Capítulo 23
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O jantar prosseguiu bastante animado, depois, seu Carlos e dona Iolanda saíram para passear, já que era aniversário de casamento dos dois, deixando os meninos com Bernardo sozinhos em casa. O grupo ficou conversando e tocando violão no quintal da casa, Gustav usando um balde como percussão, Thaís e Bill usando as mãos como microfones, Tom e Duda usando os violões dela e da irmã. Foi uma verdadeira festa, uma comemoração pela viagem das gêmeas. Até que se ouviu um choro:
- Merda! Bernardo acordou! – Disse Duda, soltando o violão.
- Então manda ele voltar a dormir. Você adora mandar outros, mesmo. – Disse Tom, rindo.
- Ai, Tom. Você entendeu errado, meu bem. Eu adoro mandar naqueles que são submissos a mim, sabe? Aqueles que eu sei que vão me obedecer, querido. Aqueles assim... como você! – Falou Duda, em tom de ironia.
- Olha aqui... – Começou Tom, mas foi logo interrompido por Duda.
- Olha aqui digo eu, não tenho tempo pra você, ok? Vou fazer meu priminho voltar a dormir. – Disse Duda saindo para acudir o primo.
Bill não conseguiu segurar o riso de satisfação ao ver Tom se frustrando com Duda. E Thaís percebeu, com um semblante triste. O grupo ficou conversando até Duda voltar.
- Gente, depois dessa luta pra conseguir colocar o Bê pra dormir, eu que fiquei com sono! – Falou ela, bocejando.
- Nossa, eu também. – Falou Gustav. – Melhor a gente ir, né, até porque vocês precisam fazer as malas, amanhã essa hora a gente deve estar dentro de um avião a caminho da Alemanha.
- Alemanha! – Falou Thaís, empolgada. – Eita! É Mesmo! A gente tem que ajeitar nossas tralhas, Du.
- Aham. Amanhã a gente faz isso, Tha. Agora eu preciso dormir. – Disse Duda.
- Ok, então já vamos. – disse Bill, levantando-se.
Todos se despediram, e Duda e Tha, subiram para o quarto. Enquanto Duda vestia seu pijama praticamente dormindo, Thaís já terminara de colocar o seu e estava deitada na cama, foi quando comentou:
- Ei, Du. Você conseguiu. Fez o Tom desistir de você. – Disse ela.
- Ah, sério?! Graças a Deus. Eita! Nem vou precisar mais executar meus planos... Bem, menos um trabalho pra mim. – Falou ela, deitando-se.
- Que planos? – Perguntou Thaís, abismada.
- Ah... Nada não. Mas e aí? Você e o Bill estão se desenrolando? – Perguntou Duda, mudando de assunto.
- Hum... Ah! Eu nem te contei! Err, o Bill me beijou... – Disse Tha, fazendo Duda sorrir, mas por dentro, sentir um desconforto enorme.
- Finalmente, né? – Falou ela. – Quando foi isso? Hoje?
- Não. Foi quando a gente saiu pra jantar e você ficou aqui em casa com o Tom. – Respondeu Thaís.
- E a Maurren. – Falou Duda, percebendo a irmã fazer uma careta ao ouvir esse nome. - Bem, mas e aí? Vocês não ficaram depois disso? Hum... Tão ficando escondido, é?! – Perguntou Duda, rindo.
- Haha. Você sabe que se eu estivesse ficando com ele você seria a primeira a saber. E a gente não ficou mais, não. Pelo menos não tem nenhum clima estranho entre a gente. Tipo, eu ainda acho que foi rápido demais, e que ele me beijou por impulso. Mas, como diria nosso querido professor Elias “o importante nessa vida é encontrar o amor verdadeiro e dar seu primeiro beijo.”, eu vou conseguir! – Disse Tha, rindo.
Duda fez uma cara de desgosto pensando: “Não acredito que a minha irmã disse isso”. Depois riu e falou:
- Tuuudo bem! – Imitando a voz do professor das duas.
Duda, então, acomodou-se na cama e virou-se de lado procurando dormir. Logo pôde perceber que sua irmã já tinha adormecido, mas ela não conseguia fazer o mesmo. Ficava revirando-se na cama, sem conseguir pegar no sono, remoendo aquilo que Thaís tinha lhe contado sobre o beijo dela com o Bill. Acabou desistindo de dormir e levantou-se para fazer suas malas, silenciosamente, não queria acordar a irmã.
Enquanto arrumava as coisas que estavam espalhadas pelo quarto, tentando por vezes distinguir o que era dela e o que era de Thaís, percebeu que seu celular vibrava na cadeira. “Mensagem!”, pensou. De fato, era uma mensagem. “Olá, Duda. Desculpe-me por comunicar-me contigo a estas horas, mas gostaria de saber se estás livre hoje. Um beijo, Felipe.”. Duda pensou um pouco, e respondeu: “Oi, Felipe! Tô livre sim! Por quê?! Beijo, Duda.”. Alguns minutos depois, chegou a resposta: “ Nós poderíamos sair. Nada melhor do que conhecer a cidade com alguém daqui.” Duda riu, e respondeu perguntando se ele viria pegá-la, recebendo uma resposta afirmativa pouco tempo depois. Então, enviou seu endereço e foi trocar de roupa rapidamente, descendo, em seguida, para esperá-lo.
Sentou-se na calçada enquanto esperava Felipe. Tinha aceitado o convite do menino sem nem ter pensado direito. Isso não era do feitio dela. Normalmente pensava, e muito, antes de tomar alguma decisão. Principalmente uma como essa. Sair de madrugada com um menino que ela mal conhecia, foi, definitivamente, uma decisão um pouco impulsiva. Sabia que tudo isso era consequência do beijo de Thaís e Bill. Isso a deixava triste, é verdade, mas achava que o que mais a incomodava não era nem o beijo em si. E sim, o fato de Bill ter demonstrado que gostava dela e logo depois ter beijado a irmã. “Como ele pôde ter feito isso? Na mesma noite que tenta me beijar vai e beija Thaís... Quer saber, ele não era tão diferente dos outros garotos como eu tinha imaginado... No final, homem é tudo igual, mesmo. E eu não deveria nem estar me incomodando com isso, até porque, eu já tinha prometido a Tha que iria ajudá-la...”, pensava a garota quando sentiu um calor na bochecha. Era Felipe que tinha chegado e lhe dado um beijo e agora sorria para ela. Ela não tinha percebido o quanto ele era bonito no show como verificava agora.
Saindo do transe, sorriu e levantou-se, retribuindo-lhe, em seguida, o beijo na bochecha.
- E aí, para onde vamos? – Perguntou ela.
- Espera e verás. – respondeu Felipe, puxando Duda pela mão.
Saíram andando pela cidade, indo para um lugar que Felipe teimava em não contar a Duda qual era, para desespero da garota. Felipe a distraía contando histórias engraçadas que os lugares pelos quais passavam o traziam a memória, fazendo a menina ter várias crises de riso.
- Vem por aqui. – Falou ele, segurando ela pela mão para ajudá-la a passar por entre os escombros.
- Nossa, onde a gente tá, hein? – Perguntou ela, conseguindo passar por aqueles destroços.
- Aqui. – Disse ele olhando para ela sorrindo, e em seguida, para o horizonte.
- Ai, que lindo! – Exclamou ela, agora percebendo onde eles estavam.
- Daqui dá pra ver o porto e, para mim, é a vista mais linda da cidade. – Falou ele.
Era verdade. Você via uma boa parte da cidade com aqueles prédios e casas diminuídos pela distância. E o rio, refletindo toda aquela imensidão. Dava vontade de ficar ali pra sempre, com aquele vento frio encostando de leve na pele, fazendo-a se arrepiar delicadamente.
- Vem sentar aqui. – Falou Felipe, oferecendo um lugar ao lado dele na areia.
Duda não conseguia dizer nada. Por um momento, tinha esquecido tudo aquilo que não saía da sua cabeça há alguns minutos atrás.
- Não vais falar nada? – Perguntou ele rindo, percebendo que a menina estava encantada com o lugar.
- É muito bonito aqui. – Falou ela, agora rindo pra ele.
“Nossa, ele é lindo mesmo...”, pensou Duda observando o jeito como o garoto sorria.
Eles então começaram a conversar. Contaram um pouco sobre a sua vida e confidenciaram alguns segredos. Aos poucos, ela ia se sentindo mais a vontade diante dele. Gostava do jeito como ele a fazia rir e como olhava para ela. Não sabia se era o lugar ou a presença daquele garoto ali, mas ela sentia-se livre. Engraçado, liberdade é algo que ela sempre prezou em sua vida, mas nunca a tinha sentido tão presente como agora.
- Olha! O sol já está nascendo. – Falou Felipe, apontando para o horizonte.
- Eita! É Mesmo! – Falou a garota, virando-se para observar a cena.
Os dois não falavam nada. Apenas admiravam alguns raios, que variavam entre o laranja e o vermelho, aparecerem sob o rio e começarem a iluminar a cidade, lentamente.
- Felipe, obrigada. – Disse ela, virando-se para ele.
- Tu não precisas agradecer. Eu levaria você a qualquer lugar, só para te ver sorrir assim.
Segurou a mão da garota levando-a até o seu rosto, fazendo-a deslizar levemente sobre sua face, dando um beijo de leve nela logo depois. Sentia seu coração batendo forte e sentia vontade de abraçá-la e beijá-la. Mas não queria precipitar-se e acabar com aquele momento que passaram juntos. Duda ria, tentando imaginar o que passava pela cabeça dele naquele momento e, ao mesmo tempo, agradecendo pelo gesto sincero do garoto. Voltou-se então para o horizonte deixando-se contemplar pela visão do sol, que já subia pelo céu.
- Felipe, preciso ir agora. – Falou, levantando-se.
- Eu entendo. Espero que tu tenhas realmente gostado de estar aqui. – Disse ele, levantando-se também. – Posso levar-te até tua casa?
- Claro.
Foram andando por aquele caminho já percorrido mais cedo, agora mais iluminado. Conversavam pouco, os dois estavam cansados e com sono, o que não os impedia de olharem-se algumas vezes e abrirem discretos sorrisos. Chegando à porta da casa da garota ele despediu-se, dando-lhe um beijo na testa.
- Espero poder te ver novamente. – Falou ele.
- Eu também. – Falou Duda sorrindo, e quando ele já estava se afastando completou: - Obrigada Felipe. Obrigada mesmo. Por tudo.
Recebeu um sorriso como resposta e entrou em casa.