Capítulo 21
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– Bom dia, Duda. – Falou Thaís, acordando.
“Eita! Espero que ela não tenha escutado isso, esqueci que a gente está brigada...” pensou Thaís, e olhando para a cama da irmã, percebeu que está já tinha acordado. “Estranho, Duda nunca acorda cedo...”.
Tomou um banho rápido e saiu do quarto. Quando chegou à sala, percebeu que Duda estava sentada no sofá ao lado de Tom, que continuava dormindo. Ela olhava para ele como se analisasse o garoto, foi quando percebeu a presença da irmã ali.
– Finalmente você acordou! Venha sentar aqui. – Falou Duda com um sorrisinho.
Thaís foi meio a contragosto.
– Olhe, eu queria que você me desculpasse por ontem. Eu me estressei um pouco com aquela história, mas só queria te mostrar que não existe só o seu lado. Deixe-me terminar. – Falou quando Thaís fez menção de interromper-lhe. – No começo da nossa discussão, estava apenas o seu desejo de viajar com os meninos, e não adianta dizer que não. – Disse ao ver a careta que a irmã fez. – Mas depois, depois entrou a música, que é meio que ‘a sua razão de viver’, então eu reconsiderei minha posição.
Duda se levantou, procurou alguma coisa na gaveta e voltou com um envelope na mão.
– Já falei com nossos pais, nossos tios, já está tudo certo. Aproveite! – Falou, entregando a Thaís o envelope. Thaís abriu e tirou do envelope uma passagem para a Alemanha em seu nome. Ela levantou uma sobrancelha, desconfiada.
– E você, vai ficar? – Perguntou à irmã.
– Não sei ainda. Estou decidindo. – Falou Duda, lembrando-se do pedido que a mãe lhe fez pelo telefone: “Vá filha, até para cuidar da sua irmã, você sabe como Thaís é impulsiva! E aproveite para se divertir um pouco também.”
– Ok. – Disse Thaís, interrompendo os pensamentos da irmã e virando-se para ir à cozinha, parou no meio do caminho e falou: - E, obrigada, Du. Desculpa também pelo escândalo de ontem. Você sabe que eu odeio brigar com você.
– Relaxe. Você sabe que eu também. – Falou Duda, rindo.
Então, o telefone de Duda começou a tocar fazendo Tom se acordar, mas ao ver as irmãs ali, resolveu fingir que continuava dormindo.
– Alô? – Disse Duda.
– Olá, Duda! Aqui é o Felipe! Tu ainda te lembras de mim? – Disse a voz no telefone com um forte sotaque lusitano.
Duda, ao ouvir isto, arregalou os olhos para a irmã interrogativamente.
– Felipe?! – Disse Duda, olhando para Thaís, que tentava esconder o riso. – Como você conseguiu meu telefone?
– Telefone? Que é isto?! Consegui seu telemóvel com a tua irmã enquanto tu estavas afastada de nós no Pavilhão Atlântico.
– Err, ah claro...
A menção do nome Felipe, Tom ficou mais alerta. “Quem era Felipe?”. Thaís, ao ver que Tom estava acordado, deu-lhe um sorrisinho, imperceptível a Duda, e saiu da sala.
– Bom dia, Flor dor Dia! – Disse Tom, levantando-se do sofá.
– Cala a boca! – Disse Duda, virando-se para Tom.
– Han? – Perguntou Felipe, desconcertado.
– Não é contigo, não! – Disse Duda.
– Ah, bom! – Respondeu Tom, com um sorrisinho sarcástico no rosto.
– Aff, seu imbecil. – Falou Duda, revirando os olhos.
– O que, Duda? – Perguntou Felipe, sem entender nada.
– Falei com o cara aqui. – Disse ela, irritada.
– Sabia que você nunca iria se referir a mim assim. – Falou Tom, rindo.
– Tu és ridículo mesmo, né, menino?! – Perguntou Duda, aborrecida.
– Estás tu a falar comigo, Duda? – Perguntou Felipe, no telefone.
– Não, não. Quer dizer, agora eu tô. Eu falo contigo depois, tá? Porque agora não tenho condições. – Falou Duda a Felipe.
– Está certo. Eu ligo depois, em uma hora que seja melhor para você. Beijos! – Falou o garoto, desligando.
– Isso eu sei que não foi comigo. Porque você nunca deixaria de falar comigo, quaisquer que fossem as condições. – Falou Tom, mexendo no piercing.
– Ai, Tom... Você não se enxerga mesmo, né?! Mas tudo bem, venha ser útil e me ajude aqui a colocar esse quadro.
– Tá certo. - Falou Tom, indo em direção à Duda.
O quadro era uma foto dela e Thaís com os tios, que Duda tinha mandado ampliar e colocar uma moldura. A garota pegou uns pregos e o martelo, que tinha deixado em cima da mesa, e subiu no móvel que estava encostado a parede.
– Vem, Tom! – Falou ela pro garoto que apenas observava a cena.
– Você vai pregar isso aí? Pode deixar comigo que isso é trabalho de homem.
Antes que Tom pudesse se mexer, Duda replicou:
– São poucos os trabalhos considerados ‘de homem’ que uma mulher não possa realizar com a mesma exatidão ou ainda melhor. – Falou Duda, rindo para Tom. – E vem logo segurar esse móvel aqui, porque eu não quero cair.
– Tudo bem, você que manda. – Falou Tom, segurando Duda pelo quadril.
– Er... Eu sabia que você era burro, mas não pensei que fosse tanto. Eu disse MÓVEL e não QUADRIL! Quer que eu desenhe? – Falou Duda como se explicasse como se faz uma conta de somar a um aluno do primário.
– Assim fica mais seguro pra você. – Disse Tom, mas com a cara que Duda fez para ele, resolveu segurar o móvel. – Tudo bem, tudo bem. – Falou ele.
Demorou apenas uns 10 minutos para Duda deixar o quadro do jeito que ela queria.
– Perfeito! – Exclamou a garota, virando-se para descer do móvel.
Foi nessa hora que Tom segurou-a e deu-lhe um beijo. Duda, assustada com a reação do garoto, mordeu-lhe a língua e empurrou-o, dando em seguida um gancho de direita no rosto do menino. Então, desequilibrou-se e caiu do móvel, levantando-se depressa a escutar Tom exclamando:
– Ai! Sua louca! Você mordeu minha língua! – Gritava Tom, parado no meio da sala e, passando a mão na boca, pôde perceber que esta estava sangrando. – Ai meu Deus! Meu piercing! Onde foi parar?! – Gritava Tom, agora agachado no chão tateando-o a procura do seu piercing. Ao achá-lo, exclamou, saindo da sala: - Sua louca!
– O que está acontecendo aqui? – Perguntou Thaís, chegando à sala.
– Tom é um atrevido!
– Han?! – Riu-se Thaís, sem entender nada.
– Onde é que tem gelo nessa casa? – Gritava Tom da cozinha.
– Vai lá ajudar ele, Tha. – Falou Duda, sentando-se no sofá.
– Oh meu Deus Duda, o que foi que você fez?! – Perguntou Thaís.
– Apenas o que ele mereceu. – Respondeu Duda, pegando uma revista que estava no sofá.
– Ai, ai, ai... – Falou Thaís, saindo da sala. – Olha, teu celular está tocando. – Falou Thaís da porta da cozinha.
– Eita! Nem tinha percebido! – Exclamou Duda, levantando-se à procura do seu celular. “Será que é o Felipe de novo?” pensou.
– Alô?- Falou, atendendo a ligação.
– Duda? É Victória!
– Oi, Vick! Tudo bem com você?
Nessa hora, a menina começou a chorar no telefone.
– Acabou Duda! Acabou! – Falava ela, desesperada.
– Acabou o quê, menina?! Acalme-se! Respire fundo e solte, vá. Agora fale. – Falava Duda, tentando acalmar a garota.
– O namoro Duda! Ele acabou comigo!
– É O QUÊ?! Mas por que isso?! – Gritava Duda, no telefone.
– Fique calma. Ele disse que não dava mais, e agora que ele ia se mudar, ficaria ainda mais difícil manter o namoro. Ai, Duda! Eu não sei o que fazer! Gosto tanto dele... – Falava ela, voltando a chorar.
– Ow, Vick! Fique assim não! Há muito tempo que eu digo a você que esse namoro já deu o que tinha que dar, não foi?! Há muito tempo que vocês estavam só levando esse namoro, brigando praticamente todo dia e tudo mais! Isso estava pra acontecer a qualquer hora.
– Ai, Duda! Mas você sabe como eu gosto dele!
– Sei sim, mas nada a impede de deixar de gostar dele e se apaixonar por outro, não é verdade?
– Duda! Eu preciso de você!
– Eu estou aqui, Vick.
– Não, aqui do meu lado! Volta pra cá.
– Ow... Você sabe que eu não posso.
– Sua chata! Você pode sim!
– Posso não... Peraê! Você tá a fim de viajar? – Falou Duda, tendo uma ideia.
– Como eu posso pensar em viajar numa hora dessas?
– É justamente por ser uma hora ‘dessas’ que você deve pensar em viajar. Mudar um pouco, conhecer novos lugares, ver outros garotos... – Falava Duda, fazendo Victória rir pela primeira vez na conversa.
– Ai, Duda... Só tu mesmo! E pra onde é que eu vou, afinal?
– Pra Alemanha! – Exclamou Duda, sorrindo.
– Pra Alemanha?! O que é que eu vou fazer na Alemanha? Fora que eu não tô com tanto dinheiro assim... Esqueceu que meus pais gastaram muito com a reforma do apartamento?
– Ora, você não queria ficar perto de mim? Então! Eu te mando a passagem!
– Tu me mandas o quê?! – Gritou Victória no telefone. – E como assim, Alemanha? Você não está em Portugal?
– Tô. Mas eu vou pra Alemanha.
– Vai?
– Vou. Resolvi agora.
– Ah, claro... Simples assim. – Falou Victória, rindo mais uma vez.
– É uma longa história! Mas e aí? Quer ou não quer ir?
– Ah, Duda... Sei lá... Tu pagar minha passagem...
– Diz logo que sim, menina! E eu estou precisando muito de você aqui, também.
– Tá, tá! Já que você insiste... Sim!
– Pronto! Eu te mando a passagem, certo? A gente se encontra lá. Beijos!
– Beijos, Duda! E obrigada por tudo.
– De nada, meu amor! Tchau! – Falou, desligando.