Your teeth on my neck

Escrito por autumn night | Revisado por Mariana

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   atravessou a porta dos fundos da boate, deixando a música eletrônica para trás. Acenou com a cabeça para o segurança, sem coragem de tirar as mãos do bolso do casaco. O outono já se fazia presente e estava mais frio que o normal. A boate ainda estava lotada naquela sexta-feira, mas o seu horário havia terminado e ela tinha um compromisso inadiável. Com a mochila nas costas, ela apressou o passo para chegar até o carro.
  — Tem certeza que não quer ir?
  A voz da colega a assustou. A mulher estava encostada no próprio carro, fumava um cigarro e tremia um pouco com o frio. Mais cedo naquela noite, já havia recusado o convite para uma festa na casa de alguém que ela não conhecia.
  — Fica para a próxima. Eu realmente já tenho planos para hoje.
  Disse, já abrindo a porta do carro e jogando a bolsa no banco do passageiro.
  — É um encontro?
   sentiu algo estranho no estômago. Ela queria muito que aquilo fosse um encontro.
  — Mais ou menos?
  A mulher sorriu.
  — Tudo bem, então, está perdoada. Divirta-se.
  — Você também.

***

   abriu a porta antes que pudesse estender o braço para bater. Era estranho e assustador às vezes, mas também deixava seu corpo todo arrepiado só de pensar que ele podia sentir seu cheiro de tão longe.
  — Oi!
  Ele disse e abriu espaço para ela passar. não respondeu, passou por ele entrando na casa e jogou sua mochila no sofá da sala. Como de costume, o cômodo estava escuro, mas mesmo sem enxergar bem, ela conseguia ver que tudo estava limpo e organizado. Ele sempre limpava tudo quando sabia que ela estava vindo. As lâmpadas presas nas paredes se acenderam por todo o cômodo automaticamente. estava ficando bom nisso, aos poucos ele ia descobrindo como usar suas novas habilidades.
  Sob a luz amarela era possível ver a elegante decoração em cores escuras. Parecia meio clichê, mas não conseguia deixar de achar que tudo combinava perfeitamente com a personalidade de .
  Todos os pensamentos sobre a decoração daquela casa velha sumiram quando ela sentiu os braços dele em volta da sua cintura e seu nariz pressionado no seu pescoço.
  — Você está cheirando muito bem hoje.
  — Só hoje?
  Ela inclinou a cabeça para dar mais espaço a ele.
   pressionou os lábios na pele sensível do seu pescoço e sentiu as pernas fraquejarem quando os dentes dele encostaram levemente simulando uma mordida.
  — Não. Você sempre cheira bem. Mas hoje está me enlouquecendo.
  —
  Ela gemeu e esticou mais ainda o pescoço.
  — Por favor...
   se afastou dela de repente e caminhou em direção à cozinha.
  — Vamos! Fiz seu prato preferido.
  Esse era outro ritual que ele fazia questão de seguir todas às vezes que ela o visitava. Antes de tudo acontecer, ele a obrigava a sentar-se e comer qualquer coisa que ele tivesse cozinhado especialmente para ela.
  Há alguns meses, encontrou à beira da morte nos fundos da boate que ela trabalha como dançarina. Estava quase inconsciente em uma poça de sangue, era óbvio que ele havia sido mordido por um vampiro e ela não fazia ideia do que fazer. a implorou para que não chamasse as autoridades.
  Vampiros e humanos vivem em uma falsa paz há algumas décadas, mas há regras a serem seguidas. Vampiros se alimentam de sangue sintético e são proibidos de atacar humanos, com a punição de pena de morte para quem mordeu e para o mordido caso ele entre em transição.
  Sem saber o que fazer, ela o colocou em seu carro o levou para a casa e o alimentou quando percebeu que ele morreria de qualquer jeito se não bebesse sangue humano. Após trazê-lo de volta, ela sente-se responsável por ele, uma necessidade estranha de cuidar do outro.
   foi tirada dos seus pensamentos quando sentiu algo se esfregar nas suas pernas. O pequeno animal a olhou intensamente e miou. Com a luz que vinha da cozinha, ela conseguia ver o brilho da pelagem cinza-escuro do gato de estimação de , quando ouviu o miado choroso seguinte, abaixou-se para fazer carinho em sua cabeça. Ele a julgava com aqueles olhinhos brilhantes.
  — Vai me contar o que seu dono andou aprontando nos últimos dias?
  O gato miou novamente e afastou-se para algum lugar daquela grande casa.
  Ela caminhou até a cozinha e parou na entrada observando se mover enquanto servia tudo que tinha preparado. Podia notar nele os sinais de que não se alimentava há dias.
  — Está como fome, ? Sei que não come nada a noite toda naquela boate.
  — Estou bem, não precisava ter se incomodado.
  — Precisava, você já sabe como funciona. Venha aqui — disse, fazendo um gesto com a mão.
  — Você não parece bem. Não deveria esperar tanto para me chamar, não me incomodo de vir antes do dia marcado.
   sentou-se à mesa e pela primeira vez se deixou sentir o cheiro delicioso da comida que ele preparou. era um excelente cozinheiro e ela sabia que aquela macarronada estava nada menos que divina. Uma pena que comida de verdade não o sustentasse mais.
  — Não se preocupe, estou bem. E nosso acordo funciona perfeitamente do jeito que está. Uma vez a cada dez dias, você vem aqui e oferece seu pescoço e eu cuido de você enquanto você está chapada de veneno de vampiro até que consiga ficar em pé. Eu me alimento e fico saciado por dias, e você tem algumas horas extasiada com a melhor droga que existe. A troca perfeita.
   ainda mastigava a primeira colher da comida quando sentiu todo seu apetite se esvair. Colocando daquela maneira, a situação era bem mais estranha do que parecia ser na sua cabeça.
  — Não estou negligenciando minha saúde pós-morte, , e não tenho interesse e nem penso em sair por aí mordendo outras mulheres bonitas.
  — Mas você sabe que pode fazer isso se quiser, certo? Não é como se isso fosse exclusivo ou algo assim — disse remexendo a comida no prato — Eu não controlo você.
   sorriu mostrando os dentes. tentava não encarar, mas era difícil não olhar para aquelas presas brilhando sob a luz fluorescente.
  — Não, , não estou mordendo mais ninguém.
  Ele apoiou os cotovelos na mesa e a encarou.
  — Você precisa comer.
   precisava se forçar a comer mais um pouco, sabia que ele precisaria dela em boa forma se quisesse se alimentar o suficiente por mais 10 dias. o imaginou mordendo-a, sugando-lhe o pescoço… e então lembrou-se da sensação maravilhosa que o veneno deixava eu seu corpo por algumas horas. Ela mal podia esperar por aquilo, tinha que comer, precisava de toda a sua força.
   terminou de se alimentar com tudo o que havia na mesa e, enquanto comia, o silêncio no aposento era estranhamente natural. apenas a observava atentamente.
  Enquanto olhava o prato vazio, percebeu que não se lembrava de quando foi a última vez que havia comido uma refeição inteira. Estava sempre com pressa para ir trabalhar e estava sempre faminta. As únicas vezes em que comia de verdade e podia descansar por algumas horas era quando estava ali na mansão assombrada de . As únicas horas em que tinha um pouco de paz era quando estava ali na companhia dele, que era considerado um inimigo para os humanos.
   limpou os lábios com o guardanapo bordado, bebeu água e finalmente olhou para ele novamente.
  — Está pronta?
  Ele sorriu e não esperou por uma resposta antes de levantar-se e puxá-la da cadeira com um só braço. Ele enlaçou sua cintura e a carregou em direção ao quarto. Ele sempre fazia aquilo, demonstrava sua força do jeito mais sexy possível, como se a diferença de altura dos dois já não fosse o suficiente para mostrar que ele poderia esmagá-la se quisesse.
   desceu por um lance de escadas até o porão que ele havia transformado em suíte e as portas duplas do cômodo se abriram para que os dois entrassem. As lâmpadas se acenderam uma por uma e um resplendor dourado iluminou o cômodo. No canto havia uma enorme cama com lençóis de cetim branco que pareciam recém lavados e um monte de travesseiros arrumados cuidadosamente.
  Ele parou em frente a cama e virou-a de costas, afastando seu longo cabelo negro do pescoço e começou a traçar beijos que subiam até sua mandíbula e lateral da sua boca. sempre se perguntava se um dia ele iria beijá-la de verdade.
    — Seu cheiro me deixa louco, . Sempre tão cheirosa para mim. Só para mim.
  O elogio a fez se derreter inteira e devagar ela deitou-se na cama à sua frente. a seguiu e continuou sugando a pele do seu pescoço e deixando marcas ali que ela teria que cobrir com maquiagem no dia seguinte. Ele parou por um instante para ajustá-la na cama e puxar os travesseiros para apoiar seu pescoço. Ela suspirou. Seu corpo estava esquentando.
  O vampiro se inclinou sobre ela e afastou os seus cabelos para trás.
  — Você precisa tirar sua blusa. Não vamos arriscar estragar outra peça de roupa sua.
   retirou a blusa com a ajuda dele, revelando uma segunda peça de roupa, uma camiseta mais fina e mais cavada, deixando seu pescoço e ombros bem mais expostos.
voltou a beijá-la, dessa vez nos ombros.
  — Está pronta? — falou contra sua pele.
  — Quer andar logo com isso?
  Ele riu, mas conseguia sentir que ele estava ansioso para começar tanto quanto ela.
inclinou-se novamente sobre ela e empurrou levemente sua cabeça contra o travesseiro.
  Primeiro ela sentiu os lábios sobre o pescoço novamente, uma suave carícia. Em seguida, suas presas roçaram gentilmente no que parece ser o lugar onde fica sua artéria. sentia seu sangue ferver nas veias. A mordida foi rápida e a dor intensa, mas melhor ainda foi a sensação que se seguiu.
   gemeu quando o calor do veneno partiu do seu pescoço e se espalhou pelo seu corpo. Era uma sensação mágica, a melhor coisa do mundo. Ela agarrou os cabelos dele, puxando-o para mais perto e fazendo com que ele se deitasse totalmente sobre ela.
  — … — ela gemeu. Suas mãos passeando por seus braços musculosos.
  Enquanto ele bebia, tocava o corpo dela em lugares que já sabia que a deixava ainda mais inebriada. Seu corpo arqueou involuntariamente só de fantasiar o que mais aquelas mãos podiam fazer com ela.
   queria poder dizer que o veneno era a única coisa que a deixava daquele jeito e não o peso do corpo dele sob o seu. levou as mãos aos cabelos dele mais uma vez e um gemido de satisfação sou da garganta de enquanto ele bebia com mais urgência.
  O quarto estava girando, mas ela só conseguia pensar no quão bom era estar ali nos lençóis que cheiravam a ele, na cama que ele deitava todos os dias à espera da sua próxima visita. não queria que aquele momento terminasse.
  Depois de horas ou minutos, sentiu lamber seu pescoço fechando o ferimento.
  — Não… Eu quero mais…
  Ela disse em um gemido patético.
  — Você já teve o suficiente, e eu também.
  Ele deu um último beijo em seu belo pescoço.
  Ela franziu a testa tentando demonstrar insatisfação mesmo que mal conseguisse manter os olhos abertos. O veneno ainda corria nas veias, deixando todo seu corpo sensível ao mais leve toque das mãos dele que agora tocavam seu rosto com um carinho que a deixava mais desesperada por algo que ela ainda não sabia o que era.
  — Você está bem? — Questionou.
  — Eu quero mais.
  Ele riu um pouco.
  Ele a ajeitou no travesseiro e a encarou por um longo momento antes de beijar sua testa, seu nariz e bochecha.
  — Algum dia vai me beijar de verdade?
  — É o que eu mais desejo. Mas não assim, não quando você não sabe o que está dizendo. E amanhã não se lembrará de nada.
  Seu rosto se fechou com uma expressão de dor, como se dizer aquilo o machucasse fisicamente.
  — Vamos dormir.
  — Não estou cansada, quero conversar com você. Quero-
  — Hoje não, você precisa dormir.
  Ele lhe deu um último beijo na testa e deitou-se ao lado dela. Essa era a parte favorita de , dormir de conchinha com o vampiro que ela desejava. As luzes se apagaram, restando apenas o abajur ao lado da cama. Ele sabia que ela não gostava da escuridão.
   ainda estava entorpecida, sentia seu corpo flutuar sobre a cama. O veneno e o cansaço da jornada de trabalho a levaram para a terra dos sonhos onde tudo era perfeito e ela não precisava sair daquele quarto.
  Na manhã seguinte, ela acordou com um peso sobre sua barriga, abriu os olhos devagar e a pequena cabeça de repousava sobre seu peito a observando com os grandes olhos azuis.
   se mexeu, fazendo com que o animal pulasse para o chão com um miado ofendido. Sentou e se espreguiçou. Sempre dormia tão bem naquela cama.
  O gato miou mais uma vez antes de sair do quarto, como se tivesse sido enviado para acordá-la. não fazia ideia de que horas eram, o quarto sem janelas a deixava desorientada.
  Subiu as escadas seguindo o felino e logo sentiu um delicioso cheiro de bacon. estava em pé na frente do fogão.
  — Dormiu bem? Sente-se, vou servir você.
  — , eu falei sério ontem a noite. Não venho aqui só pelo veneno. Venho por você.
   ficou paralisado e não se virou para ela. caminhou até ele e segurou sua mão.
  — Se lembra do que me disse ontem a noite? Sobre seu maior desejo?
   olhou nos olhos dela.
  — Claro que sim.
  — Então o que está esperando?
  O vampiro virou-se para ela e a agarrou pela cintura. Quando os lábios dele tocaram os dela, não foi nada gentil e delicado, ele também a desejava da mesma maneira.
   sentiu seu corpo derreter com o toque das mãos dele na pele exposta da sua cintura e o jeito que a língua dele saboreava cada canto da sua boca. Os seus lábios se encaixavam perfeitamente, e ela sentiu seu corpo estremecer quando a sua língua tocou de leve uma das presas de . Aquela sensação era melhor do que o veneno de vampiro ou qualquer outra droga que ela tenha experimentado antes.
  — E eu achei que seu sangue era a coisa mais deliciosa que eu já provei na vida… ou na morte.
   sussurrou no ouvido dela.
  — Então não pare de me beijar.
  — Eu fiz café da manhã para você. Você precisa comer alguma coisa.
  — Eu não me importo. Eu quero você agora.
  Ele sorriu e voltou a beijá-la.
  Êxtase. Era exatamente a palavra que definia o que sentia naquele instante. Os suaves lábios de estavam colados aos seus, tão macios, ela sabia que nunca seria capaz de parar. Seus pequenos dedos se embrenharam nos fios de cabelo da nuca dele, puxando-os sem qualquer receio, fazendo-o agarrá-la com mais força, colando os corpos que se encaixavam deliciosamente.
  Um frágil suspiro escapou por entre os seus lábios, ela nunca sentiu algo tão intenso.
  — Você é um pecado, – O vampiro murmurou com um sorriso safado atravessando seus lábios.
  — Acho que eu devo dizer o mesmo.
  Aquele sorriso a enlouquecia, aquele vampiro estava fazendo uma bagunça com suas terminações nervosas. havia finalmente conhecido o vício que seria o seu fim.

FIM



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