Uma Viagem Pode Mudar Um Destino


Escrita porThatzFer
Revisada por Carol S.


Capítulo 42

Tempo estimado de leitura: 24 minutos

  Notas do capítulo
  Link da música no youtube:
  http://www.youtube.com/watch?v=qDUKfsheNVk&feature=related
  A música que eu usei foi Stay - 12 stones
  Para quem não quiser baixá-la, o link do youtube está aí em cima :D
  é só colocar play quando ela começar aqui... Espero que gostem!

  – Nem acredito que você acordou primeiro que eu. – Tom falou no ouvido de Duda, dando logo depois um beijo em sua orelha que fez os pelos da nuca da garota arrepiarem-se, então sentou ao seu lado na areia. – Eu tinha pensado em fazer algo, talvez levar café-da-manhã na cama, mas não sabia se isso funcionava na vida real ou só em filme mesmo. Pensei até em pedir uma opinião de Bill, mas você atrapalhou tudo! – ele concluiu com um tom decepcionado, mas sorrindo.
  – Isso é besteira, Tom. – Duda falou, também sorrindo.
  – Acho que a gente não faz muito o tipo de casal romântico, não é?
  – Não mesmo! – a garota concordou sorrindo.
  O barulho das ondas e do vento foram os únicos sons que passaram a ser escutados no local. Os dois pareciam ter se perdido em seus próprios pensamentos, pensamentos esses que incomodavam bastante Duda, pois não a deixavam esquecer que dali a algumas horas ela estaria voltando para casa. Tom segurou a mão da garota, fazendo com que ela despertasse de suas divagações, e disse-lhe o que passava por sua cabeça.
  – Sabe, eu estive pensando... Eu sempre tive muito amor para dar, e costumava dar ele a várias mulheres...
  – Uma a cada noite. – Duda completou sorrindo.
  – É, uma a cada noite... Mas agora... Agora eu quero dar ele a uma só pessoa...
  “O que você está fazendo, Tom? Assim você só vai deixar as coisas mais difíceis...”, Duda pensou angustiada.
  – E essa pessoa é você. – ele concluiu por fim.
  Duda ficou calada, olhando-o atentamente, sem saber o que deveria dizer.
  – Sabe, é nessas horas que você deveria falar alguma coisa. – ele disse, sorrindo.
  – Tom... Tom, essa pessoa não pode ser eu... Eu vou embora! Você se esqueceu disso?
  – Você vai embora? Você vai mesmo?! – ele perguntou incrédulo.
  O garoto sabia que ela só tinha vindo passar as férias, mas nunca pensou que ela fosse ter coragem de ir embora. Não depois de tudo que aconteceu entre eles... Nenhuma outra garota seria capaz de deixá-lo. “Por que ela teima em ser diferente?”
  – Tom, eu tenho que ir. – ela olhou em seus olhos, esperando alguma reação do garoto, mas ele ficou calado e ela continuou. – Não é que eu não goste de você, é que eu tenho os meus sonhos e nenhum deles se resume a estar em um palco, cantar... A Tha vai ficar. Isso foi o que ela sempre quis afinal. Eu vou, Tom. E não vou te pedir que me espere, pois eu não sei quando eu volto... Nem se volto. Eu não espero que entenda, mas que aceite.
  – Mas... Os seus sonhos... Sua vida... Ela não me inclui agora?
  – Se eu te pedisse para você escolher entre mim e sua carreira, o que você escolheria? Você viveria em paz comigo sem saber o sucesso que poderia ter feito? As pessoas que poderia ter conhecido? Os lugares que poderia ter ido?
  Tom ficou em silêncio, refletindo sobre o que a garota tinha lhe dito. Quando pensou em responder alguma coisa, Duda cortou-o.
  – Não precisa responder. Eu nunca te pediria isso... E espero que você não me peça também. – Duda acariciou a face do garoto, enquanto eles se fitavam em silêncio. Ela se inclinou até ele e deu um beijo no canto de sua boca, depois levantou-se. – Vou vê se a Vick já está pronta, o avião parte daqui a duas horas.
  Tom viu a garota caminhar lentamente até o chalé, assim que ela entrou, ele fez a primeira coisa que passou por sua cabeça: correu até o que estava Bill, entrando sem bater.
  – Você sabia que a Duda vai embora?!
  Bill olhou-o assustado e Thaís, que também estava no quarto, falou:
  – Bom dia para você também, Tom!
  – Não sabia que você estava aqui, mas tudo bem, bom dia! Agora alguém pode responder a minha pergunta?
  – Claro que a gente sabia que a Duda ia embora. Todo mundo sabia. – Bill respondeu, levantando uma sobrancelha.
  – Sério?! Vocês já achavam que ela teria coragem de realmente ir?! – ele insistiu.
  – Você quer que ela fique? – Thaís perguntou.
  – Quero! Claro que eu quero!
  – Então o que você ainda está fazendo parado aqui?! Vá convencê-la a ficar! – ela exclamou.
  – Mas como?
  – Diz a ela que você a ama! – Bill exclamou sorridente, como se acabasse de ter tido uma ideia brilhante.
  – Eu já tentei e não funcionou. Ela não deixou nem eu terminar de falar!
  – É porque a Duda acha que o ‘eu te amo’ foi banalizado... E vindo de você, eu nem posso dizer que ela esteja errada. – Thaís comentou.
  – Mas dessa vez era verdade!
  – Mas ela não é adivinha! – Thaís exclamou imitando a voz do garoto. – Tenta falar que a ama de outro modo, sei lá...
  – Eu ainda acho que era mais fácil falar ‘eu te amo’... – suspirou Bill.
  – Olha, Tom, você tá perdendo tempo aqui. Agora não é o momento de você pensar o que seria o mais certo a fazer, e sim, tomar alguma atitude! Vá atrás dela e faça o que o seu coração mandar! Provavelmente será o melhor a ser feito... – Tha falou tocando no ombro do garoto. – A essa hora ela já deve estar no aeroporto com Victória.
  – É! Vamos para o aeroporto logo! – exclamou Bill, animado.

  – Duda, eu estou triste... – Vick falou quando elas acabaram de despachar as malas e sentaram-se em um banco qualquer, a espera do embarque.
  – Por que, Vick? – Duda perguntou, olhando a garota.
  – É que... É tanta coisa que a gente está deixando para trás...
  Duda parou por um momento e depois passou a fitar o nada, falando baixinho:
  – É verdade...
  – Aquela bolsa que você ganhou... Estudar ganhando dinheiro na faculdade que você sempre quis... Você batalhou muito por isso, não foi? – Victória perguntou recebendo um aceno positivo de Duda, mas mesmo que a garota não respondesse, ela já sabia a resposta. Tinha acompanhado tudo de perto, afinal. – Se não fosse a bolsa... Você ficaria... Não é? – dessa vez Duda não respondeu, apenas baixou a cabeça pensativa. - Acho que vou comprar uma água. Quer vir? – Victória perguntou, interrompendo os pensamentos da garota.
  – Não... Vou andar um pouco, olhar as lojinhas. – ela respondeu sorrindo.
  – Tudo bem então. – concordou Vick, seguindo para o lado oposto ao da menina.
  Duda andava distraidamente pelo aeroporto, passava pelas lojas, mas não conseguia prestar atenção nelas, seus pensamentos estavam em outro lugar. Ela não conseguia deixar de se perguntar se fazia o certo e como tudo seria dali para frente. Ela sempre viu toda a situação com tanta naturalidade que nunca havia reparado como tudo que ela viveu havia sido incrível e inimaginável, por vezes ela até esquecia quem eram aqueles garotos e como milhares de meninas queriam poder estar no lugar dela agora. Entretanto, ela sentia que tinha aproveitado tudo que podia daquele seu relacionamento com o Tom e que já estava na sua hora de partir, voltar para sua vida e terminar o que já havia começado. Apesar de tudo, ela sentia que se aquilo entre ela e o Tom não terminasse ali, a vida os daria outra chance.
  O primeiro chamado para o embarque soou no corredor, despertando a garota de suas divagações, e fazendo com que ela se encaminhasse até a fila para o embarque. Assim que avistou a fila, viu Victória despedindo-se de Gustav e de todos os outros que também estavam no local. Ela agradeceu que o movimento no aeroporto àquela hora estivesse pouco, porque assim os poucos seguranças que havia podiam impedir qualquer tumulto que viesse a acontecer pela presença dos garotos no lugar.
  – Estava esperando você chegar... – Victória falou assim que Duda aproximou-se dela.
  – Tudo bem. – Duda disse sorrindo e virando-se para se despedir dos outros, por cima da barra de ferro que os separava.
  Ela foi despedindo-se de cada um, deixando Tom por último. Ela olhou para o garoto por algum tempo e depois sorriu, abraçando-o.
  – Adeus, Tom... Obrigada por tudo. – ela falou baixinho em seu ouvido.
  – Espera. – ele pediu, impedindo a garota de ir. – Eu não sei como te falar isso, mas eu preciso falar...

  I walk to the edge again, searching for the truth
  Eu ando no limite outra vez, procurando pela verdade
  Taken by the memories of all that I've been through
  Tomado pelas memórias de tudo aquilo que tenho sido

  – Tom...
  – Não interrompa, por favor, deixe eu te falar isso. – ele recebeu um olhar apreensivo da menina, mas ela balançou afirmativamente a cabeça, deixando que ele continuasse. – Sabe, eu não sei exatamente o que mudou, nem como mudou, mas eu sei que as coisas não são mais as mesmas. Eu não sou mais o mesmo. Antes de você eu achava que era completo, que minha vida estava completa, mas agora que você está prestes a ir... É como se estivesse levando uma enorme parte de mim, e eu não sei como conseguiria viver sem ela. Eu não posso mais me imaginar sem você! Você consegue entender isso?!

  If I could hear your voice I know that I would be okay
  Se eu pudesse ouvir sua voz, eu sei que eu estaria bem
  I know that I've been wrong but I'm begging you to stay
  Eu sei que tenho estado errado, mas estou implorando pra você ficar

  Duda não tinha forças para responder, estava concentrada demais em tentar preencher o vazio que se espalhava em seu coração a cada palavra dita pelo rapaz.
  – Você consegue entender?! – ele repetiu, voltando a falar. – O passado já não me importa mais e as outras são as outras e só! Eu até tentei me afastar de qualquer possibilidade de envolvimento, mas eu me entreguei sem perceber... Eu não posso mais fingir que não há nada, eu não posso mais me enganar, eu realmente quero você... Quero estar com você... Nós dois sabemos que você pode escolher...

  Won't you stay?
  Você não vai ficar?

  – Tom, não me peça isso... Por favor! – a garota exclamou, sentindo o coração apertar, preferia que ele não tivesse lhe dito nada daquilo, seria mais fácil partir, talvez não doesse tanto...
  O segundo chamado para o voo que partiria em direção ao Brasil começou a soar no corredor e Duda virou-se instintivamente para segui-lo. Tom, assim que percebeu a movimentação da garota, passou o braço por cima da barreira e segurou sua mão, num pedido em silêncio para que ela se virasse. Ao sentir o toque do garoto, Duda sentiu seu coração disparar e a dor lhe sufocar, impedindo-a de respirar. Seus olhos encheram-se rapidamente de lágrimas e a força que ela fazia para não chorar contraía todos os seus músculos, e fazia sua garganta arder num pedido desesperado para que ela cedesse.
  – Por favor, fique. – Tom pediu ao notar a resistência da garota em olhá-lo.

  Will you be here or will I be alone?
  Você estará aqui ou eu estarei sozinho?

  – Não posso... – Duda falou com a voz falha, tentando soltar sua mão da dele.
  A aflição de Tom aumentou, e ele segurou mais forte a mão da garota. O sofrimento que ele sentiu através daquelas poucas palavras ditas por ela só fez aumentar ainda mais a sua própria dor.
  – Você sabe que eu te amo! – ele disse angustiado.

  Will I be scared? you'll teach me how to be strong
  Eu estarei assustado? Você me ensinará como ser forte

  Aquelas palavras foram o bastante para que a garota não conseguisse mais se segurar, deixando que algumas lágrimas rolassem depressa pelo seu rosto. Ela enxugou-as rapidamente com o bruço da mão e, contendo as outras que tentavam a todo custo escapar de seus olhos, virou-se para Tom. Assim que seus olhares encontraram-se, o garoto pôde ver todo o sofrimento que havia através dele. Ele não queria que ela sofresse, apenas queria que ela ficasse.
  Ver Tom daquele jeito, olhar em seus olhos e saber tudo que ele sentia só diminuiu sua coragem de partir. Ela nunca quis que ele sofresse, ela nunca pensou que ele pudesse um dia sofrer por ela.
  – Você sabe que eu te amo... – ele repetiu.
  Ela respirou fundo e torceu para que seus olhos não negassem suas palavras.
  – Isso não é suficiente. - ela falou, sentindo algumas lágrimas descerem pelo canto de seus olhos.

  And if I fall down will you help me carry on
  E se eu cair, você me ajudará a levantar
  I cannot do this alone
  Eu não posso fazer isso sozinho

  Tom chocou-se com o que ela disse. Não esperava que pudesse chegar a ouvir de alguém que seu amor não era o suficiente. O aperto acabou se afrouxando e Duda entendeu que aquela era a sua oportunidade para ir. Ainda fitando o garoto, afastou-se dele, suas mãos soltaram-se lentamente e, assim que se perdeu o contato entre elas, Duda virou-se. Toda a sua resistência havia acabado, e todo o esforço que ela fazia para que as lágrimas se contivessem dentro de seus olhos parecia inútil, só fazendo com que ela aumentasse a velocidade de seus passos para se ver longe de tudo aquilo.
  O garoto não conseguia se mover, ficou inerte vendo-a seguir o seu caminho. Contudo, assim que ele a viu procurar os documentos na bolsa, pareceu perceber o que estava deixando acontecer. Foi aí que, num ato impulsivo, pulou a barra e correu até ela, impedindo-a de entregar o passaporte e puxando-a para ele, contendo-a em um abraço apertado.

  I wish that I could turn back time just to have one more chance
  Eu desejo que eu pudesse voltar no tempo apenas pra ter mais uma chance
  To be the man I need to be, I pray you'll understand
  De ser o homem que eu preciso ser, eu rezo pra que você entenda

  – Por favor, me diga que isso não passa de uma ilusão... Me diga que você vai ficar... – ele repetia num sussurro desesperado, enquanto sentia as lágrimas da menina molharem sua blusa.
  – Me solte, Tom... Deixe-me ir embora... – Duda falava enquanto a intensidade do seu choro aumentava, perturbando-a inconscientemente.
  Aquele abraço doía mais que confortava, e a garota só queria conseguir desprender-se dele. Duda sentia o descontrole do coração de Tom pulsar sobre o seu peito, e saber que o seu batia por ele fez com que ela passasse a chorar descontroladamente.
  – Tom, me solte... Me solte agora! – ela gritou, empurrando-o com toda a força que lhe restava.
  Tom viu o corpo dele afastar-se do dela rapidamente e estendeu o braço, tentando a qualquer custo impedir aquela separação. Acabou segurando a corrente dela, que se partiu quando seus braços foram puxados para trás por dois seguranças, que começaram a arrastá-lo para longe dali.
  A menina levou automaticamente uma mão ao pescoço e a outra estendeu na direção do rapaz que era levado embora pelos dois homens. Ela deu instintivamente um passo à frente, e o coração de Tom disparou diante daquela possibilidade dela mudar de ideia e ficar. Tom também esticou o seu braço, tentando segurar a mão da garota, mas seus dedos se fecharam no vazio, ele não conseguiu alcançá-la. Aquele quase toque fez o coração da garota parar de bater por alguns segundos. Ela fechou a mão com força e a pôs sobre o peito. Sua vontade era de correr até ele, mas algo a impedia.

  If I could hear your voice I know that I would be okay
  Se eu pusesse ouvir sua voz, eu sei que eu estaria bem
  I know that I've been wrong but I'm begging you to stay
  Eu sei que eu tenho estado errado, mas eu estou implorando pra você ficar
  Won't you stay?
  Você não vai ficar?

  O garoto podia ver o esforço que ela fazia para não ir até ele, seu corpo todo tremia tentando cumprir as ordens que vinham de sua mente, e não as que vinham de seu coração. Ele não podia deixar de tentar, tinha que mostrá-la que aquele não era o fim para os dois, tinha que provar que ela estava errada, que ela tinha que ficar.
  – Você não vai me esquecer! Você não vai conseguir! – ele gritou, numa atitude desesperada de mudar tudo aquilo que estava acontecendo.
  “Eu não pretendia, Tom... Mas agora eu preciso.”, ela pensou, virando-se para procurar o passaporte que havia se perdido naquela confusão, em meio às lágrimas que ainda caíam de seu rosto.
  – Duda! Ei! Duda! – ele gritava, mas ela não parecia escutar. – Me soltem! Vocês não entendem! Eu não posso deixá-la ir! – ele gritou para os seguranças que, irredutíveis, continuavam a arrastá-lo para longe dali.
  “Isso não pode estar acontecendo... Alguém te traga de volta... Por que querem me afastar ainda mais de você?!”

  Will you be here or will I be alone?
  Você estará aqui ou eu estarei sozinho?
  Will I be scared? You'll teach me how to be strong
  Eu estarei assustado? Você me ensinará como ser forte
  And if I fall down will you help me carry on
  E se eu cair, você me ajudará a levantar
  I cannot do this alone
  Eu não posso fazer isso sozinho

  – Duda! – ele tentou mais uma vez, ele precisava que ela se virasse, ele precisava que ela o olhasse... Pelo menos mais uma vez. - Maria Eduarda! – ele gritou como se sua vida dependesse daquele último olhar.
  Parecendo atender aquele pedido, ela virou-se e, mesmo com toda aquela distância, mesmo com toda a multidão que havia no local, ela conseguiu visualizá-lo e ler em seus lábios aquela verdade dita em silêncio, pois ele já não tinha mais forças para gritar.
  – Eu te amo... Muito. Você é única para mim.

  I need your hand to help me make it through again
  Eu preciso de sua mão pra me ajudar a fazer isso de novo
  Nothing compares to how I feel when I look at you
  Nada se compara ao que eu sinto quando olho pra você

  Mais lágrimas desceram pelo seu rosto, ela precisava ser forte, ela precisava ir, mas não podia deixar que ele a perdesse sem que a visse dizer o que tanto queria. Não podia ir embora sem lhe dizer o que sentia. Mesmo que ela já tivesse dito diversas vezes, com o olhar, com um sorriso... Ela queria que ele pudesse vê-la dizer.
  – Eu te amo, Tom... Você não sabe o quanto... – ela disse baixinho, o que não o impediu de entender.

  You never know, you never know tomorrow
  Você nunca sabe, você nunca sabe o amanhã
  You never know, you never know tomorrow
  Você nunca sabe, você nunca sabe o amanhã
  Don't walk away
  Não volte atrás

  Ela então se virou para a mulher e, já com o passaporte na mão, entregou-o para ela. A moça a olhou como se tentasse entender a escolha que ela estava fazendo. Duda podia ler naqueles olhos a incompreensão e até a condenação por aquela atitude, mas aquela mulher não podia entender, ninguém conseguiria, e nem precisavam. Afinal, apesar de ela achar que seria bem mais fácil se todos simplesmente aceitassem, ela passaria por cima daquilo como sempre passava por cima de todas as dificuldades, fazendo o que ela acha ser o certo, deixando de lado o que os outros pensam a respeito.
  A garota balançou o passaporte e a mulher pegou-o inconformada. Duda fechou os olhos por um instante e um flash de memórias invadiu sua mente, mas ela só precisava de uma para poder prosseguir na sua volta para casa... E ela a achou. Em meio a tanto sofrimento, ela conseguiu ver claramente o rosto de Tom sorrindo para ela, aquela imagem a deixava livre. Enquanto ela sentia que o mundo podia desabar a qualquer momento sob os seus pés, aquela imagem a confortava. Ela abriu os olhos novamente, ponta para prosseguir. Vick a esperava e elas seguiram jutas para o avião.

  – Podem soltá-lo! Ele não vai mais fazer nada! – Bill falou, finalmente chegando até os seguranças que arrastavam seu irmão.
  – Os homens olharam-no desconfiados e Tom aproveitou que o aperto em seu braço afrouxou-se e correu até o visor, de onde poderia ver o avião decolar. Aquele avião só a levaria a um lugar ainda mais distante, a um lugar no qual eles não poderiam mais estar juntos. Entretanto, apesar de tudo, enquanto ele permanecesse no chão, ainda haveria esperanças. Esperanças de que ela percebesse o erro que estava cometendo e voltasse para ele e nunca entrasse naquele avião. Não sem ele, não para ficar longe dele.

  Will you be here or will I be alone?
  Você estará aqui ou eu estarei sozinho?
  Will I be scared? you'll teach me how to be strong
  Eu estarei assustado? Você me ensinará como ser forte
  And if I fall down will you help me carry on
  E se eu cair, você me ajudará a levantar
  I cannot do this alone
  Eu não posso fazer isso sozinho

  Duda não demorou a achar sua cadeira, sentou-se, com Vick ao seu lado, mas não olhou pela janelinha, ainda não sentia estar pronta para isso. Era impossível dizer se aqueles minutos estavam sendo mais difíceis para ele ou para ela , a única certeza que havia era que, apesar de toda a distância que os separava, eles estavam mais juntos em pensamento do que nunca.
  O avião começou a correr pela pista e, antes mesmo de chegar ao fim dela, conseguiu velocidade suficiente para levantar voo. E voou.
  Duda sentiu-o sair do chão e olhou pela janelinha. Não dava para ver Tom dali, mas sabia que ele acompanhava com o olhar a sua despedida. Era tão difícil para ela ir embora, como era para ele ficar. Mas ela não podia desistir de seus sonhos por ele. Apesar de ele ser tão importante em sua vida, ela não podia fazer dele a sua vida. De qualquer forma, ela sentia que ele sempre estaria presente, fosse só a lembrança, fosse a vontade de poder voltar no tempo e estar mais uma vez ao seu lado.

  I am not alone I know you're there
  Eu não estou sozinho, eu sei que você estará lá
  I am not alone.
  Eu não estou sozinho.

  – Desculpe-me... - ela sussurrou baixinho, e uma lágrima escorreu silenciosamente pelo seu rosto, já não sabia se pedia desculpas a Tom ou ao seu coração, que se encolhia dentro do peito.
  Tom acompanhava o percurso do avião no céu até ele desaparecer completamente entre as nuvens. Ainda assim, continuou a fiá-lo. Procurava algo que o desse esperança. Procurava algo em que pudesse se agarrar para suprimir aquela dor que sentia. Poderia não doer tanto? Poderia não ser tão difícil vê-la partir? Algo poderia ser dito ou feito que a fizesse voltar?
  – Não me deixe! – gritou Tom para alguém que já não o podia ouvir. – Não me deixe aqui sozinho, por favor... – falava ele, perdendo a voz aos poucos, enquanto as pessoas olhavam assustadas em sua direção. Elas não podiam entender o que ele sentia.
  – Tom... – falou Bill tentando tocar no irmão, mas foi impedido por Thaís.
  – Vem Bill... Tom precisa ficar um pouco sozinho. – disse ela.
  Thaís levou Bill até uma lanchonete, e de lá o garoto ficou observando o irmão.
  – Tom está tão... – ele tentava achar a palavra certa, sem conseguir.
  – Diferente? Apaixonado? – Thaís tentava adivinhar o que o garoto queria dizer.
  – Ele não sofreria assim por uma garota. Por ninguém!
  – Bill, o Tom ama a Duda. E o pior, acho que ele finalmente percebeu isso.
  Bill concordou em silêncio, ainda olhando o irmão, depois falou num sussurro:
  – Eu sempre pensei que quem sofreria no final de toda essa história seria a Duda... Por isso que eu nunca quis que ela ficasse com ele... Mas agora eu vejo que estava errado.
  – Não se engane, Bill. – Thaís falou tocando na mão do rapaz. – Não é porque ela teve coragem de ir, que isso signifique que ela não esteja sofrendo.

  Tom ainda estava parado no mesmo lugar, fitando o céu sem realmente vê-lo. Pensava se algo que ele pudesse ter dito ou feito teria sido capaz de impedi-la de ir. Sentia seu coração apertar, e a respiração se tornar cada vez mais difícil quando ele pensava que a cada minuto que passava, ela estava mais longe. Queria chorar para que as lágrimas levassem com elas toda aquela dor que o consumia. Mas as lágrimas não saíam, e ele não entendia o porquê.
  E então veio a raiva. Raiva dela por tê-lo deixado, por tê-lo abandonado. Por tê-lo feito sentir tantas coisas que tinha medo, que ele não tinha vontade de admitir que existiam. Por ela tê-lo tirado daquele mundinho onde não havia dor, solidão, vontade de estar com uma só pessoa. Uma só pessoa... “Ela não podia simplesmente nunca ter aparecido em minha vida?”, perguntou-se ele angustiado.
  Depois veio a raiva dele mesmo. Por não ter sido homem o suficiente para impedi-la de ir. Por ser tão orgulhoso, tão idiota e tão extremamente infantil tantas vezes. Por ter demorado tanto tempo para perceber, ou melhor, admitir que a amava. Que ela era importante em sua vida.
  A raiva então consumiu seu corpo inteiro e passou para uma profunda tristeza. Vontade de tê-la de novo em seus braços, sorrindo e beijando-o com aquela intensidade que lhe tirava o fôlego e despertava pensamentos que ele nunca compartilharia com ninguém. Tristeza por não saber quando poderia tocá-la novamente, se é que algum dia poderia. Tristeza por ela não ter ficado por tempo suficiente. Tristeza por todo aquele sofrimento não ser capaz de fazê-lo odiá-la nem por um momento, nem conseguir disfarçar a vontade que ele tinha de deixar tudo para correr atrás dela.
  E a tristeza por fim passou à desolação. Sentia-se desolado por estar agora cercado de pessoas e sentir-se sozinho. Por ser capaz de ver sua vida desandar diante de seus próprios olhos. Por ter certeza de que só uma pessoa poderia arrancar-lhe daquele buraco fundo em que ele lentamente caía. E saber que ela estava longe demais para poder ajudá-lo agora.
  – Tom... – chamou Bill, aproximando-se do irmão. – Tom... Já faz horas que a gente está aqui...
  Tom não escutava nada, ou pelo menos fingia não escutar.
  – Tom! Não tem mais nada aí! Pare de se machucar assim, por favor... – tentou Bill mais uma vez, mas Tom não parecia ouvi-lo.
  – Tom! Ela foi embora, ok?! – gritou Bill tentando arrancar o irmão daquele transe.
  Tom olhou para Bill e então a ficha caiu. “Ela foi embora... Ela não vai mais voltar...”, pensou ele. Sentiu uma dor aguda no seu coração lhe sufocar e ele sentou-se em um banco. O desespero percorreu o seu corpo e a vontade de tê-la ao seu lado intensificou-se. “Ela foi embora... Ela não vai mais voltar...”, essa informação girava em sua mente tornando cada vez mais forte o seu sofrimento. Apoiou o cotovelo na perna e segurou a cabeça com as mãos, de modo a tentar acabar com aquela tortura. Sentiu a dor consumir-lhe e a garganta arder, seus olhos encheram-se de lágrimas e, sem que ele pudesse impedir, elas escaparam dele. E ele viu suas últimas esperanças alcançarem o chão em segundos.

Capítulo 42
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