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Na Hora Certa

Escrita porNyx
Editada por Lelen

CAPÍTULO 01 • Reinício na Pista

Tempo estimado de leitura: 27 minutos

  POV %Isla% %Torres%

  Era estranho pensar que eu estava ali, de novo. Naquele ambiente tão familiar, tão barulhento, tão masculino — e, ainda assim, tão meu.
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  O cheiro de combustível queimado me atingiu como uma lembrança antiga. Daquelas que ficam presas na pele e no fundo da garganta. Respirei fundo. O macacão vermelho da Ferrari grudava nas costas sob o sol implacável de Maranello. O suor escorria pela minha nuca antes mesmo do turno começar, mas eu estava firme. Ou, pelo menos, sustentando a melhor imitação de firmeza que aprendi a usar com o tempo.
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  Atravessei o portão de acesso com a credencial pendurada no pescoço e o coração batendo rápido, como se quisesse anunciar: você conseguiu. Porque ali estava eu, na equipe principal da Scuderia Ferrari.
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  Depois de dois anos na sombra da equipe júnior — desmontando protótipos, ajustando peças em salas abafadas, ouvindo gente me chamar de “a menina da oficina” com aquele tom condescendente — eu finalmente tinha sido promovida. Meu nome estava na escala da temporada.
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  Meu nome.
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  Na escala.
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  Da Ferrari.
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  Lembrei com nitidez do momento em que recebi a notícia.
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  Estava enfiada até o cotovelo numa carenagem que ninguém queria desmontar quando meu chefe direto me chamou de canto. Pensei que fosse bronca — como sempre era, mas então ele sorriu. Um sorriso raro.
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  “Parabéns, %Isla%. Você passou. Vai integrar a equipe principal na próxima temporada.”
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  Fiquei parada por um segundo, como se o cérebro precisasse reiniciar. Senti os olhos encherem, mas disfarcei passando a mão no rosto sujo de graxa. Voltar à pista de verdade. Com os carros mais rápidos do mundo, ao lado de engenheiros que eu cresci admirando — e que agora seriam meus colegas.
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  Naquela noite, eu não dormi. Nem de medo, nem de nervoso, mas porque a adrenalina já tinha voltado a correr nas minhas veias. O mesmo sonho que quase me tiraram, só porque eu engravidei.
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  Eu tinha vinte anos quando vi o teste mais importante da minha vida dar positivo. Um teste de farmácia, não de desempenho técnico. Não era o que eu esperava, mas também não era algo de que eu pudesse fugir.
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  O pai do meu filho?
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  Um erro. Um erro insistente, bonito e fugaz.
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  Ele não sumiu — ao contrário, sempre aparecia nas redes, sorrindo em fotos com legenda de “pai presente”. Mas quando o %Liam% teve febre no meio da noite, ou quando eu precisei de alguém para segurá-lo enquanto fazia uma entrevista… ele nunca estava.
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  E, mesmo assim, eu continuei porque parar nunca foi uma opção. Porque meu pai, Ramón %Torres%, não deixou. Ele me deu uma bancada no fundo da oficina e uma promessa: “Você vai chegar lá, %Isla%. Um bebê não destrói sonhos. Só muda o caminho.”
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  E ele mudou. Com fralda, com leite em pó, com noites em claro, mas também com o apoio dele e com o da minha mãe, Lucía, que dividia comigo as madrugadas de choro, aquecia mamadeiras e dizia, sempre que eu ameaçava desmoronar: "Você não tá sozinha, %Isla%. Nem por um segundo."
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  E com o do meu irmão mais novo, Julián, que largou o intercâmbio pra ficar comigo no primeiro ano do %Liam%. Ele embalava meu filho enquanto eu desmontava simuladores, me acordava quando eu cochilava em cima de um livro, decorava fórmulas comigo como se estivesse treinando pra corrida, não pra viver.
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  Foram anos de estudo solitário. De especialização pela madrugada. De cursos online feitos com fone de ouvido, enquanto o %Liam% dormia no sofá da oficina. Enviei currículos que nunca foram respondidos. Participei de feiras onde fui ignorada como se fosse invisível. Fui recusada dezenas de vezes — sempre com os mesmos eufemismos: “Talvez numa próxima oportunidade.”
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  “Seu perfil não combina com o ritmo da escuderia.”
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  “Precisamos de alguém com mais flexibilidade.”
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  Eles nunca diziam “mãe”, mas era disso que estavam falando.
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  Só que eu escutei pior, fui chamada de ajudante quando já comandava processos inteiros. Tive que ouvir outro receber os créditos pelas soluções que saíram das minhas mãos. Perguntaram se eu estava ali para “trazer café”, quando eu era a única que identificava o ruído estranho no eixo central sem precisar de scanner.
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  Então não, ninguém me deu espaço. Eu o arranquei com ferramenta, com cansaço, com cada hora que passei provando que sabia mais do que esperavam de mim. Fiz isso por mim, pelo meu filho e por todas as que ainda viriam.
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  E agora… eu estava aqui, no coração da Ferrari.
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  Maranello.
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  Com o nome no crachá e o macacão ajustado por cima das cicatrizes que me trouxeram até aqui.
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  Ajustei a alça da mochila no ombro e segui o corredor até os boxes. Meus tênis pisavam com cautela sobre o chão riscado de pneus e óleo, mas minha cabeça já estava longe, correndo entre engrenagens e sensores. Era a única forma de calar a voz que ainda sussurrava que eu podia falhar, que iam rir ou duvidar.
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  Cheguei ao box principal e a Ferrari estava lá. Imponente, escarlate e rodeada por técnicos, engenheiros, e olhares que fingiam não estar me notando, mas eu sentia como sempre senti.
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  A curiosidade disfarçada de indiferença. A dúvida vestida de protocolo.
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  Antes de dar o primeiro passo, respirei fundo. Peguei o celular do bolso do macacão. Era um ritual, minha âncora.
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  Uma notificação.
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  Papai 💛
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  1 novo áudio
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  Apertei o play.
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  Sabia que ia me desmontar, e me desmontou.
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  — Mamãe... é... você vai ganhar a corrida hoje? — a voz do %Liam% veio baixinha, meio enrolada, com aquele chiado de coberta por cima da cabeça. — Eu tô com o carrinho vermelho, tá? Igual o do seu trabalho. A vó falou que é Ferrari. Te amo. Tchau!
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  Sorri sozinha. O rosto esquentou. Ele tinha quatro anos e o coração já batia no mesmo ritmo que o meu, no ritmo da pista.
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  Nos despedimos naquela manhã bem cedinho com o sol quase nascendo. Um café corrido na cozinha dos meus pais, uma mochila com carrinho de brinquedo, e um beijo na testa com gosto de culpa e saudade.
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  Depois, foi uma corrida silenciosa contra o relógio: voo pra Bolonha. Estrada até Maranello. Poucas horas de sono entre um deslocamento e outro.
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  O mundo achava que chegar até ali era só mérito técnico, mas ninguém via os voos às cinco da manhã, a febre inesperada no meio de um treino, ou o malabarismo de parecer estável quando se está desmoronando por dentro.
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  Apertei o celular entre os dedos.
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  Te amo até a lua e de volta, meu amor. 🚀❤️
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  Guardei o aparelho com cuidado. Como se fosse a peça mais delicada do mundo para mim.
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  Inspirei fundo.
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  Hora de trabalhar.
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  A oficina mais poderosa do mundo estava prestes a descobrir que por trás das minhas mãos sujas de graxa… batia um motor tão potente quanto qualquer V6 turbo que eles já viram.
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  E parece que o universo quis me testar no segundo seguinte.
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  — %Isla% %Torres%? — a voz veio firme, cortando o burburinho dos boxes. — Vem comigo.
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  Levantei o queixo, ajeitei a manga do macacão com mais calma do que eu sentia por dentro, e assenti com a segurança ensaiada mil vezes no espelho. Aquela era minha entrada em cena e eu me recusei a tropeçar.
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  O homem que me esperava era Matteo Donati, engenheiro-chefe da Scuderia. Alto, esguio, cabelo grisalho e um olhar que analisava tudo como se fosse feito de código binário. Ele carregava uma prancheta na mão e o tipo de postura que fazia qualquer um medir as palavras antes de falar. Eu já o tinha visto em reuniões da equipe júnior — sempre à distância. Era a primeira vez que ele me chamava pelo nome e, pelo jeito, também a primeira vez que muitos ali me viam.
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  Porque bastou eu cruzar o corredor em direção à ala dos técnicos principais para sentir o impacto. E não foi de boas-vindas.
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  Olhares.
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  Um, dois, cinco.
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  Conversas que pararam no meio, parafusos que deixaram de girar. Testas franzidas, sobrancelhas arqueadas, e aquele silêncio que carrega mais julgamento do que qualquer palavra. Alguns me fitaram rápido, como se me catalogassem: nova, mulher, pequena demais pro ambiente. Outros me encararavam de cima a baixo, tentando encontrar a lógica por trás da minha presença. Como se eu fosse uma peça avulsa jogada na bancada errada.
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  — Esta é %Isla% %Torres% — Matteo anunciou sem entonação, como quem comunica uma troca de peça, não a chegada de uma nova colega. — Vai atuar com vocês nos boxes a partir de hoje. Experiente. Formada. Preparada.
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  Ninguém disse "bem-vinda". Nem um aceno de cabeça ou um sorriso real.
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  Um dos técnicos baixou os óculos de proteção devagar, me olhando como quem examinava defeito de fábrica. Outro, mais novo, se inclinou e cochichou algo pro colega ao lado — que soltou uma risadinha e bateu no ombro dele.
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  Curiosidade disfarçada de simpatia. Deboche com verniz de profissionalismo. Surpresa mal disfarçada de incômodo.
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  Engoli seco, mantendo a postura, se eu deixasse a coluna ceder ali, não voltaria a se alinhar nunca mais. Matteo seguiu andando, e eu fui atrás. Ouvi um comentário abafado vindo de trás:
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  — Essa é aquela da equipe de protótipos, né?
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  — A que apareceu no relatório da pré-temporada. O bom, lembra?
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  — Sim… mas achei que fosse só… treinamento.
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  Claro.
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  Treinamento.
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  Vitrine de diversidade.
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  Campanha bonita pra foto.
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  Aparentemente, ninguém ali achava que eu estaria no box para realmente colocar a mão na máquina.
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  Bom, eles iam descobrir...
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  Seguimos por entre bancadas, laptops com gráficos em tempo real, cabos pendurados, pneus alinhados como soldados. O cheiro de óleo e borracha queimada era o perfume da casa. E, de certa forma, reconfortante, mas o clima… o clima era de escaneamento.
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  Matteo parou diante de uma tela larga, cheia de dados e simulações rodando como um coração batendo rápido demais.
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  — Esse é seu setor. — Apontou com exatidão para o espaço delimitado por faixas vermelhas no chão. — Você vai trabalhar diretamente com o time responsável pelo carro número dezesseis.
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  Demorou um segundo pro meu cérebro entender.
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  Dezesseis.
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  O número não era só um número. Era um nome.
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  Charles Leclerc.
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  Senti o estômago revirar, não de medo, mas de decepção. Expectativa frustrada era um gosto amargo que descia lento. Se eu fosse sincera — e naquele momento, só dava pra ser —, uma parte de mim torcia pra cair no time do Hamilton. Alguém com mais anos nas costas, menos ego na frente, e uma fama de respeitar quem faz o carro dele funcionar.
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  Mas não. Eu ganhei o favorito da Ferrari e a bomba-relógio de humor instável que vinha junto. Suspirei fundo, ajeitando a gola do macacão. Matteo me olhou de canto.
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  — Algum problema?
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  — Nenhum — respondi. E acrescentei, seca, sem nem tentar esconder o tom: — Só… um desafio interessante.
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  Ou um castigo.
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  Porque se tem uma coisa que qualquer pessoa no paddock sabia é que Charles Leclerc podia ser brilhante no volante — mas insuportável fora dele. E agora, eu ia colocar as mãos no carro dele. Literalmente.
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  — Ele não vai gostar — murmurou alguém atrás de mim.
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  — Azar o dele — murmurei de volta, sem virar o rosto.
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  Era isso, meu nome agora estava vinculado ao dele.
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  O carro estava ali: vibrante, escarlate e intimidante. Encostado na plataforma hidráulica, com os pneus ainda cobertos, o número 16 estampado com orgulho na carenagem. Como se soubesse que era mais do que um veículo. Era símbolo. Era território. E, de certa forma, era.
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  Aproximei-me devagar, deixando o olhar passear pelas curvas da estrutura, pelas asas perfeitamente desenhadas, pelos detalhes milimetricamente planejados. Era uma máquina absurda. Arrogante até. Impecável.
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  A pintura brilhava. A aerodinâmica beirava a perfeição. O carro era um hino à engenharia. O problema, claro, não era a máquina, era o que ela vinha entregando.
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  Nas últimas três corridas, Charles não subiu ao pódio. E, com o desempenho, caiu também a paciência da equipe. Circulavam rumores — e na Fórmula 1, rumor era quase verdade. Falas sobre falhas técnicas, sabotagens internas, e, claro, a velha história de ego ferido destruindo conexões no rádio.
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  De fora, ele era o rosto da Ferrari. De dentro… um problema em alta velocidade.
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  Apertei os lábios e comecei a dar uma volta ao redor do carro, os passos lentos, quase cerimoniais, como se ele pudesse me contar onde doía. Era um hábito antigo o de ouvir o silêncio das máquinas. Às vezes, elas sussurravam segredos que nenhum gráfico revelava e, com frequência, diziam mais que os próprios pilotos.
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  Parei ao lado da asa traseira. Um desalinhamento mínimo no encaixe chamou minha atenção. Daqueles detalhes que a maioria ignorava, mas que, numa pista onde um milésimo de segundo decidia tudo, podia custar uma corrida inteira.
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  Cheguei mais perto. Deixei os ruídos do box desaparecerem atrás de mim. As vozes, as ferramentas, os sensores apitando… tudo se dissolveu até sobrar só a minha respiração e o carro. Passei os dedos devagar pela estrutura lateral, sentindo o leve relevo da tinta, o calor ainda pulsante das últimas voltas, os pequenos arranhões camuflados na perfeição da carenagem. Tudo nele era impecável. A estética, o ajuste, a engenharia.
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  Tudo, menos o que importava: o desempenho.
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  O carro, segundo os relatórios, estava instável em curvas médias, perdendo tração nas saídas e gerando tempos inconsistentes. A telemetria? “Quase certo.” Mas a pista não mentia.
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  Fiquei agachada ao lado da suspensão, o olhar treinado lendo o desenho das peças como quem lia um idioma secreto. E ali, de novo, o desalinhamento. Sutil. Milimétrico. Mas suficiente para causar vibração, ruído falso no torque, e perda de estabilidade em alta carga.
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  E foi quando vieram as vozes, aquelas que a gente fingia não escutar — mas nunca esquecia.
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  — Ainda ninguém resolveu a maldita instabilidade no eixo traseiro? — sussurrou um engenheiro, dobrando a prancheta com força contida.
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  — Já tentaram de tudo — respondeu outro, com desdém entediado. — E o príncipe do grid não ajuda muito com os surtos de estrelismo. Não dá para saber se o problema é o carro ou a cabeça dele.
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  — Ou os dois — completou um terceiro.
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  Fingi que não ouvi, mas ouvi e guardei cada palavra. Entre os dentes. Entre os ossos. Era isso que diziam fora dos rádios, longe das câmeras. Charles Leclerc: um prodígio temperamental, um milagre com ego inflado. E agora, o meu milagre problemático.
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  — %Torres% — chamou Matteo, a voz neutra, sem se virar. — Te passaram os dados de telemetria? A gente precisa entender por que o carro tá instável em curva média. Parece tudo certo no papel, mas em pista...
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  — Em pista, alguma coisa está sendo forçada demais — respondi, sem me levantar. — A resposta pode estar no torque de regulagem… ou na flexão da suspensão. Posso desmontar essa peça?
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  Matteo me lançou um olhar rápido por cima do ombro. Surpreso, talvez. Mas não me vetou. Assentiu.
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  — Pode. Está nas suas mãos agora.
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  Ele não fazia ideia do quanto essa frase carregava peso. Coloquei as luvas com um gesto calmo. Preciso. Na minha cabeça, um flash repentino se acendeu como uma lembrança indesejada.
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  Charles Leclerc.
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  Camisa branca da equipe semiaberta, cabelo bagunçado de propósito, expressão entediada, câmera ligada.
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  "Acho que se a equipe tivesse feito o trabalho direito, a gente não teria terminado atrás. Fiz a minha parte."
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  Outra cena: ele saindo do carro, jogando as luvas no cockpit com força, ignorando o engenheiro no rádio.
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  "Talvez se escutassem mais o piloto ao invés de só analisar planilhas..."
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  Mais uma — claro que tinha mais uma.
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  "Não, eu não tô feliz com o carro. E não, não vou sorrir para câmera." 
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  Revirei os olhos só de lembrar.  Aquele era o tipo de piloto que fazia barulho quando tudo dava errado… e se achava responsável por cada vitória quando tudo dava certo.
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  Bonito? Claro. Até demais.
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  Carismático? Talvez. Se você curtisse um ego com direção hidráulica.
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  Para mim, aquilo era verniz. Só um brilho liso cobrindo o clássico ego mimado da elite das pistas e agora ele era meu piloto. Ótimo.
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  Voltei ao trabalho. Puxei o carrinho de ferramentas pro meu lado e me abaixei de novo diante da suspensão traseira como quem se curvava diante de um segredo prestes a ser revelado. Tudo naquela parte do carro gritava perfeição, mas perfeição demais, às vezes, é só um bom disfarce.
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  Com uma chave torx em mãos, comecei a soltar a cobertura. Meus movimentos eram rápidos, mas contidos. Respeitosos. Eu não estava apenas desmontando um carro, estava entrando no território de um piloto que odiava mudanças, e mais ainda, odiava gente nova. Senti alguém se aproximar atrás de mim. Nem precisei olhar.
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  — Tá fazendo o quê aí? — a voz masculina veio com um tom debochado, arrastado, como quem testava limites.
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  Não respondi de imediato. Concluí o movimento e só então falei, sem tirar os olhos do que fazia:
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  — Verificando a flexibilidade da fixação traseira. Tem uma diferença mínima de acoplamento entre o lado esquerdo e o direito. Isso pode causar vibração em curva média e distorcer a leitura de torque.
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  Silêncio.
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  — Foi o que o estagiário sugeriu na etapa passada. E não deu em nada.
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  Virei o rosto devagar. Encarei o homem com um sorriso curto, seco, cheio de arame farpado.
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  — A diferença é que eu não sou estagiária e eu sei exatamente o que estou procurando.
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  Voltei a mexer. Soltei o encaixe interno com cuidado, girando a peça com a sensibilidade de quem escutava o carro com os dedos. E ali estava. Um desgaste lateral no anel de vedação. Invisível a olho nu. Só perceptível quando se sabia o que procurar — e quando.
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  — Achei — murmurei.
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  Ele se calou. Depois, ajoelhou ao meu lado e observou em silêncio por alguns segundos.
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  — Isso… não estava no relatório.
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  — Não mesmo — respondi. — Porque todo mundo aqui tá procurando defeito no lugar errado.
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  Me levantei com a peça na mão e caminhei até a bancada com os sensores. Matteo me observava de longe. Não disse nada, mas o aceno discreto com a cabeça… foi suficiente.
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  Foi ali que eu soube, a equipe podia não ter me recebido de braços abertos, mas a partir daquele momento, ninguém ia conseguir fingir que eu não estava ali.
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🏁🛠

  O alojamento da equipe ficava nos fundos do paddock, atrás de uma fileira de containers adaptados que pareciam ter sido montados com pressa e esquecimento. Camas estreitas, armários minúsculos e paredes tão finas que dava pra ouvir a respiração do vizinho de beliche — ou o ronco, se tivesse azar.
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  Nada de glamour. Nada de silêncio. Mas confortável o suficiente pra quem aprendeu a cochilar em bancos de oficina, com o som de parafusadeiras embalando o sono. Me joguei na cama sem tirar as botas, sentindo a musculatura reclamar do dia inteiro.
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  Os pés latejavam, os ombros estavam duros como aço e a cabeça rodava com dados, ruídos, e a lembrança constante de que todos ali estavam prontos para duvidar de mim. Suspirei fundo e estiquei o braço até o celular, largado no travesseiro como se esperasse por mim.
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  A tela acendeu com uma única notificação.
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  Videochamada – Papai 💛
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  Toquei. A tela piscou e então apareceu o rosto mais importante do mundo.
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  — ¡Hola, mamá! — disse %Liam%, com os olhos brilhando e o cabelo todo bagunçado, o pijama meio torto, o sorrisinho do pós-banho estampado no rosto.
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  Meu coração derreteu. Sem drama ou aviso. Derreteu de verdade.
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  — Oi, meu amor. Tudo bem por aí?
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  — ¡Sim! ¡A abuelita fez espaguete com bolinhas! — respondeu, animado. Depois baixou a voz como se contasse um segredo — Eu guardei duas bolinhas pro meu coelho de pelúcia.
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  Riu baixinho, cobrindo os olhos com a mão, como se aquilo pudesse conter a avalanche de ternura que subiu dentro de mim.
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  — Espero que o coelho tenha gostado. — Ele assentiu com tanta seriedade que parecia estar assinando um contrato.
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  — ¿Mamá… você já viu o carro do Leclerc? — Sorri de canto, massageando a têmpora com o polegar.
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  — Vi sim. Tá inteiro, bonitão… e exigente — brinquei. — Vermelho igual ao seu carrinho preferido.
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  — Uaaau... — ele sussurrou. — E é você que deixa ele rápido assim?
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  — Isso mesmo, meu piloto mirim. Sou eu quem cuida pra ele correr direitinho.
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  — Que legal… — Ele ficou pensativo por um instante, e então perguntou com os olhos brilhando: — E um dia a gente vai ver uma corrida de perto?
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  O tempo parou por um segundo. Só o suficiente pra eu respirar, só o suficiente pra sentir o que aquela pergunta causou dentro de mim.
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  — Vai sim — respondi, com a voz mais firme do que me sentia. — Eu vou te levar. Um dia você vai sentar na arquibancada, com um fone de ouvido gigante e uma bandeira vermelha nas mãos. E vai ver seu nome estampado na minha camisa e vai saber que tudo isso foi por nós dois.
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  Ele sorriu, satisfeito, como se aquilo bastasse. E antes de desligar, fiz uma careta, porque era tradição.
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  — E quem sabe até consiga um autógrafo do Leclerc... se ele não for um idiota completo.
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  %Liam% gargalhou. Aquele riso livre, redondo, cheio de luz. O som mais bonito que ouvi o dia inteiro.
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  Desliguei a chamada com o sorriso ainda preso no rosto, os olhos ardendo naquele ponto entre a exaustão e o amor. O tipo de cansaço que pesava, mas não machucava. O tipo de amor que sustentava o corpo mesmo quando tudo dentro dele queria deitar e chorar.
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  Me deitei de costas, sentindo o colchão duro ceder minimamente. Fechei os olhos por um instante — só um. Aquele segundo onde o mundo inteiro se calava e você se permitia existir sem performance.
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  Mas a paz durou exatos oito segundos. O celular vibrou de novo.
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  Uma nova notificação apareceu na tela acesa:
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  🔔 Alerta interno – Scuderia Ferrari
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  Charles Leclerc chegou ao paddock – status: em atividade.
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  Abri os olhos devagar, encarando o teto branco e sem graça do alojamento.
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  Era isso.
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  Amanhã, ele estaria ali. No box. Com o mesmo ego inflado que eu vi em dezenas de entrevistas, com a mesma fama de insuportável. E, agora, com o meu nome vinculado ao dele — no papel, no sistema, no carro.
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  Sorri de canto. Aquele tipo de sorriso que nascia do desafio, do cansaço e da vontade de vencer. Amanhã, eu conheceria o piloto que todos diziam ser insuportável. Mal podia esperar.
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  E, mesmo assim, eu continuei porque parar nunca foi uma opção. Porque meu pai, Ramón %Torres%, não deixou. Ele me…" Leia mais »

Maravilha, um pai sábio <3

Lelen
  E agora… eu estava aqui, no coração da Ferrari." Leia mais »

CHUPA, MUNDO! CHUPA, SOCIEDADEEEEE!

Lelen
  — Tá fazendo o quê aí? — a voz masculina veio com um tom debochado, arrastado, como quem testava limites." Leia mais »

Kirido, faz o seu trabalho e não se mete no trabalho dos outros, valeu?

Lelen

Olha, dependendo de quanto durar a fase “alecrim dourado” do Charles, eu posso pegar ranço dele INASDPOANDPO
E O LIAM É A COISA MAIS PRECIOSA DESSE MUNDO, PRECISAMOS PROTEGER ESSE MENINO DAS COISAS FEIAS DO MUNDO. AI DO CHARLES SE ELE FIZER QUALQUER BESTEIRA QUE CHATEAR O LIAM, EU VOU ENTRAR NESSA HISTÓRIA SÓ PRA DAR UMA BELA SACUDIDA NESSE HOMEM.
Eu amei demais essa família Torres, toda unida e se apoiando <3
Só espero que eu não tenha que me preocupar com o pai biológico do Liam aparecendo no meio da coisa pra complicar o futuro romance, amém.
No aguardo da continuação!

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