Capítulo 10
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“E daqui vejo seu sorriso, sei bem do que ele é capaz de fazer.”
Hoseok observava Namjoon enquanto eles caminhavam pela exposição no museu. Desde que chegaram, ele notou algo diferente no amigo, algo que fez seus olhos brilharem de uma forma que Hoseok não via há algum tempo. Namjoon falava sobre cada obra com uma precisão e uma paixão que surpreenderam Hoseok. Ele conhecia cada detalhe, cada técnica, e explicava com tanta clareza que parecia até ter estudado o assunto por anos. Hoseok não conseguia tirar os olhos do rosto de Namjoon enquanto ele apontava para as pinturas, esculturas e gravuras, detalhando suas histórias, os estilos e as influências dos artistas.
Depois de um tempo explorando a galeria, eles saíram do museu e decidiram comprar sorvete em uma pequena sorveteria ali perto. Agora, sentados em um banco de praça, Hoseok ainda tinha em mente tudo o que havia presenciado naquela exposição. Ele não conseguia evitar a curiosidade que crescia dentro dele.
Hoseok deu uma lambida no sorvete, ainda encarando Namjoon de lado, e soltou a pergunta que estava martelando em sua mente desde a visita ao museu.
— Por que você nunca fez um curso ou escolheu uma faculdade voltada para essa área de artes?
Antes que Namjoon pudesse responder, Hoseok se perdeu por um momento em suas próprias reflexões. O quanto o amigo realmente entendia daquilo? A forma como Namjoon falava, a paixão e o conhecimento profundo que ele demonstrava sobre as obras, tudo indicava que ele tinha um talento natural, quase como se a arte fosse uma segunda natureza para ele. E foi então que Hoseok se deu conta: Namjoon nunca tinha seguido aquela paixão. Mesmo sendo tão claramente fascinado pela arte, ele havia escolhido um caminho completamente diferente.
Namjoon sorriu de forma tímida, desviando o olhar do sorvete para o chão. A pergunta de Hoseok o pegou de surpresa, mas não de forma negativa. Ele apenas não esperava que o amigo tivesse percebido tão facilmente algo que ele sempre guardava para si.
— Eu... — ele começou, dando uma leve risada sem graça enquanto coçava a nuca. — Eu nunca achei que fosse algo com o qual eu realmente pudesse trabalhar, sabe? Sempre pareceu mais um hobby do que uma carreira.
Ele deu uma mordida no sorvete, usando o momento para pensar melhor no que dizer. Hoseok continuava a observá-lo, interessado e paciente, o que deixava Namjoon um pouco mais à vontade para continuar.
— E também... — ele suspirou, levantando os olhos para o horizonte à frente deles. — Acho que nunca me achei bom o suficiente. Tipo, tem tanta gente incrível nessa área... — Ele riu, balançando a cabeça. — Talvez tenha sido falta de confiança, ou medo de fracassar. Sei lá... E, com o tempo, fui me afastando disso.
Hoseok franziu o cenho, como se tentasse entender a lógica por trás daquelas palavras. Namjoon era brilhante, e ver alguém tão talentoso duvidando de si mesmo mexia com ele.
— Mas você entende muito! — Hoseok disse, de repente. — Eu vi isso hoje, Namjoon. Você não só gosta, você vive a arte quando fala sobre ela. Você tem um olhar especial, e eu nunca vi ninguém falar sobre essas coisas com tanta paixão. Não deveria se subestimar assim.
Namjoon sorriu, mas o desconforto ainda pairava em seus olhos. Ele balançou a cabeça, claramente grato pelas palavras de Hoseok, mas também ainda lidando com a própria insegurança.
— Talvez seja tarde demais para isso — ele disse, rindo de leve. — Eu já escolhi outro caminho.
Hoseok ficou em silêncio por um instante, como se estivesse ponderando algo importante. Então, ele respondeu de forma suave, mas determinada:
— Nunca é tarde demais, Namjoon.
Namjoon ergueu o olhar e encontrou o de Hoseok. Por um instante, tudo ao redor pareceu se silenciar. O sorriso tímido desapareceu dos lábios de Namjoon enquanto ele absorvia o significado das palavras de Hoseok.
— Talvez você tenha razão... — Namjoon murmurou, a voz baixa, quase como se estivesse refletindo em voz alta. — Nunca é tarde demais, não é?
O olhar intenso que Hoseok lançou em sua direção fez o coração de Namjoon acelerar. Havia algo naquele momento que ia além da conversa sobre carreira ou insegurança. Era como se, de repente, ambos tivessem se dado conta de que estavam em um ponto decisivo — não só na vida profissional, mas também na relação entre eles.
Os olhos de Hoseok, sempre tão expressivos, diziam mais do que qualquer palavra poderia. Namjoon sabia que aquele olhar continha apoio incondicional, mas também uma profundidade que o deixava sem fôlego.
Por alguns segundos, eles ficaram ali, trocando aquele olhar intenso e cheio de significados não ditos. O mundo ao redor parecia parar. Era apenas eles dois, o silêncio preenchido pela conexão que os dois sempre tiveram, mas que agora parecia diferente, mais forte, mais real.
— Hoseok... — Namjoon começou a falar, sem saber ao certo o que viria a seguir, mas com a sensação de que estava prestes a cruzar uma linha invisível.
Hoseok não disse nada. Ele apenas continuou a encarar Namjoon com a mesma intensidade, como se esperasse por algo, mas sem pressioná-lo. Namjoon sentiu o impulso de falar mais, de se abrir, de finalmente dizer o que estava em seu coração há tanto tempo...
Ele respirou fundo, sentindo o coração disparar no peito. Aquela era a chance que ele vinha adiando por tanto tempo. O momento estava ali, claro, como se o universo tivesse criado aquela situação exatamente para isso. Hoseok continuava olhando para ele, e a intensidade do silêncio entre os dois só aumentava a pressão dentro de Namjoon.
Ele tentou falar, mas as palavras ficaram presas em sua garganta por um segundo.
"E se fosse o momento errado?",
"E se Hoseok não sentisse o mesmo?", os pensamentos vinham como um turbilhão. Mas, ao mesmo tempo, Namjoon sabia que não poderia continuar fugindo. Eles já tinham perdido tanto tempo, e a vida era curta demais — a perda recente do pai de Hoseok só havia reforçado isso.
— Hoseok... — Namjoon começou de novo, agora com a voz mais firme. Ele não desviou o olhar, mesmo com o nervosismo fazendo suas mãos tremerem levemente. — Tem uma coisa que eu preciso te dizer... Algo que eu venho guardando há muito tempo.
Hoseok franziu o cenho levemente, a curiosidade e talvez um pouco de apreensão surgindo em seus olhos.
— Eu não sei como começar — Namjoon riu nervosamente, passando a mão pela nuca — mas eu não posso mais deixar isso guardado, não depois de tudo que passamos.
Ele respirou fundo, fechando os olhos por um segundo, antes de encarar Hoseok novamente, com toda a sinceridade que ele podia reunir.
— Eu sou apaixonado por você, Hobi. Sempre fui... Desde que a gente era mais novo, acho. Mas eu só percebi o quanto isso era real quando quase te perdi... — Namjoon deixou as palavras saírem, sua voz baixa, mas carregada de emoção. — Eu não consigo mais fingir que é só amizade. Eu te amo, Hoseok. E eu não quero perder mais tempo.
O silêncio que se seguiu pareceu durar uma eternidade. O coração de Namjoon estava disparado, e ele não sabia o que esperar da reação de Hoseok. Cada segundo parecia se arrastar enquanto ele esperava, a tensão no ar quase palpável.
Hoseok respirou profundamente, desviando o olhar de Namjoon por um instante e focando no sorvete que estava derretendo em sua mão. Ele passou a língua distraidamente no sorvete, como se precisasse de um momento para processar tudo o que havia acabado de ouvir.
Namjoon, por sua vez, continuou esperando, o silêncio entre eles crescendo a cada segundo. A expectativa o corroía por dentro, e ele não conseguia evitar que um leve nervosismo o tomasse.
— Você não vai falar nada? — Namjoon finalmente quebrou o silêncio, sua voz saindo mais hesitante do que ele pretendia.
Hoseok levantou os olhos para ele, a expressão ainda um pouco distante, mas com um sorriso contido se formando em seus lábios.
— Vou — ele disse calmamente, colocando o sorvete de lado. — Mas não aqui, no meio da rua.
Namjoon piscou, surpreso com a resposta, e uma ponta de alívio começou a surgir no fundo de seu peito.
— Topa jantar lá em casa? — Hoseok sugeriu, com um sorriso mais largo agora, os olhos voltando a brilhar com uma leveza que Namjoon não via há algum tempo.
Namjoon soltou uma risada curta, balançando a cabeça.
A tensão que havia se acumulado até aquele momento começou a se dissipar, substituída por uma sensação de tranquilidade, como se, de repente, tudo estivesse no lugar certo.
***
Namjoon parou em frente à porta do apartamento de Hoseok, segurando uma garrafa de vinho branco na mão. Ele sabia que era o favorito de Hoseok, e queria que aquela noite fosse especial, considerando o que estava por vir. Respirou fundo antes de tocar a campainha, o nervosismo voltando a rondar seu estômago.
Alguns segundos depois, a porta se abriu, revelando Hoseok com um sorriso acolhedor. Sherlock, o cachorrinho deles desde a infância, correu animado até Namjoon, balançando o rabo com entusiasmo. Namjoon se abaixou imediatamente, rindo ao acariciar o cachorro, enquanto Sherlock o enchia de lambidas.
— Olha só quem também estava com saudades! — Hoseok comentou, rindo da cena enquanto abria mais a porta, dando espaço para Namjoon entrar.
— Ele sempre foi o mais animado da casa. — Namjoon respondeu, ainda rindo e dando um último carinho em Sherlock antes de se levantar.
— E o mais mimado. — Hoseok brincou, olhando carinhosamente para o cachorro, antes de reparar na garrafa nas mãos de Namjoon. — Vinho branco? Você realmente me conhece bem.
Namjoon sorriu meio sem jeito, entregando a garrafa para Hoseok.
— Achei que ia combinar com o jantar… e, bem, achei que seria uma boa maneira de... relaxar um pouco.
Hoseok pegou a garrafa com um sorriso suave e assentiu.
— É perfeito. Entra, Namjoon. Vamos aproveitar a noite.
Namjoon entrou no apartamento, fechando a porta atrás de si enquanto Sherlock continuava ao seu redor, animado como sempre. Ele se abaixou de novo, desta vez dando mais atenção ao cachorro, que pulava e lambia suas mãos. O carinho entre os dois trouxe um breve alívio ao nervosismo que Namjoon sentia.
— Parece que ele não quer me deixar em paz — Namjoon riu, acariciando as orelhas de Sherlock, enquanto o cachorro se deitava ao seu lado, satisfeito com a atenção.
— Ele adora você, sempre adorou — Hoseok comentou, voltando da cozinha após colocar o vinho na geladeira. Ele ficou alguns segundos observando a cena, o sorriso no rosto crescendo ao ver Namjoon tão à vontade com Sherlock.
— Eu também adoro ele — Namjoon disse, levantando-se e ainda olhando para o cachorro, que agora rolava no chão, pedindo mais carinho. — Ele foi uma das melhores coisas da nossa infância, não foi?
Hoseok sorriu, se aproximando.
— Com certeza. Sherlock sempre esteve lá, como uma parte de nós dois.
Namjoon olhou para Hoseok, seus olhos se encontrando por um momento mais longo.
Hoseok coçou a nuca, meio sem jeito, enquanto desviava o olhar.
— Bom, eu... nunca fui muito bom na cozinha, sabe? — Ele riu, um pouco nervoso, olhando para os próprios pés por um segundo. — Então acabei encomendando o jantar. Deve estar chegando daqui a pouco.
Namjoon soltou uma risada suave, sentindo um alívio cômico com a confissão.
— Não se preocupe, Hoseok. Já imaginava que isso ia acontecer — ele brincou, balançando a cabeça. — Você nunca foi de passar muito tempo na cozinha mesmo.
Hoseok riu também, agora um pouco mais relaxado.
— Verdade, acho que isso não mudou muito desde a faculdade — respondeu, sentindo-se mais à vontade.
Namjoon e Hoseok se acomodaram no sofá, um de cada lado, enquanto Sherlock, sempre animado, se aconchegava no meio deles, deitando a cabeça no colo de Namjoon. O cachorro parecia tão confortável quanto os dois, balançando levemente a cauda.
— Ele gosta de você mais do que de mim — Hoseok brincou, dando uma leve risada enquanto acariciava as orelhas de Sherlock.
— Acho que ele sabe quem o mimava desde filhote — Namjoon respondeu, sorrindo, enquanto fazia carinho no cachorro.
Hoseok observou a cena por um momento, vendo Namjoon tão confortável ali. Era como se estivessem de volta à rotina de quando eram apenas dois amigos inseparáveis, mas ao mesmo tempo, algo no ar parecia diferente.
O silêncio entre eles foi preenchido apenas pela respiração tranquila de Sherlock, que agora dormia no colo de Namjoon, criando uma atmosfera acolhedora.
Quando o interfone tocou, anunciando a chegada do jantar, Hoseok deu um leve pulo no sofá.
— O jantar chegou! — Ele disse, levantando-se rapidamente.
— Eu vou buscar lá embaixo. — Namjoon se ofereceu, colocando Sherlock gentilmente de lado e se levantando. — Você pode ir preparando a mesa.
— Tem certeza? — Hoseok perguntou, coçando a nuca com um sorriso sem graça. — Eu posso ir...
— Relaxa, eu vou! — Namjoon respondeu com um sorriso, já caminhando em direção à porta. — Aproveita e arruma tudo aqui, deixa o ambiente pronto.
Hoseok acenou com a cabeça e foi em direção à cozinha, aliviado por não ter que lidar com a entrega naquele momento. Ele começou a pegar os talheres e pratos, tentando não pensar muito no fato de que, em breve, eles teriam uma conversa séria sobre os sentimentos de Namjoon.
Enquanto Namjoon descia, ele arrumava tudo com cuidado, colocando os pratos e guardanapos na mesa, tentando fazer parecer que estava calmo, mas, por dentro, seu coração estava a mil.
Alguns minutos depois, Namjoon voltou segurando as embalagens do jantar. Ele entrou pela porta com um sorriso tranquilo.
— O cheiro está ótimo — comentou, colocando as sacolas na bancada da cozinha. — Pronto, missão cumprida.
Hoseok sorriu, tentando esconder a ansiedade que ainda sentia.
— Que bom! Espero que esteja tão bom quanto parece. — Ele respondeu enquanto se aproximava para ajudar a retirar as embalagens. — Já deixei tudo pronto na mesa, podemos nos ajeitar.
Namjoon deu uma olhada ao redor e percebeu o esforço de Hoseok em arrumar o ambiente. A mesa estava simples, mas bem organizada, com os pratos e talheres alinhados, e Sherlock estava deitado perto da mesa, observando os dois com sua costumeira curiosidade.
— Você realmente caprichou. — Namjoon disse com um sorriso, enquanto eles começavam a distribuir os pratos pela mesa.
— Fiz o que pude, né? — Hoseok respondeu, rindo baixinho, ainda sem graça.
Os dois se sentaram à mesa, abrindo as embalagens e se servindo. Hoseok observava Namjoon enquanto ele servia a comida, e apesar da aparente normalidade, ambos sabiam que havia mais coisas no ar do que apenas o jantar.
Os dois começaram a jantar em silêncio por alguns instantes, o som suave dos talheres preenchendo o espaço. Hoseok, tentando aliviar a tensão, foi o primeiro a puxar assunto, relembrando momentos da juventude.
— Lembra da primeira vez que fomos juntos a uma exposição de arte? — ele perguntou, o olhar distante enquanto cortava um pedaço de sua comida.
Namjoon sorriu, se lembrando claramente daquele dia.
— Claro que lembro. Eu estava animado com a exposição do Van Gogh, mas você... estava meio perdido, achando que tudo era só uns rabiscos estranhos — Namjoon riu, balançando a cabeça.
Hoseok riu também, sentindo a nostalgia suavizar o peso que estava em seus ombros.
— É, não era muito minha praia naquela época. Mas confesso que, com o tempo, acabei pegando o gosto — ele admitiu, sorrindo de lado. — Acho que foi você quem me fez ver a beleza nas coisas simples, sabe?
Namjoon olhou para ele com um brilho nos olhos.
— Fico feliz de ouvir isso. Mas você sempre teve esse lado sensível, Hoseok. Talvez só precisasse de alguém para te ajudar a enxergar — disse, sua voz suave, porém cheia de significado.
O silêncio voltou a se instalar, mas dessa vez não era desconfortável. Sherlock, que estava quieto até então, decidiu se aproximar, cutucando Namjoon com o focinho, o que fez os dois rirem.
— Ele nunca mudou, né? Sempre carente de atenção — Hoseok comentou, acariciando o cachorro.
— Sempre. — Namjoon concordou, sorrindo e se abaixando para fazer carinho em Sherlock também. — Lembra de quando ele era filhote e quase destruiu seu quarto inteiro?
— Como esquecer? — Hoseok riu, balançando a cabeça. — Eu queria te matar por me convencer a adotar ele, mas depois de um tempo não consegui mais ficar bravo.
Namjoon sorriu com carinho, observando Hoseok enquanto ele falava. Havia algo reconfortante em estarem juntos daquela forma, relembrando momentos passados, e aos poucos, a tensão que pairava no ar foi dando lugar a uma sensação de familiaridade, de segurança.
— A gente já passou por muita coisa, né? — Hoseok disse, mais para si mesmo, sua voz ficando mais suave e pensativa.
Namjoon apenas assentiu, sabendo que, mesmo sem dizer mais nada, aquela frase carregava todo o peso dos anos e das experiências que compartilhavam.
***
Depois do jantar, Hoseok e Namjoon se levantaram da mesa, e Hoseok automaticamente começou a recolher os pratos e talheres, enquanto Namjoon pegava as embalagens descartáveis.
— Eu lavo, você seca? — Hoseok sugeriu, já abrindo a torneira e enchendo a pia com água morna.
— Claro — Namjoon respondeu com um sorriso, pegando um pano de prato e se posicionando ao lado dele.
Hoseok começou a lavar os pratos em silêncio, concentrado nos movimentos. O som da água corrente, o tilintar suave dos talheres e o ranger da esponja preenchiam a cozinha. Namjoon, ao lado, secava cada peça cuidadosamente e as colocava no lugar. Os dois estavam em perfeita sincronia, como se tivessem feito aquilo inúmeras vezes antes. Uma leve tensão, no entanto, pairava no ar, diferente do conforto das conversas anteriores.
Em um momento, quando Hoseok estendeu um copo para Namjoon, os dedos dos dois se tocaram por um breve segundo. Era um gesto simples, mas carregado de uma energia diferente. Ambos congelaram por um momento, o toque inesperado causando uma leve faísca entre eles.
Hoseok tirou a mão de volta rapidamente, um tanto sem jeito, enquanto Namjoon, do outro lado, fingia se concentrar em secar o copo. O clima, que antes era leve e descontraído, de repente parecia carregado de algo mais intenso, algo que estava crescendo silenciosamente entre eles.
Pouco tempo depois, enquanto se moviam pela pequena cozinha, o inevitável aconteceu. Namjoon se inclinou para pegar um prato que Hoseok havia lavado, e naquele exato momento, Hoseok se virou para entregar a ele outro copo. Os dois se esbarraram, os corpos quase se colidindo, fazendo com que ambos parassem no lugar, olhos arregalados.
Hoseok abriu a boca para pedir desculpas, mas as palavras não saíram. Namjoon, a apenas alguns centímetros de distância, olhou diretamente nos olhos dele, seus corações batendo forte, como se o ar ao redor tivesse ficado mais pesado.
Sem perceber o que estava fazendo, Hoseok deixou o copo de lado, seus olhos presos nos de Namjoon. Havia uma mistura de sentimentos no rosto do amigo — algo que Hoseok não via há muito tempo. Era desejo, vulnerabilidade, e uma profundidade que ele não sabia que Namjoon conseguia carregar em um olhar.
Antes que qualquer um dos dois pudesse pensar, as distâncias foram quebradas. Antes que qualquer um dos dois pudesse processar, as distâncias foram quebradas de maneira natural. Namjoon se inclinou levemente, os lábios roçando de forma hesitante e suave os de Hoseok. Era como se o mundo ao redor tivesse desaparecido, deixando apenas o toque sutil e quente entre eles. Hoseok, surpreso no início, sentiu seu coração disparar, uma corrente elétrica percorrendo seu corpo.
Os lábios de Namjoon pressionaram com mais firmeza, mas ainda com uma delicadeza que transmitia a incerteza daquele momento. Hoseok respondeu ao beijo, cedendo àquele toque que já parecia inevitável há algum tempo. Ele fechou os olhos, permitindo que a conexão o envolvesse, e levou uma das mãos ao pescoço de Namjoon, puxando-o suavemente para mais perto.
O beijo foi lento, profundo, carregado de significados não ditos. Hoseok sentia a respiração de Namjoon se misturando com a sua, o calor dos corpos próximos aquecendo o ar ao redor. As mãos de Namjoon subiram até a cintura de Hoseok, apertando-o gentilmente, como se quisesse gravar aquele momento na pele.
Quando os lábios finalmente se separaram, ambos estavam ofegantes, as testas encostadas uma na outra. O silêncio que se seguiu foi denso, mas não desconfortável. Hoseok abriu os olhos devagar, encontrando os de Namjoon que o encaravam com uma mistura de surpresa e afeto.
— Eu... — Hoseok começou, a voz rouca. — Eu não sabia que precisava tanto disso até agora.
Namjoon sorriu, um sorriso tímido e vulnerável, muito diferente da confiança habitual. Ele passou o polegar suavemente pelo rosto de Hoseok, acariciando a pele quente.
— Acho que eu também não... — Namjoon murmurou. — Mas agora que aconteceu, não consigo imaginar diferente.
Hoseok respirou fundo, tentando processar tudo o que sentia, o peito ainda apertado com as emoções intensas. Ele riu baixinho, um som quase nervoso, e sacudiu a cabeça levemente.
— Nós acabamos de nos beijar enquanto lavamos a louça. — Ele comentou com humor, a boca se curvando em um sorriso suave.
Namjoon riu, relaxando um pouco, o peso da situação suavizado pelo comentário de Hoseok.
— Acho que nem toda grande história precisa de um cenário épico, não é? — Ele brincou de volta.
Os dois se encararam por mais alguns segundos, o ambiente agora mais leve, mas ainda carregado daquele novo sentimento que começava a florescer.
***
Depois do beijo, o ar parecia diferente entre eles, como se algo tivesse mudado de maneira irreversível. Hoseok e Namjoon trocaram sorrisos discretos, voltando às louças, mas com uma nova energia no ambiente. Cada toque, mesmo acidental, parecia carregado de significados, mas agora havia uma leveza, como se uma barreira invisível tivesse sido derrubada.
Eles terminaram de lavar e secar os pratos em silêncio, mas era um silêncio confortável, cheio de pequenos olhares e sorrisos que diziam mais do que palavras. Quando a última peça foi colocada no armário, Hoseok secou as mãos no pano de prato e se virou para Namjoon.
— Acho que agora merecemos um pouco daquele vinho que você trouxe, né? — Ele disse, com um sorriso brincalhão, apontando para a garrafa que ainda estava na geladeira.
— Com certeza. — Namjoon concordou, caminhando até a geladeira e pegando a garrafa de vinho branco que havia trazido como presente.
Hoseok tirou duas taças de um armário próximo, entregando uma para Namjoon enquanto ele abria a garrafa. O som suave da rolha saindo da garrafa encheu o pequeno espaço, e Namjoon cuidadosamente serviu as taças, entregando uma a Hoseok com um sorriso cúmplice.
— Ao que brindamos? — Namjoon perguntou, levantando sua taça.
Hoseok refletiu por um momento, olhando para Namjoon com uma expressão calorosa.
—
A nós. — Ele respondeu, a voz suave, mas cheia de significado.
Namjoon sorriu, o olhar cheio de carinho e gratidão. Eles brindaram, o som delicado das taças se tocando ecoando pela cozinha. Ambos tomaram um gole, e Hoseok suspirou de satisfação.
— Sempre foi o meu favorito. — Ele comentou, apreciando o sabor do vinho branco.
— Eu lembro. — Namjoon disse, com um olhar significativo. — Por isso fiz questão de trazer.
Hoseok riu baixinho, sentindo-se ainda mais à vontade com a situação. Eles se dirigiram para a sala de estar, se acomodando no sofá com Sherlock subindo logo em seguida, se aninhando entre os dois. O cachorrinho parecia entender o clima, sentindo-se seguro entre as duas pessoas que ele mais amava no mundo.
Com as taças nas mãos e Sherlock esparramado entre eles, Hoseok e Namjoon relaxaram, trocando olhares e palavras tranquilas, enquanto o vinho e a companhia aqueciam a noite.
Com Sherlock acomodado entre eles, o ambiente se encheu de uma tranquilidade acolhedora. Hoseok tomou mais um gole do vinho, sentindo o calor da bebida relaxá-lo, mas era a presença de Namjoon ao seu lado que realmente trazia aquela sensação de segurança. Os olhares que trocavam eram silenciosos, mas profundos, como se tudo estivesse sendo dito através da conexão invisível que haviam partilhado desde sempre.
Hoseok virou a cabeça na direção de Namjoon, que já o observava com um olhar sereno, mas intenso. O sorriso suave nos lábios de Namjoon fez o coração de Hoseok bater mais rápido, como se algo estivesse prestes a acontecer.
— Obrigado por estar aqui comigo — Hoseok murmurou, a voz baixa, quase como se não quisesse quebrar o momento.
Namjoon colocou a taça de lado e, sem dizer nada, apenas inclinou-se ligeiramente, fechando a distância entre eles. Os olhos de Hoseok acompanharam o movimento, até que os lábios de Namjoon se encontraram novamente com os seus. Dessa vez, o beijo foi mais profundo, mais seguro, como se estivessem se permitindo sentir tudo o que haviam segurado por tanto tempo.
As mãos de Namjoon encontraram o rosto de Hoseok, acariciando sua pele com ternura, enquanto Hoseok retribuía o beijo com a mesma intensidade, deixando-se levar por aquele momento tão desejado. Sherlock, ainda aninhado entre eles, fez um movimento leve, mas nenhum dos dois se afastou. A sensação de estarem exatamente onde deveriam estar dominava o ambiente.
Quando o beijo se desfez lentamente, ambos permaneceram próximos, respirando juntos. Hoseok abriu os olhos, seus lábios ainda formigando com a sensação do toque de Namjoon.
— Eu acho que finalmente entendi o que sempre esteve na nossa frente — Namjoon sussurrou, o polegar acariciando a bochecha de Hoseok.
— Eu sei. — Hoseok sorriu, o olhar brilhando com carinho. — Não acredito que demoramos tanto.
Namjoon riu suavemente, encostando a testa na de Hoseok, aproveitando o momento.
— Acho que era o tempo certo, afinal. — Namjoon murmurou, a voz carregada de uma ternura que aquecia ainda mais o coração de Hoseok.
E ali, com o vinho esquecido e Sherlock aconchegado entre eles, Hoseok e Namjoon sabiam que algo novo havia começado.
***
Depois de mais alguns momentos em silêncio, Hoseok puxou Namjoon para mais perto, descansando a cabeça em seu ombro enquanto ambos observavam Sherlock dormindo entre eles. O silêncio confortável só era interrompido pelo som suave da respiração do cachorro e o vento leve que entrava pela janela.
— Sabe... — Hoseok começou, sua voz baixa e pensativa. — Eu fico imaginando como as coisas teriam sido diferentes se tivéssemos feito isso antes.
Namjoon sorriu, seus dedos brincando com as pontas dos cabelos de Hoseok.
— Talvez não estivéssemos prontos antes. Mas o que importa é que estamos aqui agora. — Ele respondeu, a voz cheia de convicção.
Hoseok assentiu, sentindo o conforto que vinha das palavras de Namjoon. O tempo que haviam perdido parecia pequeno comparado ao que ainda tinham pela frente. Ele ergueu o rosto para olhar Namjoon e não resistiu ao impulso de beijá-lo de novo, dessa vez com mais calma, como se estivesse aproveitando cada segundo daquele momento que parecia tão certo.
— Acho que não quero que você vá embora hoje. — Hoseok confessou com um sorriso tímido após o beijo, os olhos brilhando de ternura.
Namjoon riu baixinho, inclinando-se para dar um beijo leve na testa de Hoseok.
— Eu também não quero. Mas... — Ele suspirou, se afastando levemente, mas mantendo um olhar carinhoso. — Amanhã tenho algumas coisas para resolver cedo.
Hoseok fez um bico, claramente desapontado, mas compreendeu.
— Tudo bem. Mas vou te segurar mais um pouco antes de você ir. — Ele brincou, enlaçando Namjoon com os braços e encostando a cabeça no peito dele novamente.
Eles ficaram ali por mais alguns minutos, conversando sobre o futuro, sobre as pequenas coisas que fariam juntos e como seria dali para frente. A intimidade era palpável, e o carinho nos gestos de ambos fazia parecer que já haviam vivido assim por toda a vida.
Finalmente, depois de muitos momentos doces, Namjoon suspirou profundamente, como se estivesse tentando encontrar forças para se levantar.
— Está na hora, não é? — Hoseok perguntou, percebendo o movimento de Namjoon.
— Infelizmente sim. — Namjoon se levantou, mas antes de ir até a porta, ele parou e olhou para Hoseok. — Eu volto amanhã, ok? E a gente continua de onde parou.
Hoseok sorriu, levantando-se também e seguindo Namjoon até a porta.
— Promete? — Ele perguntou com uma voz brincalhona, mas havia um toque de seriedade em suas palavras.
— Prometo. — Namjoon respondeu com um sorriso suave, antes de puxá-lo para mais um abraço apertado, sentindo o calor e a segurança que sempre encontrava em Hoseok.
Quando finalmente se separaram, Namjoon deu um último beijo suave nos lábios de Hoseok, antes de abrir a porta e sair para a noite. Hoseok ficou parado ali, observando até que Namjoon desaparecesse no fim da rua, com o coração mais leve, sabendo que, apesar de tudo o que passaram, agora eles tinham um novo começo juntos.
Ele fechou a porta com um sorriso nos lábios, pronto para o que quer que viesse a seguir.
***
Poucos dias depois…
A festa na casa de Suga e Soo-min estava em seu auge, com risadas e conversas enchendo o ambiente. Todos os amigos estavam lá: Jin, Jungkook, Taehyung, Jimin e os demais, espalhados pela sala e no quintal, animados e se divertindo. Hoseok, no entanto, estava levemente distraído. Ele e Namjoon tinham passado mais tempo juntos nos últimos dias, e aquela conexão que antes parecia tão platônica havia se tornado algo mais. Ele sabia que Namjoon sentia o mesmo, mas não imaginava o que estava prestes a acontecer.
Namjoon, por outro lado, estava agitado. Ele havia planejado tudo em segredo, com a ajuda de Suga e Soo-min, e agora era a hora. Ele respirou fundo, pegando uma caixinha que havia guardado no bolso do casaco. Ajoelhar-se na frente de todos os amigos era uma ideia que o deixava nervoso, mas ele sabia que valeria a pena.
No centro da sala, onde a música tocava e as pessoas riam, Namjoon bateu levemente na taça de vinho com uma colher, chamando a atenção de todos.
— Pessoal! — Ele começou, a voz firme apesar do coração acelerado. — Desculpem interromper por um momento, mas... eu tenho algo muito importante pra fazer aqui hoje.
Hoseok, que estava no canto conversando com Taehyung, olhou para Namjoon com curiosidade, sem fazer ideia do que viria a seguir. Ele notou que seus amigos sorriam de forma cúmplice, e uma leve desconfiança passou por sua mente.
Namjoon deu um passo à frente, seus olhos encontrando os de Hoseok.
— Hobi... — Ele começou, e o silêncio tomou conta da sala. — A gente se conhece há tanto tempo, e você sempre foi alguém muito importante na minha vida. — A voz dele começou a ficar um pouco trêmula de emoção, mas Namjoon respirou fundo e continuou. — E nos últimos dias, depois de tudo o que passamos, eu percebi que não quero perder mais tempo. Quero que a gente construa algo juntos, que a gente viva o que sempre evitamos por medo ou por não saber o que o outro sentia.
Os olhos de Hoseok começaram a brilhar, e ele se aproximou um pouco mais, sem saber ao certo o que dizer ou o que esperar.
Então, de repente, Namjoon se ajoelhou no chão, tirando do bolso a caixinha com um anel. Todos ao redor suspiraram e trocaram olhares emocionados.
— Hoseok... — Namjoon sorriu, os olhos brilhando de nervosismo e amor. —
Você quer ser meu namorado? O silêncio que caiu na sala foi esmagador. Todos aguardavam a resposta de Hoseok, que olhava para Namjoon com o coração acelerado. Ele nunca tinha imaginado que algo assim aconteceria daquela forma, em frente a todos os seus amigos, no meio de uma festa. Mas, ao mesmo tempo, sentiu que era exatamente o que deveria ser.
Hoseok respirou fundo, piscando algumas vezes para conter as lágrimas de emoção.
— Eu... — Ele começou, a voz embargada, e então sorriu, sem conseguir segurar a alegria que explodia dentro dele. — Claro que eu aceito,
moonchild.
Namjoon sorriu, aliviado e radiante, enquanto todos ao redor aplaudiam e gritavam de felicidade. Ele se levantou e colocou o anel no dedo de Hoseok, antes de puxá-lo para um abraço apertado e um beijo suave, sob os aplausos e assobios dos amigos.
Jin foi o primeiro a gritar brincando:
— Finalmente, hein?! Já estava na hora!
Todos riram, e logo Suga e Soo-min se aproximaram para parabenizá-los, seguidos por Jungkook, Jimin e Taehyung, que cercaram o novo casal com abraços e sorrisos. A festa, que já estava animada, agora tinha se tornado uma celebração ainda mais especial.
— Eu não acredito que você fez isso na frente de todo mundo. — Hoseok riu, sussurrando no ouvido de Namjoon enquanto o abraçava.
Namjoon deu de ombros, ainda segurando Hoseok com carinho.
— Achei que merecíamos um momento grandioso. Você merece isso.
Hoseok sorriu, beijando Namjoon mais uma vez, sem se importar com quem estava assistindo. A partir daquele momento, o mundo deles era só um, e nada mais importava. Afinal de contas, agora eles não eram mais
apenas amigos.
Fim