Restless Harmony

Escrita porNyx
Revisada por Lelen

Peça 04 • A Confrontação com a Irmã

Tempo estimado de leitura: 16 minutos

  A luz suave do final de tarde invadiu a casa de %Claire%, refletindo-se nas paredes antigas e nos móveis simples, mas aconchegantes. O clima quente e familiar contrastava com a tensão palpável no ar, uma tensão que %Claire% sentia profundamente. Sua irmã mais velha, Isis, havia voltado para casa após um longo período afastada dos palcos e do mundo da música, algo sempre delicado entre elas. Isis havia a chamado para ir até lá, e %Claire% não sabia o que esperar daquele encontro.
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  A casa estava silenciosa, preenchida apenas pelo som distante do vento nas janelas e os passos leves de %Claire% pelo corredor. Ela passara horas ensaiando, tentando controlar a peça que parecia fugir de seus dedos a cada tentativa. Isis estava sentada no sofá, com a xícara de chá já fria em suas mãos. Seu olhar fixo na lareira denunciava um pensamento distante, mas %Claire% sabia que sua presença ali não era acidental.
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  Jessica não estava em casa, pois precisou viajar devido a problemas com sua irmã mais velha, Doroth. Por isso, naquela tarde, eram apenas as duas na casa. %Claire% entrou hesitante na sala. Cada troca de palavras com Isis sempre se transformava em algo mais profundo, algo que tocava em partes de si mesma que ela preferia evitar.
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  — Pude escutar você tocando hoje à tarde, %Claire%. Você evoluiu muito, mas... — começou Isis, mas %Claire% a interrompeu com um sorriso forçado.
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  — Mas sempre há um "mas", não é? — A tensão era visível no rosto dela, apesar da tentativa de suavizar.
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  — Sim, %Claire%. Sempre há. Você soa bem, mas não é só sobre técnica ou beleza. Faltam emoções na sua música. É como... como se você estivesse lendo um discurso que não acredita. — Isis desviou o olhar, buscando as palavras certas.
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  — E o que te faz pensar que pode julgar o que eu sinto? Ou o que toco? Você mal me conhece, Isis. — A raiva começou a crescer em %Claire%, e ela se levantou do sofá, os braços cruzados.
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  — Eu sei mais do que você imagina. Sei o que é carregar expectativas esmagadoras. Sei o que é tocar para ser ouvida, para provar algo a todos... menos a você mesma. E sei o quanto isso dói. — Isis se manteve calma, mas sua voz carregava firmeza, como a de uma irmã mais velha que acreditava saber o que é melhor.
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  — Você não sabe nada sobre mim! Só porque você desistiu, não significa que pode aparecer aqui e me dizer o que estou fazendo errado. Você se afastou, Isis. Me deixou aqui, sozinha, lidando com tudo isso! — %Claire% sentiu a raiva ferver, sua voz embargada.
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  — Eu não desisti, %Claire%. Eu sobrevivi. E sobreviver significava me afastar. Não havia mais nada de mim na música que eu tocava. Eu perdi o controle da minha vida, deixando que os outros decidissem quem eu deveria ser. E agora, vejo você fazendo o mesmo. — A dor passou pelo rosto de Isis, mas logo se disfarçou.
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  Isis largou a música porque ela havia se transformado de paixão para uma obrigação sufocante. Desde jovem, foi celebrada como prodígio, mas com a fama vieram expectativas implacáveis. Todos, incluindo sua mãe e professores, queriam que ela fosse uma coisa que ela não podia ser. Ela cedeu, e a música deixou de ser uma forma de expressão, tornando-se uma prisão.
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  Com 22 anos, mesma idade de %Claire%, Isis já acumulava incontáveis premiações. Aos 31, porém, havia se afastado, sentindo-se vazia por dentro. A música, que antes era sua paixão, havia perdido todo o sentido. A pressão constante apagou sua chama, e foi só após deixar os palcos que ela percebeu o quanto estava perdida. Abandonar a música foi doloroso, mas necessário para sua sobrevivência. Agora, ela temia que sua irmã seguisse o mesmo caminho.
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  — Talvez eu esteja tentando. Talvez eu não queira ser como você, Isis. Talvez eu não queira carregar esse peso que você carrega — falou %Claire% com os olhos marejados, o tom desafiador.
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  — Você acha que é fácil para mim te ver passar por isso? Acha que quero que você carregue esse peso? Eu só quero que você perceba, antes que seja tarde demais, que a música precisa ser sua, %Claire%. Não nossa, não dos professores, nem dos críticos. Sua. Ou você vai acabar como eu. — A expressão de Isis suavizou, ela se levantou e se aproximou de %Claire% com um olhar vulnerável.
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  — Você se perdeu, não foi? — perguntou %Claire%, a voz baixa.
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  — Sim. E é a pior sensação do mundo. Porque quando você percebe, já construiu uma vida que não te pertence mais. Tudo parece vazio. E eu não quero isso para você. — A resposta de Isis veio cheia de melancolia.
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  — Você acha que ainda há tempo para mim? — %Claire% finalmente olhou para sua irmã, sentindo o peso das palavras dela.
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  — Sempre há tempo, %Claire%. Mas você precisa decidir o que quer. Não o que esperam de você. O que você quer ser, quem você quer ser. E essa, minha irmã, é a parte mais difícil. — Isis sorriu levemente, com tristeza, mas também com uma ponta de esperança.
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  — Eu... não sei. Não sei quem eu quero ser. — %Claire% soltou um suspiro profundo, como se algo se aliviasse de seu peito.
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  — Então comece por aí. Descubra. E, enquanto isso, toque. Toque porque você ama, não porque precisa. — Isis tocou o ombro da irmã com um gesto carinhoso.
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  O silêncio se estendeu entre elas, mas era confortável. Ambas entendiam que lidavam com feridas semelhantes, mas que cada uma precisaria encontrar seu próprio caminho para a cura.
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  — Você já pensou em voltar a tocar? — perguntou %Claire%, com os olhos fixos nas expressões de Isis.
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  — Já... algumas vezes. Mas não sei se tenho coragem de enfrentar tudo de novo. — A resposta de Isis foi lenta, como se tivesse sido pega de surpresa.
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  — Não sente falta? De estar no palco, de sentir a música fluindo?
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  — Sinto falta da música. Mas o palco... não. Às vezes é difícil separar uma coisa da outra. — Isis abriu um sorriso melancólico.
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  — Eu consigo te compreender. — %Claire% segurou a mão da irmã, oferecendo conforto.
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  O silêncio confortável voltou a se instalar, e %Claire% refletia profundamente sobre tudo o que sua irmã havia lhe dito. A casa, antes apertada e carregada de tensão, agora parecia um pouco mais acolhedora.
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🎻🎹

  Após mais um ensaio intenso, %Claire% e %Gabriel% saíram da sala de música, ainda absortos nas complexidades da peça de Schubert. %Gabriel%, como sempre, mantinha a expressão impassível, mas havia algo em seu comportamento naquele dia que parecia mais suave. %Claire%, por sua vez, estava visivelmente cansada, mas um pouco mais relaxada do que de costume, talvez por finalmente conseguir acompanhar %Gabriel% em alguns momentos da música.
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  Ao final do corredor, onde os dois normalmente se separariam para seguir caminhos diferentes, algo se alterou. %Gabriel% tinha a intenção de fazer diferente naquele dia.
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  — %Claire%, você gostaria de tomar um café comigo? — perguntou ele. %Claire% colocou as mãos sobre a boca, surpresa.
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  — Eu? — Ele assentiu.
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  %Claire%, surpreendida, apenas acenou com a cabeça, incapaz de formular uma frase naquele momento. Juntos, caminharam até o Coffee Melody, um pequeno café próximo ao Conservatório Saint-Helena. Sentaram-se na mesa mais afastada, em silêncio, como se estivessem ainda digerindo o que havia acontecido durante o ensaio e, agora, o convite inesperado de %Gabriel%.
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  O Coffee Melody era acolhedor, com uma luz suave filtrada pelas janelas de vidro. As mesas, de madeira escura, criavam uma atmosfera tranquila e quase isolada do mundo exterior. A música ambiente era suave, oferecendo um refúgio longe da rigidez da academia e das pressões do dia a dia. Pela janela, as árvores se moviam suavemente com a brisa, suas folhas dançando ao ritmo do vento.
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  %Claire% observava o menu à sua frente, mas seus olhos estavam distantes, como se hesitasse em processar o que sentia. Quando finalmente quebrou o silêncio, sua voz era suave, carregada de uma vulnerabilidade rara.
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  — Por que decidiu me convidar? — perguntou ela. %Gabriel% deu de ombros, ainda com os olhos fixos no menu.
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  — Acho que depois de quase um mês te vendo todos os dias, não seria estranho te convidar para um café, não? — respondeu ele, e então olhou para ela. — Por quê? Não estou cumprindo meu papel de príncipe do gelo?
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  — %Gabriel%, como você... — %Claire% riu baixo, surpresa por vê-lo rir pela primeira vez.
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  — As pessoas não são discretas. Não me importo com o apelido. Acho que, no fundo, há um pouco de verdade nele.
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  %Claire% não sabia o que dizer, mas sua risada baixinha se misturou com a de %Gabriel%. A tensão na mesa, antes palpável, começou a dissipar. Ele estava a surpreendendo positivamente.
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  — Você me causa curiosidade, %Claire%. Gostaria de te perguntar algo.
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  — Eu? Nossa… bom, pode perguntar. — %Gabriel% chamou a garçonete e fez os pedidos para ambos, antes de continuar.
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  — Pode me dizer por que é tão insegura? — perguntou ele, com uma leveza no tom. %Claire% ficou atônita, sem palavras.
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  Ela abriu e fechou a boca, tentando encontrar uma resposta. Por fim, falou, hesitante.
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  — Minha irmã é um prodígio, assim como você. Ela tocava aqui antes de mim. Todos esperam que eu seja como ela, e isso me deixa insegura, por não conseguir corresponder às expectativas que colocam sobre mim.
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  Ela suspirou, como se cada palavra fosse um peso. Seu olhar se desviou, perdida em seus pensamentos. A comparação estava sempre ali, em cada olhar, cada comentário dos alunos, dos professores, ou de sua família.
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  — E o que você espera de si mesma? — perguntou %Gabriel%, com uma sensibilidade que a surpreendeu.
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  A pergunta, simples, mas profunda, parecia ecoar em sua mente, como se fosse algo que ela mesma tivesse medo de responder. %Claire% ficou em silêncio, o som ambiente do café desaparecendo enquanto ela ponderava sobre a questão.
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  A garçonete os despertou naquele momento, entregando as bebidas: um Mocaccino para %Claire% e um Cappuccino para %Gabriel%.
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  — Eu ainda não sei — disse %Claire%, a voz baixa, quase um suspiro. Ela olhou para o copo e, pela primeira vez, levantou os olhos para %Gabriel%.
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  — Eu também não sei por que continuo tocando. Às vezes, parece que a música não é mais minha — falou %Gabriel% com uma leveza na voz, embora seu olhar fosse sério. Ele suspirou. — Não sei se você sabe, mas sou neto do proprietário da gravadora %Irvine%. As pessoas pensam que minha vida é fácil, que já tenho uma carreira consolidada aos 22 anos. Mas, na verdade, sou só um produto nas mãos da gravadora.
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  %Claire% ficou quieta, sentindo a dor que ele tentava esconder.
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  — Eu não imaginava que você passava por tudo isso, %Gabriel%. Agora entendo por que você toca de forma tão mecânica. Eu sinto muito, de verdade. — %Claire% segurou as mãos dele, sem pensar. %Gabriel% a encarou e, sem hesitar, segurou as mãos dela de volta. Elas estavam quentes, e isso, de alguma forma, acalentava seu coração.
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  Por um momento, as palavras pareciam desnecessárias. A troca de olhares entre eles era silenciosa, mas carregada de significado. Ambos estavam vulneráveis, compartilhando um peso emocional comum. %Claire% percebeu que %Gabriel% não era o príncipe de gelo que ela imaginava. Ele, assim como ela, carregava uma pressão constante de atender a expectativas que não eram suas.
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  %Claire% sorriu, timidamente, mas com sinceridade. Não era um sorriso de felicidade plena, mas de alívio, como se tivesse encontrado um espelho em %Gabriel%. Ele retribuiu com um sorriso pequeno, também sincero, algo que raramente surgia em seu rosto.
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  — Acho que essa foi a primeira vez que você sorriu de verdade desde que te conheci. — disse %Claire%, brincando, mas com um tom suave.
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  — Você está exagerando. — Ele arqueou a sobrancelha, tentando manter a seriedade.
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  — Talvez. Mas é bom saber que você não é uma máquina. — %Claire% riu brevemente.
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  — Aparentemente, não sou tão intimidador quanto você pensava, certo? — Ele deu de ombros.
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  — Ah, intimidador você ainda é. Mas agora sei que existe uma pessoa aí, príncipe de gelo. — %Claire% gargalhou.
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  — Touché. — %Gabriel% riu, olhando para o seu Cappuccino. — E você? Achei que fosse a garota que sempre hesita, mas agora vejo que tem mais força do que parece.
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  %Claire% o encarou, pensativa.
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  — Força? Talvez. Ou só teimosia. É difícil desistir quando tudo o que você conhece é tentar.
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  — Eu entendo. Às vezes, tentar é tudo o que resta. Mas tentar não significa que precisamos fazer tudo sozinhos. — O tom de %Gabriel% era reflexivo.
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  — Você realmente acredita nisso? Porque, até agora, você parece o tipo de pessoa que prefere enfrentar o mundo sozinho — comentou %Claire%, surpresa.
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  Ele sorriu, mas o olhar ainda era sério.
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  — Não sei se acredito, mas talvez seja hora de tentar. Você é a primeira pessoa que me fez pensar sobre isso.
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  — Bom, acho que somos dois. Nunca imaginei que poderia aprender algo com alguém tão… distante. — Ela sorriu de forma hesitante, mas sincera.
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  — Distante? É assim que me descreve? — %Gabriel% arqueou a sobrancelha, fingindo indignação.
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  — Completamente. Mas agora vejo que é só uma fachada. Talvez você não seja tão distante quanto quer parecer.
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  — Talvez você esteja certa. Mas você também tem uma fachada, sabia? Essa ideia de que precisa ser perfeita para todos... é exaustiva só de olhar. — Ele a encarou com um leve suspiro.
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  — É. Mas acho que... talvez eu não precise mais carregar tudo sozinha. Não, se você estiver disposto a dividir um pouco do peso. — %Claire% desarmou-se, com as bochechas quentes, tocada pela honestidade dele.
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  — Se você conseguir me aguentar, acho que posso tentar — respondeu %Gabriel% com um tom mais tranquilo.
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  Eles trocaram um olhar longo e significativo, onde as palavras se tornaram desnecessárias. Havia algo mais profundo entre eles agora, uma promessa silenciosa de apoio mútuo.
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  — Acho que conseguimos sobreviver a mais um ensaio juntos, não é? — %Claire% terminou seu Mocaccino e se levantou com um sorriso encorajador. %Gabriel% fez o mesmo.
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  — Por enquanto. Vamos ver se a peça de Schubert sobrevive a nós dois. — Eles riram juntos.
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  — Se não sobreviver, pelo menos podemos dizer que tentamos. — %Claire% começou a caminhar em direção ao caixa. Ela pegou a carteira, mas %Gabriel% segurou suas mãos.
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  — Eu convidei, eu pago. — Ele passou à frente e fez o pagamento. %Claire% sorriu.
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  Depois de pagar, %Gabriel% e %Claire% saíram juntos do café, lado a lado. O peso de suas inseguranças parecia mais leve agora, e, pela primeira vez, ambos sentiram que talvez não estivessem tão sozinhos quanto imaginavam.
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  Nota da autora: Essa conversa entre as irmãs foi muito profunda, né? Agora as coisas vão melhorar entre eles? Vamos acompanhar <3

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Lelen

Hum, eu não imaginava que a Isis estivesse nessa situação e que ela entendesse melhor do que se imaginava a Claire. Pais tóxicos esses, eu hein.
E finalmente tivemos uma interação amigável entre Claire e Gabriel. Achei fofo e espero que tenha mais desses dois se entendendo e se ajudando de alguma forma <3

Nyx

Exatamente, ela entende super o que a irmã está passando mesmo. Muito tóxicos, credo! Finalmente as coisas estão andando entre eles. Vai ter sim, aguarda os próximos hahha ❤️❤️

Betiza

Aiiiii eu já estou ansiosa por mais momentinhos entre eles <3

Nyx

Abriu a porta agora, viu? Logo teremos mais momentinhos entre eles ❤️❤️

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