apesar de nossas diferenças. Ele ficou estático ao perceber o homem, largou a arma e foi embora!
— É, uma reação incomum demais para o policial “caça lobos”.
— Eu realmente gostaria de entender, numa outra hora, esta rixa de vocês.
— Não temos nada contra ele. Como eu disse, ele que é um “caça lobos”. Sobre o seu amiguinho misterioso… Vamos aguardar Jake chegar, com ou sem informações.
— Eu li a respeito dos “frios”, Seth, e Emy me contou sobre os vampiros. Os Cullen. Os Volturi. E Bella.
Seth olhou para ela, boquiaberto por uns instantes e, notando que enfim descobrira os últimos segredos, ele se posicionou sobre o assunto.
— E eu acho que aquele homem, também era um deles — concluiu.
— Achamos o mesmo, então.
Jacob surgiu com o carro dela atraindo a atenção de todos. Primeiro, ele caminhou até seu pai e falou algumas coisas em baixo tom, permitindo Charlie e Sue o ouvirem, enquanto Seth e ela apenas observavam do canto da varanda, mas não demorou muito para que ele viesse na direção da mulher.
Seus olhos aflitos. Urgentes. Preocupados. Com passos firmes ele se aproximou dos dois, e , que estava sentada, mal conseguiu processar as ações de Black quando ele a puxou com ferocidade para seu corpo, envolveu-a em um abraço apertado, e afundou seu nariz no pescoço dela. Como de costume, ela deveria morder seu ombro. Aquele era o cumprimento deles, mas não pôde. Ele havia se declarado para ela quando a mulher saiu desnorteada atrás de Scott. não conseguiu reagir ao abraço carinhoso de Jacob, porque não sabia como fazê-lo.
Ela deveria fingir que não ouviu Black dizer que a amava e lutaria por ela?
Ela deveria agir como sempre, correspondendo o carinho amigo que eles tinham?
Ela deveria se entregar ao desejo profundo de aceitar os sentimentos dele, e com isso abraçá-lo sem pudor?
Ela não sabia o que fazer, mas instintivamente, fez: abraçou Black de volta. Ela teve medo de nunca mais ver aqueles olhos e a postura ranzinza, o sorriso solar…
Jacob, ainda abraçado a ela, afastou sua cabeça do pescoço de e olhou para Seth tocando seu ombro. Seth sorriu para os dois, um cretino sorriso de alguém que acha saber mais do que há.
— Por que saiu daquele jeito, Mani? — Fora a primeira coisa que Jacob disse. Seth beijou a testa da amiga e se retirou para deixá-los a sós.
— Eu precisava pensar.
— E se colocar em risco é a sua forma de pensar?
— Não. Eu fui dar uma volta na cidade. Quando estava a caminho da reserva, decidi parar em casa para…
— Sua casa é aqui agora, .
— É, eu sei. Não vem bronquear comigo não, como eu imaginaria que…
— Você veio para cá ciente dos perigos que corria no Kalil. Não deveria estar lá a esta hora!
— Por que você está falando desse jeito comigo!? — começou a se irritar.
— Porque eu tive muito medo hoje, ! Um absurdo medo de perder você!
— Ei… — Ela notou o descontrole despreocupado de Jacob e, cuidadosa, tocou em seu rosto. — Eu estou bem, você não vai me perder. Não vai ser tão fácil assim...
Os olhares de ambos se cruzavam enquanto ela o consolava. Não conseguia decifrar o que os olhos dele diziam para ela, mais uma vez. Mas ela estava feliz por vê-lo preocupado consigo. sorriu de canto a fim de passar falsa calma a ele, e exatamente após soltar seu rosto, Jacob puxou o pescoço de em sua direção, segurou os cabelos dela com uma força abrasadoramente confortável, e finalmente beijou a boca da mulher. Um beijo cheio de desejo, carinho e necessidade. E o correspondeu no mesmo tom. Eles puderam ouvir a risada fraca dos três mais velhos na varanda e os murmúrios comemorativos de Seth.
Não sabia qual a razão de uma lágrima escorrer por um dos seus olhos, mas Luan sentiu o mesmo acontecer a Black, molhando suas faces de um jeito cúmplice. Parecia um encontro de almas e ele sorriu entre o beijo. O primeiro beijo deles. E depois, quando suas bocas se distanciaram satisfeitas, eles se encararam, sorridentes. Jacob abraçou o corpo de sua Mani ainda mais forte, apertou sua cintura e iniciou um segundo beijo, mais calmo. À medida que suas respirações voltavam ao normal, eles deram-se as mãos. O quase silêncio era acolhedor, mesmo com o som baixo da vitrola de Billy num instrumental de guitarra já conhecido por . Agora eles tinham uma trilha sonora como todo casal que se preze. “Dream On” dominava, baixinho, o momento de muda voz e carinhos tão esperados daqueles dois.
mordeu o lábio inferior balançando a cabeça negativamente, sorrindo boba. Tola e desacreditada. Black a acompanhou numa risada muda e desajeitada. Sue, Billy, Charlie e Seth se retiraram os deixando a sós na varanda. Não que fosse necessário, pois, não havia mais nada além deles próprios e de sua nuvem de sentimentos mistos para ambos. E só quando o silêncio da vitrola de Billy pôde ser notado, que Black e saíram daquele transe temporário de dois apaixonados, se abraçando e confortando-se um sob a proteção do outro.
— Droga, Billy, podia ter esperado o fim da música para desligar — reclamou.
— Meu pai vai adorar saber que vocês vão compartilhar Aerosmith. — olhou duvidosa para Jacob e então, ele esclareceu que Aerosmith não era muito o seu estilo musical.
— Bem, o que você descobriu? — então se afastou um pouco dele desconversando e perguntando sobre o estranho em sua casa.
— Não consegui pegá-lo. Mas segui seu rastro até a antiga casa dos Cullen.
— Eles voltaram? Digo... Os Cullen?
— Aparentemente não, mas há outros aqui.
— Os ataques podem ser …?
— Sim, mas eu estranho não termos notado eles antes.
— Como assim?
— Não é comum que eles transitem tanto tempo entre nós.
— Você acha que são outra coisa?
— Não, eles são frios. Eu tenho certeza. Dois. Mas de alguma forma eles conseguiram se camuflar muito bem. A casa dos Cullen parece habitada há mais de um mês.
abraçou Jacob e eles sentaram-se na varanda compartilhando o aperto quente dos braços um do outro. Entre conversas aleatórias – que não englobavam mais o assunto dos frios e nem tocavam no assunto “casal” –, Jacob e ela riram contemplando o céu da reserva. Pouco depois, eles beberam chá e acenaram aos meninos que chegaram mais tarde. Eles perguntaram a se ela estava bem e, cansados, se despediram. Haveria tempo para que contassem sobre o que Jacob descobrira e o que aconteceu com ela naquela noite. Por fim, Jacob e foram dormir.
Tanto Black quanto ela, não estavam confortáveis para iniciar uma discussão sobre “o que” eles teriam ou quais resultados aquele beijo traria, apenas continuaram sua relação amiga e confusa. Ele pegou suas coisas e foi dormir na sala e se preparou novamente para dormir em sua cama. Antes de apagarem em sono profundo, os dois deram um último beijo de boa noite um no outro, e se direcionaram às suas respectivas camas.
No dia seguinte ao amanhecer, bem mais cedo que o habitual, acordou. Após se vestir para o trabalho, ela saiu de casa deixando Billy e Jacob ainda adormecidos. Ao passar pela sala, olhou para Black que dormia tranquilo no sofá e antes de fechar a porta o observou com carinho, mais uma vez, sorrindo. Depois saiu com seu carro, e por algum motivo que provavelmente teria a ver com o beijo do dia anterior, ela foi tomada de nostalgia musical. Colocou um CD antigo, no seu carro antigo, no aparelho de som moderno demais para aquele carro, e seguiu até sua antiga casa. Ao contrário do que pudesse parecer, ela não estava desafiando o perigo, sua intenção era outra, totalmente diferente: se livrar do casebre.
, porém, ficou estacionada, com o rock and roll no último volume encarando a construção. Sair do carro ou voltar depois? Decidiu sair e desligou o rádio. Trancou o carro e seguiu para dentro da casa. Uma janela quebrada indicava o modo como Jacob entrou na noite anterior para pegar a chave do veículo. O tal “KM” não estaria ali, e embora ela não pudesse ter certeza, sua intuição pressentia que ele de fato não estaria.
Cautelosa, ela entrou e foi diretamente ao seu quarto. Separou todas as coisas que havia deixado lá e que eram importantes para si: lembranças da sua vida, fotografias, documentos não habituais importantes, alguns dos seus muitos livros e CD’s. Desceu e pegou no seu depósito externo à casa uma caixa de papelão guardada. Antes de retornar para dentro de casa, deu uma boa olhada à volta do quintal dos fundos. Não havia nenhum vestígio de presença humana ou de qualquer outra coisa que fosse. Então, empacotou suas coisas colocando-as no carro, em seguida dando partida à cidade.
Os comércios ainda estavam fechados, alguns de costume abriam, o relógio marcava uma hora e meia anterior ao seu horário na farmácia. estacionou em frente à loja e, caminhando lentamente, passou na banca de jornal. Comprou o noticiário impresso do dia. Cumprimentou algumas pessoas no curto caminho até o Coffee&Bar e entrou, com o mínimo de barulho para uma manhã, mas todo o silêncio de suas botas não eram páreo para aquela sineta da porta. Dois bêbados, um grupo de quatro alpinistas – aparentemente turistas –, um senhor de barba branca, e Joe – que era motorista operador de uma extratora perfuradora de pedras, ele trabalhava na antiga pedreira de Forks – olharam em sua direção quando ela entrou. A mulher acenou discretamente com a cabeça na direção de todos. Joe, que constantemente surgia na farmácia para buscar sua medicação de rotina, sorriu e levou até a mesa em que ela foi se sentar, uma caneca limpa que a garçonete lhe entregara e a cafeteira de mão. Os dois trocaram corriqueiras palavras e ele serviu-a de café, gentil. Logo retornou ao seu lugar e a garçonete chegou.
— Desculpe, , eu estou sozinha esta manhã e aceitei a ajuda de Joe para lhe servir. Bom dia!
— Bom dia, Stacy, e não se preocupe. Pode me trazer um pão quente com bastante queijo, uma xícara de leite quente e um muffin de chocolate?
— Não vai querer waffles? Acabo de colocar na máquina.
— Com mel, por favor.
Elas sorriram uma para a outra e volveu a atenção ao seu jornal. Das tragédias lidas, nada lhe surpreendera. Ela buscou nos classificados anúncios de compra à imóveis e infelizmente não havia nada. Aguardou o seu café folheando devagar cada página. Stacy estava com dificuldades para expulsar os bêbados que insistiam em atormentá-la do balcão. Aquilo irritou , então ela foi até eles.
— Vocês dois! Já é de manhã e a maioria das pessoas desta cidade tem que trabalhar. Não me interessa a vida de vocês ou o motivo para estarem aqui até agora, mas o bar já fechou. E não é porque a garçonete está sozinha por enquanto que vocês dois podem atormentá-la em seu trabalho. Olhem em volta: as pessoas estão tomando seu café da manhã para irem aos seus respectivos trabalhos. E ninguém está bêbado. A hora da farra acabou, senhores, então paguem suas bebidas e deem licença!
Os dois encararam , silenciosos, se entreolharam e, resmungando grosserias para ela, levantaram pagando suas contas e saíram cambaleantes do bar. Stacy a agradeceu informando que já estaria a caminho de sua mesa com os seus pedidos.
Enquanto voltava para a mesa, o jovem garçom da manhã adentrou o bar, atrapalhado. Com certeza, estava atrasado. Stacy o olhou contrariada e caminhou até a mesa de , e assim que ela saiu, a sineta do bar denunciou a chegada de mais alguém.
— Que apetite, hein? — olhou para frente e lá estava Erick sorridente. — Bom dia, .
— Bom dia, Erick. Sente-se.
Sem muitas delongas ele sentou-se à mesa e fez seu pedido ao garçom recém-chegado. ofereceu a ele dividir seus waffles e sem a menor cerimônia, Erick cortou um pedaço e embebendo-o de mel, o comeu. Algo estava diferente. Erick reagia como se ainda estivessem os dois na primeira semana da mulher em Forks, muito mais receptivo, muito mais íntimo. Sem falar que não parecia estranho ou constrangido por ter abandonado em casa naquela situação de perigo.
— O que houve com você ontem? — Ela disparou o analisando.
— Engraçado você perguntar, eu não lembro de nada. Não tenho a menor memória do que eu fiz ontem, só sei que acordei hoje com dor de cabeça. Devo tê-la batido em algum lugar ou bebido muito ontem…? Não faço ideia...
Ele forçou os pensamentos em uma careta, e tentou se recordar a todo custo. perguntou a ele a data daquela manhã. Ele, mesmo estranhando o jornal à mesa, ainda assim respondeu corretamente. Ela então achou por melhor, desconversar e os dois continuaram ali tomando café juntos.
— Erick… Por que você nunca me falou absolutamente nada sobre a Bella? Você sempre soube que eu vim por ela e mesmo assim, nunca disse nada.
— Você já deve saber que ela se envolveu com um pessoal estranho, não é?
— Sim, os Cullen.
— É. Eles não fizeram nada suspeito enquanto estiveram aqui, mas tenho pressentimento de que não eram boas pessoas, mesmo Carlisle tendo sido um médico dedicado em nossa cidade por tanto tempo.
— Você ainda não respondeu a minha pergunta.
— Não queria ser eu a te dar a notícia de que ela havia ido embora com eles e deixado um rastro de mau presságio na cidade. As pessoas estranhavam os Cullen, não apenas por serem muito fechados entre si, mas porque eles passavam algo de sombrio a todos. Sabe como é, tudo o que é misterioso e desconhecido causa espanto, e com eles não era diferente. A Bella já era esquisita, e digamos que ela não se uniu com a turminha mais popular da cidade.
— Entendo.
— Ao contrário de você.
— Não começa.
— Só uma brincadeira, sem malícias. — o olhou duvidosa. — Juro, ! Eu não me importo mais com a sua paixão pelos indígenas da reserva. Desde que eu e você possamos ser amigos.
teve vontade de dizer para ele naquele momento: “Amigos não abandonam um ao outro em um momento de perigo”, mas não seria justo. Eles continuaram a conversa e, ao acabar de comer, ela se despediu. Ao caminho da loja, passou em frente à floricultura. A mesma velha senhorinha floreira, dona do lugar, estava varrendo sua calçada e observou um anúncio de trabalho colado à vitrine. Pensando em Seth, ela mandou uma mensagem para ele.
“Bom dia! Venha até a cidade e passe na floricultura. Você estava querendo trabalhar, não é? Estão precisando de carregador. Até mais, .”
Entrou na farmácia, iniciou o sistema e ao ponteiro soar seu “tic” exato às oito horas, ela abriu a loja. Separou as medicações da população local, pois era dia de distribuição gratuita. Não demorou muito para que a população idosa surgisse com suas receitas médicas, ávidas pelas suas caixinhas de anti-hipertensivos, antidiabéticos, medicações controle, entre outros. Aquele projeto dos irmãos Hernando, de distribuir as medicações que o sistema público não podia ofertar à população, era tão fantástico!
Por volta das dez e meia da manhã o movimento diminuiu. avistou Seth sair da floricultura e foi até a calçada da farmácia, a fim de acenar ao rapaz, e logo ele foi até a amiga. Havia conseguido o trabalho e agradeceu a por aquilo. Seria um trabalho de meio turno e, portanto, uma ideia que já martelava em sua mente fez-se oportuna. ofereceu a Seth outro trabalho de turno posterior como entregador da farmácia. Eles ainda não ofereciam “disque entrega”, mas já estudava que existia uma necessidade. E Seth aceitou. A amiga avisou a ele que prepararia a papelada burocrática, os anúncios com a linha telefônica e o novo serviço de entregas e assim, o chamaria para consolidar tudo.
O relógio da igreja badalou as doze horas, e já estava com muita fome de novo. Seu apetite duplicara desde que ela foi morar na reserva e parando para pensar naquilo, decidiu que precisava voltar a fazer exercícios. Às doze horas e trinta minutos, Steve surgiu para seu turno.
— Já almoçou?
— Sim, chefe.
— Para com isso, garoto! Então, bom trabalho e qualquer coisa me liga.
— Tranquilo.
Ela voltou para o Coffee&Bar, não antes de passar no Carter’s Market. Na frente do mercado olhava, sem entrar, para o estabelecimento à procura de Scott. E não o viu, mas foi vista por senhor Junior Carter. O senhor Carter sorriu para ela e então, a mulher se viu obrigada a entrar.
— Bom dia, !
— E aí, Senhor Carter, tudo bem?
— Sim, sim! Em que posso te ajudar?
— Ah, nada não, eu só vim ver se o Scott estava por aqui e saber se ele está bem.
— Ele está bem sim. Mas não está trabalhando hoje.
— Certo… Mande um abraço meu a ele, Eva e Peter. — já ia se retirando do local quando Junior Carter a chamou de volta:
— , você não está chateada pelo que Peter disse, não é?
— De forma alguma. Peter agiu muito bem protegendo o irmão.
— Fique tranquila, nenhum de nós te culparíamos pelos sentimentos de Scott. Ele foi avisado há muito tempo do que aconteceria e decidiu assumir o risco.
— Eu só não queria ter que me afastar dele.
— E não tem. O que a faz pensar isso?
— De certa forma, Peter estava certo. Scott pode não saber o que faz, mas eu sei o que estou fazendo.
— Muitas coisas começarão a se encaixar agora, menina. Não se culpe por nada.
— Outra premonição, senhor Carter?
— Isso é bobeira que o povo diz…
— Tudo bem, senhor Carter… Eu acredito na sabedoria indígena. — Ele olhou surpreso por ela saber de sua origem, e sorriu de canto, um pouco assustado. largou-lhe um sorriso divertido e acenou para ele, já de costas.
Ao entrar no pequeno estabelecimento – que de manhã era um café e restaurante, à tarde café novamente, e no início da noite um bar – a mulher se sentou à mesma mesa da manhã, que estava vaga, e pediu ao jovem garçom o seu almoço. Erick e Scott chegaram juntos, sendo denunciados pela sineta, e olharam na direção da gerente da farmácia. Scott se aproximou, e após notar para onde ele iria, Erick acenou com a cabeça para ela e seguiu para o lado oposto. Scott beijou o rosto de e sentou-se à frente dela.
— Boa tarde, como você está?
— Boa tarde, Scott. Eu estou bem e você?
— Preocupado com ontem. O que houve?
— Do que você está falando?
— Você foi até minha casa para falar algo comigo, mas saiu antes que eu chegasse.
— Não houve nada, só estava tarde para aguardar você chegar.
— Entendo. Bem, e o que você queria conversar?
— Nada propriamente. Eu só saí um pouco para espairecer.
— Se precisava espairecer, é porque algo aconteceu…
— Eu só queria te ver, Scott. Não aconteceu nada.
Ele fez um silêncio, pouco constrangedor. Ela não queria soar uma grosseira com ele, mas após a conversa com Peter e o beijo com Jacob, não continuaria naquele jogo com Carter. Não era justo a ele, e nem a ela, além do mais, depois do que Peter disse, ponderou todas as vezes que, mesmo sabendo do sentimento de alguns amigos, e não os correspondendo, ela continuou uma amizade com quem fosse apaixonado por ela. E todas essas ponderações a fizeram perceber que ela não sabia o quão doloroso aquilo poderia ter sido. apenas sabia que seria extremamente difícil se do outro lado fosse ela. Seth dissera aquilo. Bella, há muito tempo, dissera também. E agora ela faria diferente com Scott.
— Desculpe, Scott. Não queria ser grosseira.
— Eu só quero entender se eu te fiz algo, ou se… Alguém te fez algo ontem em minha casa.
— Não. Eu só… Estive pensando e, sinceramente, Scott…
Stacy chegou com o almoço à mesa, e Scott contrariado, despediu-se dizendo que iria deixá-la almoçar e que eles conversariam depois. Ele não estava com raiva, só chateado. Diga-se até, triste. E isso sem ao menos tê-lo contado o que pretendia. Beijou a testa da mulher e foi sentar-se algumas mesas mais afastadas.
Ela almoçou em silêncio e antes de sair do estabelecimento, se direcionou até ele e marcou de passar em sua casa para conversarem.
— ! — Scott chamou antes que ela o desse as costas. — Poderíamos sair, o que você acha?
— Eu não sei, Scott. Acho melhor eu só passar na sua casa.
— Somos amigos, não é?
— É… Tudo bem.
— Eu te ligo mais tarde.
Antes de retornar à reserva ela optou por dar uma volta pelos arredores de Forks atrás do seu terreno ainda não resolvido para o laboratório. Aquele amontoado de problemas que surgiam, um atrás do outro, a fizera atrasar a construção. dirigiu entre bairros, mas não adiantaria muito fazer daquela forma, então retornou à cidade e visitou a única imobiliária local.
Após algum tempo, cerca de 40 minutos, conversando sobre o que procurava e sobre preços, condições de pagamento entre outras coisas, algumas visitas foram feitas. O corretor mostrou alguns terrenos bons, outros ótimos, e alguns extremamente fora de cogitação. “Não basta aquele elefante branco no Kalil, eu não posso deixá-lo me enfiar outro terreno ruim!”, pensava enquanto observava o terceiro terreno que o corretor lhe mostrara. Afastado da cidade, e pequeno. Ela já havia favoritado alguns, então, dizendo que pensaria nas propostas e retornaria a procurar por ele, se despediu. Novamente, dirigiu com intenção de procurar outras possíveis oportunidades que talvez ele não houvesse lhe mostrado por algum motivo nas regiões que havia gostado mais. Enquanto cantarolava “High by the Beach”, da Lana Del Rey, ela pensava em como vender sua casa mal-assombrada.
A corretora da cidade não pegaria aquele imóvel para vender novamente, pois fora o grande alívio deles saírem daquilo. teria que encontrar um comprador antes de recorrer a “Maine’s Empreendiment”. Quando deu por si, havia avançado ruas a dentro de um dos bairros, e ela nunca estivera ali. O final daquela rua não tinha saída. suspirou irritada com sua distração e deu a ré, retornando. Novamente atenta à estrada, avistou uma placa à direita que dizia “Cullen’s Territory”, então ela parou o carro à beira da entrada. Observou por algum tempo a estrada de chão que imergia pela floresta densa.
Má ideia! Má ideia?
Aquele era o antigo território dos Cullen, Jacob avisara que os frios poderiam estar ali. deveria pisar no acelerador e partir o quanto antes, contudo, algo dentro dela a desafiou a seguir em frente. E foi o que ela fez. Como em quase todos os momentos desde que ela chegara em Forks, ali estava desafiando a morte com sua impetuosidade.
Dirigiu devagar até chegar a um ponto final da estrada. Não havia como seguir de carro, então ela desceu. Colocou as chaves do veículo e o celular em seus bolsos, caminhou lenta e cuidadosa até uma encosta da floresta. Os pinhos desciam a encosta formando um monte retilíneo de árvores enfileiradas e decrescentes. E lá embaixo, uma mansão de vidro. Tudo inóspito demais, silencioso demais, e cristalino demais.
desceu até aproximar-se da mansão. Não havia sinal de vida ali, e aquilo a preocupava muito mais do que se houvesse alguém. Sua respiração começara a falhar, ela já estava com medo, como poucas vezes, mas de uma intensidade absurda. Então recordou-se da noite passada em que confrontou o estranho em sua casa. Por mais que tivesse percebido a estupidez que cometeu em ir até lá, não podia simplesmente dar as costas e correr de volta ao carro. Ela não conseguia.
Passos fraquejantes, olhos atentos, e seus braços envolvendo o seu tronco. Seguiu até a varanda da luxuosa casa vazia, espiando tudo por fora. Nenhum móvel. Nenhuma presença humana. Nada além de silêncio, luz e poeira. Retornou à entrada da casa e olhou mais uma vez ao redor. Não havia ninguém. subiu a encosta mais atenta e apressada do que quando chegou ali. Ela tivera sorte. De novo.
Desesperada para entrar em seu carro, ela abriu a porta e entrou. Afivelou o cinto sem dar-se o tempo que precisava para respirar fundo e se acalmar. Foi tomada repentinamente de um medo fantasmagórico e suas mãos tremiam, como se ela pressentisse que cada segundo ali era um segundo mais próximo da morte. girou a chave na ignição e ao olhar para o vidro de sua janela, o avistou ao seu lado. Gritou de susto.
O mesmo homem estava ali a observando com um sorriso de canto. Ele bateu no vidro da janela dela indicando para abaixá-lo. decidiu que pisaria no acelerador e daria ré sem importar se aquilo seria sensato ou não. Afinal, o que seria sensato naquele momento!? Enquanto encarava os olhos escuros do homem, imaginou o que ele faria se ela acelerasse. Não seria uma boa ideia demonstrar que ela queria fugir. abaixou o vidro torcendo para ver os olhos de Jacob, mais uma vez.
— Ei, docinho, o que faz por aqui? — ele perguntou escorando-se à janela do carro assim que ela a abriu.
— Você mora aqui? — perguntou diretamente.
— Depende do que você quer. — Ele tinha um ar displicente e autoconfiante. Encarou os olhos dela como se a estivesse decifrando. Embalou-a a se deixar totalmente entregue. Algo magnético e inexplicável.
— Não é como se eu estivesse invadindo a sua casa para ficarmos quites — disse irônica na busca de se acalmar e soando amigável pediu desculpas. Ele sorriu fraco sem perder o contato visual com ela.
— Em que eu posso te ajudar?
— Bem, me disseram que esta casa estava vazia e abandonada. Decidi dar uma olhada antes de ir à corretora.
— Você curte um lugar mais ermo, não é?
— Na verdade não seria para morar.
— Hum… E o que seria? — ele perguntou com genuíno e sedutor interesse.
— Desculpe, por mais que você tenha invadido a minha casa e tenhamos respirado quase a respiração um do outro ontem, eu não acho que deva compartilhar a minha vida pessoal.
— Eu gostei muito de você — ele disse respirando profundamente, e aqueles olhos negros hipnotizantes não se desviaram dos olhos dela. — A casa está mesmo abandonada. Estou passando uns dias aqui.
— Sabe, tem uma corretora na cidade.
— Eu sei, gracinha. Mas eu gosto deste lugar. Cheguei há pouco na cidade e ainda não tive tempo de procurar um trabalho ou uma moradia.
— Um estranho na cidade que invade casas abandonadas.
— Me desculpe por ontem, mas a sua casa me pareceu mesmo abandonada.
— Eu não costumo viver mais lá.
— Hum… Isso explica a sua ausência... — ele comentou como se estivesse ciente daquilo há algum tempo.
— Por que invade os lugares em vez de se estabelecer logo?
— Eu sou um aventureiro. Contudo, acho que minha estadia por esta cidade será mais permanente do que o planejado.
— Entendo… Bem, boa sorte.
girou a ignição do seu Mustangue e preparou a marcha, enquanto o estranho se afastou ainda sorrindo, a encarando. Ele deu passagem para que ela desse partida e, sem hesitar, ela saiu dali atenta ao redor. O misterioso homem observava-a parado, e enquanto o encarava pelo retrovisor, ele deu as costas e seguiu em direção à mansão. E até o jeito como ele andava era inebriante. Ela estava pálida, e como todos na cidade faziam questão de afirmar, aquela não era a sua cor.
Na reserva, Leah roeu suas unhas, nervosa, sentada à entrada de sua casa e foi andando na direção do carro de quando notou que algo havia acontecido. desligou o motor e recostou-se no banco do motorista. Respirou dez vezes, entre inspirações e expirações concentradas. Não queria abrir os olhos, mas ao fazê-lo, lá vinha Leah com ar sondante à frente do carro, então ela desceu.
— Aconteceu alguma coisa, ?
— Não, só não estou me sentindo muito bem.
— Você está pálida! E seu pulso acelerado — a quileute disse ao tocar os punhos da mulher: — Vamos, vou te examinar.
— O quê?
— Esqueceu-se que sou uma médica quase formada?
— Totalmente.
As duas seguiram para a casa de Sue, e após um copo bem cheio de água seguido por uma dose de café – que Leah não recomendava, mas não obedeceu – elas se sentaram à sala da cabana para conversar.
— Onde estão todos?
— Minha mãe foi fazer “sei lá o quê” com a Emy. Seth está trabalhando, como você já deve saber. Embry foi dar uma volta na praia e o resto não faço a menor ideia, até porque não sou babá de ninguém. — Ela roeu as unhas novamente.
— Certo. Quer falar sobre este humor?
— Quer falar sobre seu súbito mal-estar?
— Não pergunto mais. Já entendi.
— Desculpe, índia branca… — Leah disse acariciando a testa da amiga, suspirando pesado. — Seth contou para nós sobre o ocorrido de ontem e o que Jake descobriu.
— Ah, entendi. Está preocupada com os frios também, não é?
— Não. Na verdade, não. Mas já que tocou no assunto, eles também estão me deixando extremamente irritada! Que droga! Enquanto eles não forem exterminados, nós não poderemos ser também!
— O quê? — Leah encarou confusa, nervosa e um pouco… Chorosa.
— Eu não costumo falar dos meus sentimentos, mas você já compartilhou tanta coisa conosco…
— Sabe que pode confiar em mim, Leah, eu não vou falar a respeito com ninguém.
— Eu escolhi fazer medicina porque acredito que posso reverter este “dom” que nós temos.
— Sério? Eu achei que você não se importasse.
— Nenhum de nós gosta exatamente de ser o que somos, ! É horrível compartilhar todo pensamento com uma matilha, esta ligação que temos, nos impossibilitando de sermos livres… — fez sinal para que ela continuasse a falar, mesmo que não entendesse. — Se um lobo deixa a matilha, ele é um lobo sozinho. E acredite… Não é algo bom. Assim como não é bom estar preso num poder sobrenatural que te impede de viver uma vida normal. São tantas coisas… E antes, quando decidi que faculdade faria, ainda tinha o maldito imprinting que não surgia. Então eu volto para cá, porque ele finalmente havia acontecido, com esperanças de conseguir me encaixar nisso tudo e… E aí o meu imprinting se transforma num lobo muito mais fora de controle e nada mais é garantido.
Lágrimas fracas escorreram dos olhos de Leah. Sua pose ainda era a mesma pose de loba corajosa e insensível. Um contraste admirável. E por saber que ela não era do tipo que demonstrava fraqueza, optou por não tentar consolá-la, servindo apenas de ouvidos dispostos.
— Tenho estudado tanto, e quando eu começo a enxergar uma saída, veio esta transformação do Embry!
— Espera… Você conseguiu uma espécie de cura?
— Não posso afirmar nada. Eu ainda nem testei. E nem posso contar aos outros na reserva, porque eles acabariam comigo. Com toda certeza, a posição de alfa do Sam não seria sensível às minhas razões. Eu pretendia testar em mim, mas após tudo o que veio acontecendo eu não sei se estou pronta para ser uma pessoa comum, caso dê certo.
— Leah! Isto é fantástico! Quero dizer… É uma descoberta fantástica!
— Eu sei. Mas não é nada certo, pois ainda não tive resultados. São teorias. Estudos. Que penso em deixar de lado por um tempo.
— Entendo… Deve ser bem difícil lidar sozinha com tudo isso.
— Pior é esconder o assunto. Eu não tenho privacidade de pensar no assunto quando estou aqui, , porque a proximidade com os outros pode fazer a conexão revelar meus pensamentos.
— Espera… Eu achei que vocês pudessem ter domínio sobre os seus pensamentos.
— E temos. Mas Sam tem um pé atrás maldito comigo desde que o enfrentei há muitos anos.
— Eu já notei que vocês não se dão muito bem.
— Já passou da hora de Jake assumir suas responsabilidades também!
— O que ele tem a ver com tudo isso?
— Jake é o alfa por herança. Mas desde que Sam assumiu, ele não mencionou tomar seu posto. Só que quando o assunto é do interesse dele, ele não se importa de ir contra as decisões de Sam.
— Nossa, quanta confusão. Até eu que sou normal já estou exausta.
Leah riu baixinho ao observar o semblante cansado de e, esbarrando fraco no braço da amiga, advertiu que ela não tinha mais o direito de fugir deles, causando um risinho entre elas.
— Mas, eu volto em breve para Seattle retomar meus estudos e até lá poderei decidir como agir. Se não fossem os frios a voltar agora, eu testaria em mim e voltaria para salvar os outros.
— E se eles não quiserem?
— Eu salvaria pelo menos o Embry.
— E se ele não quisesse?
— Ele quer.
— Acredito que sim. — pensou em como realmente aquela parecia ser uma decisão em conjunto entre Leah e Embry, diante de todas as dificuldades que os dois haviam passado enquanto vestiam aquela pele selvagem. — E Leah, quando você parte?
— Daqui uma semana.
— E como o Embry está em relação a isso?
— Não sei, quando contei ele apenas disse: “vou dar uma volta na praia”.
— Era o Embry mesmo ou o Jacob? — As duas riram novamente.
— Verdade! É bem mais o tipo do seu lobo fazer isso.
— Ele não é meu lobo, para com isso.
— Nem mesmo depois do beijo de ontem?
— O quê? — recordou-se que Seth não guardava segredos, e riu.
— Quando pretendia me contar, sua idiota?
— Não sei… Nós não estamos lidando com isso… Quero dizer, depois do beijo não tocamos no assunto. Fomos dormir e eu ainda não o vi hoje.
— Qual é!? Vocês não vão ficar fazendo jogo depois de tanto tempo, não é? Assumam de uma vez estes sentimentos!
— É só que, talvez, seja mais prudente irmos com calma.
— Mais calma do que vocês já vêm tendo? — Leah a encarava desacreditada.
— Bom, eu não posso ir direto ao assunto. Foi o Jacob que me impôs vários tempos, pausas e distâncias! Lembra?
— Tá! Mas pelo que eu pude entender, ele finalmente se declarou para você e no mesmo dia te beijou! Eu acho que ele está tentando recuperar as chances que vocês jogaram fora, não é?
— Pode ser, mas eu quero tudo muito claro a partir de agora. Tudo muito bem definido.
— E termine logo com o Scott Carter!
— Nós não temos nada.
— Sim, eu sei. E você vai deixar claro que não terão.
— Eu já faria isso de um jeito ou de outro. Vamos sair hoje e vou fechar os parênteses abertos.
— Certo. Então vamos! Você se resolve com Jake e eu vou atrás de Embry. — Leah puxou do sofá. Perguntou se ela se sentia melhor e depois que a amiga afirmou, elas saíram.
Black saía de sua cabana e, ao ver ao lado de Leah, sorriu como poucas vezes tinha feito. Segurou na cintura de após eles se aproximarem e a beijou. Leah soltou um falso uivo, zombando, em comemoração. sorriu sem graça, e depois de acariciar seu rosto, Jacob mandou Leah calar-se. Ela advertiu-o que havia chegado se sentindo mal e desceu em direção à praia.
Black e ela se sentaram no banco de carvalho à trilha de descida da praia.
— O que você tem?
— Relaxa, foi só um mal-estar. Nada preocupante.
— Tem certeza?
— Tenho. — apoiou os cotovelos em seus próprios joelhos, enquanto rabiscava o chão com um graveto que encontrou.
— Aconteceu alguma coisa, Mani? — Jake perguntou preocupado e cauteloso.
— Relaxa, Black… Estou pensando em algumas coisas que fiz hoje.
— Que seriam…? — o encarou desconfiada por tanta curiosidade dele. Sem esperar que ela mencionasse qualquer pergunta, Black esclareceu: — Estou tentando participar mais do seu dia a dia.
— Mais? Por quê? — riu divertida.
— Você se incomoda com isso?
— Só estou curiosa.
— Bem… Nós já somos amigos. Amigos com alguma intimidade. E… Eu consegui me declarar ontem e pensei que… — Ele se enrolou nas palavras quase inaudíveis.
Parecia doloroso para Jacob admitir que queria estreitar mais os laços. Abriu a boca tentando pronunciar algum balbuciado, sacudiu a cabeça em negação com aquele sorriso contrariado. Há tanto, tanto tempo não o via agir daquela forma, que ela não poderia deixar de aproveitar um dos primeiros trejeitos de Black que a encantara quando o conheceu.
— Droga, Mani…
— Pensou que devíamos estreitar os laços ainda mais?
— É. O que você acha?
— Isso significa o quê?
— Que nós… Poderíamos — novamente o trejeito de homem tímido ou impassível — namorar?
— Jacob Black. Você está me pedindo em namoro? — sorriu involuntariamente.
— Eu não sei.
— Não sabe? — a mulher indagou, confusa.
— Eu deveria?
— Merda, Black, você não pode dizer algo assim e perguntar se deveria depois! O que você quer?
— Eu quero ficar com você. Para sempre. Mas depois de tudo o que aconteceu entre nós eu não sei se você… — interrompeu Jacob Black beijando-o. Ele não sabia como fazer algo que ele queria e ela também.
— Somos namorados, agora. Pronto. Facilitei para você, ok? — disse o encarando mandona.
— Tá bom. Acho ótimo! — Jacob sorriu solar, com seus olhos ficando pequeninos.
— Céus… Você voltou a ser um adolescente cheio de espinhas?
— Sua idiota.
— Idiota?
— Uma linda idiota.
— Certo, agora somos namorados mesmo.
— E eu nunca tive espinhas, só para você saber. — Eles riram divertidos, e sem se conter, Black a beijou de novo. E poderia ficar ali, aproveitando o carinho de Black se não fosse o seu celular tocando em seu bolso.
— É o Scott.
— O que ele quer?
— Talvez dizer a que horas vai vir me buscar.
— Como assim?
— Preciso resolver umas coisas com ele. — Jacob não sabia disfarçar o ciúme assim como ela, mas compreendeu que era uma decisão que cabia só a ela, com quem e quando se encontrar com alguém.
e Scott combinaram um horário para se verem e depois, ela e Black ficaram juntos sob a árvore, abraçadinhos como dois pombinhos. Um pouco depois, Embry e Leah voltaram, aparentemente bem um com o outro. Black fez questão de contar para eles que, agora sim, ele e eram um casal. Leah tratou de ordenar aos dois rapazes que já poderiam dar os anéis de compromisso delas que, por sinal, estavam atrasados. negou com a cabeça para que Jacob não se preocupasse com aquilo e ele apenas sorriu a abraçando de lado. Embry e Leah se retiraram e Black e continuaram conversando ali. Então ela lhe contou sobre a saga com os terrenos, mas não tocou no assunto da mansão dos Cullen. E não contaria enquanto vivesse. Jacob era capaz de trancá-la no galpão para sempre.
Mais tarde, antes de sair com Scott, terminava de prender seus cabelos e então Jacob começou a sondar sobre qual assunto ela e Scott tratariam. Deixando bastante claro a ele que não haveria razões para desconfianças sobre ela ou Scott, se despediu. Antes que ela saísse, Black explicou que não desconfiava de nenhum deles, e que o hábito de sentir aquele ciúme desnecessário sumiria. Que ele se esforçaria para não ser um “idiota maníaco”. Palavras dele. o beijou sorrindo, e saiu.
Scott e ela retornaram à tribo dos avós do rapaz. Ele não abriria mão da amizade com e deixou muito claro aquilo, contudo, ela fez questão de que o melhor era se afastarem por um tempo. Scott não aceitou. Disse que não era nenhum adolescente imaturo, sabia separar as situações, e que seria infantil da parte dela deixar de vê-lo ou sair com ele por achar que o iludiria. Então lhe contou que estava namorando Jacob. E Scott, a surpreendeu:
— Você acha que eu não esperava por isso, ? Óbvio que eu já havia sacado seus sentimentos pelo Jake. Por que acha que evitei aquele beijo no nosso último encontro?
— Desculpe, Scott. Eu só não quero que você sofra ou se magoe.
— Não sei o que Peter ou meu pai ou minha mãe te disseram. Mas eu não sou criança. Sei me cuidar.
— Desculpe de novo, Scott, não queria te ofender.
— Não precisa se preocupar. Eu sei lidar com um fora, mas e você, ? Vai saber lidar com nossa amizade?
— Claro que vou. Se não for ruim para você, não será para mim. — Ela sorriu e Scott também sorriu tímido e eles se abraçaram.
— Vamos. Vou te deixar em casa, já está ficando muito tarde para perambular por aí.
— Por quê?
— Tivemos dois ataques ontem. Os policiais de Forks estão muito assustados com as proporções dos ataques, como há muito tempo não ocorria e recomendam que os cidadãos evitem sair à noite até que eles tenham controle do que vem acontecendo.
— Não sabem ainda o que vem atacando?
— Não tocam muito no assunto, mas você bem que poderia perguntar ao seu pai delegado e me contar.
— Claro! — concordou, sorrindo e batendo em sua própria testa
Ela saiu do carro de Scott e Billy estava em sua varanda. , no entanto, estranhou aquele fato, porque habitualmente ele se recolhia cedo – quando não ocorria algo que o impedisse – e também por seu semblante preocupado.
— Boa noite, Billy!
— Boa noite, . Divertiu-se?
— Como sempre quando Scott e eu saímos. Foi bacana colocar a situação em pratos limpos com ele também.
— Hum… Então agora é sério, uh?
— É sim. Não foi um pedido de namoro típico, mas… Nós estamos falando do seu filho, não é? — Billy apenas sorriu assentindo positivo e embora tivesse tentado arrancar alguma informação dele, não foi possível. Notando que ele preferia ficar a sós, ela se despediu, e quando já estava na sala, algo martelou em sua mente fazendo com que ela voltasse até o homem.
— Billy?
— Sim? — Girou-se em sua cadeira para encará-la.
— Algo o incomoda nessa minha relação com Jacob? Quero dizer… Você sempre deixou claro ser a favor, mas gostaria de saber se algo o fez mudar de ideia.
— De forma alguma. — Ele sorriu sereno. — Eu só tenho a agradecer o bem que você faz ao meu filho. — assentiu outra vez e com um sorriso tranquilo o deixou.
Passou pela sala, risonha, e voltou passos atrás ao perceber que não havia um Jacob dormindo no sofá. Então sua cabeça girou. Ela ponderou inúmeras vezes se entrava ou não no quarto, teve medo de encontrar Black dormindo na cama. Por mais que já a tivessem dividido, agora era diferente. Eles já eram assumidamente um casal, e com isso não teriam motivos para pudores que antes limitavam suas ações. Apesar de ser impetuoso, Black jamais passaria a linha do consenso, disso ela tinha certeza, e não temia pelas ações dele, mas sim, pelas suas. Entretanto, ela poderia entrar e se deparar com Black acordado, apenas aguardando-a chegar, confiando nisto, entrou no quarto. Jacob dormia. Deitado de lado, com um dos braços passando por cima dos olhos.
pegou um pijama de frio, premeditado. Pé por pé se movimentou pelo quarto e foi tomar um banho rápido. E bem rápido mesmo. Apenas para relaxar e trazer o sono, como ela estava acostumada a fazer. Durante os três minutos sob a água quente, conciliava as lembranças recentes de Black e ela, com os planos futuros. Longe de ela imaginar os dois com lindos pirralhos correndo pelo pátio da reserva, ou os dois com idade avançada compartilhando a varanda de sua cabana. Não que ela não quisesse, mas seus pés tocavam o chão quando se tratava de relacionamentos.
Black havia sim feito com que alçasse alguns voos insanos numa relação que existia só em sua cabeça. A mulher havia passado pelas fases do encantamento, do apego, da desilusão, da posse e, enfim, da realidade: reconheceu o quanto ela cobrava dele sem terem tido uma conversa significativa. Contudo, sempre houvera o interesse, mas interesse não é o suficiente para que exista algo, é necessário diálogo e decisões. Somente após Black contar abertamente que a amava, pôde entender que a decisão já existia, além do interesse. Então, lá estava ela no banho fazendo planos para os dois para o dia seguinte, para aquela semana, para aquele mês. Apenas. Um passo de cada vez.
vestiu-se e saiu em direção ao quarto e, de mansinho, se preparou para dormir. A janela do quarto estava aberta e o luar alto iluminava parte do cômodo, deixando uma penumbra gostosa. Em frente ao guarda-roupa ela observou Black deitado na cama na exata posição de antes, não havia se mexido em nada, e ela estava ansiosa. caminhou calma até a janela do quarto o analisando por inteiro. Uma brisa mansa bateu em seu rosto, ela recostou-se ao parapeito da janela e conversou com a Lua. Uma atividade mental, uma brincadeira que gostava de fazer às vezes. O farfalhar baixo das folhas lá fora... A pouca luz prazerosa daquele quarto... O vento geladinho. E ele, Jacob Black, deitado ali, finalmente totalmente dela... poderia se aninhar em seu abraço quente sempre tão contrário ao clima da noite, sem medo do que alguém iria pensar ou de como ele reagiria, ou ainda, sem medo de abalar ou não a sua amizade com ele. Agora ela poderia se aconchegar em Black como tanto esperou.
Com o bobo sorriso do amor nos lábios, foi até ele. Levantou a colcha que o cobria e como uma pluma, tentou se colocar ao seu lado. Porém, ela não era tão delicada quanto gostaria. O que era surpreendentemente contrário a Jacob – aquele homenzarrão bruto conseguia ser mais imperceptível do que ela com seus poucos, um metro e sessenta de altura. Ele se movimentou um pouco com a presença dela e o olhou com cara assustada, pois não queria o acordar. Jacob abriu os olhos devagar e ao notar que era ela, a abraçou. Sorriu fraco, e beijou seus cabelos sussurrando sonolento em seguida:
— Minha Mani…
— Meu Black — respondeu ela, dando-lhe um selinho carinhoso.
Ele dormiu novamente e, até pegar no sono, ficou encarando cada traço de seu rosto, tão pacífico ali. Afundou-se em seu pescoço para sentir seu cheiro. Com aquele abraço seguro e quente, não demorou para que ela adormecesse também.
Amanheceu um dia solar lindo e estranhou, mas se esperançava com aquele presságio de felicidade. Beijou a ponta do nariz de Black antes de se levantar. Billy estava na cozinha quando ela surgiu, já preparada para o trabalho. Jacob não demorou a acordar e se juntar ao café da manhã. Billy os admirava com um sorriso farto, e comentou o quanto estava feliz por eles, e o quanto Black e ela tinham o encaixe perfeito. O casal sorriu para ele e enquanto terminava seu gole de café, Jacob beijou sua bochecha saindo apressado.
lavou a louça da manhã, em seguida se despediu de Billy. Encontrou Jacob com sua caminhonete – que ela mal reparara na noite anterior, estava carregada de encomendas para entregar – o rapaz, recostado à porta do veículo, gritava para que Seth se apressasse. Seth pegou as chaves de uma das motos de Jacob para ir trabalhar, e Black, sem delongas, as jogou no ar para ele dizendo: “É sua agora, você vai precisar. Se vire com sua mãe!”. Seth estava só sorrisos e agradecimentos aos dois: a Jacob pela moto, e à pelo trabalho que seria álibi para aceitar aquele presente. Eles riram do jeito moleque do amigo mais novo, com os olhos brilhantes se apressando em sair com a moto. Black e se beijaram antes de entrar em seus respectivos automóveis e seguir para os respectivos afazeres.
abriu a farmácia e procedeu com o ritual de rotina. Enquanto fechava o balanço do mês para entregar o relatório aos irmãos Hernando; a corretora lhe telefonou, indicando novo terreno que poderia lhe interessar. Ela já havia escolhido alguns favoritos, mas perguntou algumas coisas por curiosidade, e, por fim, não se interessou. Antes de finalizar, perguntou se eles intermediariam a venda da sua antiga casa, apenas por curiosidade também. Devido aos recentes ataques no Kalil, e todos os problemas já conhecidos, não conseguiu.
— Mas, eu reformei a casa e entendo que o momento não é de valorização pela região, contudo, acredito que o preço ainda é maior do que foi vendido a mim pelas melhorias feitas recentemente — ela argumentou na ligação.
— Senhorita , infelizmente não estamos num bom momento para investir num negócio ali, e aquela casa, com melhorias ou não, pertenceu à nossa corretora e foi um negócio muito demorado de ser feito. Se a senhorita não tivesse surgido, provavelmente ainda estaríamos encalhados com a casa.
— É eu sei, vocês deveriam ter me avisado dos riscos antes de me vender um elefante branco, não é? Eu não deixaria de fazer negócio com vocês, pelo contrário, admiraria a franqueza. Mas… Agora preciso de novos serviços e infelizmente não temos outra corretora na cidade. Obrigada pela atenção. — Ela desligou a chamada muito irada com aquele breve diálogo.
Não bastava terem lhe enfiado aquele mau negócio, ainda deixaram claro para ela que o negócio que ela fez fora péssimo! Erick surgiu notando seu humor irritadiço.
— O que a deixa com este bico logo cedo? — Ele beijou a testa dela em cumprimento. — Bom dia.
— A maldita corretora que me enfiou aquele mausoléu! Aliás, você acompanhou minha chegada! Poderia ter me alertado de muitas coisas, não é? — o repreendeu com as mãos na cintura, mas logo se acalmou e sorriu. — Bom dia, Erick.
— É, eu poderia. Desculpe por isso.
— Como estão as coisas?
— Voltei com a Jessica.
— Bom saber, assim me preparo para quando ela aparecer aqui segurando o troféu.
— Deixa disso, ela é só um pouquinho difícil.
— Sim, vocês são um ótimo casal. — Erick fingiu estar ofendido enquanto ria.
— E você e o Scott? Eu ia falar com você ontem, mas ele parecia bem interessado e ansioso.
— Somos apenas amigos.
— Não é o que a Daniela costuma dizer.
— Outra louca. Vai acreditar no que eu digo ou no que ela diz? Posso garantir que sei mais da minha vida do que ela.
— Certo, se você diz…
— Scott andou interessado em mim sim, mas somos só amigos. E estamos muito bem com isso.
— É… Parece que os caras da cidade não têm chance com você mesmo. E o tal Embry? Ainda está com ele?
— Não, há muito tempo.
— Sei… — observou a reação de Erick, e era notória a sua curiosidade.
— Você está morrendo de curiosidade, né?
— Como assim?
— Quer saber se eu estou envolvida com Jacob.
— Oras, ! Veja bem se eu tenho cara de Maria Futriqueira!
— Certo.
Um breve silêncio e ela começou a rir prevendo que ele perguntaria.
— E então, está ou não?
— Estou. Começamos a namorar recentemente. E estamos muito felizes, obrigada.
— Bem, felicidades. Fico contente em saber que está feliz, claro que eu aceitaria melhor se fosse o Carter, mas…
— Mas você não tem que aceitar nada. E tem que trabalhar, antes que sua namorada venha me importunar. — Eles sorriram com o expulsando e Erick logo saiu. Depois de tudo, aquela amizade seguia tranquila, e ele, sempre que podia, passava na farmácia para trocar algumas palavras com ela.
Após a saída de Erick, foi bater os documentos de contratação de Seth. Avistando o rapaz na cidade, o chamou na hora do almoço para comerem juntos e pediu para que Seth lesse os contratos com calma, e entregou-lhe os papéis, ele sorriu muito animado. Faltava pouco para finalizarem o almoço quando Seth, sem graça, acabou de beber seu suco, pedindo:
— … Você tem um tempo antes de ir embora?
— Você sabe que sim. O que houve?
— Paige. Me telefonou dizendo que quer conversar comigo.
A mulher parou de mastigar e o encarou atenta. Engoliu a comida antes de beber um gole de suco e abandonar seu prato vazio para conversar com Seth dedicadamente.
— Você não quer falar com ela?
— Não. Na verdade, eu só não quero estender esta história. Sabe, eu gosto da amizade da Paige, mas não é possível que sejamos amigos.
— Por causa de?
— De mim. Eu me conheço o suficiente para saber que não tenho maturidade para isso, e só irei me torturar ainda mais. Além de brincar com os sentimentos dela.
— Seth… — riu admirada. — Se tem algo que você tem é maturidade.
— Obrigado por reconhecer, . — Ele sorriu pegando a mão da amiga carinhosamente. — Mas e aí, o que eu faço?
— Eu acho que você deve conversar com ela sim. Evitar o problema não o faz se resolver. Ela tem algo a dizer e dependendo do que for, você vai dizer exatamente o que está me dizendo.
— Mas … O problema é que eu não confio que eu vá conseguir dizer alguma coisa. Eu não paro de pensar naquela noite — Seth sussurrou de modo quase desesperado. Embora engraçada a situação, queria não rir.
— Olha só: isso é natural. Mas o maior passo você já deu. Reconheceu que não sente algo pela Paige, e sim pela imagem de Anna que ela o faz lembrar. Então se recorde de tudo o que conversamos. Até mesmo das suas colocações a respeito de Scott e eu. Você não pode embarcar numa relação assim e sabe disso, e melhor: você não quer isso. Não tenha medo dos seus desejos. Você os conhece e sabe que não esqueceu aquela noite, não por Paige, mas por Anna.
— Você é tão sensacional… Eu sabia que você me ajudaria a esclarecer minha mente! — Ele ouviu a tudo atento e sorridente. — Jake é extremamente sortudo.
— Acredite, a garota que tiver você também será.
— Te amo, lobinha! Como a irmã perfeita que a chata da Leah não conseguiu ser.
— Não fala isso, garoto! — deu um peteleco na testa dele.
— Estou brincando, mas sim... — ele gargalhou — você é uma irmãzona que ganhamos, !
Diante daquela declaração tão carinhosa de Seth, não se conteve, ela levantou e o puxou para se levantar também. Abraçou Seth apertado, sendo retribuída, e de abraço lateral, eles encaminharam-se ao caixa para pagar as refeições. Seth pegou sua moto e foi para a reserva, os meninos ainda trabalhavam na construção da cabana e logo estaria pronta, portanto, Seth queria ajudar o máximo que pudesse. E , afirmando que chegaria logo mais, foi à corretora.
Havia decidido qual terreno compraria e precisava conversar sobre as condições de pagamento. Com as dúvidas retiradas, o próximo passo fora dado: buscar um comprador para sua casa. Deixou avisado em algumas lojas da cidade que venderia o imóvel, e por mais que ela soubesse que aquilo nada adiantaria, não custava avisar.
Uma das lojas em que foi era a “House’s Montain” onde eram vendidos os artigos esportivos para os turistas. Seu foco era vender para alguém de fora e aquilo até lhe parecia muita sujeira porque ninguém deveria viver ali, mas o que ela faria? caminhava em direção ao seu carro, quando o homem misterioso do outro dia surgiu saindo da corretora.
“Então ele realmente decidiu ficar?”, ela pensou. Aquilo seria um problema. Na indecisão de entender se aquilo era um problema ou não, percebeu o quão distante parecia a ideia de ele ser um vampiro. Não a havia atacado, estava andando à luz do dia tranquilamente. E para uma leitora de Lord Byron, aquilo era estranho. Não era aquela a imagem que ela tinha de um vampiro, e nem mesmo era a imagem que ela leu na internet sobre “os frios”. Por mais insano que parecesse pensar que Jacob houvesse se enganado, algo não se encaixava. então decidiu tratar aquele homem como um andarilho invasor de obras abandonadas que passaria uma estadia em Forks. Decidiu também que pesquisaria mais sobre os frios.
Ele atravessava a rua após conversar com o corretor na calçada da loja, o observava de dentro do seu carro. Ele, como se soubesse disso, virou bruscamente seu rosto na direção da moça. Os olhares deles se cruzaram. Ao encarar seus olhos tão ferozes daquele jeito, um arrepio passou pela coluna da bióloga. deu partida no carro saindo do alcance visual do homem. Que sensação absurdamente desconfortável aquele homem lhe causava, era perturbador estar próxima dele, mas ao mesmo tempo, atraente. E com esta atração descontrolada, deu a volta com o carro indo até ele.
O que ela estava fazendo? Era como se não fosse ela dirigindo! Sua cabeça dizia uma coisa, seu corpo fazia outra. Então, bruscamente, freou. Nada entendeu, mas ela tinha o controle dos seus passos, entretanto, por que era tão tentada a ir até ele? O homem sorriu sarcástico subindo em sua motocicleta. Ele sabia que ela se aproximaria dele e , com o carro lento, parou ao seu lado. Ele ajeitava suas luvas e olhou para o lado, encarando-a pela janela do carro.
— Ei, docinho. Você de novo?
— Decidiu ficar na cidade?
— Isso a deixaria feliz?
— Depende. Se você estiver interessado em comprar um imóvel. — Ele passou a língua pelo lábio inferior e ao ouvir a fala dela, parou a língua num gesto entre os dentes.
Cada movimento dele era cautelosamente lento, e os olhos da mulher percorreram seus gestuais, ávidos. O homem encarou imóvel, com olhos semicerrados, indagativos.
— É. Eu estou sim.
— Gostou da minha casa?
— Você vem junto com ela?
— Eu não estou interessada em estreitar mais a nossa comunicação.
— Não é o que tem parecido.
— Foi você que apareceu no meu território.
— E desde então você tem aparecido nos meus. — Ele rebateu. silenciou. Era totalmente coerente para ele pensar daquela maneira.
Com uma mão pousada no volante e o braço na janela, desviou o olhar para a frente. Tamborilou os dedos no volante de seu carro e soltou de uma só vez:
— Escuta. Eu quero vender aquela casa. O lugar é ermo, como você mesmo disse e ninguém na cidade se interessa. Eu irei a uma corretora em outra cidade, mas você chegou agora e não custava te oferecer, principalmente porque eu quero vender logo.
— Quanto quer pelo imóvel?
— 60 mil. Eu reformei ela recentemente. E você não vai encontrar uma casa pela Maine’s Empreendiment com um valor desse, e em boas condições.
— Por que quer vender? Tem algum problema na região?
— Além de eu estar afastada de tudo? Eu moro com meu namorado, agora. E também preciso do dinheiro.
— Eu posso dar uma olhada?
— Você já não conhece o imóvel? — disse irônica.
— Não o suficiente para comprá-lo.
— Certo. Quer ir agora?
— Eu te sigo. — balançou a cabeça positivamente e dirigiu até a sua casa antiga.
O que ela estava fazendo? Só poderia ter perdido a sanidade em acompanhar aquele cara, até o Kalil – o cemitério inóspito.
Estacionou na entrada, pegou as chaves em sua bolsa e logo o estranho apareceu atrás dela em sua varanda. Encostado no batente da porta, de frente a ela, o homem a encarou de cima a baixo aguardando-a abrir a porta.
— A propósito, eu me chamo Mark — disse estendendo a mão.
— — respondeu pegando sua fria mão e entrou.
Ele entrou em seguida, e ela mostrou todos os cômodos para ele. O medo palpitava em seu peito junto às batidas de seu coração. Os dois retornaram à sala após ela lhe mostrar o quintal dos fundos.
— E aí, Mark? O que achou?
— É… A quem devo fazer a transferência?
— Direto e decidido. — sorriu desafiadora. — Gosto disso!
pegou um papel e anotou seus dados bancários. Ela sabia – na verdade, ela pressentia – que aquele negócio deveria ser feito para ele desde o momento que o viu sair da corretora, e não sabia explicar de onde aquela certeza vinha. Esticou as anotações para o homem, ele as pegou e leu.
— Fará um bom negócio, Mark. O lugar é ótimo para alguém como você.
— Alguém como eu? — perguntou se aproximando, e pôde reviver a cena do outro dia, com os olhos invasivos dele a centímetros dos seus.
— Sim… — sussurrou ela, paralisada. — Alguém desprendido.
— Claro. — Se afastou lento até a mesma mesinha onde fizera as anotações e rasgando um papel do bloquinho, anotou seu telefone. Voltou predador até ela, que ainda se mantinha estranhamente paralisada, e depositou o papel dobrado na palma de sua mão. — E o seu namorado? Não vai me perseguir de novo por causa disso, não é?
— Não, até porque ele não precisa saber disso.
Mark se aproximou ainda mais do rosto de , a encarando profundamente nos olhos. Colocou uma mexa do cabelo dela para trás e acariciou o rosto da mulher, sorrindo com sarcasmo:
— Um segredinho nosso? — manteve-se em silêncio, sentia que queria sair correndo, mas algo não deixava. — Acho que vamos nos dar muito bem.
E dito aquilo, ele se aproximou mais numa tentativa de a beijar de novo, mas reuniu suas forças e o empurrou. Com toda a força que ela tinha, conseguiu se mexer naquele ato rápido de impedi-lo.
— Vamos embora! Eu vou aguardar a compensação do dinheiro em minha conta e aí esvazio a casa.
— Como quiser.
Eles saíram, trancou a casa e entrou no carro apenas acenando séria para ele, deu a ré e pegou a estrada na direção oposta. Afundou o pé no acelerador. Havia deixado uma garrafa de água no seu carro ao lado do carona, pegou-a e, embora quente, bebeu todo o líquido. passou da entrada da reserva, estava tão nervosa que queria dirigir somente, e não poderia voltar para casa naquele estado de pavor. Mark não mexeu nem um pouco com seus hormônios, ele mexia com um instinto muito pior: o instinto de sobrevivência. Era horrível a sensação de não conseguir se defender quando estava próxima dele. Na verdade, percebeu que tinha medo de Mark. Então por causa de quê, ela era tão atraída até ele?
Estava quase na saída de Forks, quando avistou o galpão onde seria a oficina de Jacob. Fechado. Um homem saía por uma portinhola lateral. parou ali, se recordando do dia que Jacob lhe mostrara o lugar antes do seu passeio de moto. Recordou que ela havia pensado em pagar o conserto de seu carro, investindo na reforma com ele. Então, ela desceu do veículo e o velhote gordo que passava um cadeado na pequena porta, parou o que fazia, a olhando curioso.
— Boa tarde. Este imóvel pertence a Jacob Black, certo?
— Sim. Algum problema?
— Não, não. Ele me falou deste lugar, eu sou namorada dele.
“Eu sou namorada dele”. Um sorriso imenso quis se formar em seu rosto ao dizer aquilo, mas ficou apenas no seu interior, pois o velhote a olhou desconfiado. E não era para menos, Jacob Black não tinha uma namorada, ou não apresentara nenhuma para ninguém.
— Ele me pediu para vir olhar o lugar para ele por um tempo.
— O que houve com a reforma que iria ser feita? Achei que já estaria quase pronto.
— Ele parou. Na verdade, pelo tempo que tem, já teria até mesmo inaugurado e estaria em funcionamento agora.
— Há quanto tempo o senhor tem olhado o galpão?
— Já faz alguns meses, moça. E se a senhorita me dá licença, eu preciso ir.
— Tudo bem, não quero o atrapalhar. Obrigada.
— Disponha.
— Ei, o senhor vem com qual frequência?
— Desculpe, moça, mas eu não a conheço e o senhor Black é um pouco sistemático…
— É, eu sei, afinal, como eu disse, eu sou namorada dele. Não se preocupe. Eu só quero dar procedimento às reformas, mas eu mesma falo com ele. Me desculpe.
se despediu do homem que só deixou o local após a sua saída. Deve ter sido bem estranho para ele. voltou para a reserva focada em falar-lhe sobre isso, sobre a oficina e ajudar na construção de sua cabana. E assim foi. Eles não comentaram nada sobre a sua empreitada em vender a casa para Mark. Black contou que parou as reformas devido à situação de Embry e também porque recebeu muitas encomendas da marcenaria, e como havia feito as entregas naquela manhã, poderia retomar a oficina. falou a ele que o ajudaria, já que havia o prometido isso há tempos. Ele não fez cerimônia.
Era noite, estava sentada na cama com o computador aberto em seu colo e pesquisando sobre os frios. Jacob atravessou a porta com seus cabelos molhados, secando-os com a toalha. Sorriu quando viu a mulher concentrada e lhe beijou em um selinho carinhoso.
— Cheirosa.
apenas sorriu, sem perder a atenção nas leituras, fazendo Black notar a sua concentração, ele sorriu curioso e, logo após se vestir, saiu do quarto e voltou com um copo de suco e uma fatia de bolo. Sentou-se ao lado de , observando a tela do computador.
— Coma, Mani. Já está aí desde que saiu do banho.
Só então, ela percebeu o lanche ao seu lado. apertou a perna dele em agradecimento, em um breve carinho. Black puxou o computador do colo dela e o colocou mais afastado na cama. Enquanto comia, ele a encarava, e ela sorriu com aquele olhar admirado dele.
— O que foi?
— Você é linda — disse sorrindo, sem perder os olhos.
— É, eu sei. Mas você também é.
— Obrigado. Por que estava pesquisando aquilo tudo?
— Estou curiosa em relação àquele homem.
— Curiosa como?
— Curiosa. Você estranhou o fato de ele ser um vampiro que ainda não foi notado por nenhum de vocês.
— É, mas meu pai já me explicou que isso pode acontecer. Há mais de um tipo de frios.
— Ah, é? Então tudo que eu li sobre vampiros a minha vida inteira pode ser real?
— Depende. — Jacob riu fraco. — O que você leu?
— Byron. Drácula. Criaturas sombrias, sugadoras de sangue que não saem à luz do dia porque podem queimar, e que são irrevogavelmente sedutoras e atraentes.
Jacob riu baixinho, não como se zombasse dela, mas como se achasse engraçado as histórias.
— Não sei se Byron teve algum embasamento real. Acredito que ele pode sim ter tido lá as suas inspirações, mas Drácula é apenas uma história. Em geral, o que sabemos e conhecemos nestas gerações todas de lobos é que os frios sugam sangue sim. Qualquer fonte de sangue, humano ou animal. Mas o sangue humano é a melhor dieta para eles. E, bem… Eles podem andar entre nós como se fossem um de nós, sem serem notados. Andar pela luz do dia que nada lhes acontece, ou no caso dos Cullen… — começou a gargalhar zombeteiro ao se relembrar — não podem porque eles brilham ao Sol.
— Brilham? Como paetês e purpurina?
— Tipo isso. — Jacob riu da expressão incrédula de .
— O que mais vocês sabem?
— São sedutores, sim. É a arma que tem para atrair suas presas. São muito atrativos e despertam a curiosidade humana. Tem poderes individuais, alguns são paranormais psíquicos, outros, mutantes físicos… etc.
— Os Cullen, como eram?
— Edward lia mentes, Alice previa o futuro. Emmet era extremamente forte, o Jasper... Ele tinha algo, eu não lembro. Alguns deles não desenvolvem paranormalidade. Embora, só o fato de existirem já seja uma anormalidade.
— E… E ela?
— Está falando da Bella?
— Sim.
— Ela era imune a qualquer dom. E parece que isso era bem valioso para eles.
— Hm…
— Meu pai disse que aquele homem, o frio que estava na sua casa, é dessa… Espécie, se assim posso chamar, que é facilmente confundido com humanos. E por isso, mais perigoso. — engoliu em seco. — Ele por acaso te procurou de novo?
— O quê?
— Você está bem curiosa com isso.
— Eu sou curiosa, Black. Você sabe.
— Não quero que me esconda nada se ele a procurar.
“E se eu procurar por ele?”, ela pensou.
— Como foi o seu dia? — A mudança de assunto deixou Jacob desconfiado.
— Fiz as entregas e trabalhei na sua cabana. E só. E o seu?
— Erick voltou com a Jessica. Almocei com Seth, depois fui à corretora ver as condições de compra do terreno que olhei esta semana…
— Por que não me contou que estava olhando terrenos para o seu laboratório?
— Ahn… Não sei, eu só fui tentar resolver.
— Eu gostaria de participar.
— Tudo bem. — Sorriu.
— E onde fica?
— Na Collins.
— Bom local… E quais as condições de compra?
— Vendendo a minha casa dou entrada no financiamento.
— Bem, vamos ter que vender para alguém de fora. Dificilmente alguém daqui vai comprá-la.
— É, mas eu acho que consegui vender.
— O quê? Para quem?
— Céus, eu acho que você não vai gostar. — não poderia mentir, e não acreditava que tinha dado o mole de falar para ele.
— . Para quem você vendeu a sua casa?
Ela se levantou da cama, andando de um lado a outro no quarto. Não podia acreditar que depois de um dia inteiro evitando escapar aquele assunto, ela havia soltado daquele jeito a bomba.
— Mark. Mark soube que eu estava querendo vender a casa e me procurou quando eu saía da corretora. E Mark é o nome do homem que invadiu a minha casa.
— VOCÊ VENDEU A SUA CASA PARA UM FRIO? — Black estava de pé à sua frente, extremamente nervoso. — E por que você aceitou a aproximação dele se sabia o que ele é? E como ele soube? Simplesmente soube!? E… Eu não acredito que isso está acontecendo outra vez — Black disse e saiu do quarto.
foi atrás dele, na cozinha. Ele virava água gelada num copo e a olhou desacreditado.
— Black, não é bem assim. Eu não sabia o que ele era. Ele me pareceu um homem comum, um doido que invade casas, e eu fiquei com medo sim de fazer a coisa errada, mas ele estava interessado. E com dinheiro na mão, e eu preciso comprar o terreno, e preciso ainda mais me livrar daquela casa. Não me importo se vou vender para o Joseph, pra Marie ou para o Mark.
— Você entregou a um frio, de mãos beijadas, toda uma população!
— Não, eu não meti os pés pelas mãos desse jeito. Vocês caçam frios, eu dei a vocês a gaiola perfeita para acabarem com eles. Vocês conhecem muito bem o Kalil. Vocês vão acabar com eles, e disso eu não tenho dúvidas.
— Okay, . — Suspirou pesado. — E… Como foi que um estranho recém-chegado descobriu que logo você queria vender a casa?
— Vários estabelecimentos da cidade estão sabendo.
Jacob colocou o copo na pia e saiu novamente para o quarto. Olhou furioso para ela quando passou por , e a mulher voltou para o quarto junto a ele.
— Ei, Black… Eu fiz algo tão ruim assim?
— Não quero você perto dele. Não só pelos riscos, mas porque eu não vou perder você para ele!
— Você… — sorriu discretamente e um tanto surpresa com a novidade. — Você está com ciúmes do Mark?
— Argh! Para de chamar ele assim?
— É o nome dele.
— Estou! Estou com ciúmes! Eu poderia aceitar você e o Erick por aí, você e o Scott, você e qualquer um. Mas você e um frio não é algo que eu vá aceitar nem em um milhão de anos.
— Não terá que se preocupar com isso. — o abraçou na tentativa de acalmá-lo e o beijou. Os dois voltaram a sentar na cama. — Inclusive, acho que você deveria contar a todo mundo que agora tem uma namorada, para que ninguém me ache uma maluca — falou de forma a amenizar o assunto anterior.
Black acariciou os cabelos dela, ainda nervoso, e a olhou profundamente quando ela disse aquilo. Retirou o computador da cama, e já estava imaginando que ele diria: “Não quero que ninguém saiba de nós”, tamanho o mistério em falar alguma coisa após ter escutado ela. Então Black virou-se de lado para ela, acariciou seu rosto e iniciou um beijo apaixonado.
A medida que eles aprofundavam o beijo, Jacob se colocou por cima de e fazia carinhos em seu rosto enquanto eles se beijavam. Até que os dois ouviram batidas na porta. Black bufou e falou alto: “entre”. Era Sue, que chamava por para falar com Seth. Ela ficou extremamente desconcertada, e só então, notando a cara descontente de Jacob, pediu desculpas dizendo que não era nada sério, e que pela manhã poderia falar com Seth. Sue se retirou e Black e a sua então namorada, voltaram os carinhos de onde tinham parado.
Capítulo Vinte e Cinco
Os frios se estabelecem em Forks
A quantia que pediu por sua casa a Mark compensou em sua conta bancária. Ela acabara de atender a uma ligação do banco confirmando a transação. Jacob estava no galpão esculpindo e, animada, ela foi andando até lá. Billy e Charlie foram pescar e todos os outros estavam na praia. Assim que entrou no galpão, Jacob quebrava algumas madeiras com um machado, mas notou a presença dela e parou o que fazia.
— Não precisava parar. Eu gostei da cena.
Ele sorriu maliciosamente e incrivelmente sexy para mulher que caminhou se aproximando dele, tirando o machado de sua mão. O casal abraçou-se sentindo o carinhoso afeto desmedido que agora podiam demonstrar. Black e estavam cada vez mais apaixonados e próximos.
Na noite anterior as coisas esquentaram entre eles e, embora a nova quileute quisesse muito se entregar a ele, decidiu esperar. Não sabia ao certo o que, mas a cada passo mais íntimo entre Jacob e ela, tinha a certeza de que o seu compromisso se consolidava de uma maneira irreversível. E por mais feliz que estivesse, também sentia um pouco de medo. Sua vida mudou tanto em Forks, e de repente a mulher pegou-se novamente a um passo de se amarrar com alguém para a vida toda. Já havia tanto tempo desde Theo, que não sabia se estaria preparada para que a sua relação com Jacob se transformasse em um compromisso sólido o bastante para pensarem em família. Sobretudo, ela o amava e aquilo ainda era assustador porque antes viveu uma relação normal e sem riscos. Tivera tudo para ser feliz e não deu certo.
Ela estava noiva de Theo. O casamento estava marcado, e ela o perdeu. Seu ex-noivo assassinado foi o seu grande amor e eles não tiveram a chance de viverem os seus planos. E Black pertencia a uma realidade totalmente perigosa, as chances de perdê-lo brutalmente também eram grandes. não queria se envolver tão rápido e até ali já havia quebrado esta regra. Por essa razão, ela tentaria ser cautelosa.
Ao se separarem daquele abraço seguido de um caloroso beijo, Black sorriu para a mulher e com as lembranças de Theo na cabeça, o olhava confusa.
— O que foi?
— Ando remoendo traumas antigos…
— Que traumas?
— Uma outra hora eu prometo que falaremos disso. No momento, eu vim te atrapalhar por um assunto mais urgente. — Entortou a boca em reprovação para que antes de qualquer coisa, a burrada que ela fez fosse amenizada pela certeza de que poderia passar a Jacob o quanto estava arrependida.
— Deixe eu me sentar para ouvir o problema. — Jacob suspirou preocupado sentando-se em um toco e de ombros relaxados, com os braços apoiados um em cada joelho, olhou para cima.
— O banco me ligou. Mark depositou o dinheiro e já foi compensado. — estava de pé, de braços cruzados olhando para baixo atenta à expressão de Jacob.
— A cabana fica pronta em aproximadamente uma semana.
— É eu sei. Eu só quis te avisar porque eu pensei em esvaziar a casa e trazer tudo aqui para o galpão ou falar com o Mark que…
— Você não vai falar com ele.
— Jacob, eu vendi a casa para ele!
— Eu mesmo vou até ele e falo que em uma semana a chave estará na corretora da cidade para ele pegar.
— A corretora não intermediou a venda, eu tenho que entregar a chave em mãos.
— Então tá, eu entrego. — Ele levantou impassível e voltou ao seu trabalho sem olhar para .
Black estava extremamente incomodado pela presença de Mark, e ela não o culpava, pelo contrário, admitia que foi estúpida o suficiente para se envolver com o inimigo, o mínimo que fosse. Entretanto, ver Jacob ditar as suas ações ou o que ela deveria ou não fazer, estava lhe dando nos nervos! Ao se tratar da venda da casa, deixaria passar. Após aquele problema ser resolvido, a mulher decidiu que não voltaria a abaixar a cabeça para Black. Ela se retirou do galpão e retornou para a cabana, a fim de retomar alguns estudos.
Assim que os lobos voltaram da praia, Seth a procurou. Estava aflito para falar com ela sobre algo.
— Sua mãe disse que você queria falar comigo ontem. Aconteceu alguma coisa? — perguntou logo que ele se aproximou entrando no quarto de Jacob.
— Eu fiquei mal depois da conversa com a Paige e ela estava preocupada. Leah disse para mamãe que eu costumava desabafar com você, então ela queria que você fosse correndo resolver o problema do “meu filho feliz está sofrendo”.
sorriu para o rapaz, puxando-o para se sentar na cama de Black e assim conversarem.
— Ela só não achou que fosse interromper você e o Jake… — Seth adicionou, gargalhando e zombando da amiga.
— Engraçadinho…! — deu-lhe um cutucão fingindo não ter ficado sem graça.
— Me conta! Como foi sua noite com Black, seu namorado? — Seth bateu em seu ombro como o amigo de confidências que era.
— Seth! Eu não vou te contar nada! Você é só um menino!
— E daí? Tudo o que vocês fizeram eu também faço. Eu acho. — Ele riu. — Isso é normal, ! Ande, me conte algumas coisinhas, vai!
— Cala a sua boca, seu idiota. Não aconteceu nada.
— Por quê? — Seth perguntou parando de rir e provocar, agora realmente interessado em ser um bom ouvinte.
— Ainda não é momento para isso, Seth. Eu não quero atropelar as fases.
— Eu não entendo, mas tudo bem… E vocês estão bem?
— Sim, com isso sim. Mas o Black está morrendo de ciúme do Mark e age como se fosse meu dono.
— Bom… Você pirou e sabe disso.
— É, eu sei, por isso que não o estou culpando. Mas assim que este assunto for encerrado, ele vai parar de agir como se eu fosse uma das lobinhas da matilha dele!
— Ei!
— Ele não é meu alfa, Seth!
— Você que é a alfa dele, a gente sabe disso — o rapaz zombou e os dois riram com a comparação boba de Seth em dizer que entre Jacob e ela, as ordens eram dadas por . O que era mentira, mas também podia ser verdade.
— E então? Como foi com a Paige?
— Péssimo! Ela disse que quer ficar comigo… De um jeito sério, entende?
— Sério?
— Ela se apaixonou, … — Seth abaixou a cabeça tristonho. — Olha a idiotice que eu fiz!
— Ei, Seth… Você conhece a Paige, sabe das qualidades dela e por mais que ela seja gêmea da Anna, não é a Anna. E isso pode ser bom para te ajudar a superar. Talvez você devesse dar uma chance, não?
— Não. Eu definitivamente quero virar esta página. Não é justo com ninguém.
— E o que você falou para ela?
— Não falei nada.
— Como assim, Seth Clearwater?
— Ela se declarou e me beijou. Eu não consegui falar!
— Seth. O que você fez?
— Beijei de volta, lógico. Presta atenção! Uma menina linda me beija e você quer que eu faça o quê? Bata nela?
começou a rir com a forma como Seth falou. Apesar de não estar bem-humorado com aquele assunto – pelo contrário estava preocupado, nervoso e sério –, Seth era muito engraçado.
— Olha a confusão que eu estou arrumando! , você não quer resolver isso para mim?
— Não, você deve lidar com isso sozinho. Mas depois do beijo você fez o quê? Saiu correndo?
— Isso.
— Está brincando comigo, não é, garoto? — deu um tapa na perna dele, com uma expressão de espanto e um risinho de escárnio no canto da boca.
— Pior que não. Saí de lá bem rápido porque ir embora não era bem o que eu queria… Se eu não me controlasse… Enfim… Eu cheguei em casa, me tranquei no quarto e fiquei pensando na merda que fiz.
— Certo! Você pisou na bola! — constatou e puxou o próprio celular do canto da cama e estendeu a ele ordenando: — Telefona para ela!
— Agora?
— Não, não, pode ser daqui uns noventa dias. Claro que agora, Seth! Você deve uma explicação a ela! A garota fala que te ama, te beija, e você sai correndo? Está ficando doido?
— Beleza, beleza. Mas eu não sei o que dizer!
— A verdade! Eu vou pegar um café para a gente e você liga aí que eu já volto. — saiu do quarto encarando-o encorajadora e escorou a porta.
Caminhou até a cozinha ainda risonha pela história de Seth e naquele momento, Jacob apareceu na casa para buscar a chave do carro.
— ! — ele chamou-a forte o suficiente para surpreendê-la com um pequeno susto.
Jacob ainda estava com a expressão de quando ela o deixou no galpão: enciumado. Estava suado e sujo de madeira, mas pegou uma blusa que estava jogada no braço do sofá e vestiu.
— Aonde você vai desse jeito, o que houve? — perguntou preocupada dando poucos passos até ele.
— Você sabe onde o frio mora?
— Como eu saberia?
— Não sei, você andou vendendo uma casa para ele… Provavelmente devem ter algum contato suficiente para saber alguma coisa, não é?
— O que está insinuando, Black?
— Nada. — Jacob notou que ficar reagindo provocativo ao próprio ciúme desgastaria uma relação que só estava começando, então ele suspirou profundamente e mudou o tom: — Nada, me desculpe. Só… Deixa para lá. Eu vou até a casa dos Cullen, foi o último lugar que o vi.
— Para quê vai atrás dele?
— Resolver de uma vez por todas esta pendência que você arrumou.
— Mas assim tão de repente? Tem certeza que…
— Estamos prontos, Jake! — Paul, Quil e Embry surgiram na porta da cabana interrompendo a fala de .
Os outros quileutes a abraçaram e se despediram, em seguida saíram correndo da porta da cozinha para fora da casa. pôde ver de longe os meninos subindo na caçamba da caminhonete nova de Jacob e seu namorado andando a passos fundos até o lado do motorista, enquanto Charlie entrava pelo lado do carona.
— Que raios de situação foi esta? — murmurou sacudindo a cabeça e voltando à tarefa de pegar uma xícara de café para si e para Seth.
Seth havia acabado de telefonar, e Paige de atender, quando entrou no quarto segurando as xícaras, atenta e curiosa ao ouvir:
— Alô? — Seth disse e ficou mudo a olhando.
revirou os olhos, bateu em sua testa e sussurrou algumas palavras para Seth a fim de orientá-lo.
— Paige, me desculpa por ontem… Eu fiquei sem ação — Seth repetiu, e dali por diante ele desenvolveu o diálogo sozinho: — Eu gosto muito de você, da sua amizade, mas não consigo lidar com isso. É doloroso demais para mim e será para você também. Então acho melhor nós evitarmos que aconteçam outras vezes. — O garoto, aflito, ficou mudo por um tempo olhando para os próprios pés sobre a cama. De repente encarou , um tanto sério e ainda mais preocupado. — Você não está fazendo isto por minha causa, não é? — Seth perguntou ao telefone.
Mais um tempo em silêncio.
— Entendo. Desejo que você seja feliz, e é claro que eu irei até aí. — Mais algumas despedidas e Seth desligou, pegando a xícara de café da mão de . Tomou um gole, apoiou os cotovelos para trás na cama, olhou silencioso para o teto, se sentou e entregou a caneca para a amiga. E assim que pegou-a, curiosa e atenciosa, Seth retirou sua camiseta a jogando longe. não entendeu nada, apenas observou-o voltar a pegar a caneca de sua mão, e deitou de novo recostando-se sobre os cotovelos. Uma cena bem sexy, porque Seth, como os outros quileutes, era um belo rapaz.
— Que isso? Você arranca as roupas quando fica irritado? — , surpresa e sem entender o que ele pretendia, perguntou ao amigo enquanto encarava a expressão séria, quase bravia, do seu amigo na própria face.
— Ela vai embora.
— Seth, eu não estou te entendendo!
— A culpa é minha! Ela disse que não, que já havia decidido isso antes de nós sairmos, e que depois do que aconteceu pensou em ficar, mas sabendo das minhas intenções, ela prefere ir embora. E agora quer que eu vá em uma reunião íntima que acontecerá em despedida.
— Não foi culpa sua, então. Seria culpa sua se ela ficasse, mas não é o que você quer, não é?
— Eu só quero que este sofrimento por Anna acabe! — ele disse e deitou-se no colo da amiga, choroso.
odiava vê-lo assim, simplesmente não tinha estômago para ver Seth daquele jeito. Tão homem para suas responsabilidades e tão menino para sofrer por amor.
— Isso passa, Seth, uma hora você aprende a conviver.
— Você diz como se soubesse o que é perder um grande amor.
Foi então que ela expôs um silêncio culpado, e uma lágrima escorreu por seu rosto caindo na testa de Seth. não chorava por Theo há muito tempo, mas se lembrava dele com tanta frequência nos últimos tempos... Seth ergueu-se, e com mãos delicadas limpou a lágrima do rosto de sua amiga, encarando seu olhar vazio.
— ?
— Eu tinha um noivo. — As palavras saíram abafadas.
— O quê?
— Eu era noiva antes de vir para Forks. O nome dele era Theo. Bella, Theo e eu éramos um trio de amigos na época do colegial. Ele e eu começamos a namorar um ano antes de a Bella ir embora de Phoenix. E ficamos juntos e noivamos. Iríamos nos casar naquela semana que… — Mais lágrimas que puxaram outras, e os olhos de escorriam sem que ela fizesse força.
— … — Seth a abraçou apertado, e ela retribuiu. — Não precisa contar.
— Preciso. — A amiga se separou do abraço e confessou: — Essa história estava bem enterrada, mas tem se tornado um fantasma que eu não tenho com quem compartilhar.
— Tem sim, se é importante colocar para fora, então eu estou aqui. — Seth segurou o rosto de beijando-lhe a testa.
— Na semana do nosso casamento faltavam três meses para eu me formar na faculdade, e íamos casar na semana da formatura dele. Duas festas de uma vez. Theo colou grau em uma quinta-feira, e no domingo era o nosso casamento. Mas… — Pausou e suspirou profundamente. — Ele saiu de carro para buscar o smoking dele e parou no sinal. Me enviou uma mensagem bonitinha e, antes de o sinal abrir, um carro passou ao seu lado em alta velocidade fugindo da polícia. Efetuaram disparos para trás quando o carro da polícia entrou na frente do dele, mas dois tiros o atingiram. Ele morreu ali, no sinal. Meia hora depois, me telefonaram do telefone dele porque a última mensagem aberta era a minha. “Esposa”. Ele estava radiante por poder mudar uma coisa simples como o meu nome no celular dele…
Seth abraçou a amiga ainda mais forte, e ela se permitiu chorar com ele.
— “Eu quero que você seja muito feliz, por toda a sua vida”. Foi a última mensagem de Theo para mim. Não pudemos nos despedir.
— Eu sinto tanto, ! Você não merecia isso e tenho certeza que ele também não.
— Você lembra um pouco o jeito dele, às vezes. — sorriu para o rapaz.
— Fico lisonjeado. E ... — Seth puxou o rosto dela para encará-lo. — Você vai ser muito feliz, eu te prometo que sempre estarei ao seu lado para o que for necessário. Fomos feitos para sermos felizes, !
— Obrigada pelo carinho, Seth. Apesar de tudo, o Theo é uma lembrança boa… Eu abandonei a dor junto ao luto. Mas foi cruel o que aconteceu com ele, sabe? Eu só queria que ele estivesse vivo. Não precisava ser comigo, mas ele tinha uma vida linda para viver…
— Tenho certeza disso.
— E é por isso que eu tenho medo de me envolver cada vez mais intensamente com o Jacob. Eu não posso aceitar perdê-lo. Já é forte demais o que eu sinto…
— Não vai perdê-lo. De onde veio essa coisa absurda?
Seth, e continuaram conversando coisas aleatórias e falaram da arrumação da cabana dela, e do que Jacob e os outros estariam a aprontar, já que contou sobre Black ter ido atrás de Mark.
Mais tarde, por volta da meia-noite, Black e os meninos apareceram com a caminhonete lotada de coisas da antiga casa da . Eles haviam desmontado os móveis e trazido para a reserva. Paul gritou animado para ela algo como: “Agora você não tem mais escapatória!”, o que a fez sorrir animada.Quil também estava empolgado e correu até onde Seth e estavam sentados, ao lado de Billy, na varanda. Quil beijou o rosto da morena e puxou Seth para o trabalho de descarregar o carro.
Black passou ao lado de e seu pai, mas quando ela sorriu para ele, o quileute alfa não a olhou. Sequer sorriu de volta. Entrou direto em casa, sem ao menos falar com o próprio pai. Billy, que já sabia do que se tratava, confortou com uma expressão debochada e apontou para Charlie que ia ao encontro deles. O delegado Swan beijou e abraçou a , e cumprimentou Billy.
— Eu andei tendo uma conversa com ele. De sogro para genro.
— Obrigada por isso, Charlie — declarou. — Mas isso não impede a conversa que ele e eu teremos.
— Não era nem mesmo a minha intenção — Charlie afirmou sacudindo a cabeça e justificou por Jake: — Ele está com ciúmes, . Se roendo de ciúmes, e com medo de perder de novo para um vampiro.
— Então ele não confia no que eu sinto.
— Foi mais ou menos nesta linha de argumentos que eu dei uns puxões de orelha nele.
— Certo, Charlie… — sorriu. — Obrigada.
— Embora você esteja se culpando e todos achando que você agiu mal, … Você fez o que achou certo: vendeu a sua casa para alguém interessado. Não é obrigada a acreditar em vampiros só porque acredita em lobisomens, mas eu gostaria de… Como um pai, assim como Charlie a considera filha, te pedir para ter cautela. Os seus instintos não falham, garota. Atente-se a eles — Billy declarou a surpreendendo de todas as formas com aquela compreensão.
sorriu para ele também, e o abraçou beijando a sua testa, aceitando o conselho. Em seguida, ela se pôs a ajudar os garotos descarregando o carro. Assim que terminaram, todos saíram para descansar, e como Jacob não havia retornado, entrou no quarto atrás dele. Encontrou Black deitado, pensativo, olhando o teto. Pensou em falar, mas era melhor dar um tempo a mais para que ele pensasse em suas atitudes bobas. Os dois trocaram olhares, mas não falaram nada. revirou os olhos e caminhou até o móvel onde guardava suas roupas e saiu para tomar banho.
Quando voltou para o quarto e penteava seus cabelos, ela sentiu os braços de Black a envolverem em um abraço pelas costas. Ele cheirou o pescoço de sua Mani como habitualmente fazia, desculpando-se ao sussurrar no ouvido dela:
— Desculpe, Mani… Eu fui o idiota ciumento que havia dito que não seria…
— Se você não confia no que eu sinto por você, então não deveríamos estar juntos — ela disse se virando para ele e afastando. — Fala sério, Black! O cara chegou ontem, praticamente! E eu não estou “nem aí” para quem ele é ou deixa de ser, eu não tenho interesse nele, tá? E pare de agir como se eu fosse a sua propriedade.
— Você tem razão, mas ele invadiu a sua casa e oferece um risco que você não pode imaginar!
— Então por que ele não fez nada comigo quando teve chance? — A pergunta de gerou um silêncio em resposta, surpreendendo ambos. Ou melhor, despertando em Black aquela dúvida que não havia passado em sua mente: por que ele deixou passar ilesa? Então, Jacob a encarou ainda mais frustrado.
— Eu não sei! Ele só pode querer alguma coisa de você!
— Ah é? O quê? Porque se fosse enriquecer a dieta dele, eu já não estaria aqui!
— Eu não acredito que isto está acontecendo de novo… — Black murmurou deixando os ombros caírem, passando as mãos ansiosas por sua face.
— Black, preste atenção no que direi: eu não sou a Bella, a menina dos vampiros, okay? Eu me apaixonei por você e é aqui o meu lugar. Eu não vivo nem mesmo entre os meus, então não aceito você achar que um belo dia você vai acordar e eu terei fugido com o Mark! Porque isso não vai acontecer! — declarou enfática apontando um dedo acusador para Jacob que ao vê-la menor, imperativa e tão graciosamente bravinha, não aguentou resistir. Ele a puxou em um abraço protetor guiando-os para que fossem deitar-se juntos.
— Seu lobo idiota! — declarou com bico, enquanto se aninhou no abraço dele em uma conchinha que fizeram ao preparem-se para dormir.
♦ = ♦
caminhava de um lado ao outro da cozinha da cabana de Sue. Ela, Leah, e Emy preparavam os lanches da cerimônia particular de inauguração da Oficina de Black. Uma semana havia passado, e já morava na sua nova cabana.
Paul, Quil, Embry e Jacob ajudavam guardando as comidas nas caixas térmicas e as levavam para os carros. Charlie e Billy haviam ido buscar bebidas na cidade para levar até a oficina. Aquela também seria uma festa de despedida para Leah, e a Clearwater já estava mais calma com aquela partida. Embry, embora triste, também já estava conformado que seria temporário, afinal, Leah precisava retomar seus estudos.
Depois de resolvidos os preparativos para ida, todos foram para a Oficina animados e ansiosos.
desceu do seu carro e Black do carro dele, já ansioso para abraçá-la e caminhando até a mulher. O pessoal retirava as coisas dos carros e levavam para dentro da oficina. Charlie e Billy já esperavam o casal apaixonado na porta, com suas respectivas cervejas em mãos e as demais bebidas nas tinas de gelo. Em seguida, Seth chegou de moto e foi abraçar Jacob e ao abraçar , ele estava com uma cara não muito feliz.
— E aí, como foi lá? — ela perguntou se referindo à festa de despedida de Paige.
— Acabou. Acompanhei ela até a saída da cidade. Foi morar em Washington.
— Agora você tem uma amiga para visitar em Washington.
— Não, , quando eu disse que acabou é porque eu não tenho mais nada a ver com esta história.
— Entendo… Pensemos então que foi melhor assim, certo? — acariciou o ombro do amigo de um jeito encorajador.
— Seth, você pode fazer as honras de retirar o véu da placa? — Black pediu apontando para a placa da oficina, até então coberta.
— Claro! — Seth subiu nas escadas e Black avisou a todos que revelaria o nome da Oficina e assim inaugurá-la.
— Leah eu gostaria que você viesse aqui comigo, por favor — Jacob pediu. — Esta reunião é também para comemorarmos a sua viagem, afinal, falta muito pouco para você realizar o seu sonho e voltar de vez para casa, onde estaremos todos, com muitas saudades e ansiosos — Black disse e Embry se aproximou ao lado de Leah a abraçando saudoso.
— Jake, por que você é sempre tão dramático? — a filha dos Clearwater ironizou fazendo todos rirem.
Leah não faria a linha fofa por mais que a atitude de Black tenha a deixado emocionada, e como irmãos implicantes, ele a mandou calar assim que ela se prostrou ao seu lado, e eles se abraçaram. O pessoal fez uma pequena contagem regressiva e Seth retirou o tecido da placa. Todos aplaudiam e gritavam animados. deixou a boca cair de descrença ao ler:
— “Auto’s Mani”? Você colocou o meu nome no seu estabelecimento?
— Não deixou de ser uma conquista nossa. Você ajudou muito.
— Black, isto é… — tampou a boca com as duas mãos, em total surpresa.
— Um passo a mais? — A resposta dele a fizera perder um pouco do controle das pernas. Era aquilo, não era?
Leah começou a rir ao lado de , e aplaudia esbarrando o cotovelo no braço da amiga. Então Embry e Black se colocaram, de repente, em frente às duas mulheres. Houve um silêncio e atenção geral dos presentes. Elas se encararam desconfiadas e tímidas quando os dois tiraram uma caixinha de seus bolsos. O pessoal da reserva começou a gritar e fazer mais barulho.
— Calma, pessoal, ainda não é um pedido de casamento! — Embry gritou para todos e, virando-se para as duas, perguntou sacana ao amigo: — Ou é, Jake?
levou seus olhos das mãos de Black para seu rosto, com uma expressão brava de quem advertia com o olhar: “você não me apronte uma dessas!”.
— Ainda não, pessoal. São apenas formalidades. — Black riu sem graça.
— Finalmente, Embry! Eu achei que iria embora sem este anel! Deixa eu ver o tamanho do diamante! — Leah arrancou mais risadas de todos.
— Até parece… Amo você — Embry declarou colocando o anel na mão da namorada, a beijando em seguida.
— Ei… Eu sei que você disse que não precisava, mas é… Isso é um passo a mais. — Jacob se aproximou de e disse, beijando-a de um jeito cauteloso. — Tudo bem por você?
— É claro! — ela respondeu deixando-o colocar o anel em seu dedo, mas a verdade é que ela estava extremamente nervosa com aquilo.
Aplausos. Beijos. Abraços. Felicitações. Risadas. Bebedeiras. Comerias. Alegrias. Família. Assim seguiu aquele dia de inauguração. Na manhã seguinte, Leah partiu. Todos acordaram cedo para se despedir dela antes de irem trabalhar, e Embry foi quem mais se sentiu mal com aquele “até breve”. Ele deixou Leah no aeroporto de Seattle e depois foi trabalhar na loja do pai de Quil.
— Os meninos estão mesmo crescendo, não é, Emy? — disse Sue ao lado de Emily e após vê-los voltando cada um do trabalho no final da tarde.
— É. Estão sim. — notou que Emy parecia sem graça com aquela conversa, e não entendendo, ela apenas foi pegar o chá que apitava na chaleira da sua cozinha.
Quando retornou à varanda, Emy e Sue conversavam algo que pôde perceber, desconversaram com a sua chegada. Ela sabia que o assunto não era especificamente sobre ela, mas Emy estava nervosa. Não nervosa do tipo brava, e sim nervosa do tipo incomodada.
Sam surgiu com seu uniforme amarrotado após um longo dia de trabalho na trilha de escaladas de Forks. Emy foi até ele, o beijou e direcionaram-se à sua casa. Sue os observava de longe de uma forma como ainda não havia visto e nem saberia dizer o que aquele olhar significaria. Ela ficou quieta, observando as reações da matriarca quileute e a chegada dos amigos.
Seth surgiu após seu banho e ao ver , contou como foi produtivo o dia de trabalho na farmácia. Ele já estava se tornando amigo de Steve, ambos tinham quase a mesma idade, Seth também contou que Peter estava irritado com ele por aquilo.
— Não me diga que Peter está com ciúme do amigo? — falou jocosa para Seth.
— Peter é um tipo possessivo de amigo. — Ele riu ao se referir do melhor amigo, e o acompanhou em um sorriso sereno.
Quil e Paul se aproximaram e logo mudou o assunto aproveitando para zombar com os dois:
— Vocês andam muito afastados! O que aconteceu, eu fiz alguma coisa ruim para vocês dois? — ela disse a eles enquanto os rapazes se sentavam em sua varanda.
— Jamais, ! A gente se amarra na sua! — disse Quil.
— Eu ando muito ocupado nas trilhas, aliás, Sam e eu. É alta temporada de turismo agora, então… — Paul sorriu demonstrando o cansaço.
— Bebam — falou apontando para o chá que Sue já se adiantou em servir aos rapazes, e que estava posta numa mesinha de centro ao canto da varanda de . — Logo La Push também terá de lidar com visitantes, não é?
— É! Jacob ficará uma pilha de nervos com isso, se prepare! — Paul reclamou apontando para ela como se fosse papel de lidar com aquilo.
— Por quê?
— Seu namorado não gosta de gente, . Achei que soubesse disso! — Quil a respondeu fazendo os outros meninos rirem.
— “Seu namorado”! Finalmente, uh? — Paul a olhou com um sorriso sacana e assim começaria a zombaria.
— Eu vou buscar um pedaço de torta para vocês três… — riu e se levantou, desconversando.
— Ela ficou toda vermelhinha, vocês viram? — Paul gritou sacaneando-a e os meninos riram, enquanto Sue dizia a eles para serem menos bobos.
Quando se preparava para sair da cozinha, Bruh a surpreendeu. Ela estava na soleira da porta dos fundos de cozinha e não havia notado. Bruh Ateara, com braços cruzados e uma expressão de desdém comentou:
— Então esta é a cabana da índia branca?
— É, Bruh… Esta é a minha cabana, bem-vinda — respondeu tentando soar menos agressiva.
Elas ficaram se olhando em silêncio. Era notória a revolta em torno das irises de Bruh, assim como a tentativa de em lhe passar um clima ameno, pois ela já estava farta daquela richa sem sentido com uma adolescente recém-saída da puberdade.
— Quil me contou que você e o Jake estão juntos. Isso é verdade?
— Por que não foi perguntar ao Black?
— Ele daria qualquer resposta que me afastasse.
— Por que você aceitou este tipo de humilhação, Bruh? — perguntou com tom de pena.
— Você pode responder a minha pergunta?
— Estamos namorando sim — respondeu pousando a bandeja sobre a mesa.
— Este anel… — Bruh apontou para a mão de . — Foi ele quem te deu?
— Sim. Aliás, você não foi até a inauguração da oficina dele. Onde estava?
— Não te devo satisfações da minha vida!
Depois da resposta malcriada, Bruh continuou em silêncio, desta vez olhando para os seus pés. Não chorava. Não mostrava raiva. E não sabia ler os sentimentos dela naquele momento.
— Olha, Bruh… Nunca foi a minha intenção magoar você e…
— Eu sei — a garota interrompeu. — A culpa foi minha, eu que idealizei conquistar o coração amargurado de um cara mais velho que só me enxerga como uma pirralha.
não soube o que dizer. “É verdade, você se iludiu”, seria bastante rude mesmo para Bruh que era apenas uma garota desiludida com o primeiro amor.
— Está tudo bem, índia branca — Ateara mencionou e, pela primeira vez, ela esboçou um meio sorriso sincero para . — Vocês têm mesmo tudo a ver. E é bom ver o Jake feliz de novo. Eu não vou te dar mais trabalho, e depois… Ainda terei um imprinting algum dia, então não é como se você ganhasse.
As duas mulheres sorriram e naquele momento Seth apareceu na cozinha perguntando se estava tudo bem e por que estava demorando. Quando viu Bruh, ele encarou a outra, preocupado, e então contou que elas estavam só conversando. Seth se assustou com aquilo, ele sempre se mantinha sorrateiro quanto a Bruh.
— ! — Charlie gritou do lado de fora, e Seth disse que levaria a bandeja, no entanto, Bruh queria ajudar também. saiu deixando-os sós.
— Deixa comigo, Seth! — Bruh pegou a bandeja ao mesmo tempo que ele e quase a deixou cair. Seth foi mais rápido e pegou a bandeja no ar. Olhou para Bruh, ainda desconfiado.
Charlie disse que avistou um cara estranho com Mark nos arredores da escarpada da praia, assim que apresentou-se diante dele.
— Você tem algum conhecimento se este tal Mark vive sozinho? — perguntou para ela.
— Não, pai, não tenho.
— Eu tenho que contar isso ao Sam…
— Era outro frio?
— Provavelmente — Charlie declarou e foi diretamente à cabana de Sam sem trocar palavras com ninguém.
Paul, Quil, Seth e Bruh perguntaram para se havia acontecido alguma coisa para Charlie estar tão sério.
— Nada para nos preocupar por ora… — E foi ela terminar de falar para Sam sair correndo de casa indo em direção à mata.
Os meninos gritaram para ele da varanda, perguntando se necessitava de alguma ajuda e ele apenas gritou que estava tudo bem. Black chegava em sua caminhonete e todo sujo de graxa, afinal, já estava trabalhando em sua oficina.
— Aonde o Sam foi? — perguntou após cumprimentar com um beijo.
— Venha — o puxou para a sala —, Charlie avistou um cara desconhecido com Mark nas escarpadas da praia. Pediu para Sam averiguar, mas acho que ele quis ir sozinho.
— Outro frio? E o Sam foi sozinho? — Jacob perguntou enquanto corria de volta para fora.
— Você vai atrás dele? — gritou o acompanhando para fora.
— Não sabemos a intenção deles, ele não devia ter ido sozinho. São dois contra um!
— Jake! — Seth gritou, Quil e Paul estavam de pé ao seu lado.
— Fiquem aqui e vigiem a reserva. Não se preocupem. Sam e eu damos conta!
Os meninos obedeceram e quando olhou para o lado, ela não viu Bruh. Jacob já havia partido.
— Quil… Onde está a Bruh? — perguntou .
— Droga… — resmungou Quil ao constatar. — Ela foi atrás deles.
— E agora? — perguntou.
— Bruh sabe se meter em encrenca, mas sabe sair delas também. Vamos seguir as ordens de Jake. — Paul finalizou e sentou-se para comer, logo os meninos o acompanharam.
Charlie surgiu na varanda da casa de Sam e ao seu lado estavam Sue e Emy. Emy continuava cabisbaixa. Sem esperar aproximação, caminhou até elas.
— Jacob foi atrás dele, Emy — falou na tentativa de acalmar a amiga. Seja lá o que estivesse acontecendo com Emily, previa ter algo a ver com o ocorrido.
Sue e Charlie a abraçaram e saíram, então, já que estavam sozinhas, aproveitou:
— Emy, estou notando que algo está deixando você tensa. E é algo que a Sue tenha falado. Você quer conversar?
— … Eu estou com um mau pressentimento, desde ontem. E eu acho que vai acontecer alguma coisa com o Sam.
— Acalme-se! — a abraçou. — Nem sempre maus pressentimentos são reais.
— Pode ser, mas somos tendenciosos a isto. — Emily sorriu desanimada.
— E tem mais alguma coisa acontecendo?
— Sue tem conversado muito comigo sobre… — olhou sem graça para e a puxou para dentro da cabana, dizendo baixinho: — Bebês.
— Bebês? — perguntou sem entender.
— Ela acha que está na hora de Sam e eu começarmos a pensar em família. Ela disse que está chegando o momento em que Sam deixará de ser o alfa.
— Por quê? Tem algum prazo?
— Não… Ela somente sente, mas diz não ter certeza das provisões… E aí eu fico ainda mais preocupada com estes maus pressentimentos que sinto em torno de Sam.
— Sendo assim, eu vou dizer aos garotos para irem atrás deles!
— Será que o Jake não ficaria bravo?
— Vocês são uma alcateia! E defendem uns aos outros, precisam estar juntos.
Ao chegar de volta à cabana para pedir a eles que fossem atrás de Sam e Black, os meninos não estavam mais lá.
— Onde estão os rapazes? — perguntou aos mais velhos que restaram ali.
— Foram atrás do Jake e do Sam — Billy disse ansioso.
— Billy… O que vai acontecer? — Emy perguntou.
— Não vai acontecer. Já aconteceu — Billy respondeu e tanto Sue e Charlie que já estavam cientes, quanto e Emily, ficaram apreensivos olhando para a mata, aguardando o menor sinal dos rapazes.
Cerca de vinte minutos depois, Bruh surgiu ensanguentada e ofegante, e antes mesmo que pudessem lhe perguntar qualquer coisa, Seth atrás dela surgiu a segurando. Bruh havia desmaiado. Foi assim que os outros correram da varanda de , em direção aos dois.
— Seth, o que houve?! — Sue perguntou preocupada, checando-os.
— Ela está bem, só desmaiou de cansada — ele disse referindo-se a Bruh.
— Leve ela para dentro — pediu o chamando para dentro da cabana.
Eles subiram até o quarto dela onde Seth deitou Bruh na cama, e Emily rapidamente se pronunciou:
— Seth… Me conta.
Sue retirava as roupas da garota dentro do quarto, e Billy e Charlie aguardavam no andar de baixo. Seth, em uma tentativa de desconversar, olhou para Sue e para Bruh, dizendo:
— Mãe, quer alguma ajuda?
— Responda à pergunta de Emily, Seth — Sue ordenou, séria.
Sue saiu com as roupas sujas de Bruh e deixou a garota de roupas íntimas deitada dormindo sobre a cama. Seth não conseguiu olhar para Emily, e aquilo era um mau sinal. cobriu o corpo da mais nova e foi até Seth segurando sua mão de um modo firme. Também segurou a mão trêmula de Emily.
— Foi o Sam… Emy… — Mal Seth falou, e Emily começou a chorar silenciosa de olhos arregalados para ele.
— Seth, o que exatamente aconteceu ao Sam? — perguntou a fim de acabar com aquele martírio pelo qual Emy passava.
— Ele está ferido. Os garotos o levaram para o hospital de Forks.
— Quão ferido? — Emy perguntou.
— Eu não sei dizer o estado em que ele está, Emy…
Emily chorava, Seth tremia e apertava ainda mais a mão da amiga.
— Seth! Ajude sua mãe a cuidar da Bruh. Eu vou levar Emy até lá. Vamos, Emy! — , decidida, arrastou Emily pela casa, que a seguiu sem olhar para trás.
Elas saíram sem falar nada a Billy e a Charlie, mas Seth lhes explicaria. Embry chegou na reserva no momento em que elas entravam no carro e o rapaz estranhou o clima que estava no lugar trocando olhares duvidosos com .
— Entra no carro! — gritou para ele.
dirigia até o hospital de Forks, enquanto Emily, no carro, falava com Embry o que havia escutado. Eles encontraram os garotos sentados na sala de espera do hospital, e quando avistaram Emily, correram para a abraçar. Inclusive Black, que após confortar e apoiar Emily como o alfa mais velho, caminhou até e despejou sua fraqueza pelo momento em um abraço com a namorada.
— Você está bem? — Mani lhe perguntou.
— Não sei se vou ficar — sussurrou em resposta.
— Céus, Black, o que aconteceu? — Emily perguntou chorando desesperadamente e sendo abraçada pelos amigos.
— O outro frio... Na batalha, ele… Arrancou um braço de Sam e causou ferimentos mais graves. Ele está sendo operado.
sentiu-se chocada e seu estômago embrulhou. Ela apertou ainda mais o corpo de Jake em um abraço e Embry se concentrou em dar apoio à Emy. Logo, estava ao lado dela afagando seus cabelos, enquanto a mulher, magoada, recostou em seu ombro.
O médico surgiu um pouco depois dando a notícia de que Sam ficaria bem, no entanto, seu braço esquerdo foi amputado e não havia chances de implantá-lo. Muitas terminações nervosas foram dilaceradas e a urgência foi estancar o ferimento para preservar a vida dele.
Sam estava vivo. Iria se recuperar. Mas não seria mais um lobo guerreiro. E embora todos estivessem assustados, também estavam aliviados por saber que Sam sairia dali com vida. Emy mostrou-se muito confortada, apesar da notícia de que seu marido havia perdido seu membro esquerdo. Talvez, por ela já ter passado por um risco como aquele e ter escapado com vida, ela soubesse que eles se adaptariam àquilo.
Quão pior seria ter de se readaptar à morte?
Naquele instante, precisou sair dali de dentro e tomar um ar fresco. Ao sair, ela se sentou nos bancos externos da rua, e Mark surgiu ao seu lado, sorrateiramente, sem que ela notasse.
— Seu namorado é bem bravo — o vampiro disse ao pé do seu ouvido, assustando-a. Imediatamente, se levantou afastando dele.
— O que você está fazendo aqui?
— Meu amigo e eu fomos surpreendidos pelo lobo, apenas nos defendemos. Logo o seu namorado chegou e então recuamos. Ele está bem? Digo… O cara que Darak atacou.
— Ele vai ficar, mas não tão bem quanto antes. E é culpa de vocês! — declarou de um jeito bravo e incontido.
— Você namora um lobo…
— E isto não é da sua conta! O que o outro frio veio fazer aqui?
— Frio? Então você sabe o que somos… — Mark a encarou de um modo surpreso, mas lançou a ela um sorriso indecifrável.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Ela se aproximou com raiva dele. — Aqui não é o lugar de vocês!
— Também não é da sua conta! — Mark falou firme, enciumado por vê-la defender os outros com tanto afinco, mas logo retomou sua frieza comum. — Bem, eu só vim saber como o cara estava. Como eu disse, nós apenas estávamos de passagem.
— Em La Push? Acaso não sabiam que a reserva é proibida para seres como vocês?
— Seres como nós… — Ele riu. — Você também é uma loba por acaso?
— Não.
— Eu sabia… E é estranho ouvir você falar assim, afinal, você é uma humana. Uma presa tanto para nós, quanto para eles!
— Saia daqui, Mark! — vociferou irritada.
— Nos vemos por aí. Desculpe pelo seu… O que o cara que atacamos é seu?
— Você está sozinho agora, Mark, já eu tenho quatro lobos lá dentro! — ameaçou.
— Ok… Acalme-se, gracinha… Eu não vim para provocar. Mas acho bom você saber que será intermediadora dos seres como nós, para os lobos. — Ele sorriu, um sorriso ingênuo e assustador.
Quando o vampiro se virou, distanciando, sentiu-se tonta. Bastante tonta. Como da última vez que estivera com ele na casa dos Cullen.
— Ah! A propósito! Passe lá em casa para tomarmos um chá qualquer hora — disse o frio com sarcasmo com aquele sorriso branco e afiado estendido na direção dela.
gelou. Seu olhar mortal se distanciou aos poucos dos olhos dela, e a mulher estava extremamente enojada. Suava frio. Alguma coisa acontecia ao seu corpo, e ela não sabia o que era, mas sabia que tinha algo a ver com a presença de Mark.
Voltou para o hospital, trôpega. Assim que apontou no corredor da sala de espera, os meninos a olharam com cara de nojo. Ela andava cambaleante até cair nos braços de Jacob, que notou a sua fraqueza vindo ao seu encontro.
— Você está com o cheiro de um deles, — Quil falou a olhando enojado.
— Black… Mark… Lá fora — ela falou aos poucos, ainda sentindo-se zonza.
— Ele fez algo a você?
— Não.
— Maldito! Ainda teve a coragem de aparecer aqui! — Jacob declarou com ódio.
Black primeiro ajudou a sentar em uma das cadeiras, mas o corpo dele estremeceu e ele preparava-se para sair atrás de Mark, então a namorado o segurou pelo punho, impedindo.
— Ele já foi.
Paul estendeu para , que recuperava pouco a pouco os sentidos, um copo de água.
— O que ele estava fazendo lá fora?
— Eu estava sentada no banco quando ele me surpreendeu… Disse que estavam de passagem e foram pegos de surpresa por vocês. Ele disse que não queria confusões. E aparentemente não sabiam que La Push é um território quileute e restrito.
— Por que este cara continua procurando por você, ? — Black estava tão irritado quanto sempre ficava ao se tratar de Mark.
— Eu não sei! Mas ele disse que eu seria a intermediadora entre vocês. O que ele quis dizer com isto?
— Que ele não te fará mal porque precisa de você para se comunicar conosco — Quil afirmou.
— A questão é: o que ele tem a tratar conosco? — concluiu Paul.
♦ = ♦
Dias se passaram desde aquele ocorrido. Mark não apareceu mais no caminho de . La Push estava tranquila e Sam recuperava-se em casa.
havia comprado o terreno para seu laboratório. Os irmãos Vincent, como prometido, tomaram as rédeas da construção do laboratório junto a ela, e em breve a construção daria início.
A rotina continuava a mesma: Black entre a oficina e o artesanato; Embry e Quil trabalhando juntos; Paul cobrindo a falta de Sam na empresa local de ecoturismo. Sam voltaria a trabalhar exatamente no mesmo posto, mas algumas adaptações seriam tomadas. Ele passaria por um novo preparatório que a empresa bancaria para se readaptar ao serviço e às novas medidas de segurança, uma vez que agora ele seria instrutor de escalada, mas principalmente em escalada adaptada. A empresa enxergou no acidente de Sam uma ótima oportunidade de incorporar uma nova atividade para um novo público. Nenhuma novidade mundial, mas para Forks aquilo era uma grande novidade. Emy também estava mais calma em relação a Sam e a todas as preocupações.
Seth trabalhava bastante e voltou a sair com a Lili Parker. Ele e Bruh se aproximaram um pouco mais após a mudança da garota. previa que pelo jeitinho da lobinha, Seth encontraria uma nova paixonite em seu pé, contudo, Bruh também parecia mais madura e a amizade deles fluía como a de todos os rapazes da alcateia. Seth até descolou para Bruh um emprego na floricultura. Segundo ele, a dona procurava uma moça nova para trabalhar como florista e ela não queria mais ajudar o pai na loja dele. E lá estavam Bruh e Seth trabalhando juntos, pelo menos por meio período.
Seth confessou para em um final de manhã que almoçaram juntos que Bruh não era o tipo de pessoa que amadurecia rápido ou que desistia fácil de um objetivo. Ele não confiava nas atitudes da novata e por causa disso, se dispôs em segredo a vigiá-la de perto. Por mais que lhe dissesse para esquecer aquela história e dar uma chance à menina, ele a alertou.
— Seth, por causa deste tipo de descrença que a Bruh vive revoltada. Dê uma chance, afinal, com traumas vem a maturidade, não é?
— , você não pode confiar que todas as pessoas vão agir assim. Bruh Ateara é totalmente o oposto do irmão, ela não é o tipo de pessoa que muda da água para o vinho.
— Acho que você pode estar enganado, ela me pareceu muito sincera aquela tarde em minha cozinha.
— Só um aviso: cuidado com a Bruh. Eu vou continuar vigilante.
Black e também estavam cada vez mais apaixonados, e a mulher decidia pouco a pouco embarcar mais fundo em seu romance. A semana correu, assim, tranquila com passando os dias pós-expediente acompanhando as obras do laboratório e retornando a casa somente ao final do dia.
— , posso falar com você? — perguntou Billy.
Ela havia acabado de chegar da obra do laboratório, estava exausta. Precisava de um bom banho e um jantar apetitoso. Black prometera cozinhar para os dois naquela noite, então ela já estava bastante ansiosa. As luzes de sua cabana estavam acesas, e supôs que Jacob estaria lá. Foi então que ela notou que Billy se aproveitou daquilo para lhe falar alguma coisa. fechou a porta do carro e caminhou até ele.
— Boa noite, Billy.
— Boa noite, querida.
— Por que eu tenho a impressão de que alguma coisa aconteceu e o Black não pode saber? — perguntou com uma sobrancelha arqueada.
— Preciso que faça uma coisa e Jacob não pode saber, realmente.
— Certo, vamos entrar? — A mulher entrou na cabana de Billy e foi até a cozinha beber um copo d’água. Ela também se sentia em casa dado o tempo que passou por ali.
— , preciso que você fale com os frios. — Billy fora direto. Sem rodeios, como sempre. — Um novo acordo deve ser feito. Temos que proteger nossas terras e eles não podem andar por aqui. Assim como fiz com os Cullen, faremos um acordo com eles se desejam viver em Forks.
— Eu ajudo, é claro. Mas isto não deveria ser responsabilidade do alfa?
— Jacob será nomeado o alfa daqui uma semana, .
— Como?
— É o momento dele. Sam não pode ser mais um alfa. E como Jacob não está confortável com a presença dos frios, não podemos contar que ele aceitará um acordo, por isso eu estou agindo antes da nomeação dele. Até porque, se os frios não aceitarem…
— Teremos uma guerra… Entendo. E você quer que eu vá em seu lugar acordar com os frios?
— Eles disseram que você seria intermediadora, não é?
— Sim…
— Não te farão mal. Contudo, Quil irá com você. Ele é o mais discreto.
— Tudo bem! Quando quer que façamos isto?
— Quanto antes melhor. Mas … O antigo acordo proibia os Cullen de frequentar as terras da reserva e também de ferir qualquer cidadão de Forks.
— Billy, desculpe a minha ignorância, mas de que eles viviam? Se é que você me entende.
— Os Cullen caçavam animais. E este é o ponto difícil neste novo acordo, estes frios não são os Cullen.
— Entendi. Pedir aos vampiros para caírem fora das terras e não beberem o sangue de nenhum humano… — riu sarcástica. — Não tem nada mais difícil?
— Eu sei que pode ser difícil, mas por alguma razão eles estavam certos: você é a mediadora entre nós.
— Sabe o que eu acho? — perguntou retórica e cansada a Billy. — Que vocês confiam muito que eu não seja parte da dieta deles.
— Se fosse, já saberia. — Billy riu, prosseguindo: — E é bem curioso eles não te atacarem, não acha?
— E acho também que é bom que eu desenvolva algum tipo de poder como vocês, porque para uma reles humana eu ando rindo muito na cara do perigo — a mulher falou sacudindo a cabeça negativamente, sorriu para Billy e se direcionou à sua cabana onde o cheiro do jantar estava realmente apetitoso.
Capítulo Vinte e Seis
Novo acordo, novas relações
Aquele tipo apaixonado estúpido, que olha o ser amado com brilho nas írises e esboça um sorriso tolo pela face. não curtia ser este tipo de “garotinha apaixonada”, em seus relacionamentos ela era, como diziam, “segura demais para pouca coisa”. E ela deixava externalizar essa imagem de uma mulher bem resolvida que não solta suspiros vassalos, mas sim, os arranca. Contudo, quem era a mulher escorada à porta da própria cabana a admirar o ser amado de avental na cozinha? Aquela mulher esboçava um sorriso tolo e encantado, ainda discreto, no cantinho esquerdo dos lábios a ser denunciado.
descruzou os braços e pernas e se desprendeu do batente da porta, tirou os tênis empoeirados deixando-os na varanda. Entrou em sua cabana colocando a sua bolsa e pasta sobre a mesinha do escritoriozinho abaixo da escada. Black assobiava uma canção desconhecida por ela. foi em direção à cozinha como uma gatuna mansa e atacou as costas largas do seu lobo preferido enquanto ele picava legumes.
No habitual e corriqueiro gesto entre eles, ela mordeu seu ombro e Jacob, girando-se para ela, cheirou o seu pescoço. Aquele ritual era a identidade da relação desde o princípio. Bastava a proximidade da ponta do nariz dele na pele dela, para que se abandonasse em um abraço confortável nos braços do homem.
— Agora eu posso parar de chorar, você chegou — Jacob falou manhoso.
Manhoso, com aquele trovão de voz. Como manter a sanidade? não sabia como ela conseguia mantê-la junto a Jacob, mas mantinha. A fim de desvendar a piada em seu recente comentário, ela espiou a tábua de carnes. Ele estava cortando cebolas e assim estava explicado o motivo de um olhar avermelhado e dos cílios, desnecessariamente longos para alguém que não se importava com este tipo de vaidade, umedecidos.
beijou o seu lobo num selinho casto e saiu de volta para seu quarto. Deparou-se com sua cama arrumada, onde uma camisola confortável e um robe quentinho estavam separados. Aquela seria uma fria noite e o corpo de , exausto pelas obras do laboratório, pedia pelo máximo de conforto que ela lhe pudesse permitir. Embora ela não fizesse nada comparado aos empreiteiros na obra, acompanhar o passo a passo da construção, a execução dos planejamentos e andar de um lado para o outro também se tornava exaustivo para a mulher.
Após o banho, desceu as escadas no rastro de um cheiro apetitoso e apertava-se em um abraço friorento contra o próprio corpo. De novo em sua cozinha, na bancada central havia posto um jantar quase romântico. E a comida os preenchia de água na boca. Black e ela trocaram sorrisos demonstrando uma ansiedade pelo primeiro jantar dos dois na nova casa de .
— Ainda me lembro da primeira vez que jantamos juntos.
— Você com aquele seu ar sombrio me apavorando e ao mesmo tempo me entorpecendo.
— Louco de vontade de sair de perto de você, e ao mesmo tempo de te tomar em meus braços.
— Você realmente me passou a impressão de que poderia me devorar, sabia? Não que eu goste de confessar isto, mas às vezes eu sentia medo.
— Como se você também não intimidasse, Mani…
A conversa entre eles também esboçava uma aura de sedução. Eles sorriram tocando a mão um do outro, e não suportando a falta do contato entre suas bocas, os dois se beijaram. E foi ao chocar lábio contra lábio que a energia da casa faltou. Pela ironia de um momento repetido, recém relembrado, Jacob e iniciaram uma gargalhada. Aconteceu como da primeira vez em que ele havia passado a noite na casa dela e os dois tiveram que acender velas por toda a parte.
— Bom, podemos dizer que este, dessa vez, será um jantar romântico — ele falou acendendo as velas nos castiçais sobre a bancada.
Durante todo o jantar o casal ria e conversava tranquilamente. sentiu como se um prenúncio de eternidade se repousasse naquele momento. E mesmo que a energia estivesse demorando a se reestabelecer, como não era apenas em sua cabana, eles não se preocuparam. Jacob e ela acabaram por deixar as louças para o outro dia já que o frio natural da reserva, não espantado pela ausência do aquecedor, os impelia de fazer qualquer coisa que não fosse se recostarem à uma lareira. Por isso, Black saiu pela porta dos fundos da cozinha em busca de lenha, enquanto guardava o restante do jantar na geladeira. Não demorou muito para que ele retornasse com um feixe de madeiras lenhadas, nos braços.
— Eu preparei tocos de lenha para que você queime em sua lareira quando necessário e os coloquei em um suporte do lado de fora da cozinha.
— O que seria de mim sem você? — disse em tom meigo, de modo brincalhão.
— Você saberia se virar… — Jacob disse rindo abafado caminhando em direção à lareira da sala.
— Eu vou até o quarto buscar um edredom para nós ficarmos aninhadinhos, enquanto você acende a lareira.
— Traga um bem pesado, Mani, parece que teremos uma cerração bem fria esta noite.
— Oras… Não é você quem não sente frio?
— Ei! Eu ainda sou um ser humano, ok? Pode não parecer, mas lobos também sentem frio.
O tapete da sala da cabana foi coberto de almofadas por ele, Black estava em frente à lareira soprando o fogo e aquecendo suas mãos e logo chegou com os cobertores, estendendo-os sobre o tapete e se acomodando. Black girou-se no chão engatinhando até onde a mulher estava e tal como ela, o quileute se acomodou sob o edredom e ambos ficaram abraçados em silêncio.
— Obrigada, Black, este foi um jantar especial.
— Por ser o primeiro em sua cabana?
— Também. Mas principalmente por ser o primeiro feito pelo meu namorado. — sorriu em seguida sentindo-se tal como uma adolescente.
— O primeiro de muitos — Jacob disse e suspirou feliz, apertando a mulher em seus braços.
— Você vai dormir aqui hoje, Black?
— Você quer que eu durma?
— Sim. E eu gostaria de dormir aqui no tapete, em frente à lareira porque meu quarto está bem frio e este clima é muito romântico e acolhedor.
— Se eu estiver com você, estará sempre aquecida. Não importa o lugar... — Jacob respondeu-lhe encarando a fogueira.
E enquanto o observou, ela pôde notar o fogo refletir em seus olhos distantes. Era mais um momento de nostalgia dele. Algo naquele instante o recordava do passado. Contudo, ela não se preocuparia com as lembranças do passado dele, uma vez que o seu próprio passado também a assombrava recentemente.
Encarando a fogueira em um gesto de imitá-lo, recordou-se mais uma vez de Theo. Recordou-se de uma memória em que ela estava em uma cabana com ele, onde haviam ficado juntos em uma de suas viagens. Theo e ela tinham viajado ao Canadá para esquiar, e embora detestasse as baixas temperaturas, aquela era uma data especial. E como Black e ela naquele momento, o ex-noivo e se aqueceram à uma lareira.
Despertando de suas lembranças, o quileute e a namorada se encararam ao mesmo tempo e trocaram um beijo calmo. Como se estivessem, os dois, na busca de construir novas recordações em cima das antigas, não querendo as apagar, mas tornar a nova realidade melhor do que os seus passados.
Ao romper do ósculo, Black acariciava o rosto dela e mantinha um fulgurante olhar. O fogo em suas írises já não era reflexo da lareira, mas sim, do desejo por ela.
— Nunca fui tão feliz por Bella não ter me escolhido desde que você chegou.
— Como? — indagou confusa.
— É isso mesmo. Ela não é um terço do que você é. E nem chegaria jamais a me causar as sensações que você me causa, .
— Nós sempre fomos muito diferentes, e eu agradeço por isso — comentou sincera, com um meio sorriso.
Houve um silêncio breve e aconchegante entre eles, ela se aninhou mais nos braços dele, e o silêncio foi interrompido pelo estalo do fogo em uma das madeiras ao mesmo tempo em que a voz grave dele ecoou:
— Eu te amo, .
— Black...? — A mulher não achou ter escutado certo. Ela o encarou surpresa, e enxergou que ele estava sendo sincero com ela, então, sorriu abobalhada ao confessar-lhe: — Eu também estou te amando.
— Você sente esta mesma intensidade?
— Desde que o vi na praia eu soube que você me traria muita curiosidade, e cada dia ao seu lado fazia eu me sentir na obrigação de chegar aonde ninguém chegou dentro de você.
— E já sentiu isso antes por outra pessoa, Mani?
Ela se silenciou em um ato reflexivo de avaliar aquela pergunta. Avaliar as experiências anteriores.
— Não foi idêntico ao que é contigo, e nem poderia ser. São relações diferentes e momentos diferentes da minha vida.
— Qual o nome dele... Digo, do outro que existiu antes de mim?
— Theo.
— E o que aconteceu? Ele também trocou você?
— Não. Nós íamos nos casar.
Black arregalou os olhos em uma surpresa.
— E o que houve?
— Ele faleceu um dia antes do casamento.
Diante da revelação rápida dela, Black ficou em silêncio, em choque. Lançou diante dela o seu olhar fulgurante e não penoso. Ele buscava a desvendar de alguma forma, e observava suas reações. Talvez esperasse lágrimas se derramando na face da mulher, mas elas não vieram e então, pôde sorrir ao notar aquilo. A ferida estava fechada novamente e graças a Black.
— Não quero ser insensível, mas que bom que não se casou. Do contrário, eu estaria no limbo até agora.
riu diante da reação de Jacob que, embora respeitosa, era um tanto cômica.
— Acho que posso cumprir o desejo do Theo agora... — a mulher revelou se aproximando do rosto de Jacob e recordando aquela última mensagem de despedida de seu noivo que lhe pediu para ser feliz.
Os olhos de estavam quase grudados aos de Jacob, ela segurava-lhe o rosto com as duas mãos de um jeito delicado e permissivo. Beijou o namorado lentamente, e até poderia ficar a noite inteira o beijando daquele modo casto, doce... No entanto, Jacob passou a mão pela cintura a colocando sentada em seu colo, ainda debaixo das cobertas, e sussurrou no meio do beijo para ela:
— Eu te quero, ...
Ela levou seu corpo, sutilmente, ainda mais firme para o colo de Black que lhe apertou ainda mais pela cintura. Uma das fortes mãos dele pressionaram a nuca da mulher contra o seu beijo. Os estalos da madeira incendiada na lareira seguiam servindo de trilha sonora, e o abraço do casal era quente.
poderia imaginar aquele momento de tantas formas, mas nunca o havia feito. Ela não pensava em planejar aquilo ou em como seria. Black puxou o cordão de seu pesado robe devagar, de modo que os ombros dela, sob as finas alças de uma camisola, se fizeram aparecer. Depositando beijos cálidos no caminho do pescoço até as clavículas de , de maneira lenta, ele despia a parte de cima de seu corpo. E um arrepio pelo choque de temperaturas, perceptível sob a pele da mulher, o fizera grudar mais os dois corpos enquanto eles se beijavam. A camisa de mangas longas dele, pouco a pouco desaparecia de seu corpo também, assim como as outras peças de roupas que eles vestiam. Jacob puxou o edredom atrás das costas de , os protegendo do frio, embora ambos soubessem o que os manteria aquecidos a seguir. Seus sentidos foram se perdendo à medida que aquele momento ia se concretizando.
estremeceu com a pequena corrente fria que bateu em suas costas desnudas. Abriu os olhos devagar, e sentiu o cheiro das cinzas da lareira. À volta de sua sala, a cena: a leve e discreta claridade da manhã do lado de fora da cabana, roupas espalhadas ao seu redor, as centelhas das últimas lenhas queimando, o edredom batendo de sua cintura para baixo – o qual ela puxou por sentir frio – e Black dormindo pesadamente. Seu rosto sereno e a mandíbula contraída.
A mulher recordou-se da noite anterior com um largo sorriso, e apertou-se no abraço em que eles ainda se encontravam. Ela mordeu os próprios lábios passeando com a ponta de seus dedos sobre o corpo dele. Então, o lobo apertou-a ainda mais em seu braço forte e tatuado, enquanto murmurava um suspiro prazeroso. A mulher não queria acordá-lo e também não queria sair dali. Por ela, o dia todo ficaria trancada com Black em sua cabana, apenas os dois deitados naquele mesmo lugar. Dormindo ou conversando.
estava abobalhada ao observar aquele homem sonolento diante dela, sentia-se uma meninota tolinha. Ela não sentia aquela sensação há tanto tempo, e até ousaria crer que nunca havia sentido algo igual, um sentimento de carinho daquela forma. Era como se fosse a primeira vez que aquilo lhe acontecia... Era um tipo de carinho orgulhoso donde só se sente quando algo muito difícil acaba sendo conquistado. Uma mistura de afeto e ego, uma felicidade extasiante que a fizera decidir diante de seus próprios sentimentos de que aquela era a primeira vez. Apesar de Theo, estava certa de que aquele amor por Jacob era único. Então, sim, aquela era a tão falada primeira vez que o amor genuíno acontece. Jacob Black roubara qualquer experiência anterior que ela tivera, e sentia seu coração bater junto ao dele.
Por volta das onze horas da manhã, Jacob despertou com o cheiro vindo da cozinha. decidiu deixá-lo despertar sozinho e também se dar folga naquele dia. Steve ficou confuso com sua repentina ligação, mas não reclamou quando lhe pediu educadamente para cobrir seu turno.
E embora fosse quase metade da manhã, a mulher também não abriu a sua cabana. Ainda fazia muito frio, e mesmo que não estivesse uns cinco ou dez graus lá fora, ela não abriria a casa. Não queria interagir com a reserva, e mentalmente agradeceu por ninguém bater em sua porta. já havia reacendido a lareira para mantê-los aquecidos, embora o aquecedor da cabana estivesse funcionando, uma vez que a energia fora estabelecida. Mas ela não queria perder o clima romântico da lareira e, portanto, manteve a brasa e foi à cozinha enquanto ele dormia.
Quando ele acordou, ela estava pensativa no que faria aquele resto de dia e então pôde sentir o abraço nu de seu homem recém desperto surgindo atrás de si.
— Você deveria se vestir, ainda está muito frio — ela comentou sorrindo e beijando o braço dele diante de seu pescoço.
— Eu queria te sentir primeiro.
— Você apagou, huh? — respondeu correspondendo ao abraço dele.
— Não dormia tão bem assim desde que me lembro de existir.
— Nossa! Que exagerado! — provocou ela, risonha.
— É sério — Jacob falou a encarando risonho, mas logo ficou sério ao confessar verdadeiro: — essa noite para mim foi como recomeçar.
— Eu sinto o mesmo, Jacob.
— Obrigado, Mani... — Black sussurrou em seu ouvido, cheirando o pescoço da namorada.
— Obrigada também, Black... — respondeu, mordendo o ombro dele.
Jacob saiu pela cabana dela para tomar banho e se agasalhar e permaneceu na cozinha preparando o almoço. Black também se deu folga naquele dia, e o casal passou o dia trancados ali na cabana. Conversaram, assistiram filme, jogaram jogos de tabuleiro e quando julgaram que o restante da reserva estaria preocupado com seus desaparecimentos, os dois saíram. Encontraram todos reunidos na varanda da casa de Sue e os encarando curiosos. Ao vê-los reunidos, Black e abaixaram seus rostos e começaram a rir como dois adolescentes flagrados em um namoro escondido por seus melhores amigos. O riso contagiou a todos os amigos quileutes que os encaravam com expressão de malícia, felicidade e animação. Billy, Sue e Charlie, porém, os olhavam como se presenciassem o nascer de uma vida nova entre o casal e de certa forma, era bem como eles se sentiam.
— É! Está consumado! — Seth falou alto e brincalhão entre os amigos que voltaram a rir.
— Fique quieto, Clearwater! — Jacob sorriu sem graça, e trovejou com sua voz a bronca para o mais novo, sem soltar-se de no abraço em que estavam.
Sam começou a caminhar em sua direção, enquanto Black e se aproximavam dos outros.
— Eu sei que vocês estão ótimos, mas esperei o dia todo para falar com você, Jake. Desculpe, — Sam proclamou sorrindo amigável.
— Tudo bem Sam, já tivemos a nossa fuga da realidade.
A mulher saiu os deixando no caminho e foi até Emy e Sue que sorriam entre si.
— Aproveitando que o Sam já está falando com Jacob, nós precisamos conversar, ... — Billy declarou logo que a mulher estava diante dele.
— Billy, dê um tempo a ela! Logo hoje? — Sue comentou de forma gentil.
Ao notar que Billy tinha urgência em falar, mas ficou visivelmente sem graça com a fala de Sue, aceitou ter o diálogo.
— Tudo bem, Billy, como eu disse ao Sam, já fugi da realidade por hoje. Podemos falar sim.
— Obrigado. Me acompanhe até a cozinha de Sue?
— Claro.
Assim que adentraram, , que já conhecia seu sogro o suficiente para saber que toda conversa com Billy, incluindo as mais tensas, exigiam aqueles seus amargosos chás, pôs-se a preparar a água em uma chaleira. No entanto, ela estava nas nuvens para tomar qualquer coisa amarga, portanto, recorreu a uma bebida que fosse quente e confortante daquela vez. E tamanha felicidade que ela tentava manter discreta, não passou em branco por Billy:
— A propósito, estou radiante por vocês dois.
trocou um olhar cúmplice com o velho Black, e os dois sorriram sem graça um para o outro.
— Agora eu acho que devo mesmo chamá-lo de sogro.
— Fique à vontade...
— E então, Billy? — sorriu amarelo e logo voltou a focar no assunto que os levava àquela cozinha: — Suponho que seja sobre o acordo, correto?
— Sam está falando com Jacob sobre o cargo de alfa. E eu já avisei ao Quil sobre acompanhar você no encontro com os frios.
— Entendido. Vou procurar o Mark o quanto antes.
Billy esfregou as mãos observando cauteloso a maneira altiva com a qual a jovem mulher declarava sua próxima ação.
— , você precisa falar com ele de forma que entenda que não devem surgir outros. Até porque, em comparação aos Cullen, a dieta de Mark pelo que eu soube... é bem tradicional — alertou Billy, um pouco preocupado.
— Os ataques frequentes… — espantou-se um pouco e perguntou igualmente insegura: — Você tem confirmação de que foram eles?
— Eu só não tenho a comprovação.
— Amanhã mesmo, Billy! Deixe comigo! Irei colocar o Mark no seu devido lugar!
— Eu não poderia ter uma nora melhor…
— Não mesmo, disso não tenha dúvidas.
Os dois sorriram e seguiram ao encontro dos amigos. ainda deveria manter segredo de Black sobre tudo aquilo, embora não lhe agradasse a ideia de mentir para ele após tudo o que o casal passou.
Antes do anoitecer e de todos se despedirem para seguir às suas cabanas, conversou com Charlie algo referente ao plano do dia seguinte. Aquela noite, Jacob dormiu na cabana dela mais uma vez e poderia apostar que se tornaria um hábito cada vez mais frequente que ele estadiasse mais em sua cabana. Enquanto ele estava no banho, ela precisou telefonar para Erick, um pouco oculta de Jacob.
— ? Aconteceu alguma coisa?— O policial atendeu confuso pela chamada dela.
— Eu preciso encontrá-lo amanhã na delegacia para esclarecer algumas coisas referentes aos últimos ataques. Conversei com o Charlie, e ele me autorizou. E provavelmente ele entrará em contato com você para que confirme o que eu digo.
— Certo, a hora que você preferir. Estarei lá o dia todo. Mas… O que você poderia esclarecer?
— Vai ser muito importante também que você não me faça perguntas, Erick. Apenas, confie em mim, ok?
— Veremos, , eu não posso afirmar nada.
— Tudo bem, até amanhã, eu preciso desligar.
— Boa noite, até amanhã.
Erick estava com uma família de pulgas atrás das orelhas, e mesmo conversando com Charlie para saber a opinião dele e tendo a afirmativa como resposta, indagava-se, se era correto envolver Erick naquilo. Como ela faria para explicar ao policial o seu repentino interesse na investigação dos ataques?
Logo que amanheceu, acordou Jacob e eles se prepararam para seus trabalhos. Se despediram e quem quer que os visse, juraria que eram um casal de longo tempo. Para os dois era maravilhosa a sensação de eternidade e intimidade que crescia cada vez mais entre eles.
Erick aguardava a mulher na delegacia bem cedo, e aproveitou seu tempo livre pré-expediente para resolver aquele assunto. Ele mostrou para ela os dossiês dos ataques com as fotos das vítimas e relatos. Charlie já havia dito ao policial que era permitido mostrar a ela tudo aquilo e compartilhar informações, já que ele acreditava que poderia ajudar com depoimentos de quando estava morando só no Kalil. Os ataques, em sua maioria, ocorreram nas proximidades, e ela mentiu para Erick ao dizer que Charlie coletou informações com ela, e por isso ela gostaria de entender melhor do caso e ver as fotografias a fim de saber se reconheceria algo.
Após ver todas aquelas imagens de corpos, o coração de acelerava em pensar que estivera tão próxima de Mark. Tudo ali poderia ser apontado como causado por vampiros, isso, é claro, para ela e para os quileutes que sabiam da verdade. Sua cabeça latejava em pensar como seria ter que encontrar Mark de novo depois de ver aquelas cenas, e mesmo com Quil ao seu lado, não estava tranquila sobre o encontro.
Erick, lógico, tentou arrancar informações mais contundentes sobre o interesse de no assunto, já que ele não acreditou nas justificativas do delegado Swan, e sequer compreendeu o protocolo que foi utilizado diante uma testemunha. não deveria ter acesso àquelas informações se ela era apenas um depoimento de testemunha possível. Na verdade, Erick já tinha desconfianças sobre o modo como o delegado Swan dava pouca atenção a algumas coisas ocorridas em Forks, em especial, se tratando da reserva indígena. E agora aquela história de ter que ver as provas... O policial não acreditava que Charlie era culpado de alguma coisa, mas certamente ele protegia algo ou alguém, mas Erick não imaginava o que poderia fazer para desvendar algum segredo de Charlie. , no entanto, quando notou a desconfiança dele, já sabia que Erick continuaria tentando descobrir qual a relação dela com o assunto, mesmo depois que ela saísse da delegacia.
Como se ela não tivesse que se preocupar com coisas mais importantes, Daniela Parker a viu sair da delegacia e despedir-se do policial e já a encarava com a sua postura arrogante e acusatória. , porém, advertiu a Erick antes de qualquer coisa:
— Se a sua cunhadinha for responsável por qualquer importuno da sua namoradinha no meu dia, eu juro que vou acabar com a palhaçada dessas duas. Não ando com paciência para as Parker!
— Nossa, calma! Por que tanto ódio?
— Não é ódio. Só que sou madura demais para lidar com a birra delas, e paciência tem limite. Tudo está ótimo na minha vida e eu não quero me aborrecer. Entendido?
— Entendido, capitã… — Erick riu ao respondê-la.
— É sério, Erick! Você sabe que ela vai aprontar, não é? Então evite isso, por favor. Não é possível que não podemos ao menos conviver.
— Eu vou ter uma conversa definitiva com elas. Não tem motivos para implicância mesmo. Nós dois... — Erick abaixou a cabeça e concluiu com um sorriso triste: — Não temos qualquer possibilidade...
— Funcionamos muito melhor como amigos — disse de modo certeiro para ele.
— É… — Erick concordou incerto e mudou o assunto. — E como andam as obras do laboratório?
— Está correndo dentro das expectativas!
— Fico feliz! Soube que vendeu a sua casa…
— Sim! Consegui! — comemorou com as mãos para o alto. — Estou morando na reserva.
— Nossa! Então é oficial… Você se tornou uma quileute.
— Sempre fui um deles, não é? — ela revelou lembrando-se de algumas vezes em que Erick implicava com aquilo.
— Espero que seja muito feliz por lá, de verdade. Apesar de você sabe... eu realmente desejo que você seja feliz.
— Já estou sendo. Obrigada, Erick. — sorriu e acenou saindo em direção à farmácia. Antes de se afastar totalmente, ela virou-se em direção a Erick, que ainda a observava se afastar, e perguntou com uma curiosidade e empatia no rosto: — E você? Está feliz?
— Não como você.
— Torço para que seja feliz, Erick.
— Sei disso, .
— Até mais, policial!
Depois de realizar muitas das suas atividades na farmácia, o relógio tiquetaqueava as dez horas da manhã. telefonou a Quil para saber quando ele preferia e poderia a acompanhar, e em seguida telefonou a Mark, que a atendeu com sua voz sedutora e até animada:
— A que devo a honra?
— Preciso como você mesmo disse… Intermediar uma mensagem dos quileutes a você.
E assim que ela terminou de falar, Mark encerrou a chamada. A mulher ficou confusa encarando o aparelho celular, até que sentiu uma corrente fria percorrer seu corpo. E aquela sensação sempre surgia quando Mark se aproximava dela. olhou para frente e o viu atravessar a rua em direção à farmácia. No momento em que seu olhar cruzou com o dele, recordou as fotos que Erick lhe mostrou e o arrepio percorreu toda a sua coluna.
O caminhar lento, gingado, e o céu nublado atrás de Mark mesclavam terror e sedução. Por que era sempre assim quando se tratava de Mark? sentia-se atraída por ele e aquilo a incomodava de uma forma absurda. Ele adentrou lentamente pelo estabelecimento com um sorriso sacana. Apoiou-se no balcão à frente da mulher e os dois ficaram se encarando por um raso meio minuto.
— E então, gracinha? Não vá dizer que me chamou aqui apenas para ficar admirando a minha beleza.
— Não te chamei aqui. Disse que tinha um recado e mal pude terminar, já que você desligou a chamada na minha cara!
— Sempre é brava assim ou é só comigo?
— Tenho, de fato, uma repulsa por você.
— Não tem não… Suas reações dizem o contrário. — Ele sorriu jocoso encarando a veia alta do pescoço dela.
— Ah, por favor, cale-se.
— E então? — Mark perguntou voltando a concentrar-se nos olhos dela e não no sangue pulsante que ele poderia sentir a distâncias, a percorrer o corpo dela. estava nervosa e ele sabia das reações que causava nela.
— Fui delegada para estabelecer um acordo com você. Os Cullen e os quileutes tinham um acordo e agora que você está aqui, é necessário um novo acordo.
Mark sorriu debochado, e quando sorria, seus olhos pequenos se apertavam ainda mais, tornando-o uma figura extremamente sexy. Mais do que já era. Aliás, aquilo também era um talento inato aos frios: a sedução e a beleza.
— Ah… As tradições quileutes! Não podemos pular este misticismo todo? — Mark perguntou irônico.
— Creio que não.
— Se está neste papel é porque você já tem certeza de quem eu sou, correto, gracinha?
— Do que você é… — revelou engolindo a saliva com nervosismo e confirmou: — É, eu tenho.
— E está tão tranquila em estar tão perto, assim?
— Nós sabemos que se fosse para tentar algo contra mim, você já teria tentado.
— Tão confiante... — Ele sorriu e, ficando sério, se aproximou ainda mais dela, aconselhando-a: — Pois, não fique.
prendeu a sua respiração por poucos instantes e o encarou impassível, tentando livrar-se dele:
— Amanhã eu te telefonarei para dizer onde devemos nos encontrar.
— Por que não tratamos logo?
— Porque não é assim que funciona! — ela respondeu um pouco revoltada, já que havia sido pega de surpresa pela presença inesperada do homem.
— Entendi… — Mark sorriu debochado e ela pôde ver que os dentes dele eram afiados onde seriam as suas presas, apesar do tamanho comum. — Você terá escolta. Quantos deles?
— Apenas uma companhia por segurança.
— Segurança? — Mark debochou ainda mais. — Então é melhor que ele seja melhor do que o outro que perdeu a patinha.
— Seu idiota! — ofendeu-o com a raiva latente na sua garganta.
— Eu levarei companhia também. — Mark ergueu-se do balcão, batendo de leve no mesmo e a encarou profundamente antes de despedir-se. — Até mais, gracinha.
Saiu rapidamente da loja sem dar para ela ao menos chance de falar qualquer outra coisa. suspirou pesadamente depois que ele se distanciou do outro lado da rua, caminhando com seu porte elegante e lento. Ela foi até a porta do estabelecimento que trabalhava e acompanhou Mark distanciando-se ainda mais até que a silhueta dele entrou em uma rua paralela e ela não mais poderia vê-lo.
Mani sacudiu seus cabelos e encarou o relógio em seu pulso percebendo que estava quase na hora de seu almoço marcado com Seth. Steve chegou na farmácia, e então ela foi até o restaurante local, onde encontraria o amigo. Logo que Seth chegou e sentou-se junto dela, fizeram os pedidos e ela contou a ele sobre o ocorrido da manhã. Não lembrava se devia manter segredo para ele também, mas Seth tornara-se um confidente e não poderia ficar calada sobre tudo aquilo.
— Esse Mark não me desce... , se precisar de qualquer coisa você me avise! Eu sou quem está mais perto do seu trabalho, caso esse idiota apareça de novo! — Seth declarou a ela superprotetor. A mulher assentiu e então ele a observou divertido, mudando o assunto: — Agora… E sobre o dia de ontem, não tem nada a me dizer?
— Não.
— Qual é, ! Sabe o quanto eu estou curioso?
— Sei! — Ela riu e o encarou de modo rabugento. — E parece uma velha futriqueira.
— Você não vai contar nada?
— O que você espera que eu diga?
— Vocês já… Você sabe... O Jake é mesmo um alfa? — Seth perguntou e gargalhou logo em seguida, causando rubor em .
— Seth! Quando você vai entender que não é para termos este tipo de conversa?
— Só quando te convém não é, espertinha?
gargalhou também se lembrando que o fizera lhe contar as intimidades dele antes.
— Certo… Estabelecemos uma relação de brothers, então.
— Para de dizer isso, por favor! — Seth levou a mão ao rosto como um adolescente achando algo vergonhoso.
— Qual o problema em compartilharmos as coisas como irmãos?
— Você por acaso acha que eu conto para a Leah sobre as garotas com quem eu durmo? Que vergonha!
— Que difícil. Ok... Então não somos parceiros e nem irmãos... Garoto temperamental. — debochou rindo.
— Somos dois amigos íntimos. Melhores amigos, só isso!
— Certo, Seth, como quiser.
— Desembucha logo, ! Fica rodeando para não me contar!
— Sim! — ela respondeu alto e as pessoas ao redor os encarou, e então, sussurrando, ela beliscou o braço de Seth e disse: — Ele e eu fizemos! Satisfeito?
— Quem tem que me dizer se ficou satisfeita é você — Seth disse maroto e aos risos.
— Céus, como você é idiota, Clearwater!
— E aí, como foi? — Seth perguntou de um jeito mais carinhoso segurando a mão dela, e tocou as bochechas de ao vê-la ruborizar de novo e fugir ao olhar dele.
— Foi perfeito... eu jamais sonharia que seria tão... não sei, Seth... acho que ele é o meu imprinting.
— Eu estou tão feliz por vocês dois! Quem diria que chegaríamos até aqui, não é mesmo?
— Verdade. No fim, Embry estava certo... — declarou rememorando as conversas e conselhos que o amigo lhe dera tempos atrás, e desconversando ela perguntou para Seth: — E como você está?
— Não tenho razões para dizer que não estou bem.
Naquele restante de dia, nada de novo ocorreu, e no dia seguinte, Quil e ela combinaram de encontrar com os frios às quatro horas da tarde. passou todo o dia, até o horário do encontro, ansiosa e nervosa. Não poderia negar que, se até Sam não foi suficiente para defender-se de Mark e o outro vampiro, então não seria Quil sozinho o suficiente para defendê-la também. E para piorar, Quil dissera a ela um pouco antes de irem até Mark, que ele passou o dia todo sentindo um mal estar estranho. Então não poderia estar mais nervosa. Queria contar para Jacob, mas sabia que se lhe dissesse as coisas desandariam de um jeito ainda mais perigoso, por isso, tivera que fugir de encontrar Jacob até aquele horário.
Às quatro da tarde, lá estavam Quil e ela na mata a poucos metros dos limites da reserva. A neblina da tarde a deixava ainda mais nervosa por não conseguir enxergar claramente. Quil mantinha-se em guarda, porém, calmo. Pouco a pouco aquela sensação de arrepio, frio, e pânico se instalava nos órgãos e ossos de . Era a presença dos frios. já sabia identificar quando eles se aproximavam, e não demorou para que ela e Quil escutassem os passos cada vez mais perto. Entretanto, as sensações que ela sentia quando Mark se aproximava duplicaram, o que provava que havia mesmo, outro com ele.
— Prontos para o piquenique? — Mark zombou quando ficaram os quatro cara a cara.
— Dispenso as piadinhas, Mark. Quem é o seu acompanhante? — perguntou.
Os dois frios se entreolharam. Mark sorria e o outro mantinha-se sério. O vampiro de pele escura e olhos de um vermelho vivo e aterrorizante olhava para de um jeito profundo, encarando-a dos pés à cabeça. Havia um ar de segredo entre eles. E para ficar ainda mais ansiosa, não bastasse o olhar cortante dele, o homem era um pouco maior do que Mark. Ou seja, se ela já sentia pavor do ruivo, não teria como não sentir pelos dois agora. Quil seria estraçalhado facilmente. Não o desmerecendo, mas o que era um lobo sem a sua matilha? Sam, comprovou para ela que um lobo sozinho não poderia detê-los.
— Este é Darak. E o seu acompanhante, quem é?
— Quil.
Assim que disse seu nome, os dois frios olharam Quil com desafio e despreocupação. E ela surtava para que aquilo acabasse logo. Darak não manteve o contato visual com Quil tanto tempo quanto Mark, rapidamente ele voltou a encarar a mulher e sabia que ele a analisava com um interesse incomum.
— Vamos logo com isso, Mark — declarou louca para se afastar da presença deste tal Darak. — Eu vim aqui para dizer que vocês não podem viver em Forks sem regras. Como você sabe, os quileutes têm tradições que devem ser mantidas. Os Cullen nunca foram problema, porque rapidamente eles se adaptaram por aqui, no entanto, se vocês continuarem assassinando cidadãos de Forks, não poderão ficar.
— E quem os quileutes são? Os donos da cidade?
— Mark, vocês invadiram um territ... — começou, mas logo foi interrompida pelo vampiro.
— ! Nós sabemos que dentro de seus territórios não poderemos transitar. E não pretendemos. Mas restringir nossa vinda à cidade é um tanto quanto prepotente, não acha?
— Só estou dizendo que os ataques de vocês têm causado muitos problemas e levantado suspeitas. Se ficarem na cidade, com a frequência que parece que ficarão… Terão de parar com os ataques.
— Não somos como os Cullen e ficaremos na cidade diante nossas próprias regras — Mark declarou.
— Não é prudente que estouremos esta situação numa luta desnecessária — ela também declarou certeira.
— Concordo. Por isso, não nos metemos com vocês e vocês não se metem conosco.
— Mark, entenda, se você mexe com os cidadãos da cidade envolve as autoridades locais, e os quileutes serão obrigados a intervir também. E há grande chance de expor aos dois lados nesta situação.
— O que te faz pensar que nós escondemos o que somos? — Mark perguntou para ela com ar jocoso.
— O quê? — indagou surpresa. Eles não escondiam a própria identidade?
— Só porque os Cullen não podiam se expor, não significa que temos a mesma preocupação. Eles não andavam por aí porque fisicamente eram diferentes de nós também. Não percebeu?
— Ela não os conheceu. — Quil, que havia notado a diferença entre eles, logo interveio.
— Ah… E mandaram alguém que não sabe o que diz para nos convencer?
— Não se trata disso, Mark, temos que manter um equilíbrio! — Quil tomou à frente.
— Certo… Quil, não é? Pois bem, façamos assim: nós não nos metemos com vocês e vocês não se metem com a gente.
— O que vieram fazer em Forks? — perguntou.
— Não é da sua conta, humana — Darak respondeu surpreendendo-a, pois, até então, apenas observava calado.
— Uma vez que a chegada de vocês interferiu na minha vida, é da minha conta sim! — respondeu tão agressiva quanto ele. Mark ria da situação.
— Darak, acalme-se. — Ele sorriu para o outro.
— E tem mais, Mark… — disse. — Não é para Forks se tornar a nova Transilvânia de vocês, então esperamos que não surjam outros de vocês por aqui!
— Você nos ofende, sabia? Transilvânia?
— Pare de gracinhas e tratemos logo de estabelecer este acordo!
— Não pretendemos povoar Forks, fique tranquila.
— Então estamos acordados? Nada de ataques, nada de novos moradores.
— Não vamos prometer nada… Ou melhor... Eu prometo que não se preocuparão com outros de nós. Não a nosso convite, é claro. Certo, Darak? — Mark comentou ao outro, com um ar de deboche. — E como eu já disse… Nos manteremos longe da sua tribo. É só o que garantimos.
encarou Quil, e como se soubesse que era o melhor que conseguiriam garantir até ali, eles concordaram.
— E como selaremos o acordo? Um pacto de sangue? — Mark falou rindo com zombaria. Quil, Darak e se mantiveram sérios, enquanto Mark se divertia com o trocadilho.
— O diálogo basta por enquanto — Quil respondeu.
— Tem certeza, Quil? Você confia tanto assim em nós?
— Nem um pouco. Mas é assim que será.
— Oras… Me parece tão corrompível um acordo de palavras… — Mark provocou.
— Certo, Mark, um aperto de mãos então! — já estava impaciente com as gracinhas dele e então estendeu a sua mão para ele.
Mark aproximou-se lentamente e a segurou, puxando o corpo da mulher levemente para perto do seu. deu dois passos em sua direção e seus olhares estavam firmes um no outro, enquanto Mark sorria. Sem desfazerem o contato visual, humana e vampiro tocaram suas mãos como se estivessem de acordo.
— Vamos, Darak, se estou certo, estamos a um metro e meio dentro da reserva — Mark declarou ciente de que não poderiam fazer nada onde estavam.
— Vamos logo, tenho fome e, pelo visto, teremos que buscar comida um pouco mais distante agora... — Darak comentou raivoso, embora contido em seus gestos e entonação de voz dando as costas ao lobo e à humana.
Mark assentiu em despedida para e Quil, ainda de um modo sarcástico e ambos deram as costas desaparecendo da frente de como um vulto. Ela estava surpresa, jamais imaginou que sentiria uma atmosfera tão pesada e magnética na presença dos vampiros e principalmente, não achou que encontraria algo familiar ao encarar os olhos de Mark como fizera. Familiar e inominável. Em sua breve distração, escutou o grunhido baixo de Quil e ao olhar para ele ao seu lado, lá estava o rapaz ajoelhado.
— Quil, o que foi? — Ela se aproximou dele, o sentindo suar.
— Aquele mal-estar que falei. Vamos voltar rápido para a reserva, !
já desconfiava daquela reação. E assim que Quil levantou-se para que eles fossem embora, suas pernas sucumbiram ao chão novamente. Sua pele incendiava de tão quente. Era a febre da transformação. entrou em pânico, pois, mais uma vez não sabia como ajudá-lo.
— , corra para a reserva.
— Não posso deixar você aqui, aqueles dois podem voltar!
— , apenas vá!
Os dois escutaram um farfalhar na mata atrás de si, e quando olhou na direção do barulho, a velha indígena da tribo que Scott a levou, a sua avó, se aproximava. Mas o que ela faria ali? Ela se aproximou dos dois e encarou com um sorriso plácido. Abaixou-se na direção de Quil e tirou um cantil de dentro da bolsa velha de panos gastos que carregava. O fez beber algo, e pouco a pouco Quil parava de se debater. A velha indígena falava algo que não conseguia compreender e foi então que Seth surgiu até eles.
— Seth?
— Billy se preocupou com a demora e pediu para eu vir atrás.
— Por que ela está aqui?
— Não sei. Quem é ela? E o que houve com o Quil?
— Ela é uma indígena. Avó de Scott Carter. Quanto ao Quil… Apresentou os primeiros sinais da transformação.
Seth abaixou a cabeça tristonho. Logo que a senhora se levantou, eles se prepararam para voltar à reserva. auxiliou Seth a apoiar Quil nos ombros e a velha indígena começou a falar algo para ela, em um dialeto que a mulher não podia entender.
— Eu não a entendo… Desculpe. — tentou se comunicar, sem saber se a anciã compreendeu. A senhora sorriu e assentiu positivamente para ela, em seguida deu as costas para os três e continuou seu caminho pela mata.
encarou Seth, tão confuso quanto ela e partiram de volta à reserva com Quil nos ombros. No caminho para a reserva, estava pensando sobre toda a conversa do acordo, e alguns pontos iam sendo ligados em sua memória.
— Por que está tão quieta? Como foi o acordo? — Seth perguntou curioso e preocupado.
— Não foi exatamente tão bom, eles se recusaram a cessar os ataques aos cidadãos de Forks, mas foi muito vago... não dá para acreditar neles.
— Droga… Eles estão dificultando as coisas.
— Pelo menos disseram que não haverá mais deles, mas… Não sei se podemos confiar.
— Nunca podemos confiar em frios — Seth declarou raivoso.
— No dia em que Sam foi atacado eu saí do hospital e encontrei Mark lá fora. Ele havia dito que não sabiam que estavam em território quileute e por isso atacaram Sam. Por defesa. No entanto, hoje Mark demonstrou saber sobre as tradições da tribo, sobre a relação dos Cullen com os quileutes, e antes de ir embora mencionou com exatidão reconhecer os limites de onde começa e termina a reserva. Eu acho que eles não estão sozinhos aqui, mas de certo modo, não estão junto de outros deles...
— Ou seja… Eles não andavam à toa nos nossos territórios quando Sam os atacou.
— O que o Sam falou sobre isso, Seth?
— Até agora nada que eu me lembre, ele apenas os sentiu e os abordou.
— Posso falar algo só entre nós? — olhou para Quil desmaiado em seus ombros apenas para comprovar que ele não escutaria.
— Sim.
— Acho que o ataque ao Sam foi algo planejado.
— Isso faria bem mais sentido.
— E o que, afinal, a avó de Scott fazia por aqui? — tentava ligar os pontos. — Céus, Seth! Será que não teremos paz?
— O que foi que ela disse a você?
— Eu sei lá! Mas vou descobrir. Assim que chegarmos à reserva eu vou até o Scott.
— Sabe que eu poderia carregar o Quil sozinho, não é? E já estaríamos na reserva.
— É verdade… — o encarou se dando conta da situação. — Idiota! Por que ficou quieto? Ele pesa, tá!?
Seth riu e soltou Quil de seus ombros, sem avisá-lo. Seth rapidamente o apoiou em suas costas e saiu em disparada. Sabendo que se ela não se apressasse não o alcançaria, se prontificou a correr atrás de Seth. Logo que chegou à reserva, reportou a Billy todo o ocorrido, em seguida, pegou as chaves do seu carro e foi à cidade atrás de Scott. Estacionou o carro em frente ao mercado e avistou o rapaz no caixa estalando sua cervical, visivelmente exausto. Então ela desceu e caminhou até ele.
— Olá, Scott.
— ! — O rapaz esboçou seu sorriso costumeiro ao vê-la. — Como você está?
— Bem, mas preciso da sua ajuda.
— O que houve?
— Sua avó surgiu na reserva num momento inesperado, e… Ai, é muita coisa para explicar agora. Pode me acompanhar até a reserva de seu povo?
Scott franziu o cenho confuso e seu sorriso se desfez em seriedade. Olhou em volta à procura de Peter e não o encontrou. O senhor Carter apareceu descendo as escadas da parte superior do mercado, e Scott acenou ao pai em sinal de quem queria falar-lhe, ele pediu que esperasse-o e foi até Junior Carter. Pai e filho trocaram frases, e logo que Scott se aproximava de , ela cumprimentou-o com um aceno também.
— Vamos, .
— Obrigada, Scott.
— Deixe disso, agora me explique o que houve.
Os dois entraram no carro dela e então a mulher começou a explicar a situação.
— O quanto você conhece das tradições quileutes mesmo?
— Se refere à lenda dos lobos? É, eu a conheço.
— Sério?
— O que há de mais? É só uma lenda, não é?
— Er… Não, Scott, não é — comentou arisca, amedrontada de parecer louca ou de estar compartilhando um segredo quileute sem o consentimento deles e iniciou um tagarelar aflito para o rapaz, enquanto dirigia. — Olha, você vai me achar uma maluca, mas eu preciso que confie em mim! Não é uma lenda! De fato há uma certa... Sobrenaturalidade em Forks e nos quileutes e... Ai, minha nossa, como é difícil dizer tudo isso sem parecer uma surtada! Como é que eu pude considerar a verdade de forma tão fácil quando me contaram?!
Scott sorriu achando graça, pois entendia a aflição dela, mas não quis deixá-la sofrendo com aquilo por muito tempo e então contou-lhe:
— Tudo bem, , minha família sabe da verdade sobre os quileutes. Peter, meu pai e eu, na verdade. Nossas tribos guardam os segredos uma da outra.
— Isso faz a coisa toda ter um pouco mais de sentido... — murmurou nem tão surpresa com a presença da avó de Scott na mata.
— Certo, mas o que há em relação aos lobos desta vez?
— Quil e eu estávamos na mata e recentemente os quileutes têm sofrido uma evolução negativa de suas transformações. Embry foi o primeiro, ele foi levado para a reserva Whitton. Conhece?
— Há histórias, mas não tenho conhecimento tanto quanto sobre os quileutes. Nossas tribos têm uma ligação apenas porque estamos regionalizados.
— Entendo… Bem, na reserva Whitton há mais informações sobre este novo processo dos lobos e por isso conseguimos controlar Embry. Hoje, Quil foi o segundo a dar sinais. E a sua avó surgiu na mata bem na hora em que ele se debatia. Ela arrancou um cantil de dentro da bolsa e deu algo para ele beber que o acalmou, e em seguida Quil desmaiou. Ela também me falou umas coisas e por isso vim até você. Eu não entendo a língua deles, e não faço ideia do que ela disse, mas sei que era importante!
— E o que mais ela fez?
— Nada. Sorriu ao perceber que eu nada compreendia e sumiu mata a dentro. Por que ela estaria nos arredores, você sabe dizer?
— É a época das colheitas de cura — esclareceu ele tranquilo. — Colhemos algumas ervas que existem na região para produzir nossos remédios.
— Mas só ela?
— Não, provavelmente ela estaria com algumas outras mulheres pela mata.
— E o que ela deu para Quil beber poderia ser um destes remédios?
— Não há dúvidas, já que surtiu algum efeito.
— Scott, eu preciso da sua ajuda para descobrir o que é! Isso pode ajudar e muito na reserva!
— É claro. Eu vou ajudar no que for possível.
seguiu as indicações de Scott para chegar até a reserva de seu povo, pois não havia gravado o caminho quando ele a levou. Ao chegarem, já era noite. A senhora indígena, porém, parecia os aguardar. Scott conversou com ela no dialeto deles, e em seguida os três foram até o fundo do bar, onde iniciava-se a cabana da avó dele. Ela sentou-se no chão sobre um tapete, e Scott fizeram o mesmo.
— Saya mengatakan kepadanya bahwa sekarang adalah waktu kebangkitan. Serigala akan terjaga kutukan kuno.
Scott traduzia frase por frase:
— Minha avó diz: “Eu disse a ela que é chegada a época do despertar. Os lobos serão acordados da milenar maldição.”
— Dewi Rikhan mengungkapkan dalam tubuh Anda, wanita muda. Dengan tangan Anda binatang akan setuju. Dan Anda akan bisa tidur lagi. Atau tidak. Tergantung pada berapa banyak Anda memiliki kontrol atas Anda.
— “A deusa Rikhan manifesta no seu corpo, minha jovem. Por suas mãos as feras acordarão. E por sua vontade poderão dormir de novo. Ou não. Dependerá de quanto você tem domínio sobre quem você é.”
— O que ela diz... — falou diretamente para Scott, mas sem tirar os olhos da velha anciã. — É parecido com o que os anciãos Whitton disseram. Mas… O que eu preciso fazer para parar a maldição?
— Dia ingin tahu apakah Anda tahu apa yang dibutuhkan untuk menghentikan kutukan — Scott perguntou.
— Jawabannya tidak diberikan. Seperti saya katakan, dia akan harus mencari tahu tentang Anda sendiri.
— “A resposta não pode ser dada. Como eu disse, ela terá que descobrir sozinha” — ele traduziu.
— Céus... — murmurou e sorriu para a senhora indígena conformando-se com o que ouviu e pediu: — Scott, pergunte a ela o que era a bebida que ela deu a Quil e se ela pode me mostrar como é preparada, por favor!
— Apa adalah minuman yang Anda berikan kepada anak laki-laki? — o neto perguntou.
— Maserasi herbal.
— Ela diz que é uma maceração de ervas — Scott respondeu para e continuou a perguntar-lhe: — Nenek, dapat menunjukkan kepada Anda bagaimana hal ini dilakukan untuk kita?
Ela sorriu e se levantou. Scott se levantou também a acompanhando cômodos a dentro, e indicou a Luan que o seguisse.
— Venha. Ela vai mostrar como é feito — Scott explicou.
Em um cômodo externo à cabana, algo parecido com uma cozinha, mas cheio de plantas, estava um punhado de ervas sobre uma bancada. Ainda havia terra e pareciam recém-colhidas. A anciã fez sinal para que se aproximasse dela para ver as ervas.
— As folhas se parecem com a alga que eu encontrei na encosta de La Push...
Scott traduziu o que havia dito para a sua avó, enquanto a bióloga, concentrada, avaliava as plantas. E logo que a mais velha comentou algo, ele informou a chamando de novo sua atenção:
— Ela disse que são plantas irmãs. A alga do mar é um pouco mais fraca, e aqui é usada como remédio para feridas e doenças respiratórias. A outra, achada nas encostas da mata, é mais forte e usada para diminuir os batimentos cardíacos, cessar febres, é abortiva. E também é chamada de “falsa morte”, porque pode levar o indivíduo que a consumir a um desmaio tão profundo que pode confundir como se ele estivesse morto, dependendo da dose. Isso devido ao ativo que há nela de baixar a pressão arterial.
— Essa é a erva de Romeu e Julieta... — afirmou recordando-se já ter lido a respeito na faculdade e em suas recentes pesquisas com biologia da flora local.
A velha indígena preparava potes e misturas da planta com algumas outras e iniciava o preparo do insumo. Ela ia mostrando para como fazer. Ao terminar, virou uma porção em um potinho de cabaça e lhe entregou. Também deu a ela algumas das folhas utilizadas para ela saber quais usar. pediu para Scott que lhe perguntasse o nome das folhas utilizadas para completar o insumo, e a velha informou os nomes científicos que conhecia por outros nomes: Symphytum, também chamada “Confrei”, Agastache Foeniculum, chamada “Agastache” e Melissa ou “Cidreira”.
e Scott saíram da tribo após se despedirem da senhora com sorrisos e promessas de visitá-los novamente.
— Obrigada pela ajuda hoje, Scott — a amiga agradeceu assim que deixou ele em casa.
— Sempre que precisar, .
não encontrou Black quando voltou para a reserva. Quil estava acordado, porém, em repouso e Bruh não estava com o irmão. Billy também não estava na reserva, e nem Sam, Seth, Embry ou Paul. Ela encontrou apenas Sue, Emy e Charlie.
— Onde foram todos? — indagou ao se aproximar deles diante da fogueira.
— É a noite do ritual de preparação do alfa — disse Emily.
— E os que faltam na matilha? Quil e Leah.
— Apenas os antecessores do alfa devem estar na presença do sucessor para o ritual acontecer. Os demais da matilha se apresentam em respeito ao seu novo líder, Quil não foi porque está fraco ainda... — explicou-lhe Sue.
— Quer dizer que Leah está desrespeitando Jacob ao se isentar dessa cerimônia? Bem a cara dela — brincou e os quatro riram baixo com a ironia, até que ela perguntou: — Eu não posso assistir ao ritual do alfa?
— Desculpe, querida, como parceira do alfa é claro que poderia… Mas o ritual não poderia esperar vocês... Digo, você ainda não é... — Sue estava sem graça de dizer, mas rapidamente compreendeu.
— Tudo bem, ainda não sou a fêmea líder — comentou com humor.
— Sim... E não podíamos esperar. Era necessário que Jacob tomasse o quanto antes o posto — Sue respondeu e compreendeu, apesar de esboçar um sorriso decepcionado.
— É uma pena que eu tenha perdido isso, seja lá como for o rito — falou e sentiu a mão de Charlie apertar seu ombro, sentado ao seu lado, de forma paternal.
— … Podemos conversar? — Mudando o assunto, Emy perguntou a ela, envergonhada.
— Claro, vamos até minha cabana. Até mais, Sue, Charlie.
— Até mais, querida — Charlie respondeu e junto com Sue, eles se aninharam mais embaixo de um chale que os cobria enquanto conversavam próximos, em uma intimidade que não se afetaria pela ausência de e Emy.
— Oras… Você disse quando entrou pela primeira vez em minha cabana que era aconchegante e queria ter um cantinho parecido para deixar com a sua cara... — Emily comentou sorridente enquanto observava à volta da cabana de entrando ali pela primeira vez. — E então, conseguiu?
— Ainda faltam alguns toques. A sua cabana é uma boa mistura de Sam e Emy.
— Será que a sua se tornará uma mistura de Jake e ?
— Tenho pensado que é possível Black passar mais tempo aqui agora…
— Tenho certeza que ele planeja isto. — Emily sorriu maravilhada com a esperança que tilintava nos olhos de .
— Ele disse alguma coisa?
— Não, mas… Jacob sempre quis deixar o pai na cabana e ter a sua própria família.
— F-família? — gaguejou surpresa, arrancando risos da amiga. — Emy, é... Minha nossa, é um pouco cedo, certo?
— Calma, . Só estou dizendo que é uma possibilidade futura, ou não?
— Não sei, Emy, que papo mais precoce!
— Certo, me desculpe. Eu entendo. Não é legal ser pressionada a nada. — Emily sorriu, embora mantivesse uma seriedade em sua face.
— Não me senti pressionada, é só que acabamos de começar uma relação. Não é que eu não queira um futuro com ele, apenas não penso nisso agora.
— Eu sei exatamente como é, ... — Emy abaixou a cabeça e suspirou pesado.
— O que queria me dizer? Você parece incomodada com algo.
As duas se aconchegaram melhor no sofá da sala de .
— Sue não para de falar sobre a maternidade. Disse que agora que Sam não é mais o alfa, deveríamos ter filhos.
— Você não quer ter filhos?
— Quero, mas no tempo certo. E não porque Sue acha que está passando da hora!
— Você e Sam pensam em ter filhos quando? E por que não puderam ter enquanto ele era o alfa?
— Nós não falamos sobre isso. Sam quer uma família, mas nunca ficamos tocando neste assunto. E na verdade, ainda não tivemos filhos porque... Ele tinha medo. Por ser o alfa, sabe? Dividir responsabilidades de pai com a matilha.
— Eu compreendo o Sam, ele tinha as obrigações dele. É comum que não planejasse algo que não sabia se teria tempo para viver.
— Sim, mas eu sinto que… Se eu não tiver esse bebê agora, não teremos mais. Estamos juntos há muito tempo, . Quando Bella surgiu aqui, nós já éramos casados.
— Então qual é o problema, Emy?
— Eu não sei! Depois deste acidente, tudo é novo entre Sam e eu! São muitas mudanças ao mesmo tempo.
— Faça o seguinte: diga para a Sue que este assunto cabe a você e ao Sam, e que você respeita os conselhos dela, mas se incomoda com a pressão que ela está fazendo. Sei que Sue não faz por mal. E viva os seus novos dias com Sam, um após o outro, no tempo de vocês. Não tem por que se incomodar com isso se não quiser.
— Eu sei, mas é que… Para os quileutes... Uma vez juntos, tudo deve seguir no tempo deles! Quando eu quis ter filhos fui obrigada a esperar, e agora, eu sou pressionada a ter filhos no tempo deles!
— Calma, Emy... — notou o nervosismo aflito da amiga, e mal as lágrimas desceram do rosto de Emily, a abraçou consolando-a. — Não se irrite com isso… Essa decisão cabe somente a você e ao Sam, não deixe os outros se meterem no assunto. Leah não é uma rebelde? Então, seja um pouco como ela se preciso for! E agora que Jake é o alfa, se precisar uivar mais alto a favor de vocês, tenho certeza que ele o faria!
conseguiu, com seu humor, deixar a amiga mais calma, e as duas ficaram conversando até que Emily se acalmasse e esquecesse aquele papo de maternidade. Um pouco depois, foi ver Quil, saber como ele estava e os dois também conversaram um pouco sobre o acordo. Ela explicou para ele suas dúvidas em relação ao ataque de Sam, e antes que ficasse ainda mais tarde do que já estava, ela seguiu para sua cabana de volta. Esperou acordada o máximo que pôde, mas não encontrou Black naquela noite. Apenas no dia seguinte, após voltar das obras do laboratório, que eles se viram, e ela mal podia aguentar tanta saudade e curiosidade para saber de seu ritual.
contou-lhe o quão próxima estava a inauguração do laboratório e o quanto ela gostaria de ter participado do ritual do alfa. Eles jantaram juntos, conversaram e Black voltou para a cabana do pai, mas à meia-noite, ele entrou na cabana de e bateu à porta do seu quarto:
— Black? Achei que não dormiria aqui hoje — ela disse sonolenta.
— Eu… Queria perguntar se... — Jacob fitou seu olhar com expressão de dúvida.
— Se?
— Posso ficar aqui hoje... não consigo mais dormir sozinho, Mani.
A mulher, sorrindo, o abraçou e beijou-o. Achou adorável que seu lobo estivesse tão inseguro e entregue ao sentimento por ela. Sem cerimônia, puxou Jacob para entrar em seu quarto e de mãos dadas caminharam até a cama dela. Estavam silenciosos e abraçados no colchão enquanto deitados, e pensava no que Emily havia dito na noite anterior: “Uma vez juntos, tudo deve seguir no tempo deles”. Em seus próprios pensamentos, indagava-se se o seu namoro com Black significava um compromisso além do que ela enxergava. Ela não queria atropelar as fases, embora tenha demorado a chegar onde estavam, entretanto, gostaria de seguir um passo de cada vez. E Black sabia disso.
Após três semanas àquela, Black ainda não sabia que foi a responsável pelo acordo. Billy assumiu a responsabilidade e dissera que Quil foi com ele. Os três sabiam como irritaria a Jacob descobrir que ela havia sido delegada àquilo. Ele conhecia as condições do acordo e temia que, se em algum momento Black decidisse tocar no assunto com Mark, o frio comentaria que foi com ela que ele fechara um acordo. Por isso, ela até pediu a Billy para esclarecer as coisas, mas o velho patriarca da matilha acreditava ser melhor deixar tudo como estava.
O laboratório de fora inaugurado na última semana daquele mês, e tudo caminhava calmo. Quil havia voltado às suas atividades normais, no entanto, não estava totalmente melhor. A transformação dava sinais, e a primeira pesquisa que ela daria procedência em seu novo laboratório seria sobre a bebida que aprendeu a fazer com a avó de Scott. Julian e Hernando Vincent estavam felizes pela sua conquista, e ela já havia entregado de volta a eles a chave do laboratório emprestado pelos irmãos.
Na última noite do mês, enquanto dormia, ela sentiu uma fria brisa correndo por seu quarto, e uma sensação estranha a tomou. Enquanto sentia aquela brisa fria da madrugada, seu corpo estremecia e escorria em suor. Na sua mente, flashes ritualísticos, fogueiras e danças. Uma grande lua e uma mulher em um trono alto abaixo dela. Ambas pareciam uma só, a lua e a mulher, como se a presença feminina se estendesse até o satélite natural. Ao lado esquerdo da mulher, havia uma multidão nas quais os rostos não se faziam visíveis, sentados em círculo numa penumbra sob fracos feixes de luz lunar. Ao lado direito, povos em danças e rituais, rodeados por fogo e iluminados pela lua igualmente pelas chamas. E os dedos da mulher movimentavam-se em suas mãos inclinadas, uma para cada lado. Então acordou assustada, quente, e com as roupas molhadas de um sintoma febril.
Black dormia ao seu lado e acordou subitamente.
— Mani? O que houve?
— Apenas um sonho... — ela respondeu assustada e ofegante.
— Certeza? — ele perguntou analisando a feição confusa da moça. — Você parece estar com febre.
— Sim, volte a dormir, Jacob. Foi apenas um sonho conturbado. — Ela o beijou e se levantou da cama.
— Aonde você vai?
abriu os braços indicando-lhe seu estado físico, e após Jacob observar seu corpo dos pés à cabeça inteiramente encharcado como se houvesse pegado uma chuva, ela lhe respondeu:
— Tomar um banho.
Capítulo Vinte e Sete
Vão Surgindo as Feras
Na manhã que sucedeu a madrugada, acordou muito mais cedo do que o habitual. Não havia conseguido dormir direito após aquele sonho enquanto Jacob, pelo contrário, dormia como pedra.
Ela preparou o café, a fumaça aromática subia acima do bule e a mulher se concentrava na vista matutina através da janela de sua cozinha. Pôde notar uma reunião incomum dos mais velhos quileutes à porta da cabana de Billy, e naquele horário era para Sue estar preparando o café da manhã de sua matilha, o que indicava que havia algo estranho no ar.
Emily surgiu correndo até Sue e após as duas trocarem poucas palavras, notou que sua amiga correu de volta à cabana dos Clearwater. Charlie se despedia de sua noiva com um beijo e, acenando a Billy, saiu com a viatura. Talvez não fosse nada. Apenas acordaram mais cedo que o de costume. No entanto, o faro de não a enganava. O clima era suspeito, algo estava para acontecer.
A reserva ainda adormecia naquela luminosidade tímida de manhã. Sue e Billy olhavam atentos para a mata, trocavam poucos olhares e muitas palavras. pousou sua xícara sobre a pia e esticou o pescoço pela janela a fim de encarar o mesmo ponto fixo na mata o qual eles olhavam.
— Eu é que não vou ficar aqui... — ela sussurrou já pensando em ir até eles.
Entretanto, quando ela girou a cabeça para se afastar da janela, rapidamente voltou a observar. Uma movimentação a caminho dos dois patriarcas da reserva se fazia notar. Três indígenas se aproximavam, peles de lobos cobriam seus ombros, e uma senhora anciã ao meio. Sue aproximou-se deles, a senhora sorriu para ela. já a havia reconhecido. Era a mesma velha indígena xamã que a recebera na reserva Whitton.
O que eles fariam ali? Teria algo a ver com Black ser o novo alfa? Os questionamentos na mente da recomeçaram, e ela manteve-se a observá-los. Eles ficaram na varanda da cabana de Sue, dialogando: Billy, os Whitton e Sue. A indígena então virou seu olhar para a cabana de e como se soubesse que ela estava a espiá-los, a cumprimentou com um aceno de cabeça e um sorriso franco. Todos os outros olharam na mesma direção. Pega em flagrante a olhar pela janela, sorriu-lhes, tímida. Por mais que eles não soubessem quanto tempo ela estava ali observando-os, foi desconfortável ser pega espionando. A mulher retomou sua xícara que estava sobre a pia, e bebeu o restante de seu café tentando disfarçar.
— Hmm... — Jacob surgiu murmurando baixinho em seu pescoço e a abraçando pelas costas, mas sobressaltou-se em um susto quase derrubando o café sobre os dois, Jacob pediu: — Desculpe, Mani, não quis assustá-la.
— Ai, Black, como consegue ser tão sorrateiro sendo tão grande?
— Eu não vou encarar como uma ofensa.
— Está mais para uma curiosidade — ela comentou deixando um beijo no rosto dele à medida que se virou para ficar de frente para ele.
— Notei que dormiu pouco… Como você está se sentindo? — Black analisava-a preocupado e levou uma mão até a testa dela a fim de sentir sua temperatura.
— Depois do sonho foi difícil apagar, mas deu para descansar.
Um breve silêncio se instaurou entre eles, e o casal trocou olhares. Ele, curioso e preocupado. Ela, ansiosa para voltar sua atenção ao que ocorria lá fora.
— Me conte o seu sonho — ele pediu assim que ela virou seu corpo para a janela mais uma vez.
Notando a curiosidade da mulher ao que ocorria do lado de fora, Black acompanhou seu olhar.
— Tem ideia do que eles vieram fazer aqui? — ela lhe perguntou.
— Talvez.
— E…?
— Me conte o sonho — ele desconversou.
— Não tem importância, Black! O que eles estão fazendo aqui?
— Você é muito fofoqueira, sabia? — bateu em seu ombro irritada pelo comentário, e Black apenas riu indo se servir de café. — Sente-se aqui comigo e vamos tomar café, Mani.
A velha indígena acompanhada com os outros dois anciãos Whitton e Sue, seguiram para a cabana de Sam.
— Eu vou é descobrir que confusão é esta! — declarou sem dar tempo de Jacob reagir.
Ela saiu em disparada deixando Black reclamar sozinho. Billy sorria para ela quando a mulher se aproximou apressada dele.
— Bom dia, .
— Bom dia, Billy... — Um silêncio, o olhar intrigado dela para onde os outros haviam seguido e logo virou-se para o Black mais velho, diretiva: — E aí? Você me conhece, Billy…
— Sim, curiosa. Eles vieram por causa de Quil.
— Eles vão leva-lo como fizeram com Embry?
— Não queremos. Ainda temos receio dos métodos deles, mas não temos muito com quem contar.
— Temos sim. Descobri um sedativo para isso — revelou.
— Como assim?
— Os Carter. Eu conheci a tribo deles e aprendi algumas coisas que podem funcionar. Inclusive, a avó de Scott ministrou uma bebida em Quil assim que ele começou a transformar.
— Você havia dito… Mas sabe o que era?
— Eu fui atrás da resposta. Agora, vamos lá? Eu tenho algo a ensinar para os outros. — sorriu presunçosa e Billy a acompanhou.
Passando em frente de sua cabana, Black estava encostado à porta com sua xícara, ela mandou um beijo para ele e seguiu seu caminho com Billy observador, analisando a interação entre o casal. O mais velho decidiu comentar:
— Jacob odeia tomar café sozinho.
— E o que ele fez todo este tempo antes de eu surgir?
— Exatamente. Agora você está aqui.
— Billy, foi só um café da manhã.
— Ele não está com uma cara boa, só estou te alertando — ele disse rindo.
encarou Billy, descontraída, em seguida observou novamente o local onde Jacob estava. E era verdade, ele continuava lá lançando a ela um olhar tão descontente que ela desfizera o contato visual com certo medo.
— Já até havia me esquecido em como pode ser difícil me relacionar com ele.
— Ele só quer aproveitar todos os minutos com você, querida. Entenda que agora ele tem motivos para aproveitar.
ficou um pouco pensativa sobre o que Billy dissera. Era um ato simples, o de sentarem-se juntos para o desjejum antes de seguirem suas vidas, que ela mal pôde imaginar que aquele singelo momento pudesse representar tanto para Black. Assim que adentraram na cabana de Sam, ele os cumprimentou.
— Onde está Emily? — indagou.
— Preparando o café de Seth, Paul e Bruh na casa de Sue.
— Bruh voltou, então — Billy perguntou vendo Sam concordar impaciente.
— Onde mesmo ela esteve este tempo todo? — perguntou de novo.
— Fugindo de você e do Jacob — Sam respondeu.
revirou os olhos tão impaciente quanto ele. Sam dissera que estavam todos no quarto com Quil, e os dois subiram. Com ajuda de Sue interpretando a língua nativa dos Whitton, lhes contou sobre a maceração de ervas que ela aprendeu. Todos decidiram que a velha Whitton ficaria na reserva para cuidar de Quil, e os outros poderiam voltar. Qualquer necessidade de intervir com os rituais dos Whitton, eles levariam Quil e ela para a reserva vizinha. Aliviada por saber que Quil ficaria na reserva e, de certo modo, mais seguro, voltou para sua casa.
Subiu as escadas em direção ao banheiro e ouviu o som da água cair do chuveiro e entrou sem qualquer cerimônia. Black estava de costas à porta tomando seu banho. sorria abertamente em vê-lo, até que ele se virou e ela sorriu ainda mais. O rapaz tomou um susto com a presença repentina dela e ficou a encarando de olhos arregalados. sabia que aquela abordagem desfaria a pirraça dele por ela ter saído o deixando só na cozinha.
— Isto são modos? — Jacob perguntou após recuperar-se da surpresa, ainda ensaboando o próprio corpo.
— Quer ajuda aí? — A mulher sorriu travessa, e ele também sorriu malicioso, a olhando ladino.
— Eu não sei se deveria responder a esta pergunta.
— Tudo bem, eu tenho que ir trabalhar mesmo… Deixa para outra hora. Só vim me despedir.
— Comeu alguma coisa? — Jacob perguntou enquanto esfregava o próprio rosto.
Os gestos bruscos de Jacob o deixavam ainda mais bonito aos olhos da mulher e se reapaixonava a cada descoberta daquelas. Incontida, ela abriu o box do banheiro e aproximou seu rosto do dele. Puxou Jacob para um beijo tentando não molhar a sua roupa de trabalho, o que não foi possível, uma vez que ele a puxou para si arrebatando-lhe com um beijo como nenhum outro.
— Bom trabalho, Black, agora eu vou ter que trocar de roupa.
— Não esqueça de secar os cabelos.
— Hunf… Obrigada mesmo!
— Eu te pego outra hora… — ele disse vingando-se por sua ousadia de estar ali.
saiu do chuveiro arrancando suas roupas enquanto Jacob ria observando o corpo da namorada, com alegria e desejo. Antes que desistisse de deixá-la sair ilesa, ele fechou os olhos terminando de tirar o sabão do corpo e apressou-se a ir se trocar.
No horário de almoço, Seth passara na farmácia para almoçar com ela, como era o hábito dos dois.
— O que você está dizendo, Seth?
— Que ela voltou ainda mais abusada, ou você não acha que foi de uma petulância absurda?
Seth estava estressado contando para a história de que Bruh, na noite anterior, invadiu seu quarto e o beijou enquanto dormia.
— Não acho, inclusive vocês têm uma diferença de idade bacana, talvez você possa torná-la mais madura. Quem sabe Bruh não seja uma parceira interessante para você superar certas coisas também?
— Claro que você aprova isso! Assim ela sai do pé do Jake!
— Seth, por que está tão irritado? — soltou os talheres pacientemente e perguntou. — Não é legal saber que Bruh demonstra interesse em você?
— Não. Não. E não. Eu não confio nela, já te disse isso desde o dia que ela começou a ser legal contigo!
— Oras, se você não está a fim, é só falar para ela! Mas fale com jeitinho. Vai ser o segundo toco que ela vai ganhar de um quileute.
— Você faz piada…
— O que quer que eu diga? — riu.
— Nada! Eu só estou irritado.
— Vem cá… E a Lili Parker? Alguma novidade?
— Ah, , por favor, né?
— Eu acho que você precisa dar uma nova chance a este coraçãozinho. — colocou os talheres sobre o prato de novo e se encaminhou até o balcão.
— Nenhuma das opções é válida — Seth murmurou enquanto terminava de beber seu suco.
Logo retornou à mesa com dois brownies e entregou um para Seth continuando com seu discurso para motivá-lo a dar uma nova chance a si mesmo:
— Seth… Você é fantástico. Sério, se fosse mais velho eu teria ficado com você facilmente. É sensível, gentil, cavalheiro, muito bonito e divertido e não tem uma bipolaridade que me faz pisar em ovos o tempo todo...
— Está falando de mim ou do Jake? — o mais novo a interrompeu.
— Comparando os dois, na verdade... — ela comentou e ele riu. — Não conte para ele, senhor “língua solta”! O que eu quero dizer é que você é um partidão, e fica aí reticente em relação a se abrir…
— Eu só não encontrei quem valesse a pena... — Seth declarou mordendo seu brownie e, risonho, perguntou para : — Você não tem uma irmã?
— Desculpe, eu sou edição única. Mas Jacob foi mais rápido.
— Na verdade não, né?
Ele gargalhava e sujou o rosto do rapaz com chocolate. Seth, bobo como era, devolveu, sujando a bochecha dela com chocolate também.
— Sério? Você vai limpar!
— Quem começou foi você... — ele afirmou e segurou o rosto de com as duas mãos e lambeu sua bochecha.
— Pirralho, isso é nojento! — exclamou dando um beliscão no braço do amigo que ainda gargalhava como um irmão caçula travesso. Só então, enquanto passava o guardanapo no rosto, notou que Bruh havia chegado em algum momento e estava parada ao balcão encarando os dois com uma expressão confusa.
— É melhor eu ir, antes que ela ache que eu quero todos os quileutes dela — comentou baixinho apontando discreta a presença da jovem Ateara.
Assim que ela se levantou, Seth protestou baixo por sua saída estratégica. foi ao caixa pagar e passando por Bruh, a cumprimentou com um aceno. De onde estava até ela sair, a mais velha observou a interação entre os dois mais novos. Seth havia chamado Bruh para se sentar com ele. realmente adoraria que ele encontrasse uma garota legal, ele era tão maduro! Se fosse um moleque, teria saído e deixado Bruh sozinha, mas ao invés disso a chamou para sentar-se com ele e conversarem.
deixou a lanchonete sorrindo, até que avistou Mark com uma mulher na praça. Ele a viu de longe e olhava para , apreensivo. Colocou as mãos às costas daquela mulher e falou algo, em seguida se retirando, ambos na direção oposta à de .
Rapidamente questionou-se: Ele havia trazido alguém para Forks? Ou estava abordando alguém da cidade? A mulher era bem bonita, loira, magra e alta. Preocupada, precisava saber quem era ela e por que estava com Mark. Contudo, como descobriria?
Decidida a não pensar tanto naquilo, dirigiu em direção ao seu laboratório onde passou a tarde trabalhando no remédio de Quil, e pensando em Mark com aquela mulher. Ela parecia alguém inocente. então começou a se culpar se algo acontecesse a ela. Como se ela pudesse fazer alguma coisa para defendê-la.
Ao fim da tarde a primeira coisa que fez foi ver Quil. Embry estava lá com ele, o apoiava como ninguém ali poderia apoiar, pois Embry sabia o que Quil estava sentindo. Fofoqueira e peralta, escutou parte das conversas deles atrás da porta, e sorriu ao notar o quão maravilhosa pessoa Embry era. Quil não pareceu revoltado como Embry ficara, muito talvez por ter alguém que compreendesse suas dúvidas e medos ao seu lado. Então Quil perguntou sobre sua irmã. Preocupava-se muito mais com Bruh do que com sua saúde, e o amigo lhe respondeu que Bruh parecia estar amadurecendo finalmente.
Quil dizia o quanto queria que a irmã se tornasse uma pessoa mais paciente e bondosa, que o gênio difícil e às vezes vingativo de Bruh o deixava temeroso por ela. “Nada de bom pode surgir de um sentimento ruim”, proferiu Quil e naquele momento decidiu interromper. Ela bateu à porta e abriu uma brechinha. Os dois sorriram ao vê-la e Quil a agradeceu pela ajuda na noite em que ele tivera os primeiros sinais, em seguida, ele lhe perguntou se ela estava bem com o ocorrido. o tranquilizou e entregou as ampolas para que ele bebesse conforme a sua prescrição.
Um pouco depois, ela encontrou Sam e Emy discutindo amigáveis na cozinha de sua cabana.
— Só vim entregar a vocês estas ampolas para guardarem na geladeira — ela interrompeu sem graça.
Explicou-lhes como seria o uso com Quil e eles assentiram, ambos visivelmente constrangidos com ela. Emy lhe sorriu cúmplice e já entendia o motivo daquilo.
— ... — Sam proferiu a fim de dissipar a discussão entre ele e a companheira. — Eu escrevi os sintomas e como me senti fazendo uso do emplastro conforme você pediu. Vou pegar para você, espere um momento. — Sam saiu e deixou e Emily a sós. Emy não tocou no assunto que a levou a uma branda discussão com Sam e não seria a fazê-lo.
— Cadê a anciã Whitton?
— Na cabana de Sue.
— E você está bem, Emy?
— Sim, eu acho…
— Se quiser conversar, sabe onde me encontrar — declarou e Emily sorriu para ela agradecida, então Sam retornou com os papéis e enquanto os lia, ele ergueu a manga curta de sua camiseta para mostrar-lhe como havia ficado a cicatrização de seu braço decepado.
— Parabéns, — Sam comentou e então ela olhou ao machucado dele —, esse remédio é muito poderoso, as cicatrizes secaram rapidamente.
— Você tem muito talento — Emily comentou também.
O casal parabenizava-a sorridente por sua descoberta. Os resultados eram incríveis e rápidos. também saiu de lá orgulhosa, lendo os relatos de Sam e trombou com Seth no caminho.
— Tão cedo? — ela comentou estranhando a presença do mais novo ali.
— Vamos! — Seth saiu a puxando para dentro da cabana de e subindo direto ao quarto dela, um tanto aflito.
— Sabe que o Black está para chegar, né? — proferiu zombando do amigo, que se jogou em sua cama tirando a camiseta. Hábito próprio de Seth sempre que se sentia irritado.
— O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM O MUNDO? — o mais novo gritou.
— Hey, o que houve? — parou de zombar e se preocupou de verdade.
— A Bruh me beijou no meio da praça e o Peter viu. E então vieram mais problemas.
— Ai, Seth, me deixe ao menos tomar um banho primeiro? — pediu ao notar que se trataria de uma outra conversa sentimental e, talvez, longa.
— Vai logo! — Ele estava tão irritado que ela saiu apressada.
Ansiosa pelo amigo, voltou ao seu quarto com os cabelos molhados, um short jeans ainda aberto e vestindo a sua camiseta.
— Sabe que o Jake está para chegar, né? — Seth devolveu a piada ao ver a amiga em uma imagem tão bagunçadamente sugestiva.
— A culpa é sua se ele interpretar errado.
— Vem, senta aqui — Seth pediu a puxando para a cama dela e aninhando sua cabeça no colo de como se precisasse de cafuné. — Eu preciso beber, tem alguma coisa aí?
— Não. Estamos no meio da semana e se eu começar, não vou parar. Quer um suquinho?
— Peter se declarou — Seth mencionou de repente, sem dar qualquer outra informação deixando tão confusa quanto ele.
— Peter? Para a Bruh? Espera… Ele não estava de olho na Lili Parker ou algo assim?
— Agora faz sentido Peter sempre escolher “se apaixonar” pelas minhas garotas! Filho da mãe! — Seth gritou bravo, um tanto revoltado.
— Era uma vez… Você pode começar assim, se quiser — ironizou por não compreender nada.
Seth respirou pausadamente e iniciou a explicação:
— Conversei com a Bruh naquela hora que você saiu do restaurante sobre não estar preparado para nenhum tipo de relacionamento agora. E que não era nada pessoal, e…
— Mas é…
— Sem interrupções, bonitinha. — Seth olhou feio para o rosto acima do seu. — Ela entendeu que havia me pegado de surpresa, mas disse que não queria nada sério, apenas curtir. E não era muito a favor de pessoas da reserva se envolvendo com pessoas de fora, e que, se não fosse a obsessão que ela nutria pelo Jake teria prestado mais atenção em mim e tal, blá-blá-blá nada que interesse e coisa e tal. Saímos do restaurante e Peter nos viu andando juntos. Acenei para ele e fui para a farmácia. Na porta da farmácia, antes de vir embora, a Bruh me beijou de novo dizendo que foi apenas para eu não esquecer. Como esta garota me irrita!
— Eu confesso que curto a ousadia dela até certo ponto... — riu.
— Sei… Agora, né? Porque até tempo atrás quando ela…
— Prossiga com sua história, bonitinho! — Luan o interrompeu o fuzilando com um olhar cortante, ele riu.
— Aí, no fim do expediente, eu me despedia de Steve quando a Parker apareceu me perguntando quem era a garota que estava me beijando. Eu já estava irritado e fiquei ainda mais!
— Chovendo garotinhas no colo dele… — comentou em tom de zombaria gargalhando. — Garanhão!
— , só escuta, por favor. — Seth se mostrou sério e confuso, então a mais velha decidiu parar de fazer gracinhas. — Eu falei que não era ninguém, e a Parker começou a me irritar mais dizendo que achou que eu não queria nada com ninguém e …
— Precisa parar de dar essa desculpa se toda hora for surgir uma garota beijando a sua boca, Seth!
— Como eu dizia… Peter apareceu dizendo que precisava falar comigo. E me salvou da segunda maluca do dia. Fomos até a lanchonete. Só que aí, quando estávamos lá, notei ele desconfortável.
Flashback...
— Cara, o que tá pegando? Não podemos conversar aqui? — Seth perguntou.
— Seth, mano… Eu não sei nem como dizer, mas eu não posso não dizer.
— Tem a ver com a Lili conversando comigo? Relaxa, eu não tenho mais nada com ela.
— Não.
— E então?
— Você tem sempre uma garota no seu pé, e eu até entendo, de verdade. Por isso, acho que é melhor termos esta conversa logo. Se não aliviar agora, vai ser um alívio lá na frente.
— Eu andei pegando alguma garota que você estava a fim, mano?
— Seth, não é isso. Eu que sou a fim de você. Já tem um tempo, mas é isso.
Fim do flashback...
— É O QUÊ?
— Não grita, !
— Mas, mas… Peter Carter é gay!?
— Eu acho que quando um cara diz que é a fim de outro cara, é… Ele é gay ou bissexual, ou sei lá o quê, mas o fato que é eu fui pego desprevenido com essa!
— Céus, que surpresa!
— Surpresa? Você só diz isso? Sabe há quantos anos eu sou amigo dele?
— Mas ele sempre gostou de rapazes? Ou ele descobriu agora? Ele já ficou com outros caras?
— , você realmente acha que eu comecei uma fofoca da vida amorosa dele?
— E o que você fez?
— Falei que não tinha a menor possibilidade daquilo.
Flashback…
— Eu sei, Seth, não é como se eu estivesse contando que você ficaria comigo… Mas somos amigos e eu precisava manter nossa amizade e ser franco.
— Tipo, Peter. Cara, que história absurda é essa?
— Desde que surgiu e começou aquele lance entre ela e Scott que eu tenho te notado diferente e…
Fim do Flashback…
— ELE ME CULPOU?
— Não, eu também achei que ele faria isso, mas ele explicou que foi mais o lance de ver Scott agir com você, como o próprio Peter agia em relação às Parker. O Pet sempre foi meio obcecado por aquelas irmãs e quando viu o Scott obcecado por você, ele começou a buscar os sentimentos próprios. E daí entrou em um papo furado de que repensou a vida dele, e notou o quanto sempre teve uma atração incomum por alguns caras, mas jurou que só começou a “me ver com outros olhos” depois de observar você e Scott e nós dois acabarmos conversando muito sobre aquilo.
— Você não vai colocar essa na minha conta também não, né? — perguntou para Seth, surpresa.
— Convenhamos que tem um monte de gente saindo da casinha depois que você chegou. Qual o seu problema, garota? — Seth comentou inocente e então atentou-se a algo.
— A deusa Rhikan se manifesta em mim... — ela murmurou pensativa.
— Quê?
— Foi a avó dele que me contou. Eu preciso saber que poderes são estes!
— , do que você está falando?
— Esquece! E o que você vai fazer em relação à sua amizade com ele?
— Eu gosto dele de verdade. É meu melhor amigo, mas vamos combinar que é estranho…
— Não acho, Seth.
— Você está “não achando” muito hoje.
— Não é como se eu estivesse discordando de você de propósito. É só que o próprio Peter confessou que sabe que entre vocês não aconteceria nada, e que precisava ser franco com o amigo dele. Eu acho que ele só não quer perder a sua amizade agora que descobriu os verdadeiros sentimentos dele por você.
— Eu não consigo lidar com isso agora, … Mal estou conseguindo lidar com as mulheres atrás de mim, imagina agora com o meu melhor amigo! — Seth virou-se sobre o colo dela deixando o rosto para cima e levando as mãos a ele.
encarava o rapaz ruborizado em seu colo e riu, achando fofo ter um irmão mais novo.
— Sabe… Acho que você está precisando transar, Seth.
— É um convite? — Seth levantou-se do colo dela sorrindo brincalhão.
— Nós somos manos, para com isso!
— E daí? Ao que parece, “manos” tem vontade de trepar uns com os outros!
— Você está sendo cruel com o Peter! E preconceituoso, Seth! Eu sei que é difícil, mas não aja desse jeito com Peter. Entendo que está assustado com a revelação, mas não é algo que você precise lidar diretamente. Pior está sendo para seu melhor amigo, garanto!
Seth afundou a cara no colchão da cama de , ficando de bruços. A mulher sorriu do pobre garoto cheio de dilemas e desamores. Sentou em suas costas e começou uma massagem em seus ombros.
— Você é a melhor irmã do mundo! Troco a Leah por você sem pensar duas vezes! — Seth sussurrou abafado no colchão.
Enquanto ria do mais novo, Jacob surgiu na porta do quarto os encarando, sério.
— Ei, amor! — cumprimentou e Seth deu um pulo da cama a jogando para trás. caiu no chão com as pernas para o alto. Black mantinha-se sério e Seth, desesperado, a ajudou a se levantar, explicando:
— Jake, não é nada disso!
Black arqueava as sobrancelhas se aproximando lentamente de Seth, e massageava seu bumbum pela dor.
— Eu sei. Não tenho por que me preocupar com você, Seth… Ou tenho? — Jacob perguntou o encarando próximo demais.
— Claro que não. É só que… Cara eu ando tão enrolado que não ligaria se você duvidasse de mim.
— Mas ele mencionou que transássemos, Black — disse sorridente.
— ! Jake, não foi nada disso e…
— Sua mãe está te chamando, Seth — Black falou categórico.
gargalhava enquanto Seth saía a fuzilando com o olhar. Black o acompanhou até a porta do quarto e a fechou, e então voltou-se sério para a namorada. Ela ainda ria e começou a estranhar a reação de Jake. A mulher arqueou uma sobrancelha e Black a jogou em sua cama, deitando-se sobre ela e a beijou. arfou quando eles se separaram e encarou seus olhos vermelhos, sua pele incendiada.
— Black, você está… — não conseguiu terminar de falar sobre o desejo que transpassava por Jacob, já que ele a interrompeu a beijando de um modo feroz de novo, e começou a arrancar as suas roupas.
As palmas da mão de queimaram ao tocar seus braços. Ele notou e, sem parar os toques entre eles, a puxou em seu colo. Ele os guiou até o banheiro e abrindo o chuveiro colocou ambos sob a água que aos poucos esfriava. Um banho quente não seria recomendado, mesmo.
encarou os olhos vermelhos como em uma chama trepidante de tons fogosos. Ela estava com medo do que estava acontecendo a ele, mas não queria parar. Havia uma selvageria incomum nas carícias de Black e por mais medo da besta que se mostrava sob ele, não desejava parar. E de um jeito novo e intenso eles se amaram vorazes.
esfregava seus cabelos com pouca força, afinal, ela já não tinha nenhuma. Black, à sua frente, mantinha sua testa encostada ao vidro do box, cansado.
— O que foi aquilo, Jacob? — Ele a olhou zombeteiro e os dois riram.
— Eu disse que te pegava outra hora.
— Certo, mas eu estou falando daquela besta que surgiu diante de você... isso é normal?
— Você notou? — Jacob perguntou com seu cenho tornando-se preocupado.
— Black… Foi incrível, mas você estava igual ao dia que começou a se descontrolar…
— Eu não sei explicar, mas depois de ver você e o Seth daquele jeito… Eu comecei a “ferver” — ele disse fazendo aspas com as mãos.
desligou o chuveiro e puxou sua toalha secando os cabelos. Pediu a ele para sair da entrada do box e ir se enxugar, mas ele a puxou de volta em um beijo. Beleza, gostava e tudo mais, porém, ela precisava descansar. Então saiu dali, antes que um quarto round começasse.
— Quais as chances de você se transformar enquanto nós… — ela perguntou a ele meio sem graça e aflita, o olhando pelo espelho do banheiro.
— Nunca aconteceu algo assim antes.
— No geral? — perguntou incerta.
— Comigo.
— E com os outros?
— Acredito que não, senão eu saberia…
— E a Emy? Digo… A cicatriz.
Black saiu do quarto sacudindo a cabeça negativamente. Então foi atrás dele.
— Black!
— Aquilo não foi enquanto eles transavam, .
— Mas você não acha estranho que ele ten…
— Mani — Jacob a chamou de um modo que a interrompeu tentando esconder a preocupação em sua voz —, não precisa ficar com medo de mim, tá? Eu nunca te machucaria.
— Não é isso, é só que…
— Então é o quê? — pôde notar a irritação quando ele ameaçou elevar a voz.
suspirou preocupada com a reação dele. Ela estava vestida apenas com sua lingerie, mas disse altiva para ele o puxando para sentar ao seu lado na cama:
— Black, eu sei que não me machucaria. Mas não podemos negar que as transformações vêm acontecendo e já é a segunda vez que você dá sinais semelhantes aos dos outros. E sabemos também que há alguma coisa na minha relação com vocês que desperta isto. Foi assim com Embry, lembra?
— Eu não vou virar algo pior, ok? — Jacob falou certeiro para ela embora estivesse inseguro.
— Eu só quero ajudar, Black… Manter todas as informações sobre isto no controle para entender como lidaremos com tudo. Você não pensa que a qualquer hora pode ser você?
— Penso... — Ele suspirou de cabeça baixa. — … Se eu me transformar, você continuaria ao meu lado?
— Que pergunta mais idiota. Eu por acaso saí correndo em algum momento desde que cheguei aqui?
— Uma vez.
— Mas eu fugia de você e não do seu lobo, porque achava que você estava namorando a Bruh. Não é a mesma coisa.
— Bella… Conseguiu superar as adversidades e ficar com aquele frio. Ela foi até o fim, apesar de tudo.
— Esta é a coisa mais semelhante entre nós duas que disseram até agora, só que eu não escolhi um frio.
Jacob e ela se encararam sorrindo tímidos, havia um fulgor maior nos olhos dele, e o puxou para um beijo tranquilo e saboroso. Subiu em seu colo e ficou ali, depositando beijos calmos em seu homem, como alguém que, pétala a pétala, desflora uma flor. Os dois escutaram um engasgo da porta, e era Seth. olhou para trás, ainda estava sentada no colo de Black e os dois perceberam a presença do mais novo. notou o olhar de Jacob mudar.
— Foi mal, gente, estou saindo. Só queria falar com a …
— Você anda falando demais com ela, não acha?
Tanto Seth quanto , encararam Jacob, confusos. Seth levantou o queixo de um jeito afrontador e se aproximou do casal a passos calmos. Encarava Jacob.
— Jake, eu não tenho este tipo de interesse na . Ela é como minha irmã, e me ofende você dizer isso, uma vez que eu também sempre o admirei como irmão.
— Black... — completou a fala de Seth: — Você está sendo imaturo.
Jacob abaixou a cabeça num suspiro pesaroso e olhou de volta a Seth.
— Desculpe. Não é por você, eu fiquei enciumado porque vi a minha Mani em cima de outro cara que não era eu. E poderia ser qualquer cara, não quer dizer que é por sua causa.
— Tudo bem, mas eu não vou me afastar dela por causa disso, entendeu?
— E nem eu dele. Isso é ridículo — concordou com Seth.
— Não quero que façam isso, só estou justificando os meus sentimentos.
Clearwater e se entreolharam surpresos com aquela versão de Jacob que falava dos sentimentos, e ela voltou a observar o namorado com carinho e o beijou. Seth pigarreou dizendo que voltaria outra hora e saiu fechando a porta do quarto que havia ficado aberta. Black a abraçou desabotoando o sutiã dela, mas protestou:
— Ah não, sério. Me dá um descanso? A fera não sou eu.
— Não era o que parecia... — Jacob riu sacana, cheirando o pescoço dela.
— Chega, vamos nos vestir e descer! — declarou mordendo o ombro de Jacob e os dois saíram dali.
Quando chegaram na sala, viram que Seth estava esparramado no sofá dela e Black provocou:
— Ainda aqui? Você não tem casa?
— E você está no cio por acaso? Dê um descanso a ela... — Seth devolveu, e Jacob deu-lhe uma almofadada.
— Invejoso — Jacob comentou e foi para a cozinha preparar um jantar, enquanto Seth e ficaram na sala.
— Fala, big baby, o que aconteceu? — comentou com Seth a encarando sentar no outro lado do sofá, risonho e malicioso, perguntando:
— Vocês mandaram ver, não é?
— Ele morreu de ciúme do que viu. — riu baixinho.
— Eu posso ouvi-los! — Black gritou para os dois.
Os dois riram e então Seth voltou a seu dilema:
— … Estou pensando em ir embora. Como a minha irmã.
— O quê? — bateu na cabeça do amigo.
— Outch!
— Que história é esta? Ficou louco?
— Eu só estava pensando… Leah foi fazer faculdade e talvez eu devesse buscar sair daqui um pouco também.
— Isso tudo é por causa da Bruh?
Black se aproximava dos dois, com duas carnes congeladas na mão. Estendeu-as para a fim de que ela escolhesse.
— O que a Bruh fez desta vez? — perguntou olhando Seth.
— Beijou o Seth.
— !
— Sério, Seth? O que essa garota tem na cabeça? Até outro dia não saía do meu pé!
— Acaso está com ciúme, Black? — perguntou irônica.
— Não viaja. Mas é confuso… Como ele vai levar ela a sério? — Jacob comentou. — Eu vou preparar o jantar! — Ele saiu com o olhar cortante de sobre si, enquanto Seth ria divertido.
se aproximou do ouvido de Seth e sussurrou:
— Provavelmente ele está com o ego ferido por ter sido esquecido tão rápido pela miniloba.
— Você deve ser a namorada perfeita, . — Os dois amigos riram com bom humor.
— Tem razão, mas você não me respondeu.
— Não é por causa dela, se manca! É só que… Eu queria mudar algumas coisas na minha vida, sabe?
— Seth, vou dizer de novo: você está muito sozinho. Apesar de todos nós, eu sei que não é a mesma coisa… Tive uma ideia!
— Hm?
— Que tal irmos para Silverdale neste fim de semana?
— Eu não vou segurar vela para você de novo.
— Se bem me lembro, da outra vez o senhor estava acompanhado da Parker.
— Mas segurei vela por um tempo.
— Só nós dois. Sem Black, sem Parker, sem Bruh.
— Feito! — Eles bateram as palmas das mãos um do outro.
— É... — , no entanto, olhou em direção à cozinha. — Como dizer isso a ele, é que será o problema.
— Relaxa, eu falo com ele: “Jake, sua garota é minha esta noite”.
— Ah, com certeza que vou deixar você falar isso sim! — Eles começaram a gargalhar e logo mudaram de assunto.
Naquela noite, jantaram os três juntos e, como habitualmente, os quileutes se reuniram em uma das cabanas. A velha indígena Whitton estava reunida a eles. Se chamava Mailaka e encarava , risonha, e os observava como se estudasse todos os gestos do povo quileute. Logo Sue pediu para que se aproximasse das duas. Mailaka perguntou em sua língua, como estava e o que ela estava sentindo de estar entre eles, os quielutes, e ainda perguntou se ela se esquecera do que Mailaka havia dito na tribo dela. respondeu a tudo com sinceridade contando também o que a avó de Scott lhe dissera. Mailaka se assustou ao ouvir de Sue o que a outra anciã indígena havia dito e, aflita, falava algo a Sue que acabou por deixar e Sue, aflitas também.
— O que ela disse, Sue?
— Que você corre grande perigo.
Elas encararam-se surpresas e Embry surgiu apressado chamando as duas senhoras para socorrerem Quil. Bruh saiu correndo para o quarto do irmão. ficou ali, apreensiva onde estava, refletindo as palavras de Mailaka. Billy, Black, Seth e Paul foram chamados tão logo que Embry voltara. acompanhou a movimentação ainda reflexiva e de repente, Jacob surgiu ao seu lado.
— Vamos dormir? — ele a chamou tomando sua atenção de volta.
— E o Quil? Como ele está?
— Parece que o seu remédio está começando a deixar de fazer efeito... — Jacob respondeu preocupado.
abaixou a cabeça tristonha sentindo a mão de Black em seu ombro, massageando-o. Ele pegou a mão dela e a guiou para dentro do quarto.
— No seu quarto? — comentou.
— Não quer dormir aqui? — ele perguntou confuso.
— Achei que você iria para minha cabana.
— Eu terei que sair muito cedo amanhã…
— Ok, por quê? Para onde você vai ou o que você não está dizendo?
— Paul e eu partimos amanhã em uma viagem.
— Que viagem?
— Os Whitton irão nos guiar. Ainda não sei o destino ao certo.
— O quê? Por quanto tempo?
o enchia de perguntas enquanto Black foi lhe colocando em sua cama, como se ela fosse uma criança e logo deitou-se ao seu lado.
— Não sabemos, Mani. É uma busca para ajudar o Quil.
— Então é mais sério do que...
— Do que foi com Embry? — Jacob a interrompeu sutilmente. — Sim. E pelo que soubemos a tendência é piorar.
— Black... — Ela se virou de frente para ele tendo a mão de Jacob enlaçada à sua cintura e perguntou de novo, preocupada: — E se acontecer com você enquanto estiver com eles? Não confio neles.
— Não vai acontecer. Se eles estiverem certos, a probabilidade é menor porque você não estará por perto.
— Eles realmente acreditam que eu tenho culpa, não é?
— Não é culpa… É como uma espécie de dom.
— Mailaka disse que eu corro perigo.
— Não é nenhuma novidade, minha Mani… — Jacob sorriu e a beijou de um jeito pacificador.
— Mas é que são muitas informações para minha cabeça.
— Esquece as preocupações, eu estou aqui. Concentre-se no calor do meu corpo… — Jacob sussurrou aquilo em seus ouvidos e eles se mantiveram abraçados trocando carinhos.
apoiou-se em seu peito e logo Black adormeceu. A mulher sorriu fracamente ao constatar que finalmente o cansaço daquele dia batera nele, e não pôde esquecer a cena de Mark com a mulher loira, enquanto a voz de Sue ecoava em sua mente: “Que você corre grande perigo”.
•••
A sexta-feira havia chegado e Seth e estavam a caminho de Silverdale cantando alto uma música qualquer. Convidaram Embry para ir com eles, pois o amigo andava bastante nervoso por Quil, entretanto, Embry não queria sair do lado do amigo, então restou tirarem no “0” ou “1” para ver quem dirigiria, afinal, os dois queriam beber aquela noite. Por fim, não conseguiram ninguém para os acompanhar já que todos estavam muito cansados para ir a uma festa e não beber. Clocks começava a tocar no rádio e cantava alto enquanto levava o carro na ida.
— Promete que não vai bater o carro por causa do Chris Martin? — Seth pediu.
— Eu sou uma excelente motorista! Mas te devo mesmo uma dessas pelo dia do ataque de Embry... — Ela recordou.
— Três dias sem notícias de Jake e Paul… — Seth sibilou preocupado, sem pensar.
— Seth, se me lembrar disto mais uma vez, eu te jogo deste carro.
— Yooooou aaaare… — O amigo dando-se conta da aflição dela, gritou cantando para descontrair.
Eles chegaram ao bar e o movimento era grande. Lá pelos tantos viras de tequila que deram, Seth e dançavam até que um cara se aproximou dela. Seth logo se posicionou a defendê-la da cantada do estranho fingindo ser o namorado de e os dois voltaram à própria mesa para comer alguma coisa antes de voltar a beber.
— Que cara babaca! — reclamou.
— Pior ainda é eu ter que intervir! Uma mulher não tem mesmo um dia de paz, não é?
— Você é um bom homem Seth, e esperto.
— Deixa isso para lá, o idiota foi embora do bar. Eu vi quando ele saiu com os amigos dele. Mas agora é sério, ! Eu não tenho condições de levar o carro… — Seth comentou terminando de empurrar algumas batatas fritas para dentro.
— E nem eu! Combinamos uma coisa e fizemos outra! — comentou batendo a mão na testa e, de repente, Seth exclamou alto arrancando risadas dela:
— Eu adoro esta música! “Shut up and let me go! This hurts, I told you so. For the last time you will kiss my lips, now shut up and let me go!”
Ambos haviam levantado os copos e cantaram alto a primeira estrofe da música, e não aguentando ficar ali, levantaram e iniciaram uma dancinha insana de amigos bêbados. Algumas garotas perto deles ficaram os encarando e rindo, e Seth puxou uma por uma beijando-as em selinho. Gritinhos se fizeram ouvir e estava no meio delas dando gritos empolgados para o amigo enquanto a música deles tocava, porque a partir daquele dia, “Shut up and let me go” seria a música de Seth e . E quando a canção acabou, eles voltaram para a mesa, caindo sentados em suas poltronas.
— Sério, sério… Eu quero sair com você para sempre! — gritou para ele, que gargalhava.
— Nós somos demais.
— Você saiu beijando todo mundo! E agora? Eu sou a corna, né?
— Ah, aquele cara nem está aqui mais! — Eles gargalhavam.
— Uou, eu estou cansada, mas eu quero beber mais.
— Espera! — Seth gritou antes que virasse seu copo. — Vamos resolver: como nós vamos voltar?
— Você quer parar de beber agora para levar o carro mais tarde?
— E ficar sóbrio sozinho? Nem fodendo!
— Ei, mocinho, olha o palavreado.
— A Sue ficou em Forks! — Seth zombou.
— Então que tal se nós dormirmos por aqui e sairmos amanhã cedinho?
Seth olhou para com uma cara divertida e pediu ao garçom outra rodada de tequila. Quando “Attention” iniciou, Seth e ela estavam dançando juntos coladinhos e sensualizando na pista. As meninas que tinham ficado com ele estavam eufóricas, e os dois riam ainda mais por provocá-las. Para , era tão bom ver seu maninho daquele jeito… Tão leve e feliz.
Em determinado momento, ele saiu para ir ao banheiro e continuou dançando sozinha até ele voltar. Quando Seth retornou, ele colou-se novamente em e continuaram divertidos e bêbados dançando e atraindo olhares conhecidos para ela.
— Aquele encarando nós dois, é o Peter? — perguntou ao ouvido de Seth.
— É!
— Desde quando ele está aqui?
— Não sei, mas acabei de vê-lo na fila do banheiro.
— E está dançando assim comigo para provocar ou seduzir ele? — sorria abertamente, mas após ouví-la Seth os afastou e segurou o rosto de bem próximo ao seu, encarando-a friamente. — Brincadeirinha… Que cara é essa Seth?
— , não me faça fazer o que eu não deveria.
— Longe de mim… — Ela sorriu receosa e confusa com a reação de Clearwater.
Eles voltaram para a mesa e beliscaram a porção de petiscos antes pedida. manteve-se olhando para Peter que os encarava enquanto virava seu copo, e então, acenando, ela sorriu para ele.
— Para com isso !
— Qual é, Seth, por que não chamamos ele?
— É melhor não.
— Hey! Eu estou bêbada, mas o que vou falar agora é muito sério: não comece a ser o babaca que você nunca foi!
— Eu não sei como agir com ele, porra!
— Parece até que foi você que levou o fora! Quem deveria sentir esta insegurança é o Peter. E tenho certeza que ele está sentindo.
Seth abaixou a cabeça e voltou a encarar envergonhado.
— Não exclua as suas lembranças ou as pessoas importantes em sua vida porque elas não são o que você espera — aconselhou.
Seth virou um gole de sua bebida depois daquilo e foi decidido até Peter falar com o amigo. observou os dois, eles se cumprimentaram como sempre: com uma batida de mãos e ombros. Seth falava e Peter o ouvia de cabeça baixa. E então sorriu, e Seth sorriu o abraçando. Em seguida, os dois caminharam em direção à mesa onde e Seth estavam e, os três beberam juntos, mas Peter não ficou com eles a noite toda, já que estava acompanhado de uma galera desconhecida e iria embora de carona com eles. Se despediu de e Seth, e antes de ir embora se virou para o amigo sentado à frente de e o disse:
— Ei, cara, obrigado.
Seth acenou positivo com a cabeça e sorriu. Ficaram sós novamente, e ele, e então brindaram sorrindo.
— Eu me orgulho de você — declarou ao mais novo.
— E eu de você.
— Você merece um prêmio.
— Mereço? Por ser honrado?
— Tem razão, você não merece nada.
— Só de curiosidade… O que eu ganharia?
— O que quisesse. Eu faria o possível para arranjar para você.
— Droga… Perdi uma grande chance de deixar o alfa na minha mão então!
O público da balada interiorana de Silverdale ao invés de diminuir à medida que a madrugada avançava, só aumentava. Seth e concordaram que era momento de irem atrás de um pensionato ou albergue para dormirem. Então, Seth, que àquela altura já era amigo do garçom, perguntou onde poderiam encontrar algum lugar para pernoite.
— Vocês vão ter que dirigir bastante até encontrar o mais próximo.
— E aí, ? O que quer fazer? — Seth perguntou.
— E se dormirmos no carro?
— E aí, cara, sabe onde podemos ficar estacionados numa boa?
— Se não se importarem com o barulho, podem ficar no estacionamento daqui mesmo. Não é como se tivesse algo mais próximo.
Eles agradeceram e pagaram a conta, saindo abraçados e cambaleantes até o carro de .
— Obrigado — Seth sussurrou no ouvido dela, grato por toda a sua amizade e cumplicidade. Há muito tempo ele não se divertia daquela forma.
Depois de acomodados no carro, ficou encarando a lua até pegar no sono. Seth, por estar muito cansado, adormeceu rápido. Ela não parava de pensar em Jacob. Onde ele estaria? Como se sentia? Então, seu celular tocou. Era uma chamada de Black, mas, infelizmente, a ligação estava tão ruim que ela só pôde ouvir sua voz dizendo seu nome. iniciou um choro aflito e adormeceu com a luz da lua em seu rosto, como um abraço consolador, por saber que aquela saudade ainda a levaria ao fundo do poço um dia.
Seth e ela acordaram ao mesmo tempo por culpa dos raios solares em seus olhos. Eles se encararam confusos e enfim, começaram a gargalhar.
— Cara, o Jake já sabe que você é louca assim?
— Não. Black e eu nunca fizemos programas como este.
— Vocês são como um casal de velhos namorando.
— Ainda bem que eu tenho meu “mano barra namorado falso” para me divertir, não é?
— Enquanto eu estiver aqui, gatinha, não lhe faltarão noites como essa!
Os dois riam e, enquanto se espreguiçava, Seth bocejou.
— Vamos! Vamos tomar um café, e comer algo antes de ir — ela declarou.
— Muito café. Eu ainda estou cheio de sono.
Eles desceram do carro e o trancaram, então notou três papéis cor de rosa escrito à caneta que estavam grudados no para-brisa do seu carro. Ela pegou e os leu, eram nomes de garotas e números de telefone. Gargalhando, os estendeu a Seth, que riu abafado os colocando no bolso.
— Garanhão — a amiga zombou.
O mesmo garçom da noite anterior saía de seu turno quando eles entraram e o lugar nem de longe parecia a balada badernosa em que eles estavam. Pessoas tomavam café da manhã tranquilas, como se fosse aquele um posto de conveniência.
— Céus, olha o nosso estado. Que vergonha, Seth.
— Vamos comer logo e ir embora — ele disse rindo.
Na volta, Seth levou o carro até Forks. De novo, colocou o rádio para tocar a fim de não pegarem no sono e eles foram conversando sobre a noite anterior, sobre os sentimentos em relação à reaproximação de Peter e sobre a saudade que sentia de Jacob. Quando chegaram na reserva, Sue estava sentada na varanda e sorriu negando com a cabeça ao ver os dois. Ela só não repreenderia Seth porque ele estava com . Mailaka estava a seu lado balançando em outra cadeira. Emy chegava de algum lugar com Sam, e Bruh, com cara de poucos amigos, encarava os dois que dentro do carro, ainda estavam sorridentes.
— Eu passo a noite fora com você e minha mãe nem dá sinal de surto! — Seth constatou ainda dentro do automóvel.
— É porque ela confia mais em mim do que em você.
— Vá te catar… — ele comentou e então notou a expressão de Bruh. — Mas podemos ficar aqui?
— Por quê?
— Bruh… A Ateara parece que vai atacar se eu sair desse carro agora.
— Céus, a cara dela é de alguém que vai me devorar e não a você… Ela deve achar que é provocação minha, sabia?
— Deixa disso! Eu não tenho nada com ela!
Os dois desceram do carro e antes que pudesse responder algo que Seth dizia, o garoto estava à sua frente de braços abertos. Bruh realmente havia se transformado e, furiosa, jogou Seth em uma árvore próxima. No mesmo momento, o garoto bateu com a cabeça e desmaiou. A loba avançou então sobre e se colocou sobre ela, rosnando próxima ao rosto de . ficou trêmula e furiosa também, e surpreendentemente, deu um soco em Bruh e a afastou de si com um chute, conseguindo se desvencilhar dela. Sue começou a gritar e Sam e Emy surgiram para ajudar. Logo, Billy surgiu na porta de sua cabana também.
Bruh Ateara avançou até e abocanhou seu pé, arrastando-a. Naquela hora, não sabia de onde vinha aquele ímpeto selvagem, mas com uma força que ela desconhecia, ela chutou a cara da loba e avançou sobre ela enlaçando suas pernas no pescoço da Ateara, então mordeu a orelha da loba e uma luta corpo a corpo se iniciou. Lobo contra mulher. Bruh era muito maior do que e a própria mulher não conseguia explicar o ímpeto que a acometia, mas ao ver Seth desmaiado ela sentiu um ódio enorme de Bruh. As roupas de rasgaram-se pelas garras da loba jovem que sacudiu-se a jogando pra longe e em posição de ataque e ofegante, correu na direção de Bruh e lhe deferiu chutes, socos, cotoveladas e mordidas.
Ao tempo que todos gritavam para que elas parassem, tudo acontecia muito rápido. Sam se aproximou de a fim de tirá-la dali, mas ela o empurrou tão forte que ele bateu, assim como Seth, em uma árvore, embora não tivesse caído desacordado.
estava estranha, com uma força descomunal. Os dentes dela se sobressaltaram em presas afiadas, e o ar começou a lhe faltar. Ela baixou sua guarda e Bruh foi em sua direção, e então, mordeu-a em seu pescoço animal. Outro lobo havia se transformado e puxou o corpo da loba para longe de , fazendo com que seus dentes rasgassem um pouco da pele da menina. Bruh caiu ao chão sangrando muito e em forma humana. Seth voltou ao normal ainda sobre e a encarou amedrontado e confuso. Sam e Emy foram até Bruh, enquanto Sue e Mailaka foram até .
— ? Você está bem? — Seth perguntou aflito analisando o corpo da amiga.
sentiu de repente uma falta de ar e ao passar a língua em seus dentes eles estavam normais.
— Aquilo foi ilusão minha? — ela perguntou a Seth.
— Não.
Eles ouviram as vozes de Sue e Billy perguntando como os dois estavam. Sue abaixou-se até para verificar se ela estava bem e Mailaka saiu em direção a Bruh.
— Eu estou bem, mas acho que machuquei a Bruh.
Todos voltaram suas atenções a ela, e Seth pegou no colo a levando para dentro. Ao passarem pela garota, pôde ver o pescoço ferido e ela desacordada. encarou confusa os olhos também confusos de Seth.
— Você bateu a cabeça — falou para ele.
— O que foi aquilo, ?
— Eu não sei. Foi tão instintivo…
— Presas! Saíram presas de você, e… O que foi aquela força?
— Seth! Eu não sei!
— Tome um banho e descanse, eu vou lá fora ver a Bruh.
— Mas e a sua cabeça?
— Estou bem. Relaxe. — Seth a acalmou beijando a testa dela e saiu.
Capítulo Vinte e Oito
O que ela está se tornando?
limpava os ferimentos que Bruh causou a ela no embate enquanto todos estavam auxiliando a jovem Ateara em cuidados mais precisos. Sam achou melhor que Quil não soubesse do ocorrido e que a loba adolescente fosse levada imediatamente a um hospital. Então Charlie foi chamado por Sue para prestar o socorro em levá-la. Quando Seth contou para que, segundo os médicos, por muito pouco a artéria carótida de Bruh não foi atingida levando-a a óbito, um mal súbito tomou . sentiu-se zonza e com uma ânsia impossível de controlar tamanho o enjoo que sentia.
Ficou ao encargo de Embry evitar que a notícia chegasse ao irmão da jovem Ateara. Ele visitou em sua cabana e a encontrou escorada no vaso sanitário de seu banheiro. Havia recém recebido a notícia por Seth ao telefone. Embry apressou-se em prestar ajuda à amiga a colocando em repouso e continuando a lhe fazer os curativos. Emy, chamada por ele, cozinhava uma sopa para que comesse depois que seu estômago estivesse melhor. Acreditando ser causa de gastrite nervosa, Mani os despreocupou de seu mal-estar. Havia questões mais preocupantes, tais como: o que era ou havia se tornado?
Billy, não demorou a manifestar sua preocupação com aquilo e como o senhor prudente que era, reuniu os quileutes presentes – com exceção de Bruh e Quil – para esclarecerem o fato. Novamente, lá estava rodeada de indígenas curiosos, inclusive, alguns da reserva Whitton que decidiram a analisar e, conforme desejo de Malaika, realizar outro ritual como o anterior que havia sido feito sobre ela.
Nada adiantava perguntar a Billy ou Sue sobre o que acontecia com ela porque ninguém ali sabia esclarecer. Ao voltar do hospital para a reserva, Bruh permaneceu em repouso na casa de Sue e quis vê-la e se desculpar, no entanto, a mulher foi surpreendida pela menina implorando desculpas pelo ataque. Bruh alegou que outra vez seu ciúme falou mais alto, porém, deixou-a com sequelas daquela luta que jamais pensaria ela ser derrotada por . Em todos os sentidos. As duas não estabeleceram uma amizade ou tranquilidade, mas a tolerância e o respeito pareciam surgir em prol do bem da reserva, do bem de quem amavam e delas próprias. Bruh perguntou para o que a “mulher comum” havia feito para ficar daquele jeito, e a outra, sem resposta, negou com a cabeça em um sorriso doloroso.
Jacob também não dava notícias há dias e algumas noites podia escutá-lo perto de si. Era como se ele sussurrasse em seus ouvidos enquanto ela dormia, como se os seus pensamentos fossem dela. E era assustador. Por mais distante que o homem estivesse, não estava desesperada porque sentia saber exatamente como ele estava e o que ele fazia.
A rotina de todos seguiu sem maiores eventos pós Bruh x . Alguns pensamentos, porém, ainda causavam perturbação em , por exemplo, a mulher loira que ela avistou dias atrás com Mark ainda era uma incógnita para ela. E um desejo suicida de encontrar Mark para perguntar a ele diretamente perambulava minha cabeça. Foi pensando naquilo que, em um dia ameno e tranquilo, Seth surgiu batendo no balcão da farmácia chamando a amiga para almoçar e afastando suas ideias estranhas, mas não queria comer, e declarou aquilo. Seth, achando que teria algo a ver com Black, soltou para ela que ele tinha notícias. então o olhou apreensiva e saiu de trás do balcão o mais rápido possível.
— Ele voltou?
— Não, mas eu consegui falar rapidamente com ele por telefone. Ele está bem e esperarão mais alguns dias antes de decidir se devem ou não voltar.
— Droga!
— Fique calma, está tudo bem. Agora que tem notícias dele, vamos almoçar?
— Não. Eu estou sem fome.
— O que está havendo com você? Não me parece bem. Achei que estaria preocupada com o Jake.
— Eu sei exatamente o que está acontecendo com o Jacob, não estou preocupada com isso.
— Como assim?
— Não sei explicar, mas eu posso senti-lo quando quero.
Seth encarava-a curioso.
— Desde quando isso começou?
— Dias depois do ataque de Bruh... — comentou e, apesar de muito curioso, Seth elencou aquilo na “lista de mistérios sem respostas” que ultimamente permeavam a vida dos quileutes.
— E o que te preocupa, então?
A mulher olhou para ele sem saber se deveria dizer a verdade ou se deveria esconder. Entretanto, as conexões estavam mudadas também e Seth era capaz de pressenti-la pelo visto:
— Não, você não vai atrás daquele frio!
— Como você sabe que- — suspirou. — Enfim, esquece.
— O que você pode querer com ele agora, ?!
— Eu o vi semanas atrás acompanhado de uma mulher.
— E daí?
— Ou ele trouxe alguém para Forks ou ele estava abordando alguém daqui. E depois não o vi mais e nem a mulher.
— Quem era ela?
— Eu não sei e por isso fico aflita! Me sentirei muito culpada se aquela fosse mais uma… presa de Mark ou Darak.
— Não os vejo e nem temos notícias deles há muito tempo.
— Então concorda comigo que temos que averiguar se tudo ocorre bem com o acordo?
— Sim, eu irei até o esconderijo deles — declarou Seth.
— Não! São dois contra um e agora podem ser três!
— E quem fará isso? Você? Jacob me mata se souber que deixei você se aproximar do frio.
— Vamos combinar assim: ninguém faz nada por enquanto. Pensaremos juntos numa maneira de investigá-los. Certo?
— Certo — respondeu Seth desconfiado e se despediu: — Trarei uma marmita para você.
— Não quero.
Com a teimosia de o irritando mais que o normal, Seth acenou a cabeça contrariado e foi embora. telefonou para saber como estavam Quil e Bruh, e Sue disse que o mais velho Ateara recuperava-se bem. Parece que Quil desejava sair daquela o mais rápido possível, antes mesmo de Jacob retornar com a solução. Já Bruh, não apresentava bons sintomas. Tinha febres altíssimas e, embora cicatrizados os ferimentos graças aos ataques de , ela ainda estava muito fraca para tomar a forma de loba.
Naquele dia, passou mais tempo em seu laboratório entre pesquisas incessantes sobre como ajudar os quileutes. Não encontrava nada muito promissor nos artigos, e uma das universidades em que ela entrou em contato lhe trouxe um atrativo material. Ela lia e relia as páginas da pesquisa enviada pela Università di Bologna, seus olhos cansados começavam a deixar as palavras turvas e letras embaralhadas. Olhando no relógio, percebeu que ele já marcava oito horas da noite. Havia perdido a noção do tempo e em seu celular constavam inúmeras chamadas do pessoal da reserva. Ela retornou a ligação para Sue avisando o que aconteceu e que já voltaria para casa.
A noite estava bastante fria e com um fino suéter que mal conseguia aquecer-se, reuniu suas coisas pronta para ir embora. Trancou o laboratório e caminhou até seu carro. Ao tocar a maçaneta, um vento rápido e perfumado passou por ela. Assustada, ela olhou para trás e nada viu. Aquela era a sensação estranha, mas comum, de quando Mark se aproximava…
— Mark? — encarou ao seu redor o chamando, mas não enxergava ninguém. — Mark, você está aí? Pare de palhaçada e fale logo o que quer…
Nada ainda.
— Darak, é você? — Ela continuou falando sozinha para a penumbra da noite.
julgou que estava enlouquecendo mais rápido do que imaginou que aconteceria desde que chegou a Forks. Ela entrou em seu carro e deu partida de volta à casa um pouco mais confortável pela temperatura mais quentinha no automóvel, e um pouco mais segura por estar trancada dentro dele.
Na altura do seu antigo bairro, o Kalil, ela se assustou com algo parado no meio da estrada e freou bruscamente. Havia alguém no meio da estrada. Ao olhar para os lados, ela constatou que estava de frente para a sua antiga casa, o, agora entendido por ela, mausoléu que a mesma vendeu para Mark, e havia uma única luz acesa dentro dela. Depois de esmiuçar atenta aquele cenário conhecido, retornou seu olhar à frente para a estrada novamente e gritou de susto ao ver uma pessoa tão perto. Ela caminhou calma e risonha até a lateral da janela do motorista. estava muito, muito eufórica, mas não demonstraria aquilo nem que estivesse com as mãos da morte sobre seu pescoço.
A mulher loira, a mulher que avistara com Mark, bateu no vidro do carro pedindo para falar com ela. Tinha um sorriso plácido e um olhar mortal. observou novamente a casa e nada diferente da única luz acesa estava ali. Encarou aquela mulher com a coragem que aprendera a ter em Forks. “Se fosse para me matar, eu já estaria morta”, foi o que pensou. Contudo, mesmo quase certa de que não morreria naquele momento, o fascínio que enxergou nos olhos dela era horrendo. retirou o cinto de segurança e manteve seu carro ligado. No mesmo instante seu celular tocou denunciando uma chamada de Embry. As duas encararam o aparelho juntas – , de dentro do carro com o telefone em mãos, e a mulher loira, do lado de fora observando-a. não atendeu a chamada, apenas abaixou o vidro da janela.
— Então você é a ?
— Quem é você e o que quer comigo parada como uma assombração na estrada?
Ela gargalhou fino e assustadoramente.
— Eles disseram mesmo que você era corajosa e ousada!
— E não socializo muito com tipos como vocês, fale logo quem é!
— Tipo como nós? Mas, o que acha que eu sou?
— Diga você — falou ríspida e seca a fim de acabar logo com aquilo. A mulher, claramente uma criatura da espécie de Mark e Darak, arqueou uma sobrancelha e estendeu sua mão com unhas perfeitamente feitas na direção de nossa heroína.
— Muito prazer. Eu sou Valerie — apresentou-se em tom irônico.
— O que você é? — perguntou pegando sua mão em cumprimento e notando o quão gelada estava, tivera certeza: era uma vampira. — Ou melhor, há quanto tempo você é um frio?
Irritada com a petulância, mas sem demonstrar alterações de humor, Valerie aproximou seu rosto ao de , e, sorrindo, respondeu-lhe a centímetros de distância. A respiração da humana, porém, dava sinais de falha.
— Há muito mais tempo do que você sonhava nascer, humana.
— E o que quer comigo, Valerie?
— Apenas queria me apresentar… Conhecer a mulher que foi poupada da sede de Mark e Darak... Por que será que eles não beberam? Já pensou nisso?
— Não tenho o menor interesse em saber o que eles pensam sobre mim, na verdade, não existe qualquer ligação entre nós. E vocês três deveriam ir embora de Forks o quanto antes, tão silenciosos quanto chegaram.
deu indícios de partir com seu carro, deixando a vampira com aquela provocativa palhaçada para trás, mas Valerie segurou o volante fazendo-a encará-la.
— Eu vim ajudar você, . As suas respostas estão bem guardadinhas comigo, e mais rápido do que pensa, você poderá tê-las. Acredite, tudo pode mudar para você e para melhor.
— Do que você está falando?
— Tudo tem um preço, você sabe. E o meu preço… Bom, se quiser mesmo continuar esta conversa, sabe onde me encontrar — disse Valerie apontando a antiga casa de e com sarcasmo: — Está muito friozinho para continuar conversando aqui fora agora, não é?
Ela abraçou os braços fingindo uma ingenuidade que já notara não existir nela, e sorriu esfregando-os. Valerie deu meia-volta no carro caminhando de volta para a casa, acenou sorrindo em despedida.
Frio definitivamente era a última coisa que ela sentia, quis dizer a ela. Porém não daria mais chances para um cenário pior. deu partida no carro, respirando fundo e longamente. Assim que chegou à reserva, ela fechou as janelas de seu carro, desceu do mesmo, encontrando Embry sentado no sofá da cabana dela, preocupado.
— Por que não me atendeu? — perguntou o rapaz à amiga logo que ela entrou em casa.
— Boa noite e desculpe… Eu estava dirigindo.
— Hm… Tem certeza? — Embry pôs-se de pé a analisando.
— O que houve?
— Estou preocupado com você! Seth disse que você estava estranha e não quis nem comer.
— Em compensação eu comeria um carneiro inteiro agora.
— Já preparei o seu jantar.
manteve a calma e olhou com ternura para Embry. Estava feliz por tê-lo como amigo, e, andando até ele, o abraçou forte.
— A gente se afastou tanto, não foi?
— Não acho… — Ele riu suspiroso. — E já acendi a lareira para te aquecer, suba para tomar um banho, eu te espero aqui. — Beijou o topo da cabeça e afagou os cabelos dela.
Ao entrar em seu quarto, notou que havia uma blusa de moletom sobre a cama. A blusa era de Embry e ela se lembrava perfeitamente daquele dia. O dia em que ela foi para a reserva pela primeira vez e por conta da chuva molhou suas roupas. Sorriu saudosa àquele tempo onde ela não passava de uma querida estranha intrusa na reserva. Depois, no banho, sorriu divertida ao lembrar de Embry e ela como um casal. Quem diria que tanta coisa mudaria entre os dois. Contudo, chegar em casa e notar a preocupação e cuidados dele apenas reforçava que Embry nunca deixaria de ser o primeiro amigo quileute que ela fizera, e se colocava cada vez mais como um irmão mais velho.
Ela desceu as escadas, Seth já havia invadido sua casa e comia seu jantar sentado em frente à lareira ao lado de Embry.
— Ele invadiu e roubou sua comida, eu tentei impedir.
— Tudo bem, Embry. Eu já estou me acostumando em como reagem os irmãos caçulas.
Sorriram os três e após montar seu prato de fetuccine de cenoura ao molho pesto, se reuniu a eles.
— O que fez hoje, ? — perguntou Embry.
— Trabalhei como uma escrava.
— Estava até agora no laboratório?
— Sim, Embry… Recebi alguns artigos de Bologna, perdi a noção do tempo os lendo… Aliás, Seth, conseguiu falar com Jacob de novo?
— Não, não consegui.
Suspiraram pesadamente. Seth, recordando-se da conversa mais cedo, de repente iniciou um diálogo investigativo. Embry não entendia nada, mas lhe contou o mesmo que dissera ao Clearwater mais novo a respeito de investigar os frios em Forks. E quando Seth iniciou seu “eu tenho um plano”, o interrompeu contando de Valerie.
— Encontrei-me com a mulher loira. É uma vampira, seu nome é Valerie.
— ! Nós combinamos que ninguém faria nada até decidirmos juntos! — protestou ele.
— Ela que veio até mim! O que queria que eu fizesse? “Só um momento que eu vou ver com meu sócio se posso falar com você”!
— Você correu risco demais, ! Deveria ter atendido a minha ligação — Embry também reclamou.
— Exatamente, Embry, eu corri risco! Já pensaram se eu a ignoro ou atendo a sua ligação? Ela poderia resolver atacar!
— Afinal, ela é uma transformada recente ou não?
— O que isto importa, Embry? O tal Mark quebrou o acordo que a estabeleceu com ele de qualquer jeito! Vamos, vamos nos reunir e ir atrás dele! — Seth se levantou impetuoso, mas Embry o segurou pelo punho revirando o olhar.
— Cale a boca garoto, senta aqui.
— Você dois, me ouçam! Ela veio propor algo a mim, pelo menos foi o que pareceu.
repetiu as palavras da vampira e os meninos refletiam sem entender nada. Seth coçava a cabeça, pirracento por toda a nova confusão que começava. Parecia que um problema nunca teria fim para outro começar. Ou, na pior hipótese – a que acreditava –, todos os problemas eram apenas um interligado como uma grande bomba programada.
Embry, mais maduro a cada dia, controlou o nervosismo de Seth e decidiu que não agiriam por impulso, o que significava que não deveria teimar em agir igual. Lembrou-os de que ela era o “meio de comunicação” entre os lados, e que sabia como agir com Mark se fosse preciso dialogar. Mesmo assim, preocupados, os dois disseram que vigiariam os passos dela. Antes de irem embora, Seth abriu a porta da cabana na saída e, olhando para , ordenou:
— Vigiar seus passos também engloba controlar a sua alimentação, ouviu, garota!?
Ela sorriu afirmando cansada e logo depois que saíram, foi dormir.
No meio da madrugada outro pesadelo a assolou. Diferentemente do anterior, andava à frente de um imenso túnel escuro; ao seu lado estava Mark e atrás deles, pessoas encapuzadas. Parecia adentrar uma caverna, e quando a imensa porta se abrira, ela ouviu uma voz a chamando. Luan acordou assustada. Sua lombar formigava, então ela se sentou na cama e sacudiu os cabelos nervosamente. Não entendia nada do que vinha acontecendo consigo e aquele formigamento muscular só poderia ser o cansaço extremo de horas sentada no laboratório.
A fim de espreguiçar-se, ela se levantou e tocou em sua lombar esticando-se para frente, mas sentiu uma queimação local incomum. caminhou até a caixa de medicamentos no banheiro para procurar um relaxante muscular, enquanto a dor e queimação aumentavam. Quando tocou o local sintomático do corpo com a mão direita, sentiu um reflexo branco em seus olhos e uma espécie de visão do momento em que ela tocou na mão de Valerie surgiu.
puxou a mão que havia cumprimentado Valerie e que era a mesma sobre sua lombar e viu que ela estava suja com sangue. Ainda sentia dor e estava assustada, apavorada na verdade, de costas ao espelho, foi averiguar. Qual surpresa horrenda não foi ao ver uma marca surgindo aos poucos sob sua tez, rasgando-a e ferindo, deixando uma linha fina e mais clara que sua pele, como um sinal natural, uma tatuagem sem cor.
Ela se aproximou mais do espelho e devido ao sangue, pela marca em aparente queimadura – como aquelas feitas a ferro quente – não podia entender o que era o desenho. Reuniu seus itens de primeiros socorros e tentou limpar com dificuldade o local, mas não conseguia sozinha. Telefonou ao celular de Seth na esperança de que ele acordasse e atendesse, e ele atendeu. Surgiu eufórico, batendo apressado na porta da cabana da amiga.
— O que houve, !?
— Venha, suba comigo!
Seth se preocupou ainda mais ao notar a feição de horror estampada no rosto da amiga. Ao entrar no banheiro, ele bateu os olhos nos preparos de primeiros socorros e antes que perguntasse qualquer coisa, a mulher retirou a própria blusa de seu corpo e se virou de costas a ele.
— O que você fez? — Seth deixou o queixo cair em descrença e ora encarava os olhos da amiga, ora a marca em suas costas.
— Eu não fiz nada, Seth! Juro!
— Como isso aconteceu?
Ele tocou na ferida, e como se o gesto despertasse algo, outra visão forte e clara veio à frente dos olhos de , como uma espécie de premonição. Era Jacob correndo pela mata densa e atrás dele, a matilha, em seguida Seth ao lado dela, e os dois iam a algum lugar desconhecido.
— ?
— Outra visão! Acabei de ter outra visão quando você tocou a marca! — confessou , apavorada.
— Pelos céus, o que está acontecendo aqui? — Seth cruzou os braços a encarando tão assustado quanto a amiga.
Então contou a Seth tudo que ocorrera naquela madrugada. Seth tocou novamente na ferida, mas a mulher não sentiu mais nada além da dor do ferimento. Ele limpou e fez os curativos. Apesar do horário, para , outra vez já não havia mais sono. Os amigos desceram para a cozinha, ela preparou um café quente e Seth disse que estava exausto demais para se dopar com cafeína, se jogou no sofá da sala e adormeceu rápido. Sua feição confusa e séria denunciava o sono conturbado pelos inúmeros ocorridos de dias. se sentou no banco da pequena ilha de sua cozinha e ficou de frente à janela daquele cômodo observando a neblina lá fora. Quando finalmente notou os sinais do amanhecer, saiu antes de Seth acordar deixando-lhe apenas com um bilhete:
“Fui atrás de respostas e não se preocupe, não irei até Valerie.”
Ela estava parada encostada no capô do seu Mustang de frente para a mansão de vidro. A placa “Residência Cullen” sob a neblina fraca que se dissipava naquela manhã mostrava fracamente um risco sobre as palavras, e que parecia recém-feito.
— Eu estou pensando mesmo em arrancar esta placa daí.
escutou ele dizer e já imaginava o sorriso sacana que estaria em seu rosto. Ela já sabia que Mark estava chegando, afinal, agora ela podia pressenti-lo. O vampiro saiu de trás do carro dela e parou encostado ao lado de , sorridente.
— A que devo a honra?
— Onde estava, Mark?
— Sou seu namoradinho agora por acaso para lhe dar alguma satisfação?
— Nunca. Apenas queria saber por que não saiu pela porta da frente da sua casa.
o encarou de maneira desafiadora, e o olhar de Mark sobre ela mudou. Era sempre tão ameaçador, mas naquele momento, ao cruzar de seus olhares, a mulher pôde notá-lo desarmado.
— Há algo diferente com você…
— Há mesmo, e você vai me responder algumas questões.
— E se eu não quiser? — Virou-se apoiando-se sobre o cotovelo e a desafiou.
— Não estou lhe dando escolhas.
— Uau… O que fizeram com você?
— Quem é Valerie e por que ela está aqui?
— Ela já te encontrou? — Mark ficou surpreso e alarmado, tudo, claro, dentro de suas atitudes sempre muito concisas.
assentiu afirmativamente e ele se levantou ajeitando sua impecável vestimenta. Andou em direção ao interior da casa e após um tempo observando em volta, entendeu que era para o seguir. Mark encarou-a levemente sobre seu ombro e sorriu de lado afirmando:
— Estamos sós, não se preocupe.
— Isto nunca foi razão para não me preocupar.
Ele deu uma risada fraca e abriu a porta para que ela entrasse. Era a segunda vez que pisava ali e a sensação não se tornara melhor. Aquele lugar era sombrio, mesmo com tanta luz adentrando-o.
— Valerie te assustou, foi?
— Não. Talvez um pouco, mas me deixou muito mais curiosa do que com medo.
— Claro… E onde ela te encontrou?
— Ao que parece você cedeu a minha antiga casa aos seus amigos monstrinhos — esclareceu um tanto ofendida.
— Outch! Monstrinhos? E os seus amigos são o quê? — zombou Mark dramático.
— Certamente não são monstros, mas não vim discutir quais seres sobrenaturais são mais assustadores, ok?
— Até porque ganharíamos.
— Não seja infantil, Mark. Não faz o seu estilo.
Ele riu debochado e ofereceu para que ela se sentasse. observou ao redor e não recordava se havia móveis naquela casa a última vez que estivera ali. Mas agora havia.
— O que quer saber? Já adianto que não garanto responder nada — perguntou o frio um tanto desconfiado.
— Você vai responder. E para começar, quem é Valerie e por que ela está aqui?
— Não é minha namorada se quer saber.
— Não perguntei isso.
— Aquele dia na praça, você me pareceu bem enciumadinha… — Mark rodeava o assunto com piadas inadequadas e estava sem paciência.
— Mark! Não faça piadas, eu não estou com paciência.
Com a altivez da mulher, a expressão brincalhona do vampiro modificou-se à séria.
— Sua ousadia é irritante. Vale lembrar que você está no meu território.
engoliu seco. Ela interpretava um excelente papel despreocupado, embora estivesse uma pilha de nervos. O que faria se por acaso outros deles chegassem?
— Apenas me responda, sem mais piadas, por favor.
— Melhor assim… Valerie é uma de nós e está aqui por sua causa.
— Ela disse que veio me dar respostas, sob um preço. Do que ela estava falando?
— Ela estava falando o que você queria ouvir, não significa que ela veio para isso. Ela pode manipular você, se você não acordar antes disso.
— Sem piadas e sem metáforas, Mark.
— Já deve ter notado que há algo diferente em você.
suspirou e percebeu que o frio sabia, talvez, das informações que ela precisava e que serviram como isca de Valerie para atiçar a curiosidade de outrora.
— Sim. Eu notei.
— Você, por incrível que pareça, pode representar um risco para nós, zinha.
— Sentenças de diálogo maiores serão apreciadas, Markzinho — ironizou ela de volta, impaciente pela fala dele carregada de mistério e poucas linhas.
— Antes de mais nada… Quero que saiba que… — Ele parou de falar e se mover, como se congelasse, e girou a sua cervical como se buscasse algum controle. — Droga!
— O que houve, Mark?
— Você não tem dimensão do que faz comigo.
— Do que você está falando?
— Pare!
— Eu não estou fazendo nada.
— Este seu… desejo de saber a verdade… é perigoso. — Mark se afastou e ficou de costas para .
Como um estalo na mente dela, notou que algo em si o fazia reagir aos seus comandos… Ele não queria falar nada, mas estava ali. Algo nela parecia controlar as reações dele, e imediatamente se recordou das várias vezes em que ele poderia tê-la assassinado e não o fez, e as outras tantas vezes que ele indicara sentir uma atração a estar com ela assim como ela, a ele. Como um ímã.
— Meu desejo de saber a verdade? — se levantou aproximando e refletindo sobre aquilo. Sua sede pelas respostas o fazia falar? Era isso? Ela não sabia, mas usaria a seu favor. — Olhe para mim, Mark.
Ele virou-se após relutar um pouco se deveria ou não, mas na aposta de que tinha o poder de controlá-lo, acreditava que, desejando fortemente, ele obedeceria.
— Fale o que sabe sobre mim, Mark.
— Você tem poderes sobrenaturais e já sabe disso, Valerie foi enviada para detê-la. E a melhor forma é transformar você, então fuja de Valerie.
— Como eu represento um risco para vocês?
— Vai descobrir quando se despertar para o que você é. — Mark relutava em falar, mas era como se estivesse sendo torturado, imóvel e dolorosamente pela presença de .
— Seja mais claro, por favor, despertar para o quê?
— Valerie é quem sabe e por isso está aqui. Mas não pense que conseguirá as respostas dela tão fácil como está sendo comigo. Desde o nosso primeiro contato você estabeleceu um controle que me afetou e eu já estava envolvido sem que fosse minha vontade.
— Valerie pretende me transformar e Darak e você vieram para ajudá-la?
— Não, nós viemos por outra razão, mas ao descobrir você, outros descobriram.
Aos poucos, Mark foi retomando o controle do que queria e deveria dizer, no entanto, colaborou de bom grado, afinal, ele não era o inimigo que pensava. Nunca foi.
— Como outros descobriram que eu estava aqui? Vocês disseram?
— Sim. Inicialmente, Valerie estava envolvida com as mesmas questões de Darak e eu, mas… Foi designada a cuidar de você.
— Então, a Valerie sabe mais ao meu respeito, e há alguém que não me quer por perto. Certo?
— Sim.
— Então Valerie terá que me explicar direitinho o que está acontecendo!
— Não, não faria isso se fosse você! — alertou Mark, nitidamente preocupado. — No estágio em que você está, Valerie concluiria seu objetivo rapidamente.
— Por que está me ajudando, Mark? — Foi então que percebeu que a postura dele para com ela era protetiva desde que o conheceu.
— Porque você está me obrigando — mentiu ele.
— Quanto mais eu posso te obrigar? — A fim de testar, perguntou enquanto se aproximava lentamente dele.
— Você terá que descobrir essa sozinha, mi amore.
Seus olhos eram desafiadoramente atraentes. Como em toda vez que eles estavam próximos, percebia um sentimento de sedução entre eles, e aleatoriamente ela começava a gostar bastante daquilo.
— Outra coisa, Mark: Darak não precisa saber desta conversa, certo? Até porque eu não sei qual é a dele.
— E nem a minha — advertiu Mark como se tornasse a tentar soar ameaçador para ela.
— Mas acho que eu consigo colocar você todo na palma da minha mão, logo, logo.
— Veremos! — O vampiro suspirou ao sentir o corpo retomar o controle próprio. fazia de propósito ou ainda não havia percebido o quanto estava poderosa? — Mas fique tranquila, se você me pegar, pega o Darak também.
— Vou providenciar as duas jaulas o mais rápido possível. — Assim que ela terminou de falar, Mark relaxou como se aquela fosse a primeira vez que respirava durante todo aquele diálogo.
sorriu vitoriosa saindo dali e acenando-lhe de costas. Ela não sabia a razão para aquilo, mas descobriu que não tinha mais medo de Mark. Naquele momento em que saía de perto dele, sua marca ardia ainda mais forte.
No caminho de volta à reserva, ela telefonou para Seth.
— Garota! Onde você está? , você perdeu o juízo?
— Estou bem, Seth, fica calmo. Já foi trabalhar?
— Não! Como iria sem saber o que te aconteceu?
— Malaika está aí, não está?
— Sim, mas o que-
— Você lembra o caminho para a reserva Whitton? — o interrompeu.
— Lembro, mas o que-
— Prepare algumas roupas, vamos sair e pode ser que não voltemos hoje — ordenou novamente ela sem deixá-lo terminar.
— O que está tramando, ?
— Tente arrancar informações sobre mim com a Malaika, não acho que ela vá me falar mais alguma coisa…
— E nem a mim, mas tentarei.
— Certo, estou quase chegando!
— Espera! É segredo que vamos sair?
— Não, eu não te chamaria se fosse… Como se você soubesse manter segredo — zombou a amiga dando um pouco de humor à conversa entre eles que parecia um tanto tensa.
— Você vai me contar direitinho o que foi que te deixou atrevida assim esta manhã!
— Atrevimento é minha mais nova qualidade… Você não sabe o quanto!
desligou a chamada e não demorou para que ela e Seth saíssem em direção à reserva Whitton.