Capítulo 31
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– Olha só, eu e o Andreas já terminamos de organizar as coisas aqui. Vocês já podem ir se arrumar, daqui a pouco o pessoal tá chegando. – Falou Tom às pessoas que estavam na sala.
– Ok. ‘Simbora’ Vick! – Falou Thaís dando um rápido selinho em Bill e seguindo pelo corredor.
As meninas tentaram se arrumar rápido, já que eram duas para apenas um banheiro.
Thaís vestiu uma calça de couro justa e uma blusa de cetim branca plissada com um colar que lhe caia sobre o busto com um pingente de microfone de strass. O cabelo estava solto e um pouco ondulado nas pontas e, é claro, maquiagem preta nos olhos.
Já Victória usava um vestido amarelo curtinho balonês, com um cinto marcando sua cintura, ressaltando as curvas de seu corpo, e um salto, que apesar de pequeno, destacava ainda mais a diferença de altura entre ela e as gêmeas. Seu cabelo preto e liso estava solto com a franja presa para trás.
Saíram do quarto animadas para dançar bastante. Chegaram à sala e encontraram Duda conversando entusiasmadamente com Andreas. Ela estava com um vestido vermelho com decote em ‘v’, colado no busto e solto no resto de corpo, que ia até um pouco acima do joelho. Usava uma sandália prata de salto que diminuía bastante a diferença de altura entre ela e Andreas. Este estava com uma camisa social branca e segurava um copo de uísque.
– Oi meninas! Eu já estava indo lá ver vocês. – Falou ela quando notou a presença das outras duas.
– Du! – Exclamou Tha, abraçando a irmã. – Andreas!
– Oi Thaís. – Disse Andreas dando um beijo na bochecha da garota. – Oi Vick.
– Olá! – Falou Vick quando Andreas repetiu o gesto.
– Cadê o Bill e o Tom? – Perguntou Thaís.
– O Bill está terminando de se arrumar. Você sabe, ele demora muito. – Respondeu Andreas. – O Tom está resolvendo umas paradas antes da festa começar.
– Ah, ok. Vou lá dar uma apressada no Bill. – Falou Thaís saindo da sala.
Duda fitou-a com um olhar vago enquanto ela se afastava, pensando na irmã com o Bill. Ela sentia que tinha algo acontecendo entre os dois. Mas tinha medo de descobrir exatamente o que era.
Antes mesmo de Thaís chegar ao fim do corredor, encontrou com Bill que vestia uma calça listrada de preto e branco e uma camisa vermelha e, para a surpresa de Thaís, deixou o cabelo baixo. Nos olhos, a eventual sombra preta. Depois de um longo beijo, Bill falou:
– Ei, a gente vai tocar uma música pra abrir a festa. Quer escolher qual?
– Hum, Rette mich é a minha preferida, mas fica muito calminha pra abrir uma festa, então eu voto em Leb’ die sekunde. – Disse Thaís sorrindo.
– Boa escolha. – Sorriu Bill. – Avise a sua irmã e leve ela pro palco. Vou avisar aos outros e ir arrumando as coisas por lá.
– Beleza... – Falou Thaís e foi chamar a irmã.
Logo estavam todos no palco e Bill fez a apresentação anunciando que cantariam Leb’ die Sekunde para dar início à festa.
Os meninos começaram a tocar com Duda acompanhando Tom na guitarra e Thaís acompanhando Bill no vocal. Por incrível que parecesse, Duda e Tom conseguiram não cruzar nem ao menos um olhar enquanto estavam no palco. Bill e Thaís cantavam com integração total como se tivessem ensaiado aquela apresentação durante horas. E Vick, na plateia, conversava com Andreas, que comentava a performance das gêmeas.
– Elas são muito boas! – Dizia ele, impressionado.
– Você ainda não viu nada! – Comentou Vick.
Bill terminou o pequeno show agradecendo a todos os presentes e logo o DJ tomou seu lugar. Praticamente todos aqueles que antes cantavam ao som de Tokio Hotel, agora dançavam eletricamente.
Duda já tinha se juntado a Vick e Andreas, e Thaís tinha ido com Bill, Gustav e Georg pegar uma bebida. Tom tinha ido circular pela festa, ver a movimentação.
Duda e Vick dançavam animadamente junto a Andreas, foi quando, numa fração de segundos, Victória foi puxada pelo braço numa tentativa de ser beijada. A garota desvencilhou assustada da mão que a segurava e ao levantar o olhar para aquele que tinha acabado de se soltar, notou que era Tom. Vick ficou olhando para ele chocada com a atitude que o garoto tomou. Foi quando Tom segurou-a novamente, dessa vez, conseguindo imobilizá-la e a beijou. Victória virava a cabeça tentando escapar do beijo, mas nem por isso Tom a soltou. A garota começou então a gritar para que ele parasse enquanto tentava em vão soltar-se de seus braços.
– Faz alguma coisa Andreas! – Gritou Duda, desesperada. “Senão eu faço.”
Andreas, que até então estava paralisado, assustado com a atitude do amigo, finalmente livrou-se do choque e tomou uma atitude. Puxou Victória soltando-a dos braços de Tom, empurrando logo depois o garoto para trás, que se desequilibrou e quase caiu no chão.
– O que foi que deu em você, Tom? – Gritou Andreas. – Não está vendo que ela não quer?
Tom não falou nada. Sentiu a raiva percorrer seu corpo, seu olhar se cruzou com o de Duda e ele se sentiu mal diante daquele olhar da garota. Ela observava-o com um olhar repreensivo e cheio de ódio. “Tom, você é deprimente.”, Duda não falou alto, mas tom leu em seus lábios o que ela disse antes de virar-se e sair daquele local onde a imprensa já se amontoava tentando descobrir o que tinha acontecido.
Duda pegou um copo da bandeja que lhe estenderam e engoliu de uma só vez o líquido amargo que passou por sua garganta cortando-a.
“Ai Tom, por que você precisa ficar provando o tempo todo o quanto é imbecil?”, perguntava-se Duda pegando outro copo da bandeja de um garçom que passava por ela.
Depois de alguns copos, Duda finalmente percebeu o que estava fazendo e parou de beber. Sentou-se em um pufe tentando pensar. Tinha prometido a ela mesma que se Tom tentasse qualquer coisa com Vick ela tomaria alguma atitude, e até avisou-o disso, pensando que bastaria. Lembrou-se então do ‘plano’ que tinha formado há algum tempo atrás quando desconfiou que Maurren gostasse do Tom. Naquela época queria apenas que Tom desistisse dela e, ao mesmo tempo, dar um pouco de felicidade a Maurren para ver se, assim, ela deixava de ser tão carrancuda. Agora não era bem isso que Duda queria, desejava mesmo era dar uma lição em Tom.
Saiu andando pela festa à procura de Maurren e não demorou muito para encontrá-la. Ela estava sentada com um grupo de garotas que pareciam ser tão arrogantes quanto ela. Todas estavam elegantes e cheias de joias. Chamou-a dizendo que precisava tratar de um assunto sério com ela. Maurren veio meio a contragosto, e escutou calada Duda contar-lhe o seu plano. A garota apenas disse-lhe o que ela teria que fazer, e afirmou que queria que eles ficassem juntos, escondendo o real motivo do pedido. Sabia que apesar de Maurren ser bonita, Tom a odiava, e assim, ela conseguiria o que queria. Maurren contestou pouco para quem dizia não querer participar daquela armação. Pouco tempo depois, ela aceitou e Duda começou a procurar por Tom, seguida pela garota, que andava mantendo certa distância.
Tom fumava sentado em um sofá um pouco afastado e, de lá, observava as pessoas dançarem. Vez ou outra chegava algum grupo de mulheres com decotes tentadores, tentando puxar algum assunto com ele. Umas, mais atrevidas, já chegavam beijando-o e provocando-o a passar a mão pelo seu corpo. Ele até se aproveitou de algumas, ou elas aproveitaram-se dele afinal, mas não passou com nenhuma delas mais de cinco minutos. “Não estou com paciência”, foi o que ele pensou.
Sentiu o seu cigarro ser retirado de sua boca e acompanhou sua trajetória até o cinzeiro, onde ele foi apagado. Levantou o olhar para aquela que tinha suprimido sua última diversão. – O que você quer? – Perguntou à Duda, irritado.
– Acho que a gente precisa conversar. – Falou ela passando a mão pelo rosto do garoto.
Ele arrancou a mão de seu rosto.
– Não tenho nada pra falar com você. – Foi o que respondeu.
– Pois eu tenho com você. – Falou Duda séria, abrindo um sorriso logo depois e voltando a acariciar o rosto de Tom. – Meu querido, não tem porque a gente continuar com essas intrigas, não acha? Estamos perdendo tanto tempo brigando assim...
Tom dessa vez não retirou a mão que passeava pelo seu rosto, que passava os dedos sob sua sobrancelha e tocava-lhe levemente os lábios. Olhava-a surpreso com suas palavras e com seus toques. Sorriu maliciosamente adivinhando o que viria a seguir. “Ela finalmente se rendeu a mim... Sabia que não precisaria esperar muito por isso.”, pensou ele.
Duda sorriu mordendo o lábio inferior e começou a aproximar-se lentamente dele. Quando ela já estava perto o suficiente para que Tom pudesse sentir sua respiração, ele fechou os olhos sorrindo enquanto esperava o toque daqueles lábios. Tom finalmente sentiu aquela boca colar a sua e o beijo não foi como esperou. Levou suas mãos ao roto da garota tentando puxá-la para mais perto e a claridade de flashes em seu rosto o incomodou. Soltou a garota e abriu seus olhos. Sua feição incômoda rapidamente transformou-se numa de nítido terror. Fez uma careta de nojo ao ver quem se encontrava à sua frente e procurou com o olhar aquela que supunha estar. Achou Duda por entre os flashes que disparavam em seu rosto e ela estava séria, com os braços cruzados, não parecia ter curtido tanto quanto imaginava aquela armação. Sentiu seu rosto sendo virado por Maurren para ela que já se aproximava para um novo beijo. Tom empurrou-a sem perceber bem o que estava fazendo e levantou-se gritando para os seguranças tirarem a imprensa dali. Foi atravessando a multidão até visualizar aquela que acabou com sua noite. Segurou-a pelo braço com tanta força que ela soltou um gemido de dor na hora.
– Você ficou louca? – Gritou ele enquanto a imprensa era retirada do local. – Já estou vendo as capas das revistas amanhã: “Tom fica com uma baranga”.
–Ela é bonita, Tom. Não poderia ter escolhido pessoa melhor para você. – Falou Duda com um sorriso no canto da boca, tentando disfarçar a dor que sentia causada pelo aperto do garoto.
– Você sabe o quanto eu odeio ela! Você é ridícula! – Exclamou ele agora sacudindo Duda.
– Eu te avisei que se você tentasse qualquer coisa com Vick você receberia o troco! – Gritou Duda, fazendo uma careta de dor.
– Você não tinha esse direito! – gritou Tom ainda mais alto.
– E você acha que tinha de tentar agarrá-la a força? – Exclamou Duda ainda mais alto que Tom, esquecendo a dor por alguns segundos.
Tom olhou-a com ódio, sem encontrar resposta para sua pergunta. Soltou-a e saiu caminhando em direção a casa. Duda cambaleou ao se ver sem seu ponto de equilíbrio, já que Tom a segurava com tanta força que ela encontrava-se de ponta de pé, sendo erguida algumas vezes milímetros do chão. Ficou parada por alguns segundos observando-o se afastar chutando tudo que tinha pelo caminho. Recuperou-se do choque e enquanto massageava o braço, saiu correndo até Tom. Alcançou-o em pouco tempo e virou-o para ela.
– Você sabe por que eu fiz isso Tom? Hem?! Me responda! – Exclamou ela.
– Porque você é extremamente idiota?!
– Você sabe por que Victória veio para cá? Você sabe por que eu a convidei?
– Porque você queria uma companhia para se divertir?
– Porque ela acabou um namoro recentemente! Porque ela estava sofrendo muito! Eu a trouxe para que ela pudesse se distrair e não para ser agarrada a força por outro idiota!
Tom ficou calado, surpreso com o que Duda tinha acabado de lhe contar, mas logo depois rebateu:
– E daí? Namoro acaba!
Duda riu. E não riu pouco. Um sorriso marcado pela dor diante daquele que não entendia esse sentimento.
– Sabe qual é o seu problema Tom? O seu problema é que você é tão egoísta e tão extremamente infantil que não consegue enxergar seus próprios sentimentos. Que você tem tanto medo de sofrer, de gostar plenamente de alguém, de se entregar, que você acaba achando que só porque você não se deixa sentir, os outros não sentem! Você está tão ligado em passar essa sua imagem daquele que não tem sentimentos e pega vinte por noite que você esquece-se de aproveitar as sensações únicas que a vida pode lhe oferecer! Você está tão interessado em escapar de qualquer situação, sentimento ou pessoa que possa lhe causar dor que você tem poucas sensações plenas e verdadeiras. Você não sente o prazer de beijar alguém que você realmente goste, que é muito mais forte e melhor do que um beijo por beijo. Você não faz amor com alguém, você faz sexo! Você fica com tantas que já perdeu as contas e não se lembra do rosto daquelas que foram especiais, ou que poderiam ter sido. Você é vazio. Você não pensa em ninguém. Não se importa com os sentimentos de ninguém. Você é ridículo, Tom. – Riu-se Duda despejando aquelas informações como se guardasse aquilo há muito tempo. – E é por isso que eu odeio tanto você. – E agora ela estava séria.
Aquelas palavras imobilizaram Tom, magoaram-no como ele nunca que pensou que simples palavras pudessem fazê-lo. Ela não deu tempo para que ele pensasse em uma resposta, não deu tempo nem para que ele se indagasse sobre aquelas coisas que ela tinha lhe jogado na cara como um banho de água fria. Ela simplesmente virou-se e saiu andando. Sentia-se leve por finalmente ter conseguido falar tudo que a incomodava, porém um pouco triste por ter feito aquilo com Tom. “Talvez não fosse preciso afinal...”, suspirou ela.