As Terças Podem se Inverter



Escrito por Li Santos | InstagramTwitter
Revisado por Natashia Kitamura

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Prólogo

  São Paulo, 2016

  A tarde fria que faz hoje na cidade praticamente obriga seus habitantes a se manter em casa. Mas, infelizmente, não é o caso dele, que tem obrigações a cumprir. Ele prepara os últimos detalhes de seu uniforme e confere se sua chuteira está bem amarrada. Tenta concentrar-se para a partida de hoje, que é importante para o São Paulo, time que ele defende. A partida vale pelo Campeonato Brasileiro e é importante para definir se o time ainda brigará pelo título ou se apenas por uma vaga na Libertadores.
  — Calleri! — chama Reinaldo, seu companheiro de time. O olhar do homem recai sobre o amigo. — Vai meter gol hoje? Estamos precisando de você, cara — avisa ele num tom parcialmente preocupado, porém confiante. O adversário é o Corinthians numa partida fora de casa.
  — Claro — responde ele com seu sotaque argentino e um sorriso no rosto.
  — É isso aí, pra cima deles! — incentiva Gilberto que também é atacante, assim como o Calleri.

  Jonathan Calleri, 24 anos, argentino, com naturalidade italiana e uma das promessas do atual elenco do São Paulo. Apesar de estar numa fase boa, o argentino pensa em aceitar uma proposta para ir para o West Ham, time inglês por empréstimo, já que seu passe é de outro time.
  A mente de Calleri está borbulhando por conta de duas coisas: a primeira é a proposta do West Ham, que será incrível para a carreira dele ir para outro país, ainda mais tratando-se de um país europeu; a segunda é o seu affair com quem teve um encontro ontem que não terminou muito bem, pelo menos não acabou do jeito que ele imaginou e eles acabaram brigando. Tudo porque Calleri contou para a moça que aceitará a proposta do time inglês e partirá em breve. Eles tiveram uma discussão e terminaram o relacionamento de quase um ano. Um dos motivos: o fato dela não querer assumir a relação deles.
  O jogo inicia.
  Calleri se movimenta em campo e tenta não pensar no turbilhão que sua vida está tomando. A incerteza de ir para outro país, outra cultura, nunca foi um problema para ele, o que mais o incomoda é ficar longe dela. Ah, ela. A mulher que o fez se apaixonar e querer ser o melhor do time apenas para se manter em evidência no elenco. Mesmo ela não querendo assumir a relação, ele a ama e acha que não conseguirá esquecê-la. Como esquecer-se dela? Ela foi tão gentil com ele quando ele chegou ao clube. Era o trabalho dela ser assim, é verdade, mas, mesmo nessas circunstâncias, Calleri sentiu que era um carinho além da profissão.
  E de fato era.
  A distração do atacante resulta na sua má atuação, o que teve uma consequência ainda maior: a derrota do São Paulo. Aquela é a última partida de Calleri pelo clube; quando chega em seu apartamento, ele liga para seu empresário e pede para antecipar sua viagem para Inglaterra. Ele vai de coração partido e frustrado por não conseguir ajudar o time e por ter perdido a mulher que ele ama.

Capítulo 1 – Janeiro

“Apaga do teu coração
As marcas de um tempo atrás
E saiba que eu não sei viver
O estrago que o tempo faz…”

– Janeiro, Esteban –

  São Paulo, 2021

  — , está tudo pronto? — pergunta Rodrigo, chefe da moça.
  — Sim, chefinho, tudo pronto para a apresentação de hoje — ela responde e completa: — Os jornalistas já estão acomodados na sala de imprensa e o Rigoni já está pronto só aguardando o sinal do presidente.
  Hoje é um dia agitado no Centro de Treinamentos do São Paulo, Fernandez, 27 anos, é social media do clube e responsável pelo registro da coletiva de imprensa de logo mais. As redes sociais do clube precisam ser alimentadas. O jogador mencionado por ela será apresentado aos jornalistas presentes e ao público em geral através de uma live no Youtube e Instagram. Tudo é checado por ela mais de uma vez para que nada passe despercebido.
  Emiliano Rigoni, 28 anos, jogador contratado pelo clube até 2023. Emi, como é conhecido, não é só mais um jogador que irá ajudar a promover para a imprensa, ele é também um homem com quem ela teve um caso de amor quando passou férias na Espanha, país onde Rigoni estava antes de vir para o Brasil, e que mantém contato até hoje. Aliás, ela foi uma das responsáveis por fazer os dirigentes do clube pensarem em contratá-lo por um tempo tão longo.
  Minutos depois, o presidente do clube entra na sala de imprensa, sendo recebido por cliques dos fotógrafos. está posicionada bem ao lado da mesa de apresentação, perto da porta por onde Rigoni irá passar. O presidente começa a falar.
  — Sejam todos muito bem-vindos a mais uma coletiva, como estão? — a maioria dos jornalistas respondem ao questionamento do presidente, que sorri ao ouvir as respostas positivas. — Que bom, que bom. Enfim, vamos começar — ele se ajeita na cadeira e começa a discursar. — … vimos a necessidade de ter mais um atacante com força física, velocidade, né? Que pudesse nos ajudar nesse ano de 2021 para que alcancemos nossos objetivos, obviamente estou falando dos grandes títulos nacionais e internacionais… — diz ele no meio de sua fala. — Sem enrolações, agora que já falei um pouco do nosso novo contratado, por favor… — ele olha para , dando o sinal para que ela chame Rigoni.
  Ela vai até a porta e a abre fazendo um sinal para que ele entre. Antes de entrar na sala de imprensa, o homem dá um breve beijo em que fica envergonhada, já que atrás dele está o seu chefe. Rigoni entra na sala e é recebido da mesma maneira que o presidente. O lindo sorriso do homem praticamente ilumina o ambiente, sempre admirou o sorriso de Rigoni. Aliás, é um dos motivos dela ter se apaixonado por ele.

  Flashback On

  2020, Madri, Espanha

  Faz um lindo dia de primavera em Madri, a temperatura está por volta dos 22ºC e o Sol reina no céu com poucas nuvens.
A mulher caminha pela longa calçada admirando a paisagem. Madri é uma linda cidade e valeu a pena ter pagado tão caro nessa viagem de férias que está quase no fim. Mesmo estando sol, faz frio na cidade e está vestindo um sobretudo sobre o corpo, espremendo-se dentro dele. Ela sente fome e procura por um restaurante para saciar seu problema. Após andar alguns minutos, finalmente avista um restaurante que possa pagar e entra no local, sendo recebida pelo maitre que a conduz até uma das mesas vazias. Ela agradece a gentileza e acomoda-se na cadeira, já sem o sobretudo que tinha deixado na entrada no local apropriado. analisa o menu, passando o olhar pelas opções, todas muito “chiques” para o paladar dela. Porém, ela escolhe um que a agrade e que comporte em seu bolso. Aciona o garçom, informando o pedido e aguarda que fique pronto. Cerca de dez minutos depois, bebe um gole d’água quando o garçom retorna com uma garrafa de espumante e duas taças compridas no estilo tulipa.
  — Oh, perdão, eu não pedi espumante… — avisa a mulher, em espanhol, fazendo sinal para o garçom levar a garrafa e as taças de volta.
  — Perdão, senhorita, foi um pedido daquele cavalheiro — diz o garçom e aponta com um gesto de cabeça para um homem sentado em um dos bancos do bar.
  — Quem?
  — Aquele, senhorita — o garçom repousa a garrafa e as taças na mesa e aponta com a mão para o homem, dessa vez consegue ver quem é. — Ele gostaria de saber se pode fazer companhia a senhorita durante o almoço?
  A pergunta do garçom é ouvida por , mas a atenção de seus olhos não. não consegue se desviar do sorriso daquele homem. Como ele é lindo e tem um sorriso radiante, sedutor, envolvente. Além de ter um belo exemplo de sorriso, tem várias tatuagens pelo corpo e, de longe, consegue identificar um brinco brilhante em sua orelha esquerda. O homem não espera a moça confirmar seu pedido e levanta do banco, caminhando até a mesa de que só agora percebe que não tinha respondido.
  — Quem é ele? — pergunta para o garçom.
  — Um jogador de futebol, senhorita — responde ele com um sorriso discreto. — Caso seja incômodo, posso pedir para ele se retirar — avisa.
  — Tudo bem, obrigada.
   o tranquiliza e o garçom se retira da mesa, cumprimentando o belo homem que havia parado perto dali.
  — Olá, boa tarde — o sotaque dele indica que ele é espanhol ou, pelo menos, vem de um país que fala esse idioma.
  — Boa tarde — responde a mulher, levemente tímida. — Obrigada pelo espumante. Não era necessário, mas obrigada ainda assim — diz ela, sorrindo.
  — Sempre bom um espumante para refrescar nesse calor, não acha?
  — Tem razão — concorda . — Quer me acompanhar? — ela o convida e o homem sorri, era exatamente esse seu objetivo.
  — Claro!
  O homem senta na cadeira ao lado dela. Uma brisa percorre o local, levando até o perfume vindo dele. O jogador se apresenta como Emiliano Rigoni. não o conhecia, não gostava muito de acompanhar o futebol espanhol, preferia o campeonato inglês. Não poderia afirmar que Rigoni era bom jogador, mas lindo ele com certeza era. E o sorriso dele…
  Emi, como pediu para ser chamado, e almoçaram juntos e aproveitaram o restante da tarde em Madri. À noite, o jogador a convidou para irem a uma boate. Aceitando o convite, a mulher se arrumou e aguardou pela chegada de Emi no hotel onde estava hospedada. Ao vê-lo chegando no saguão, sendo cercado por alguns fãs, ela sorriu.
  Tinha um fraco por jogadores fofos com os fãs.
  Na boate, o beijo não demorou para acontecer. Antes mesmo de ingerirem os mais famosos drinks da cidade espanhola, o casal estava se beijando. As mãos dançando por seus corpos.
  Emi e passaram o restante da viagem dela juntos.
  Logo uma proposta para ir ao Brasil jogar no São Paulo foi feita.

  Flashback Off

  A coletiva do Emi foi longa, mas o suficiente para saciar os repórteres, deixar o presidente do clube admirado e orgulhar , que acompanhou, registrando cada instante para as redes sociais. Após a entrevista, ela, o presidente Julio Casares e Emi caminharam pelas instalações do CT da Barra Funda, que pertence ao clube. O lugar é enorme, conta com alguns campos de treinamento do tamanho oficial, vestiários, academia, além de instalações para os jogadores revelados pelo São Paulo.
  Os três campos do CT são interligados por um longo corredor, que também leva aos vestiários e à academia. Durante a passagem por ali, a mulher anda um pouco atrás de Rigoni e Casares, tirando fotos deles e algumas do campo, onde os jogadores do elenco atual treinam. era amiga da maioria deles, mas alguns eram os seus melhores amigos dentro do São Paulo. Ela vê de longe Arboleda correndo, ele é o zagueiro da equipe. Na intenção de tirar fotos dele, ela para sua caminhada para registrar um pouco de seu desempenho. Mas, o olhar dela cruza com outra pessoa.
  Não é possível que seja a mesma pessoa que está pensando.
  Como? Por quê? Por que ele está ali?
  Ao ver Calleri e seus olhares se cruzarem, paralisa. Segundos depois, ela desmaia.

  Flashback On

  2015, Buenos Aires, Argentina

  É a primeira viagem internacional de e ela está bastante empolgada.
  O período será curto, apenas duas semanas, hoje sendo o segundo dia de viagem. Ela precisa aproveitar cada instante. Está sozinha, então tenta fazer programas curtos onde consiga gastar pouco. Não é porque trabalha para um dos maiores clubes do país que ela pode se dar ao luxo de gastar tanto.
  O bar onde se encontra está bastante agitado, afinal é dia de clássico: Boca Jrs x River Plate. bem que queria ir ao estádio ver isso de perto, mas não haviam mais ingressos. Ainda assim, ela se contenta em ver o jogo pela TV. O clima no bar está agradável, já que está repleto de torcedores do Boca, time para o qual ela está torcendo.
  Durante a partida, alguns lances deixam irritada, consequentemente ela xinga bastante, assim como outros torcedores ao redor. Ela sente que está sendo observada de longe, mas logo o par de olhos, acompanhado de um belo exemplar masculino, a vigia de perto. O homem senta-se ao lado dela no balcão do bar e continua olhando eventualmente para , que segue irritada com os lances.
  Pegando um gancho aleatório, o homem começa a rebater alguns questionamentos sobre a partida. refuta todos com maestria, mostrando que sabe do que está falando.
  — Você entende bastante de futebol… — comenta ele, risonho e bebendo mais cerveja.
  — Achou que uma mulher não entenderia? — rebate com as sobrancelhas suspensas. O drink que ele pediu para ela chega, ela agradece ao garçom e bebe um pouco.
  — Não disse isso — defende-se. Ambos agora estão lado a lado, sem nenhum outro banco os separando. — Calma, não me entenda mal.
  — Sei — ela retorce os lábios, rindo.
  — Estou admirado, apenas — endossa.
  — Pelo meu conhecimento futebolístico ou pelos meus seios? — o homem engasga rapidamente com a cerveja, tossindo, seu rosto imediatamente fica vermelho de vergonha. — Não pense que eu não notei seu olhar fixo neles — dá um gole em seu drink, sorrindo de canto.
  — Perdão, não quis ser desrespeitoso, é só que-
  — Não precisa se desculpar e nem fingir que não é jogador de futebol — alfineta, de repente. — Eu conheço você, Jonathan Calleri — ele fica ainda mais vermelho. Então, ela já sabia? — Achou que eu não te reconheceria?
  — Bom, achei, né? — ele ri, sem jeito, e bebe mais cerveja, olhando para os lados.
  — Não fique envergonhado, Calleri — pede e toca no ombro dele, fazendo-o encará-la. — Muitos homens se intimidam perto de mim, é irritante — revela ela, revirando o olhar levemente.
  — Não me sinto intimidado — diz, voltando a fixar seus olhos nela. — Atraído, com certeza.
  — Hm… — resmunga, também fixando o olhar no castanho dos olhos de Calleri.
  — O que fará após o jogo?
  — Nada em especial — responde, virando o corpo para ele e cruzando as pernas lentamente. Calleri demora tempo demais observando tal movimento.
  — Está viajando sozinha?
  — Sim.
  — Quer companhia? Posso te mostrar alguns lugares legais e podemos-
  — Que tal vir comigo até o meu hotel? — propõe, o interrompendo.
  — Hã? Mas já? — surpreende-se o jogador.
  — Quer esperar mais? — os olhos de penetram os de Calleri de maneira que o deixa desconcertado.
  — Não.
  Quando o juiz apita o final do primeiro tempo, o casal pede a conta e deixam o bar. O resultado do jogo não era o mais importante para ambos agora.

  Flashback Off

   desperta, sentindo dois braços fortes lhe segurando e o aroma do perfume de Rigoni invadindo suas narinas. Sente uma pontada leve na cabeça antes de abrir totalmente os olhos.
  — Amor… — sussurra Rigoni, os olhos castanhos encarando . Ela sorri ao vê-lo.
  — Estou bem — responde e ergue o tronco para sentar-se. Ele a ajuda. — Obrigada, querido.
  — Está mesmo bem, ? Sabe que pode se consultar com o doutor Sanches — sugere Casares, preocupado. se levanta com a ajuda de Rigoni.
  — Não se preocupe, presidente, estou bem — garante. — Não comi muito antes de vir, minha pressão deve ter caído — isso era verdade, mas não foi esse o real motivo de seu desmaio.
  — Tem que se cuidar, querida. Vamos sair para almoçar depois daqui, está bem? — diz Rigoni, abraçando a cintura dela.
  — Tudo bem — ela concorda com um sorriso.
  Rigoni é muito gentil e carinhoso com ela.
  Após o susto, eles concluem o passeio pelo centro de treinamento e Rigoni, que já veste a camisa do time, vai até o vestiário onde parte do time já se encontra. espera do lado de fora, sendo obrigada a prometer a Rigoni que irá beber pelo menos um suco antes deles saírem para almoçar. É isso que ela vai fazer, pegando um copo de suco no refeitório. A mulher volta pelo mesmo corredor e, distraída, não vê quem se aproxima dela.
  —
  A voz de Calleri acelera seu coração.
  Os olhares se cruzam, assim como momentos atrás, e sua respiração ficou descompassada. Calleri está ainda mais bonito que em 2016, mais forte, mais barbudo, aparentemente mais maduro.
  — Oi, Calleri — responde, a voz sai trêmula. engole em seco.
  — Está bem? Vi que desmaiou — pergunta, preocupado. O jogador ainda está suado, estava indo até o vestiário se arrumar para ir embora, mas ele não poderia ir sem antes falar com ela. Ele só voltou por ela… — O que aconteceu?
  — Minha pressão caiu, provavelmente porque eu não comi direito esta manhã.
  — Entendo — diz com um sorriso. — Deve se cuidar,
  — Eu irei.
  Há um silêncio constrangedor que parece durar horas. Antes dele ser quebrado por uma declaração barata atrelada a um pedido de perdão feita por Calleri, a presença de Rigoni interrompe tudo, travando o pedido na mente do outro argentino.
  — Calleri! — diz Rigoni, animado com o mais novo amigo. — Vejo que já conheceu minha namorada — completa.
  — Namorada… — repete Calleri, entristecido. — Ah, sim.
  — Emi… — ia dizer algo, mas Rigoni ignora.
  — Está namorando também, não é? Podemos sair os quatro qualquer dia desses — propõe o atacante, sorrindo largamente. Então quer dizer que Calleri está namorando…
  — Ah, claro, se não for incomodar — Calleri sorri sem jeito. Ele não quer sair com os dois juntos, não quer levar a atual namorada, não quer terceiros no reencontro com .
  — Vamos, Emi? — puxa a camisa de Rigoni e sorri forçadamente. Ela quer sair dali o mais rápido possível.
  — Vamos, vamos sim, amor — diz o jogador. — Nos vemos amanhã, Calleri.
  — Ah, claro, nos vemos amanhã.
  A frase e o olhar de Calleri são direcionados a , que estremece no próprio eixo, sentindo uma rápida falta de ar com a intensidade daquele olhar. Sem dizer mais nada, Rigoni e deixam o CT. A mente dela só tem perguntas, todas sem respostas.
  E, o único que pode respondê-las, é Jonathan Calleri.

Capítulo 2 – Baby, I’m back

"Não procure tão distante...
Baby, estou de volta.
Estou aqui para cuidar de você
(qualquer coisa que você queira que eu faça, eu farei)"

– Baby, I’m back, Baby Bash feat Akon –

   e Rigoni chegam ao restaurante próximo ao CT para almoçar.
  Desde que saíram de lá que a social media do São Paulo apenas pensa no que ouviu sobre Calleri estar namorando. Desde que terminaram, há cinco anos, ela não tem notícias dele, pelo menos não notícias íntimas, já que não parou de acompanhar sua carreira europeia. Não imaginou que o ex-namorado um dia voltaria ao clube que defendeu em 2016 e, muito menos, que voltasse namorando. sentiu-se diferente quando o reviu mais cedo, estava estranhamente nervosa, tanto que perdeu os sentidos e desmaiou.
  Foi um golpe que ela não esperava.
  — Rigoni — chama a mulher, sentando-se na cadeira empurrada gentilmente pelo jogador que deposita um beijo em sua bochecha antes de se dirigir até a sua cadeira do outro lado da mesa. — Por que me apresentou ao Calleri como sua namorada?
  — Ah, somos namorados, não? — diz ele, também se sentando, e sorri maroto.
  — Você sabe que não — enfatiza , colocando o guardanapo sobre o colo. — Já conversamos algumas vezes a respeito.
  — Cariño, estamos juntos há um bom tempo, por que não namorarmos? — perdeu as contas de quantas vezes ouviu essa mesma pergunta vinda dele.
  — Porque eu não quero um compromisso sério. Deixei isso claro desde o dia que nos conhecemos, lembra?
  — Lembro — afirma Rigoni. — Me lembro também de termos nos dado muito bem desde o início — ele sorri, recordando-se da primeira vez que tiveram naquela noite em Madri. — Foi inesquecível.
  — Concordo — ela também ri.
  — Então, por que não namoramos? Já somos um casal mesmo — rebate, insistindo no argumento, com o olhar analisando o cardápio.
  — Não gosto desse tipo de rótulo, Emi — responde a mulher também analisando o cardápio. — E, além do mais, nossa relação está boa sem esse peso do rótulo de namoro, para quê mudar?
  — Ah, seria bom, como iria te apresentar para as pessoas? — indaga. — “Ah, essa aqui é a , a gente transa quase todo dia, sai várias vezes, dorme na casa um do outro, mas não somos namorados”. — simula uma resposta a alguém, fazendo rir.
  — Não seja exagerado, Emi.
  — Cariño — ele volta a atenção para ela, estendendo a mão para segurar a mão de . — Eu quero muito namorar você, tornar tudo oficial, certinho mesmo, sabe? — o tipo de olhar que não gosta: o olhar pidão e sincero de Emiliano Rigoni.
  — Emi…
  — Quero tanto te apresentar pra minha mãe como minha namorada — golpe baixo. já conhece a mãe dele, mas foi apresentada como “amiga”.
  — Por que insiste nisso? — questiona a mulher.
  — Por que você insiste nisso? — rebate Rigoni. solta a mão dele, bufando, o gesto faz o homem repensar sua atitude. — Perdoe-me, cariño. Não vamos brigar.
  — Tudo bem, me desculpe também — ela sorri e volta a segurar a mão dele. — Vamos almoçar? — Rigoni assente e eles analisam com mais atenção o menu do restaurante.

[⚽]

  Uma semana depois…

  Desde que retornou de suas férias que não teve tempo para conversar direito com os amigos mais próximos do clube que trabalha. Ela tem amizades espalhadas por todo o São Paulo, mas principalmente entre os jogadores, com quem tem mais contato. Três deles são os mais chegados a ela: Rafinha, que é considerado o paizão do grupo, por ser o mais velho do elenco; Luciano, bastante zueiro e brincalhão, é o palhacinho da equipe; e Arboleda, que considera sua irmãzinha. E é na casa deste último que está agora, o homem a convidou para uma festinha que está oferecendo em comemoração a volta da irmã postiça.
  A semana tinha sido intensa com treinos e dois jogos importantes que resultaram em vitórias do Tricolor. Os jogadores mereciam uma folga, pelo menos nesta noite. Amanhã não teriam treino, apenas no dia seguinte, então precisam aproveitar.
   e Rigoni são recebidos por Arboleda que abraça a irmã feliz por vê-la fora das instalações do clube. Eles se misturam entre os convidados, encontrando outros jogadores e suas atuais namoradas. Pegam bebidas e alguns petiscos. A música toca alta no ambiente. Cerca de uma hora depois, Calleri aparece na casa acompanhado de uma mulher. engole em seco, tentando não transparecer sua curiosidade em saber de quem se tratava, seguindo plena ao lado de Rigoni. Até agora ele não percebeu que há algo entre Calleri e . Durante essa semana, houveram alguns climões entre eles, presenciados pelo homem, mas que não foram interpretados como algo que já existia.
  — Crianças, favor maneirar na bebida — diz Rafinha, risonho e vermelho pelo álcool que ingeriu.
  — Falou o bom samaritano — zombou Arboleda com uma garrafa de Heineken em mãos. — Irmãzinha, vamos? — ele ergue outra garrafa, já aberta, na direção de seu rosto, olhando para .
  — Vamos! Quero!
  A mulher pega a garrafa da mão do amigo, dando um gole na bebida. A música segue tocando, o ritmo latino que Arboleda tanto gosta. não notou, mas Calleri e a namorada se aproximaram do grupo onde estavam.
  — … Depois iremos — ela ouve, de relance, a voz alterada de Calleri reclamar com a mulher ao seu lado, que é bem menor em altura e bastante magrinha. — Olá — o jogador muda o tom de voz para cumprimentar os ocupantes da roda.
  — Calleri! — exclama Arboleda, animado. — Irmãozinho, está cabisbaixo, o que houve?
  — Ah, não é nada, Arbo — diz, sem jeito por terem notado. para de dançar, prestando atenção na conversa, e sente Rigoni encostar-se nela, abraçando-a por trás, o braço dele deslizando por sua cintura.
  — O que aconteceu é que eu quero ir embora — brada a namorada de Calleri, chamando a atenção do grupo.
  — Por favor… — sussurra o jogador, envergonhado.
  — Minha festa não está agradando, chica*? — ironiza Arboleda.
  *termo em espanhol para chamar alguém de “garota”.
  — Essa cidade é quente, poluída, odeio morar aqui — tudo que conseguiu guardar do momento que foram brevemente apresentadas foi que a outra é uma modelo argentina. Seu nome? Não lhe interessava. — Cidade estranha.
  — Se não te agrada, basta se mudar. Tem dinheiro para isso — o dono da casa volta a brincar, arrancando risadas.
  — Arbo… — Rafinha chama a atenção mesmo que tenha rido com o comentário. ri, pondo a mão sobre a boca.
  — Algo engraçado? — rebate a modelo, encarando de braços cruzados.
  — Nada — responde, pigarreando e bebendo mais cerveja.
  — Nunca te vi por aqui, é nova? — indagou com um ar de nojo, parecia que ela estava sentindo um mal cheiro.
  — Sou social media do São Paulo — se apresenta com um sorriso singelo.
  — E minha namorada — conclui Rigoni, bêbado, e leva um cutucão da mulher.
  — Emiliano, fica quieto — sussurra apenas para que ele escute.
  — Ah, achei que fosse algo importante — desdenha a modelo, os braços cruzados.
  — Ah, mas agora eu vou ter que me meter — diz Arboleda, dando um gole em sua bebida, e se enfiando no meio da roda de amigos. — Não fale assim da minha irmãzinha, não vou deixar que faça isso dentro da minha casa — ele aponta o dedo para a namorada de Calleri, que nada faz.
  — Arbo… — sai de perto de Rigoni e toca no ombro de Arboleda, que é mais alto que ela. — Não precisa agir assim, por favor.
  — Quem não deve agir assim é ela, irmãzinha — fala o homem. — Calleri, me perdoe, mas você me conhece.
  — Tudo bem, Arbo, eu também não concordo com o que ela disse — Calleri encara a namorada, segurando o cotovelo dela. — Vamos embora — chama.
  — Eu vou sozinha!
  Branda a mulher e deixa o local, sendo seguida pelo namorado.
  — Que chica esquisita — comenta Arboleda, ainda irritado. — Não gostei dela.
  — Ela deve estar irritada de estar no Brasil — diz Rigoni. — Deveria voltar para a Argentina, já que não gosta daqui — ele envolve os braços no corpo de novamente, que se aninha de costas.
  — Não fale assim, Emi — pede, soltando uma risada nasal.
  — Tenho pena do Calleri — salta Rafinha, do nada. — Estava claramente envergonhado. Porra, deve ser foda estar com alguém assim que não apoia.
  — Como sabe disso, Rafa? — indaga . — Ele comentou algo com você? — endossa, curiosa.
  — Não e nem precisa, né, ? — ele ri levemente. — Só observar como ela age com ele. É porque você não estava aqui desde que ele chegou — relembra. — Porra, Luciano, você lembra quando saímos todos os casais para jantar?
  — Hmm, lembro — o atacante engole a cerveja que bebia. — Nossa, essa mina encheu o saco do Calleri para ir embora, ficou falando mal da cidade, do país, disse que estava calor demais mesmo sendo inverno — ele ri ao lembrar da cena. — Chata pra caralho!
  — Ai, Lu, maldade — também ri.
  — Mas é verdade, irmãzinha, Calleri é muito gente fina e ela faz questão de acabar com o clima dele.
  Os relatos dos amigos deixam pensativa e, inevitavelmente, a leva para outro plano mental.
  Mais de uma hora se passou e Calleri não voltou. Na verdade, ninguém tinha o visto desde a discussão que houve. deixa Rigoni e os amigos conversando e vai ao banheiro. A casa de Arboleda aparenta estar mais cheia, muitas pessoas dançando pela sala, a música seguia alta e as bebidas continuam saindo do pequeno bar em um dos cantos do cômodo. A social media passa pelo corredor lateral, chegando ao banheiro de visitas e entra nele. Os pensamentos ainda traçando teorias sobre o namoro de Calleri. Tudo que foi dito sobre a namorada dele e o comportamento dela diante da mudança para uma nova cidade faz pensar se caso isso acontecesse com ela. Pensa também se caso Calleri tivesse chamado ela para ir com ele para Europa em 2016. Do jeito que ela o amava, certamente teria aceitado o pedido.
   enxuga as mãos, balançando a cabeça para os pensamentos saírem, e deixa o banheiro.
  — Calleri! — espanta-se ao dar de cara com o jogador encostado na parede.
  — Desculpa, eu, eu estava esperando para usar o banheiro — explica-se, apressado. — Não sabia que era-
  — Tudo bem, Calleri — o encara e percebe a vermelhidão em seu rosto. — Está tudo bem com você?
  — Não sei… — diz, sincero, e solta um suspiro. — Estou cansado.
  — Por que não vai para casa? — sugere. O atacante ergue o olhar para encará-la.
  — Não é cansaço físico — explica.
  — Ah, desculpa — ela percebe sua gafe e mostra um sorriso para ele. — Você precisa de ajuda? O clube tem psicólogos para os funcionários.
  — Eu sei — Calleri fecha os olhos com brevidade e os abre em seguida. — Creio que psicólogo não resolva o meu problema atual — ele ri sem humor.
  — Entendo.
  — Você está linda, , muito bom te ver de novo — comenta, trocando o assunto. — Eu fiquei com saudades de você.
  — O-Obrigada, Jo… — o chama pelo apelido que usava quando namoravam. O jogador não esconde a emoção.
  — Que bom que me chama assim ainda — ele sorri. O sorriso que adora.
  — Todos te chamam assim — comenta , não dando importância para o fato.
  — Mas quando é você se torna mais especial — ele se aproxima, dá um passo para trás. — Eu ainda te amo, sabia? — arregala o olhar.
  — Jonathan, você namora — lembra a mulher, limpando a garganta em seguida. — Por favor, pare.
  — Eu não namoro mais — diz dando mais um passo para frente e estica uma das mãos na direção do rosto dela. — Eu voltei por você, voltei para ver você de novo, para te pedir perdão, .
  — Jonathan… — a mulher ofega, sem reação racional à aproximação e, principalmente, às palavras dele. — Você não-
  — Eu amo você, .
  Calleri também está sem ar, mesmo assim, ele se aproxima dela, que se encosta na parede atrás de si, juntando seus corpos. As pessoas na sala não conseguem ver o final do corredor e, por sorte, não pensam em usar o banheiro agora. Isso é bom, porque assim ninguém vê o quase beijo que acontece entre o ex-casal.
  — Não, Jo… não.
  — Eu sei que não está namorando o Rigoni, porque não me dá uma chance de explicar-
  — Jonathan! — diz mais firme que antes. — Posso não estar namorando o Rigoni, mas você está sim namorando.
  — Eu disse que-
  — Sei que está em crise no namoro, mas não pode acabar tudo só por causa de uma briga.
  — Você fez o mesmo comigo anos atrás.
  — É diferente, Jonathan Calleri! — brada, inchando o peito. — Vou voltar pra festa.
  — Espera, .
  — Tchau, Calleri.

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   está de costas, sentada na cama, nua e com o corpo encostado no peito de Rigoni que está atrás dela. Os dedos do atleta estimulando a intimidade dela enquanto seus lábios abocanham um dos seios da mulher.
  Eles chegaram à casa de Rigoni há algumas horas, após a festa na casa de Arboleda. Depois de sua pequena discussão com Calleri, não o viu mais. De certo, tinha ido embora diante da rejeição de sua ex. dispersa seu breve pensamento no ex-namorado e foca no prazer sentido pelos estímulos de Rigoni em seu corpo. O sexo com ele sempre foi incrível, eles tinham uma boa sintonia na cama e fora dela. Sedenta, a social media segura a mão do atacante, tirando-a de sua intimidade, e vira o corpo, ficando de frente para ele. A boca de Rigoni não fica parada por muito tempo já que o beija, de joelhos na cama enquanto estimula o pau do atleta, que já está bastante estimulado por apenas tocar em . A mulher o empurra, deitando-o na cama, e engatinhou por cima dele, deitando-se sobre seu corpo. Ela o encara, um claro pedido de que ela o quer naquele instante. Com um sorriso maroto nos lábios, Rigoni manuseia seu pau para que se encaixe na intimidade de , que empina a bunda assim que é penetrada por ele. Quicando o quadril, a mulher se apoia no peito dele, rebolando.
  — Ah, Emi… — geme a mulher, o pescoço para trás.
  — És perfeita, cariño — ele a elogia, segurando os seios dela enquanto os massageia. — Rebola para mim, maravilhosa.
  Excitada e estimulada pelo atacante, segue rebolando ritmicamente no pau de Rigoni que também geme conforme ela quica. Alguns minutos nesse movimento são suficiente para chegarem ao orgasmos quase simultâneo.
  Alguns minutos depois, Rigoni vai ao banheiro tomar banho primeiro. ainda está na cama, olhando uma mensagem recebida do coordenador de marketing. gerencia a equipe de redes sociais composta por quatro pessoas. O pedido do coordenador foi que gravasse todo o treino amanhã, como de costume, mas, além de usarem os celulares e as câmeras para takes planos, quer que eles usem o drone para imagens aéreas. Dando um “ok” no pedido, a mulher já ia bloquear o celular e tomar banho, quando chega a notificação de um aplicativo de notícias que tem. De relance, ela vê o nome de Calleri e isso desperta sua curiosidade.
  Mas, ao ler o título da matéria, ela quase solta um grito de surpresa.

“Jonathan Calleri, atacante do São Paulo, está solteiro!

Fontes afirmam que ele e a modelo com quem namorava terminaram na última noite por fortes motivos. Leia a matéria e entenda.”

Capítulo 3 – Juicy

“Vai voar pra longe e descobrir que longe não tem como ficar.
E vai voltar…”

– Sétima Maior, Esteban Tavares –

  Um mês depois…

  Sábado é dia de jogo, portanto hoje os jogadores do São Paulo estão treinando. A situação no campeonato brasileiro é relativamente preocupante, tendo em vista que o time participa de mais de uma competição e, no Brasileirão, está entre os dez últimos na tabela geral, precisando acumular mais pontos, principalmente dentro de seu estádio. Ao fim do treinamento, na tarde desta sexta-feira, todos foram para a academia concluir a preparação para o jogo de amanhã no Morumbi. Calleri, apesar de saber da importância do jogo, está disperso. Aos olhos de fora, poderia ser confundido com concentração pré-jogo, mas na verdade, ele está pensando demais em uma certa social media.
  — Vão fazer o que depois daqui? — pergunta Arboleda, no meio do exercício que fazia, aos outros jogadores que estavam perto dele.
  — Não sei, talvez saia para jantar com minha esposa — comenta Luciano correndo na esteira.
  — Vou dar uma festa lá em casa.
  — Tá mais pra uma reunião apenas, Galoppito — corrige Ferraresi, zagueiro do time e venezuelano.
  — Cala-te, Ferrari — o mais novo dá uma bronca, emburrado, e os outros riem.
  — Vou ficar te devendo essa, Galoppo — diz Luciano. — Marca uma próxima que eu vou. Não posso faltar ao jantar com a patroa, né?
  — Verdade — concorda Rigoni. — Está tudo bem, Calleri? — ele nota que o outro está calado, disperso em seu levantamento de peso.
  — Sí, está sí — responde sem convencer ninguém.
  — Está assim por causa da sua ex, irmãozinho?
  Arboleda fala e todos encaram Calleri, o atacante ergue o olhar para o zagueiro, um olhar de quem diz para que se cale agora e pare de falar demais. Percebendo que falou o que não devia, Arboleda tenta contornar.
  — Ah, não é bem isso, quis dizer que-
  — Está apaixonado ainda, Calleri? — indaga Rigoni, curioso. Ele está em pé, levantando peso assim como o outro atacante. — Sua ex namorada te fisgou — brinca, rindo levemente.
  — Acho que sí — Calleri está sem jeito. Ele não está pensando na ex namorada argentina que voltou para seu país de origem na mesma noite em que terminaram e sim da ex namorada brasileira que é a atual ficante do companheiro de clube. — Acho que nunca a esqueci.
  — O término foi recente, acha que não tem volta? — prossegue Rigoni, apoiando o peso no chão e descansando um pouco.
  — Calma, estão falando da chica insuportável ou da outra que eu não conheço? — diz Ferraresi, confuso.
  — Tem outra? — Rigoni está ainda mais confuso.
  — Não, não, Ferraresi está enganado, não é, Ferrari? — o olhar incisivo de Calleri faz o zagueiro perceber sua gafe, então ele se corrige.
  — Sim! Sim, é apenas uma — ele pigarreia e volta a disparar o cronômetro da esteira. Acho que não falarei mais nada, pensa o venezuelano.
  — Dá pra ver que está abalado com a separação, cara — diz Rafinha sem saber do real motivo e sem conhecer o passado entre e Calleri. — Por que não fala com ela? Sei lá, tentar conversar sobre o que houve.
  — Bem que eu queria, mas ela não me escuta — o atacante resolve confessar o que está sentindo, quem sabe consiga ouvir um bom conselho sem precisar se expor e muito menos expor a . — Toda vez que tento falar sobre, ela foge de mim.
  — Já pensou em chamá-la pra sair? — sugere Rigoni.
  — Soube que ela está saindo com outro cara — a revelação faz os outros que não sabem da verdade – exceto Ferraresi, Galoppo e Arboleda – emitirem sons de surpresa.
  — Mas é algo sério? — pergunta Luciano que agora se interessa pelo assunto.
  — Pelo que entendi, não é.
  — Ah, Jony, se não é nada sério, deveria investir — aconselha Luciano, despojado.
  — Também acho — concorda Rafinha. — Se a sua ex está apenas saindo com outro e não tem nada sério, não vejo motivos pra você não chamar ela para conversarem.
  — Quem sabe vocês voltem, né? — endossa Rigoni.
  — Não acham que seria sacanagem com o cara que ela tá saindo?
  A dúvida de Calleri se dá porque ele não quer magoar Rigoni. Apesar de conhecê-lo a pouco tempo, o fato de jogarem na mesma posição e serem nativos do mesmo país fez Calleri criar esse laço de compaixão com o outro. No fim, ele não quer magoar ninguém.
  — Ele que arrume outra — brinca Arboleda, rindo, e Calleri lhe lança um olhar ao mesmo tempo assustado e risonho. Os outros também riem.
  — Porra, é isso aí, Arbo, tô contigo! — Luciano gargalha interrompendo o exercício e descendo da esteira.
  — Tamo junto, mano — os dois se cumprimentam, risonhos.
  — Tenta, Calleri, não custa tentar, né? — incentiva Rigoni e a garganta de Calleri dá um leve nó. É genuína a preocupação com a felicidade dele que Rigoni demonstra, ele se sente mal por desejar a mulher com quem o outro está saindo, porém, não pode negar os próprios instintos. — Chama ela de volta pro Brasil.
  — Vou tentar sim, preciso tentar — o olhar dele cai para o chão, pensando no que dizer e, principalmente, em como dizer para o que está sentindo de maneira que ela acredite nele.
  — Bom, não sei vocês, mas eu vou na festinha do Galoppo hoje! — Arboleda muda o assunto, retomando a festa do novato.
  — Vai ter bebida? — indaga Ferraresi, voltando a falar.
  — Claro que sí, Ferrari, óbvio — Galoppo ri.
  — Então eu vou — os dois riem, animados com a reunião de mais tarde.
  — Posso ir também?
  — Claro, Rigoni, e se quiser pode levar alguém também — a frase faz Calleri levantar seu olhar para a conversa.
  — Ótimo, quando terminar aqui irei falar com a .
  — Ainda não tive o prazer de conhecê-la — comenta Galoppo.
  — Nem eu, verdade! — endossa Ferraresi.
  — Vão conhecer hoje, então! Aposto que ela vai querer ir.
  Calleri percebe a intenção dos amigos. Galoppo e Ferraresi querem que vá apenas para que Calleri possa, de alguma maneira, falar com a mulher, tentar confessar o que sente, apesar dele já ter dito. Mas, ele precisava falar com ela sozinho e com calma. está fugindo dele desde que terminou com sua ex e a notícia saiu em todos os veículos de fofoca do Brasil e Argentina. Certamente sabe sobre isso e Calleri precisa esclarecer. Quase todas as matérias mentiram ao noticiar o término, como se Calleri a tivesse traído, sendo que não houve traição de nenhuma das partes, apenas um afastamento por falta de cuidado. Eles poderiam resolver entre si, mas o amor que ainda sente por impediu o atacante de tentar. Sobressaiu ao sentimento por sua ex e ela, por sua vez, não se esforçou nem um pouco em consertar as coisas. Deixou tudo desmoronar até ruir a relação.
  A volta para o Brasil foi apenas a gota que faltava para derrubar tudo ao chão.
  No fundo de seu coração, Calleri até prefere que tenha sido assim. Ele terá sua segunda chance e não a desperdiçará.

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  A noite chega e a maioria já chegou à casa de Galoppo que fica em um dos condomínios mais luxuosos de São Paulo. O jogador preparou um churrasco argentino para receber os amigos e, com a ajuda de Rigoni, fez uma playlist ao gosto de . A mulher é grande fã de hip hop dos anos 2000. Akon, Nelly, 50 Cent, Tyga, Usher, entre outros nomes estão sempre tocando no celular dela.
  Assim que entra na bela mansão, ao lado de Rigoni, ouve uma música conhecida e sorri, olha para o atacante percebendo o que ele havia feito.
  — Isso tem dedo seu, Emiliano — diz ela com o olhar suspenso.
  — A mão inteira, cariño — ele ri, beijando a bochecha dela.
  Os dois entram, cumprimentando a todos. Finalmente é apresentada oficialmente ao Galoppo e ao Ferraresi, que só a conheciam pelo olhar do amigo Calleri. Por falar nele, o atacante não tinha chegado ainda. Tal fato deixou em alerta.
  A expectativa da chegada dele a qualquer momento foi substituída pela animação de ouvir uma de suas músicas favoritas. A piscina, que fica no quintal da casa, é aquecida, assim pode ser usada mesmo à noite. Rigoni está dentro da água admirando dançar no degrau de acesso ao interior da piscina. Neste momento, Calleri chega e paralisa a porta de vidro.
  A música que toca é Juicy, uma parceria do rapper Tyga com a cantora Doja Cat que foi lançada em 2016, ano em que Calleri e se conheceram. O jogador lembra de que ela dançou essa música para ele em um dos momentos de intimidade que tiveram, recorda-se também das sensações que teve à época, parecidas com o que está sentindo agora. A letra fala, em sua essência, sobre o desejo sobre o corpo de uma mulher. Os movimentos que faz com o corpo comprova que ela ainda se lembra do que diz a música e aponta para as partes que são citadas. Calleri sorri com a ironia da cena, pois o trecho que toca agora reflete a realidade:

“Ela mantém essa bunda, bunda, ela a mantém carnuda (sim, sim)
Aquela beleza, beleza natural, sim, sim
Se você pôde ver de frente
Espere até você ver de trás, trás, trás, trás, suculenta”

  Irônico, já que Rigoni está admirando dançar de frente e Calleri observa atentamente a parte traseira dela. A bunda da mulher mexendo sensualmente o deixa excitado. Engolindo em seco, o atacante cumprimenta os amigos, que não o tinham notado lá, e tira sua camisa e calça, ficando apenas de sunga. Quando vê o ex namorado, se envergonha de repente e entra na água, agarrando-se a Rigoni. O gesto faz Calleri sorrir e pensar: Preciso falar com você, mi amor, necessito…

  Algumas horas mais tarde, todos já mais alcoolizados que de início e mais íntimos também. engatou uma conversa animada com o anfitrião e com Ferraresi, ambos bastante divertidos e felizes por conhecer a mulher. Calleri conversa por tabela, feliz em ser correspondido por ela e sem receber olhares estranhos vindos de . Em dado momento, Rigoni volta para a piscina quando desafiado por Ferraresi, James e Arboleda a jogarem bobinho dentro da água. Ficaram apenas Galoppo, Calleri e na mesa, ainda bebendo.
  — Já volto, rapazes — diz ela, levantando-se e entrando na casa, ela está com uma saída de praia em cima do biquíni.
  — Aproveita, amigo — incentiva Galoppo, apontando com a cabeça para que Calleri vá atrás dela.
  — Acha que-
  — Aproveita que ela está lá e o Rigoni está acá — refere-se ao fato de cada um estar em uma ponta da casa.
  Tomado pela coragem do álcool, o atacante se levanta e entra na casa.
  Ele está apenas de calção, os cabelos ainda molhados, um fio de água escorrendo em sua nuca. Calleri procura com atenção e encontra a figura de na cozinha, ela mexe na geladeira.
  — Procurando algo, dona ? — a voz grave dele a assusta, fazendo o jogador rir.
  — Por Deus, Jonathan, não faça isso! — pede ela, rindo também. — Na verdade, estou procurando mais frutas para fazer mais batida — ela volta a analisar a geladeira. — Mas parece que o Galoppo não tem mais.
  — Já olhou na parte debaixo? A última gaveta — orienta ele e, quando se abaixa para ver a gaveta, acha as frutas.
  — Como você sabia? — Calleri ri.
  — Sou amigo dele — diz, simplesmente. — E eu estava aqui quando ele comprou essas frutas.
  — Faz sentido — pega as frutas e as põe sobre o balcão, fechando a geladeira.
  — Quer ajuda?
  — Por favor — eles riem, vermelhos pelo álcool, e separa as frutas que irá usar, enquanto Calleri pega faca e recipientes para armazenar tudo. O liquidificador e a vodca já estão lá fora.
  — Não sabia que ainda gostava de hip hop antigo — comenta, pegando algumas maçãs e colando dentro da pia para lavá-las.
  — Ah, eu amo! — diz, animada. — Você me viu dançar, não é?
  — Vi — o risinho safado entrega que ele gostou do que viu e isso deixa envergonhada. — Ainda dança muito bem — diz mantendo o foco nas maçãs.
  — Safado, você estava olhando para minha bunda, Calleri! — constata arrancando uma gargalhada sincera do jogador. — Sabia! — ela põe as mãos nas costas, cobrindo a bunda.
  — A visão Rigoni era boa — ele ergue o olhar para ela, retirando as maçãs lavadas e as colocando num pote. — A minha era melhor — gaba-se.
  — Você continua o mesmo, Jonathan — constata , encostando-se de frente para o balcão.
  — Meu namoro estava fadado a acabar, — diz, de repente, enruga a testa.
  — Por que está falando isso? Do nada…
  — Porque a mídia inventou muita coisa sobre o que aconteceu, sendo que apenas não estava mais dando certo.
  — Você não plantou a notícia, né? — ela sorri um sorriso amarelo, tentando levar com humor a conversa.
  — Não sou tão influente assim — brinca ele. — Eu realmente terminei com ela.
  — Por quê?
  — Ela não queria ficar. Na verdade, ela não queria que eu voltasse, mas eu sentia que deveria.
  — Ok, Jonathan… — fica séria, sem reação imediata e pausa seu movimento de retirar mais frutas do saco onde estão. — Por que você-
  — , eu voltei pro São Paulo por dois motivos.
  — Quais? — neste instante, Calleri a encara e também para de mexer com as frutas.
  — O primeiro foi porque eu senti que minha história aqui não havia acabado. Eu saí muito de repente, achando que era uma boa ideia.
  — E não foi? — o coração dela dispara erroneamente.
  — A princípio parecia ser, o clube para onde fui era bom, pessoas legais e acolhedoras. A torcida me acolheu bem também, mas… — ele perde o olhar para baixo, sorrindo levemente. — Algo ainda me prendia no Brasil. Eu não estava feliz.
  — O que te prendia? — imagina qual seja a resposta, mas pergunta mesmo assim.
  — O meu segundo motivo de querer voltar: você.
   suspende o olhar, surpresa com a resposta mesmo que já esperada por ela. Calleri sai de onde está e caminha até a mulher que, interiormente, quer se afastar, mas não consegue.
  — Não, não fale bobagens, Calleri — desconversa ela, passando a mão pela nuca.
  — Sei que errei, mas quero uma oportunidade para te mostrar que eu me arrependi, — sua voz sai sussurrante, a proximidade dele deixa nervosa, trêmula e estática. O toque da mão fria dele em sua cintura a arrepia. — Siento tu falta, mi amor…
  A mão livre do atacante se ocupa envolvendo as costas de , subindo pelo tecido da saída de praia e chegando até a nuca dela, firmando no local. A mulher suspira, ofegante e deixa o corpo amolecido. Ela não consegue mais resistir a ele, não tem como…
  O beijo indecente acontece, Calleri pressiona o corpo dela contra o balcão e zera a distância de seus corpos. Uma das mãos de segurando o peito do argentino e a outra apoiada na cintura dele.
  — Jonathan… não, não! — se afasta bruscamente e empurra Calleri para trás. — Eu estou com o Rigoni-
  — Vocês estão namorando? — indaga, cortando-a.
  — Não, estamos apenas-
  — Então não há motivo para não ficarmos juntos — ele volta a se aproximar, encaixando as mãos na cintura dela e puxando-a para si.
  — Jo…
  — Te amo, , te amo.
  Acometida por sua paixão adormecida por ele, deixa ele beijá-la novamente, mas, quando sente o calor percorrer seu corpo de maneira louca, ela volta a se afastar de Calleri e deixa a cozinha correndo. Ainda ofegante pelo beijo e pela conversa, o jogador fica alguns minutos no cômodo recuperando-se. Quando consegue voltar para a área externa descobre que e Rigoni haviam ido embora.
  Feliz, ele conta para os amigos o que houve.

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  Sábado à noite, estádio do Morumbi

  O jogo está desfavorável para o São Paulo.
  Calleri está pronto para entrar, substituindo Rigoni que fez um primeiro e parte do segundo tempo ruins, sem conseguir aproveitar nenhuma assistência de seus companheiros ou até mesmo armar alguma jogada sozinho. Vaiado ao sair, o jogador se emputece, chutando o copinho d’água que estava no gramado dentro da área técnica onde os jogadores reservas ficam. O ato é visto pelo árbitro que lhe dá cartão amarelo. Após poucos minutos de sua entrada, Calleri consegue duas chances claras de gol, sendo uma resultando na defesa do goleiro. Quase perto do fim da partida, o gol acontece e explode o estádio em gritos de felicidade. O árbitro encerrada a partida.
  São Paulo 2 a 1 de virada.
  Eufórico pela vitória, Calleri agradece o grito da torcida que o ovaciona. Fica alguns minutos até dar a volta completa no estádio para agradecer a todos. Quando deixa o gramado, há poucos companheiros de time em campo, eles também descem as escadas largas que levam aos vestiários. Passando pelos corredores internos, Calleri encontra com o celular que usa para filmar para as redes sociais em mãos. Ela sorri para ele e recebe um abraço apertado da mulher.
  — Obrigada pelo gol, se não fosse você… — ela interrompe a própria fala. Realmente o São Paulo precisava dessa vitória. — Obrigada, Jo.
  — Adoro quando me chama assim — revela, aproveitando o cheiro inebriante dela tão perto.
  — Bobo.
   se afasta um pouco, analisando o olhar caído do atacante sobre ela. A boca meio aberta, respirando, o ar quente batendo nos lábios da mulher.
  — Foda-se.
   puxa Calleri e o beija.
  Mas, novamente após alguns segundos degustando do gosto dos lábios dele, a mulher o empurra e o deixa sozinho com seus pensamentos confusos.
  — O que está fazendo comigo, mi amor?

Capítulo 4 - Sensational

"Sensacional, é
O que posso fazer por você, garota?
E sei, e sei, e sei, garota, que ajo como um bobo por você
O amor é como um enigma, é
Me dê as pistas, resolva o enigma, oh-ah-oh"

– Sensational, Chris Brown feat Davido & Lojay –

  — Yo no creo en eso! (Eu não creio nisso!)
  Rigoni bradou furioso quando confrontou as informações que recebeu com . Para ilustrar, há cerca de três dias Rigoni recebeu uma mensagem no Instagram dizendo que e Calleri foram vistos aos beijos após o jogo no Morumbi, o último dentro de casa. Amanhã toda equipe viaja para Medellín, cidade equatoriana, onde farão um jogo válido pela Copa Sulamericana. Rigoni não quis acreditar na mensagem e a ignorou. Mas recebeu fotos que, ainda que tremidas e um pouco longe, dava para identificar as figuras de Calleri e . Os cabelos cacheados e volumosos dela são uma marca registrada, difícil de confundir.
  Agora, a social media tricolor está sentada no sofá do apartamento de Rigoni tentando acalmá-lo. Ao ser confrontada, ela admitiu que beijou Calleri sim, mas não admitiu tudo que sentiu no momento. O que leva Rigoni a crer que Calleri agarrou a mulher à força.
  — Por que ele te beijou? — Rigoni está confuso com toda situação, então decide explicar parte dela.
  — Eu tive um relacionamento com ele em 2016.
  — Disso eu já sabia — revela, surpreendendo a mulher.
  — Como?
  — Depois que recebi a mensagem no Instagram eu resolvi pesquisar sobre a primeira passagem dele pelo São Paulo — diz, sentando-se ao lado dela. — Aí vi as reportagens sobre seu namoro com o Calleri — o verbo faz suspender os olhos, prendendo a respiração.
  — Ah, a maldita imprensa — lamenta-se. — Há muita coisa que não é verdade.
  — Não li tudo — desconversa o atacante, desviando seu olhar do rosto dela e engolindo em seco. — Quero saber uma coisa, cariño.
  — Pode perguntar.
  — Ele te pressionou pra isso acontecer? O que ele quer de você?
  Me deixar louca, foi o pensamento que veio na mente de , mas que não foi externado.
  — Cariño? Me diz que ele não-
  — Me desculpa, Emi.
  — Vou acabar com ele se-
  — Ele não me forçou a nada. Foi uma fraqueza minha acreditar no que ele me disse.
  — O que ele te disse?
  Ela tenta sorrir e responder de um jeito que não magoe Rigoni.
  — Que ainda gosta de mim e que… bom, isso é passado. Eu não quero mais namorar com ele e-
  — Cariño, tem certeza? — o encara, confusa. — Ele não te agarrou à força? — por um breve instante, ela achou que ele perguntava sobre seus sentimentos, suspirou aliviada.
  — Tenho, por favor, não brigue com ele.
  — Ele merecia um soco por ter te beijado sabendo que estamos saindo — ele fecha os punhos e segura o braço do jogador, fazendo-o relaxar.
  — Não, Emi, não faça isso.
  — Esse canalha não respeitou ninguém! — diz, exaltado. — Nem a mim, nem a você. Não posso deixar isso passar. Não vou, cariño.
  — Emi!
  — Você ficou balançada com esse beijo?
  — Não — a responde mal a convence. — Fiquei quando o vi logo quando voltei de férias, mas nada demais. Estou saindo com você, não estou?
  — Sí… — ele fecha os olhos, se acalmando.
  — Esquece isso.
  Ela o seduz acariciando seu rosto, Rigoni mantém os olhos fechados, aproveitando o carinho, mas logo os abriu para ver o olhar de sua querida parceira lhe encarando. o beija e cala qualquer outra pergunta que a mente de Rigoni continua produzindo sobre a conversa. Não tinha importância agora.
  O atacante puxa a cintura de com força suficiente para que ela sentasse no colo dele sem interromper o beijo. Rigoni sente o tesão se expandir pelo seu corpo e o homem é tomado por seu sentimento por , esquecendo-se momentaneamente da raiva que sentiu de Calleri.
  Pelo menos, por enquanto.

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  Uma semana depois…

   está passando por um inferno astral.
  Bom, ela não sabe se é exatamente isso que está vivendo, mas explicaria o caos que está sua vida amorosa. De um lado tem o Rigoni, um amor de pessoa que a adora e faz de tudo para agradá-la. E do outro o Calleri, que é seu amor do passado e ainda mexe com sua cabeça e, principalmente, com suas emoções.
  Os beijos que deu nele foram de sua vontade. Disso ela não tinha dúvida. Mas o que a intriga, é se ele diz a verdade quando fala que ainda a ama. E, mais ainda, o motivo disso preocupá-la. Ela está com o Rigoni, não é? Nem deveria dar bola para o que o Calleri diz ou faz. Mas o olhar amendoado e os lábios do argentino não saem da mente de .
  A mulher caminha pelo CT atrás de mais jogadores. O aniversário de Calleri é apenas em setembro, mas ela está recolhendo depoimentos para criar um vídeo de parabéns. No caminho entre o campo e o vestiário, aborda Nahuel.
  — Não fuja de mim, Ferraresi, eu já vi você! — diz ela, rindo porque o zagueiro se escondeu atrás de uma árvore. Ele sai detrás da árvore também rindo.
  — Droga, me escondi tão bem — brinca, se aproximando dela e lhe dando um abraço lateral.
  — Com 1,90m não tem como eu não te ver, Nahuel.
  — O lado ruim de ser alto — eles caminharam devagar na direção do vestiário.
  — Preciso de um favor seu — ela faz uma expressão fofa, encarando o homem ao seu lado.
  — Pode dizer, chiquita.
  — O aniversário do Calleri está chegando e eu preciso de um depoimento seu sobre ele.
  — Aquele sacana não merece um depoimento meu — solta o zagueiro, aparentando estar irritado.
  — Ele fez algo errado? — franziu o cenho, parando de andar. Nahuel também parou ainda abraçado a ela.
  — Ele tá me devendo uma garrafa de vinho — a informação faz rir. — Não ria, chiquita, Jonathan é um mal perdedor.
  — Ai, Nahuel, só você mesmo — ela continua rindo. — Pode falar isso no depoimento, se quiser.
  — Vou gravar porque foi você quem me pediu e eu não resisto a essas bochechas gostosas — o homem aperta as bochechas dela. — Vai gravar agora?
  — Se não estiver ocupado, seria bom.
  — Vamos, então!
  Os dois foram até uma das salas de reunião, que o Dorival, técnico do São Paulo, usava para conversar com os jogadores antes das partidas para ajustar algumas coisas com todos juntos, e se acomodaram . A mulher posiciona o equipamento sobre uma cadeira e pede para Nahuel sentar-se na mesa principal. O zagueiro começa a falar quando dá o sinal, iniciando seu depoimento com um xingamento ao Calleri, o que faz rir. Mas depois ele segue tecendo elogios ao amigo, dizendo o quanto se sentiu acolhido desde que chegou ao clube. Calleri foi um dos primeiros a puxar assunto com o venezuelano, tornaram-se grandes amigos mesmo com o pouco tempo de convivência.
  Após gravar o depoimento de Nahuel e se emocionar com ele, se despede do zagueiro, que segue pro vestiário, e vai atrás de mais jogadores. Tecnicamente, Calleri não deve ter acesso antecipado às gravações, por isso evita ir até o campo onde está a maior parte dos jogadores. Na academia estão os que foram apenas para fazer algum trabalho de recuperação física. caminha equilibrando sua mochila em um dos ombros, a câmera e o tripé nas mãos, sem contar o celular que ela leva embaixo de um dos braços, preso ao seu corpo. Com a pressa de gravar logo, e o medo de Calleri aparecer e estragar a surpresa, dá uma leve corrida até a academia. Péssima ideia.
  — Meu Deus, o que foi isso?
  Luan, volante tricolor, que está dentro da academia, sai para ver o que aconteceu e encontra caída no chão, os equipamentos espalhados, e ela com a expressão de dor.
  — Você está bem, ? — indaga ele se aproximando.
  — Acho que machuquei o braço — diz, gemendo um pouco. Luan ajuda a mulher a se levantar. — E quebrei minha câmera, mas que merda! — deduz ao ver uma peça solta.
  — Vem, vou te levar pra enfermaria. O importante é você não ter quebrado nada em você — brinca, caminhando junto com ela.
  Outros jogadores ajudaram a recolher as coisas de , colocando-as na mochila, e levaram pro vestiário dos funcionários. A câmera dela realmente havia quebrado junto com a tela de proteção do celular dela, que foi devolvido à mulher na enfermaria do CT. deslocou o ombro, uma leve luxação. O médico que a atendeu colocou seu ombro no lugar, colocando uma tala ortopédica travando o ombro esquerdo da moça, junto com uma tipoia.
   deixou o CT mais cedo que de costume sem se despedir de ninguém que normalmente fala. Apenas os funcionários, os jogadores não a viram ir embora e até estranharam a ausência da mulher. Apenas quando Rigoni viu a mensagem dela informando sobre a luxação, que todos descobriram o que aconteceu.
  Calleri ficou preocupado.

  No apartamento de , a mulher tenta manter sua rotina mesmo com um braço imobilizado parcialmente. Rigoni insistiu para ir ajudá-la, caso precisasse, mas ela disse que não precisava se incomodar. Que ficaria bem. Ainda assim o jogador apareceu lá, levando um pequeno buquê de flores pra ela, mas não demora, já que praticamente o expulsou do apartamento.
  A campainha toca.
  — Mas como é teimosa, Emiliano — diz pra si mesma, caminhando até a porta. — Eu disse que estou- — ela paralisa ao ver quem está parado à sua porta. — Calleri?
  — Olá, — diz o atacante. — Posso entrar?
  — O, o que faz aqui?
  — Soube que alguém se machucou e vim ajudar — diz com um sorriso de canto. Pare de sorrir assim, Jonathan!, pensa a mulher, controlando-se.
  — Eu não preciso de-
  — Não seja orgulhosa, o encara, sentindo-se desafiada.
  — Você sabe que odeio que me chamem assim, Jonathan Calleri!
  — Com licença — ele passa por ela, entrando no apartamento.
  — Jonathan! — espanta-se, virando-se para ele e fecha a porta. — Não disse que podia entrar, seu enxerido!
  — Já jantou? — o jogador ignora a bronca dada por ela e vai até a cozinha, sendo seguido pela social media.
  — Ainda não, mas-
  — Quer comer o quê? — pergunta, interrompendo .
  — Jonathan, eu disse que não preciso de ajuda. Ainda tenho dois braços.
  — Não duvido que possa fazer as coisas sozinha mesmo com um braço machucado, — esclarece. — A questão é que você precisa ficar em repouso ou a luxação piora, sabia disso?
  — Sabia, Jonathan.
  — Pois então, sente no sofá e espere seu jantar ficar pronto, linda — provoca o homem, rindo da expressão irritada que ela faz. — Fica mais fofa quando está irritada — comenta Calleri, de costas pra , enquanto separa os ingredientes do choripán que fará para ambos comerem.
  — E você está bem enxerido pro meu gosto, Jonathan — rebate, encostando-se no balcão. — O que vai fazer? — pergunta, curiosa. Sem ela ver, Calleri sorri vitorioso.
  — Choripán — diz.
  — Veio até aqui para fazer um sanduíche pra mim?
  — Para nós — corrige ele.
  — Vai comer também?
  — Claro que vou, te farei companhia — ele vira o rosto para piscar pra .
  — Você quer é comer de graça — rebate, rindo.
  — Eu quem vou cozinhar, linda — diz ele, lavando os tomates. — Me conte, como se machucou?
  — Caí quando ia pra academia.
  — Só? — ele volta a olhar para ela. — Eu sou o atleta e você quem se lesionou? — brinca, risonho. estreita o olhar. — Também sei estreitar o olhar, querida.
  — Eu estava com pressa, acabei perdendo o equilíbrio — se defende, cruzando os braços sobre o busto.
  — Tem que aprender a esperar, .
  — Você me falando sobre pressa, Calleri? Justo você? — enfatiza com o olhar suspenso.
  — Não quero brigar — diz o jogador, defensivo. — Só falo porque me preocupo com você.
   respira fundo e se desarma. No fundo, ela também não quer brigar. Achou fofo o fato dele aparecer lá de surpresa para ajudá-la. Rigoni fez o mesmo, ela também adorou vê-lo lá, mas com o Calleri é diferente. está mais confusa ainda. Por que o sentimento de 2016 tinha que aparecer junto com a presença de Jonathan no São Paulo?

Capítulo 5 – Martes

  Ela era sua melhor amiga no mundo tudo, a melhor pessoa que ele conhecia e a única que fazia seu coração bater mais rápido, mas, bem, ela também era a única que ele não podia amar.

"Sem me convencer que a história tem início e meio, mas nunca teve um fim
Então fica onde está, já tracei nosso plano
Se a noite você vier, te carrego pra bem longe daqui."

– Até o Fim, Strike –

  São Paulo, terça-feira

  — Tem certeza? — repete Calleri, desacreditando no que acabou de escutar.
  — Sim, seu Jonathan — repetiu o porteiro. — Uma moça chamada está aqui, disse que quer falar com o senhor. Posso deixá-la entrar?
  — Claro, por favor, deixe ela entrar.
  Após autorizar a entrada de , Calleri desliga a chamada do interfone, passando a mão pelos cabelos. O que ela faz ? Por Deus, o que faz em sua casa? Será que veio cortar laços definitivamente? Não, se fosse isso bastaria se afastar dele. O que ela queria com ele a essa hora da noite?
  Minutos depois, a campainha principal da casa de Calleri toca. Ao olhar pelo monitor de segurança, ele vê parada do lado de fora, então corre para abrir a porta.
  — Boa noite, Jonathan — diz ela assim que ele aparece para atendê-la.
  — Boa noite, . Entra, está frio.
  Ela entra pelo caminho que corta o jardim, o atacante a segue e eles entram na casa. Calleri fecha a porta principal da mansão e olha desconfiado para a mulher.
  — Quer beber algo? — oferece com educação, coçando a nuca. se vira pra ele.
  — Quero uma prova do que me disse, Jonathan.
  — Prova de que exatamente? — ele ergue uma sobrancelha.
  — Você disse que me amava, que nunca me esqueceu e que gostaria de uma oportunidade de me fazer acreditar — pontua. — Estou te dando essa oportunidade agora — ele arregalou o olhar, completamente surpreso.
  Mesmo surpreendido pela atitude dela, Calleri estreita a distância entre eles e a beija, segurando sua nuca. fica na ponta dos pés para conseguir beijá-lo melhor e é abraçada com cuidado pelo jogador.
  — Vou precisar de mais provas, Jo.
  Calleri sorriu com o apelido, voltando a beijar com paixão. Ele não quis pensar muito, caso contrário desistiria de prosseguir por achar que ela estava apenas para usá-lo – não que ele se incomodasse com isso, mas também tem sentimentos por ela e isso o magoaria, ainda que pouco – ou apenas para sanar uma possível briga que tenha tido com o Rigoni. Porém, Calleri não quer pensar nisso, quer apenas provar para que ele nunca a esqueceu e que a ama de verdade.
  O atacante envolve os braços na cintura de , atentando-se ao braço dela que ainda está na tipoia, erguendo um pouco o quadril, da mulher e intensificando o beijo. Desajeitados, eles caminham casa adentro, parando apenas quando encontram um obstáculo: um móvel com um abajur em cima. Eles riem porque o objeto quase cai, sendo seguro a tempo por Calleri. ajeita os cabelos, os cachos soltos em volta de sua cabeça. O homem volta sua atenção para a mulher a sua frente que lhe sorri com timidez. Ele segura a mão dela, puxando-a escada acima. Está na hora de irem para o quarto. Ao chegar na suíte, Calleri fecha a porta e volta a beijar no pescoço, abraçando-a por trás. As mãos passando por dentro da blusa dela, suspendendo a peça. Ela usa uma blusa com botões, o que facilita na hora de Calleri retirá-la. O atacante a vira de frente para si e desabotoa cada botão sem tirar o olhar dos olhos dela. Através dos olhos de Calleri, percebe que ele diz a verdade, consegue perceber os sentimentos dele.
  Os olhos amendoados do jogador não mentem.
  Sem a blusa, sente o frio do ar condicionado invadir sua pele, se encolhendo no próprio corpo. Carinhoso, Calleri a abraça, levando-a até a cama. Ela se senta na ponta e vê o jogador tirar a camisa e o moletom que veste, junto com a calça. Apenas de cueca, ele a ajuda a tirar sua calça e sapatos. Pede para subir mais no colchão, pesando seu corpo sobre ela. se recorda do quão fofo Calleri é quando estão na intimidade, estava com saudades disso não podia negar. Ele a beija, distribuindo pelo busto dela ao mesmo tempo que tira seu sutiã. Desce mais um pouco, chegando até à calcinha dela, e a puxa com os dentes fazendo rir. Sem a calcinha, recebe um chupão cheio de vontade em sua intimidade fazendo-a suspirar e se retorcer na cama.
  — Jo…
  Chama, manhosa, e usa a mão livre para afagar os cabelos dele, entrelaçando os dedos nos fios castanhos do jogador. Como um bom atacante de área, Calleri apenas esperou o ápice calmamente enquanto chupava . Quando ele é atingido, o homem segue chupando por mais alguns segundos antes de parar e subir seu corpo por cima de .
  — Te amo, mi amor… — ele sussurrou, rouco, acariciando o rosto dela. — Te amo tanto…
  Ele beija os lábios dela, a emoção toma conta do homem. Não esperava se emocionar assim quando tivesse em seus braços de novo. Não esperava ficar frágil ao ponto de quase chorar. Mas não se arrepende de demonstrar essa emoção. está com ele, está em sua cama, nua, e pronta pra ser dele novamente. Só lhe resta saborear este momento.
  O jogador senta na cama e chama pra sentar-se sobre seu colo. Tomando cuidado com o braço esquerdo, a mulher passa uma das pernas para o outro lado do corpo de Calleri e senta-se sobre o membro dele. Ele geme em aprovação.
  — Que saudades disso, mi amor… — diz com manha excessiva e entrelaça seus dedos nos cabelos da nuca de , firmando-os. — Me lembro que você gostava disso. Ainda gosta? — a resposta dela foi através do olhar dela, sedutor, unido ao gemido que soltou. — Eu te ajudo, mi amor.
  Calleri se ajeita na cama, recostado na parede atrás de si, e põe a mão livre sobre a cintura de , apertando. Ela começa a rebolar devagar, procurando a melhor posição para seu conforto durante o ato. O atacante a ajuda, conduzindo sua cintura e pressionando seu quadril contra ela, erguendo-o em movimentos sincronizados. Os afagos dele junto com o conforto gradativo que alcançou, tiveram como resultado o relaxar do corpo de . Mesmo sem poder agarrar o pescoço de Calleri com ambas as mãos, usa a mão livre para apoiar no peito do jogador, ajudando em suas quicadas. Mais relaxada, ela consegue deixar fluir suas emoções por esse ato.
  Os anos podem ter passado, mas a memória dele continua boa. Calleri ainda se lembrava que ama ser pega pela nuca, ama cafuné e isso faz com que ela chegue mais rápido em seu orgasmo. Quando acontece, a mulher deixa sua cabeça pender no ombro do jogador, que a abraça seguindo com seus movimentos. Poucos minutos depois, e com a grande ajuda das quicadas mansas de , Calleri chega ao seu ápice. Ambos bastante cansados, mas satisfeitos.
  Calleri ajuda a sair de seu colo. Eles riem com o fato dela estar com apenas um braço utilizável e não mencionam nada sobre o passado. Na verdade, eles nem conversam mais. Apenas se deitam na cama, debaixo do edredom, e se envolve nos braços dele. Usando sua expertise, Calleri volta a afagar a nuca de , a aninhando feito um pai ninando seu bebê.
  — Que hermosa, mi amor, linda — diz o jogador, achando fofo o jeitinho como se encolhe em seu abraço. O calor do corpo dela já é o suficiente para aquecê-lo nessa noite fria de São Paulo.
  — Você usa artimanhas muito baixas para conquistar uma mulher, Jonathan — solta a mulher, rindo aninhada no peito dele.
  — Eu só quero reconquistar você, — ela sente que está sendo observada por ele, ao erguer seu olhar para Calleri, encontra os olhos castanhos dele a encarando e um sorriso contido no rosto dele. — Te amo.
  — Vamos apenas dormir, Jonathan — ela volta a olhar para baixo, evitando os olhos amendoados e fofos de Calleri. Ele ri.
  — Não vou te deixar, dorme tranquila, mi amor. Eu não vou embora.
   não diz nada, engole em seco e fecha os olhos, adormecendo sob os afagos carinhosos de Jonathan Calleri.

[⚽]

  Calleri e Rigoni estão discutindo.
  Se fosse em uma situação normal já seria tenso, mas eles estão trocando farpas dentro de campo. O jogo vale pela volta da Copa do Brasil contra o Palmeiras. O São Paulo está ganhando por 1x0, placar que leva a decisão para os pênaltis. Precisam marcar pelo menos mais um gol para levar a vaga diretamente. O principal motivo da discussão deles é o fato de um estar “atrapalhando” as jogadas do outro. Hoje não conseguem se entender dentro de campo. Cada vez que Rigoni atravessa a jogada de Calleri, e vice-versa, o outro grita enfezado. Dorival já percebeu que ambos estão brigando, pensou em tirar um deles para acalmar os ânimos, mas os dois são importantes para a eventual disputa de pênaltis.
  — Para de me atrapalhar, carajo! — grita Rigoni ao passar por Calleri perto da área adversária.
  — Se você não fosse tão espaçoso, talvez não te “atrapalhasse” — o outro faz o sinal de aspas com as mãos, ainda caminhando de volta pro meio do campo. — Idiota…
  — Você que é idiota, Calleri!
  — Foco, seus putos! — Michel percebe a briga e dá uma bronca em ambos, empurrando-os, vai cada um para um lado da linha central.
  Calleri olha para o placar do Allianz, faltam apenas dez minutos para acabar o jogo e o São Paulo se classificar. Mas, em um descuido da defesa, o Palmeiras empatou. Irritado, o atacante pega a bola e colocando na marca central, colocando pressa para recomeçar o jogo. Quando o juiz apita o recomeço, Calleri toca a bola para Michel, pedindo para jogar para ele em seguida. Ele corre na direção do gol adversário. Rigoni também pede a bola, mas Michel acha Calleri mais bem posicionado e toca para ele.
  Gol de cabeça.
  Volta ao cenário dos pênaltis, ainda é ruim para o São Paulo. Mas Calleri acredita na vitória e segue tentando. Rigoni xinga ele por ter sido egoísta em cortar mais duas jogadas que, na cabeça dele, eram gols feitos e foram perdidas por Calleri. O argentino ignora o conterrâneo e continua pedindo a bola. Faltam dois minutos para o fim da partida, então Calleri pede novamente a bola. Rafinha cruza pra área do Palmeiras, Calleri sozinho marca com a perna esquerda.
  Gol do São Paulo.
  O gol da classificação.
  Majoritariamente tomado por palmeirenses, o Allianz se cala com o gol de Calleri que corre pelo campo com a mão na orelha e uma expressão como quem diz “repete que eu não ouvi!”. A provocação é para Rigoni que, mesmo feliz com a classificação, está irritado com a provocação recebida.
  O juiz encerra a partida e os jogadores comemoram ainda dentro de campo. Calleri e Rigoni abraçam seus amigos, mas se mantêm longe um do outro. Porém, o vestiário não é tão grande.
  — Por que você é tão filho da puta?! — brada Rigoni, empurrando Calleri que cai no banco que circunda o vestiário.
  — Quer brigar? — rebate o argentino, levantando e peitando Rigoni.
  — Eu soube que beijou a , seu cretino — finalmente Rigoni expõe o motivo real de sua irritação. — Ela está comigo e não com você.
  — Ela pode estar com você agora, mas é a mim que ela… — Calleri se interrompe, iria falar algo escroto, mas se conteve a tempo. — ama a mim e não a você.
  — O que quer dizer?
  — Não sabe o que significa amar alguém? — provoca Calleri, coçando o peito, ele está sem a camisa de jogo.
  — Fica longe da , ela não quer você por perto.
  — Como você sabe disso?
  — Conheço ela — o outro ri.
  — Se conhecesse mesmo, saberia a quem ela deseja — eles se encararam, muito próximos.
  — Vocês tão brigando? — indaga Nahuel, se aproximando. — Calleri, aqui não — alerta, temendo que mais alguém perceba.
  — Eu não costumo brigar por mulher, mas por ela eu brigo com quem for — Rigoni estreita ainda mais a distância entre eles. Nahuel põe a mão no ombro do atacante, puxando para trás.
  — Putos… — o zagueiro acena para Michel se aproximar, já prevendo uma briga.
  — Eu a conheci primeiro, temos uma história juntos!
  — Isso não é sobre quem chegou primeiro, Calleri! — brada Rigoni num tom mais alto e chama a atenção de mais jogadores que antes apenas comemoravam a classificação, alheios à briga. — É sobre ter a oportunidade e aproveitar da melhor forma. Você teve a sua em 2016 e desperdiçou para focar na sua carreira. Ela não te quer mais, ela já disse que-
  — Tem certeza? — confronta o argentino dando um passo à frente e sendo empurrado por Nahuel. — Ela não demonstra não me querer — ele dá um sorriso safado, lembrando-se dos momentos que teve com .
  — Como assim? — Rigoni franze a testa, confuso.
  — Quando estou perto dela, a muda. Ela fica… diferente.
  — Fale claramente!
  — O que está havendo aqui? — pergunta o assistente técnico, firme.
  — Ela me deseja, ela ainda me ama e provou isso dias atrás.
  Rigoni soca o rosto de Calleri.
  Uma confusão se forma, Nahuel segura o amigo pela cintura enquanto Calleri salta pra cima de Rigoni, desferindo socos no ar, alguns pegando no rosto do outro. Rigoni fazia o mesmo, mas sendo segurado por Michel. O assistente técnico também tenta separar e mais jogadores cercam os dois, afastando um do outro. A que ponto chegaram por causa de ? Brigar dessa forma e quase prejudicar o time por conta de uma briguinha idiota. Agora, analisando friamente a situação, ainda estando no meio dela, ambos concordam mentalmente que é uma briga idiota. Eles não precisam e nem devem disputar por . No final, quem decidirá será ela. Os sentimentos dela são tão importantes quanto os dos dois jogadores.
  — Os dois estão suspensos! — grita Dorival, após uma breve pausa da briga. — Não quero saber quem começou e quem terminou, os dois estão fora da próxima partida. Eu sinto muito por isso, mas não vou colocar em risco os pontos importantes que temos em disputa por conta de vocês dois — o técnico está vermelho de raiva e a decepção em sua voz é nítida. — Se não sabem trabalhar em equipe, deixando os problemas pessoais fora do campo, então devem repensar suas carreiras.
  A bronca dada pelo mais velho bateu certeira em todos, principalmente em Calleri e Rigoni, que se sentiram envergonhados por tudo. Estão agradecidos por ainda estar se recuperando em casa e não estar para presenciar isso. O que não muda o fato de que ela saberá da briga de qualquer forma.
  Eles já pensam em um jeito de explicar tudo.

Capítulo 6 – Passado

“Não vou deixar
Você fugir de novo pra longe de mim
[...]
Memórias não somem assim.”

– Passado, Fresno –

  Rigoni mal conseguiu dormir após a briga com Calleri.
  No dia seguinte, ambos foram ao CT apenas para receberem sua punição pela briga sem sentido, aos olhos alheios, que tiveram no Allianz. Dois jogos de suspensão mais uma multa milionária. Não era fácil desagradar ao clube e ser suspenso, a consequência era dura.
  Naquele dia, ao retornar para casa, Rigoni pensou nas palavras de Calleri durante a discussão. As provocações dele foram claras, assim como a mensagem que ele passou. Está mais que óbvio que o argentino ainda ama e não desistirá de reconquistá-la. Mas, a pergunta que mais se repete na mente de Rigoni é: ama Calleri?
  Confuso e magoado, o jogador decide tirar sua dúvida com a única pessoa que pode saná-la.
  Ao chegar no apartamento de , é recebido pela mulher que ainda está de licença por conta do braço machucado.
  — Emi! — diz ela e o abraça com o braço. — Entra — convida, puxando-o para dentro. Rigoni não diz nada, tem um nó em sua garganta que o angustia, uma vontade tremenda de chorar. — Luciano me contou o que houve entre você e Calleri, você está bem? Por que brigaram? — disparou a falar.
  — Cariño… — chama ele, carinhoso, engolindo o nó insistente. o acompanha e senta-se no sofá.
  — Você está pálido e seus olhos vermelhos, Emi — repara ela, pondo a mão sobre o rosto do jogador.
  — Cariño, preciso que seja sincera comigo, está bem? — não sabe do que se trata, mas já está nervosa por antecipação.
  — O que houve? — ela acaricia levemente o rosto dele, passando os dedos por sua bochecha.
  — Você e o Calleri tiveram algo depois que ele voltou? Sem ser aquele beijo… — pontua. Do beijo ele já sabia, quis confirmar se existiu algo a mais.
  — Ele te falou algo?
  — Não — Rigoni abaixa o rosto, os olhos ardendo de maneira idiota. Carajo!, pensa o argentino com raiva por querer chorar. — E nem precisa, seus olhos me dizem que vocês tiveram algo a mais — o olhar choroso dele quase matou .
  — Me perdoe, Emi — pede, também chorosa. — Eu deveria ter te contado antes.
  — Você não me devia e nem deve satisfações, cariño — esclarece. — Não somos namorados.
  — Mesmo assim eu deveria-
  — — agora é a vez de Rigoni segurar o rosto dela, os lábios da mulher tremem, interrompendo a própria fala. — Eu te amo tanto, cariño, tanto…
  — Eu também amo você, Emi — confessa, fechando os olhos com força e deixando as lágrimas fluírem. — Me perdoe… — Não se preocupe — Rigoni a abraça, cuidadoso, e afaga a nuca dela, pressionando seu corpo no de . — Sei que você ama o Calleri, está tudo bem — repetir essa frase em voz alta talvez ajude o jogador a entendê-la. — Ninguém tem culpa desses sentimentos…
  — Queria poder te amar do mesmo jeito que você me ama, mas-
  — Mas é pelo Calleri que você sente isso, eu sei, cariño — completa o atacante e se afasta um pouco para sorrir para .
  — Não mereço que me chame assim — enxuga as lágrimas com a mão livre.
  — Si, te lo mereces, siempre serás mi cariño — o sorriso dele aumentou, tomando conta de seu rosto. — Estou feliz de ter vivido esse tempo com você.
   ia falar mais alguma coisa, mas é interrompida previamente pelo beijo de Rigoni. Um doce beijo em seus lábios. Ao fim, ambos estavam mais emocionados do que nunca.
  — O último de despedida — diz o jogador, afagando o rosto dela. — Te amo.
  — Você não existe, sabia?
  — Claro que existo, estou aqui, cariño — ele usa a mão dela para tocar seu corpo, fazendo a mulher rir.
  — Bobo…
  — Torço para que dê certo — diz, ficando um pouco sério.
  — Você diz…
  — Você e o Calleri — completa. — Espero que ele te faça feliz do jeito que você merece, cariño.
  — Não sei se quero namorar alguém, você me conhece, né? — ela ri, engolindo o choro que ainda não acabou.
  — Você não tem jeito — brinca também rindo. — Preciso de contar algo.
  — Ai, meu Deus, o que houve agora? Seja direto, Emi.
  — Recebi uma proposta para jogar nos EUA — diz, sem cerimônias.
  — Oh… — surpreende-se a mulher, soltando o ar pela boca.
  — Falei com meu empresário que aceitarei a proposta.
  — Assim de repente, Emi? Não quer pensar mais? — o coração dela volta a disparar.
  — Faz tempo que estou pensando, quase dois meses, mas não quis te contar, porque eu não ia aceitar.
  — A briga com o Calleri te fez mudar de ideia?
  — Também — ele sorri de maneira contida. — Mas não quero que sinta culpa, ok?
  — Um pouco difícil, Emi — sorri sem jeito. — O que eu farei sem o meu parceiro para dançar hip hop favorito? — Rigoni ri com a piada interna deles.
  — Prometo manter contato sempre.
  — Ficaria brava com você caso sumisse para sempre — diz. — Bobo…
  — Quero ser convidado caso haja casamento — arregala o olhar.
  — Casamento? — a mulher ri sem jeito. — Não existe essa possibilidade, Emiliano.
  — Já disse isso ao Calleri? — provoca, risonho.
  — Ele sabe que não… De qualquer forma, não estamos nem namorando e nem estaremos.
  — Aposto quanto quiser que em menos de um mês vocês estarão namorando — Rigoni sorri de canto.
  — Ah, mas está apostado! — eles apertam as mãos, firmando a aposta. — Vai perder feio, Emiliano!
  Ambos seguem conversando e Rigoni dá mais detalhes da proposta. O time que o chamou para um contrato de 3 anos é o Austin, um time tradicional da liga americana que ofereceu um bom salário para o jogador. O que mais o tentou a ir é ter um pouco mais de visibilidade e novos ares. Rigoni acredita que precisa sair do São Paulo, onde não passa por uma boa fase pelo clube paulista, vem sendo criticado pela torcida. No fundo, será melhor para todos, principalmente para ele.

  No retorno aos treinamentos, Rigoni nem entra em campo.
  Seu empresário havia entrado em contato com o presidente e diretores para informar sobre o aceite da proposta do Austin. Com isso, durante o tempo em que esteve suspenso, tanto o São Paulo quanto o clube americano negociaram os detalhes da transferência do jogador. Uma das exigências foi que Rigoni não treinasse mais para não se lesionar.
  — Ah, Rigi, já estava me acostumando com você, cara — diz Luciano ao sair do abraço dele. Os jogadores estão no campo durante o intervalo entre um exercício e outro.
  — Também estava, Luci — retribui o argentino.
  — Vai ter que voltar algumas vezes, hein? Pra matarmos a saudades — Rafinha também abraça o companheiro de clube, dando tapinhas em suas costas.
  — Nos intervalos dos jogos você vem, Rigi — brinca Arboleda, risonho. — Bate e volta, né?!
  — Super dá tempo — completa Nestor rindo com a piada.
  — Oh, se dá!
  — Vou manter contato, não se preocupem — Rigoni sorri. Apesar de ter tido momentos difíceis nesses meses, o jogador fez alguns amigos e teve outros momentos legais para recordar.
  — Rigoni — chama Calleri, fazendo o assunto morrer. Todos preocupados com uma possível discussão.
  — Calleri — diz o argentino e estende a mão para o outro. — Trégua? — Calleri agarra a mão do jogador.
  — Não há motivos para briga alguma, vamos acabar com isso, ok? — sugere. Rigoni sorri em resposta.
  — Claro que sim — eles firmam o aperto de mão e se puxam para um abraço. — Direi pra você também — sussurra Rigoni no ouvido de Calleri. — Espero que faça a feliz, ela merece o melhor.
  — Se ela me aceitar, eu farei — garante Calleri, dando tapinhas nas costas de Rigoni. — Boa sorte no Austin — diz ele em voz alta, se afastando do abraço.
  — Obrigado!
  — E quando você viaja, Emi?
  Galoppo muda de assunto, diminuindo a tensão, e Rigoni responde que em poucos dias ele já poderá viajar para os EUA. A conversa muda de rumo, acalmando a tensão. Depois da briga entre eles, é a primeira vez que ambos ficavam no mesmo ambiente sem se alfinetar ou lançar olhares estranhos um para o outro. Aliás, desde antes isso ocorre, desde que Rigoni recebeu aquelas mensagens. Mas, agora isso era passado e já estava superado por ele. Mesmo amando verdadeiramente , Rigoni a quer feliz. E se a felicidade dela era estar ao lado de outro, ele a deixaria ir. Estaria feliz assim, é o que importava no final.

[⚽]

  O mundo de Calleri virou de cabeça para baixo em duas semanas.
  Muitas coisas aconteceram. já estava recuperada de sua lesão no ombro e voltou a trabalhar normalmente. Ferraresi não teve a mesma sorte e acabou se machucando durante uma partida, logo no início do tempo regulamentar ele lesionou o joelho e passará por cirurgia. Infelizmente a lesão é grave e isso o tirará do time pelo resto da temporada. O São Paulo passou para a final da Copa do Brasil nesse tempo, o jogo final será um dia após o aniversário de Calleri, dia 24 de setembro, no Morumbi. Uma obra de emergência precisou ser feita na casa do argentino e, por isso, ele estava sendo abrigado pelos amigos. Dois ou três dias na casa do Galoppo, outros três na do Nahuel. E é lá onde ele está agora.
  — Se ficar sentado assim vai agravar a lesão, puto! — briga Calleri ao ver o amigo todo torto no sofá, com as pernas apoiadas na mesinha de centro.
  — Está dolorido, mas sentar assim é confortável — defende-se o zagueiro.
  — Puto desgraçado, quer me deixar mais preocupado e fuder seu joelho? — Calleri dá um soco de leve no ombro dele que ri.
  — Sai, carajo, virou meu pai? Calleri papa! — zoa o zagueiro, rindo.
  — Papa, papa, Calleri! — Galoppo entra na brincadeira, o que deixa o argentino sem jeito.
  — Putos! — ele não resiste e ri, sentando-se na poltrona ao lado de Galoppo.
  — Agora vamos à pergunta que não quer calar: agora que o Rigoni já viajou e não está mais com a , você e ela vão “desenrolar” quando? — indaga Nahuel usando uma expressão brasileira que aprendeu com Luciano.
  — Boa pergunta — concorda Galoppo.
  — Também gostaria de saber — Calleri ri sem humor. — Ela está desconversando, toda vez que vou falar sobre sairmos, ela foge.
  — Nada de novo, então — Galoppo ri do próprio comentário e é atingido por uma almofada.
  — Chama a mulher pra sair, Jony, qual a dificuldade? — o zagueiro faz uma cara esquisita, uma mistura de raiva e indignação pela lerdeza do amigo. — Uma chica linda como ela…
  — Você já deve ter notado que não gosta de relacionamentos — lembra o atacante.
  — Acho que ela não gosta de relacionamento com você, amigo — Nahuel ri sendo seguido por Galoppo.
  — Vocês vão me ajudar ou vão ficar me aloprando? — solta Calleri, irritando-se, porém querendo rir da zoação.
  — Faz parte do conselho, Jony — explica o mais novo dos três e completa: — Amanhã estamos de folga, chama ela para sair, um jantar, cinema, qualquer coisa legal — aconselha Galoppo.
  — Até comentei que terá um show de um cantor colombiano aqui, foi sugestão do James, mas disse que sairá amanhã.
  — Pra onde? — quis saber Nahuel.
  — Ela não me disse.
  — Descobre e aparece lá de surpresa — sugere, rindo.
  — Ela vai me bater se eu fizer isso — Calleri ri, lembrando de uma ocasião que fez isso quando ainda namoravam e deu super errado para o lado dele. — Melhor não.
  — Ela é brava, né? — Calleri concorda com um gesto de cabeça. — é das minhas!
  — Jony — chama Galoppo, tendo uma ideia que possa funcionar para o amigo. Todos prestam atenção nele. — E se chamar ela para sair depois de algum treino?
  — Que ideia idiota, Galoppito! — critica Nahuel fazendo o outro franzir o cenho.
  — Na verdade, é uma ideia excelente! — diz Calleri atraindo os olhares dos amigos.
  — É? — Nahuel faz uma careta desconfiada. — Vocês são estranhos.
  — Pensa comigo: a não gosta de relacionamentos e, aparentemente, está fugindo de mim feito diabo da água benta.
  — Aparentemente? — ri Nahuel. — Ela está literalmente fugindo de você, Jony.
  — Cala a boca, Ferrari! — os outros riem. — A questão é: se eu chamá-la pra sair logo após o trabalho ela não terá como dizer que está ocupada. Sabemos que o trabalho dela termina quando o nosso termina.
  — Fiquei sabendo que, às vezes, ela fica lá depois que vamos embora — completa Galoppo.
  — Mas é mais difícil, ela designa algumas funções para o assistente lá do Social.
  — Aquele baixinho?
  — Ele mesmo — os três ficam alguns segundos pensando na ideia e chegam a uma conclusão óbvia. — Acho que dará certo — diz Calleri, esperançoso.
  — Também acho.
  — Claro, a ideia foi sua — alfineta Nahuel. — Mas, se acham que pode dar certo, então eu apoio!
  — Se não der, conte com a gente para bolar outro plano.
  — Talvez um mais eficiente…
  — Ferrari, vou te chutar o outro joelho, carajo! — briga Calleri.
  Os três são como irmãos. Calleri o mais velho, Nahuel o do meio e Galoppo o mais novinho. O período que Calleri está passando na casa de cada um tem sido como uma república de estudantes: um implicando com o outro.
  Dois dias depois, Calleri finalmente colocaria seu plano de chamar para sair em ação.
  Após a saída de Rigoni do clube, eles dois se aproximaram. conversa mais com Calleri, mas ainda foge dele quando o assunto é ficarem juntos. O treino de hoje foi uma preparação para o jogo da semifinal da Copa do Brasil contra o Corinthians e o jogo do Brasileirão da semana que será fora de casa. Mais uma viagem a caminho. Calleri concentrou-se durante o treino, agora estava mais confiante e tinha a posição de titular garantida, junto com a confiança do Dorival, que já havia perdoado a briga com Rigoni semanas atrás. Após o treino, alguns torcedores aguardavam os jogadores perto da sala de imprensa. Luciano, Rafinha e Nestor pararam para falar com eles, tirando fotos e autografando camisas. Calleri foi um dos últimos a deixar o campo, estava treinando cobranças de pênaltis e faltas. Quando terminou, saiu do campo enxugando o suor do pescoço com uma toalha.
  — Calleri! Calleri, uma foto, por favor! — grita uma das torcedoras, ela está acompanhada por mais três jovens e quatro homens de idades variadas.
  — Claro — ele sorri, se aproximando, e pega a caneta piloto para assinar a camisa da torcedora. Na hora da foto, ela o abraça de repente, colocando a mão sobre uma parte do corpo de Calleri que ele não sente.
  — Hey, nada de mão boba, garota! Por favor, respeito!
  A voz de toma conta do ambiente, atraindo o olhar sugestivo de Calleri que nem tinha visto ela se aproximar do grupo. A jovem que tirava foto com o jogador ficou sem jeito, mas irritada com a interrupção de . Ela orientou os demais torcedores que o tempo estava acabando para que fossem mais rápidos nas fotos. Minutos depois, sobra apenas e Calleri.
  — Já orientei que não é pra deixar essas meninas se aproveitarem de você, não falei? — briga , ainda brava.
  — Ficou com ciúmes? — Calleri estreita a distância entre eles, passando a mão sobre o braço dela, que se esquiva.
  — Claro que não — ela vira o rosto, emburrada.
  — Era só uma criança pra mim, mi amor — diz ele com a voz mansa. o encara.
  — Não me venha com “mi amor”, Jonathan! — esbraveja. — Ela estava com a mão na sua bunda. E você deixando! — abre os braços e tem a cintura envolvida por Calleri.
  — Sentiu ciúmes de mim — gaba-se ele, segurando o riso.
  — Não é ciúme… — o toque dele sempre a desconcentra. — Estava apenas protegendo meus jogadores — dá de ombros.
  — Soy tu jugador? — o maldito sorriso de canto volta a estampar o rosto dele. o encara, desconcertada.
  — Não, Jonathan, falei de todos os jogadores, todos do time, eu quis dizer isso. Convencido… — explica-se voltando a dar de ombros.
  — Entendo… — Calleri a puxa mais forte, encostando a virilha nela. Como está com o calção de treino, consegue sentir a excitação do jogador.
  — Jonathan, pelo amor de Deus… — ela segura o riso, olhando para os lados.
  — Vamos sair hoje — determina.
  — Eu tenho que-
  — Por favor, , sem compromisso. Vamos apenas jantar, tomar uns drinks…
  — Jonathan…
  — Vamos!?
  Calleri pisca para ela e lhe rouba um selinho. sorri, vencida, ela não quer compromisso sério, mas que mal havia em sair sem compromisso com o Calleri?
  Bom, a mente dela lhe dá vários motivos para não ir. Mas o coração dela diz o contrário.

Capítulo 7 – You make me

“Você me faz perder todos os meus medos
Você tem o que é preciso para me acalmar, então
Você me faz querer ficar aqui.”

– You Make Me, Jan Metternich –

  São Paulo x Santos, quarta-feira à noite.

  Uma noite de chuva na cidade, a partida entre os times paulistas está quase no final e o time da casa vence por 3 x 1. Calleri e Galoppo estão bem felizes, porque na noite anterior Nahuel Ferraresi tinha apostado com os dois que, caso eles marcassem um gol cada na partida de hoje, ele rasparia o cabelo. Calleri marcou o primeiro gol de cabeça e Galoppo marcou um de pênalti – o terceiro do São Paulo sendo marcado por Luan. Em sua casa, Nahuel está estarrecido pelos amigos terem marcado e também puto por isso, já que fez a aposta crente que venceria. Qual a probabilidade de um volante como Galoppo marcar um gol em uma partida? Apenas de pênalti. E foi justamente o que aconteceu.
  Antes do final, faltando apenas 15 minutos para o enceramento, Calleri sofre uma dividida forte, sendo atingido no rosto. Sentindo o sangue escorrer em seu rosto.
   está atrás do gol do Santos e viu todo o lance. Desesperada, ela corre até a linha lateral, onde Calleri é atendido ainda dentro de campo, e grita por ele. De longe ela não consegue ver direito como está o rosto dele, apenas vê boa parte coberta de sangue. A mulher não sabe o que fazer, sua vontade é entrar em campo e ajudar Calleri, mas sabe que não pode ou prejudicaria o time. Rapidamente a equipe médica estanca o sangue do ferimento e o cobre com um curativo. A partida reinicia e é encerrada quase 20 minutos após.
   tenta abordar Calleri na saída do campo, mas ele é cercado por jornalistas que, obviamente, querem saber sobre a falta que sofreu e se ainda está sangrando. Sendo vencida pela multidão de repórteres, a social media caminha até o vestiário. Calleri vê seu movimento louco para deixar os jornalistas falando sozinhos e ir atrás de . Cerca de 5 – intermináveis – minutos depois a entrevista pós-jogo acaba. Calleri passa a mão sobre o rosto suado enquanto caminha até o túnel de acesso ao vestiário. Ele passa pelos corredores internos, chegando finalmente na porta do vestiário, mas ele não entra.
  — … — ele a vê encostada na parede, os braços cruzados e a expressão de choro. O jogador se aproxima e a puxa para longe da porta, não quer que ninguém ouça a conversa deles. — Eu estou bem, não precisa chorar — ele enxuga o rosto dela que engole em seco.
  — Aquele idiota poderia ter cegado você — refere-se ao jogador adversário que atingiu Calleri.
  — Foi um lance de jogo, — solta um risinho, vaidoso pela preocupação dela.
  — Está sangrando — comenta ao ver o curativo manchado de sangue. — E está inchado, Jo!
  — É a adrenalina do jogo, quando o corpo esfriar, vai desinchar.
  — Está doendo agora? — cuidadosa, ela repousa a mão sobre o rosto dele, usando o polegar para acariciá-lo.
  — No mucho — diz com um sorriso contido. — , eu preciso falar algo importante com você — não gosta nadinha do olhar que ele tem agora.
  — Por Deus, o que aconteceu? — Por que eles sempre têm que iniciar a frase dessa forma?, pensa a mulher, lembrando-se do início da conversa com Rigoni antes de se despedirem.
  — Quer namorar comigo?
   poderia esperar qualquer coisa vinda da boca de Jonathan Calleri naquele momento, menos esse pedido. Namorar?! Por que isso assim tão de repente? O coração dela disparou, deixando-a com falta de ar.
  — Por-por que isso agora, Jonathan?
  — Eu voltei para o Brasil por isso — diz, abraçando-a e segurando seu rosto. — Voltei para te pedir perdão e reconquistar seu amor.
  — Jonathan… — fecha os olhos. — Por que agora? Justo… ah…
  — Te amo, mi amor, te amo — ele toma os lábios dela num beijo suave.
  — Não é o momento, Jo.
  — Por que não? Você não quer namorar comigo porque ama o-
  — Amo o Rigoni, mas como amigo — explica-se. — Confesso que, quando te vi de volta ao Brasil, fiquei mexida — a confissão faz o atacante sorrir. — Mas eu ainda me lembro do motivo do nosso término.
  — Lo siento por eso, mi amor — pede com um nó na garganta. — Sinto muito e estou arrependido.
  — Não duvido disso — Calleri volta a sorrir. — Mas minha mente ainda diz que não é uma boa ideia me relacionar sério com você.
  — Perdão por ter criado sem querer essa barreira em você — ele encosta a testa na dela, mantendo o olhar em seus olhos. — Só te peço uma chance.
  — Já te dei uma chance e você provou que me ama — ela sorri, levando uma mão ao rosto dele. — Me dá um tempo, pode ser?
  — O tempo que você precisar, linda.
  Ele volta a beijá-la com carinho.
  — Sei ser lento igual você adora — ele sussurra no ouvido dela, deixando-a encabulada.
  — Jonathan! Não faça isso em público, alguém pode ouvir — ela ri com a ousadia dele e se afasta de seu abraço.
  Calleri consegue esperar mais o tempo que for. Esperou por anos uma oportunidade de voltar ao Brasil apenas para reconquistar e consertar seus erros do passado, pode esperar mais alguns dias, semanas e até meses se preciso for. Mas, no fundo, ele torce para que sejam apenas algumas horas de espera.

[⚽]

  Agosto de 2023

  O São Paulo está na semifinal da Copa do Brasil, o jogo será contra o Corinthians e o jogo de volta está marcado para meados do mês. Faltam cerca de dez dias para esse jogo, mas os jogadores já vivem a ansiedade por ele, isso porque o time precisa reverter a vantagem adversária que é de um gol de diferença. O bom é que o jogo será dentro do Morumbi com o apoio de sua torcida.
  Já no Brasileirão, o time precisa de resultados ainda melhores para se afastar da zona perigosa do rebaixamento. O treino de hoje antecede a viagem para um dos dois jogos seguidos fora de casa. Dorival deu um intervalo de quinze minutos para os atletas se hidratarem um pouco.
  — Com licença, rapazes.
   se aproxima da rodinha de jogadores formada por Luciano, Rafinha e James, curiosamente os três com quem ela mais conversa no elenco. Eles fazem uma pose cada um para a foto que ela tira, todos sentados em cima de uma bola.
  — Senta aí um pouco, — convida Luciano, rolando a bola em que estava sentado na direção dela.
  — Hoje tá quente… — comenta Rafinha, jogando a água da garrafinha no pescoço.
  — Mucho — concorda James bebendo água.
  — Deve ser mais uma onda de calor — diz , ajeitando o vestido para sentar-se na bola.
  — Tá lindona de vestido, hein? — elogia Luciano, atraindo a atenção dos outros para ela, que fica rubra. — Ih, ficou com vergonha! — brinca ele, rindo.
  — Estas muy linda, — James tenta desviar a vergonha dela, sem sucesso. — Não ligue para ele, é doido — o jogador faz um sinal de loucura com uma das mãos, rindo.
  — Só se for pela minha esposa e filha — o atacante ri, se defendendo.
  — Tirando a parte zoeira, você está realmente linda nesse vestido, — endossa Rafinha em um tom mais sério. — Então, como vai seu braço? Se recuperando bem? — muda de assunto.
  — Um pouco dolorido a depender do movimento que eu faça, mas bem melhor do que antes — ela repousa a câmera no colo, as pernas coladas para não mostrar sua calcinha. Um pouco difícil já que seu vestido é na altura dos joelhos e não sobrou muito pano para cobrir quando ela se senta. — Consigo fazer algumas fotos.
  — Não deve se esforçar tanto — alerta James.
  — Lesão no ombro é foda — lembra Luciano uma lesão que teve no mesmo lugar no início de sua carreira.
  — Não é como se eu fosse prejudicar o time se eu não estiver aqui — ela diz, dando de ombros. — Não sou uma jogadora — ri ao fim da frase.
  — Quem disse que não vai prejudicar? — espanta-se Luciano. — Como acha que Calleri continua marcando muitos gols a cada jogo e ajudando o time? Por sua causa, gatinha.
  — Luciano! — repreende Rafinha, encarando o amigo com um olhar incisivo.
  — É sério, o cara tá voando em campo graças a e seu charme irresistível.
  — Quem tem charme irresistível? — Arboleda se junta ao grupo, sentando-se no gramado ao lado de Luciano.
  — .
  — Para, Lu, que exagero — mesmo com a pele escura, está com um rosado nas bochechas, claramente envergonhada.
  — Irmãzinha, ele tem razão, você é bem gata e irresistível — concorda Arboleda. — Sabe minha opinião sobre isso.
  — Robert, pelo amor de Deus! — dessa vez a repreensão vem da própria . Arboleda ri com a reação dela.
  — Diz aí, Arbo, o Calleri não tá mais goleador depois que voltou a falar direito com a ?
  — Hm, verdade, hein?! — o zagueiro faz um bico com os lábios, concordando.
  — Não notei se isso é verdade — inicia Rafinha —, mas o Calleri está mais feliz depois que vocês voltaram a se falar. Bom, depois do que rolou entre vocês.
  — Até você sabe disso, Rafinha? — está impressionada com o fato disso já ter virado uma fofoca entre os jogadores. O lateral confirma com a cabeça, rindo. — Meu Deus, seus fofoqueiros!
  — Ah, irmãzinha, o Calleri estava triste e queríamos saber o motivo. Foi isso — Arboleda sai em defesa do grupo exibindo a melhor cara de inocente que consegue.
  — Sempre inocentes… — ela estreita o olhar, balançando a cabeça para os lados.
  — , estamos só nós aqui, nos diga uma coisa — Luciano se aproxima mais de todos.
  — Mas se não quiser falar, não precisa, viu ? — reforça Rafinha.
  — Tudo bem, Rafinha — a mulher sorri. — Diga, Lu.
  — Você gosta do Calleri? — ela arregala o olhar, suspirando. — Prometo que não conto pra ele — o atacante sorri de canto, uma cara de quem não cumprirá o que diz.
  — Ele vai saber assim que eu sair daqui — diz . — Não vou te contar, fofoqueiro.
  — Você é má, — reclama ele e dá de ombros.
  — Está na cara que você gosta dele, irmãzinha — ri Arboleda.
  — E ele gosta de volta, — James se manifesta, chamando a atenção de todos. — Ele me disse que te ama, chica se cala, pensativa.
  — Pow, conheço o Calleri e realmente ele fica diferente quando está perto de você ou até quando fala de você, .
  — Ele fala de mim? — Rafinha solta o riso preso.
  — Pra caralho! Por que não dá uma chance pra um namoro?
  — Ah, não fala isso…
  — tem alergia a namorar jogadores, né, irmãzinha? — Arboleda suspende as sobrancelhas, ainda rindo. o encara com o olhar estreito.
  — Traumas? — Rafinha quis saber.
  — Podemos dizer que sim.
  — , se posso te dar um conselho nessa vida é que as oportunidades que ela dá para fazer as coisas diferentes são muito poucas — diz ele num tom filosófico. — Porra, a vida é curta, , aproveita. Você é jovem ainda, tem uma longa vida pra sonhar e aproveitar essas oportunidades é essencial.
  Os outros concordam com a fala do lateral e não diz nada, apenas acena com a cabeça e vê o assistente técnico chamar todos para retornarem ao treino. A mulher se despede dos amigos e pensa nas palavras de Rafinha enquanto registra algumas imagens para os vídeos de bastidores da semana. Antes do final das atividades, Calleri machuca o dedo de uma das mãos, tendo que enfaixá-la e passar por exames pra saber se não houve fratura. Mal havia se recuperado do machucado no rosto e ganhou outro na mão.
  Vida de jogador era assim, afinal.

  Dois dias se passam.
  Normalmente não acompanha a delegação em viagens para fora do estado de São Paulo, mas dessa vez ela pediu para ir no lugar de um de seus assistentes apenas para registrar os bastidores do jogo. Ah, claro que Calleri ficou feliz com isso, tanto que não deixou tirar nenhuma foto depois que desembarcaram em Curitiba para o confronto contra o Athletico. Neste instante, os dois estão no fundo do ônibus aos beijos. Sorte que a luz interna foi desligada assim que saíram do aeroporto.
  — Eita, tamo chegando no hotel, né?
  O aviso de Luciano foi um claro sinal para o casal parar de se agarrar e controlar-se por alguns instantes. senta no banco ao lado, dando um assento de distância para Calleri, e recompõe-se. Como é difícil para ela se manter longe do jogador. A atração e sentimentos são atrativos demais para serem ignorados por ela. Mas, no fundo, ainda tem aquele velho medo dele ir embora para outro país.
  Sempre haverá esse medo.
  Cada um foi para seu quarto, Calleri ainda tentou ludibriar os seguranças do clube e trocar de lugar com Nestor, deixando assim o caminho livre para dormir com ele. Mas não deu certo, para infelicidade dele e alívio da moça. Claro que não resistiria dormir no mesmo quarto que Calleri sem se entregar pra ele.
  Como já foi dito: ela não resiste a ele.
  No dia seguinte, já na Arena da Baixada, estádio do Athletico, o jogo começa intenso com chances para ambos os lados – com um destaque ao time da casa que perdeu duas chances claras de gol, uma delas defendida brilhantemente por Rafael. Calleri tenta marcar logo em seguida, mas o juiz marcou impedimento. A mente do atacante calcula seus próximos passos para marcar um gol, ele precisava marcar um gol, já que fazia parte de seu plano. Ele tinha combinado com os companheiros de time que, se fizesse gol hoje, eles o ajudariam em seu pedido de namoro para . É, ela está mais flexível, vem deixando Calleri se aproximar mais mesmo tendo pedido um tempo para pensar. O jogador sente que ela aceitará dessa vez caso seja pedida.
  Então, é isso que ele fará.
  Ele está jogando com a mão imobilizada devido à contusão que teve no treino de dois dias atrás. Não houve uma fratura, apenas uma luxação no dedo mindinho. Por prevenção, ele está jogando com a mão enfaixada. está atrás do gol atacado pelo São Paulo, como costuma ficar quando cobre os jogos, e vê de camarote Calleri marcar um gol de cabeça.
  1x0
  O atacante corre para comemorar com os companheiros e grita para eles.
  — Preciso de vocês mais tarde, por favor! Fiz minha parte, hein, putos?!
  Todos riem, concordando em atender ao pedido do amigo.
  Minutos depois, outro gol de Calleri. 2x0. Explosão da torcida do São Paulo que ocupa a área do visitante. Dessa vez, ao invés de comemorar apenas com os companheiros de time, o jogador corre até onde está e solta um beijo para ela usando as mãos, sorrindo feliz por ter marcado o segundo gol da vitória do time. Mesmo envergonhada pela demonstração de carinho dele em público, segue firme e continua filmando os lances perigosos do São Paulo.
  Após o fim da partida, Luciano e Calleri ficam em campo para dar entrevista enquanto os outros correm para o vestiário para se prepararem rapidamente para a surpresa. O jogador pensou em algo bem simples e até brega na opinião de muitos – Luciano é um deles. Apesar de quando pediu opinião de sua esposa, ela adorou a ideia de Calleri e aprovou dizendo que adoraria também –, mas que ele crê que dará certo. percebe que Luciano e Calleri estão deixando o campo, desligados com o que ocorre em volta e nem ouvem o chamado dela. Ambos se controlam para não rir, ignorar ela faz parte do plano. Os dois correm pelo túnel adentro e chegam ao vestiário. Está tudo pronto. Até Dorival entra na brincadeira.
  Quando entra no vestiário destinado ao São Paulo, tem uma enorme surpresa.
  — Meu Deus, o que é isso?
  Cada jogador ainda está com seus uniformes, menos Ferraresi que está com roupa normal já que ainda se recupera, e cada um segura uma plaquinha com os dizeres: , aceita namorar o Calleri? <3”. Em meio a eles está Calleri, com o uniforme suado de jogo, encarando a mulher.
  — — diz ele, após os outros pararem de gritar, principalmente Ferraresi e Luciano que estão animadíssimos. — Sei que errei muito com você no passado. Não justifica nada eu ter feito o que fiz com você, mas em 2016 eu tinha uma outra mentalidade. Hoje em dia eu penso diferente, penso em formar uma família e ter ao meu lado uma pessoa com quem posso contar e com quem ela também possa contar comigo para o que precisar — os olhos marejados dela o encaram, os lábios tremendo. — E eu quero que essa pessoa seja você, mi amor. Mas entenderei caso não queira namorar comigo, eu também não ia querer — ele ri bem-humorado. — Bom, eu não sei mais o que dizer para te convencer do meu amor e te provar que eu mudei, sou um homem maduro e que-
  Calleri é bruscamente interrompido pelo beijo avassalador dado por . Beijo esse que desperta os gritos de todos os jogadores e comissão técnica que vibram em comemoração. Aquele beijo é um “sim”.
  — Você aceita? — indaga ele, confuso e ofegante.
  — Ainda tem dúvidas, Jonathan? Achei que tivesse sido clara — sussurra.
  — Vou precisar de mais confirmações mais tarde.
  Ele sorri safado e a beija novamente.
   ainda tem medo, sempre terá esse receio de haver uma proposta para que Calleri deixe o São Paulo novamente e vá para qualquer lugar do mundo. Mas, agora o que a mulher quer é aproveitar a chance que a vida está te dando de viver novamente o amor do passado.
  Definitivamente é um sim.

Capítulo 8 – Columbia

Entre beijos, ela ficava brava
Deixou escapar um eu te amo, quem não queria nada.”

– Columbia, Quevedo –

  Dois dias se passam e a festa de aniversário do Galoppo chega.
  Ele está promovendo uma festa em sua casa e convidou todos seus amigos de clube e os que fez durante o tempo em que está na cidade. Em pouco tempo de aceite do pedido de namoro de Calleri, já está incomodada com as especulações de que ele esteja namorando. E o alvo é uma das filhas de um milionário famoso da cidade de São Paulo. Estes boatos deixam aborrecida, mas ao mesmo não sabe se deseja expor que ela é a namorada do jogador. Não saberia lidar com tal exposição.
  O casal chega à casa do amigo, sendo recepcionado pelo anfitrião.
  Poucos minutos foram o suficiente para criar-se uma tensão no ar.
   e Calleri dançam perto do sofá da grande sala de estar da casa de Galoppo quando a mulher percebe algo.
  — Tudo bem, mi amor? — questiona o jogador ao notar que ela franzia o cenho toda vez que olhava para determinada direção atrás dele.
  — Acho que sim — ela franze o cenho mais uma vez. Intrigado, Calleri vira o rosto olhando na mesma direção que ela.
  — Algo está te incomodando, , diz logo o que é? Lembra sobre o que conversamos… — o casal havia combinado de externar seus incômodos um com outro, evitando brigas futuras.
  — Tem um… bom, tem um homem tirando fotos nossas. Eu acho — finalmente diz o que a incomoda e Calleri volta a olhar para trás, procurando o tal fotógrafo. — Acho que ele saiu.
  — Tem certeza? — diz ele ainda olhando para trás, ambos abraçados.
  — Ah, olha ele — ela aponta para um homem que mexia de maneira suspeita em uma pochete amarrada em sua cintura.
  — Vou lá ver o que está havendo.
  — Jo, não precisa!
   tenta mantê-lo perto dela, mas Calleri escapa, caminhando na direção do fotógrafo. A social media vai atrás do namorado.
  — Está tirando fotos nossas? — Calleri cutuca o ombro do outro, que se vira para encará-lo.
  — Não, imagina, Calleri — ele ri sem jeito.
  — Jo, calma — pede , alcançando ele.
  — Minha namorada te viu tirando fotos nossas — revela. — No seas cobarde! — irrita-se o atacante, já inflamado pelas últimas 48h quando teve que lidar com muitas ligações, mensagens no Instagram e especulações infundadas sobre um possível namoro com alguém que ele nem conhece. — Anda, diga!
  — Jo! — puxa os ombros dele, ficando nas pontas dos pés para alcançar o local.
  — Achei que estava namorando a-
  — Eu nem conheço aquela mulher! — brada, chamando a atenção de alguns convidados da festa. — Apague as fotos que tirou! — exige.
  — Mas eu-
  — Apague! — diz de maneira mais firme.
  O fotógrafo retira de dentro da pochete uma pequena câmera digital, liga e mostra para Calleri e as fotos que tirou deles dois abraçados enquanto dançavam, em todas eles estão sorrindo e em algumas se beijando. Após apagar as fotos, o paparazzi é expulso da festa. Galoppo pede desculpas pelo inconveniente, não sabe como esse homem se infiltrou em sua festa, ficou bem chateado com isso. Mas, a que mais se abalou foi .
  Então é assim namorar um jogador famoso?
  Na época que namorou Calleri, em 2016, se lembrava que era tranquilo, mal falavam dele ou de seus relacionamentos externos ao clube. Apenas comentavam sobre sua evolução como jogador e as especulações de uma possível transferência, que acabou acontecendo. O que gerou a separação do casal.
   não sabe se está preparada para aguentar tanta pressão da imprensa que hoje parece estar mais focada na vida pessoal dos jogadores do que em suas carreiras profissionais.

  No final de semana seguinte o São Paulo joga contra o Atlético/MG, na Arena Independência, e está sendo uma tarde inspiradora para Calleri. Até agora, metade do primeiro tempo, ele já teve quatro grandes chances de marcar que foram impedidas pelo goleiro adversário. O atacante está sedento por um gol, ele quer comemorar demonstrando seu amor por . Claro que ela não sabe disso, pois senão o proibiria de fazer. Ela tem vergonha de demonstrações públicas de amor. Ainda mais quando é na frente de um estádio lotado.
  Para a felicidade da torcida do São Paulo, e principalmente de Calleri, o atacante recebe uma bola alçada na área, marcando um gol de cabeça.
  1x0.
  Ele sai correndo, sendo seguido por alguns companheiros de equipe, e vai diretamente para parte atrás do gol onde fica a imprensa. E é também onde está. Ele a puxa, sem pular as placas de publicidade, e dá um beijo em sua boca na frente de todos.
  — Te amo!
  Ele diz no ouvido dela antes de correr para abraçar os amigos. Os repórteres ao lado de imediatamente quiseram saber quem ela era. Envergonhada e sem a mínima vontade de responder perguntas de gente inconveniente, a mulher deixa o local, sua intenção era voltar para o vestiário, mas Marcão diz que ela pode ficar ao lado do banco já que está com um crachá que libera seu acesso a lugares além do que o crachá de “imprensa” lhe daria. Escondida, sentada no banco de reservas, se encolhe no próprio corpo, cobrindo o rosto para caso alguma câmera esteja apontada para ela.
  2x0.
  Mais um gol de Calleri, dessa vez de pênalti.
  O segundo tempo começa e com ele volta a pressão Tricolor. Logo o terceiro gol nasce, mais um do atacante argentino que, nas três comemorações, fez questão de demonstrar seu amor por .
  3x0.
  Na última, ele corre até a câmera e grita:
  — Mi amor, te amo, te amo, mi vida!
  Ninguém entende para quem exatamente ele se declarou. Talvez para a mulher misteriosa que ele beijou depois do primeiro gol? Talvez. Mas ainda era um mistério.
  Após a partida, Calleri corre o olhar pelo banco de reservas e não encontra . Ri sozinho e tira a camisa, trocando com outro jogador do time mineiro.
  — Calleri! Calleri! — chama um repórter, sendo acompanhado por um câmera.
  — Sí…
  — Como foi o jogo pro São Paulo hoje, conta um pouco se sentiu dificuldade para marcar os gols, Calleri?
  — Ah, foi um jogo difícil. Fora de casa sempre é difícil para jogar, mas acho que a equipe jogou bem e… conseguimos concluir as jogadas da melhor maneira e sair daqui com os três pontos, é o mais importante — ele já ia saindo, mas o repórter dá um passo para o lado, impedindo-o.
  — Você marcou três gols hoje, parabéns — Calleri sorri, agradecido. — Aqui no Brasil temos uma tradição de que todo jogador que marca três gols em uma partida tem o direito de pedir uma música para o Fantástico — o atacante ergue as sobrancelhas, surpreso. — Como você marcou hoje, qual música você escolhe?
  — Nossa, legal… ahh.. deixa eu pensar um pouco — Calleri pensa em várias músicas que signifiquem o sentimento que tem por . Ele aproveita o momento para se declarar. — Bom, eu escolho uma música de um cantor brasileiro que canta em espanhol. Tu nombre es Esteban. E a música é As terças podem se inverter.
  — Bacana! Vamos tocar essa então — aproveitando do momento com o jogador, o repórter tira uma dúvida de todos. — E, Calleri, quem é aquela moça que você beijou? Sua namorada? A música é pra ela?
  — Si, es mi novia — confirma a informação com um sorriso bobo.
  — Os gols foram pra ela? — o repórter também sorri.
  — Sim, todos os meus gols são pra ela. Todos. Siempre.
  — Qual o nome dela?
  — . Mi amor, te amo!
  Calleri solta um beijo com as mãos na direção da câmera e sai dali, indo direto para o vestiário. Ele não sabe se essa entrevista é ao vivo ou se apenas uma gravação, mas já está pensando na desculpa que irá dar a por ter revelado o namoro deles sem o consentimento dela. Bom, em algum momento iriam saber, não é?

[⚽]

  Finalmente o segundo jogo da semifinal contra o Corinthians chegou e a tensão veio junto de brinde.
  Para descontrair o próprio nervosismo, Calleri apareceu para treinar, dois dias atrás, com os cabelos platinados. confessa que adorou vê-lo com uma nova cor de cabelo, disse, no momento de intimidade do casal, que o atacante está muito gostoso e que sentirá ainda mais ciúmes, já que as fãs dele já estão enlouquecidas com o novo visual do ídolo.
  A inquietação prosseguiu quando o início da partida. Houveram chances nos primeiros dez minutos. Aos 12, Wellington Rato pegou uma bola no meio campo, correu, cortou para a esquerda e chutou.
  1x0.
  O golaço de fora da área deixa o Morumbi em festa. comemora junto com Ferraresi e Galoppo, que não estão jogando, Ferraresi se recuperando da lesão e Galoppo não foi escalado por estourar o limite de estrangeiros na escalação. Os amigos abraçam , felizes com o gol do volante e gritam na direção da torcida, pedindo mais incentivo.
  Os próximos minutos são tão intensos quanto os que passaram. E, aos 31, Lucas marcou de cabeça.
  2x0.
  Mais uma vez é abraçada por Galoppo e carregada por Ferraresi que está bem empolgado com o jogo. A mulher ri ao ser colocada novamente no chão e grita empolgada, vendo Lucas comemorar com a torcida.
  O segundo tempo começa. Calleri perdeu dois gols, que seriam lindos, mas em compensação deu duas assistências perfeitas que pararam no goleiro do Corinthians. Perto do fim do jogo, vai até o banco de reservas do São Paulo e começa a gravar a reação dos jogadores pedindo o fim do jogo. Faltam apenas os acréscimos. 8 longos minutos que se resumiram em chances perdidas de ambos os lados e uma grande defesa de Rafael no último minuto.
  E aí, o jogo acaba.
  O Morumbi explode em gritaria e alegria.
  Todos os jogadores invadem o campo para comemorar. se deixa levar pelas lágrimas de alegria e nem consegue entrar em campo. Só desperta quando é abraçada por Luan.
  — Vamos pra final, !!! Vamos, vamos!!!
  Ele grita enquanto carrega ela e a põe de volta no chão. Ela olha pro campo e vê Galoppo e Ferraresi correndo e abraçando alguns companheiros. Olha em volta e vê a arquibancada comemorando. Que atmosfera linda. está emocionada demais e só consegue chorar. A mulher caminha devagar para dentro do campo, procurando Calleri, quer muito abraçá-lo agora. No caminho, encontra alguns membros da comissão técnica, sendo abraçada por eles; o presidente do clube, Casares; e alguns jogadores titulares e reservas. Até que finalmente ela o vê abraçado ao Nestor.
  — Jo…
   corre gritando por ele. O barulho de quase 60 mil pessoas gritando dificulta que Calleri a ouça, mas não o impede de vê-la. Seu rosto se ilumina ao observar a figura de correr na direção dele. Rapidamente o jogador livra-se de Nestor, o deixando na companhia de Arboleda, e corre na mesma direção da namorada. Quer tanto abraçá-la, beijá-la e…
  O encontro acontece e o beijo também.
  Ambos estão intensamente emocionados com a conquista do time de passar para a final da tão sonhada Copa do Brasil e, mais ainda, em poder compartilhar tal sentimento, como também torcedores do clube, juntos. O casal se beija, agarrada no pescoço de Calleri, enquanto ele a sustenta no ar, envolvendo seus braços na cintura da mulher. Após o beijo, agradece a ele pela ajuda no feito da classificação e pela entrega ao time. Calleri está tão feliz, tão realizado por tudo que vem acontecendo que nem se importa que, literalmente, o estádio inteiro possa vê-los. Ele carrega no colo, ela entrelaçando as pernas nas costas dele, e volta a beijar a namorada, mas de um jeito mais ardente que antes. Calleri não liga mais se vejam ou não, quer apenas matar seu desejo por , na frente de todo o Morumbi.
  Mas a vergonha de não o deixa prosseguir.
  A social media o interrompe dizendo que é melhor eles terminarem depois, à sós. Então, Calleri a põe no chão, tentando disfarçar sua ereção visível em seu calção branco. Aos risos, o casal circula pelo gramado ainda comemorando a classificação, esse percurso dura mais ou menos vinte minutos até que todos se despedem e vão para suas casas. Está na hora de ficarem a sós finalmente.
  A casa de Calleri vem sendo frequentada por agora que estão namorando, mas é a primeira vez que a mulher entra na mansão com um sentimento intenso e transbordante em seu peito. Calleri beija seu pescoço, agarrando suas costas, ao mesmo tempo que eles caminham, ela de costas tentando se equilibrar e ele avançando assim como faz quando ataca o gol adversário. sente um arrepio lhe percorrendo, assim como ocorreu quando o juiz apitou o fim da partida de mais cedo, porém, mesmo adorando e querendo mais desse arrepio, ela quer interrompê-lo. Precisa falar algo que entala sua garganta, e seu coração, desde que aceitou o pedido de Calleri.
  — Jo — chama ela, tentando afastá-lo com as mãos. — Jo, eu preciso te dizer algo — avisa, empurrando um pouco os ombros dele sem sucesso. — Jonathan… — insiste, ainda o empurrando. — Só um minutinho, Jo…
  — Que houve, mi amor? — diz ele, quase sussurrando sem fôlego. segura o rosto dele, os olhos brilhando.
  — Eu te amo, Jo — Calleri a encara, incrédulo. É a primeira vez que se declara pra ele desde que o jogador retornou ao Brasil. A última havia sido uma noite antes deles discutirem e terminarem o namoro. — Te quiero, cariño — reforça ela, em espanhol.
  — Amor…
  — Nunca deixei de te amar, Jo.
  Ele pende o rosto para frente, emocionado, e o tem sustentado pelas mãos de , que o beija suavemente. Ainda emocionado, o jogador se deixa levar pelos lábios envolventes da namorada enquanto eles voltam a caminhar sala adentro. Então, Calleri se empolga, intensificando o beijo em . Gemendo com os apertos em locais estratégicos, a mulher tenta tirar a camisa de Calleri que só interrompe o beijo para livrar-se da camisa, retomando o indecente encontro de lábios. Eles sobem até a suíte, onde nem deixa Calleri fazer o que planejou durante a subida das escadas. Ela o empurra na cama, ofegando pelo beijo, e sorri ao pegar o celular.
  — Que pása, ? — indaga ele, confuso e sedento por voltar a agarrá-la.
  — Já vai saber, Jonathan.
  Se limita em dizer, voltando sua atenção à tela do celular, rolando o dedo pelo Spotify até finalmente achar a playlist que deseja. Conecta seu celular á Alexa e dá play na música. Ao reconhecer os primeiros acordes da melodia, o jogador sorri largamente, agora entendendo a intenção de .
  De maneira sensual, mexe o corpo conforme a música, ao mesmo tempo em que se despe a começar por sua blusa. Faz anos que ela não fazia isso pré-transa com Calleri. Desde que terminaram em 2016. Era a melhor parte para o jogador: ver sua namorada dançar pra ele e que infelizmente ele perdeu quando foi egoísta no passado. Porém agora, ele tem isso de volta, precisa aproveitar – por mais que seu desejo por tomá-la em seus braços tente vencê-lo. A música tem apenas 4 minutos, mas para Calleri é uma eternidade, uma linda e sensual eternidade. já está nua e caminhando na direção da cama. Durante a dança, o atacante também se despiu, aproveitando a deixa. Já está pronto para recebê-la na cama. engatinha com o olhar fixo no namorado. De onde está já consegue ver o pau dele ereto e sorri com o fato. Provocadora como sabe ser, junta as pernas de Calleri uma na outra, o forçando a ficar assim, para que se sente no colo dele. Sem ter o pau do namorado introduzido em si, a mulher apenas rebola em cima dele, causando o efeito esperado: Jonathan Calleri gemendo.
  Ele adora quando ela faz assim o provoca dessa maneira. Ainda assim, Calleri não resiste em executar seu pensamento. Lento, como ele gosta de ser, o jogador sobe sua mão pelas costas de até chegar na nuca dela, puxando seu cabelo. A mão agarrada nos cachos e o puxão firme que ele dá, faz gemer. Os olhares se encontram. O dele diz para ela sentar de verdade. no colo dele. O dela diz que o ama e está tão sedenta quanto ele. Atendendo ao pedido silencioso do atacante, ergue o quadril, tendo a nuca puxada por ele, e segura o pau de Calleri, colocando-o em sua entrada e encaixando. Devagar a mulher desce o corpo até que se senta totalmente no pau dele. Satisfeito, Calleri deixa comandar, ainda que ele não a deixe totalmente livre, sua mão ainda puxa os cabelos da namorada.
  Minutos depois, está quicando em seu colo, ganhando ritmo suficiente para sentir suas pernas estremecerem. Seu orgasmo está próximo e ela sabe disso. Calleri também sabe e é por isso que ele puxa o pescoço de para o lado e encosta seus lábios no pescoço dela, chupando o local vigorosamente.
  — Ah, Jo, não…
  Por mais que ela diga que não, quer isso. Ela sabe que os chupões de Calleri em seu pescoço enquanto está prestes a gozar a deixa mais animada, mais prazerosa, mais atiçada a chegar ao seu prazer. E não deu outra. Fazendo movimentos lentos com o quadril, Calleri auxilia a quicar em seu pau, os lábios pressionados no pescoço dela, succionando fortemente empolgado com os gemidos da namorada. Até que goza e abraça com força o pescoço dele, fincando as unhas no ombro do jogador. Só quando sentiu que ela gozou, foi que Calleri parou de sugar o pescoço dela, certamente está com uma marca.
   terá que usar sua blusa de gola alta amanhã.

Capítulo 9 – Mi nena

"Oh, ah, diabo, mamãe
Oh, eh, você nasceu para mim
Ah, sim
Se isso fosse um rascunho, você seria a primeira escolha
Não sei se te encontrar foi uma questão de sorte
Adivinhar seu sotaque, querida, não é meu ponto forte.”

– OA, Anuel AA feat. Quevedo, Maluma –

  ! Mi nena, donde estás?
  Grita Calleri entrando na sala da própria casa.
  Ele havia saído pela manhã logo cedo e deixado dormindo, deixou apenas um bilhete dizendo que voltaria logo. Passa das 13h.
  ! Corre aqui na sala, rápido, mi amor!
  Segue gritando com a voz empolgada. desce as escadas, preocupada com a agitação repentina do namorado e, quando chega à sala, se depara com a cena mais adorável que viu até hoje.
  — Jo, de onde veio esse filhotinho? — o jogador está segurando um filhote de Spitz Alemão da cor canela, o pequeno tem aproximadamente dois meses.
  — Trouxe para nós, mi amor — diz o atacante, chamando a namorada para mais perto. se aproxima, sentando ao lado dele no sofá.
  — Tão fofinho, amor — ela faz carinho no cachorrinho que reage lambendo a mão de . — Awn, já tem nome?
  — Sí! Jokic!
  — Por causa do Nikola? — indaga referindo-se ao jogador sérvio de basquete Nikola Jokic.
  — Te amo porque é muito esperta, mi amor — Calleri estica o pescoço para selar seus lábios aos de e ouve um resmungo do pequeno Jokic. — Você também ganha beijo, hijo — ele beija a cabeça do cachorro e ri da cena.
  — Por isso você demorou — deduz a social media.
  — Fui buscá-lo com a moça e aproveitei para comprar algumas coisas pra ele. Estão no carro — diz ele, brincando com Jokic.
  — Te ajudo a arrumar tudo — sorri com a felicidade do namorado. — Agora, vai tomar banho, daqui a pouco começa o jogo e você tem me ajudar na cozinha — avisa, levemente autoritária, recebendo o olhar pidão de Calleri.
  — Ah, , só mais um pouco — o jogador recebe uma lambida de Jokic e volta sua atenção para o cãozinho.
  — Jonathan…
  — Ah, não, Jonathan não, mi nena…
  Calleri joga a cabeça na altura do peito de e esfrega os cabelos no local, assim como um gato. A mulher ri e segura a cabeça dele, empurrando. Vencido pelo argumento do que farão pós-jogo, o jogador se anima, levantando do sofá e deixando Jokic no chão para conhecer a casa enquanto toma banho.
  O casal vem combinando a semana inteira em assistir o grande clássico de hoje. Nada relacionado ao São Paulo, mas sim a outra paixão dos dois: Boca Juniors. O time argentino foi, literalmente, o elo que uniu os dois há oito anos lá em Buenos Aires.
  — Jo, me ajuda aqui — pede , após o namorado aparecer na cozinha já de banho tomado e os cabelos loiros ainda molhados.
  — Inventando arte, ? — diz Calleri retoricamente ao ver quase pendurada no balcão para alcançar o armário mais alto.
  — Pare de me criticar e me ajuda aqui, Calleri — o jogador abraça as pernas dela, mordendo a coxa direita de . — Jonathan! — ela reage puxando a perna para longe da boca cheia de dentes do namorado. — O cachorro aqui é o Jokic.
  — Eu também mordo, querida — ele ri, ajudando a descer carregando ela no colo e a pondo no chão. — Tem uma escada no quarto dos fundos, amor — avisa, dando um beijinho nela. — O que quer lá em cima?
  — Aquelas travessas maiores que eu sei que você tem aqui. Preciso pra assar a lasanha.
  — Hmm, acho que estão em outro lugar — ele começa a procurar nos armários mais baixos, parando brevemente para brincar com Jokic que está na cozinha fazendo companhia para . — Aqui, achei — Calleri puxa de dentro do armário perto da pia uma travessa de vidro comprida. — Serve?
  — Perfeita, amor, obrigada! — ela devolve o beijinho nele, pegando a travessa e indo até a pia.
  — Amor… — chama Calleri, recostando-se no balcão. joga os cachos para o lado da cabeça, tirando-os de seus olhos, e encara o namorado. — Lembra de quando nos conhecemos? — solta uma risada, sorrindo em seguida.
  — Há oito anos naquele bar em Buenos Aires — responde com a resposta na ponta da língua.
  — Estava tão linda naquele dia — Calleri encara que desvia o olhar da pia, voltando-o para o namorado. — E gostosa — os dois riem.
  — Meus seios também, né? — relembra o fato do jogador ter secado os seios dela com o olhar.
  — Siempre — concorda com um sorriso safado nos lábios. Ele se aproxima de , abraçando-a por trás enquanto ela lava a travessa. — Era um jogo como esse, você estava tão brava, me fascinou — ele dá um beijo no pescoço dela.
  — Gosta de mulheres estressadas vendo futebol, né, seu safado? — brinca a social media, rindo e se encolhendo com o beijo.
  — Adoro ver você assistindo futebol, mi amor — sussurra, arrancando outro arrepio de . — Hoje teremos a versão enlouquecida vendo Boca e River? — Calleri devolve a brincadeira, afastando-se dela e pegando um pano de prato para enxugar a travessa.
  — Se os jogadores não colaborarem, teremos sim — concorda ela, rindo.
  — Minha segunda versão favorita sua.
  — Qual a primeira? — pergunta, curiosa.
  — A que está toda sexy em cima de mim, me dominando.
  — Jo… — ela sorri sem jeito.
  — Mi nena — “meu bebê”.
  Calleri também sorri, não pode negar a felicidade em estar com . Para ele, ainda é um sonho ela o ter aceitado de volta. Lhe resta merecer esse amor.

[⚽]

  Mais um jogo fora de casa pelo Brasileirão, o adversário da vez é o América-MG no estádio Independência. Em poucos minutos de partida o São Paulo já toma sufoco do adversário e tenta suprir a pressão. Calleri está inspirado e, sempre que tem oportunidade de marcar, ele tenta, mas o goleiro do América está numa noite mais inspiradora que a do atacante que teve bons motivos para estar feliz e inspirado. Seu namoro com está melhor a cada dia, definitivamente ambos superaram o clima tenso que o término de 2016 deixou neles e apenas aproveitam a vida junto agora com um pet para cuidar.
  Com o decorrer da partida, a pressão feita pelo América surtiu efeito e o time mineiro abriu o placar, ampliando minutos depois ainda no primeiro tempo. No segundo tempo, a responsabilidade de gol passou para o São Paulo que só conseguiu aproveitar a oportunidade no final da partida com a entrada de Alexandre Pato que foi o autor do gol Tricolor. Mas não foi o suficiente. O São Paulo perdeu por 2x1. Os jogadores saem de campo frustrados com o desempenho que tiveram, principalmente Calleri que é sempre o mais frustrado em casos assim. Porém,o descontentamento dos jogadores é ofuscado por um início de confusão na saída deles de campo. Calleri é um dos últimos a sair e vê de longe uma grande movimentação da entrada do caminho que leva aos vestiários do estádio. De um lado uma grande concentração de seguranças com roupas pretas com o símbolo do clube da casa, todos bravos por algum motivo desconhecido. E de outro a comissão técnica do São Paulo e alguns jogadores tentando acessar o vestiário. Calleri, Luciano e Rafinha se afastam e aguardam a confusão cessar.
  — Que confusão, cara — comenta Luciano com o pé apoiado na placa de publicidade que rodeia o campo.
  — Me admira você não estar lá — solta Rafinha, risonho.
  — Porra, cara, eu não sou tão brigão assim, vai. Sou, Calleri? — instiga o atacante, fazendo o companheiro o encarar.
  — Quando o assunto é confusão você é bem cotado, Luci — brinca o argentino.
  — Estou sem moral alguma — Luciano emburra, mas acaba rindo segundos depois.
  — Ah, quero tirar a roupa, preciso tomar banho — diz Calleri de maneira esporádica.
  — Quer ficar cheiroso logo pra encontrar a , né safado? — Luciano devolve a brincadeira, acendendo uma preocupação no argentino.
  — Onde está a ? — indaga ele em tom preocupado e em alerta. Seus olhos se direcionam para a direção da confusão que segue encalorada e, a cada vez, com mais gente envolvida.
  — Ela não estava atrás do gol? — diz Luciano também em alerta.
  — Eu a vi saindo de lá — comenta Rafael, goleiro do São Paulo, que se junta ao grupo.
  — Por Dios… — Calleri ameaça ir atrás dela, mas é impedido por Rafinha.
  — Calma, Jo, ela deve estar bem — ele põe a mão sobre o peito do atacante, empurrando levemente seu corpo para trás. Luciano se desencosta da placa e fica perto de ambos.
  — Deve estar? Não, eu preciso ter certeza disso, hã! — nervoso, o atacante se livra de Rafinha e vai na direção da confusão.
  Ao mesmo tempo, tenta negociar com os seguranças para que liberem a entrada da comissão junto com os jogadores ao vestiário. Até o momento não ficou claro qual o motivo do impedimento e apenas ouvem gritos dizendo que eles não irão passar. A social media tenta falar mais alto que o segurança que está próximo a ela, mas ele não aparenta estar tão solícito a escutá-la e apenas lhe dá leves empurrões. Em dado momento, o clima tenso do ambiente fica tão aflorado que a paciência do segurança se esvai e ele empurra firmemente para longe dele fazendo-a desequilibrar, mas não a faz cair.
  — Oh, cara, nao precisa disso! — grita ela, irritada com o empurrão.
  — Já falei pra sair! — o segurança berra de volta, empurrando-a novamente e, na confusão de corpos em volta, acaba errando o local do empurrão e atinge o rosto de .
  — Irmãzinha! — Arboleda aparece, após se infiltrar por entre as pessoas, e soca o tórax do segurança. — Ficou maluco!? Não encosta nela!
  — Arbo, calma — pede a mulher, tentando segurar o amigo. — Arbo!
  — Desgraçado, covarde! — Arboleda se enfurece e começa a trocar socos com o segurança, mas logo é retirado da confusão por Marcão, chefe de segurança do São Paulo, que consegue intervir a tempo.
  — Sai, Arboleda, sai — ordena ele, empurrando o atleta.
  — Esse imbecil bateu na !
  A frase é ouvida por Calleri que chega bem na hora. Seus olhos se arregalam e seu único instinto é ir diretamente bater no agressor de sua namorada. Porém, a imagem de com a mão no rosto o faz parar e ir acudi-la.
  — Mi amor, mi amor… — ele a puxa para o lado no momento que explode uma grande briga que ninguém sabe quando e nem quem começou. — Venha, venha!
  Marcão isola os atletas e no canto perto da entrada do túnel e protege-os de qualquer coisa. Da mesma maneira que começou, a confusão cessou com a chegada da polícia. Mesmo com tudo terminado, algo dentro do atacante ainda grita. Ao identificar o agressor de , ele vai ao seu encontro, vencendo a barreira feita pelo corpo de Marcão.
  — ¡Mierda! ¿Quién crees que se supone que debe golpear a mi novia, eh? ¡Bastardo! ¡Pégame si te atreves! Maldito bastardo, te mataré si la vuelves a tocar, ¿eh? ¿¡Me escucha!? ¿eh? Bastardo!
  (Seu merda! Quem pensa que é para bater na minha namorada, hein? Seu desgraçado! Bate em mim se tiver coragem! Seu desgraçado de merda, eu vou acabar com você se encostar nela de novo, hein?! Está me ouvindo!?)
  De tão possesso de raiva que está, Calleri não percebe que brada em outro idioma que, possivelmente, o segurança não entende. e Marcão o tira dali e ele é levado pela namorada para o vestiário.
  — Aquele merda, desgraçado! Ahhhh! — grita o atacante ainda raivoso pelo que aconteceu com . — Você está bem, mi amor? Diga-me, hã? Não minta pra mim.
  — Sim, estou, fica calmo, Jo — ela pede, aflita pela aflição dele e recebe um abraço apertado.
  — Tá tudo bem, ? — pergunta Rafinha ao chegar no vestiário seguido pelos demais, todos exaustos.
  — Sim e vocês? — devolve a pergunta.
  — Todos bem — o lateral se afasta após confirmar a integridade da amiga.
  — Deixe-me te ver, mi amor, deixa eu te ver — Calleri se afasta da namorada e segura o rosto dela com cuidado.
  — Estou bem, Jo — reforça.
  — ¿Que es eso, eh? — ao falar, deixou a mostra seu lábio inferior e o ferimento que há nele. — Está sangrando, amor — ele usa o polegar para abaixar um pouco o lábio dela, deixando mais visível o pequeno ferimento que segue sangrando. — Aquele-
  — Jo, não foi nada demais.
  — Não o defenda, !
  — Não estou defendendo, ele foi errado, eu sei, mas já passou. Não quero que fique nervoso e nem que o agrida — esclarece sua preocupação com a raiva do namorado.
  — Minha vontade era de-
  — Jo… — repousa a mão sobre o rosto dele e o puxa para perto, lhe dando um selinho. — Ficar nervoso não vai adiantar nada, cariño.
  — Golpe baixo…
  Ele fecha os olhos, soltando uma risada abafada. sabe perfeitamente como acalmá-lo e é fazendo exatamente o que fez. Bom, há outras maneiras também, mas que não poderiam ser usadas em público.
   recebe ajuda do médico do clube que lhe dá um remédio para colocar no ferimento em sua boca. Não é nada grave, afinal. O susto foi maior. Até então o clube ainda não foi informado sobre o motivo do caos causado. Nem o América-MG se pronunciou a respeito. Calleri fica ao lado de , mimando a mulher como se algo de muito pior tivesse acontecido. Ele nem quer pensar nessa possibilidade. Se em algo tão pequeno, um mínimo corte que ela sofreu, já o deixou assim possesso, imagina se algo pior acontecesse?
  Calleri nem quer imaginar.

Capítulo 10 – Tu me encantas

“Melhor me dizer, por que eu quero tantos?
Se você é o único que eu preciso, eu preciso de você
Posso não ter muito, mas quando você está comigo eu tenho tudo.”

– Tu me Encantas, 3AM –

  Setembro de 2023
  Maracanã, Rio de Janeiro

  Hoje é o primeiro jogo da final da Copa do Brasil entre São Paulo e Flamengo. Neste momento, todos os jogadores estão no vestiário do maior estádio do Brasil, concentrados para a partida. Calleri tenta se concentrar apenas na música que ouve em seus fones de ouvido, ignorando o caos ao redor. Todos falando, cantando música diferentes, uns gritando incentivos, coisas aleatórias que cada jogador sempre faz para se manter concentrado. Cada um de um jeito diferente. Calleri está acostumado, porém hoje está mais nervoso que de costume. Duas noites atrás, antes da viagem para o Rio de Janeiro, passou mal, estava em seu apartamento e foi levada ao hospital graças a uma ligação de uma vizinha que ajudou a acudir a moça. Do hospital, ligou para o namorado para avisar do ocorrido e dizer que estava tudo bem, que já tinha recebido alta. Mesmo assim o jogador foi até o local buscá-la e a levou para sua casa. Praticamente não dormiu. Apesar de ela já estar melhor, o atacante não deixa de estar preocupado. E é isso que tenta esquecer agora.
  Do outro lado do estádio, na arquibancada, está no meio da torcida Tricolor que foi de caravana para ver o jogo. Aliás, a social media viajou junto com a torcida no ônibus que os levou lá, enquanto os jogadores foram de avião. Claro que Calleri achou um absurdo ela ir de ônibus após ter passado mal, preferia tê-la por perto por causa desse episódio, mas fez questão de seguir com o projeto que ela mesma idealizou: filmar um documentário dessa reta final de Copa Brasil. Afinal, pode ser a conquista que o time ainda não tem. Ela, também como torcedora do São Paulo, sente-se honrada em fazer parte disso.
  A partida inicia.
  Da arquibancada, no meio dos torcedores, filma tudo. Não é capaz de segurar a emoção, os olhos com as lágrimas escorrendo timidamente enquanto tenta manter o celular focado. O tempo passa e parece que o jogo terminará 0x0 nesse primeiro tempo. Porém, após um cruzamento de Nestor, Calleri salta alto e cabeceia.
  Gol do São Paulo.
  A torcida do São Paulo berra feliz com o gol. Calleri corre para a câmera e diz:
  — , mi amor, te amo!!!
  Minutos após o gol, o primeiro tempo foi encerrado.
   não aguenta ficar na torcida e desce até o campo usando sua credencial de imprensa. De lá tem uma visão ampla da festa feita pelos torcedores Tricolores que praticamente calaram a torcida da casa. O segundo tempo começa. A pressão segue igual, muitas chances, mas o placar segue o mesmo e com isso o juiz encerra a partida.
  São Paulo vence por 1x0 e leva a vantagem de decidir a final em casa, ao lado de sua torcida.
   está ansiosa por ver Calleri e poder abraçá-lo. Após a tensão da partida e dos últimos acontecimentos, a mulher só deseja o calor de seu namorado.
  — Amor!!!
  Ela corre e pula nos braços de Calleri que logo a sustenta, beijando os lábios da namorada, demonstrando sua saudade.
  — Você foi incrível, Jo, incrível! — diz ela após o beijo ainda nos braços dele. — De cabeça, hein? — brinca com o fato de não ser um gol comum de ser feito por ele.
  — Estou aprimorando isso — responde o argentino um pouco sem jeito. — Como está? Ainda enjoada? — o semblante dele fica sério ao mesmo tempo que ele a põe no chão, ainda mantendo-a em seu abraço.
  — Estou bem, Jo, foi apenas naquele dia — afirma com um leve sorriso.
  — Vou comeu? Bebeu água? Você não costuma se alimentar quando fica assim, precisa-
  — Jo, eu estou bem — o interrompe com delicadeza segurando o rosto dele com ambas as mãos. — Estou bem, foi apenas um mal-estar.
  — Mi amor-
  — Jonathan…
  — Non, Jonathan, non — o argentino de 1,81m faz um beicinho com o lábio inferior arrancando uma risada de .
  — Parece uma criança manhosa.
  — Seu manhoso.
  O lado safado dele é ativado, voltando a beijá-la como se estivesse a sós, mas logo é lembrado pelos demais jogadores de que não estão sozinhos. Galoppo e Luciano pulam em cima dos amigos, atrapalhando o beijo, e começam a girar em torno dos dois. Mais jogadores se juntam na roda, formando um grande bolo giratório, todos gritando felizes com o triunfo de hoje contra um adversário difícil.
  É hora de comemorar, pelo menos por hoje.

[⚽]

  Alguns dias depois…
  Enquanto a última partida, a decisiva, da Copa do Brasil não chega, Calleri e os outros precisam manter o São Paulo em uma boa posição no Campeonato Brasileiro. A partida de ontem, sábado, foi importante e os três pontos conquistados ainda mais, fizeram o time subir duas posições terminando a rodada em 10º lugar. O dia de hoje foi de folga para todos que aproveitaram de maneiras diferentes o raro domingo sem trabalho.
  Calleri e vieram jantar com os amigos do argentino, Dante e Martin, e com o amigo de clube, Ferraresi.
  — Jony! — grita Dante, acenando para o casal que sorri ao ver o rapaz. Só falavam eles para completar o grupo.
  — Boa noite! — diz Calleri e , um seguido do outro, e cumprimentam individualmente.
  — Está linda, — elogia Ferraresi após abraçar a amiga.
  — Obrigada, Nahuel — agradece a mulher, indo até a cadeira onde Martin está e cumprimenta ele. — Prazer em conhecê-lo.
  — O prazer é meu em conhecer a famosíssima — exagera o argentino, risonho após abraçar .
  — Não exagere, Martin — alfineta Calleri, dando a volta na mesa para falar com o amigo. — Boludo — “idiota”.
  — También te quiero, Jony — zomba ele, rindo.
  — Agora que chegaram — inicia Dante —, podemos pedir?
  — Claro!
  O pedido é feito ao garçom que deixa a mesa para avisar ao chef os novos pratos a se preparar. Enquanto conversam, o grupo de amigos degusta uma garrafa de vinho. não diz, mas o aroma da vela acesa no centro da mesa está embrulhado seu estômago. Ela torce para conseguir comer quando os pratos chegarem.
  Minutos depois, o garçom retorna com as barcas de sushi e vários combinados que foram pedidos por todos. Organizados, cada um monta seu pratinho e degusta as peças ainda bebendo vinho. Mesmo com fome, só consegue comer dois sashimis. Isso a irrita. Para quê colocaram aquela droga de vela aromática com cheiro de morte no meio da mesa enquanto as pessoas estão comendo?
  A ideia de pedir pra tirar a vela dali passa pela mente da social media, mas não quer parecer chata uma vez que mais ninguém está incomodado.
  — Não vai comer mais? — indaga Calleri perto do ouvido de . A moça o encara com um leve sorriso no rosto.
  — Tem algo errado com o gosto dele — comenta apontando com o hashi para a peça de sushi dentro de seu prato.
  — Quer que eu fale com o garçom?
  — Não precisa, amor.
  — Hmm, você não está comendo — o comentário dele faz perceber que Calleri tem razão. Até agora ela só comeu dois sashimis e bebeu duas taças de vinho.
  — Está exagerando, Jo — disfarça dando de ombros.
  — Sua taça praticamente não fica vazia, nena — rebate com uma feição esperta.
  — Está controlando o quanto estou bebendo, Jonathan? — entendeu o que ele quis dizer, ainda assim se fingiu ofendida.
  — , você me entendeu — o jogador põe o guardanapo sobre o colo e apoia os hashis nos dedos. — Precisa comer também — pega uma peça com o hashi e leva à boca de .
  — Não quero, Jo — rejeita retorcendo a boca e sentindo ânsia por causa do cheiro misturado ao da vela.
  — Desde quando você rejeita sushi? — é a comida favorita de .
  — Acho que é esse cheiro — engole em seco, sentindo um gosto estranho na boca e tampando com a mão para não vomitar.
  — Cheiro? — enrugando o cenho, Calleri aspira o cheiro do sushi. Não está ruim. — Está normal para mim.
  — Está tudo bem, ? — pergunta Ferraresi observando a conversa paralela do casal e a cara enjoada que faz.
  — Sim, Nahuel, está sim — diz simplesmente para não preocupar o amigo à toa.
  — O cheiro dessa vela está enjoando vocês ou é só comigo?
  — Você também, Nahuel?
   respira aliviada por mais alguém estar incomodado com o cheiro insuportável da vela. Ferraresi concorda com ela e ri, pois também ficou sem jeito de expressar sua irritação pelo cheiro. É, o enjoo foi apenas por causa da vela. Não há o que se preocupar.
  No dia seguinte os treinamentos são retomados e volta ao seu trabalho de social media. Nos próximos dias haverá quatro aniversários, dentre eles o de Calleri. Os vídeos com depoimentos dos jogadores que colheu há algumas semanas já foram editados e estão prontos para serem postados ao longo do dia 23 de setembro, um dia antes do último jogo da final da Copa do Brasil.
   está tirando algumas fotos no intuito de alimentar o Instagram do time com imagens do treinamento de hoje. A mulher faz uma breve pausa, esticando as costas ao sentir um forte incômodo no local. Além de uma pontada na altura de sua virilha. Será possível que seu período menstrual resolveu antecipar as coisas?
  Irritada por antecipação, deixa a câmera apoiada sobre o banco de reservas do CT e vai até ao vestiário dos funcionários onde deixou sua bolsa, pega um absorvente e remédio para cólica. Ao retornar do banheiro, já prevenida para uma possível descida de sua menstruação, a mulher encontra Calleri com sua câmera em mãos apontada para ela. Sem jeito, a mulher esconde o rosto com as mãos e ri das poses de fotógrafo que o jogador faz.
  — Não esconda esse lindo rosto, mi amor — sugere Calleri ao se aproximar dela, a câmera pendurada em seu pescoço.
  — Sabe que não gosto de sair em fotos.
  — A fotógrafa que não gosta de fotos — ele a envolve em seus braços, agarrando sua cintura.
  — Irônico, não?
  — Muito — eles se beijam e Calleri aperta as costas dela, fazendo a mulher gemer. — Machucou? Está com dor?
  — Cólica.
  — Ah, a maldita cólica está atacando mi nena — o argentino começa a distribuir beijinhos no rosto dela. — Vamos pra casa que eu vou dar um jeito nessa cólica malvada.
  — Jo… não me mime assim.
  — Tudo por mi nena gostosa.
  Calleri finaliza a sequência de beijos nos lábios de . Ao fim do treino, todos vão para suas casas. sai junto com Calleri pra casa dele e lá ela descobre, após tomar banho, que não está menstruando. Porém, os sintomas da TPM seguem intactos, piores até. Cólica, dor de cabeça e nas costas, sem contar a vontade de ficar apenas deitada na cama comendo alguma comida gostosa.
  — Como não desceu? — indaga Calleri confuso com o fato. — Está com todos os sintomas.
  — Não sei, só sei que estou com dores — diz irritada e se encolhe agarrando o travesseiro entre as pernas, aninhando-se no colo de Calleri.
  — Vou fazer um lanche pra você, tá? — ele abaixa pra beijar a cabeça dela.
  — Tá…
  — Fica deitada descansando. Está apenas com cólica?
  — E nas costas.
  — Quer massagem? — oferece e o olha vendo o semblante maroto dele de ponta cabeça.
  — Vai evoluir pra outra coisa, não sei se consigo, Jo.
  — Tudo bem, mi amor. Eu espero você conseguir — ele dá outro beijo na testa dela, carinhoso. — Linda.
  Sorrindo bobo, o jogador se levanta, deixando encolhida em sua cama, e vai até a cozinha preparar algo pra ela comer. A conhecendo bem, talvez um belo hambúrguer com bastante queijo, batatas fritas e brigadeiro de sobremesa devem satisfazer os desejos menstruais de sua namorada.
  Os anos podem ter passado, mas segue a mesma e Calleri a conhece bem.

Capítulo 11 – Conquista

"Difícil de explicar, conexões, plano astral
Se me custa respirar, você me acalma e pronto."

– Tú me calmas, Saiko –

  Se Jonathan Calleri soubesse que viveria todas as emoções que está vivenciando agora, ele diria que era algum tipo de surto de felicidade impossível.
  Mas é real.
  Tudo começou com o acordando pela manhã, em sua casa, com um longo e apetitoso beijo que levou o casal ao sexo matinal. Algo que raramente ocorria com os dois. Apesar de estranhar, o jogador não reclamou em ser acordado daquela maneira. Logo após, o casal tomou café da manhã na companhia de Jokic. Em seguida, se arrumaram para o grande dia. Menos de uma hora depois e os dois estavam no CT da Barra Funda, os outros jogadores também já tinham chegado para a grande final. A decisiva partida que poderia levar o clube ao título inédito da Copa do Brasil. A apreensão, mais uma vez, foi inevitável, mas a esperança e confiança no trabalho de toda a equipe envolvida nesse projeto superou qualquer resquício de dúvida que houvesse.
  No início da partida o Flamengo fez 1x0. Tudo parecia estar indo por água abaixo. Todo o trabalho do ano indo embora por conta de um vacilo defensivo. Do lado de fora, atrás do gol onde o São Paulo ataca no primeiro tempo, mordisca os próprios dedos. Nervosa com o jogo. O coração acelerado por conta da situação atual do jogo e por conta de uma notícia que recebeu hoje cedo, pouco antes de sair junto com Calleri do CT para o estádio. Quando tudo parecia estar perdido, houve um lance que parecia despretensioso, mas foi decisivo.
  Cobrança de escanteio, bola rebatida para fora da área, chute preciso e de primeira de Nestor.
  1x1.
  Morumbi vai abaixo.
   corre atrás do gol na mesma direção que os jogadores correram para comemorar. Com esse resultado, o título fica no Morumbi, graças ao gol marcado por Calleri na partida anterior. Quando começa o segundo tempo, as chances mais importantes são do time da casa.O tempo passa rápido e o juiz apita o final.
  São Paulo campeão da Copa do Brasil.
  Todos que estavam ao redor invadem o campo. corre desorientada, chorando muito e procurando pelos amigos. Encontra vários, sendo abraçada por eles. Ao chegar em Ferraresi e Galoppo, que tinham visto o jogo da outra trave, é carregada por ambos, empolgados com o título.
  — Viram o Calleri? Preciso falar com ele.
  — Oh, chiquita, eu não vi — responde Ferraresi. — Mas deve estar por aí chorando, ele é um chorão — sacaneia ele, rindo e pondo no chão.
  — Vou procurá-lo.
   deixa os amigos, que já dispersaram correndo e abraçando outros jogadores, e procura por Calleri em meio as pessoas dentro de campo. Até algumas crianças, filhos de outros jogadores e funcionários do clube, corriam pelo gramado, comemorando. A cena só emocionava mais a mulher que, definitivamente, precisa encontrar o namorado.
  Do outro lado do campo, o atacante também procurava pela namorada. Em meio às comemorações e o choro pela conquista que ele tanto almejou, finalmente ele a vê andando meio sem rumo e também em prantos.
  — Nena! Nena!!!
  Ele grita para ser ouvido, o que parece surtir efeito já que olha bem na direção do som de sua voz. A felicidade imediata tomando conta do rosto dela. A mulher corre ao encontro dele, Calleri faz o mesmo, precisa sentir o calor de sua . O tão esperado abraço acontece, grudados feito dois imãs Calleri rodopia ao mesmo tempo que a beija.
  Ao fim, eles se encaram se abstendo do que acontece ao redor.
  — Jo, preciso te contar algo, amor.
  — Qué pasa, nena?
  — Eu estou grávida.
  — Quê?? — o olhar do argentino se arregala e uma onda feliz volta a percorrê-lo.
  — Meu mal-estar era a gravidez — explica ainda mais emocionada.
  — Está grávida? Jura? De verdad? — Calleri volta a carregar , empolgado com a notícia.
  — Sim — ela ri, não conseguindo conter seu alívio em ter contado.
  — Te quiero, por Dios, te quiero mucho, mi nena! Mi hermosa, te amo! Te amo! Te amo!
   prende as pernas na cintura dele enquanto Calleri volta a beijá-la roçando os lábios no rosto da namorada. Título inédito da Copa do Brasil para o São Paulo, o título que ele queria dar ao clube e agora um filho com o amor da sua vida. Definitivamente, Jonathan Calleri é o homem mais feliz.
  Ele coloca no chão e a puxa pela mão, saindo correndo por entre as pessoas, gritando para todos ouvirem sua felicidade.
  — EU VOU SER PAI! VOU SER PAI!!!

[⚽]
  O after do jogo está rolando no vestiário mesmo.
  Além dos jogadores, há alguns funcionários da comissão técnica e demais setores do clube. Muita bebida rolando e, obviamente, a quis beber, porém Calleri não deixa ela beber nada.
  — Nena! — espanta-se o jogador ao ver com uma garrafa de Ice na boca. — Não é pra você beber, está grávida! — reclama, tentando puxar a garrafa das mãos dela.
  — Ah, Jo, hoje é um dia especial, mi amor — ela faz beicinho, amolecendo o jogador.
  — Não, , não faz isso — rende-se, rindo.
  — Só um pouquinho, Jo, por favor — a mulher envolve os braços no pescoço dele, depositando beijinhos nos lábios do jogador.
  — Golpe baixo, nena — diz Calleri com a voz de quem já se rendeu totalmente. sorri vitoriosa. — Só essa garrafa, está bem?
  — Só essa — comemora, distribuindo beijos pelo rosto dele que sorri com a alegria da namorada. — Hm, sua irmã está te procurando.
  — Gua? — indaga referindo-se a uma de suas irmãs mais novas.
  — A Tefi — corrige.
  — Depois procuro por ela. Falar nisso, precisamos te apresentar aos meus pais e contar a novidade, né? — ele sorri de canto. conhece apenas as irmãs do namorado.
  — Podemos marcar algo — concorda também sorrindo. — Eles estão na cidade?
  — Na verdade, eles estão aqui.
  — Aqui? — arregala o olhar. — Não estava preparada pra conhecer eles hoje, Jo — diz ficando um pouco nervosa e dando um belo gole em sua bebida.
  — Acalme-se, amor — ele ajeita os cachos de , afastando-os de seu rosto. — Meus pais possivelmente estão bêbados e eufóricos com o título, hoje não seria um bom momento para essa apresentação.
  — Ufa! — a mulher suspira aliviada, arrancando uma risada sincera de Calleri. — Vamos marcar um dia e nos conhecemos.
  — Como quiser, mi nena — ele fecha os olhos para beijá-la. — Nena… chama —ao fim do beijo.
  — Hm…
  — Se for um menino — Calleri repousa uma das mãos sobre a barriga dela — podemos dar o nome de Diego? — ele a encara de maneira angelical. ri.
  — Por causa do Maradona, né? — deduz, risonha.
  — Tão inteligente e gostosa — elogia o jogador, beijando-a. — Te amo…
  O outro beijo é interrompido pelo empurrão dado por Galoppo que monta no ombros de , Ferraresi faz o mesmo com Calleri, ambos gritando que querem ser padrinhos do filho do casal. Aliás, essa discussão está rolando entre os amigos dos dois desde que souberam da gravidez, horas atrás ainda em campo. Se Calleri e acharam que escolher um nome para o filho deles seria mais difícil, a tarefa da escolha do padrinho seria ainda maior.
  O casal comemora mais alguns minutos junto com os outros e acabam encontrando a família de Calleri. é apresentada brevemente aos pais dele, os três ficam tímidos com a situação e o casal conta da gravidez. Fato que os deixam um pouco mais à vontade e até gera um abraço apertado na nora. Infelizmente, aquilo que Calleri mais temia acontece. começa a enjoar e acaba vomitando por mais de dez minutos seguidos. É acudida pelas cunhadas, Tefi e Gua, que a ajudam dentro do banheiro feminino da área dos vestiários. Do lado de fora, a vontade de Calleri é de invadir o lugar para acolher a namorada.
  O jeito é ir para casa.
  Já na casa do namorado, vai direto ao banheiro tomar banho. Está chateada, pois queria comemorar mais o título inédito, mas enjoada do jeito que está agora, seria difícil. Calleri também se chateou, mas pela teimosia de em continuar bebendo escondido dele. Depois daquela garrafa de Ice ter terminado, a mulher bebeu mais duas e até um gole de gin. Ninguém a viu bebendo as garrafas de Ice, mas Rafinha viu na hora que ela deu uma golada no gin e a impediu de beber o restante. Se arrependimento matasse, não estaria mais em vida.
  — Meu estômago está revirado, meu Deus… — lamenta-se a mulher já deitada na cama, aconchegada nos braços de Calleri.
  — Talvez se não tivesse bebido… — alfineta o jogador e recebe uma mordida na lateral da barriga. — Nena! — reclama, rindo.
  — Não me venha com sermões, Jonathan — ela volta a se aninhar. — Ah, estou enjoada demais.
  — O que eu posso fazer pra melhorar? — pergunta, afagando os cachos de .
  — Não sei, não consigo comer nem beber nada sem enjoar…
  — Estou preocupado.
  — Jo, é normal uma mulher grávida enjoar — ela solta uma risada nasal.
  — Mesmo assim, nena, vamos ao médico amanhã.
  — Segundo o exame que fiz, estou com cerca de dois meses.
  — Dois meses?! — espanta-se Calleri. — Dois meses a senhorita grávida e bebendo álcool. Maravilha, !
  — Eu não sabia, Jonathan! — devolve , ambos riem. — Se eu soubesse não teria bebido.
  — Promete que irá se cuidar? Tem que se alimentar melhor.
  — Prometo seguir a dieta caso a médica passe alguma.
  — E eu prometo te ajudar, mi bebé.
  Antes dos lábios de Calleri encostarem nos dela, se levanta bruscamente. Precisa usar o banheiro novamente.
  Maldito enjoo.

Capítulo 12 – Buenos Aires

"Você e eu brilhamos no céu como estrelas
Você por mim, eu por você
Eu amo quando você canta minha música
Você me deixa louco com esse jeito de dançar para mim."

– Como Estrellas, LA YOUNG –

  Dezembro de 2023

  Cinco meses de gravidez.
  Quase seis.
  Nesse instante, dança despreocupadamente enquanto agrada Calleri retornar da casa do Santi, um de seus amigos, que está em São Paulo. No play do celular toca Grillz, do Nelly. Jokic observa sua tutora de cima da cama, animado ao vê-la dançar e interagir com ele vez ou outra. Por coincidência, Calleri chega, subindo até o quarto. O homem já ouve a música tocar e sorri com a imagem que se forma em sua mente de maneira involuntária. Certamente sua namorada fanática por hip hop internacional dos anos 2000 está dançando sensualmente no ritmo da música. Sua suspeita óbvia se concretiza, o sorriso aumentando ao ver sua amada dançar ao som de Grillz, música que tem um swing bem dançante. tem molejo e sabe bailar tão perfeitamente que Calleri desconfia que ela já foi dançarina algum dia. De início ela não nota a presença dele, que apenas a observa escorado na porta do quarto. Porém, não é da natureza de Jonathan Calleri ficar sem tocar em sua querida sempre que a oportunidade aparece. Atacante nato que é, Calleri avança, deixando os papéis que tem nas mãos em cima da cômoda perto da porta, e vai até a abraçando por trás. A mulher sente um dos braços dele envolver sua cintura, acariciando a barriga aparente e recebendo um beijo estalado no pescoço em seguida. ri com o movimento, repousando sua mão sobre a de Calleri. Ele segue o ritmo ditado pela cintura malemolente dela até o momento do ápice da música, quando a vira de frente pra si, continuando no mesmo movimento, sua mão livre se ocupa na nuca da namorada aproximando mais seus rostos. Centímetros separam os lábios de ambos que não se beijam e apenas sentem a respiração um do outro. A música segue para os segundos finais coincidindo com o beijo do casal.
  — Adoro quando você dança comigo, mi amor — diz , ao som de outra música da playlist que segue tocando em seu celular, Calleri ainda colado nela, seus corpos dançando num ritmo mais lento. — Tão sensual…
  — Mais sensual do que te ver dançar? Só te ver dançar sem roupas, nena — confessa ele, sorrindo safado.
  — Adoro ainda mais seu jeito safado e fofo — ambos riem e voltam a se beijar. — Hmm, como foi na casa do Santi? — quis saber.
  — Santi? — devolve a pergunta, enrugando a feição.
  — Você não foi ver o Santi? — a social media também enruga a testa. Calleri sai do abraço dela, caminhando até a cômoda onde deixou os papéis.
  — Non… — responde, já rindo.
  — Ué? Você disse que iria ver o Santi porque ele iria viajar. Não entendi — ela faz uma expressão confusa e vê Calleri virar-se novamente de frente para ela, mas com as mãos nas costas. — O que aprontou dessa vez, Jonathan?
  — Tem uma impressão muito desconfiada de mim, nena — o jogador faz beicinho ao mesmo tempo que caminha de volta para ela.
  — Por que será? — eles riem com a pergunta retórica.
  — Adivinha o que tenho aqui? — refere-se aos papéis que tem nas mãos, mostrando-os para .
  — Papeis? — ri novamente.
  — Tenta de novo, bebé.
  — Não sei, Jo, diz logo o que é — ela desiste, apressada em saber logo do que se trata.
  — Te dou mais uma chance — insiste Calleri mostrando mais de perto os papéis. tenta ver o que está escrito, mas logo ele os tira de perto de sua visão. — Não vale espiar, !
  — Jo!! Conta logo, bebé faz manha. Dá certo, pois esse é um dos pontos fracos de Jonathan Calleri.
  — Ok, ok, eu digo o que é — ele ri da manha dela e entrega os papéis para . — Lembra que falei sobre você conhecer meus pais pessoalmente? — indaga vendo a namorada analisar o que tem nas mãos. — Já fizemos várias videochamadas, já passou da hora de apresentar vocês formalmente.
  — São passagens pra Argentina?! — diz em um tom feliz e com um sorriso no rosto.
  — Sim, viajamos em dois dias.
  — Já? Mas isso é antes do Ano Novo — lembra a proximidade do fim do ano.
  — A ideia é passar o Ano Novo com eles e minhas irmãs. Ideia da Tefi — revela a autora da ideia.
  — A cara dela fazer isso — sorri e o abraça. — Será um prazer passar o fim do ano com eles.
  — E o nosso Diego — Calleri a beija apaixonado.
  — Jonathan, me diga a verdade: você olhou o resultado do ultrassom naquele dia, não foi? Não ficarei brava se me contar agora.
  — Juro que não olhei, nena — defende-se referindo-se ao exame que fez há um mês que mostrou o sexo do bebê, porém nenhum dos dois quis saber. Querem que seja surpresa. — Combinamos que não iríamos ver antes, lembra?
  — A Gua e a Tefi viram, tem certeza de que não perguntou a elas? — estreita os olhos fazendo Calleri rir.
  — Absoluta, mi amor — ele solta um beijo no ar. — Eu só sinto que será um menino, apenas isso.
  — Hm…
  — Intuição de pai.
  — Awn, Jo, sua sorte é que você é fofo e que eu te amo.
  — Minha maior sorte é te ter em minha vida — ele zera a distância entre eles. — Gracias por todo — agradece antes de beijá-la.
  Um beijo carregado de amor.
  O amor que resistiu a muitas coisas, principalmente a distância de oito anos longe.

Buenos Aires, Argentina
Dois dias antes do Ano Novo

  Estar de volta a Buenos Aires após quase nove anos traz memórias lindas do dia em que conheceu Calleri naquele bar no centro da cidade. Arrependimento não é um verbo para definir os acontecimentos que sucederam aquele dia. Talvez se soubesse que o jogador não se envolveria com ela na mesma intensidade que a mulher se envolveu, ela não teria salvado o número de telefone dele e aquela noite de sexo no hotel não passaria disso. Mas, não se arrepende de ter se entregue a ele, de ter se dedicado para que o namoro desse certo. O pedido de namoro partiu dela, ele aceitou, o mínimo que se espera é dedicação. Não foi bem o que ocorreu.
  Porém, isso são apenas memórias do passado.
  Agora, quando e Calleri caminham pelo aeroporto em posse de suas malas, de mãos dadas e sorrindo felizes um para o outro, a única coisa que desejam é criarem novas lembranças com a cidade como cenário.
  — Jony! Jony! — grita Gua, uma das irmãs do atacante ao ver o jogador e a cunhada no meio das pessoas.
  — Guazita! — ele solta brevemente a mão de , parando seus passos, para receber o abraço da irmã. — Está ficando mais alta que eu, nanica? — brinca o homem ao ver a irmã com um sapato com um leve salto.
  — Roubaste toda altura da família, Jony! — devolve, risonha. — , cunhada, que saudades! — ela vai abraçar a cunhada. Logo atrás dela vêm chegando o restante da família Calleri.
  — Tefi! — abraça a outra cunhada.
  — Está tão linda, , por Dios! — comenta Tefi sendo apoiada pela irmã. — Em breve nosso sobrinho ou sobrinha nascerá.
  — A previsão é março, segundo o médico na segunda semana — ratifica .
  — Não vejo a hora! — diz Gua abraçada ao irmão.
  — Imagina eu — reforça ele, sorrindo. — Mi amor, deixa eu apresentar meus pais — inicia ao ver os pais parados aguardando a apresentação após cumprimentarem o filho. — Esse é meu pai, Guillermo.
  — Como vai, mi nuera? — “nora”.
  — Bem e o senhor? Prazer em conhecê-lo — recebe o abraço dele, aconchegante igual o do filho.
  — Me chame apenas de Guillermo ou de Gui, por favor — pede ao sair do abraço, dando espaço para a esposa.
  — Essa é mi mamá, Bettina.
  — Prazer em conhecê-la finalmente — também a abraça.
  — Que prazer em conhecer a mulher que faz meu filho tão feliz — comenta a mais velha, emocionada por conhecer . — Oh, tão feliz em ganhar um netinho ou netinha — ela passa a mão sobre a barriga da nora.
  — Netinho — diz Calleri ainda convicto de que será um menino.
  — Vocês já sabem? Achei que fariam surpresa — diz Guillermo, confuso, e rindo do olhar fuzilante que lança para o namorado.
  — Eu não sei, mas parece que alguém tem informações privilegiadas — responde ainda olhando pra Calleri.
  — Juro que não contei nada pra ninguém — Tefi faz sinal com os dedos de quem jura falar a verdade.
  — Eu também não — Gua apoia a irmã.
  — Já disse, nena, é intuição de pai — repete o jogador.
  — Ah, isso existe! — Guillermo se manifesta, atraindo a atenção. — Acertei nas três vezes — diz referindo-se aos filhos.
  — Deve ser intuição de família, então — Bettina ri da própria afirmação sendo seguida pelos demais.
  — Bom, vamos para o carro? Acredito estarem cansados da viagem — sugere o mais velho de todos.

  O grupo deixa o aeroporto em dois carros. O primeiro dirigido por Guillermo que leva: ele, a esposa, e Calleri. No outro, dirigido pelo namorado de Tefi, vão ele e as duas irmãs do jogador do São Paulo. Fazem uma curta viagem até a casa dos pais de Calleri onde ficarão apenas hoje, pois amanhã já viajam para o rancho onde vão passar a virada de ano.
  Na noite do dia 31, escolhe um vestido curto na cor branco gelo, os cachos soltos apesar do calor que faz nessa noite, e uma rasteirinha pra completar. Calleri também está no mesmo tom da namorada, usa uma camisa de botão de manga curta e uma bermuda, completando com um tênis também branco. Como não está mais ingerindo álcool, está bebendo refrigerante. Tefi a acompanha na bebida. Os irmãos Calleri também convidaram alguns amigos argentinos para a festa que está sendo regada a muita bebida, risadas, música típica latina e conversas aleatórias.
  Uma noite muito agradável.
  Após cerca de duas horas após 2024 chegar, sente um desconforto nas costas e algumas pontadas espaçadas na barriga. Calleri se assusta achando que já era o nascimento, mas foi apenas um desconforto. O casal se retira mais cedo do que o esperado e voltam para o quarto ocupado por eles.
  — Dorme tranquila, mi amor, eu não vou embora.

[⚽]

  Foi em março de 2024 que ele chegou.
  Pontualmente na semana em que o médico indicou o seu nascimento, o bebê do casal resolve vir ao mundo. De fato, apenas as irmãs de Calleri e o médico que acompanha a gravidez de desde o início sabem o sexo do bebê. Mas, para surpresa de todos, Calleri estava certo ao dizer que seria um menino. Assim que Diego veio ao mundo, seu pai derramou lágrimas de felicidade ao ver o pequeno chorar nos braços de sua nena.
  Foi o dia mais feliz em sua vida.
  Até então…

  7 meses depois

  É a primeira viagem de Diego.
  O filho de e Calleri hoje faz sete meses de vida e está junto com seus pais numa viagem para passar as férias em Buenos Aires com sua família argentina. Ao contrário do que pensaram, a atração do trajeto entre São Paulo e a capital da Argentina foi Jokic. Por onde passou o doguinho arrancou elogios do quão fofo e simpático ele é. O primeiro passeio da família está sendo na praça de Mayo, a mais antiga da cidade e um de seus pontos turísticos. Faz um lindo dia de primavera, o Sol reina no céu azul com poucas nuvens, uma brisa refrescante alivia o calor que faz. Curiosamente, sente mais o calor em Buenos Aires do que em qualquer lugar brasileiro que tenha visitado até agora. Diego descansa em seu carrinho, adormecido desde que saíram da casa de seus avós, enquanto seus pais saboreiam cada um uma casquinha de sorvete de morango. Jokic beberica a água deixada por Calleri em um potinho que levaram propriamente para isso. Sem perceber, até ser cutucado, o jogador é abordado por um artista de Internet que lhe dá uma rosa. não nota, ainda aproveitando o sorvete e de olho no filho adormecido. O homem se afasta, deixando o casal a sós novamente, Calleri observa brevemente a rosa em sua mão livre e sorri.
  — Nena? — diz, chamando a atenção da namorada, que o encara com a colherzinha cheia de sorvete dentro da boca. Ele ri com a cena.
  — Hm? — resmunga em resposta.
  — Quer casar comigo?
  Direto, Calleri mostra a rosa para que tosse um pouco devido a surpresa da proposta. Engolindo o sorvete, a mulher repousa o potinho ao seu lado e toma os lábios de Calleri para os seus.
  Mais uma vez, não precisam de muitas palavras para dizer o que sentem.

Epílogo – Matrimônio

"E ao seu lado me sinto abençoado, sim
Porque os anos passam
E meu amor por você continua a crescer (meu amor por você)
Porque isso me faz feliz (porque me faz feliz)"

– Camino a Neptuno, Maikel Delacalle –

  Junho de 2025

  Será que existe mesmo um dia certo para se casar?
  Será que um casal tem que se casar antes ou depois de ter um filho juntos?
  Bom, para e Calleri não está sendo assim.
  O pequeno Diego já está com um ano e alguns meses, o casal já namorou e separou e hoje está se casando. Quase todos já ocupam o altar. À esquerda, do lado do noivo, estão seus padrinhos: Galoppo, que também é padrinho de Diego, Ferraresi, Rafinha, Arboleda, Luciano e Rigoni. Sim, o homem que, por algum tempo, se relacionou com a noiva dividindo-a entre ele e Calleri, hoje é padrinho de casamento dos dois.
  O mundo gira e, dessa vez, não derrubou seus ocupantes. Só os uniu.
  Do lado da noiva, estão, além das namoradas de alguns jogadores, as irmãs do noivo, Gua e Tefi, que fazem par com Galoppo e Ferraresi.
  A marcha nupcial toca e junto com ela um arrepio percorre o atacante argentino. Seus olhos castanhos encontram a figura de vestida de noiva, ele não resiste e começa a chorar, mas sem perder o sorriso. À frente dela, que caminha ao lado do sogro Guillermo, Jokic e Diego correm em posse das alianças chegando primeiro ao altar, sendo recebidos por Rafinha que ajuda o pequeno sobrinho e o carrega no colo por alguns minutos. Guillermo entrega a nora ao filho que, antes de se virar para o padre, dá um breve beijo entre os olhos da ainda noiva.
  A cerimônia acontece, lindas palavras são ditas pelo padre e pelos noivos em seus votos. O sim é dito e enfim eles estão casados.
  Todos vibram o matrimônio tão esperado e, ainda com todos vibrando, Calleri pede a palavra. Confusa, encara o marido, perguntando-se o porquê de ele ter pedido a palavra justo agora que eles iriam para a festa.
  — Prometo que não vou me estender, mas eu preciso deixar de lado minha timidez e fazer isso por você, nena. Te amo.
  Já com o coração acelerado, ofega ao ver Calleri receber um microfone, logo as primeiras notas da música são tocadas e o jogador começa a cantar.

Vamos para Netuno
Eu como você no café da manhã
Devo consumir para navegar
Você é a droga que eu consumo

Vamos para Netuno
Eu como você no café da manhã
Devo consumir para navegar
Você é a droga que eu consumo
Ah, eu gosto daquela garota

Cada vez que nos vemos ele sabe o que isso significa
Com ela tudo se multiplica para mim

Tem algo que me mata que parece kriptonita
Eu sei, sempre que ele me liga porque quer conversar

Eu sou o único que faz voar
O melhor é que ela me reconhece

Mudando as poses, mamãe então
Você me deixou cego e eu não trabalho às 11

Eu pensei em você, espero que você não se importe
Você não precisa de passaporte para voar.
Vamos perder o sul para encontrar o norte
Está frio aqui

E ao seu lado me sinto abençoado, sim
Porque os anos passam
E meu amor por você continua a crescer (meu amor por você)
Porque isso me faz feliz (porque me faz feliz)

Sem perguntas
Você é minha esposa e minha amante
Meu amante
Vamos para Netuno
Eu como você no café da manhã
Devo consumir para navegar

Você é a droga que eu consumo

– Camino a Neptuno, Maikel Delacalle –

  Ao fim, Jonathan Calleri e Calleri se beijam por longos instantes. Cada minuto ao lado um do outro é o suficiente para provar a ambos de que valeu a pena cada tempo que passaram longe um do outro, valeu a pena esperar, valeu a pena ter voltado ao Brasil e, valeu ainda mais a pena, se darem uma nova chance.
  Por ela valeu a pena.
  Por ele valeu a pena.
  Ao fim, as terças se inverteram e formaram uma linda melodia.
  A melodia da vida desse casal.

FIM



Comentários da autora

  Nota final: VEIO AÍ! E pensar que tudo nasceu graças a uma após uma promessa que fiz caso o São Paulo se classificasse em um dos campeonatos. Deu certo, só não esperava demorar tanto pra cumprir a promessa que fiz em 2022 hahaha mas veio aí. Agradeço a cada um que acompanhou e leu meu surtinho. Jo e eu agradecemos a audiência <3