ENTRE LOBOS E HOMENS

  Na reserva, Leah explicou a todos qual era o plano escuso que ela e %Luna% compartilhavam. Há dias, entre leituras dos escritos achados no castelo e outros que ela pesquisou entre os povos de Forks, %Luna% havia entendido uma possível descoberta: de que a combinação do veneno de Mark com seu sangue era a provável resposta para dominar os lobos.

  %Luna% e Leah chegaram àquela conclusão um pouco depois de reunirem-se na cabana de %Bedingfield% e cruzarem linhas de pensamento. A hospedeira da deusa havia passado mal quando chegara da Bélgica, mas atribuiu aquilo ao cansaço. Porém, certa noite, ela e Leah reviam suas anotações e estudos, quando novamente aquele mal-estar a acometeu. %Luna% estranhou a maneira como estava ótima e de repente se sentiu fraca. A visão turva, escurecendo aos poucos, a palidez de sua pele, a queimação interior como se estivesse pegando fogo em seus órgãos e refletindo no calor da pele, entre outros sintomas atípicos e que preocuparam Leah.

  Por isso Valerie a caçava, por isso ela pretendia morder a humana a fim de transformá-la em algo maior e mais poderoso. E por isso Mark deveria estar perto quando Valerie fizesse aquilo, uma vez que ele estava também ligado a Rhikan.

  Mani seguia seu caminho de retorno à cabana de Black, assim que ficou firmado o pacto com Mark. Ela sabia que Jacob não estava bem com aquela ideia e que ele iria para a casa a fim de evitar descontar nela a sua raiva após terem passado por discussões recentes. Quando %Luna% entrou, Billy perguntou se tudo havia ocorrido bem com o plano de atrair o vampiro e ela apenas respondeu que Leah lhes explicaria tudo e foi imediatamente até Jacob. Ele estava no quarto arrancando suas roupas e mexendo no armário. Notando a presença de alguém em seu quarto, Jacob olhou em direção à mulher.

  — Preciso tomar banho e me acalmar, %Luna%.

  — Eu sei. Eu te espero aqui ou no meu quarto? — falou ela com voz calma e ele a olhou contrariado.

  — Corajosa, %Luna% — mencionou Jacob pela audácia dela em insistir estar perto dele quando a mulher bem sabia que Black estava com muita raiva de tudo.

  A expressão de incredulidade dele se contrapôs ao riso baixo de gozação que ela soltou e nem mesmo Black resistiu. Esqueceu a bronca que daria nela e apenas deu o braço a torcer indo abraçá-la.

  — Você é minha — disse ele após segundos de silêncio entre os dois.

  — E você, meu.

  — Que ideia é esta agora? Por que anda desafiando tanto o perigo… Sabe que ele… Ele… — Jacob suspirou cansado de discutir questões óbvias com a tão teimosa mulher amada.

  — Sei tudo o que vai dizer Jacob — afirmou %Luna% após o suspiro dele — e não tenho medo porque eu realmente sei o que estou fazendo, Black. Preciso testar todas as alternativas. E vocês estarão lá comigo. É um sacrifício que pode salvá-los!

  — Deve haver outro jeito. Nem mesmo sabemos se vai funcionar.

  — Se não funcionar, ao menos teremos Mark ao nosso lado. Eu pensei em tudo, Black. Eu e Leah temos o controle, eu prometo. Fica tranquilo.

  — Só de imaginar as presas daquele… — Fez uma cara de nojo. — Eu não sei se vou deixar.

  — Se eu me tornasse uma vampira, Jacob… — %Luna% precisou perguntar algo que vinha lhe incomodando os pensamentos desde que ela voltara da viagem: — Você ficaria comigo?

  Houve um silêncio constrangedor, então ela desviou o olhar do dele envergonhada. Não deveria ter feito uma pergunta tão cretina. Afinal, aquilo talvez fosse demais para todos. Não apenas para Black.

  Ele notou a reação dela, arrependida e também medrosa pela resposta. Pegou seu rosto delicadamente forçando-a a olhar em seus olhos:

  — Por que você viraria uma vampira? Isto é impossível, você já é uma loba.

  %Luna% sorriu, ainda que ele não tivesse respondido. Ainda que eles não soubessem as respostas certas, Jacob se esforçou em lhe acalmar. Ou talvez buscasse convencer-se do que ele mesmo dizia.

  A noite caiu mais rápido do que ela esperava e todos estavam a postos para a “escolta”. Billy estava extremamente descontente com tudo aquilo. Ele não acreditava que ela seria capaz, essa era a verdade e Jacob estava tenso como %Luna% nunca havia visto. Ela apertou sua mão, cruzando seus dedos aos dele e assim partiram. Os quileutes seguiam divididos entre o carro de %Luna% e Black. No meio da estrada, a caminho da entrada para a mata que indicava o antigo território dos Cullen, o pneu de um dos carros furou. Tiveram todos que parar e %Luna% aguardava calma dentro do seu carro embora a situação parecesse uma armadilha. Seth e Jacob, que haviam descido do carro para ajudar, estavam concentrados no que faziam e %Bedingfield% avistou pelo retrovisor que realmente seria rápida a troca. No entanto, quando retornou novamente o olhar para o para-brisa do carro %Luna% avistou ela, ali, parada com uma expressão de ódio e um sorriso amedrontador. Seu corpo gelou. Ela não sabia que reagiria daquela forma apática e assustada. Ela olhava para %Luna% como se esperasse alguma reação dela, alguma reação de confronto. Um tanto surpresa, assustada e sentindo como se aquilo tudo não passasse de uma ilusão, como se o tempo tivesse congelado, %Luna% saiu de seu carro, atordoada, e parou ao lado da porta aberta.

  — Me acompanhe, %Luna% Bobuna — a vampira disse aquilo sorrindo e deu-lhe as costas.

  %Luna% pôde respirar depois de sentir como se um vento tivesse passado por si. O tempo havia mesmo parado? Olhou para trás e o carro de Black com os demais amigos que haviam descido do seu para ajudar ainda estava parado, só que dessa vez, bem mais distante do dela. Ela havia dirigido mais a frente e não notou? %Luna% encarou o caminho à sua frente e tentava compreender o mísero lapso de memória de alguns minutos que a acometera. Rhikan deve ter se manifestado através dela ou foi uma influência da vampira que a pegou de surpresa num jogo de ilusão?

  Piscou de novo os olhos e fechou a porta do seu mustangue, olhando de novo na direção dos quileutes que logo terminariam de trocar aquele pneu. Seria uma armadilha? Mas ela não faria aquilo, não é? Ela viu que %Luna% estava acompanhada dos quileutes! Na dúvida, numa súbita onda de responsabilidade, o que era incomum de %Luna% em momentos de perigo como aquele, ela decidiu que iria avisar a algum deles. Quando ela virou o seu corpo para trás, deparou-se com Jacob a encarando com uma séria expressão. E então ele disse:

  — Vamos. O pessoal nos alcança, não podemos deixá-la escapar.

  %Luna% assentiu, aliviada por não estar sozinha e partiram a pé para o caminho onde Bella Swan havia seguido. %Luna% não estava se sentindo segura como deveria. E aquilo era estranho. Os dois, de mãos dadas, caminhavam seguindo os rastros da vampira pela mata.

  — Eu ainda não consigo acreditar que ela apareceu assim… — murmurou %Luna%.

  — Mark deve estar ligado a ela — respondeu Jacob nervoso, olhando ao seu redor com cuidado e avisou %Luna% que parecia mais gelada do que o normal: — Eles já sabem e estão bem atrás de nós. Fique tranquila, Mani, se fosse uma armadilha Bella não teria surgido daquele modo.

  — Eu não sei, Black… — %Luna% suspirou, sentindo o peito arder. — Tem alguma coisa me apertando o peito, algo está muito, muito errado… Não era este o plano…

  — Eu estou com você! — Jacob apertou mais a mão dela trocando olhares rápidos com ela. — Não tenha medo, meu amor.

  %Luna% respirou profundamente tentando se acalmar. O medo que sentia não era por ela, mas sim porque sabia que vingança era o que Bella queria de Jacob. Ela estava com medo de perdê-lo e pressentia uma aura de dor em volta dele. %Luna% estava certa de que precisava proteger seu amor.

  Depois de caminharem até uma clareira na mata, um pouco antes da antiga mansão Cullen, eles depararam-se com a vampira parada no meio da clareira. O pouco Sol refletindo o vitral que era a pele de um vampiro.

  — Bella… — mencionou %Luna% depois de tantos anos.

  — %Luna%. Quem diria que eu a encontraria aqui.

  — O que faz aqui Bella? — perguntou %Luna% sem dar muito espaço a nostalgias. Aquela não era mais a amiga que um dia ela tanto amou.

  — O que você faz aqui, minha amiga? — perguntou Bella de uma forma menos doce do que antigamente, e mais provocante. Quase com uma aura maldosa.

  — Você me trouxe aqui, ou melhor… A nossa antiga amizade — respondeu.

  — Jamais imaginei que isso seria possível. Você em Forks, %Luna%… Mas sabe, tenho algumas memórias de nosso passado e você sempre combinou muito mais com isso tudo do que eu. — A voz da vampira era agora um tanto sentimental. Ou parecia ser.

  — Para onde estamos indo? — perguntou %Luna% olhando ao redor como se buscasse outros iguais a ela.

  Jacob não tirava os olhos de Bella, e a vampira ainda não o havia encarado. Estava focada demais na presença da ex-amiga.

  — Você não ia encontrar-se com Killiam?

  — O quê? Como sabe disso? — perguntou %Luna% surpresa.

  Ela havia dado para Bella a resposta que a outra queria contra a sua real vontade. E naquele momento, ao dar-se conta daquele transe, percebendo que estava sendo manipulada, %Luna% despertou do domínio de Bella. Estava sob efeito de algum poder. E estava fazendo algo errado. Caindo na armadilha inimiga. Foi então que %Luna% colocou-se à frente de Jacob e focou o olhar à frente. Aquela não era Bella, mas sim, Valerie.

  — Merda… — sussurrou baixinho e escutou a vampira gargalhando.

  No mesmo instante que a vampira falava, %Luna% piscou de novo e a imagem de Black junto de si desfez-se em uma fumaça.

  — Você é forte. Despertou muito mais rápido do que qualquer outra pessoa.

  — Eu vou te matar, sua vampira maldita! — respondeu %Luna% com dentes cerrados.

  Ela sentia medo, mas estava tomada por muito ódio. Sua cicatriz queimava conforme seu desejo de estrangular a vampira aumentava. Contudo, quando piscou novamente seus olhos, %Bedingfield% deparou-se com Valerie à sua frente, as presas expostas e o rosto muito próximo ao seu. Estrategicamente, %Luna% não se mexeu, mas esperou que Valerie a tocasse. Sentiu novamente seus olhos queimarem, e no momento em que a vampira percebeu que havia algo diferente em %Luna%, soltou um riso de escárnio e se afastou. Ela havia notado que se tocasse nela, Rhikan faria algo.

  — Está mudando, humana… — Valerie sorriu com uma expressão de louca e sedenta, e, gargalhando, gritou: — Mas eu vou te matar mesmo assim!

  Valerie mal deu tempo de reação para %Luna%. Lançou-se sobre a humana que não conhecia os ataques de um vampiro e não sabia que tipo de coisas poderiam fazer, mas %Luna% entendeu que se Valerie fosse mais rápida que ela, então não lhe daria tempo de reagir. %Luna% tentou correr, mas antes mesmo que a mulher tocasse o chão no salto dado em direção à %Luna%, seu corpo foi atingido por outro. %Luna% não foi pega pela vampira porque Mark surgiu sobre Valerie. Eles começaram a lutar entre si, e a humana se afastou atenta a todos os lados da floresta.

  Começou a ouvir vozes a chamando. Eram os pensamentos de Jacob a lhe procurar. Então soube: ela podia mesmo ouvi-lo. Não era coisa da sua cabeça pela saudade que ela sentia quando ele estava fora. %Luna% se concentrou em ouvir a voz dele, em uma tentativa de reconhecer aquele novo formato de comunicação, mas o barulho da luta entre Mark e Valerie a distraía. Ela abriu os olhos, apavorada e atenta a eles. De repente, a cena mais horrível de toda sua vida, se fez vista: Mark subiu no corpo de Valerie e após girar seu pescoço, arrancou-lhe a cabeça. %Luna% gritou forte com o horror que era aquilo e se manteve com olhos arregalados. Mark jogou a cabeça sobre o corpo caído e puxando um isqueiro do bolso de seu sobretudo, ateou fogo nos restos de Valerie.

  — Lembra que tinha curiosidade sobre como se mata um vampiro? — perguntou Mark, olhando para %Luna% em uma placidez aterrorizante. — É assim que aqueles que não têm poderes como os seus fazem, %Luna%.

  A mulher ainda não conseguia dizer nada. Mark aproximou-se lentamente, suspirou ao vê-la assustada e com uma de suas mãos em seu ombro, guiou-a:

  — Vamos, você tem um pacto a fazer comigo.

  — Não! A alcateia não está aqui! — gritou %Luna% desperta, de repente, tentando afastar-se de Mark.

  O vampiro bufou e puxou a mão da mulher ao dizer:

  — Eles sabem aonde nos encontrar e logo te alcançarão! Devem estar saindo do transe de Valerie, e é perigoso nós dois ficarmos aqui sozinhos.

  Mark a puxava e %Luna%, atônita, ainda seguia ele. Ouviu novamente Jacob a chamando e ao passar pela fogueira do corpo de Valerie, sentiu-se uma humana frágil como há muito não se sentia. Então, concentrando-se na voz de Jacob ecoando em sua mente, ela conseguiu estabelecer uma conexão mental com Black.

  A mansão Cullen continuava a mesma de quando ela havia visto da primeira vez. Mark soltou o punho dela depois que estavam lá dentro e lhe indicou que sentasse no grandioso sofá branco.

  — Olhando-a daquele jeito, apavorada, até me esqueci do demônio de mulher que você é. Me pareceu uma presa fácil. Uma humana — disse ele em pé à frente de %Luna%.

  — Por um instante, eu também — respondeu ela e Mark riu com o sarcasmo.

  — Percebe que este pacto não faz o menor sentido para mim, não é? — ele reforçou a ela. — Valerie iria derrotá-la facilmente.

  — Então o que te fez aceitar?

  — Além do fato de provar teu sangue… — Os olhos dele, apenas a mencionar aquilo, adquiriram nova coloração. — Eu sou ainda mais perseguido agora. Com Darak morto eu perdi uma das minhas armas. Quanto a Valerie… Eu sabia que ela tentaria me matar, faz parte do plano de ser um sacrifício. E ainda tem isso. Me livrar da maldição.

  — Mark… Com tudo o que você sabe em todos estes anos sobre Rhikan e, ainda, com todos que você tem nas mãos… Agora me parece absurdo que você tenha realmente se sentido ameaçado por mim a ponto de aceitar estar do meu lado.

  — Você é muito inteligente e audaciosa, claro! — O vampiro riu com sarcasmo a olhando. — De fato, há mudanças em você. A ferida que deixei em seu braço não foi suficiente, mas teve algum efeito…

  — Você ainda esconde muita coisa. — %Luna% franziu o olhar ao ouvir aquilo e encarou a cicatriz da mordida do vampiro em seu braço, pensou um pouco e perguntou direta: — O que pretendia realmente com aquele ritual?

  — Separar Rhikan de você sem que eu morresse, domá-la e te transformar em uma de nós depois que estivesse livre dessa sua maldição.

  — Me transformar? Por qual motivo?

  Mark caminhou calmo até %Luna% com aqueles olhos predadores. Abaixou a face lentamente e roçou seu nariz no pescoço da mulher que se conteve em não reagir, movida pela mesma atmosfera sedutora que sempre sentia ao se tratar de Killiam. %Luna% notou um arrepio frio percorrer seu corpo. Aquele toque tão gelado era repulsivo demais para ela que gostava dos toques quentes. E lhe soou invasiva demais aquela aproximação de Mark, não menos invasiva do que todas as outras que ele já tivera consigo, no entanto, ainda assim ela sentia-se ligada a ele. O som de suas presas saindo a fizeram fechar os olhos, com o corpo rígido e tenso. Killiam afastou os cabelos dela com seus dedos delicados. %Luna% estava se sentindo inebriada por aquela sensação de perda de controle das próprias ações. Era assim então? Era desse jeito que uma vítima se sentia? Totalmente seduzida por aqueles mínimos gestos? Mark afastou o rosto do pescoço da mulher e ela abriu os olhos o encarando, confusa.

  O vampiro sorriu analisando as expressões no rosto de %Luna%. O famigerado brilho no olhar dele que fazia ela se sentir morta estava presente ali. Então, Mark respondeu sincero:

  — Pelo mesmo motivo o qual defendi você de Valerie.

  — E que motivo seria este?

  Novamente ele se aproximou do pescoço dela, sorrindo, e %Luna% suspirou profundo. Torcia para que Jacob chegasse logo e fechou os olhos se concentrando em saber por que ele tanto demorava. Não conseguiu, porém, perceber nenhuma comunicação, mas a barba rala de Mark roçando em seu rosto, o som de sua língua movimentando-se sedenta em sua boca ao pé de seu ouvido, a mão fria de toque delicado em sua nuca, poderiam ser o bloqueio para que %Luna% chegasse até Black em pensamentos.

  Mark engoliu a saliva, aspirou fundo o cheiro da mulher, %Luna% sentiu uma pressão na ponta de seus dedos e ouviu o sussurro com voz rouca em seu ouvido:

  — Porque eu te amo, %Luna%.

  Arregalou os olhos ao ouvir aquela confissão, mas não pôde sofrer por verdades tamanha a dor que ela sentiu ao toque dos dentes do vampiro em sua pele. Aquilo era ainda pior do que a primeira vez que ele havia mordido no punho. Desta vez, queimava muito mais e ela sentia-se entorpecida! Escutar e sentir o próprio sangue sair do seu corpo daquela maneira era uma das sensações mais horripilantes que %Luna% havia passado até ali. Era pior do que todas as outras muitas sensações absurdas que havia vivido.

  Black surgiu tempestivo no cômodo, Seth e Leah se aproximaram da mulher. Tudo foi rápido. Leah gritou algo ininteligível, mas eles sabiam melhor do que %Luna% o que estava acontecendo. Jacob puxou o corpo de Mark de cima da mulher e lhe deferiu um soco no rosto. %Luna% estava zonza, e Leah foi acudi-la acompanhada por Embry. %Luna% não era capaz de escutar nada, seus olhos pesavam, a visão estava turva. Ela viu aos três lobos: Black, Paul e Seth transformando-se à frente de Mark. E então não viu mais nada.

  Morta. Ela estava morta. Estava?

  Sons de água sendo depositada em algum recipiente se fez ouvir. E um cheiro doce de flores percorreu seu nariz. Lentamente %Luna% abriu os olhos e deparou-se com Leah ao seu lado.

  — Finalmente acordada, graças a Deus! — falou Leah ao notar os olhos abertos da amiga e se aproximou preocupada, mas aliviada.

  As duas ficaram em silêncio se observando alguns segundos. %Luna% não sabia o que perguntar, e Leah certamente aguardava a outra esboçar reações maiores. %Bedingfield% observou à sua volta descobrindo que estava em seu próprio quarto.

  — Jake está no banho, ele não saiu nenhum momento nesses dois dias do seu lado.

  — Dois dias? — perguntou confusa e se levantou um pouco a fim de sentar recostada à cabeceira da cama. Encarou as flores em um jarro ao lado de sua cama e Leah sorriu ao explicar de quem eram:

  — Malaika colheu. Disse que afastam maus espíritos. — Leah logo revirou os olhos e lançou com pouca paciência em seu tom implicante comum: — Como se fosse adiantar alguma coisa. O que são maus espíritos para tudo o que está acontecendo? Ela é muito legal, mas fala sério, que falta de noção…

  %Luna% começou a rir. Já se sentia mais animada. Passou a mão em seu pescoço e não havia nada. Nenhuma marca em nenhum lado. Então encarou Leah, confusa.

  — Ele não completou o beijo?

  — Seu emplastro. Parece que tem um efeito ainda mais poderoso em você — concluiu Leah. — Não ficaram cicatrizes das presas daquele faminto.

  — Estranho porque quando o criei eu testei em mim antes várias vezes.

  — Mas agora você é outra %Luna%.

  As duas silenciaram novamente se encarando, e %Luna% perguntou:

  — O que aconteceu, Leah? As memórias estão confusas na minha mente.

  — Quando chegamos você estava quase desfalecendo. Não deveria ter iniciado sem nós! Mark não conseguiu se controlar e estava prestes a finalizar tudo, até que os meninos tiraram ele de cima de você e o contiveram. E você fez a sonsa, né? Desmaiou para fugir da confusão que me arrumou! Mas foi bom porque aí eu e Embry ajudamos os meninos a controlar não só o Mark, como o Jake que estava a ponto de matar o vampiro.

  — Desculpe por isso tudo. E antes, sobre Valerie?

  — Nosso pneu realmente furou, mas não sabemos o que ela fez para despistar nosso faro… Foi uma armadilha bem feita dele.

  — Dele?

  — O filho da puta do vampiro armou matar a vampira te usando de isca! Falei que você confia demais nele! O Jake realmente só não o matou porque o contivemos, e Billy disse que ainda precisaríamos do frio… Mas, olha, nosso plano quase foi pelo ralo! — Leah falava com %Luna% como se a culpa fosse toda de %Bedingfield%.

  — Mas acha que funcionou?

  — Não sei, %Luna%. Só depois dos testes, embora, estejamos receosos… Mark parece ter ido além do que deveria com o beijo.

  — Quê?

  %Luna% ajeitou sua postura assustada. Leah lhe estendeu um espelho e %Luna% se sentiu apavorada de novo. Mani pegou o espelho e encarou sua própria figura. Não havia mudado, mas percebia-se que algo estava diferente. Uma expressão mais vívida, mais bonita. Os traços do rosto mais contornados, as olheiras de dias de sufoco haviam clareado e sua pele tinha um brilho um pouco mais incomum. Sua análise foi interrompida por Leah:

  — Está tão mais gata que eu me senti seduzida enquanto estava aqui.

  %Luna% então começou a rir, revirando os olhos por Leah lhe assustar daquele jeito.

  — Palhaça! Eu realmente fiquei preocupada, Leah!

  — Sério, não estou brincando, %Luna% — comentou Leah com expressão séria. — O veneno te atingiu da mesma forma como fez com Bella. Só que ela sempre foi uma morta-viva então não fazia diferença, mas você está diferente. Está realçada. E eu não estou brincando, fui expulsa do seu quarto três vezes pelo Jacob! Um idiota! Só porque eu fiquei repetindo que você estava linda… De certo modo, o veneno tem algum efeito novo sobre você.

  %Luna% começou a rir das coisas que a amiga contava e Leah imitou a voz grave de Jacob com zombaria:

  — “Ela pode ter virado um deles, Leah! Cala essa boca ou eu vou ter que te calar?”, “Saia, não vou falar de novo”, “Ok, Leah agora já deu!”.

  — Você é terrível… — comentou %Luna%. — Mas… Acha que Mark completou uma transformação?

  — Não. Seus olhos continuam os mesmos. Pelo que me lembro, é diferente quando acontece.

  — Ótimo! Porque eu não sei se o Jacob me aceitaria se…

  — %Luna%, você tem que saber é se ele vai aceitar o Mark te rondando após confessar que te ama! — Leah a interrompeu pegando %Luna% de surpresa com o assunto e sussurrou para a amiga: — Mas que droga! Será que vocês humanas não podem não se envolver com essa gente?

  %Luna% olhou para ela espantada e aproximou-se puxando a mão da amiga, falando baixo:

  — Então ele me disse mesmo aquilo, não é? E Jacob, ele já sabe?

  — Não! Eu cheguei antes dos meninos aquele dia e ouvi a conversa de vocês. Não quis interromper. Fiquei esperando o idiota contar os motivos dele, até que ele… Você sabe! E foi tão rápido que entrei correndo e só percebi os rapazes chegando quando Jake pulou sobre o frio.

  %Luna% tampou seu rosto com ambas as mãos de modo aflito.

  — Não sei como contar ao Black.

  — Não acho que deva contar… Foi a mesma coisa com a Bella, e ele já está nervoso demais com todas essas coisas acontecendo igual ao passado e…

  — Não é igual! — %Luna% a interrompeu, um pouco grosseira: — Eu não sou a Bella, eu não fiz nada igual a ela, e eu não me envolvi e nem vou me envolver com o Mark. Não tenho culpa se ele que se apaixonou por mim.

  — Tem razão… — disse Leah curiosa e revoltada: — Esses vampiros precisam parar de se apaixonar por humanas.

  — Não sou humana! — falou %Luna% ainda pensando em como contaria aquilo a Jacob.

  — Ah! Agora você sabe, né? — disse Leah sarcástica, e a amiga revirou os olhos para ela, perguntando a fim de desconversar o assunto: — Está com fome?

  Antes que %Luna% respondesse, Jacob surgiu no quarto, %Luna% sorriu e ele se apressou até ela ao notá-la acordada. Black puxou Leah de modo rude a jogando para fora da cama e abraçou %Luna%. A mulher olhou espantada para Leah que fazia caras e bocas, protestando contra Jacob:

  — Viu? Eu falei que ele está com ciúme de que eu roube você dele! — zombou Leah.

  — Sai daqui, Leah. — respondeu Jacob grosseiro ainda agarrado em %Luna%.

  — Eu como depois, Leah — %Luna% respondeu sua pergunta anterior, ainda abraçada ao namorado.

  Leah sorriu os admirando e acenou positivamente para %Luna%, desejando um silencioso “boa sorte”. Ela saiu e Black e Mani ficaram abraçados um ao outro. Aos poucos, ele analisou como ela estava, a encheu de perguntas preocupadas e ela respondeu tudo com tranquilidade, logo calando sua boca com um beijo de saudade. Os carinhos se tornaram intensos e eles pararam antes que perdessem o controle.

  Black comentou o quanto %Luna% havia ficado ainda mais linda após a trágica semi transformação, e o quanto estava preocupado com as sequelas daquele plano louco. Passaram um tempo curtindo a presença um do outro, juntinhos na cama. Havia saudade em todos os seus gestos. Jacob a aninhava em seu corpo quente, e ela relembrou os toques de Mark. %Luna% havia ficado apavorada naquele momento, mas ao sentir a pele incendiante de Jacob, ela se sentiu ainda mais apavorada. Definitivamente Mark era a morte para ela, enquanto Jacob, a sua vida.

  — Eu ouvi tudo. — De repente a voz dele ecoou calma e grave no silêncio.

  — Como?

  — Eu ouvi o que ele te disse. Ouvi os seus pensamentos.

  — Black… — murmurou %Luna% abrindo e fechando a boca sem saber o que dizer.

  Ela se sentiu culpada por não ter falado sobre aquilo ainda e pensava em uma maneira de não parecer que estava lhe escondendo aquilo, mas Jacob começou a sorrir para ela e, calmo, a beijou.

  — Mani… Eu não estou nem um pouco satisfeito em saber que ele te deseja, mas não é como se eu não desconfiasse dele desde o momento que ele surgiu… — Jacob massageou as bochechas da mulher a encarando com um sorriso e continuou: — E além do mais, é como eu disse… Eu escutei seus pensamentos. Sei tudo o que sente por mim, ainda mais agora.

  %Luna% não pôde não ruborizar com aquilo. Ela o olhava curiosa e Black começou a rir de repente, ainda a encarando ao contar:

  — Você estabeleceu uma conexão sem volta. Agora vai saber como é ser um lobo… — ele disse como se confirmasse seus pensamentos.

  %Luna% ainda estava em dúvida e sorriu. Desceu os olhos para a boca dele admirando aquele sorriso. Novamente todos aqueles processos de sorrisos, que pouco a pouco foram sendo desbloqueados para ela, se passaram em sua mente como as melhores memórias. %Luna% mordeu seu lábio inferior e suspirou profundo, querendo se aninhar ainda mais ao abraço do seu amor, e assim fizera. Jacob se ajeitou melhor na cama com ela e riu de modo sussurrado:

  — É sério que você pensa em mim o tempo todo? — perguntou ele em um tom de voz abobalhado.

  — Saia agora da minha cabeça, Jacob Black — %Luna%, risonha, o repreendeu.

  Então, ela fechou os olhos e sorriu confortável em seu abraço quente.