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ATENÇÃO!

História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

Esta história pode conter descrições (explícitas) de sexo, violência; palavras de baixo calão, linguagem imprópria. PODE CONTER GATILHOS

O Espaço Criativo não se responsabiliza pelo conteúdo das histórias hospedadas na sessão restrita ou apontadas pelo(a) autor(a) como não próprias para pessoas sensíveis.

Na Hora Certa

Escrita porNyx
Editada por Lelen

PRÓLOGO

Tempo estimado de leitura: 3 minutos

  POV %Isla%

  Meu pai sempre dizia que o cheiro da graxa era melhor do que qualquer perfume. Na época, eu achava nojento, mas hoje, acho poético. Porque naquela noite abafada de garagem, entre o ronco engasgado de um motor velho e o som metálico das ferramentas, eu finalmente entendi o que ele queria dizer.
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  Estava sentada no chão frio, com a coluna apoiada contra a lataria enferrujada de um carro que já tinha visto dias melhores — assim como eu. A barriga enorme me impedia de ver os próprios pés, mas não de sentir os chutes leves que vinham de dentro. Como se aquele bebê também quisesse dizer: “a gente tá junto nessa bagunça, mamãe.”
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  As mãos estavam imundas. As unhas, encardidas. E o coração…? Desmontado.
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  — Esse eixo não vai alinhar sozinho, %Isla% — meu pai murmurou, com a cabeça enfiada dentro do capô, como sempre fazia quando queria adiar uma conversa difícil.
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  — E esse bebê também não vai esperar o motor pegar, né? — rebati, com um sorriso cansado que tentava disfarçar a angústia.
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  Ele não respondeu. Só continuou mexendo em silêncio, como se cada parafuso apertado fosse uma forma de evitar as palavras que realmente importavam.
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  A verdade é que eu deveria estar em casa, com as pernas pra cima, assistindo reprise de corrida na TV e comendo chocolate direto do pacote, mas a oficina era o único lugar onde eu ainda me sentia… eu. Antes das fraldas, antes das consultas, antes do mundo tentar me convencer que meus sonhos tinham prazo de validade.
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  — Eu podia ter ido mais longe, sabe? — soltei, porque o silêncio dele já estava me machucando. — Se não tivesse me apaixonado por alguém que só tinha beleza e charme. Se não tivesse engravidado. Se não tivesse acreditado que amor bastava.
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  Meu pai largou a chave inglesa com cuidado, mas não como quem termina um serviço e sim como quem se prepara para escutar.
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  — Você ainda vai, filha. Talvez não do jeito que imaginou, mas vai.
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  Fechei os olhos.
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  Quis acreditar. Mesmo com os olhos queimando. Mesmo com o mundo inteiro pronto pra rir de uma “mãe solteira” com graxa na mão e um diploma de engenharia ainda no papel.
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  Mas então ele se ajoelhou ao meu lado, limpou a mão na camiseta manchada e encostou a testa na minha. Como fazia quando eu era criança e chorava por causa de um corte no joelho.
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  — Esse menino vai crescer ouvindo o ronco de motor como canção de ninar — sussurrou. — E vai ter orgulho de você, o mesmo que eu tenho agora.
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  Ali, entre peças soltas, promessas sussurradas e amor bruto de pai, alguma coisa se encaixou em mim, talvez não o eixo do carro, mas o meu.
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  Eu não ia desistir. Nem por ele, nem por mim e nem pelo bebê que já parecia pisar no acelerador de dentro do meu ventre.
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  Eu ia correr, mesmo que ninguém me deixasse entrar na pista.
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