Almas Afins

Escrito por Li Santos | Editado por Lelen

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Capítulo 1

  POV
  Me chamo , tenho 12 anos e nasci aqui em Montreal, Canadá. Hoje é um dia especial para mim e para toda minha família, pois hoje nasceu minha irmãzinha! De início eu não queria ter irmãos, não queria dividir meu espaço e atenção dos meus pais com outra pessoa. Mas, agora, depois que ela nasceu, eu me sinto revigorado, não sei explicar direito o que isso significa, mas é uma palavra que meu pai usou quando falou da minha irmã. Então, acho que deve ser algo bom. Eu toco piano desde os 9 anos de idade, nunca me interessei por outro instrumento. Porém, após saber que teria uma irmã mais nova, eu quis aprender a tocar violão só para tocar canções de ninar para ela. Meu pai me disse, que agora que minha irmã nasceu, eu teria que ter mais responsabilidade, como se minha irmã fosse um pedaço de mim, teria que cuidar de mim e dela. Meus pais chegaram agora em casa, não me deixaram ir para o hospital junto com eles. Desci as escadas em direção à sala de estar e lá estavam elas: minha mãe com minha irmã no colo. Ela é tão pequena.
  - Venha, ! - Disse minha mãe, suavemente. Me aproximei dela no sofá e sentei-me meio sem jeito. - Veja, essa é sua irmãzinha. Dê ‘oi’ para ela. - Eu sorri e olhei para minha irmã. Era tão pequenina.
  - Oi, irmãzinha! - Eu disse com felicidade na voz. Eu fiquei realmente muito feliz por vê-la de perto. Por ela estar ali comigo. - Ela tem nome, mãe?
  - Ainda não, . Quer escolher? - Minha mãe questionou e eu gelei por um instante.
  - Eu? Wow… Tem certeza, mãe? - Ela acenou que sim com a cabeça. Pensei por alguns instantes e respondi finalmente. - . . Aí, podemos chamá-la de ! - Respondi e meus pais me olharam surpresos, perguntando o motivo do apelido. - Ah, eu não sei. Só acho que ela tem cara de . - Sorri ao final da frase e eles concordaram.
  E foi assim que eu dei o nome da minha irmã de , a minha . Ela se tornou minha vida. Faria de tudo para vê-la sorrindo. E foi o que fiz nos primeiros anos de vida dela: quando deu os primeiros passos eu estava lá; quando caiu pela primeira vez tentando andar eu estava lá; sua primeira palavra foi “” e isso realmente me deixou emocionado. Vê-la crescendo foi algo mágico, maravilhoso. A primeira vez que ela foi para escola, fui eu quem a levei. Aliás, faço isso até hoje, com 16 anos de idade, frequenta o primeiro ano do ensino médio. Deus, por que tão rápido? Ela é muito mais nova que os demais colegas e isso me preocupa. Sei muito bem o que acontece no ensino médio e isso está tirando meu sono.
  - Cara, você vai surtar. Se acalma! - Disse Chuck, um dos meus melhores amigos. Na verdade, é o meu melhor amigo com o qual eu compartilhei a infância. Crescemos juntos aqui em Montreal e hoje temos uma banda. Ele compartilhou também o crescimento da minha irmã. Ele e o , meu outro grande amigo. Dave e Jeff formam o restante da banda.
  - Não consigo, cara. Segunda-feira ela vai para o ensino médio e eu fico como? - Eu falava da minha irmã, que estava no andar de cima, super ansiosa para seu grande passo: o ensino médio. - Não sei lidar, ok?
  - Relaxa cara, ela vai ficar bem. Afinal, ela é uma ! - Disse , que estava sentado no sofá que fica na garagem daqui de casa, vulgo: estúdio de ensaios da banda. Nossas idades variam entre 24 e 26 anos. Eu tenho 26 anos. Pensamento totalmente aleatório, eu sei.
  - Ah, ok, né? Fazer o que? Vamos ensaiar!
  Começamos o ensaio. Estávamos fazendo sucesso, não só em Montreal, mas no mundo todo. Nosso empresário conseguiu um estúdio profissional para ensaiarmos, porém, especialmente hoje, eu convenci a todos a ensaiar aqui em casa mesmo. Após o ensaio, eu fui até o quarto de minha irmã. Os caras me esperavam no andar debaixo, na sala de estar, enquanto eu ia conversar com a minha irmã. Ao chegar na porta, ouvi uma conversa dela e uma de suas amigas, elas conversavam via Skype.
  - Ah, amiga, eu não sei o que fazer! Me ajuda. - disse e me parecia desesperada por uma solução. - O que devo fazer? Será que devo dizer o que sinto?
  - Eu acho que deveria dizer, não custa nada, certo? - Respondeu a amiga do outro lado da tela do notebook. Mas, do que elas estão falando?
  - Não! Meu irmão me mataria e o mataria também! - Fiquei preocupado agora.
  - Verdade! - Elas riram – Seu irmão é super protetor, né? E ainda mais que o seu crush é melhor amigo dele. - Quê? Agora quero saber o que é… invadi o quarto dela. Ela se assustou ao me ver.
  - ! - Gaguejou ao me ver entrando. - Já te ligo, amiga. - Ela disse e desligou rapidamente o notebook.
  - Do que estavam falando, ? Posso saber quem é esse tal crush e qual melhor amigo meu morrerá hoje? – Questionei, sério, sentando-me na cama dela. Ela levantou e me encarou trêmula.
  - , eu… eu posso explicar. Não é bem isso! - Disse gaguejando. - Por favor, não machuque o ! Te imploro, ! - Ela arregalou os olhos e eu também. Ela por ter revelado sem querer quem era seu crush e eu por descobrir quem era. - Nã-Não! Ah, que droga!
  - O ? Ele é teu crush? – Perguntei, mas ela não disse nada. Levantei e me aproximei dela, segurei suas mãos e estavam geladas. – Calma, mana. Fica calma. - Tentei acalmá-la - Vem, senta aqui. Eu estou aqui, não precisa chorar. Eu não estou bravo com você e nem com o .
  Na verdade, eu estava bem irritado sim em saber que minha irmãzinha estava apaixonada por alguém e ainda mais pelo . Mas, eu não pude deixar de me comover com o desespero dela, ela realmente estava preocupada de eu fazer algum mal para o . Jamais faria nada contra meus amigos: são meus irmãos de vida. ainda é muito nova para saber se realmente ama o . Eles sempre foram próximos, desde que ela tinha 2 anos (quando eu conheci o ). Ele sempre vinha aqui brincar com a gente, era bem divertido.
  - Você ama o ? – Perguntei, enquanto ela estava aninhada em meus braços.
  - Eu não tenho certeza. Nunca senti nada disso antes por ninguém. Eu não sei, . Me ajuda! - Ela chorava e aquilo estava despedaçando meu coração.
  - Eu acho que você ainda é muito nova, , sério, você é nova para saber se ama o como homem. Você sabe que ele tem dez anos a mais que você, né? - Ela fez que sim com a cabeça. Ela me olhava com um ar de derrota no olhar. - Então, não digo que não pode ficar com caras mais velhos que você. Não é isso, mas sim que você ainda é nova demais para essas coisas. Te digo isso com experiência. - Se ela não tivesse tão derrotada e chorona, certamente diria que eu sou velho, por isso tenho experiência de sobra.
  - , vamos, cara! - Disse Chuck, entrando no quarto de minha irmã. - Foi mal, atrapalhei? - Ele viu que ela estava chorando.
  - Não dude, relaxa. Eu já estava descendo. - Eu disse e dei um beijo na testa dela. Levantei e fui andando na direção da porta, onde Chuck estava.
  - Hey, tampinha! - Disse Chuck, antes de sairmos. olhou para ele. - Seja lá o que for que te deixou assim chorona, dá um tempo que vai passar, está bem? - Ela sorriu de leve e concordou com a cabeça. Ele concluiu dizendo: - E se alguém te incomodar, pode falar comigo que eu resolvo! Super Chuck entrará em ação! - Ela sorriu mais, levantou-se e deu um abraço no Chuck.
  Chuck era bem próximo dela também, desde que ela nasceu. Ele me ajudou bastante, pois já havia cuidado de primos menores, então, sabia lidar bem com crianças. Fui descendo as escadas, Chuck veio logo atrás. Nós iríamos num pub ali perto de casa, marcamos com algumas garotas. Eu não tinha namorada. Jeff e Dave também não. Os únicos comprometidos eram Chuck e , e era isso que me preocupava também. Pois, com namorando, poderia deixar minha irmã mais triste ainda. Ela está sofrendo pelo e eu não sei o que fazer. O pior é que eu nem posso falar nada para o , brigar com ele, xingá-lo. Ele nem deve fazer ideia dos sentimentos de minha irmã e, obviamente, não tem culpa disso. No momento, só quero beber e tentar esquecer. Algumas horas se passaram desde que chegamos ao pub, os caras estavam se divertindo na pista e eu fiquei na mesa bebendo. Chuck aproximou-se gritando. A música está bem alta.
  - O que houve, cara? Ficará o tempo todo aí sentado? – Disse, se jogando ao meu lado.
  - Cara, eu preciso falar isso para alguém. - Eu disse, já bêbado. - Minha irmã está apaixonada pelo ! - Não deveria ter dito tão alto, apesar da música estar extremamente alta.
  - Quê!? Pelo ? - Disse Chuck, surpreso com minha revelação. – Então, por isso que ela estava chorando. Puta que pariu cara… - Ele se mostrou preocupado com minha irmã. Ele gosta muito da , como se fosse sua irmãzinha também.
  - Não conta para ninguém que te disse isso. Principalmente para o ! Por favor. - Pedi desesperado, não era para eu ter falado nada sobre isso. É a intimidade da minha irmã e eu contei para o Chuck. Me sinto péssimo com isso.
  - Não se preocupe. Não contarei para ninguém.
  Não demorou muito para voltarmos para casa. Cheguei em casa trocando as pernas. Passei pelo quarto da , como sempre fazia, para ver se ela já estava dormindo. A porta estava meio aberta e pude vê-la sentada na cama com um álbum de fotos nas mãos. Creio que seja o álbum que ela preparou para guardar todas as nossas memórias. Eu tenho um parecido, só que com fotos dos meus amigos também. Não quis atrapalhá-la, então, fui para o meu quarto. Não tinha forças nem para tomar banho, caí na cama e dormi. No dia seguinte, acordei e tinha uma bandeja com o meu café da manhã. Suco, café, frutas e pão com manteiga de amendoim. Meu favorito. Só poderia ter sido a quem fez isso. Junto à bandeja havia um bilhete. Minha suspeita foi confirmada, realmente havia sido ela quem preparou tudo aquilo. No bilhete dizia que era para eu tomar um banho porque provavelmente eu estava fedendo. Eu ri por dentro e deixei escapar um sorrisinho de canto de boca. Dizia também que ela havia ido para o colégio, finalmente havia chegado o grande dia dela ir para primeira aula no ensino médio. Droga! Não acredito que eu perdi. Antes de terminar de ler, eu saltei da cama e enquanto comia, vesti uma camisa e uma calça. Calcei o tênis e desci as escadas em disparada.
  - Aonde vai, ? - Questionou minha mãe, que estava na cozinha quando me viu correr pela mesma até o quintal.
  - Vou ver a , prometi para ela que a levaria hoje em seu primeiro dia de aula. Me esqueci! Que droga!
  - Não se preocupe, , ela já foi. O pai da amiga dela passou aqui e veio buscá-la. - Disse minha mãe enquanto preparava o almoço. E concluiu dizendo: – Ela disse também para você não se preocupar, pois ela voltará com a amiga andando. Disse que talvez tenha aula pela tarde, mas que virá almoçar em casa.
  Droga. Não acredito que perdi de levar minha irmã em seu primeiro dia de aula por causa de uma bebedeira! Maldita vodca. Queria muito levar minha pequena no colégio novo, apoiar ela. Eu sei que ainda está triste por ontem, por eu ter descoberto do . Sei que ela iria me querer por perto. Minha mãe não deixou eu ir agora, mas eu vou mais tarde buscá-la para o almoço. Hoje eu não tenho ensaio, então posso passar o dia inteiro com ela. Ajudar na lição de casa, se tiver. Conversar. Ser o irmãozão favorito dela, como sempre fui.
  - Já vou, mãe! – Eu disse, ao sair pela porta da frente.
  Peguei as chaves do carro e fui até o colégio da minha irmã para buscá-la. Eu estava nervoso. Parecia até que eu ia buscá-la para um casamento. Estacionei o carro na rua em frente ao colégio. Um dos mais tradicionais de Montreal. Desci e caminhei até as escadas. Eu já falei que minha banda está famosa no mundo todo? Pois é, eu havia me esquecido disso por alguns instantes. Logo, muitas garotas estavam ao meu redor, gritando meu nome e outras coisas que não pude identificar.
  – Calma, meninas, calma! - Tentei acalmar as “feras”, mas estava um pouco difícil. Logo, chegou um dos seguranças do colégio e espantou as meninas. – Obrigado, cara! Valeu mesmo. - Eu disse rindo e aliviado.
  - Não há de quê. Veio falar com a diretora? - Questionou o segurança.
  - Não, vim buscar minha irmã caçula. O nome dela é Adeline , é o primeiro dia dela hoje.
  - Ahhh, a turma nova. Venha, te levo até lá. – Ele me conduziu até o interior da escola. Chegando na sala da , ele saiu e me deixou lá. Não havia muitos alunos, as aulas já haviam acabado. Será que ela já foi embora? Entrei e perguntei para um dos alunos. - A já foi embora?
  - Acho que não, a vi saindo com a amiga dela e mais duas garotas. Acho que ela se encrencou no primeiro dia. As garotas são veteranas do 2ª ano. - Respondeu o garoto.
  - Se encrencou? - Disse distraído – Ok, obrigado. - Concluí e saí disparado pelos corredores do colégio atrás da minha irmã. Será que ela está bem?
  Eu procurei por todo o colégio. E olha que é um colégio bem grande. Ninguém soube me dizer o que havia acontecido. Estou começando a ficar preocupado de verdade com a situação. Se eu não a encontrar, vou até a polícia. Mas antes, eu vou rodar a vizinhança para ver se a encontro. Voltei para o carro e antes de entrar eu ouvi um assobio. Era o mesmo que eu ensinei para ela, nosso código secreto caso algum perigo estivesse nos rodeando. Olhei para os lados e não vi ninguém. Quando eu ia entrar no carro novamente, eu ouvi o assobio. Virei para trás e vi a atrás de uma árvore. Fui correndo até ela, de longe eu não consegui ver, mas, quando me aproximei, vi que ela estava machucada.
  - O que aconteceu, maninha? Quem fez isso com você? - Perguntei angustiado.
  - Ninguém fez nada comigo, eu consegui escapar. Por favor, , me tira daqui. - Ela disse angustiada e segurando firme meu braço. Levei ela até o carro e fomos embora. - Para casa não, , me leva para outro lugar. Não quero que a mamãe me veja assim.
  - Tem certeza? - Perguntei e ela afirmou com a cabeça. - Está bem. Vamos para o estúdio, ok? Lá você me conta o que houve. - Ela concordou e fomos até o estúdio. Antes, liguei para minha mãe para avisar que não íamos almoçar em casa. Que tinha aula direto e eu tinha que ir ao estúdio com urgência. - Bom, já estamos aqui. Agora me conta o que houve, maninha. - Já havíamos chegado no estúdio. Nos sentamos no sofá de entrada e, só então, eu reparei quão assustada ela estava.
  - Umas garotas… veteranas do 2ª ano implicaram comigo. Elas… elas me perseguiram pelo colégio, disseram que eu sou muito quieta e que não gostaram disso e por isso eu merecia apanhar.
  Qual o sentido, não é mesmo? Enquanto ela me contava o que aconteceu, minha garganta dava um nó imenso. sempre foi uma garota doce, meiga, quieta, quase não falava de tão tímida. Ela só se abria comigo, nem com nossos pais ela conversava tanto quanto comigo.
  - Eu consegui escapar delas, mas tenho medo de ir para aula da tarde e elas estarem lá. , eu quero ir embora com você. Me leva com você para os EUA, por favor! - Esqueci de avisar, estou de mudança para os EUA. Nosso empresário disse, que agora que somos estourados no mundo, que devemos nos mudar para lá, pois fica mais fácil a agenda de shows, viagens e etc.
  - Papai e mamãe nunca deixariam eu te levar, . Com quem você ficaria enquanto eu estivesse fora de casa? - Questionei sério, mas, no fundo, eu queria levá-la comigo. Não aguento ver minha irmã sofrendo dessa forma.
  - Mas, ! Eu não posso ficar aqui, elas vão… elas vão me bater, , eu não gosto de brigar. Por favor, minha vida na escola será um inferno! - Segurou firme meus braços e me olhou chorando. Ah , para de me olhar assim...
  - Calma! Hoje à tarde você fica comigo e amanhã, com calma, resolvemos isso, ok?
  - Como?
  - Vou falar com nossos pais. Deixa comigo.
  Ela se acalmou mais. Pedi uma pizza para a gente, almoçamos e demos risadas juntos enquanto conversávamos. Eu pretendia me responsabilizar pela educação e criação da minha irmã, se fosse preciso. Só para tirá-la daquela escola. Porque eu sei que mesmo se tirarmos ela daquela escola, aquelas garotas podem perseguir minha irmã. Montreal é uma cidade grande, mas não infinita. Tenho medo dela se machucar. Acho que o fato de eu a proteger tanto a tornou dependente de mim.
  Chegamos em casa, ela foi para o quarto dela e eu prometi que conversaria com nossos pais. Fui direto ao ponto, contei o que aconteceu de verdade hoje e eles ficaram horrorizados com a perseguição que sofreu em seu primeiro dia de aula. Falei também da vontade dela de ir comigo para os EUA, eles não ficaram muito contentes, mas, após meus argumentos, eles concordaram em deixar eu levá-la para lá. Claro que eu só poderia levar ela se eu me tornasse o responsável legal dela. Combinamos de no dia seguinte irmos ao cartório para acertar as coisas.
  Após a conversa com meus pais, eu fui até o quarto de minha irmã para contar a novidade. Ela ficou muito feliz. Nós conversamos a noite toda, lá pela madrugada, me despedi dela e fui para meu quarto. Quando saí vi que ela foi diretamente em seu armário para arrumar as malas. Nossa! Nós só viajaremos no fim de semana. Fui para o quarto sorrindo, feliz e aliviado, pois eu não queria deixar ela aqui sozinha. Apesar de saber que ela teria nossos pais para o que precisasse, mas eu queria estar por perto e com a turnê planejada que a banda tem, pelos EUA, não poderia fazer isso. Não poderia vir aqui em Montreal para visitar ela. Seria difícil conviver com isso. Enfim. Dormi.
  No dia seguinte, eu e meus pais fomos ao cartório. foi conosco. Conseguimos a liberação para eu ser o tutor dela. Ou seja, eu serei responsável pela educação e segurança dela. Ou seja, tudo que eu já fazia antes, só que legalmente falando. HAHAHA Para mim nada mudou. Ela continua sendo minha irmãzinha e eu sempre cuidarei dela. Bom, mas a liberação dos papéis, oficialmente, só sairia na segunda-feira seguinte, como viajarei no sábado, não seria possível ela ir comigo. Tentei conversar com nosso empresário para eu viajar depois, mas como já temos compromisso para domingo, não seria possível. Assim que sair os papéis oficialmente, meus pais os pegaram e podem conseguir a liberação da viagem da para os EUA. Ela iria sozinha, mas eu irei buscá-la no aeroporto. Confesso que estou muito ansioso para nossa nova vida: com a banda e com minha irmã ao meu lado.

Capítulo 2

  POV
  Estou tão nervosa. Meu Deus! É hoje o grande dia em que reencontrarei meu irmão e começarei uma nova vida longe de Montreal. Não é que eu não goste daqui, mas é que, sem meu irmão seria bem difícil de aguentar morar nessa cidade. Meus pais me levaram até o aeroporto, chorei na despedida, não queria deixá-los, mas foi preciso. Assim que der virei visitar eles. Não sei ao certo como aconteceu, mas, antes do viajar, nós tivemos uma briga feia. Ele viajou brigado comigo e eu nem sei se ele irá me buscar no aeroporto. Odeio brigar com meu irmão, não me recordo de muitas brigas nossas, de ficar tempos sem se falar. É raro de acontecer.
  Passei a viagem toda dormindo, preciso me acostumar com o fuso novo. São três horas a menos de diferença. Uma hora dessas eu estaria dormindo (meu cochilo da tarde). Desembarquei, peguei minha mala e mochila e fui caminhando em direção à saída para o salão principal do aeroporto. Enquanto caminhava, liguei logo para meus pais para avisar que havia chegado bem.
  - Sim, mamãe, fiz uma ótima viagem. – Falei, enquanto andava. - Não, ainda não encontrei o . Ok... o-ok... eu te aviso sim... é porque ainda não liguei para ele. Literalmente, acabei de descer do avião... – Minha mãe não parava de falar, nunca. – ... ok, mãe, eu vou desligar, pois estou batendo nas pessoas já... desculpa, moço! – Fingi me bater em alguém, tive que exagerar para ver se ela desligava... - ... certo, também te amo. Manda beijo para o papai! By-bye! - Desliguei o celular e continuei andando. Olhei em volta e não vi ninguém conhecido. Onde será que o pateta do se meteu? De repente, meu coração gelou. Acho que literalmente. - Não acredito. - Eu disse para mim mesma enquanto via o semblante do em meio às pessoas indo e vindo. O que ele faz aqui? Por que justo ele? Nossa, parece que ele está andando em câmera lenta. Tão lindo com esses óculos escuros. Sedutor. - Por que tão lindo? Ai, para, … - Me repreendi e cheguei mais perto dele. Ao me ver, ele abriu um enorme sorriso. Aquele sorriso que eu amo. Meu sorriso, licença!
  - ! Que bom que chegou! - Disse . Eu sorri envergonhada. Não sabia se meu rosto estava vermelho, mas também não queria demonstrar que estava preocupada com isso. - Como foi a viagem? – Perguntou, gentilmente, enquanto carregava minhas malas.
  - Fo-Foi boa. Foi ótima, . - Gaguejei ao falar. Nossa, que pateta eu sou. - E o ? Cadê ele? – Como se eu não estivesse gostando que o veio me buscar... na verdade, nem quero saber do meu irmão, por enquanto.
  - Está no estúdio. Nosso empresário marcou um show de última hora hoje. Nossa, já venderam todos os ingressos. Acredita? - Sorri e concordei com a cabeça. - Vamos, vou te levar para o apartamento dele para você se instalar. Aliás, - disse ele ao entrar no carro – seu irmão me deu inúmeras recomendações para cuidar de você. Parece até que você tem dois anos de idade! Um chato. – Ele concluiu, dizendo e nós rimos do quão protetor excessivo meu irmão é capaz de ser. Mais até que meus pais.
  - Ok, vamos sim.
  Eu estava sem jeito de estar no mesmo carro que o , só eu e ele. Nunca havia acontecido antes, sempre um dos meninos estava conosco ou até meu irmão. Após despertar do meu transe momentâneo, pude ouvir o que dizia. Ele falou que deixou meu nome e o dele, como meu responsável, na porta do local do show para caso eu quisesse ir vê-los. Tinha deixado dinheiro para o táxi, para eu ir, e na volta eu vinha com ele. Não sei se eu vou, não sei como eu e ele estamos. Será que ainda estamos bem? Desde que ele viajou que não falo com ele, nem por mensagem, nem ligação. Nada.

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  O apartamento do é bem legal. me mostrou o quarto onde eu ficarei. Deixei minhas malas num canto e deitei-me na cama.
  - Bom, , eu já vou. Vou deixar a chave do apartamento com você, ok? Deixei na mesinha da sala o dinheiro e o número do taxista que virá te buscar, caso vá ao show. Quando estiver pronta, você liga para ele. Ah, o endereço do lugar está ali em cima também. Qualquer coisa: me liga ou liga para o , ok?
   disse e eu concordei. Agradeci por ele ter me levado até o apartamento do e por ter me buscado no aeroporto. Ele foi embora e eu fiquei ali deitada na cama pensando no , no quão perfeitamente fofo ele é. E o quanto eu queria que ele me notasse como mulher e não como irmãzinha do . Ah, que vida! Fui tomar um banho, não tinha certeza se após o banho eu pediria uma pizza com o dinheiro do táxi ou se iria para o show.
  No fim, eu resolvi ir ao show. Cacei uma roupa nas malas para ir. Eu queria estar bonita para rever meu irmão e para que o me notasse. Poxa, eu já tenho quase quinze anos, ! Ah, preciso me controlar. Espantei os pensamentos loucos da mente e fui me arrumar. O show era às 19h, mas eu fui mais cedo para conversar com o antes do show. Fiquei pronta, liguei para o taxista e fui para o local do show.
  Levei minha identificação e os documentos que atestam que o era meu responsável legal. Só assim poderia entrar numa boate classificação dezesseis anos, tendo somente catorze. Havia uma multidão (ok, não era bem uma multidão, mas tinha bastante gente ali) na porta do local do show. Me lembrei que o me disse que não havia mais ingressos, tratei de ir logo para frente para entrar logo.
  - Licença. Desculpa, licença. - Fui tentando me infiltrar em meio às pessoas. Estava bem difícil, mas consegui chegar ao segurança. Ele estava bem irritado. - Com licença, eu sou irmã do vocalista da banda que vai tocar hoje, , ele disse que meu nome estaria com você aqui na porta. Me chamo Adeline . – Disse, na maior educação. Ele me olhou com cara de tédio.
  - Menina, sabe quantas “ Adeline ” apareceram aqui só nessa última hora? - Me disse irritado. - Sai daqui, vai. Acabaram os ingressos. Ninguém mais vai entrar! – Gritou a última frase.
  - Mas, eu sou a , olha aqui minha identificação. - Estendi minha identificação para ele ver, mas ele não quis e foi super ríspido comigo.
  - Já mandei sair, garota! - Ele me empurrou e eu caí em meio às pessoas. Algumas deram risada de mim. Tive dificuldade para me levantar, mas consegui sair do meio deles. E agora, o que eu faço? Tentei ligar para o , mas ele não atendeu. Liguei para o e ele também não atendeu. Ninguém atendeu minha ligação. Já eram 17h e eu não sabia como irei entrar.
  Deu 21h e eu ainda estava na porta da casa de show esperando alguém me atender. Meu celular descarregou, agora sim que não conseguirei falar com ninguém. Ventava muito, assim como no Canadá, nos EUA era início de outono. O tempo estava frio. Sorte que não estava chovendo nem nevando. Estava com frio, sem celular e com medo. O segurança entrou na casa de show e então eu fiquei sozinha do lado de fora. A rua estava um pouco movimentada, pois havia outra casa noturna próxima dali. O que eu vou fazer se ninguém aparecer para me buscar? Não tenho dinheiro para voltar para o apartamento do … e agora?

Capítulo 3

  POV
  O show acabou e a pateta da minha irmã não veio nos ver. Não veio me ver. Isso me magoa. Fomos ao camarim e então pude ver que meu celular tinha inúmeras ligações dela. Será que aconteceu algo? Os caras disseram que ela havia ligado para eles também. É, aconteceu alguma coisa com ela. Comecei a ligar desesperadamente para o celular dela, sem sucesso. Só caixa postal.
  - Inferno! Só cai na caixa postal. - Eu disse irritado, andando de um lado a outro. - Ninguém atende lá em casa. Ou ela desmaiou ou ela não está em casa. - Concluí a ligação e pus as mãos na cabeça. - O que pode ter acontecido, caras?
  - , calma. Vamos achar a . - Disse . - Eu a deixei em casa, ela disse que tomaria banho e decidiria se viria ou não. - Ele disse, tentando refazer os passos da última vez que encontrou com ela. De repente, ele teve uma ideia. - ! Já sei cara, liga para o taxista que você indicou para trazê-la aqui, ele pode ter alguma informação.
  - Verdade! Porra, , às vezes você pensa! - Disse ironicamente, ele riu. Liguei para o taxista. - Tem certeza? - Eu disse ao telefone, ele havia me dito que pegou a no meu apartamento às 16h e a deixou aqui, tinha até um comprovante da corrida, que depois ele me mandou por mensagem. - Tudo bem, cara, muito obrigado! - Desliguei e fiquei ainda mais preocupado.
  - E aí, ? - Perguntou Chuck. Todos estavam preocupados, juntamente comigo.
  - Ele disse que trouxe ela para cá às 16h. Me mandou um comprovante da corrida e uma imagem da câmera do táxi dele onde dá para ver a . Mas, já são 21h20 e onde ela está? - Eu disse derrotado, preocupado e quase chorando. Primeiro dia dela na Califórnia e eu a perdi. Sou um péssimo irmão e um péssimo tutor!
  - Caras! Tenho notícias da ! - Disse nosso produtor, entrando ao camarim animado. - Um segurança disse que várias garotas hoje se passaram por ela para tentar entrar, já que não havia mais ingressos, só que uma delas, além de dizer que era a , ainda mostrou uns documentos para ele. Só que ele não quis ver, pois estava muito movimentado e agitado. - Um alívio me consumiu por dentro, mas logo veio a angústia novamente. - Ele disse que acha que ela está lá fora ainda.
  - Nesse frio? Esse filho da puta acha que é quem para deixar ela lá fora? Que insensível! Vou buscá-la agora! - Eu falei furioso e saí correndo até a saída. Todos me seguiram. - ! - Eu falei assim que saí, mas não encontrei ninguém. - Ei, - chamei a atenção do segurança que estava na porta da casa de show, ele olhou para mim - havia uma garota aqui na porta, sozinha, chorando provavelmente?
  - Sim, ela estava aqui até cinco minutos atrás. Ela pegou os papéis que estavam com ela e saiu naquela direção. Se correrem, podem alcançá-la.
  - Obrigado! - Eu nem pensei duas vezes. Saí correndo na direção para onde o segurança apontou. Meu coração estava disparado por conta da adrenalina da corrida e pela preocupação com ela. Eu não sabia se ela estava bem. Sabia que ela estava esse tempo todo esperando por mim, sozinha, nesse frio. Ainda não consegui achar ela. - Acharam ela? - Perguntei para os caras, que vinham logo atrás de mim. Eles negaram com a cabeça. Eu estava começando a me desesperar, quando ouvi um grito de socorro. - É ela! - Era a voz da minha irmã, tenho certeza, vinha de um beco ali perto. Todos fomos até lá e encontramos ela cercada por dois caras bem mal-encarados. - Hey, deixem-na em paz!
  - ! - Ela disse chorando, aliviada ao me ver. – Cuidado, , eles estão armados. - Me falou preocupada. Dali para frente, eu só parti para cima dos dois, com muita raiva, os caras me ajudaram. foi até para protegê-la. Ficou abraçado a ela. - , estou com medo. - Ela disse abraçada às costas dele. Enquanto isso, brigávamos com os dois meliantes. - PETE! - Fui atingido de raspão no braço pela faca que um deles carregava. Logo, a polícia estava ali e os caras fugiram, mas foram presos. Eles tinham pegado o celular da minha irmã, mas a polícia o devolveu. - ! ! Está tudo bem? - Ela disse, soltando-se das costas do e vindo em minha direção.
  - Au! – Gemi, pois ela tinha me abraçado forte demais, bem no braço machucado. Ela se afastou e pediu desculpas. - Tudo bem, anjinho, você está bem? Eles te machucaram? – Perguntei, acariciando sua cabeça.
  - Não, eles tentaram tocar em mim, mas eu não deixei. Na hora que vocês apareceram, eles iam tentar novamente, me ameaçando com a faca. Ah, que bom ver vocês! - Disse aliviada, repousando a cabeça em meu ombro.
  - Vamos voltar para boate. Lá você vai comer algo, deve estar com fome. - Ela concordou. Todos voltamos para boate, terminamos de curtir a noite e voltamos para casa. Ela dormiu no caminho de volta, deitada em meu colo. Tive que acordá-la quando chegamos. Subimos até meu apartamento e entramos. - Eu sei que você já deve conhecer, mas bem-vinda ao lar irmãzinha! Agora sim, oficialmente! - Ela sorriu e agradeceu pela hospitalidade. - Sou seu irmão e tutor. É minha obrigação. E mesmo se eu não fosse, eu te amo, . Jamais a deixaria sem um lar.
  - Amo muito você, meu irmão! - Ela pulou em meus braços. Na boate, eu fiz um curativo no braço, realmente não foi nada demais a ferida. Liguei para nossos pais para avisar que já estávamos em casa. Combinamos em não contar para eles o que havia ocorrido, pois os conheço bem e sabia que exigiriam a volta da para Montreal mesmo eu sendo o tutor dela.
  Após o ocorrido passou-se algum tempo. entrou numa escola tradicionalmente americana de ensino médio, fez amigos, sem os problemas que teve em Montreal. Ainda bem, pois isso me preocupava muito. Eu viajava muito com a banda, por isso, ela passava a maior parte do tempo sozinha. Ela tirou a carteira de motorista, dei um carro para ela de presente e com isso ficou mais fácil para ela ir para escola, pois a mesma ficava um pouco longe de nosso apartamento. Tudo estava indo muito bem para nós dois. A banda estava fazendo sucesso cada vez mais, muitas viagens, shows, CDs gravados. Ufa! Uma correria total. Às vezes, eu sinto falta de apenas chegar em casa, ir no quarto da minha irmã, pedir uma pizza e assistir a um filme ao lado dela. Saudades.

Capítulo 4

  POV
  Acordei cedo hoje, arrumei o apartamento, tomei um banho, me arrumei e fui ao parque praticar. Depois que meu irmão engajou na carreira como músico, eu tive que arrumar algo para me distrair do fato de não ter ele por perto por muito tempo, como era antigamente. Então, resolvi fazer aulas de fotografia junto com o colégio. Estou pensando em, quando concluir o colégio, fazer uma faculdade relacionada. Ainda não sei qual, mas a fotografia virou uma grande paixão minha. Além de desenhar e escrever, claro.
  Cheguei ao parque, agora são 13h49, está frio, mas faz um sol lindo aqui na Califórnia. Já se passaram dois anos e eu estou no último ano do ensino médio. É, o tempo voa. Mas, para mim, foram dois longos anos. Meu aniversário de quinze anos passou e meu irmão não pôde estar aqui comigo, somente meus pais. O que foi um alívio já que o não veio. Eu não contei para ele, não contei para meus pais, na verdade, ninguém sabe o quanto eu sofro por morar praticamente sozinha em uma cidade que ainda é estranha para mim, apesar desses quase três anos que estou aqui em LA. Qualquer lugar é estranho sem o meu irmão. Qualquer lugar longe do é estranho também. Pois é, eu ainda o amo muito.
  A veia artística do passou para mim da melhor forma. De uma forma que eu não sei se ele ficaria orgulhoso de mim, nunca conversamos sobre isso. Até por quê, ele não tem mais tanto tempo assim e esse meu talento surgiu recentemente. Passar horas e horas sozinha dá nisso, surgem coisas de você extremamente surpreendentes para os outros e para você mesmo, às vezes. Eu comecei a escrever letras de músicas aleatórias. Poucas eu coloquei melodia no violão. havia me ensinado o básico, quando eu era mais nova, acho que com oito ou nove anos. Hoje em dia, eu toco bem mais e acabei aperfeiçoando.

Alguém consegue me ouvir?
Ou estou falando comigo mesmo?
Minha mente está se tornando vazia
Na busca por alguém
Que nem olha direito para mim
Está tudo estático na minha cabeça
Alguém pode me dizer
Por que estou sozinho como um satélite?

Porque esta noite eu me sinto como um astronauta
Mandando SOS por esta pequena caixa
Eu perdi o sinal quando me levantei
Agora estou preso aqui e o mundo me esqueceu
Posso descer por favor?
Porque eu estou cansado de girar e girar
Posso descer por favor?

Ensurdecido pelo silêncio
Foi alguma coisa que eu fiz?
Eu sei que existem milhões
Eu não posso ser o único desconectado
É tão diferente na minha cabeça
Alguém pode me dizer
Por que estou sozinho como um satélite?

Porque esta noite eu me sinto como um astronauta
Mandando SOS por esta pequena caixa
Eu perdi o sinal quando me levantei
Agora estou preso aqui e o mundo me esqueceu
Posso descer por favor?
Porque eu estou cansado de girar e girar
Posso descer por favor?

Agora eu perco o sono e grito na gravidade zero
E está começando a ficar pesado para mim
Vamos abortar esta missão agora
Posso descer por favor?

  Essa foi uma das poucas músicas que tem uma melodia. É realmente uma música completa. Voz e violão. Compus em um dos dias mais tenebrosos da minha vida. Um dia em que eu não me aguentei de saudades do e do , dos meus amigos… e transformei em canção. Tenho andado muito triste ultimamente e nem sei dizer ao certo o motivo. Saudades, apenas? Ou seria algo mais profundo? Eu realmente não sei explicar. Também, eu já estou acostumada a ficar sozinha, apesar de odiar. Porém, vem a contradição de que, apesar de eu estar acostumada a ficar sozinha, eu suplico por ajuda e quero voltar a ser rodeada de pessoas que me amam, e que eu também ame. Eu quero poder acordar e ter meu irmão por perto ou, pelo menos, mais acessível do que eu o tenho hoje. Eu quero poder ir até o estúdio onde eles estão ensaiando e poder olhar o tocar. Ver o rosto dele se expressar em diversas caretas enquanto toca. Ouvir ele perguntar “Então, , tá legal essa parte?”, e eu sempre responder que está bom, porque realmente está. Minha vida está resumidamente restrita à saudade.
  Eu não costumo sair com amigos, gosto mais de ficar em casa e chamá-los aqui para uma reunião. Cada um traz alguma coisa e fazemos nossa festinha em casa mesmo. Prefiro. Porém, a Lia, uma das minhas melhores amigas e pessoas que pude conhecer aqui na Califórnia, me chamou para uma festa na casa de um amigo. De início, obviamente, eu não quis ir. Mas, sabe ser bem insistente quando quer.
  - ! Não seja chata, vamos, vai ser divertido.
  - Lia, eu não quero ir para ficar com cara de cu a festa toda. - Eu disse desanimada.
  - Então não fique. - Ela estava em pé, na minha frente, com as mãos pousadas na cintura e batendo o pé.
  - Lia… - hoje eu não estava a fim de sair, mesmo. Nenhum dia eu estou, mas, especificamente hoje, não era o meu dia de sair. Mas, ela insistiu.
  - Lia is my dick! - Gritou e eu arregalei os olhos. - Você vai e acabou. Não me interessa, , você precisa esquecer desse tal de . - Ela sabia que eu não queria sair para ficar em casa pensando no . Sou uma idiota, I know this, ok?
  - Não estou pensando no
  - Está sim, não adianta mentir para mim, baby! Sou expert quando se trata de Adeline .
  - Sou tão previsível assim? - Eu disse, rindo sem graça.
  - Yep! - Ela disse de supetão, enquanto eu revirava os olhos – Amiga, é sério. O pode ser um cara legal, bacana, famoso, um dos seus grandes amigos da infância, mas poxa, ele é um babaca quando se trata de amor. Você me disse que já falou para ele, antes de vir para Califórnia, que o amava e o cara nem deu bola. Ele ainda te vê como irmãzinha do melhor amigo dele. Isso não vai mudar. - No fundo, tudo aquilo que a Lia disse eu já sabia, só não queria aceitar. Mas desta vez, só desta vez, eu quis me permitir fazer diferente. Foi então que aceitei o convite/ultimato da Lia.
  - Ok, você me convenceu, Lia. Eu vou na festa hoje. - Ela deu um grito de felicidade e eu caí na gargalhada.

  Lia me ajudou a me arrumar. Ela já está de mala e cuia aqui em casa faz alguns dias. Nos arrumamos e fomos até a tal festa. Chegando lá, me deparei com uma enorme casa no lago. Era um lugar realmente lindo, perto da divisa de LA com a cidade vizinha. Haviam muitas pessoas lá, muita bebida e alguns caras bem interessantes. Porém, eu não quis ninguém. Aliás, nenhum relacionamento meu deu certo até hoje, pelo simples, e óbvio fato, de eu não querer mais ninguém além do . Eu sei que isso faz mal para mim, de certo ponto, mas, o que eu posso fazer se meu coração não se esquece do ?
  Algumas horas se passaram e já era noite. A essa altura da festa eu já havia me perdido da Lia, provavelmente ela estava com algum cara no meio dos matos que há atrás da casa. Lia é dessas: não se importa muito com o amanhã. Ela simplesmente vive, sem preocupações com sentimentos. Às vezes, eu queria ser assim: não me importar muito com sentimentos e simplesmente viver os momentos da vida, mas não sou assim. Uma pena, eu acho. Eu estava vagando, sozinha, pelos corredores da casa. Tinha gente deitada no chão, bêbada. Tinha gente se beijando no sofá. Enfim, eu estava bêbada já, mas ainda em plena consciência de meus atos. De repente, senti algo me segurando pelo braço. Virei-me para trás e tinha um cara me segurando, ele estava acompanhado de mais dois caras. Um deles me intimou a ir com eles para algum lugar. Eu não sabia onde era, então, disse que não queria ir. Mas, eles insistiram.
  - Vem, gatinha, vai ser divertido! - Um deles falou, enquanto me arrastavam contra minha vontade para algum lugar. Eu até tentei chamar por ajuda, mas ninguém se importou.
  - Me soltem, eu não quero ir! - Eu dizia e tentava me livrar deles. Em vão.
  - Para, garota! Deixa de ser chata, eu sei que você quer. Vem cá… - de repente, eu estava num quarto e eles me empurraram uma bebida goela abaixo. Do nada, tudo estava girando. Foi então que desmaiei. Quando achei que estava tudo perdido, ele chegou para me salvar. Meu herói! 

Capítulo 5

  POV
  Dizem por aí que quando você ama uma pessoa, você sente quando ela precisa de você. Não sei se é verdade isso, mas ultimamente eu estou sentindo algo estranho. Nos últimos dias, ando muito angustiado, ansioso, e com uma imensa vontade de me confessar para a garota que amo. Apesar de eu já ter 27 anos, eu amo uma garota de 21. O pior (ou não): ela é irmã do meu melhor amigo. é o grande amor da minha vida, desde que ela se confessou para mim. Na verdade, eu já a amava, só não queria admitir. Talvez por medo da reação do , irmão dela; medo da reação das pessoas, por ela ser mais nova que eu; não sei. Esse medo todo, esse receio todo me fez perder muitos anos sem poder abraçar a como eu gostaria, além de amor de amigo, um quase irmão. Eu sei que ela me ama como homem, ela já me disse isso, mas, mesmo assim, eu tenho medo. Preciso parar com isso…
  A banda está indo tão bem. Graças a Deus, estamos fazendo bastante sucesso pelo mundo todo, muitos shows e turnês longas, hits lançados, clipes… muita fama! Junto com ela, vieram mulheres. Umas interessadas apenas na minha fama e outras que demonstravam gostar de mim. Mas, nenhuma delas foi capaz de me fazer esquecer da . Creio que o já saiba dos meus sentimentos pela irmã dele. Nunca falei abertamente com ele sobre isso. Nem com ele, nem com nenhum dos meus amigos que conhecem nossa “história”. Entre aspas, pois nunca chegamos a nos beijar, apesar de eu querer muito. E eu sei que ela também quer. A correria das turnês está tão louca que quase não temos tempo para ir à Califórnia para ver a . Passávamos longas tardes na casa do , ou na casa de qualquer um de nós, conversando, bebendo (a também, ela começou cedo a beber), tocando uns covers ou músicas próprias. Era muito divertido e prazeroso para todos. Sinto muita falta disso. Principalmente de poder vê-la todos os dias.
  Tivemos uma pausa de dois dias, uma folga micro, que poderíamos fazer o que quiséssemos. não pôde ir para Califórnia, pois ele estava doente e preferiu ficar em New York descansando. Eu resolvi ser homem, pelo menos uma vez, como diz o Dave. Foi então que peguei o primeiro avião para a Califórnia. Destino? Casa do , onde estava. Eu não contei para ninguém que iria lá. Disse apenas que iria para Califórnia, mas não disse exatamente para onde. Cheguei ao apartamento da e ela não estava. Liguei para o celular dela e nada dela atender. Parece que meu coração apaixonado me enganou, acho que ela não precisava de mim. Mas, por que essa angústia no meu peito? Abri o Instagram e vi a última publicação que a postou. “Noite agitada com a minha Lia!” Ela postou isso junto com uma foto dela com sua amiga Lia e uma localização. Será que eu devo ir lá para vê-la? Resolvi arriscar e fui ao tal endereço onde ela estava. Havia uma casa enorme próximo a um lago. Era tarde da noite já, eu tinha alugado um carro para ir lá. Chegando ao local, eu procurei por ela. Entrei na casa e tinha muita gente bêbada já. Nem ligaram para minha presença. Passei por todo andar de baixo da casa e nada dela. Será que ela já foi? Resolvi subir para o andar de cima da casa, na esperança de encontrar ela lá. Tem quatro quartos e um banheiro aqui. Fui diretamente no banheiro e havia só uma garota vomitando. Não era ela. Passei por três quartos e não tinha ninguém. No último quarto, a porta estava trancada. Bati e ninguém respondeu, mas eu pude ouvir vozes vindas do interior do quarto. Insisti. Até que um cara abriu a porta. Ele estava claramente alterado.
  — O que quer? — Ele disse rapidamente, só dava para ver uma fresta do interior do quarto.
  — Estou procurando uma amiga. O nome dela é . Essa aqui. — Estendi o celular pela greta e mostrei uma foto minha e da , só nós dois. Uma das poucas que temos juntos e na qual eu guardo com carinho. — Você a viu por aqui?
  — Não vi. — Ele disse seco e já ia fechando a porta quando eu ouvi um gemido e uma fala “Não! Não!”. Tive certeza de que era a voz da .
  — Espera!
  Empurrei a porta de volta, com força, e a mesma se abriu revelando o interior do quarto por completo. Quase não acreditei na cena que vi. Eu não queria acreditar. A minha querida estava deitada na cama, quase desacordada, e com dois caras em cima dela.
  — !
  Espantei o cara que estava na porta e entrei no quarto. Foi então que começou uma briga. Os caras foram para cima de mim, tentei me defender como pude, mas três contra um foi covardia. Após me baterem (o máximo que consegui foi desferir dois socos), os três foram embora. Ela ainda estava deitada, agora desfalecida na cama.
  — … — eu disse meio arrastado e me arrastando até a cama. Eu sentia muita dor, minha boca estava sangrando muito e meu olho esquerdo dolorido. Provavelmente estava inchado. — Vou te tirar daqui, sweetheart. — Eu falei sem nem pensar direito no que dizia. A carreguei no colo, com muita dificuldade, e a levei até o carro. Dei uma olhada no estacionamento e o carro dela não estava lá. Então, ela veio de carona. Fui dirigindo de volta para o apartamento dela, pensando no terror que ela viveu até chegar àquela cena que presenciei.
  — Ai… minha cabeça… — ela disse, deitada no banco de trás do carro. Olhei para trás e ela sentou-se com dificuldades. — ? O… o que faz aqui? Onde a gente está? — Ela perguntou com a voz rouca. — Ai meu Deus, os caras? Onde eles estão???? — Disse de supetão, assustada.
  — Calma, , a gente está indo para casa já, ok? Está tudo bem agora. — Acalmei ela, que pareceu se aliviar mais. Ela me olhou pelo espelho e viu meus machucados.
  — Seu rosto, … está machucado? — Disse preocupada. — Quem fez isso com você?
  — Aqueles caras que… que estavam lá no quarto com você. — Falei, ainda olhando para a estrada. Olhei para o espelho rapidamente e pude vê-la começar a chorar.
  — Ah, . Desculpa! — Ela estava chorando com as mãos no rosto. — Isso tudo foi culpa minha. Eu não me lembro de muita coisa. Só sei que eles me levaram para lá, me deram uma bebida e depois eu só lembro vagamente de você me carregando para fora da casa. — Contou em prantos.
  — Não é culpa sua, não chore, my sweet… — eu falei, sem pensar novamente, e me corrigi: — Não chore, , já estamos chegando em casa. Vou cuidar de você. — Concluí e quando olhei para o espelho ela me olhava, ainda chorando, confusa com o que acabara de ouvir. Desviei o olhar e continuei dirigindo. Não falamos mais nada.
  Chegamos finalmente ao apartamento dela. Ajudei-a a subir, coloquei ela na cama e a fitei. Ainda me perguntava porque meu coração estava um misto de medo e alegria. Talvez, porque agora ela esteja em segurança e, ao mesmo tempo, eu tenho medo dela interpretar errado aquele “my sweet” que eu larguei no carro. Se bem, que neste caso, só há uma forma de interpretação. Ela foi tomar banho, ela estava um pouco envergonhada por eu a ter encontrado naquela situação, talvez. Fui até a cozinha procurar um kit de primeiros socorros. A ferida na minha boca estava me incomodando bastante. Achei e fui até a sala, sentei-me no sofá, abri o kit e peguei uma gaze. Comecei passando no canto da boca, com calma, pois estava muito dolorido.
   chegou até a sala e sentou-se ao meu lado.
  — Deixa que eu faço isso, você está piorando tudo. Estabanado! — Ela disse brincando, sorrindo de leve e tomou a gaze da minha mão. Foi aos poucos passando o remédio na minha boca. Eu a olhava atentamente. — O que foi, ? — Ela perguntou envergonhada.
  — Saudades, apenas. — Falei aquilo que meu coração me mandava dizer. — Por que você estava naquele lugar, ? Não combina com você… — perguntei com um nó na garganta, pois lembrei da cena que presenciei naquela hora.
  — Essa é a nova , não sabia? — Disse dando de ombros.
  — Você não é assim, definitivamente não é. — Segurei suas mãos e a olhei no fundo dos olhos.
  — A vida fez isso comigo. Acostume-se. — ela falou decidida. Eu não podia aceitar que minha , aquela menina doce que sempre conheci, havia virado uma pessoa que frequenta aquele tipo de festa.
  — Eu não posso me acostumar com isso. Nunca. — Falei, enquanto ela passava novamente o algodão na minha boca. — Au! Doeu! — Ela o apertou com força, gemi de dor e ela abaixou a mão. Parecia estar com raiva, parecia estar confusa. Não sei direito. Eu não estou conseguindo decifrar o que ela sente agora. — Eu te amo, sabia? — Deus, por que permitiu que eu dissesse isso? Ah, que burro. Por que falei aquilo? E agora? Ela ainda está olhando para baixo, com a testa franzida e a boca trêmula. — ? — Ela me fitou, seus olhos estavam marejados.
  — Você o quê? — Finalmente ela falou alguma coisa. Eu repeti o que havia dito antes, só que desta vez segurando as mãos trêmulas dela. — Vo-Você tem certeza, ? Olha a minha idade… eu tenho 21 anos… sou irmã do seu amigo… eu não tenho nada para te oferecer. — Ela foi falando em lamentos. Segurei o seu rosto e o levantei para que me olhasse nos olhos.
  — Você tem aquilo que eu mais quero… — eu falei sorrindo e completei — …amor! É só isso que eu quero: o SEU amor. — Enfatizei que quero somente o amor dela e isso ela tem de sobra para me dar.
  A respiração dela, ofegante, se confundia com a minha, também ofegante. Fui aproximando meu rosto do dela. Percebi que ela estava gelada, talvez por medo ou talvez porque estava bem frio. Pensei em beijá-la, mas lhe dei apenas um abraço. Eu realmente não quero beijar a ela sendo mais nova. Eu consigo esperar. Já esperei todo esse tempo. Por que não esperar sua maior idade?
  Acolhi ela em meus braços e pude sentir que ela relaxou nesse abraço. Toda a tensão que ela sentia se foi e sua respiração ficou controlada novamente. Me afastei aos poucos e lhe dei um longo beijo no rosto. Ela me perguntou novamente se eu a amava, eu disse que sim. Naquela altura, eu não tinha mais dúvidas de que queria ficar com ela para sempre. Foi então, que ela me disse o “Eu te amo, que eu queria ouvir desde que saí de NY. Olhei para ela com meu olhar apaixonado e bobo e eu fiquei acariciando o rosto dela.
  Resolvemos ver um filme na TV, mas acabamos dormindo e, quando menos esperei, havia amanhecido. Acordei primeiro que ela, me levantei, escovei os dentes e fui para cozinha. Havia pouca comida na geladeira. Deixei um bilhete para ela dizendo que ia ao mercado comprar algo para gente tomar café e almoçar. De noite, pretendo levá-la a algum restaurante para jantarmos. Sonhei a noite toda com ela. Os melhores sonhos que tive, até hoje.
  Quando eu voltei para casa, chamei por ela, mas não obtive resposta. Deixei as compras na cozinha e fui até o quarto para ver se ela estava lá dormindo. Ao me aproximar, pude ouvir som de um violão e alguém cantando. Era ela. Essa música eu não conheço. Cheguei mais perto para escutar melhor, acho que ela quem compôs. Será? ficaria orgulhoso ao saber que sua irmã está compondo. Peguei meu celular e comecei a gravar o som dela cantando. A sua voz é meio grave cantando, lindamente grave. A letra era profunda, falava de uma tristeza intensa. Será que ela se referia a si mesma? Imagino o que ela tenha vivido esses meses que passou sozinha em LA. Eu, com toda minha inteligência, deixei o celular escapar das minhas mãos e o mesmo caiu no chão. O áudio dela cantando tinha sido enviado para o grupo da banda, que temos para trocar mensagens. Ela se assustou e quase caiu da cama, se equilibrou novamente e me olhou envergonhada.
  — ! — Ela falou, ajeitando o violão no colo. — Não te vi chegar. — Eu entrei no quarto.
  — É, acabei de chegar e parei aqui para te ouvir cantando. — Falei com um sorriso no rosto. — Não sabia que cantava.
  — Ah, eu… — ela estava bem envergonhada. Sentei-me ao seu lado na cama. — Eu que… eu que fiz essa música. Escrevi a letra e a melodia. Ficou boa? — Questionou, com um sorrisinho de canto de boca e me olhando com o olhar mais lindo dos universos.
  — Ficou ótima! já ouviu? — Bom, se ele não tinha ouvido, agora já ouviu porque mandei para todo mundo. Haha
  — Não. — Agora já era. — Acha que eu deveria mostrar para ele?
  — Com certeza, . Essa música é muito boa. Quem sabe não fazemos uma regravação dela? Hein? Seria muito legal! — É uma ótima ideia, afinal.
  — Depois mando para ele. Me ajuda a gravar? — Concordei com a cabeça e lhe dei um abraço.
  — Vem, vamos para a cozinha fazer nosso café da manhã.
  Conduzi ela até a cozinha e conversamos mais sobre a música dela. Realmente, ela havia escrito esta música quando estava sozinha aqui no apartamento. Me dói saber que ela sentiu esse tipo de solidão, esse tempo todo, e eu sem poder ajudar. Longe dela. Porém, isso acabaria em breve. Fizemos um vídeo dela cantando a música que compôs e mandamos para os caras. Eles adoraram, mal pôde acreditar que aquela era sua irmãzinha cantando, compondo e tocando. Decidimos regravar a música. E foi o maior sucesso. “Astronaut”, esse é o título escolhido pela . Obviamente, os créditos da música são todos para ela.
  Infelizmente, hoje estamos separados por alguns quilômetros de distância, mas estamos namorando (apesar de só nós dois sabermos). Ela na Califórnia e eu, e a banda, na Europa. Viemos fazer uma pequena turnê por aqui.
  — Será que ela toparia vir? — Disse Dave, sentado na cadeira em frente à minha, dentro do avião.
  Nós falávamos da possibilidade da fazer parte da nossa produção. Ela estava em seu último mês do último ano do colégio. Logo, ela iria para uma faculdade, mas antes iríamos propor isso para ela. Será que ela toparia vir ficar conosco? Ficar ao meu lado?
  — Talvez hein… pergunta para ela, — Diz Dave, olhando para que estava mais na frente.
  — Não sei, Dave. — O nome dele é outro, mas chamamos ele assim, haha é mais fácil. — Acho que ela adoraria fotografar para gente. Ainda não falei nada com ela a respeito. Mas não sei se ela gostaria de deixar a Califórnia para viajar conosco. — Ele respondeu com um ar de tristeza. Desde o dia em que a vimos, no início do ano, logo após gravarmos a música, que ele não a vê pessoalmente. Quase três anos se passaram. Se eu sentia muita falta dela, imagina o
  — Por que não fala logo, ? — Eu gritei do fundo do avião. Ele virou o corpo para me fitar. — Não custa nada sondar, né? — Ele concordou com a cabeça e ligou para irmã.
  Quero deixar algo claro: eu e a estamos juntos, porém o não sabe. Ela tem medo de contar e, eu a entendo, pois compartilho do mesmo medo. E não, nós nunca dormimos juntos, ta?
  Enfim, ligou para irmã e colocou no viva-voz para que todos ouvissem.

Capítulo 6

  POV
  Liguei para minha irmã para saber se ela gostaria de viajar conosco pelo mundo sendo nossa fotógrafa oficial. Não sei se ela gostaria, faz tempo que não conversamos. Por causa das provas finais dela no colégio e das nossas turnês intensas pelo mundo.
  Nota do : se o pensa que está me enganando ao dizer que não tem nada com minha irmã, ele está pensando errado. É tão óbvio que todos na banda e na produção já sabem. super iludido. :)
  Fim da nota.

  — Mana! — Ela atendeu, parecia cansada, mas feliz ao me ouvir. — Está no viva-voz, fala com os caras. — Todos deram oi para ela, que retribuiu animada. Meu coração estava disparado ao ouvir a voz dela. Quanta saudades eu sinto. — Como está, maninha?
  — Estou bem cansada, para falar a verdade. — Ela riu. Sabia que estava cansada. — E vocês como estão? — Todos responderam individualmente. parecia estar bem nervoso.
  — Sentimos sua falta, ! — Disse Jeff.
  — Sim, sentimos muito sua falta. — falou e eu tinha certeza de que ela também sentia muita falta dele. Conhecendo bem minha irmã, como conheço.
  — Também sinto muitas saudades de todos vocês. Muita mesmo. — Ela falou com a voz meio chorosa.
  — Então, mana, gostaria de te fazer uma proposta. — Ela concordou e então eu falei o que tinha para falar. Aguardei ansioso pela resposta dela. — E aí? O que acha? — Foram os 10 segundos mais longos da história de minha vida.
  — Claro! Aceito sim! Vai ser ótimo para mim. Para todos nós, na verdade. — Finalmente veio a resposta e todos comemoramos.
  — Então, eu espero por você mês que vem, sem falta! — Eu disse e ela concordou.

  Um mês se passou e eu estava muito, mais ansioso para rever a minha irmã. Combinamos de buscá-la no aeroporto de Madrid, Espanha. Ainda estávamos na Europa fazendo shows. Conseguimos mais duas cidades antes de ir para a Austrália fazer mais dois shows e aí voltaríamos para os EUA para uma sequência de shows intensa pelo país. Claro que tudo isso intercalado com participações em programas de TV e rádio, fora os ensaios para o novo CD. Planejamos fazer com que a minha irmã registre tudo isso em vídeo e fotos, queremos lançar vídeos semanalmente no nosso canal do YouTube, para dar uma agitada lá. Enfim, antes dela desembarcar, chamei o em um canto.
  — Fala, , que foi? — Ele falou apreensivo, na espera da chegada da minha irmã.
  — Vem cá, , até quando você vai esconder que está namorando minha irmã? — Juro que senti o coração do parar de bater e quase saltar por sua boca. Não contive a risada. — Calma, cara, não estou bravo.
  — N-Não? — Perguntou meio gaguejante. Neguei com a cabeça e sorri. — É… estamos namorando sim.
  — E por que não me contaram? Todos já sabem e eu fico sabendo por último?! — Falei meio ofendido, que de fato estava.
  — Desculpa, cara, mas ela estava com medo de sua reação e confesso que eu também estava. Ela vai fazer 21 anos ainda e eu tenho pouco mais de 30. Achei que fosse proibir. Não sei.
  — Sou o tutor da ainda, mas não sou dono dela. Ela sabe muito bem o que quer da vida, já é independente há algum tempo e eu só estou aqui para protegê-la de qualquer mal. Você não é mal para ela. Eu sempre soube dos sentimentos dela por você e sei que você sente o mesmo. Por que eu seria contra? Além do mais, ela é quase maior de idade.
  — Não sei, ahh perdemos tanto tempo… desculpa, cara, deveríamos ter lhe contado antes.
   sempre foi um cara, digamos, “certinho”, uma pessoa que sempre se importou com os sentimentos e opinião dos outros. Às vezes, ele deixava de ser feliz por causa disso, e eu sempre o repreendi por isso. Não dá para ser “certinho” em todos os momentos. Às vezes, é bom largar o “foda-se” para opinião alheia e simplesmente ser feliz, não importando o que digam. E, além do mais, e formam um casal muito bonito. Jamais seria contra isso, somente se o a fizer infeliz… Aí sim, eu me meteria na relação deles. Chuck me chamou, pois estava vindo pelo portão de desembarque.
  — Ela chegou! — Disse e foi correndo ao encontro dela. Eu o segui.
  — Cheguei, meninos! — Ela falou animada e foi logo abraçada pelo Chuck. Eles sempre foram bem próximos, conversavam sempre. Depois de mim, Chuck era o confidente da . — Que saudades, Chuck! — se aproximou dos dois e abraçou a . Afastou-se um pouco e ia lhe dar um selinho, mas ela o afastou. — ! — O olhou arregalando os olhos. Todos rimos.
  — Todo mundo já sabe, . — ele se referiu a todos saberem, inclusive eu, que os dois estão de flerte há anos. Aliás, esses dois me enganaram por quase TRÊS ANOS. Cara, isso não se faz!
  — Já? — Ela olhou para mim com os olhos de peixe. Eu tive que rir.
  — Relaxe, maninha, estamos torcendo por vocês. — Falei e isso pareceu confortá-la.
  — Obrigada, ! — Ela disse e sorriu para mim. Depois, virou-se para o e o beijou. Todos aplaudimos este milagre dos céus. Obrigado, Deus! Finalmente esse casal se assumiu! Temos que comemorar.
  — Vamos almoçar!? Estou morrendo de fome. — Chuck disse e todos concordamos.
  Fomos em um restaurante que tinha perto do hotel onde nos hospedamos. Antes, passamos lá para registrar a minha irmã. O quarto dela fica ao lado do meu. Almoçamos e depois fomos ao local do show para fazer o último ensaio antes do show. Pedi para levar o equipamento de fotografia dela, para poder tirar algumas fotos, fazer alguns vídeos. Ela já está por dentro do que pensamos em fazer com o canal do YouTube da banda. Passado o ensaio, fomos todos para o camarim. mostrou as fotos como ficaram, no cru, sem edição, e posso dizer algo para vocês: ficaram tão boas quanto a música que ela compôs. Juro! Minha irmã é demais, puxou a mim no talento. Hahahaha Modéstia à parte, sinto muito orgulho da minha irmã.
  — … Vem cá. — Vi minha irmã fazer sinal para o que estava do outro lado do camarim. Fingi que não vi e continuei comendo meu sanduíche. se aproximou dela. — Sério que o está tranquilo com nosso namoro? — Perguntou apreensiva. Ela me olhava de canto de olho. E eu ria do outro lado.
  — Sim. Não se preocupe com ele, . Ele me disse que quer apenas que você seja feliz. E eu também. Juntos então… melhor ainda. — Ele deu uma risadinha e abraçou ela. E completou dizendo: — Eu te amo, minha pequena . — essa frase a fez sorrir. E confesso que também me fez sorrir, pois a felicidade da minha irmã também é a minha. Os dois se beijaram.
  Ao contrário do que muitos podem pensar, isso não é estranho para mim. Não quando é o , sabe? Se fosse qualquer outro cara, acho que não seria muito do meu agrado vê-lo beijando minha irmã, como já aconteceu. Anoiteceu e finalmente o show começou e estava lá para registrar tudo. Foi um baita show! Acabado tudo, voltamos para o hotel.

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  Já amanheceu novamente e agora estamos no avião a caminho da Austrália: nossa última parada antes de voltarmos para os EUA. viajou ao lado do e eles realmente formam um casal muito fofo. Sinto vontade de ter uma companhia assim ao meu lado, porém, nenhum dos meus relacionamentos deram certo até então. Finalmente chegamos na Austrália e vou contar algo para vocês: que lugar quente! Literalmente falando. Hahahaha sofremos um pouco com o calor, afinal viemos de um país essencialmente frio. Detestamos calor em excesso. Ainda mais quando não se tem muitas praias, como é o caso do Canadá. A Califórnia até que tem, dá para refrescar um pouco, mas… Enfim. Acho que já devem ter percebido que eu não gosto muito de calor, de fato.
  — Está indo para onde com esse nano short? — Perguntei intrigado ao abrir a porta do meu quarto e avistar minha irmã vestindo um short bem curto. Sério, dava para ver a virilha dela. — Hein, mocinha? já te viu assim? — Ela passou por mim e me olhou com cara de tédio, revirando os olhos em seguida.
  — Você também, ? Aff, me deixem vocês dois. — Provavelmente, já deve ter a visto assim e também não gostou.
  — , diz para ela botar outra roupa. — invadiu meu quarto logo após entrar no mesmo.
  — Obrigado, ! — Finalmente alguém que concorde comigo.
  — Pois, senão vou querer tará-la no meio do saguão do hotel. — Completou, para minha surpresa. Ele e deram risada e eu fiquei atônico, completamente sem reação. Os engraçadinhos estavam zoando com a minha cara.
  — Hey! — Eu disse, batendo na cabeça de — É da minha irmã que você está falando. Respeito! — Ele riu e pediu desculpas. — Já estão prontos? — Ambos concordaram com a cabeça e seguimos para a piscina do hotel.
  Com um calor desses, obviamente que nós aproveitamos a piscina do hotel. Disso eu gosto: piscina! Melhor que praia que tem areia e a água é salgada. Não curto. Curtimos o calorzinho de Darwin, capital do Território do Norte, AUS. Uma cidade litorânea muito linda. É nossa primeira vez aqui e estamos bem empolgados. Após nosso banho na piscina, nos arrumamos e fomos ao local do show. Uma casa de show bem localizada no centro da cidade.
   tirou muitas fotos desse momento de ensaio também. Como era perto, voltamos para o hotel para nos arrumarmos para o show. Será um grande dia, tenho certeza. Mas, algo estava me incomodando desde que entramos no avião a caminho para cá. Não sei o que é, mas sinto que algo grande acontecerá hoje. Temo que seja algo ruim… espero estar errado.

Capítulo 7

  POV
  Chegou o grande momento do show. Estávamos no palco, já tocando, enquanto estava passeando pelo palco e tirando fotos nossas. Fiz várias poses para ela, só para ela. Ela ria, enquanto me via fazendo poses diferentes e caras e bocas também. Nos divertimos naquele momento. Agora, ela está bem na minha frente, só que dessa vez na parte debaixo, em frente ao palco, no vão onde separa o palco do público. Enquanto o público fervia com nossas músicas, sempre cantando e vibrando conosco, foi chamada por um dos caras da produção da casa de show. Ela sumiu e não voltou mais. Até o fim do show, ela não havia voltado. não percebeu, acho que fui o único a reparar que ela não estava mais ali. Talvez estivesse no camarim resolvendo algum problema na câmera. Não sei. Até então, eu não fiquei preocupado. Acabou o show e voltamos, exaustos, para o camarim. Ao chegar lá, para minha surpresa, ela não estava. Somente alguns policiais e nossa produção. Eu não entendi nada, mas comecei a ficar apreensivo.
  - Wow. - Espantou-se Chuck ao entrar no camarim. - Aconteceu alguma coisa, Math? - Questionou ao nosso produtor que estava com uma cara de cansado e com medo ao mesmo tempo.
  - Fala, Math! - Eu disse, um pouco irritado e apreensivo demais para medir palavras.
  - Caras, esses aqui são o Agente Williams, da Polícia Federal Australiana... - ele começou falando.
  - E esse é o Agente Miller, somos da divisão PTG, que é o nosso grupo antiterrorista. – Completou a fala, o tal agente Williams. Eles estavam nos olhando com uma cara não muito boa.
  - E a que devemos a honra da visita de vocês em nosso camarim, agentes? - Dave falou.
  - Sentem-se, por favor. – Ordenou o agente Miller, nos sentamos e então ele começou a proferir. – Bem, vou direto ao ponto, ok? - Concordamos com a cabeça, sem falar nada, e ouvimos atentamente as palavras dele. - Há muito tempo estamos investigando um grupo que está agindo em segredo aqui na região de Darwin, e acreditamos que seja um grupo terrorista. A senhorita Adeline é irmã do senhor , correto? – Ele olhava os nomes num papel e, ao terminar de ler, ele ergueu a cabeça para olhar novamente para nós. levantou a mão.
  - Ela é minha irmã. O que ela tem a ver com isso? - Deu um estalo nele – E cadê ela, por falar nisso? - Olhou em volta e não a viu em lugar nenhum. Começamos a ficar preocupados de verdade.
  - Bem, acreditamos que um dos produtores desta casa de show faça parte deste grupo terrorista e que ele tenha sequestrado a senhorita . - Nada que não possa piorar, não é mesmo? Sequestro? Será que eu ouvi bem? Eu queria ser surdo em momentos assim...
  - O quê?! - Espantou-se , enquanto eu olhava atônico, paralisado pelo medo, para um ponto fixo entre os agentes e o chão. O pé da cadeira onde estavam sentados, para ser mais preciso.
  Eu ouvia a cada palavra, eu sabia muito bem o que estava ouvindo, porém, meu cérebro mandava meu coração continuar funcionando. O mesmo estava acelerado demais, parecia desregulado, louco por notícias da minha . Meus pulmões também entraram no ritmo do meu coração e começaram a mandar muito ar para as minhas vias aéreas, isso fez com que minha respiração aumentasse. Ofegante, eu tentava me manter acordado. Tentava não chorar, não gritar, não me desesperar. Era uma tarefa difícil.
  Os agentes explicaram que viram um carro suspeito saindo daqui e indo em direção aos limites da cidade de Darwin com Stuart Park, cidade vizinha. E que este carro foi um dos usados pelos terroristas, nos últimos dias, e que eles já o estavam monitorando e traçando uma possível rota para o cativeiro. Enquanto eu tentava assimilar aquilo tudo, chorava, gritava, creio que ele esteja sentindo algo parecido com o que eu estou sentindo agora: uma agonia sem fim.
  Não sei se já passaram por algo parecido, mas, juro para vocês, que é a pior, definitivamente a PIOR sensação do mundo. estava nas mãos de um grupo terrorista, sequestrada, num país estranho ao nosso, longe dos seus portos seguros: e eu. Os agentes nos pediram calma (como se fosse possível, rs), disseram que já estavam rastreando o tal carro que eles achavam que estava. Enquanto isso, voltamos para o hotel.
  - Isso não pode estar acontecer. Justo agora… - lamentou-se que andava de um lado para o outro dentro do quarto do Jeff. Estávamos todos lá.
  - , vai dar tudo certo. Vamos encontrar a . - Dave disse. Os caras podem até não transparecer, mas eles, assim como e eu, estão bem preocupados com ela.
  - Essa espera está me matando, caras. Eu não estou bem. - Eu falei, sentado na cama do Jeff. - Se algo de ruim acontecer com ela, eu… - eu nem tive coragem de terminar a frase, mas, em minha mente, eu a completei: – seria capaz de me jogar na frente dela para salvá-la de qualquer perigo. Se algo de ruim acontecer com ela, eu morro junto. - Parece exagero, mas esse sentimento é forte e intenso demais. Não saberia viver sem ela. E eu realmente não sei como é viver sem ela. A vida sem ela é muita chata.
  - Deita aí, , você está pálido cara. - Jeff disse e eu me deitei. Parece que piorou, pois senti minha cabeça pesar e minha respiração acelerar mais e mais. Sufocando-me. Meu coração estava apertado, dolorido e meus olhos ardendo. Me entreguei ao choro. - Estamos aqui, cara... calma. - Jeff e Dave me consolavam, sentados na cama ao meu lado.
  - Vamos achar a , . De qualquer jeito! - falou, me fazendo erguer um pouco meu corpo. Ele ainda chorava bastante. Concordei com a cabeça e voltei a me deitar. Aos poucos, eu fui me acalmando, pouco, mas sim, eu me acalmei. Adormeci.

  Na manhã seguinte, eu acordei com o Jeff me batendo com uma toalha molhada. O mesmo disse que tinham novidades sobre a . Dei um pulo da cama, nem reclamei pela toalhada na cara. Tomei um banho rápido e logo Jeff e eu nos encontramos com os outros na recepção do hotel, nosso produtor, Math, também estava lá acompanhado dos agentes que nos abordaram ontem. Eles explicaram que tinham encontrado o local do possível cativeiro da . Segundo eles, o tal cativeiro fica numa região montanhosa, com uma densa floresta, na região de Buffalo Creek. Aliás, esse lugar fica literalmente do outro lado da província de Darwin. No extremo norte, para ser mais preciso. A cidade de Darwin fica no Sul, então, é um bom chão que vamos percorrer até lá.
  Depois de muito insistirmos, os agentes concordaram de irmos junto com eles nessa “missão de resgate”. Entre aspas, porque nem eles sabiam ao certo o que encontrariam lá. Não quiseram mandar helicópteros ao local para não espantar os caras, caso estejam lá. Eu, sinceramente, espero que eles estejam lá e que esteja bem; espero que tudo isso acabe hoje, ou no caso amanhã, pois só chegaremos lá amanhã pela tarde. Fomos em dois carros. Um menor, onde foi , os dois agentes (um deles dirigia), mais um policial federal e Math, nosso produtor. E no outro carro, que era mais uma van pelo tamanho, fomos eu, Jeff, Dave, Chuck e mais três policiais federais. Fora os caras da polícia local que deram um apoio na estrada.
  Foi uma longa viagem: literal e figurativamente falando. Literalmente, por motivos óbvios, e figurativamente porque a aflição de não saber se sua mulher está bem, é angustiante. Passei toda a viagem calado, pensando no que fazer ao encontrar a . Pensando também caso não encontremos ela, o que faremos? Se ela não estiver lá, pode estar em qualquer lugar desse país ou até mesmo de outro, sei lá. Eu estou ficando, a cada segundo, mais louco. ~suspiro~ meus pensamentos estão todos contigo, minha pequena .

Capítulo 8

  Naquele mesmo dia pela manhã, antes da viagem dos meninos para tentar encontrar

  POV

  Finalmente eu despertei do meu sono. Se bem, que creio que não tenha sido um sono agradável, minha cabeça dói, meu corpo inteiro dói. Abri os olhos, com dificuldade, e pude observar o local onde eu estava. Apesar de ter pouca iluminação no local, pude ver que era bem sujo. Era um quarto pequeno, provavelmente nos fundos de uma casa. A janela, que estava atrás de mim, estava coberta por um papel preto, meio rasgado, que revelava a parte de fora do lugar. Pela luz que vem de fora, já era dia. Não sei ao certo que horas são, estou sem meu celular. Provavelmente, quem me sequestrou deve ter o pego. Ai, minha cabeça dói tanto…
  Sentei-me com dificuldades, encostando na parede de madeira. Não sei se é comum aqui na Austrália, mas creio que seja uma casa de madeira (assim como são a maioria das casas nos EUA), e esta casa, em especial, não me parece ser no centro da cidade. Está úmido demais para ser… bem, minha garganta dói um pouco também, estou com sede e com frio. Só agora percebi que estou molhada. Não no sentido pervertido, não me entendam mal! Por favor, hahahaha, mas sim, no sentindo literal da frase. Não sei o porquê, mas eu estou literalmente molhada, encharcada! Queria muito saber quem foi o idiota que fez isso comigo. Falar em idiota, sinto falta do . Ah, ele deve estar louco atrás de mim. Será que eles sentiram minha falta? Ah, mas que besteira, , claro que eles notaram seu sumiço! … meu , deve estar louco. Justo agora que estamos acertados e namorando sem restrições (no sentido de que todos já sabem) vai lá e acontece algo assim. O que me intriga é: o que raios sequestradores querem comigo? Justo COMIGO?! Será que me levaram, pois sou irmã do ? O vocalista de uma grande banda internacional? Não sei… não estou conseguindo raciocinar direito com esta fome que sinto agora. Eu só queria um belo de um BK com fritas e um copão de refrigerante.
  Adormeci, mas logo acordei. O barulho da porta destrancando fez com que eu acordasse do meu sono de beleza. HAHAHA até em momentos como esse, tu consegues brincar, ? Aff… olhei rapidamente para janela e o sol parecia estar da mesma forma, acho que amanheceu o outro dia. Dormi demais! Não sei direito… Alguém adentrou pela porta e a luz externa ao quarto revelou o semblante de um homem. Ele não parecia ser velho e nem muito novo (da minha idade, com certeza não era). Um cara bem bonito, por sinal. Ele entrou e fechou a porta. Em suas mãos ele trazia uma bandeja com um prato de comida e um copo com algum líquido. Queria muito que fosse meu BK com fritas e um refrigerante, mas, assim que ele pôs a bandeja no chão, pude ver que era um pão (que provavelmente não tinha nenhum recheio) e um copo de água. Sério? Pão com água? Acha que sou Jesus Cristo, por um acaso? Bem que poderia ser pão com vinho... eu suspirei entediada e decepcionada. O tal homem franziu a testa e disse.
  - O que foi? - Com a testa ainda franzida, ele me olhava de cima para baixo.
  - Nada. - Eu disse e completei – Queria um sanduíche do BK, apenas.
  - O que diabos é isso garota? - Me olhou como se eu tivesse dito algo absurdo. O olhei de volta com o mesmo olhar.
  - Não conhece Burger King?
  - Não… - ele parou por um instante e logo lhe deu um estalo cerebral. - Ahh, deve estar falando do Hungry Jacks, certo? - Pisquei algumas vezes e o olhei com cara de interrogação. - Ah, é porque aqui na Austrália o Burger King, que tem nos EUA, mudou o nome para Hungry Jacks. Deve ser por isso que não conhece. - Sorriu de leve. [n/a: esse lance do BK se chamar Hungry Jacks na Austrália é real. Pesquisei a respeito! Haha os donos da franquia de lá compraram os direitos da BK e trocaram o nome para este.]
  - Aaaaaaa, isso explica sua surpresa ao me ouvir falar. - Sorri de volta.
  - Não deveria conversar com você. - Ele voltou a ficar sério e voltou a me olhar como se eu tivesse alguma doença contagiosa - Você é nossa refém. - Após ter pensado um pouco ele completou: – Vamos, coma tudo. Logo partiremos daqui. O chefe está sendo bonzinho em te manter viva e alimentada antes da operação final. - Oi? Como assim cara… explica direito isso aí!
  - Como assim? - Perguntei com um nó na garganta e trêmula.
  - Não te interessa saber, apenas coma. – Taxativo, ele falou e saiu do pequeno quarto onde estávamos. Pude ouvir as trancas da porta sendo fechadas.
  Voltei a ficar sozinha em meu quartinho: eu e meu superlanche. Bebi apenas a água. O pão está extremamente duro, mas duro que a cabeça do quando teima com algo. Mais uma vez pessoal, não me levem a mal. Estou falando no sentido figurado da frase. Hahahaha isso aqui está ficando muito pornográfico. [n/a: na verdade, quem pensou maldade fui eu mesma enquanto escrevia esta parte. Até hoje dou risada lendo. Enfim…] Anyway, let’s get to it (enfim, vamos ao que interessa), não é mesmo? Eu não sei o que esse bonitinho quis dizer, mas confesso estar com medo quando penso em “operação final”. O que raios será isso? E o que raios eu tenho a ver com isso tudo? Eu só quero ir para casa. Só!
  Algumas horas se passaram e eu dormi novamente. Estou cansada por conta do fuso, toda hora sinto sono. Novamente as trancas da porta do quartinho foram removidas e eu despertei sentando-me em seguida, assustada. A porta abriu e o mesmo bonitinho adentrou por ela, infelizmente ele não estava sozinho. Um outro cara, maior que ele (maior, digo, fortão mesmo) e, muito mais mal-encarado, veio logo atrás. Ele me encarou com um olhar aterrorizante que me fez tremer por inteira. Medo me definia naquele momento. O bonitinho me segurou pelo braço e me ergueu num só puxão. Gemi de dor (e um pouco de medo) e o encarei amedrontada.
  - Vamos, Jimmy, traga ela logo. - O grandão disse com a voz grave e virou-se para sair do quarto.
  - Não se preocupe, não vamos te machucar. Fique quieta e tudo ficará bem, ok? - Sussurrou Jimmy, o bonitinho.
  Agora já sei o seu nome, não preciso mais chamá-lo assim. Concordei com a cabeça, então Jimmy me levou até a sala praticamente me carregando, só depois notei que meu pé estava dolorido. Na verdade, era meu tornozelo que doía, me fazendo não conseguir pôr o pé no chão. Fui mancando para sala e lá estavam o restante do bando de idiotas que me sequestrou. O grandão estava lá com mais três caras. Um deles, o mais arrumado, parecia ser o chefe.
  - Está tudo pronto? - Disse o suposto chefe do bando, encarando um ponto fixo aleatório no chão. Ele estava sentado numa poltrona e em uma de suas mãos segurava um charuto aceso.
  - Sim, chefe. Tudo está como o senhor planejou. - Um dos homens respondeu e parecia estar orgulhoso. Sabe aquelas crianças de cinco anos que fazem um desenho e mostram para mãe com total orgulho de sua criação? Pois bem, parecia esse cara. Ri internamente da cara que ele fez, mas minha risada logo sumiu quando o chefe olhou para mim.
  - Como está, jovem ? - Perguntou com um sorriso malicioso nos lábios. A princípio, fiquei calada, mas logo Jimmy me dera um aperto de leve no meu braço que ele segurava.
  - Eu… eu estou bem. - Respondi envergonhada e morrendo de medo. Naquele momento, eu só pensava no meu irmão, nos meus amigos e principalmente no . Queria estar com ele, dentro de seus braços quentes. , onde você está meu amor?
  - Bom, bom. - Ele disse e completou: – Sabe por que você está aqui, senhorita ?
  Continuou me encarando. Não sei explicar em palavras, mas lá vai: toda vez que ele me olhou, nesses poucos segundos que estou na sala, eu me senti violada sexualmente. Parece que com seu olhar arrancava minhas roupas, mas de um jeito sádico e nojento; e não do jeito que o me olha (apesar de nunca termos transado, juro). Ah, droga, estou pensando no de novo.
  - Nã-Não. Não sei por que estou aqui. – Encabulada, após ser despida com o olhar pelo chefe do bando, eu respondi sem jeito. Foi então que ele começou a explicar.
  - Não era para você estar aqui, sabia? Era para seu irmão estar aqui conosco. - O ? Mas, por que ele? - Gostaria de pedir-lhe desculpas pelo engano. - Engano? Ah, eu fui um engano então? Nossa… - O nosso contato na casa de show se enganou, era para ele ter nos trazido o e não você, mas parece que no final ele acertou no presente. - Virei um objeto agora seu filho da puta?! Estou começando a me irritar com o tom dele. Eu me senti pior do que no dia que cheguei na Califórnia e fui roubada (quase estuprada) por um cara na porta da boate onde os meninos faziam show. Pior sensação da minha vida, até então. - Enfim, vamos começar o show! - Ele completou num tom festivo, como se estivesse esperando por aquilo a muito tempo.
  - Espera! - Eu gritei e todos me olharam, incluindo Jimmy, que mais parecia estar me implorando para eu me calar. - O que eu tenho a ver com tudo isso?! E meu irmão? O que fez com ele? - Eu estava surtada, completamente. Mentalmente, eu me repreendi por aquilo.
  - Para! - Jimmy apertou mais uma vez o meu braço, só que desta vez mais forte. - Por favor, , para! – Ele falar meu nome fez com que eu parasse e o fitasse. Por que ele estava sendo tão gentil comigo? Gentil até certo ponto, pois os apertões dele estavam doendo e muito. Ele parecia me conhecer antes daquele sequestro. Mas, de onde?
  - O QUE? COMO SE ATREVE A USAR ESTE TOM COMIGO?! SUA GAROTINHA!
  O chefe berrou, levantando e derrubando a cadeira onde estava. Jogou o charuto no chão e partiu para cima de mim aos berros. Ele ergueu a mão e fez o movimento para me bater. Virei o rosto e fechei os olhos. Senti sua mão pesada impactar-se com meu rosto. Foi quase um murro. Senti meu rosto esquentar e arder instantaneamente. Certeza de que ficou roxo. Abaixei a cabeça e comecei a chorar.
  - Não chefe! Para! - Jimmy gritou segurando o braço do chefe. O mesmo se livrou do Jimmy e o fitou com raiva.- Por favor, não a machuque. - Pude sentir o nó na garganta do Jimmy. Tudo estava me intrigando mais e mais. Por que ele me defendia? Por que ele estava “me ajudando”?
  - Tira essa garota da minha frente, agora! Antes que eu faça alguma besteira. - Bradou o chefe, saindo pela porta da frente da casa. Jimmy me amparava segurando meu braço com força.
  - Falei para você ficar quieta! Olha só para o seu rosto, está vermelho! - Ele confirmou minha suspeita de que meu rosto estava quase roxo.
  Ele passou a mão de leve pelo machucado (tinha um pequeno corte no meu rosto e estava sangrando um pouco. O chefe do bando tinha muitos anéis nos dedos, deve ter ferido por causa deles) e eu gemi de dor. Antes mesmo dele se dirigir, comigo ainda pendurava em seu braço, para o kit de primeiros socorros, que provavelmente estava na cozinha, o grandão o chamou.
  - Vamos! Não há tempo para isso.
  Ao concluir esta frase, o grandalhão saiu pela porta, Jimmy me arrastou para fora do local e os outros nos seguiram. A luz do sol quase me cegou e confirmei que já era a manhã do dia seguinte pelo fato do sol estar alto no céu. Fazia muito calor, fomos caminhando pela floresta. Meu pé ainda doía muito e agora meu rosto também doía. Andei com dificuldades, mas, ainda assim, a gentileza do Jimmy havia sumido, pois o mesmo me puxava forte toda vez que eu esboçava andar mais devagar do que o tolerado por ele.
  Já havia perdido as contas de quanto tempo estávamos andando, mas era muito tempo nas minhas condições atuais. De repente, todos pararam ao mesmo tempo, como se tivessem ouvido algo. Foi então que ouvi alguns gritos. Foi tudo muito rápido. Antes mesmo que pudéssemos correr, fomos cercados por homens armados. Olhei rapidamente e vi que eram policiais. Eu estava salva! Finalmente tinham me achado. Minha respiração acelerou ainda mais. E ao mesmo tempo eu estava ficando sem ar.
  Jimmy me envolveu em seus braços e sacou uma arma da cintura, que até então eu não havia reparado nela. Apontando a arma para mim, ele berrava para os policiais se afastarem. Os policiais pediam calma para todos, mas sem abaixarem as armas que tinham em punho. O medo crescia dentro de mim na mesma velocidade que meu coração acelerava cada vez mais. Alguns segundos se passaram e meu coração saltitava dentro de mim. O mesmo quase parou, repentinamente, ao ver o semblante dele entre os policiais.
  Mal pude acreditar no que via: estava ali. Parecia apreensivo, nervoso, sussurrava algo para um dos policiais. Atrás dele estavam e meus outros amigos. Todos vieram me salvar. Me senti um pouco mais calma e segura só em saber que eles estavam ali comigo, mesmo que de longe. Principalmente o ... como é bom revê-lo. Queria poder abraçar ele, beijar ele, sentir seu cheiro, seu calor, o conforto de seus braços…
  Tentei me livrar do Jimmy, mas obviamente não consegui. Ele é muito mais forte que eu. Para falar a verdade, nem do eu consigo me livrar (quando o mesmo resolve me abraçar estilo “ursão” e não me larga de jeito nenhum), quem dirás o Jimmy que é um pouco mais forte que meu irmão. Comecei a chorar baixinho enquanto encarava o . De longe, eu enxerguei seu olhar direcionado a mim, aflito, desesperado e ao mesmo tempo corajoso e amoroso.
  - Fiquem longe ou eu a mato! - Jimmy berrava enquanto apontava a arma para mim. Agora ele me agarrava com um só braço e ainda sim eu não conseguia me desvincular dele. O cano gelado da arma roçava em meu rosto fazendo com que meu corpo se arrepiasse de medo.
  - Calma, rapaz. Deixa a moça ir e vamos conversar. - Um dos policiais dizia enquanto dava curtos passos em nossa direção. Naquela altura, os outros já haviam sido presos na hora da primeira abordagem da polícia, menos o chefe que fugiu mesmo após ter levado um tiro.
  - Para trás! - Jimmy notou a aproximação dele e me apertou mais. Gemi alto de dor, pois ele além de ter me apertado, pisou no meu pé machucado. - Desculpe. - Falou baixinho só para mim. Eu estava confusa em relação ao Jimmy, pois uma hora ele estava dizendo que me mataria e outrora ele estava se desculpando comigo. Afinal, o que ele quer de mim? - Não pretendo te machucar, mas fique quieta. - Voltou a sussurrar comigo.
  - O que quer com a minha ?! Seu covarde! O que fez com o rosto dela? - ! Ah, meu berrou. Pelo comentário, creio que ele tenha visto o roxo do meu rosto.
  - Ele é teu namoradinho? O , né? - Sussurrou Jimmy. Afirmei que sim com a cabeça. Será que ele conhece o ? E então, ele prosseguiu: – É melhor ele não se meter, caso ele não queira morrer. - Suas palavras me fizeram arrepiar toda novamente. De medo. De aflição. De terror. Não permitiria que nada de mal acontecesse com ele. Eu nem estava raciocinando direito naquele instante. tentou ir ao nosso encontro, mas o policial que conversava com Jimmy e o Chuck o seguraram a tempo. - Nem se atreva! - Ameaçou Jimmy apontando a arma para que recuou. Num ato impensado eu dei um pisão em seu pé. Jimmy me olhou com ódio, juro que achei que fosse morrer ali mesmo. Ele voltou a apontar a arma para minha cabeça e bradou – Não se atreva, garota! Não se atreva a me desafiar! Eu não estou aqui para brincadeira! - Ele berrava ensandecido. Agora ele me segurava pelos cabelos, puxava com muita força e raiva. Minha cabeça estava prestes a descolar do pescoço. Ahh! Ele estava totalmente imprevisível, louco, furioso. Temi não só pela minha vida, mas como pela vida de todos ali.
  - Hey, rapaz! – O policial falou num grito – Se você não se acalmar agora, eu terei que agir. Está vendo esses homens? - Ele disse apontando para os demais policiais com armas apontadas para ele (e, consequentemente, para mim também). - Eles só estão hesitando por minha causa. Porque eu não quero que se machuque. De verdade, você não me parece ser uma má pessoa, só foi influenciado por pessoas ruins. Deixe-me te ajudar, rapaz. Por favor, abaixa a arma e deixa a moça ir. - Na maior paz do mundo, ele proferiu. Suave, calmo, sereníssimo. Queria ter essa calma toda. Queria também correr para os braços do meu amado. Como eu quero que isso tudo acabe...
  - Deixa ela ir, por favor. - falou com a voz embargada, quase chorando e completou: – Deixa minha irmã ir. Me leva no lugar dela! Por favor! - Desabou a chorar, dando alguns passos para frente. Foi puxado de volta pelo Jeff que o impediu de vir ao nosso encontro, no centro daquela roda. Parecia um cenário perfeito para um piquenique, mas, na verdade, era um cenário de terror total.
  - ! - Chamei pelo meu irmão e estendi uma das mãos.
  Mais uma vez tentei me livrar do abraço forte do Jimmy. Foi então que, num único movimento, eu consegui sair dele e esboçar alguns passos para longe. Então, sem olhar para trás, eu ouvi tiros. Tudo parecia rodar em câmera lenta. Uma cena de terror. Fechei os olhos. Protegi minha cabeça e corri para mais longe dali, na direção oposta de onde os caras estavam. Eu nem sentia mais dor no pé, na cabeça, em lugar algum. Eu só queria sair dali. Os tiros cessaram e eu caí. Não aguentei o peso do meu corpo e quase desfaleci. Bem na hora, ele apareceu para me abrigar em seu abraço.
  - Eu estou aqui, pequena! - A voz suave de ecoou pela minha cabeça como um soar de um anjo. Só de ouvir sua voz e sentir o calor de seus braços, eu já me senti mais protegida. Meu desmaio não aconteceu. Sorte. Pois, pude sentir em minhas mãos, ao tocar em seu ombro, que estava ferido. - Au! - Ele gemeu baixinho de dor.
  - Você levou um tiro, ! - Falei o óbvio e ele me fitou com um olhar acolhedor.
  - Não se preocupe, não foi nada demais. - Disse calmamente e completou: – Você está bem, pequena? Está machucada? Eles te fizeram algo que você não quis? - Esta última frase ele disse com um embargar na voz. Logo entendi sua preocupação em saber se alguém havia me violado sexualmente. Por sorte minha, não. Apesar de eu quase ter sentido naquela hora, antes de sairmos da casa, que o chefe do bando queria sim me violentar.
  - Estou com dor no pé e meu rosto… - eu não sabia se contava para ele o que havia acontecido. Parei para pensar por alguns segundos e então concluí meu raciocínio. - … O chefe do bando, o que fugiu, ele me bateu antes de sairmos para floresta.
  - Ele o que?! - Disseram e , quase que ao mesmo tempo. se aproximou de nós bem nessa hora. - Como ele ousou em te bater!? Minha irmã… que bom te ver bem! - Disse , agachando-se perto de mim. Eu ainda estava embalada pelo abraço do . - Senti tanto medo. - Eu repousei uma das mãos no rosto do meu irmão e o puxei para o meu. Uma lágrima rolou pelo seu rosto e, consequentemente, pelo meu também.
  Jimmy foi preso. Depois descobri o motivo pelo qual ele era tão gentil comigo. Ele conhecia a banda dos meninos e me conhecia também. No fundo, ele não queria me machucar. No fundo, ele não queria ter participado desse sequestro. Descobrimos juntos, os meninos e eu, que os caras que me sequestraram realmente eram terroristas e queriam atingir o Canadá sequestrando o (mas, na verdade, eles erraram, pois acabaram me levando no lugar dele) e pedir resgate ou algo assim. Caso contrário, atacariam o país. Não entendi muito bem, também, agora eu não quero mais saber. Não desejo o mal do Jimmy, ele até que me tratou bem. Na verdade, foi o único que me tratou bem. Agora eu só queria ficar aqui, dentro do abraço do meu , recebendo seus mimos e longe de qualquer perigo.
  Estamos no hotel. Resolvemos ficar mais um tempo aqui na Austrália, até porque o médico que me atendeu disse que eu deveria repousar e uma viagem agora não ajudaria muito. Ele me diagnosticou com uma lesão grave no tornozelo. Estou com uma bota imobilizadora, ortopédica, sabe? Ela incomoda bastante, coça, sufoca um pouco meu pé. Aliás, ela vai até meu joelho, quase. Já quero me livrar dela, mas ninguém me deixa tirá-la. Principalmente, o . Meu rosto tinha ficado roxo, pois o chefe do bando me bateu bem no meu maxilar. O atrito dos meus dentes contra minha boca a fez sangrar. Com a adrenalina do momento, confesso que não notei minha boca sangrando. tem sido o melhor namorado que alguém pode ter na vida. Está cuidando de mim, não me deixa fazer nada. Virei um bebê, praticamente.

[…]

  Finalmente o médico me liberou de viajar, dois dias após o ocorrido. Infelizmente, ele não me liberou da maldita bota ortopédica. ~lágrimas~ Os meninos e eu voltamos para os EUA. O caso do meu sequestro foi noticiado no mundo todo. Só que somente na Austrália que todos já sabiam do fim do sequestro, no Canadá ainda não. Foi o suficiente para fazer meus pais surtarem e encherem nossos telefones de mensagens e ligações. Com a agonia de passar horas e horas no hospital, pois fiz uma cirurgia no tornozelo (e farei outra em alguns meses), acabei que não liguei para meus pais para avisar nada. Nem se lembrou disso. Recebemos uma baita bronca por videoconferência. Minha mãe me fez fazer uma videoconferência para mostrar para eles que eu estava realmente bem. Que todos estávamos bem. Mães! ~risos~
  O último show que os meninos fariam na Austrália foi adiado para outra data, os fãs e produtores entenderam a situação, claro. Já no apartamento, na Califórnia, eu estava no meu notebook editando os vídeos que gravei na viagem, para postar um compactado no YouTube. Estava com os fones no ouvido, não percebi a entrada dele no meu quarto. Ele veio e me abraçou por trás, repousando suas mãos quentes em meus olhos, tampando-os.
  - ! – Sorri de leve e me virei olhando para o meu irmão. – Oi, meu amor! – Ele me sorriu de volta.
  - Maninha! Que bom te ter em casa. - Ele disse sorrindo radiante. Parecia estar feliz não só com a minha presença.
  - Aconteceu algo para você estar com essa cara de tapado? Sorrindo desse jeito está parecendo o Coringa... - Falei rindo e completei: - Você está bem engraçado.
  - O amor, minha irmã. O amor é maravilhoso. - Falou num tom bem apaixonado.
  - Hummm, alguém está apaixonado neste quarto e eu não estou falando de mim.
  - Pois bem, maninha, eu acho que estou sim. Aliás, eu estou apaixonado! - Finalmente! Meu irmão merece ser feliz ao lado de uma mulher que retribua seus sentimentos. Ele é tão fofo, um amorzinho de irmão, de pessoa. - Em breve, te apresento ela. Aliás, podemos sair nos quatro. Nós dois, você e o . - Falou animado.
  - Claro! Combinamos um dia. - proferi animada.
  - Sim… - pareceu lembrar o que ele tinha ido fazer ali. - O está subindo. Veio te ver. - de repente, a campainha toca. - Oh, ele chegou. - Meu coração acelerou. Eu estava suja, fazia horas que estava na frente do notebook editando. Realmente eu não estava apresentável para ver meu namorado. Sim, porque agora o é meu namorado, sabe? ~nem me acho, né?~
  - , segura ele na sala. Preciso tomar banho!
  - Não precisa, , besteira.
  - Quer cheirar? - Desafiei ele, o mesmo me olhou com a sobrancelha arqueada e logo desistiu.
  - Não, obrigado! Hahahaha
  Rimos muito daquela situação. Meu Deus, eu estou podre. Corri para o banheiro e tomei um banho demorado. Enquanto isso, e estavam na sala me esperando. Aposto que estão falando mal de mim.

Capítulo 9

  POV
  Faz alguns minutos que eu cheguei no apartamento do e da . disse que ela estava tomando banho. Mas que raios de banho demorado é esse? Ele me ofereceu uma cerveja. Aceitei e ficamos bebendo e jogando conversa fora. Ele me contou de sua namorada nova e do quanto ela era maravilhosa para ele. Entendo, meu amigo ~risos~ afinal, eu não consigo falar de mais nada que não envolva a , direta ou indiretamente.
  Mais alguns minutos se passaram e finalmente veio para sala. Ela apareceu no corredor, está linda. Usa um short jeans azul clarinho, um blusão da banda e os cabelos estão presos num coque para cima, mas arrumado, sabe? E ela usa meias. Sim, é dessas que sente mais frio nos pés do que em qualquer outra parte do corpo. Totalmente à vontade com o frio estadunidense (que não é tão diferente do Canadá). Vai entender, né? Detalhe: ela usa apenas uma das meias, já que sua perna esquerda veio acompanhada de uma bota ortopédica que ela usa desde que fez a cirurgia no tornozelo, lá na Austrália. Um charme essa bota. ~risos~.
  Ela cumprimentou nós dois e sentou-se ao meu lado, depositando um beijo em meus lábios, que já estavam quase embriagados (junto com o resto do meu corpo). trouxe uma taça de vinho para ela, já que ela não bebe cerveja. Aliás, só bebe bebidas quentes. Deve ser por isso que ela me deixa pegando fogo. Explicaria muita coisa. ~risos~ ~ tarado~ Ok, confesso nunca ter tido uma relação mais íntima com a , apesar de querer muito, fato. Não foi por falta de oportunidades. Várias vezes ficamos sozinhos e tivemos oportunidades de consumar o nosso namoro num passo a mais, porém nunca chegamos às vias de fato. Receio de nos magoar de alguma forma, talvez.
  A conversa foi longa entre nós três. Rimos, contamos casos para a de quando estávamos em turnê e ela não estava conosco. Em um dado momento da noite, foi ao banheiro, então fiquei sozinho com o . O mesmo me disse que iria nos deixar sozinhos. “Confio em você, cara!”, ele proferiu, bêbado, mas consciente do que dizia. Interpretei aquela fala como uma espécie de autorização, para que eu seguisse meu coração e fizesse aquilo que tinha vontade. Aquilo que eu e a tínhamos vontade. Claro que não forçarei nada, até porque ela está bêbada e quero que seja especial para ambos. Uma noite inesquecível.
   voltou do banheiro e foi então que avisou que sairia com a namorada dele. Iriam numa balada e ele dormiria na casa dela depois. ficou triste, pois queria ficar na companhia do irmão também. Nossa noite estava apenas começando. chamou um táxi e foi embora. Ela e eu ficamos sozinhos e continuamos bebendo, comendo e conversando sobre os mais variados assuntos. Sempre havia assunto para conversar com ela. Era impressionante como falávamos de tudo, sem cansar.
  Decidimos ver um filme romântico. Uma comédia romântica, gênero favorito da (só perde para o terror). Mas, aquela noite não era para gente ver um terror clássico e sim uma comédia romântica. Ao lado dela tudo fica bom. O filme falava sobre a típica história de amor entre um homem e uma mulher que inicialmente se odeiam, mas depois despertam um amor incondicional um pelo outro. Amor esse que só faz crescer com o passar do filme. É o que aconteceu comigo e com a , tirando a parte do ódio, pois nós sempre nos demos bem.
  Certa parte do filme, o casal está num momento íntimo na cama. Ela pareceu desconfortável. Ela sempre ficou sem jeito em momentos assim, de mais intimidade em filmes ou até na realidade. Quando, por exemplo, víamos filmes todos juntos e tinha alguma cena de sexo. Ou até mesmo quando algum dos caras dava uns amassos numa mina na frente dela. Fico pensando em como ela se sentiu nas vezes que levei alguma garota para nossas reuniões diárias na casa dela, lá no Canadá. Espantei os pensamentos e voltei a me concentrar no filme. Apertei o braço que envolvia a e dei-lhe um beijo no canto da cabeça (beijei mais o cabelo dela do que outra coisa, mas beleza).
  O filme acabou e voltamos a comer, beber e conversar. Percebi que estava um pouco mais, como posso dizer, safada. Se é que me entendem, né? Ela alisava minhas coxas enquanto nos beijávamos. Vai aqui uma dica para as mulheres que estão vendo isso: alisar as coxas dos homens é golpe baixo! Ok?! Isso me deixou muito excitado. Mais muito excitado MESMO! Confesso que estava me controlando, me policiando ao máximo para não atacar ela naquele sofá. Aos poucos, ela foi tomando a iniciativa, se jogando em cima de mim. Teve dificuldades, pois está com a bota ortopédica. Ajudei ela a subir em cima de mim e continuamos nos beijando. Um beijo mais intenso e apaixonado que o anterior. Estávamos famintos de amor e tesão um pelo outro. Tirei o blusão que ela vestia e ela desabotoou minha camisa. Rapidamente ela estava apenas de sutiã e short. E eu apenas com minha boxer vermelha.
   me deu o sinal para irmos para o quarto. Levantei primeiro que ela e a carreguei no colo, o que a fez rir. Eu estou tão feliz por isso se realizar, a felicidade mal cabe dentro de mim. Chegamos ao quarto e a depositei na cama. Ela se ajeitou, com dificuldades, e encostou a cabeça nos travesseiros atrás dela. Fui engatinhando e passando por dentro de suas pernas. Beijei sua barriga de leve, dando-lhe vários beijinhos. Vi que sua pele arrepiava a cada beijo dado. Sorri de leve e desci minhas mãos até o botão de seu short. Desabotoei ele e fui tirando, só que ele parou na bota.
  Olhei para ela, que já estava rindo, o que me fez rir também. Ela deu ideia de tirar uma perna de cada vez, já que a sua primeira ideia (que foi tirar a bota por completo) foi vetada por mim. O meu medo dela ficar sem a bota por muito tempo é dela machucar o tornozelo e agravar a lesão. E, neste caso, o que vamos fazer agora, com certeza, pode machucar o tornozelo dela. ~risos~ Consegui, depois de muita luta e risos, tirar o short dela. Voltamos para o clima erótico quando eu dei um chupão em sua coxa direita (a que não tem a bota). Quando a olhei, ela estava com os olhos arregalados, envergonhada, pois havia soltado um gemido gostoso. Isso só fez meu tesão aumentar. Sorri safadamente para ela e continuei depositando beijos em sua coxa. Ela foi gemendo baixinho e aquilo estava tão gostoso quanto o sexo de fato. Bom, fui subindo a trilha de beijos e finalmente cheguei em sua boca, onde a beijei intensamente. Um beijo tão gostoso quanto aquele que dei em sua coxa (o que a fez gemer novamente). E o clima naquele quarto só fez esquentar…

[…]

  Já era de dia. e eu estávamos abraçados, ela ainda dormia e eu fiquei quase imóvel para não acordá-la. A noite anterior, sem dúvidas, foi a melhor de nossas vidas, até então. Fiquei pensando nas quatro vezes em que ela chegou aos “finalmentes”, se é que me entendem né?! Ou nas três em que eu cheguei lá. Pensando na expressão de prazer e amor que ela sentia ao me fitar enquanto fazíamos amor. Com imagens assim, eu adormeci novamente.
  Algumas horas se passaram desde que dormi pensando no rostinho dela ontem. Acordei novamente e não estava ao meu lado na cama. Olhei para o banheiro e vi que a luz estava acessa. Ouvi a voz da cantando baixinho, certamente para não me acordar. Sorri de leve e levantei. Caminhei em direção ao banheiro e me escorei na porta. Observei ela cantando e dançando uma música qualquer, enquanto penteava os cabelos. Finalmente ela me viu pelo reflexo do espelho e parou de dançar e cantar imediatamente. Soltei uma risada.
  - Não precisa parar de cantar ou dançar. Eu gosto de vê-la cantando e dançando. É tão fofa. - Sorri e ela fitou o chão envergonhada.
  - Ah, , eu tenho vergonha. - Jura? Nem notei. - Eu… - ela se ajeitou, apoiando-se na pia, e esticou a perna com a bota apoiando-a no chão. - , eu… - falou gaguejando. Foi então que eu a interrompi.
  - Diga, sweetheart… - sorri para ela, o que a fez ficar mais vermelha ainda.
  - Eu… sobre ontem, foi… foi muito bom. Eu adorei. - Me fitou, ainda envergonhada.
  - Eu também adorei, meu amor. Foi uma noite única e ainda bem que foi com você. - Eu disse e me aproximei dela. Abracei-a pela cintura e beijei seu pescoço.

  Vários dias se passaram, desde então…

   e eu conhecemos a nova namorada do . O nome dela é Lachelle e é muito legal, por sinal. Os dois parecem se dar muito bem e combinam um com o outro, assim como e eu. Confesso estar mais apaixonado a cada dia. Estamos muito felizes juntos.

Capítulo 10

  POV
  Tem algo me incomodando faz um tempo. Algo que tenho certeza que nem o nem o gostariam, caso soubessem. Eu comecei a trabalhar numa agência de modelos, como fotógrafa. A banda dos meninos está fazendo uma turnê pelos EUA, então dá para eu ficar nesse emprego, por enquanto. Só arranjei ele, pois o curso de fotografia que estou fazendo não aceita o job com a banda como um estágio curricular, então eu não passaria na matéria final. Estou aqui por obrigação mesmo ~rindo de nervoso~. Não que eu não goste daqui, é um emprego legal. Estou ganhando bastante experiência. O problema é que tem um cara, o assistente do fotógrafo, que está me tutoreando, que fica dando em cima de mim todo o tempo. O tempo todo MESMO.
  É irritante, mesmo eu dizendo que estou namorando e que amo o , ele continua insistindo. O pior, é que cheguei a falar com meu “chefe” e o que ele me disse foi “Não liga, , ele é assim mesmo”. Ele é assim mesmo? My eggs! Argn, eu fico tão irritada e sem controle da minha raiva quando ele está por perto. Vocês não têm ideia… tento ao máximo não ficar a sós com ele. Um dia desses ele tentou me beijar à força, mas eu dei-lhe um empurrão. O mesmo caiu e ficou bem estressadinho ao se levantar. Me ameaçou, dizendo que diria ao chefe que a culpada era eu, que eu estou em cima dele. Posso com isso? Que raiva.
  Resolvi contar ao sobre o que está acontecendo. Ele me ligou no Skype, ele e os meninos estão em Nova Iorque fazendo um show. Antes do show ele me ligou, como ele sempre fazia quando estava longe, e conversamos um pouco.
  - Oi, amor! - Eu disse assim que atendi sua ligação. Me ajeitei na cadeira.
  - Oi, minha lindinha! - Ele disse sorrindo. - Como estão as coisas?
  - Mais ou menos. - Eu disse tentando procurar em minha mente palavras para contar de um jeito não tão impactante. - Preciso te contar algo que está me incomodando.
  - O que houve, princesa? Parece ser sério. - Ele estava claramente apreensivo, assim como eu.
  - Calma, não é nada com nossa relação. Está tudo perfeito entre nós. - Sorri e tentei amenizar a tensão. Ele pareceu estar mais aliviado na imagem. Continuei proferindo: – Bom, lembra que comentei com você que estavam acontecendo algumas coisas no trabalho que me incomodavam? - Ele respondeu que sim e eu continuei: – Pois bem, o que está me incomodando é que… bom, tem um cara, o assistente do fotógrafo principal de lá, bem… ele… ele está dando em cima de mim, amor.
  - O que?! - Perguntou claramente irritado. - Ele… ele não encostou em você, certo?
  - Não! Não amor, ele tentou me beijar, mas eu não deixei tentar mais nada. - Ele continuou irritado, mas pareceu-me mais aliviado. Não sei, ele ainda mantinha arqueada sua sobrancelha. - Eu só te contei porque eu não aguento mais ele me ameaçando.
  - Te ameaçando? Por que ele está fazendo isso? – Questionou mais irritado que antes.
  - Ele disse que fará de tudo para que me demitam, caso eu não fique com ele. Nojento! Eu não aguento mais, amor.
  - Por que não sai de lá?
  - Por causa do curso. Preciso da droga do relatório de estágio para pegar o diploma. Aff
  - Falta muito para acabar?
  - Um mês. Parece uma eternidade. - Eu disse triste.
  - Calma meu amor, falta pouco. - Alguém entrou no quarto, proferiu algo e saiu. – My sweet, eu tenho que ir. O show já vai começar. - Ele disse se levantando da cadeira e erguendo a tela do notebook. - Oh, eu te amo, ok? Jamais se esqueça disso. E, qualquer coisa me liga. Sábado estaremos de volta e conversamos melhor sobre seu trabalho, tá?
  - Tudo bem, amor. Bom show! Amo você!
  Nos despedimos e ele desligou. Os dias se passaram e o sábado chegou. Tive que vir na agência para concluir umas fotos que faltaram de ontem. Já terminei tudo e estava indo para casa, quando o infeliz apareceu.
  - Está linda, como sempre. - Alex, o nojento, proferiu enquanto me abraçava por trás. – Cheirosa, como sempre.
  - Sai daqui! - Me livrei do abraço dele e me afastei. Continuei arrumando minha bolsa sem dar atenção para ele.
  - Vai me ignorar, ? - Odeio quando ele me chama pelo sobrenome. - Já pensou no que te propus? - Sobre ficar com ele e largar o . Como se eu fosse fazer isso. Nem se eu fosse solteira.
  - Não há o que pensar. Jamais deixaria o .
  - Não sou ciumento. Podemos nos divertir juntos. - Ele sorriu de um jeito safado, mas um safado sujo e extremamente nojento. Argn, nojo.
  - Sai daqui, Alex, me deixa em paz.
  - Ahhh, você gostou da ideia, né?
  - Nem vou te responder. - Terminei de arrumar a câmera na bolsa, catei minha mochila e saí pelo lado oposto onde ele estava. O filho da puta foi atrás de mim.
  - Você sabe que todos já foram, né? Só tem eu e você na agência. Vamos aproveitar e consumar nosso desejo um pelo outro.
  - Que desejo? Sai daqui, Alex. Que inferno! - Ele apertou com muita força meu braço. Tentei me livrar dele, mas estava difícil. Ainda usava a bendita bota (só tirarei daqui há um mês, mais ou menos, que é quando farei a última cirurgia no tornozelo).
  - Não, você será minha de qualquer jeito. Querendo ou não. - Ele me agarrou pela cintura e tentou me beijar. Fiquei virando o rosto freneticamente, na tentativa de me livrar dos beijos dele. Em vão, pois ele conseguiu me beijar. Eu tranquei meus lábios e não deixei que nada passasse por eles. Eu estava morrendo de nojo e com vontade de gritar, mas se eu desse brecha ele me beijaria. Foi então que ouvi uma voz conhecida.
  - Solta ela! – ! Ahhh, meu . - Desgraçado!
  - Solta minha irmã. - ? Ele veio me ajudar também. Meu irmãozão! puxou Alex e deu-lhe um puta soco na cara. Confesso que dei risada por dentro vendo aquela cena.
  - ! Cuidado! - Eles ficaram se socando por alguns segundos, até que o chefe apareceu para apartar a briga. e eu seguramos , que estava imensamente irritado. De um jeito que eu nunca havia visto antes.
  Meu chefe apareceu e levou o Alex para outra sala. Antes, eu pedi demissão mesmo precisando do estágio para concluir meu curso. Então, agora ele é meu ex chefe. E finalmente me livrei do Alex. Não estava mais aguentando ele. Verifiquei se o estava bem, abracei ele com força por finalmente estar nos braços de alguém que não quer me molestar. Ele retribuiu o abraço.
  - Você está bem, amor? - Ele questionou ainda me abraçando.
  - Agora estou. Estou sim. - Eu disse com a voz abafada pelo abraço do .
  - Vamos para casa, maninha. A gente precisa conversar.
  Sempre que o me dizia esta frase “A gente precisa conversar”, meu coração dava pulos dentro do meu peito. Pulos de quem quer se matar, pois sempre era algo ruim. Sempre. Confesso estar com medo do que ele irá me falar, mas encarei meu medo e segui com ele. foi para casa dele. Ao chegar em casa, foi logo se jogando no sofá e jogando as mãos à cabeça. Fiquei mais preocupada ainda. Sentei-me ao seu lado e o mesmo começou a proferir a triste história que nos separaria. Calma! Vou contar tudo.
  Segundo , o empresário deles (agora ex empresário) estava roubando dinheiro dos shows e desviando para conta pessoal dele. O que resultou em alguns processos judiciais. A justiça canadense e americana (lê-se, EUA) alegaram que havia alguns imóveis suspeitos, com atividades suspeitas os envolvendo, no nome do Dave e do , além de alguns com o nome do ex empresário deles. Calma, o empresário deles não era o Math. Ele é o produtor dos meninos e não tem nada a ver com o rolo todo (até onde sabemos, né?).
  Para resumir bem a história… esse apartamento onde vivo com o está no nome do ex empresário deles, que está foragido por sinal, e as justiças tanto americana quanto canadense bloquearam os bens que estão no nome do ex empresário (desculpem por chamá-lo assim, é porque eu realmente não sei o nome dele e o está tão puto me contando a história toda que nem se deu o trabalho de mencionar). E, com isso, o apartamento terá que ser desocupado em uma semana. Sim, terei que sair do apartamento e o também. Por sorte, ou não, o vai para o apartamento do Jeff. E eu? Bem, o apartamento do Jeff não é tão grande e não cabe dois homens e eu. Então, eu estou sem rumo definido. Olha que legal!!!
  Oh Gosh, o que eu farei? Eu não posso voltar para o Canadá, pois meu trabalho com a banda ficaria bem complicado, viajar quase todo dia para poder fotografar eles pelo mundo. Ou seria isso ou seria ficar em quartos de hotel, cada dia em um diferente, rodando sem rumo pelo mundo. Sério gente, o que eu faço?
  Morar com o . É, foi a ideia que o me deu. E o danadinho já havia contado para o que aceitou de eu ir morar com ele. Mas, morar com ele não confundiria nosso relacionamento? Sim, pois nós morando juntos daria a impressão de que somos casados. Não sei, acho que não seria bom para nós. Realmente não consigo raciocinar agora. Não dei nenhuma resposta para o . Apenas fui para o meu ainda quarto, me joguei na cama e desabei a chorar. Minutos depois, saí de casa e fui andar para espairecer. Acho que não estava em casa quando saí. Fui andando pela cidade sem rumo definido. De repente, eu me esbarrei na última pessoa que eu queria encontrar naquele momento.
  Alex.

CONTINUA...



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