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Na minha última coluna falei sobre como fazer o leitor mergulhar de cabeça na sua história com dicas de como construir uma cena. Aproveitando o gancho desse assunto, decidi complementar o tema com mais uma dica para melhorar a sua narrativa e dar ao leitor o que ele quer: a sensação de estar em outro mundo.
Vou continuar usando o exemplo da Angela, a nossa protagonista que deu de cara com o fantasma de sua tia. Vamos supor que, horas antes, Angela esteve no quarto de seu irmão bagunceiro.
“O quarto de Felipe era uma bagunça. Angela cansou de reclamar das tranqueiras jogadas no chão, então nem comentava mais. Talvez fosse melhor jogar tudo fora mesmo…
― Felipe, a mamãe quer falar com você sobre suas notas ― Angela disse, mas ele não tirou a cara do computador nem para fingir que estava preocupado.”Um “show, don’t tell” cairia bem, mas não podemos simplesmente jogar mais descrições do ambiente ao redor da Angela se já abusamos desse recurso. Então, por que não brincar com a interação do personagem com o mundo que você criou?
“― Felipe ― Angela chamou, empurrando com pé uma pilha de roupas sujas que impediam a porta de ser fechada. ― A mamãe quer falar sobre suas notas. Você tá indo muito mal.
O irmão não tirou os olhos do computador, então ela andou na ponta dos pés até a cama dele, desviando das tranqueiras jogadas no chão. Com as mãos afastou alguns fios e roupas para conseguir um espaço para se sentar. Mentalmente, ela prometeu jogar tudo fora de uma vez por todas.”Viu? Só brincando com a interação com o ambiente dissemos que Felipe é bagunceiro e relaxado, além de ter notas baixas, e que a Angela odeia bagunça e se importa com o desempenho do irmão na escola.
E veja só, de bônus, o leitor descobriu coisas sobre a personalidade dos personagens. Coisas que não vamos precisar dizer mais pra frente se a Angela, por exemplo, der de cara com uma bagunça que deixaram na casa dela depois de uma festa. Ou se o Felipe repetir o ano na escola.
Vinte palavras a mais nesse momento podem poupar cinquenta do próximo capítulo.
É isso pessoal! Lembrem-se de que nem todas as cenas precisam ser assim e que, acima de tudo, vocês devem se divertir com o que escrevem!
Coluna por Gabi