Capítulo 24
Tempo estimado de leitura: 10 minutos
Duda fechou a porta apoiando-se nela com os olhos fechados por alguns instantes, lembrando-se de todas as sensações que tinha sentido aquela noite. Foi quando escutou um grito da sua irmã.
- Duda! – Gritou Thaís, correndo até ela. – Você está bem! Graças a Deus! O que aconteceu?
- Han? Do que você está falando? – Perguntou Duda, assustada.
- Como do que eu estou falando? Eu acordei para ir ao banheiro e você tinha sumido! Pensamos até que você tinha sido sequestrada ou algo do tipo. Ficamos preocupados sem saber onde você estava! – Falou Thaís, dramática.
Só agora Duda percebia a presença dos meninos da banda e Maurren num canto da sala. Tom sentando numa poltrona com a cabeça baixa, Bill falando ao telefone olhando para ela sorrindo e Gustav e Georg sentados no sofá, aliviados.
- Cadê nossos tios? – Perguntou Duda finalmente.
- Foram na delegacia dar queixa do seu desaparecimento. – Respondeu Thaís.
- Acabei de ligar pra eles avisando que você apareceu e eles vão retirar a queixa e vir pra cá. – Completou Bill.
- Ai meu Deus! Que confusão! – Falou Duda.
- O que aconteceu, hein? – Perguntou Thaís.
- Nada, Tha. – Respondeu Duda.
- Como nada? E onde você estava? – Insistiu Thaís.
- Eu... Estava com o Felipe. – Respondeu finalmente Duda.
- Com Felipe? O português? – Perguntou Tha, levantando a sobrancelha.
- Ah, ótimo! A garota tava num motel se divertindo e a gente aqui, preocupados com ela! – Disse Tom, levantando-se irritado.
- Você estava preocupado comigo, era? – Perguntou Duda, desconsiderando os outros comentários de Tom.
- Er... Não foi isso que eu quis dizer.
- Mas foi o que você disse.
- Bem, não interessa. O que importa é que eu tive que me acordar no maior alvoroço pra vir pra cá, e você estava lá transando, numa boa. – Falou ele, encarando a garota.
- Tom, eu não estava transando com ninguém! Eu só saí com ele! A gente nem ao menos se beijou! – Tentava explicar Duda.
Os outros apenas assistiam calados a discussão dos dois. Bill tinha vontade de falar algo também. Perguntar quem era Felipe, o que ela estava fazendo com ele de madrugada, por que ela não avisou a ninguém onde estava. Mas contentou-se em apenas assistir.
- Ah, é? Então agora você está se lamentando porque nada disso aconteceu! Se é que realmente não aconteceu... – Insistia Tom.
- Tom! Ah, quer saber? Eu não te devo satisfações da minha vida! O que eu faço ou deixo de fazer não lhe interessa. – Falou Duda, irritada, e virando-se para o resto dos meninos e Maurren, agradeceu: - Olha, obrigada mesmo, tá? Agora eu já sei que se eu morrer alguém vai pro meu enterro! – Falou Duda, rindo.
- Isso não é coisa pra se brincar não, sabia? – Falou Thaís, séria.
- Tá certo. Então, vocês podem ir embora agora. – Disse Duda e virando-se para Thaís completou: - E agente tem que arrumar nossas malas.
- É! Vamos embora! – Disse Tom caminhando até a porta.
- Bem, então até mais tarde. – Falou Bill, seguindo Tom.
- Lembrem-se que a gente tem que chegar cedo ao aeroporto por causa do tumulto, então vocês tem que chegar lá três horas mais cedo. - Avisou Gustav.
- Tudo bem. – Falou Thaís.
Todos se despediram e as gêmeas seguiram para o quarto.
- Eu tinha começado a arrumar a mala, mas nem tive tempo de terminar. – Falou Duda, pegando alguma de suas roupas no chão.
- É, né? Você teve ‘coisas’ mais importantes para fazer... Tu bem que podia ter deixado um bilhetinho para mim, não? Custava muito? Dois minutinhos, só! – Disse Tha, rindo. – Mas agora me conte tudo! Não esconda nada!
- Eu já disse que não aconteceu nada, não foi? Não aconteceu mesmo. Ele me levou para um lugar lindo, a gente viu o nascer do sol, mas foi apenas isso. – Falou Duda.
- Ow, que meigo! – Disse Tha, com os olhinhos brilhando. – Eu só digo uma coisa, aí tem!
Duda não respondeu, continuou arrumando as malas, pensando naquele menino que tinha lhe proporcionado aquela noite inesquecível. Agora ela viajaria novamente, e não poderia rever aqueles olhos, aquele sorriso e ouvir aquela voz com aquele sotaque que tanto a fez rir naquela madrugada.
Em meio ao tempo que elas arrumavam as malas, os tios chegaram. Deram longos abraços em Duda, agradecendo à Deus o tempo todo por ela estar bem. Depois seguiram para o seu quarto descansar, não tinham dormido quase nada essa noite.
- Terminei. Ai, Tha, vamos dormir um pouco, né? – Disse Duda sentando na cama, bocejando.
- Tô sem sono. Vou ver TV. Quando estiver na hora da gente ir pro aeroporto, eu te acordo. – Falou Tha, saindo do quarto.
Thaís ficou pensando, enquanto mudava o canal da TV, em Duda, em Tom e em Bill. Mesmo que Duda negasse, Tha percebia que Tom mexia com a irmã de alguma forma. E havia Bill. Eles se aproximaram depois do beijo, apesar do embaraço dele. E Duda estava se afastando. Thaís sabia que a irmã queria ajudá-la, mas notou que quando soube do beijo, ficou mais esquiva. Mas não demonstrava. Era orgulhosa demais para isso, apenas Thaís tinha notado. Coisa de irmãs.
Acordou de seus pensamentos com o celular tocando.
- Oi! – Disse ela, atendendo.
- Tha? É o Bill. Você e a Duda já estão prontas? A gente tá saindo pro aeroporto. – Disse a voz no telefone.
- Ah, ok Bill! Nós já estamos prontas sim. Já, já nos encontramos. Beijo! – Disse Tha.
- Beijo!
Thaís desligou o telefone e logo foi para o quarto acordar sua irmã. “Eita! Coitada da Du, nem deu tempo dela dormir...”, pensava Thaís entrando no quarto.
- Du, acorda! Tá na hora de ir pro aeroporto, o Bill já ligou! – Disse Thaís, balançando a irmã.
- Han...? O que...? – Falava ela, sonolenta.
-Bora! Acorda! Tá na hora de ir pro aeroporto! – Gritava Thaís no ouvido da menina.
- Como assim tá na hora? Eu dormi o quê? Um segundo? Um minuto? – Exclamava ela, angustiada.
- É... Na verdade, foram dois minutos. – Falou Thaís, consultando o relógio.
- Ah claro! Graças a todo esse tempo dormindo eu estou revigorada! Pronta pra outra! – Falou Duda, sentando na cama tentando abrir os olhos.
Thaís riu muito da situação da irmã e depois falou:
- Agradeça ao Bill então. Ele que ligou pra eu te acordar.
- Vou fazer isso. Anota aí na minha agenda: não se esquecer de matar o Bill. – Disse Duda conseguindo levantar uma das pálpebras.
Com muita dificuldade, Duda se ajeitou e enfim, as meninas foram para o aeroporto. Thaís nem conseguia conter sua animação, Duda estava sonolenta demais para transparecer alguma emoção.
“I got a no, I got a flow, work it out...”, cantava Thaís, segurando o violão como a um filho. Aos poucos Duda foi acordando, e depois de um tempo, ela já solfejava a melodia de ‘furfle feelings’ com a irmã.
Chegando ao aeroporto, as irmãs se encontraram com os garotos e foram logo despachar as malas, seguindo para o avião, logo depois. Maurren iria viajar apenas no dia seguinte, tinha que resolver alguns assuntos pendentes. Duda parecia bastante ansiosa, despertando a curiosidade da irmã.
- Ai! Não vejo a hora de chegar lá. - Falou Duda, entrando no avião.
- Por que, hein? – Perguntou Thaís, curiosa.
- Ah... Nada não. Por quê? Você não está? – Desconversou Duda.
- Claro, né!
- Então pronto! Olha, sua cadeira é essa daí. – Falou Duda, apontando uma cadeira ao lado do Bill. – A minha é mais atrás.
- Beleza. – Falou Thaís, acomodando-se ao lado do garoto.
Duda continuou andando pelo corredor e não demorou a encontrar sua cadeira. No assento ao lado do seu, estava sentado Tom, que conversava animadamente com Gustav e Georg, que estavam sentados logo atrás. “ Uma viagem inteira ao lado de Tom? Devo estar pagando todos os meus pecados...”, pensou Duda suspirando e sentando em seguida.
- É o que? Você vai sentar aqui, é?! – Exclamou Tom, virando-se para ela.
- É sim! Olha Tom, não vamos complicar as coisas está bem? Você fica na sua e eu fico na minha e assim a gente suporta essa viagem sem se matar. – Respondeu Duda, colocando os fones no ouvido.
Tom apenas fechou a cara e sentou-se corretamente na cadeira como já pedia a aeromoça. Depois de certo tempo, o avião decolou. Bill e Thaís conversavam sem parar, Gustav e Georg também, apenas Tom e Duda permaneciam calados. O garoto olhava pela janela, tentando entender o que ele tinha feito de errado para merecer aquilo, enquanto Duda lutava contra o sono. Depois de meia hora, ela não aguentou mais e acabou dormindo. Seu pescoço logo pendeu para o lado desconfortavelmente. Tom percebeu e ficou a olhá-la, analisando-a. “Quem vê até pensa. Com essa carinha de anjo, mas não vale um dólar.”, pensou ele até que não resistiu mais e apoiou a cabeça da menina no seu ombro, tirando delicadamente os fones do ouvido dela. Depois voltou a olhar pela janela, acariciando os cabelos da garota.
Enquanto isso, Bill e Thaís não ficavam quietos. Ele tinha perdido a vergonha de falar com ela e o fato deles sempre terem assunto facilitava a situação. Conversaram sobre música, comentando os seus gostos e opiniões sobre aqueles cantores que preferiam. Até cantaram juntos durante o voo. Era incrível como Thaís se sentia bem na companhia de Bill. Estava além do que ela poderia descrever. Olhava em seus olhos e viajava neles. Bill adorava o jeito meigo da garota, como seus olhos brilhavam quando ela sorria e como ela era carinhosa com ele.
- Vou ao banheiro, já volto! – Falou Tha, desatando o cinto.
Ao virar-se, porém, viu Tom acariciando os cabelos de Duda, que dormia.
- Olha aquilo, Bill. Acho que finalmente eles estão se dando bem. – Disse Tha, olhando para Bill, tentando decifrar a expressão que ele faria ao ver aquela cena.
- Err, é... – Disse ele, meio confuso. Ver seu irmão e Duda naquela situação não o havia incomodado tanto quanto incomodaria alguns dias antes, mas o que mais achou estranho foi o fato de Tom estar tão... Absorto. Tom não era de demonstrar sentimentos ou qualquer emoção, mas ali parecia ter baixado a guarda.
- É assim que se faz. – Sussurrou Thaís ao passar por Tom e Duda, indo ao banheiro. Tom apenas sorriu, olhando para baixo. Thaís notou que o rapaz parecia mudado, ele estava diferente. “Ele está apaixonado. Só não se deu conta disso ainda. Maldito orgulho.”, pensou Tha, sorrindo para ela mesma.
- Sorrindo por que, moça? – Perguntou Bill, quando ela chegou.
- Apenas pensando... O tom está apaixonadíssimo, mas ainda não notou isso. Orgulho demais. – Disse Tha, já sentada.
- O Tom é orgulhoso mesmo. E... Acho que eu também sou. – Disse Bill, pensativo.
- Não chega nem aos pés dele Bill. Tom faz aquela pose de machão sem sentimentos, e finge não se importar com nada. Acho que ele tem medo de se deixar sentir. – Falou a garota.
“ E se eu me deixasse sentir, será que eu me apaixonaria por esse seu jeito, Thaís?”, pensava Bill.
- Tha, eu agradeço que você e sua irmã tenham aceitado viajar com a gente. Vocês, nesse pouco tempo, já me ensinaram tantas coisas e me trouxeram tantos sentimentos que eu jamais pensei em sentir novamente, desde que fiquei famoso... - Falou Bill, encarando Thaís, que corava lentamente. - Eu só tenho que agradecer a vocês por isso. - Concluiu ele.
- Ah Bill... Espero que isso seja um elogio, então! – Disse ela, rindo.
- Lógico, né? – Respondeu ele e os dois começaram a rir.