Capítulo 33
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Aquela semana passou com muitas visitas ao parque. Parece que todos gostavam daqueles passeios, menos Tom e Duda. Estes estavam sem se falar desde a festa, exceto por alguns cumprimentos casuais e algumas palavras quando estavam no mesmo grupo de conversa.
Na verdade, Duda queria muito falar com ele e pedir-lhe desculpas pelo que fez e falou. Não que ela achasse que o que falou estava errado, mas ela achou que talvez ele não fosse maduro o suficiente para escutar aquilo como uma crítica construtiva. E em relação ao que fez, bom, aí ela que se culpava por não ter sido madura o suficiente para não fazer aquilo. Deixou-se levar pelo momento e pela raiva que sentia, e não se orgulhava nenhum um pouco disso.
Duda estava tomando café-da-manhã no hotel, enquanto terminava de ler um livro, quando seu celular tocou.
“Isso já está virando rotina”, pensou ela revirando os olhos.
– Diz Tha. – Disse Duda atendendo ao telefone.
– Eita! Que mau humor. Deixa pra lá, vamos sair? – Perguntou Thaís.
– Pra onde? Só não me diga que é pra mais um parque pelo amor de Deus! – Exclamou com uma voz de súplica.
– Hoje é o último! Eu prometo!
– Ai Tha... Não sei não... – Falou Duda, sem encontrar coragem para um não definitivo.
– Vamos, Du! Por favor! É a sua irmã que tá lhe pedindo esse pequeno favor!
– Tá, Tha. Qual é o parque dessa vez?
Thaís explicou e Duda desligou dizendo que se encontraria com ela lá.
Arrumou-se lentamente, não estava com a mínima vontade de ir, mas sabia que se dissesse isso para a sua irmã, ela passaria o resto da viagem lhe enchendo, e para isso, já bastava ter que ver o Tom.
Chegou ao parque e já estavam lá lhe esperando. Cumprimentou todos e sentiu a falta de alguém. Era o Tom. Não queria perguntar por ele para que não ficassem dizendo que ela estava sentindo sua falta. “Mas e se aconteceu alguma coisa séria com ele?”, pensou ela. “Não, se tivesse acontecido ninguém estaria aqui, em um parque, se divertindo. Então o que será que aconteceu?”. Depois de se perguntar várias possibilidades, resolveu indagar apenas para satisfazer sua curiosidade, pelo menos essa foi a desculpa que deu a si mesma.
– Cadê o Tom? – Perguntou baixinho à Vick.
– Ele não quis vir hoje. Disse que tava cheio desse negócio de vir pra parque. – Respondeu Vick.
– Ah... – “Tá aí uma coisa que eu concordo com ele.”
Thaís escutou a pergunta da irmã, mas apenas sorriu. Ela estava ao lado de Bill, de mãos dadas, daqui a um tempo ele sairia para andar pelo parque com ela e lhe diria tudo àquilo que ela gostava de escutar e receberia mais um de seus beijos. Tha despertou de seus sonhos nessa hora. “Por que será que ele nunca me beija na frente de Duda? Já faz algum tempo que a gente está ficando, ou melhor, namorando, e ela não sabe de nada! Nunca nos viu realmente juntos! Seria mera coincidência ou... Ou ele ainda sente algo por ela?”, Thaís começou a se perguntar, angustiada. Foi quando decidiu beijar Bill, para ver a atitude que ele tomaria. Esperou que ele terminasse de contar uma história aos que estavam no local e, quando ele finalmente calou-se, ela tocou em seu rosto fazendo com que ele se virasse para ela, e o beijou. Para seu alívio, ele não virou o rosto assustado, ou ao término do beijo olhou para Duda, angustiado. Ele apenas sorriu e depois de algum tempo baixou a cabeça, olhando para sua mão que estava enlaçada com a de Thaís.
Duda viu o beijo dos dois e suas especulações foram confirmadas. Ela sabia que algo estava acontecendo, há muito já tinha se dado conta disso, só não sabia exatamente o quê. Ou não queria enxergar. Aproveitava que ninguém lhe dizia nada e nunca teve a oportunidade de ver nada, para simplesmente pôr a culpa para sua imaginação, que estava sempre vendo coisas onde não tinha. Mas aquele beijo confirmou tudo e a única coisa que ela queria agora, era sair dali. O mais rápido possível. Não queria ter que olhar para os dois sabendo que eles estavam juntos. Precisava de um tempo para se acostumar com a realidade. Levantou-se de sobressalto e, dizendo que precisava resolver alguns problemas com o Hotel, saiu dali.
Caminhou em direção ao local onde estava hospedada, mas depois mudou totalmente sua direção. Convenceu-se de que não adiantaria ir para o Hotel, enlouqueceria pensando nos dois. Também não aguentava mais ir a parques. Estava cansada deles e de sua estrutura perfeita. Impecavelmente organizado, impecavelmente limpo, impecavelmente bem estruturado. Pessoas perfeitas, vidas perfeitas, casais perfeitos. Nada é perfeito, principalmente as pessoas, essas realmente não são nada perfeitas apesar de sempre buscarem a perfeição.
Saiu andando sem saber muito bem aonde queria chegar. Gostava disso, andar sem saber para onde ir e chegar a um local inesperado. Procurava um lugar legal, com pessoas normais. Encontrou um pub, achou bacana e decidiu entrar. Sentou num lugar mais afastado, encostou a cabeça na parede e se concentrou na música que tocava no local. A mistura de ritmos a fez rir e foi quando escutou um som de violão vindo de um lugar mais afastado. Seguiu o som e chegou até uma sala mais reservado onde havia alguns seguranças na porta. Um deles reconheceu-a e deixou-a entrar. “Ah não...”, pensou quando viu quem estava lá dentro.
Era o Tom, e o jeito como ele tocava a fez lembrar-se de si mesma. Aquele jeito de se excluir de tudo, de todos os problemas, de todas as injustiças, de por um momento estar em outro mundo onde a vida passava a ser diferente e as pessoas deixavam de ser tão ridicularmente ignorantes.
– Mas olha só quem tem alma! – Falou ela rindo.
– Ah não tô acreditando nisso... – Lamentou-se ele.
– Eu também não! Você ter alma é realmente algo inacreditável! – Riu-se Duda.
Tom limitou-se a fazer uma careta.
– E aí criança, posso sentar aqui com você? – Perguntou Duda.
– Não.
– Ah tá, obrigada. – Falou ela, sentando-se.
– Você não cansa de ser intrometida não, garota?
– Na verdade não. Principalmente se as pessoas fizerem uma cara como essa sua agora.
– Ah...
– Tom, cala a boca e volta a tocar. – Disse Duda, interrompendo-o.
– Ah...
– Tom, você é realmente muito melhor tocando do que falando. Quer voltar a tocar então? Eu não quero brigar. – Falou Duda tentando se controlar para não rir, apesar da cara de Tom dificultar bastante sua vida.
Tom olhou-a sério como se a analisasse. Era incrível a facilidade daquela garota em irritá-lo. Ela continua parada, olhando fixamente para ele, sorrindo cinicamente. Percebeu, então, que ela estava decidida a não sair dali. Achou melhor tocar alguma coisa e livrar-se dela depois. Então riu e começou a tocar.
– Acho que ficaria melhor assim. – Falou Duda depois de um tempo com Tom tocando, arrancando o violão de suas mãos.
Tom já ia reclamar, mas Duda já havia começado a tocar e ele começou inevitavelmente a prestar atenção. “Nossa... Ela toca bem. E realmente ficou melhor assim”, pensou ele enquanto assistia Duda tocar.
– Nada mal. – Falou Tom quando Duda devolveu-lhe o violão. – Agora veja o mestre e aprenda.
Duda sorriu e apoiou o cotovelo sobre a perna, e o rosto inclinado sobre a mão, e ficou prestando atenção em Tom que já havia começado a tocar. Em qualquer outra ocasião ela reviraria os olhos ou daria algum tipo de fora em Tom. Mas não nesse momento. Ela não queria brigar com ele agora que finalmente havia encontrado algo em comum. Fora isso, para ela, ele poderia até se achar agora, pois ele tocava irrefutavelmente bem.
Tom começou com um dedilhado lento e foi passando para um mais rápido até pegar uma cadência que Duda nunca tinha ouvido na vida. Surpreendeu-se com o garoto e achou a melodia cada vez mais linda. Tom estava tocando diferente de como ele normalmente tocava. Não que nos shows ele não tocasse bem, porque ele tocava muito bem, mas ele ainda estava tocando como antes dela chegar. Ele tocava acima de tudo com a alma, como se ela não estivesse ali.
– Vai ficar olhando mesmo assim pra mim? – Perguntou Tom que havia terminado.
– Assim como?
– Como se estivesse apaixonada. – Falou ele abrindo um sorriso.
– Pensei que já estivesse acostumado. – Retrucou a garota.
– Hum! Não vai negar? – Perguntou ele.
– Vai adiantar?
– Não.
– Então não vou me dar ao trabalho. – Falou ela levantando-se.
– Para onde você vai?
– Vou embora. Você já viu que horas são?
Tom deu uma olhada rápida no relógio e através da porta que os separava do resto do pub. O local já estava praticamente vazio.
– Eu vou com você. – Falou ele, levantando-se também e seguindo-a.
Tom avisou aos seguranças que não precisaria mais dos seus serviços e que avisasse ao motorista que ele acompanharia Duda a pé até o hotel.
Caminharam conversando e Duda ria das piadas de Tom e ele ria das próprias piadas e também do jeito como Duda ria. A quantidade de coisas que perceberam que havia em comum entre eles surpreendeu-os. Talvez nunca tivessem percebido suas semelhanças porque estavam sempre brigando e talvez fosse justamente esse o motivo de brigarem tanto, o fato de serem tão parecidos.
Começou a chover e eles saíram correndo rindo sob a chuva enquanto procuravam um lugar para se protegerem dela. Encontraram um prédio que tinha toda a sua frente coberta e foram para lá. Tom encostou-se à parede rindo enquanto Duda permaneceu à sua frente, também rindo, enquanto espremia seus cabelos. Tom pôs as mãos nos joelhos e abaixou sua cabeça, olhando para o chão, enquanto acompanhava a trajetória da água que pingava de seu boné. Levantou a cabeça e ao perceber que Duda ainda olhava-o sorrindo, não se segurou mais e puxou-a para ele pela cintura, envolvendo-a rapidamente com um beijo.
Duda sentiu o corpo de Tom colocado ao seu e correspondeu ao beijo subitamente. Ele a tinha surpreendido. E ela adorava que a surpreendessem. Duda sentiu seu coração parar por um momento e depois acelerar rapidamente.
“Agora sim é como eu imaginava... Pensando bem, é muito melhor!”, pensava Tom lembrando-se do dia da festa em que ela enganou-o.
Tom a abraçava cada vez mais pela cintura enquanto o beijo ficava cada vez mais intenso. A garota pôs cada mão sua em um ombro de Tom e empurrou-o, conseguindo soltar-se dele.
– Ei! O que é isso?! – Exclamou ela.
– Isso o que? – Perguntou Tom enquanto sorria maliciosamente e mexia lentamente no piercing.
– Isso! – Falou Duda e puxou Tom pela gola de sua camisa, iniciando um novo beijo.
Tom beijou-a durante algum tempo e depois a segurou pelo ombro, afastando-a dele.
– E é assim, é?! – Perguntou ele.
– Assim como? – Respondeu ela, sorrindo.
– Só quando você quer?
Ela deu um sorriso inocente.
– Então tá. Se você não quer... – Falou, virando-se e começando a andar afastando-se dele.
– Tudo bem, eu já quero! – Disse ele e agarrou-a pela cintura, trazendo-a para ele.
Duda sorria mordendo o lábio inferior quando sentiu suas costas coladas ao corpo de Tom. Ele beijou levemente o pescoço dela e foi o suficiente para que ela se virasse para ele e ele pudesse voltar a beijá-la.
Tom beijava Duda com uma intensidade que ela nunca havia experimentado antes. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha lentamente, indo até o seu pescoço onde a boca de Tom estava agora. Ela virou lentamente o seu rosto até que ele se colasse ao do garoto e Tom voltou seus lábios para os dela, enquanto acariciava com uma das mãos, a nuca da garota. Duda sentia seu coração acelerado e desceu a mão, que estava no ombro de Tom, para o peito do garoto, e sentiu que o coração dele batia tão rápido quanto o dela. “Espera... O que está acontecendo? Tem algo errado...”, pensou Duda e empurrou Tom.
– Tem algo errado. – Repetiu ela em voz alta, mais em monólogo do que qualquer outra coisa.
Tom não teve tempo nem de se perguntar o que. Duda já havia se virado e começado a correr.
– Ei! Volta aqui! – Ele gritou e tentou segurá-la pela cintura, mas dessa vez seus braços não a alcançaram.
Sua cabeça encheu-se repentinamente de dúvidas. “Será que eu fiz algo tão errado assim pra ela sair correndo desse jeito?”, pensou ele passando a mão na boca sem perceber. Um sorriso então se formou em seus lábios.
– Ah garota... Desse jeito você me mata. – Falou Tom baixinho.
Duda corria o mais rápido que podia sob a chuva como se conhecesse aquele caminho que percorria perfeitamente bem. Sua mente girava de dúvidas e ela não conseguia deixar de se perguntar o que estava sentindo, o que havia sentido. “Eu não estava sentindo o simples prazer de um beijo... Eu estava me sentindo... Como se eu gostasse do Tom... Mas eu não gosto dele... Não é? Eu sou apaixonada pelo irmão dele! Não sou?”, indagava-se ela atordoada. Não conseguia afastar aqueles pensamentos e, por mais que tentasse entender o que tinha acontecido, e principalmente os seus sentimentos, mais se sentia confusa. Mas sabia o que poderia tirar aquelas suas dúvidas. Quando já estava se cansando de tanto correr, deparou-se com a casa dos gêmeos. Os seguranças a reconheceram e a deixaram entrar sem que fosse preciso as formalidades de uma visita.
A garota abriu a porta da casa e logo que a fechou percebeu que Bill a olhava desconfiado. Ele estava parado como que prestes a subir a escada com um copo com água na mão.
– Está tudo bem? – Perguntou ele, assustado com a presença da garota ali.
– Está. – Respondeu Duda, embora soubesse que na verdade ele queria saber o que ela estava fazendo parada no meio da sala da casa dele, toda molhada, àquela hora da madrugada.
Na verdade, nem ela sabia muito bem o que estava fazendo ali. Não era possível dizer que aquilo que ela iria fazer era um ato do qual ela estivesse plenamente consciente a respeito.
– Bill... – Falou ela enquanto caminhava até ele. – Me desculpe por isso.
E fechou a distância entre os dois ficando de ponta de pé e beijando o garoto. Bill correspondeu. Talvez por impulso, nem ele sabia ao certo. O beijo não durou muito tempo, mas o bastante para que Duda tirasse suas dúvidas. Ela afastou-se um pouco dele, e deixou que um sorriso de alívio aparecesse em seu rosto e Bill instintivamente sorriu também, mesmo que não entendesse o que estava acontecendo.
– Vou ver as meninas. – Anunciou Duda sem levar em consideração que elas deveriam estar dormindo.
Bill ficou observando ela desaparecer pelo corredor perguntando-se o que tinha acabado de acontecer ali, porém, o sorriso que estava em seus lábios não havia desaparecido.
Duda entrou no quarto e sentou-se na cama em que Victória dormia. Observou o rastro de água que havia ficado por onde passou, quase imperceptível no escuro do quarto, e sorriu.
– Sabe amiga, acabei de descobrir que eu não gosto do Bill. Eu sempre gostei dele só como um amigo mesmo. Como eu fui boba! Não ter percebido isso antes! – Disse Duda, baixinho.
Victória continuava dormindo.
– Vick, eu estou apaixonada pelo Tom. – Aquilo dito em voz alta a alertou para algo. – Espera, isso não é tão bom assim, é?!