Your Eyes Are My Mirror

Escrito por Bianca Teixeira Rocha | Revisado por Lelen

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Música: Mirrors, por Justin Timberlake

  Eu lembro como se fosse ontem...
  Eu estava fazendo um show em Londres, quando recebi uma ligação, a ligação que mudou minha vida, uma ligação dizendo que a tinha sofrido um acidente de barco e entrou em coma.
  A partir daí minha vida foi esse hospital, cuidando da minha menina preciosa, me pergunto todo dia por que ela tinha que dirigir esse barco tão rápido? Por que...?
  Faz 3 anos que quase não saio do lado dela, larguei tudo para cuidar da minha menina preciosa, é agonizante olhar para ela e não poder beija-la, não poder abraça-la, não poder te-la para mim. Só em pensar que eu não tive a oportunidade de passar o tempo que eu gostaria de ter passado com ela...

  *Flash back on*
  - VOCÊ NÃO PARA EM CASA! NUNCA MAIS SAÍMOS JUNTOS, VOCÊ SÓ LIGA PARA SUA PORCARIA DE CARREIRA E AINDA QUER QUE EU FIQUE EM CASA TE ESPERANDO?
  - E VOCÊ NEM GOSTA DE NAMORAR UM CARA FAMOSO, NÉ?
  - ENTÃO É ISSO? ACHA QUE EU SÓ LIGO PARA SEU DINHEIRO?
  - VOCÊ FAZ TUDO PARA APARECER NAS MANCHETES! "NAMORADA DE SAI BÊBADA DE CLUB"
  - VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI E EU PRECISO ME DIVERTIR DE ALGUM JEITO!
  Então ela saiu batendo a porta e eu fui para minha turnê.
  *Flach back off*

  Será que isso foi culpa minha? Ela só queria um dia comigo e eu não fiz nada...
  Passo a mão nos cabelos dela, ainda tem cheiro de morango, mesmo depois de 3 anos nessa cama, ela consegue continuar linda, minha menina preciosa, como eu queria ver esses brilhantes olhos olhando para mim como no dia que nos conhecemos, mesmo antes de te conhecer, eu já te amava...

  *Flash back on*
  Eu não sei o que acontece comigo, eu sonho com essa menina todo dia nesse mesmo café, entrando por aquela porta, mas nunca acontece.
  Eu estava prestes a ir embora quando entra a menina que eu sempre sonhei, eu não sei como isso poderia estar acontecendo, ela era de verdade ou apenas mais um sonho? Preciso ir falar com ela, mas como?
  - Oi... Pode me emprestar o açúcar? - eu disse sem coragem.
  - Pode pegar - disse ela sem nem mesmo olhar para mim, concentrada em seu livro.
  - Obrigado... - eu peguei o açúcar tocando em seu braço em uma tentativa bem sucedida de fazê-la olhar para mim.
  - Você... - ela perdeu as palavras e eu não pude deixar de rir.
  - Como você se chama?
  - Me chamo mas pode me chamar de , e você? - disse ela sorrindo.
  - Meu nome é – eu disse sorrindo, será mesmo que ela não me conhece?
  - É... Eu imaginava – e quando ela sorriu eu soube que era ela.
  *Flash back off*

  E é você eu sei que é você...

  Enquanto eu estava de olhos fechados apertando a mão pálida e gelada dela, senti uma mão em meu ombro, quando me virei, vi que era o médico.
  - Doutor? Está tudo bem? – Perguntei.
  - É por isso que eu vim aqui conversar com você, . Podemos ir a minha sala para conversarmos? – O médico murmurou.
  - Claro. – Concordei.
  Enquanto caminhávamos para a sala dele, eu percebi que ele estava nervoso, com um ar triste, não quero pensar no pior.
  - Pode se sentar, – disse ele assim que chegamos a sua sala.
  - Por favor, por favor, me diga algo bom, doutor.

  - Eu gostaria de dizer que ela vai acordar, mas... O estado dela além de estar estagnado, está piorando, seus sinais vitais estão ficando cada vez menores, ela não tem movimentos faciais nem movimenta as mãos, como seria comum se ela estivesse melhorando... Senhor, faz 3 anos que ela está sendo sustentada por máquinas, ela não consegue sequer respirar sozinha, me desculpe dizer isto mas o senhor não acha que já está na hora de deixa-la ir?
  - O senhor está louco? Me desculpe falar assim mas enquanto eu puder pagar para este hospital tratar dela, ela viverá! Eu não vou deixar a mulher que eu amo morrer!
  - Está tudo bem senhor , eu te entendo completamente, por favor pegue os papeis de requerimento para desligar as máquinas, leia e pense sobre o assunto, converse sobre isso com os familiares e amigos dela e depois me procure para dizer sua decisão continua a mesma, pode ser? - disse ele com um tom duro demais levando em conta que ele estava falando sobre a vida de alguém.
  - Tudo bem, doutor. Eu pensarei sobre o assunto.

  Saí do hospital aos prantos, minha menina preciosa não pode ir, eu não posso viver sem ela...
  Depois de passar mais uma noite ao lado dela, as enfermeiras as enfermeiras me disseram que iriam dar banho, cortar o cabelo e fazer os cuidados da , eu tenho o dia livre então resolvi chamar pessoas próximas dela para conversar.
  Liguei para todos e algumas horas todos já estavam na minha casa, infelizmente não tinha mais o pai, ele faleceu em um acidente de carro.

  - Pessoal, eu chamei todos aqui para conversar com vocês sobre a , essa é a última coisa que eu queria estar dizendo mas ela não está melhorando e os médicos disseram que o estado dela está piorando, ela não da mais sinais como piscar ou mexer as mãos e... E eles querem desligar as máquinas – essa foi a coisa mais difícil que já disse na minha vida, já com o rosto cheio de lágrimas.
  - O que? Como? Por quê? Não vão fazer isso! Não vão matá-la! – exclamou.
  - Fique calmo! Eu... Eu tenho uma coisa que preciso mostrar para vocês. – murmurou.
  - O que? – Perguntei.
  - Eu tenho um testamento... Da . – Ela disse.
  - Mas o que? Por que eu nunca fiquei sabendo disso?
  - Ela me pediu para entregar para alguém só quando alguma coisa assim acontecesse!
  - Tudo bem, eu te entendo... Você já leu?
  - Só uma pequena parte, o resto é para você, .
  - E o que tem escrito ai? – perguntou.
  - Ela diz o que quer que doem as coisas dela que não quisermos guardar de lembrança e mais algumas coisas, é melhor vocês lerem.

  Peguei o testamento e comecei a ler, lá ela dizia que independente das nossas brigas, independente de qualquer coisa que dissemos um para o outro nos nossos 2 anos de namoro, ela me ama e que os momentos que passamos juntos foram os melhores de sua vida.. e muitas outras coisas que fizeram eu me derramar em lágrimas.
  Quando eu percebi, a , mãe de estava me abraçando, eu não entendi por que ela não tinha dito nada até o momento.

  - Querido, ela te ama, ela me dizia todo dia que te amava e que você é a melhor coisa que tinha acontecido na vida dela, você é uma pessoa incrível e fez ela muito feliz.
  - Eu amo sua filha mais do que tudo na minha vida, eu não quero perder ela, não vou deixa-la morrer. – Murmurei.
  - , ela não queria ser sustentada por máquinas nem ser um fardo para você, querido você não vive fora daquele hospital, os médicos disseram que ela está piorando, você não acha que ela merece descansar em paz?
  - Eu prometi fazer sua filha feliz, eu não sei o que fazer.
  - , você é como um filho para mim, e por mais que eu não queira admitir isso, você era mais próximo dela do que eu, então essa decisão é sua, eu te apoiarei em qualquer decisão.
  - , eu sei que você fará o que é certo. – disse.
  - A gente tá aqui pra o que você precisar, cara. – deu-me suporte.
  - Agradeço a todos, eu vou pensar e depois falo com vocês.

  Eles foram embora e eu fiquei sozinho em casa, caminhei pela casa a noite toda lendo e relendo os papeis que o médico me deu e o testamento da .

  O que eu devo fazer? As palavras dela não saiam da minha mente, eu não tinha a mínima ideia do que pensar e acabei adormecendo no sofá.

  No outro dia acordei bem cedo para ir visitar a no hospital, cheguei bem rápido, fui para o quarto de , me sentei na poltrona que tem sido meu lar durante os últimos 3 anos e peguei na mão dela, passei a mão pelos seus cabelos agora curtos para facilitar o trabalho das enfermeiras, acariciei suas bochechas pálidas que antes sempre tinham um tom rosado natural.

  Por favor, , eu não quero te perder agora, meu coração é seu, segure minha mão, me mostre como te ajudar, me mostre como te ajudar, me mostre o que fazer... Minhas lágrimas caíram em seus braços e eu tomei minha decisão.
  Saí do quarto e fui à procura do médico, fui direto para sua sala e o encontrei sentado em sua cadeira.
  - ? Ótimo vê-lo aqui, posso ajudar em alguma coisa? – O médico saudou.
  - Doutor, eu tomei minha decisão. - eu disse ainda com voz de choro.
  - E o que você decidiu?
  - Ela não iria querer viver do jeito que está agora, quero deixar ela ir em paz.
  - E o que os pais dela pensam disso? Você falou com eles?
  - Sim, eu falei e eles me apoiam 100% - Informei.
  - Então está certo, você tem os papéis assinados com você?
  - Sim, doutor – entreguei os papeis assinados – como vai ser o processo?
  - Iremos desligar as máquinas hoje à noite, avise para os parentes e amigos para virem se despedir dela, isso é muito importante. Quando formos desligar ninguém pode ficar aqui e... -interrompi ele dizendo...
  - O que? Doutor por favor, não me tire a oportunidade de ficar os últimos segundos ao lado da mulher que eu amo.
  - Mas senhor, esses são os procedimentos padrões.
  - Por favor...
  - Tudo bem, mas é só você e mais ninguém!
  - Muito obrigado, doutor! E... Pode continuar, desculpe por te interromper.
  - Tudo bem, continuando... Não é como mostra nos filmes, ela não vai morrer na hora que desligarmos as máquinas, sem querer te dar muitas esperanças, assim que desligarmos as máquinas, tem 2 coisas que podem acontecer, ou ela vai morrer aos poucos em duas ou três semanas ou com o choque ela acordará, mas devo te avisar que as chances dela acordar são  de 2%
  - Ela... Ela pode acordar? - sorri instantaneamente.
  - Sim, mas preste atenção no que eu disse, são 2% de chances dela acordar!
  - Sim senhor! Eu vou avisar aos parentes e amigos e não sairei do lado dela 1 minuto sequer!
  - é uma menina de muita sorte por ter você ao lado dela.

  Assim que saí da sala dele, liguei para a irmã e amigo dela para virem se despedir. Uma hora depois eles chegaram e eu fui receber eles na entrada.
  - Oh meu filho – ela me abraçou aos prantos.
  - , a senhora está arrependida de me deixar tomar essa decisão?
  - Não, querido, eu sei que você está fazendo a coisa certa e te apoio mas entenda que eu não posso deixar de ficar triste.
  - Pois é, , você é um bom homem e até nos últimos minutos está fazendo ela muito feliz. – disse chorando também, mas está mais controlada.
  - É isso ai cara, a gente tá junto aqui pra tudo. - disse com lágrimas nos olhos.
  - O médico me disse que ela não vai falecer assim que desligarem as máquinas, isso acontece só em duas, três semanas ou menos. - decidi não contar sobre as chances dela acordar, considerando o estado da  dela, eu não quero dar esperanças em vão – vocês podem ir lá se despedir, tem mais ou menos uma hora antes de desligarem tudo, vou deixá-los sozinhos com ela.
  - Obrigado, querido, nós já voltamos.

  Eles foram e eu fiquei na sala de espera tomando café e verificando meu e-mail, tinham inúmeros e-mails do meu empresário, pois eu abandonei minha carreira para cuidar da , meus fãs entenderam, é claro, mas os tabloides caíram em cima de mim, disseram que isso era loucura... Eles só querem audiência! Mas ainda não decidi se quero voltar a cantar, quando penso nisso, só o que lembro é que a última música que cantei foi feita especialmente para ela, para minha menina.

  Eles voltaram um pouco melhores do quarto de .
  - Como foi lá? – Perguntei.
  - Não foi fácil, nunca é, vamos superar tudo isso juntos, mas pelo menos tivemos como nos despedir, muitas pessoas não tem essa oportunidade. – murmurou.
  O médico chega perto de nós.
  - Está na hora, senhor , o senhor está pronto?
  - Sim senhor.
  - Então nós vamos indo, nos ligue se acontecer qualquer coisa, ok? – disse.
  - Tudo bem , eu ligo para vocês.

  Abracei eles e logo depois que foram embora eu segui o médico até o quarto da . Lá tinham todos os médicos e enfermeiras que acompanharam ela durante sua "estadia" aqui, todos estavam tristes e chorosos.
  - Por favor, espero que você não se importe de nos despedirmos, ela passou muito tempo conosco e é uma pessoa muito querida por todos nós. – Uma das enfermeiras murmurou.
  - Claro que não me importo! Minha menina gostaria de ver todos vocês aqui. - Meus olhos enchem de lágrimas.
  - Está na hora. – O médico informou.

  Ele começa a desconectar alguns fios dela e eu não solto sua mão em momento nenhum, em um sussurro quase imperceptível, eu falo para em seu ouvido:
  - Por favor, pegue minha mão, você sempre terá um espaço no meu coração, me mostre como lutar por você – o médigo tirou o último tubo de sua garganta, o tubo que fazia ela respirar – por favor, acorde, eu só quero ver seu rosto iluminar...
  - Agora é só esperar qual vai ser a reação dela, eu vou deixa-los sozinhos, a enfermeira está na porta caso precise. - ele disse e saiu logo depois.

  Comecei a cantar em seu ouvido a música que foi inspirada nela...

Aren't you somethin' to admire
Cause your shine is somethin' like a mirror
And I can't help but notice
You reflect in this heart of mine
If you ever feel alone and
The glare makes me hard to find
Just know that I'm always
Parallel on the other side

  Levei um susto quando pensei ter sentido sua mão mexer mas acho que é só coisa da minha cabeça mas continuei cantando

Cause with your hand in my hand
And a pocket full of soul
I can tell you there's no place we couldn't go
Just put your hand on the glass
I'll be tryin' to pull you through
You just gotta be strong

  Comecei a chorar sem me importar se ficarei encharcado de lágrimas, o que importa? Minha menina está indo...

Cause I don't wanna lose you now
I'm lookin' right at the other half of me
The vacancy that sat in my heart
Is a space that now you hold
Show me how to fight for now

  Olhei para e ela estava com a boca aberta, ela estava assim antes?

And I'll tell you, baby, it was easy
Comin' back into you once I figured it out
You were right here all along
It's like you're my mirror
My mirror staring back at me

  Antes de continuar a música, ela apertou minha mão, sim! Eu tinha certeza que ela tinha apertado minha mão! Ela estava voltando, minha menina estava voltando para mim e eu não poderia estar mais feliz orgulhoso!

I couldn't get any bigger
With anyone else beside me
And now it's clear as this promise
That we're making
Two reflections into one
Cause it's like you're my mirror
My mirror staring back at me
Staring back at me

  Rapidamente eu apertei o botão que ficava sempre to lado da cama dela e chamei o médico.
  - Aconteceu alguma coisa, Just... - antes de terminar a frase ele viu ela mexendo a mão e foi correndo verificar seus sinais vitais.
  - Doutor, por favor, me diga que minha menina está voltando. - eu supliquei.
  - Eu não posso ficar mais feliz em dizer que ela está voltando! Ela está voltando!!!

  Sem pensar eu dei um abraço no médico e fui correndo para o lado dela, acariciei seu rosto e ela abriu os olhos, seus lindos olhos que eu não via há muito tempo.
  - Amor? ?
  - , ela só vai falar em algumas semanas ou meses.
  - Mas ela está me vendo? Ela está me escutando e entendendo?
  - Sim, ela pode te ver e entender tudo, eu vou preparar alguns exames e volto em alguns minutos.

  Sentei do lado dela e olhei nos olhos que eu sentia tanta saudade, seus olhos refletiam minha alma.
  - Eu sempre estive aqui por você e você por mim, seus olhos refletem meu verdadeiro eu, quero que você saiba que você é e sempre será o amor da minha vida, eu te faço essa promessa... E eu não posso esperar para te levar para casa.
  Ela apertou minha mão e eu sei que ela vai se recuperar rápido, eu sei que vamos ficar bem.



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