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História NÃO RECOMENDADA PARA MENORES ou PESSOAS SENSÍVEIS.

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Na Hora Certa

Escrita porNyx
Editada por Lelen

CAPÍTULO 03 • Ajustes Finos

Tempo estimado de leitura: 24 minutos

  Pov %Isla% %Torres%

  Eu ainda estava com a mão fechada em punho quando entrei no alojamento.
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  Fechei a porta com um tranco que fez a parede tremer, ou talvez fosse só eu. O corpo inteiro pulsava, os músculos tensionados, o maxilar travado. A briga com Leclerc me assombrava em eco, frase por frase, como um rádio desregulado preso na minha cabeça.
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  Joguei a mochila no chão, arranquei o zíper do macacão até a cintura e me sentei na beira da cama como se não confiasse mais nas minhas próprias pernas.
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  — Arrogante, mimado, convencido, estrela de quinta categoria com um ego do tamanho do mundo — murmurei, sozinha, com raiva demais pra pensar direito. — Acha que porque tem um número no carro e gente puxando o saco, pode falar o que quiser com quem quiser.
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  Meu celular vibrava com alguma notificação qualquer. Ignorei. Em vez disso, desbloqueei e procurei o número do meu irmão.
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  Julián atendeu no segundo toque, com a respiração acelerada e música eletrônica de fundo.
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  —¿Qué pasa? Você tá viva?
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  — Eu tô puta, preciso desabafar! Quase matei um piloto hoje. Isso conta?
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  — ...Ah. Leclerc?
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  — Leclerc.
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  — Puta merda, o que ele fez?
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  — O de sempre. Respirou. Olhou pra mim como se eu fosse um erro de digitação. Me desafiou. Me chamou de insegura — respondi, despejando tudo em uma única frase.
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  — E você?
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  — Coloquei ele no lugar dele.
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  — Carajo, %Isla%…
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  — Alguém precisava dizer. — Julián ficou em silêncio por um momento, e então soltou uma risada baixa.
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  — Tô orgulhoso. Mas, irmã, respira. Você já ganhou por ter irritado o queridinho da Ferrari em dois dias. Agora foca no carro, ok?
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  Assenti, mesmo sabendo que ele não podia ver.
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  — Já tô focando. Te quiero.
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  — Te quiero más!
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  Desliguei. Me joguei de costas na cama e encarei o teto por alguns segundos, o coração ainda acelerado.
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  A voz dele ainda ecoava na minha mente. O olhar de desprezo, a provocação disfarçada de ironia. Mas o que me atingia de verdade era o fato de ele achar que podia me ler. Me reduzir. Me medir por um dia e meio de convivência e um punhado de frases atravessadas.
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  Eu respirei fundo, mais uma vez. Me levantei.
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  Caminhei até a bancada improvisada perto da janela. Meus relatórios estavam todos lá. Análises do dia anterior, os dados do simulador, o padrão de torque da curva cinco, os gráficos do desgaste lateral.
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  Ali estava o que importava. O que eu podia controlar. Peguei a caneta, ajustei a luz da luminária e comecei a trabalhar. O carro ainda precisava de ajustes. E, sinceramente? Eu também, mas um deles eu já tinha resolvido.
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🏁🛠

  Cheguei ao box antes do sol subir completamente.
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  O paddock ainda estava em silêncio. Só o som de alguma empilhadeira ao longe e o farfalhar dos toldos sendo abertos no pit lane. A maioria da equipe ainda nem tinha descido dos alojamentos. E eu? Já estava ali, com o macacão amarrado na cintura, o cabelo preso em um coque prático e os olhos grudados nos dados da noite anterior.
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  O café da manhã ficou esquecido ao lado do teclado, frio, sem gosto, mas eu nem lembrava de ter fome. As curvas médias continuavam no meu radar. A vibração no eixo traseiro tinha diminuído, mas não desapareceu por completo. Era um alívio, sim, mas também um alerta.
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  Revisei o gráfico da curva cinco, comparando os tempos entre a entrada e a saída. O delta de tração ainda oscilava um pouco mais do que eu gostaria. Comecei a rabiscar anotações na prancheta, códigos rápidos, pequenas hipóteses. Talvez o problema não estivesse só na estrutura… talvez tivesse a ver com o mapeamento da frenagem. Estava tão concentrada que nem ouvi os passos.
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  — Você trabalha em silêncio, mas movimenta meio box, %Torres%. — Levantei os olhos. Matteo Donati. Camisa da equipe impecável, caneta no bolso, e aquele semblante que sempre parecia a ponto de desaprovar alguma coisa.
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  — Cheguei cedo — falei, simples, voltando o olhar pro monitor.
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  — Percebi. E agradeci. — Ele se aproximou, analisando por cima do meu ombro. — Isso é do treino de ontem? — Assenti.
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  — Estou tentando entender por que a vibração não desapareceu por completo. Os sensores ainda registraram instabilidade mínima na volta 17.
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  — E você já tem hipóteses?
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  — Três. Nenhuma confirmada. Ainda.
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  Ele ficou em silêncio por alguns segundos. Depois soltou, casualmente, ou o mais casual que Matteo conseguia ser:
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  — Seu relatório de ontem… enviei pra chefia técnica da escuderia.
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  Meu dedo parou no meio do gráfico.
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  Pisquei. Uma vez.
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  Duas.
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  — Enviou?
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  — Sim. Eles pediram algo sólido sobre a performance no setor dois, e o seu material estava mais completo do que qualquer outra coisa que recebi ontem. Fui direto ao ponto.
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  Fiquei quieta.
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  Assenti com a cabeça, sem soltar um sorriso, sem erguer a voz. Mas por dentro? Por dentro, algo se acendeu, não um alarde, mais como um farol. Brando. Firme. Vermelho. Ferrari.
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  Era só um relatório, mas era meu. E agora… alguém de cima estava lendo. Voltei os olhos pra tela, ajustando uma linha do gráfico.
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  — Obrigada — falei, sem levantar o tom. Matteo deu de ombros.
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  — Continue assim, %Torres%. Não é sobre provar que sabe. É sobre continuar sabendo.
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  Ele se afastou, e eu fiquei ali, com as mãos firmes. O olhar afiado e o coração — pela primeira vez desde que cheguei — levemente em paz.
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  Quase dez minutos depois, um dos mecânicos entrou carregando uma prancheta e um copo de café, com a cara ainda amassada de sono. Era o mesmo que, dois dias antes, tinha feito piada sobre “a estagiária do difusor”.
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  Ele hesitou ao passar por mim. Parou. Leu meu relatório pela metade do monitor e pigarrou.
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  — %Torres%… — disse, com o tom estranho de quem tentava soar casual, mas não conseguia esconder o desconforto. — Você acha que a oscilação no torque da curva nove pode estar vindo do mapeamento de frenagem?
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  Virei devagar, sem pressa ou ironia.
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  — Não. Pelo tempo de resposta e pelo padrão de vibração, o problema está no acoplamento de suspensão secundária. Mas se quiser, eu te mostro os dados depois.
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  Ele assentiu. Um aceno curto.
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  Quase murmurou um “valeu”.
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  Quase.
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  Não era exatamente respeito, mas era o começo. Voltei a me concentrar no que estava fazendo, tentando retomar a linha de raciocínio no relatório quando o celular vibrou no bolso do macacão.
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  Olhei o nome na tela, senti o estômago virar.
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  Caio.
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  Atendi no automático, já sabendo que não vinha nada bom.
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  — %Isla% — ele começou, com aquele tom neutro que ele usava toda vez que queria parecer educado antes de soltar alguma bomba. — Então… sobre o fim de semana. Vai ficar difícil pra eu pegar o %Liam%. — Fechei os olhos por dois segundos.
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  — Difícil por quê?
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  — Surgiu um compromisso.
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  — Compromisso ou balada? — Ele riu. Aquele riso leve, irritante, de quem nunca levava nada a sério.
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  — Não exagera, vai. Eu peguei no último final de semana.
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  — Sim. Por quatro horas. E ele voltou sem almoçar, Caio.
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  — Olha, eu sei que você tá aí nesse teu trabalho novo, importante, com gente famosa, e deve estar se achando...
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  — Não termina essa frase — cortei, fria. — Só diz: você vai ou não vai buscar o %Liam% no sábado?
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  — Não vai dar. Mas no outro a gente combina. Prometo compensar.
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  — Claro, como da última vez. E da anterior. E da outra também.
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  — %Isla%, não precisa transformar tudo em briga.
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  — Não é briga, Caio. É rotina. É você fugindo da responsabilidade como se fosse opcional.
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  — Eu trabalho também, tá? Não é só você que tem uma vida corrida. — Revirei os olhos tão forte que quase vi o céu de Maranello.
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  — Você posta selfie na academia às onze da manhã e vídeo tomando chopp às cinco. Não me testa. — Silêncio. Curto.
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  — Eu preciso desligar — ele disse, já impaciente. — Fica pra próxima, tá?
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  A linha caiu. Sem tchau. Sem desculpa.
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  Fiquei olhando pro celular por um momento, com a respiração presa no peito. %Liam% estava contando os dias para ver o pai. E, mais uma vez, quem ia inventar uma desculpa boa… era eu.
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  Suspirei, jogando o celular sobre a bancada com cuidado. Não dava pra quebrar o aparelho, era caro demais pra isso. Mas também não dava pra engolir aquele nó na garganta sem fazer nada.
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  Respirei fundo, desbloqueei a tela e procurei o número do meu pai. Ele atendeu no segundo toque, como sempre fazia.
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  — Hola! Tá tudo bem?
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  — Mais ou menos — respondi, sentindo a raiva se transformar em exaustão. — O Caio ligou. Disse que não vai poder pegar o %Liam% esse fim de semana.
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  — De novo... — ele murmurou do outro lado, com a voz baixa. — O que ele disse agora?
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  — Que “surgiu um compromisso”. Nem teve coragem de mentir direito.
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  — Esse garoto... %Isla%, você quer que eu fique com o %Liam%? A gente dá um jeito. Eu e sua mãe podemos levar ele no parque, fazer panquecas, essas coisas que ele gosta…
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  Sorri, mesmo com o peso no peito.
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  — Não, pai. Eu tô pensando em pegar o trem até Barcelona amanhã à noite. Aproveito o sábado e o domingo com ele. Me organizo por aqui, vou ver com meu chefe.
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  — Você tem certeza? Achei que esse fim de semana era cheio pra você.
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  — Eu sempre tenho alguma coisa, pai. Sempre está cheio, mas o %Liam% não pode crescer achando que só sobra tempo pra ele quando tá tudo tranquilo — falei, a voz começando a embargar. — E eu sinto saudade. Do cheiro dele, das perguntas dele, de ver ele dormir no sofá com o carrinho vermelho na mão…
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  Meu pai ficou em silêncio por um segundo. Depois falou com aquela firmeza doce que só ele tinha:
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  — Então vem. A gente prepara tudo. E se quiser, eu o levo até a estação pra te encontrar.
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  — Obrigada, pai.
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  — E %Isla%?
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  — Hm?
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  — Você não tá sozinha, tá? Mesmo quando parece. — Fechei os olhos por um instante, só pra segurar.
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  — Eu sei. — Desliguei com mais calma. Respirei fundo.
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  Peguei a prancheta de volta e olhei os dados na tela. Nada mais fora do lugar, tudo sob controle. Ou quase. Mas agora… agora eu tinha um plano, e uma promessa para cumprir.
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🏁🛠

  O box estava cheio, mas, curiosamente, o silêncio era o que mais pesava. Charles entrou no carro sem olhar pra ninguém. Fez os movimentos de sempre: luvas, cinto, ajuste do rádio. Tudo milimetricamente igual às dezenas de vídeos que eu já tinha visto dele.
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  Mas ali, a poucos metros… era diferente. Ali, ele era mais do que o rosto das campanhas. Era o piloto real. O que podia sentir na pele — ou nas rodas — tudo que eu mexi.
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  Ajustei o fone no ouvido, fingindo foco na tela à minha frente, mas a tensão estava cravada nos ombros, nos dedos pressionados contra a borda da mesa. No queixo rígido demais pra quem já tinha revisado aqueles dados três vezes.
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  — Vai iniciar volta rápida — avisou Matteo, ao meu lado, com a voz baixa.
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  Engoli em seco e observei. O carro saiu da garagem como uma flecha rubra. Primeiro setor, fluido. Curvas bem encaixadas, frenagem limpa. Segundo setor... o mais importante. O mais frágil. Onde tudo podia dar errado.
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  Esperei.
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  A tela piscou. As linhas de torque e pressão mantiveram a curva. Sem picos, sem ruptura.
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  — Curva cinco estável, sem vibração perceptível — informou um dos engenheiros.
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  E então, a voz dele no rádio:
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  — O carro tá mais estável no setor dois.
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  Quase imperceptível, virei o rosto. Matteo me lançou um olhar rápido. Não disse nada, mas a ausência de crítica, vinda dele, já era um elogio. Assenti, uma vez só, sem sorrir. Mas por dentro? Eu senti.
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  Minutos depois, o carro voltou ao box. Charles tirou o capacete com calma, passou a mão nos cabelos úmidos e pulou pra fora do cockpit com a mesma naturalidade de quem faz isso desde os seis anos.
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  Caminhou na direção oposta ao meu canto, como se não tivesse visto, mas antes de sair do box, parou. Olhou por cima do ombro.
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  — Não tá ruim.
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  Virei devagar, mantendo a expressão neutra. E respondi, com a precisão de uma peça recém-ajustada:
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  — Ainda não.
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  Ele assentiu, com um gesto quase imperceptível e seguiu.
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  E eu?
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  Voltei a analisar a telemetria. Porque não era sobre um elogio, era sobre o carro. E o carro… estava finalmente começando a falar comigo.
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🏁🛠

  O calor dentro da sala técnica era diferente, não vinha do motor, e sim dos olhos. Três engenheiros estavam sentados, acompanhando as imagens do treino que acabara de acontecer. Matteo, em pé ao meu lado, entregou o controle da tela para mim.
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  — %Torres%, apresenta pra gente o impacto do ajuste. Curva cinco em especial.
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  Assenti, ajeitando a prancheta contra o antebraço. Cliquei nos gráficos. O painel se acendeu com os dados de telemetria.
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  — A correção na flexibilidade do eixo reduziu em 38% a oscilação lateral do torque em curvas médias. A rigidez residual foi compensada pela redistribuição de carga no conjunto de suspensão secundária. O resultado foi uma estabilidade superior na transição de frenagem para tração.
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  Apontei para a linha azul.
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  — Aqui está a leitura da volta anterior. E aqui, a leitura da volta em que o ajuste foi aplicado. Diferença de 0.271 na saída da curva cinco. Mais controle. Menos ruído de resposta.
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  Ninguém falou por alguns segundos. O silêncio era quase respeitoso. Charles estava de pé, braços cruzados, encostado na parede do fundo. Observava os gráficos, me observava também.
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  Não disse nada de imediato. Mas, por fim, soltou:
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  — Parece que você sabe mesmo o que tá fazendo. — Virei o rosto com calma e o encarei.
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  — Eu sei.
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  Ele não rebateu, nem sorriu. Só assentiu, quase imperceptível. E isso… foi suficiente.
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  Mais tarde, já perto do fim do expediente, procurei Matteo. Ele estava revisando anotações no tablet quando me aproximei.
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  — Matteo? — Ele levantou os olhos.
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  — Sim?
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  — Eu preciso conversar com você sobre o fim de semana. — Ele ergueu uma sobrancelha, esperando.
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  — Eu sei que é primordial que eu esteja aqui no domingo. E estarei. Mas o Caio… o pai do meu filho… ele cancelou a visita. De novo. Eu... — respirei fundo, escolhendo as palavras com cuidado. — Eu queria saber se existe a possibilidade de trazer meu filho comigo. Só por dois dias. Ele ficaria no alojamento comigo, quietinho, sem atrapalhar nada. Juro que vou cuidar pra não interferir em nada.
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  Matteo me observou por alguns segundos. Longos. Eu já estava pronta pra ouvir um não, mas ele apenas fechou o tablet e disse:
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  — Você precisa estar no dia da corrida. Isso não muda. Mas quanto ao seu filho... traga-o.
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  — Sério?
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  — Se você consegue fazer um carro desse responder como respondeu hoje, tenho certeza que consegue lidar com um garotinho curioso. Não vejo problema.
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  — Obrigada — falei, aliviada, mas ainda formal. — Desculpa por pedir algo tão pessoal. Eu só...
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  — %Torres%. — Ele me interrompeu, com um raro tom brando. — Você trabalha com precisão, entrega resultado e é isso que importa. O resto… a gente resolve.
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  Sorri, pequeno, mas de verdade.
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  E pela primeira vez desde que pisei ali… Senti que não precisava pedir desculpas por ter uma vida fora dos motores.
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  O box já estava mais silencioso. As ferramentas voltaram para seus lugares.
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  Os monitores desligados, os dados salvos. E, ainda assim, minha cabeça continuava processando.
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  Cada clique do torque, linha da suspensão ou palavra não dita.
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  Caminhei pelo corredor dos alojamentos com os passos mais lentos do dia. Cansaço pendurado nos ombros. Olheiras começando a anunciar que a adrenalina estava baixando.
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  Mas firme.
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  Inteira.
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  Vi alguém vindo na direção contrária, mexendo no zíper do casaco da equipe, os passos leves demais pra quem carregava tanta história nas costas.
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  Lewis Hamilton.
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  Ele me viu, e sorriu. Aquele sorriso pequeno, maroto, quase preguiçoso, como se soubesse de um segredo que o resto do mundo ainda não entendeu.
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  — Você já fez mais barulho aqui em dois dias do que gente que tá há dois anos.
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  A frase veio como uma piada. Mas o olhar? Carregava respeito. Parei, respirei, e deixei um riso escapar pelo nariz.
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  — Desculpa se baguncei o silêncio.
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  — Não peça desculpas. Barulho também move o carro — ele disse, ainda sorrindo.
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  Assenti, meio sem saber o que dizer, mas por dentro, aquilo bateu diferente. Porque vindo dele… Era como ouvir o som de um motor que você sempre quis escutar de perto.
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  — Boa noite, %Isla%.
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  — Boa noite, Hamilton.
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  Segui em frente. Os passos ainda cansados, mas com uma leveza nova no peito. Não era todo dia que alguém como ele te reconhecia pelo que você faz e não pelo que esperam que você seja.
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  Voltei pro alojamento com o corpo pedindo cama e a cabeça ainda ligada no modo estratégia. Tomei um banho rápido, prendi o cabelo com uma presilha qualquer e me joguei na cama com o celular em mãos, os dados da suspensão ainda rodando atrás dos olhos.
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  Toquei na chamada de vídeo.
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  Do outro lado, o rostinho mais importante do mundo apareceu.
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  — ¡Mamá! — %Liam% disse, com aquele sorrisão de quem já esqueceu qualquer coisa ruim do dia. — Você viu eu e o vovô brincando de corrida hoje? Ele foi o carro azul, eu fui o vermelho!
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  — Vermelho Ferrari, né? — sorri, já derretendo. — Que nem o da mamãe.
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  — E aí? Seu carro ganhou hoje?
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  — Ainda não correu, mas… ficou quase tão rápido quanto você. — pisquei. — Isso quer dizer que a mamãe tá indo bem, hein?
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  — Vai ganhar! — ele falou com a certeza de quem nunca duvidou. — E depois vai me dar carona!
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  — Melhor que isso. Você vai passar o fim de semana comigo aqui no trabalho. — Os olhinhos dele se arregalaram.
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  — Sério?
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  — Sério. O papai não vai poder te ver dessa vez, então eu pedi permissão e consegui. Ao invés de segunda e terça, vamos ter quatro dias inteiros juntos. Só eu, você, um monte de ferramentas… e um carro de Fórmula 1 bem doido.
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  Ele abriu um sorriso tão grande que até a tela do celular pareceu acender mais.
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  — Eu vou ver o carro? O vermelho?
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  — Vai. Vai ver o carro, vai dormir no mesmo lugar que ele, mas só se prometer ficar quietinho e não apertar nenhum botão, tá?
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  — Prometo! — ele gritou, antes de bocejar logo em seguida.
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  — Te amo até a lua e de volta, meu piloto.
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  — Eu também te amo, mamá.
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  Desliguei a chamada com aquele som suave de fim de ligação, e eu fiquei ali por um instante, segurando o celular contra o peito.
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  Era por ele.
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  Sempre foi.
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  Peguei a prancheta do lado da cama, com as anotações da telemetria ainda inacabadas, e passei os olhos pelas linhas técnicas. Suspirei, mas não de cansaço e sim de decisão.
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  Me ajeitei melhor, firmei o olhar nos números, e murmurei, quase como um voto:
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  — Vou ter que engolir. Um por um.
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  Nota da autora: Capítulo 3 no clima “quem me vê tranquila não sabe a novela interna”. %Isla% ainda tava com o sangue fervendo depois do bate-boca com o Charles, mas adivinha? Caio, o pai do ano, desmarcou de novo e o %Liam% vai passar o fim de semana com ela. Porque claro, quando o assunto é responsabilidade, ele sempre lembra de estar… longe. 🙃 Obrigada! <3

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