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#002 Temporada

You Gotta Not
Little Mix



You Gotta Not

Escrita por Maraíza Santos | Revisada por Songfics

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  Todas as terças, as quatro mulheres se encontravam no Café Boutique. Já havia bastante tempo desde que deixaram a adolescência e a vida adulta chegou acompanhada com as responsabilidades corriqueiras. Paula Nunes tinha se casado há pouco mais de dois anos e ainda experimentava a felicidade de recém casada; a mais velha, Denise Melo, casou um ano depois com um ricaço, que ela namorava desde o ensino médio, quando descobriu que estava grávida.
  Obviamente, suas amigas nunca perderam a oportunidade de brincar com sua cara e dizer que dera o golpe da barriga, embora a criança tenha nascido com a personalidade teimosa e o nariz arrebitado de Rafael Melo, seu marido.
  Camila Ferreira, a mais nova do grupo, tinha começado um relacionamento sério fazia pouco mais de sete meses e já conhecia a família de seu namorado. O homem era facilmente manipulado pela Ferreira, mas elas tinham desistido de fazer com que Mila percebesse que problemas poderiam sobrevir no futuro por causa disso.
  E, então, tinha Maitê Silva, a terceira na ordem cronológica. Ela fora a que alcançou sucesso e estabilidade mais rápido: três anos e meio depois de se formar em história, conseguiu o tão sonhado concurso. Apesar de profissionalmente equilibrada, Maitê continuou sem saber o que fazer com sua vida amorosa. Estava há anos deixando a vida lhe levar e era feliz assim, muito obrigada.
  Entretanto, nas últimas semanas seus pensamentos estavam mudando.   Talvez fosse a proximidade com o Dia dos Namorados, mas ela se sentia muito sozinha. Todas as vezes que se encontrava com suas amigas se deparava com a ideia de que a noite elas teriam alguém a quem abraçar, enquanto Maitê dormiria em sua enorme cama sozinha. Suas amigas tinha um motivo para voltar para casa e ela havia perdido o seu – Leo, seu gato, tinha morrido há três meses.
  – Eu quero namorar sério.
  Denise engasgou com o café quando ela expôs seu pensamento. Paula se viu obrigada a levantar, com um muffin entredentes, para bater em suas costas. Camila, todavia, só ria.
  – É sério. – disse Maitê – Quero encontrar um cara legal e namorar.
  – E casar também? – perguntou Paula, cética.
  – De branco e tudo? – completou Denise já recuperada de seu engasgo.
  Maitê deu os ombros.
  – Talvez.
  Paula encostou-se na cadeira naquela posição de advogada que naturalmente ela tinha.
  – Uau. Por essa eu não esperava.
  – Então, vamos começar procurando alguém para você sair! – Camila falou batendo palminhas – Um encontro com um cara legal, maduro, bonito e bem de vida! Tenho meus contatinhos se quiser.
  – Você não perde tempo mesmo, Camila. – Denise a cutucou – Certeza que já tem em mente um pretendente para ela.
  – Óbvio, querida. – a mais nova piscou causando risos entre as outras amigas.
  Silva, então, olhou envolta do estabelecimento e prendeu os olhos no homem que sempre estava no Café Boutique nos dias em que as amigas se encontravam. Tinha se tornado rotineiro vê-lo às terças debruçado sobre o balcão do jeito mais sexy que podia — tinha os ombros largos e os cabelos escuros. Sempre vestia uma camisa de flanela ou de malha simples e carregava um ar misterioso que atraía Maitê.
  Em determinado momento da estadia dos dois lá, o homem olhava para ela. No começo ela desviava o olhar, depois passou a encará-lo sem cerimônia. Outra semana sentiu-se na liberdade de levantar as sobrancelhas em desafio e recebeu um sorriso ladino em resposta. Na última semana ela lançara o olhar mais sensual que tinha enquanto saboreava seu descafeinado lentamente. Pode ver que o atingiu quando ele a olhara embasbacado e lambera os lábios.
  – O que acha do crush do Café? – Ela perguntou no tempo em que desenhava a borda de seu copo com o indicador.
  Discreta como apenas elas poderiam ser, as três mulheres viraram-se bruscamente para o balcão onde o homem sempre ficava. Por sorte, naquele momento ele falava com o garçom e estava alheio ao interesse feminino.
  – Ele parece ser bem maduro, não? Dou no mínimo 26, 27 anos... – Arriscou Camila por causa da barba escura que ele tinha.
  – Será que ele ganha bem? – Indagou Denise – Ele se veste bem, por certo não é um pobretão com mau gosto.
  Paula revirou os olhos.
  – Qualquer pessoa comparado a você é um pobretão, Denise. Inclusive eu. — Resmungou.
  – Não é isso. - Ela replicou - É que Maitê merece alguém a altura, tanto na inteligência quanto profissionalmente falando. Não me expressei direito, desculpe.
  Paula quis levar adiante a conversa, mas se conteve. Desde que Denise casara tinha se acostumado “a não se expressar direito”. O luxo e a estabilidade financeira, assim como o tempo gasto com o seu marido, tinha a tornado um tanto mais rude.
  Ou talvez, como Camila costumava dizer com um sorriso, era o mau da idade.
  – Vocês acham que vale a pena? – Perguntou Maitê tendo a sensação inconfundível de sentir-se mirada pelo estranho.
  Cada uma das suas amigas disseram de sua maneira para ir em frente: Paula deu os ombros, Camila bateu palminhas e balançou a cabeça animadamente e Denise falou para que ela lhe contasse tudo sobre ele depois.
  Com a conta e o dinheiro em mãos, Maitê se aproximou do balcão estrategicamente perto do estranho.
  O balconista sorriu para ela ao lhe reconhecer. Seus olhos cor de mel brilhavam daquele jeito simpático conhecido lhe fazendo diminuir um pouco o nervosismo.
  – Quanto tempo, hein? A que honra devo em tê-la no meu humilde lugar de trabalho? – Perguntou Miguel.
  – Digo o mesmo! Não sabia que trabalhava aqui ainda. – Comentou – Seu pai não lhe expulsou por trocar açúcar por sal no último ano?
  Ele mexeu as mãos em desdém.
  – Águas passadas não movem moinhos. – Respondeu com uma piscadela. – Ah, deixe-me apresentar alguém.
  Quando Maitê percebeu que Miguel se referia ao crush que ela gostaria de conhecer, quase pulava para cima dele e o encheu de beijos.
  Miguel era muito perspicaz desde a adolescência quando o conheceu e devia ter percebido algo que a mulher não sabia ainda.
  – Daniel, essa é Maitê. – Miguel apontou com um sorriso radiante – Conheci ela na escola. – Virou-se para ela – Maitê, esse é Daniel, meu primo.
  A partir daí a mulher nem olhava mais para seu antigo amigo. Os olhos dela fizeram um escaneamento rápido e percebeu que o formato do maxilar do crush era parecido com o de Miguel. A barba mal feita e os olhos misteriosos eram sua diferença com o primo — Daniel era o badboy enquanto Miguel era o filho que todo pai pediu a Deus.
  A não ser, é claro, que fosse necessário saber a diferença de sal e açúcar.
  – É um prazer conhecê-lo. – Disse Maitê.
  – O prazer é todo meu. – Respondeu o homens deixando transparecer até às décimas intenções.
  Miguel coçou a garganta desconfortável quando percebeu o clima que se instalara no ar.
  – Então, Mai, você tá com o recibo? - Perguntou ele coçando atrás da cabeça constrangido de forma que não olhava em seus olhos.
  – Ah, sim. Aqui. – Entregou o papel com o dinheiro tentando parecer mais casual possível.
  – Estranho isso, não é? – Perguntou Daniel apontando para TV. – Não costumava passar esse tipo de programa tão cedo.
  Maitê deu uma risadinha.
  – Lembro quando acordar cedo pra assistir desenho era minha maior responsabilidade. Saudades disso.
  – A vida adulta está dando problemas, Maitê? – Perguntou Daniel.
  Ela deu os ombros dramaticamente.
  – Tem suas vantagens. – Respondeu evasiva.
  O comercial de TV nunca foi tão oportuno: o slogan do novo restaurante da cidade brilhou para Daniel como uma árvore de natal.
  – Faz séculos que quero ir nesse restaurante, mas não tive tempo ainda. Disseram que é um dos melhores em comida francesa. — Olhou para ela — Seria bom ter alguém para ir.
  Não demorou muito para que a mulher percebesse onde ele queria chegar.
  – Que coincidência. – Ela disse fingindo surpresa. – Também estava louca para conhecer esse lugar.
  Miguel, que se tornara um expectador da conversa, revirou os olhos ao perceber quão óbvios eles estavam sendo. Ele não confessaria, mas a verdade é que Daniel não era homem o bastante para Maitê, apesar de ser mais velho do que ele.
  E você seria homem o suficiente para ela?, zombou sua consciência, Ainda tá na faculdade de medicina e trabalha para seu pai aos 27 anos!
  Sua pequena discussão interna o fez perder o resto da conversa. Antes que pudesse fazer algum barulho para mostrar que estava escutando o diálogo, viu Maitê deixar seu número para Daniel e piscar o olho para ele.
  – Seu pedido já está esfriando, Danny. – Alertou Miguel a contragosto.
  – Ah, claro, quase me esqueço. – Falou o homem, finalmente desviando os olhos de Maitê, e pegou os dois copos de café nas mãos. – Foi um prazer conhecê-la.
  E ele deu um sorriso derretedor de calcinhas e se despediu com um beijo na bochecha da mulher. Mai estava embasbacada – que homem! Pensava consigo mesma. Naquela simples conversa pode perceber seu carisma, beleza e inteligência. Daniel era todo charmoso, isso ela já sabia, mas o diálogo com ele envolvia qualquer pessoa em seu mundo e antes que percebesse estava dentro de sua bolha.
  No dia depois, Maitê recebeu uma mensagem pelo WhatsApp de Daniel. Foi muito polido em perguntar se ela queria sair na próxima semana para conhecer aquele restaurante que tinha comentado. A mulher aceitou depois de duros cinco minutos pensando em como responderia seu pedido.
  Se arrumar para o encontro foi outros quinhentos. Era como se de uma hora para outra toda sua experiência com encontros tivessem desaparecido. Precisou de ajuda de suas amigas que, por meio do Skype, entraram em uma discussão entre parecer sexy ou sofisticada. Maitê escolheu os dois: um vestido vinho que batia abaixo do joelho, mas era bastante justo para compensar a “caretice”, como ela mesma explicou. Seus saltos eram altos o bastante para ficar da altura de Daniel, porém não deixaria de mostrar quão poderosa e independente ela era.
  Tudo começou a ficar muito estranho quando, dez minutos antes do horário em que seu acompanhante ia lhe buscar, o mesmo mandou a mensagem dizendo que teve um problema com o carro. Normal, acontece, não é? Mas ele pedira para que Maitê fosse buscá-lo em sua casa.
  A mulher, entretanto, estava nervosa demais para pensar que ele poderia muito bem ter pago um táxi ou pego um uber, em vez de fazê-la ir até o outro lado da cidade.
  Maitê sentiu a primeira decepção quando se aproximava de sua casa e o viu fumando, sentado calçada de sua casa.
  Ela odiava cigarros.
  Antes mesmo de baixar o vidro e chamá-lo, viu uma mulher mais velha se aproximar dele. Trocaram algumas palavras e logo ela lhe deu algumas notas de dinheiro. Maitê franziu o cenho automaticamente.
  Como é que ele tinha coragem de chamá-la para sair se não tinha dinheiro para isso? Não que desejasse que Daniel pagasse sua conta, mas nem para comprar sua própria comida?
  Enfim, quem era ela para dizer alguma coisa?
  Apertou a buzina e chamou sua atenção. Quando ele entrou no carro, a mulher não pode evitar a careta. O cheiro de nicotina com bala de hortelã era uma péssima junção.
  – Mil desculpas por fazê-la vir para tão longe. – Falou com a voz rouca sedutora.
  Rapidamente Maitê deixou de lado aqueles pequenos detalhes.
  – Você está muito bonita. – Adicionou ele com um sorriso cheio de segundas intenções.
  – Você também não está nada mal. – Ela retribuiu o sorriso.
  – Espero que não esteja muito cheio hoje. – Comentou Daniel tentando puxar assunto.
  – Eu também. – Murmurou – Aliás, no que você trabalha mesmo?
  – Ah, eu sou autônomo.
  – Então você tem uma empresa? – Perguntou Maitê ainda de olho na estrada.
  – Não, sou desempregado. – Respondeu.
  Quase automaticamente lembrou de uma episódio de Facebullying em que Maurício Mairelles fazia piada sobre isso. Segurou a risada.
  – Ah, essa crise, não é? É bem complicado… – Ela falou compreensiva.
  – Verdade, mas também não me encontrei ainda. Tô deixando a vida me levar.
  Franziu o cenho confusa.
  – Quantos anos você tem mesmo? – Indagou curiosa.
  – Trinta.
  Maitê apertou os lábios tentando entendê-lo.
  – Mas você pensa em empreender?
  Ele deu uma risadinha.
  – Ah, não. Deus me livre essa responsabilidade. Eu vejo o que mamãe sofre com a padaria. – comentou ele.
  Ao escutar a voz baixinha saindo de The Weeknd na rádio fez uma careta.
  – Esse cantor é meio bosta, não é? – Falou Daniel.
  Mai o olhou séria para seu acompanhante.
  – Ele é meu cantor favorito.
  Percebendo a bola fora, o homem tentou contornar:
  – Mas até que ele tem umas músicas legais.
  A mulher coçou a garganta quando o silêncio constrangedor ameaçou se instalar. Aqueles preciosos segundos a fez notar um odor estranho de suor. Daniel parecia limpo, entretanto, suas roupas não.
  ECA, ECA, ECA!
  Foi a gota d'água para perceber que o encontro era um erro.
  A sorte é que estava na rua do restaurante e logo desceram do carro. Maitê quase soltou um grito de alegria ao sentir ar puro chegando em suas narinas. Estava infinitamente feliz por ter problemas com o olfato e não ter percebido nada além de cheiro de cigarro antes.
  – Vamos? – Chamou Daniel com a cabeça.
  Embora estivesse movimentado, o restaurante era bem agradável e o atendimento eficiente. Não demorou mais que cinco minutos para conseguir um bom lugar e a garçonete foi simpática e direta. Ao contrário do que esperava, Maitê não estava envolvida com a conversa antes encantadora de seu acompanhante.
  Descobrir que ele não gostava de crianças de maneira nenhuma ajudou no resto.
  Maitê tentava ser o mais agradável possível enquanto bolava uma desculpa para ir embora. Nunca mais saia com alguém que não fosse investigado antes pela mesma – pesquisaria até o mapa astral se necessário!
  Maldito Miguel! Por que não disse que seu primo era um mala?
  – … não e ela ainda achou que eu sairia por baixo! Mas, bem, não vamos falar de ex namoradas birrentas agora. Vamos falar de nós dois.
  A mulher não pode se segurar e revirou os olhos. Estava esgotadíssima daquele flerte barato e a falta de bom senso daquele homem. Como alguém poderia ter 30 anos e ser tão imaturo? Falar sobre relacionamentos antigos no primeiro encontro era burrice!
  – Ok, chega. – Disse ela contando as notas para pagar a comida quase intocada – Foi bom lhe conhecer, mas tenho que ir.
  – O quê? – Ele se levantou surpreso. – Pensei que estivéssemos nos divertindo. E a minha carona?
  Maitê, que pegava as chaves de seu carro, levantou a cabeça incrédula para o pior acompanhante do século.
  – Você só pode estar de brincadeira! Não pode pagar um uber?
  – Claro que não! Mamãe só me deu dinheiro para a comida.
  Maitê olhou para ele irritada.
  – Pelo amor de Deus, cara, arruma um emprego! Você não tem vergonha, não? Age que nem criança, ainda é dependente dos pais e nem roupas limpas usa! Não tenho tempo para ser babá de ninguém. Com licença.
  Silva passou direto para fora do restaurante ignorando os olhares que lhe cercavam. Ela odiava ter que fazer cena, mas Daniel passou de príncipe para sapo em dois tempos.
  E ela odiava sapos.
  Daniel lhe seguia como um carrapato e dizia coisas sobre a falta de consideração e gentileza. Maitê o ignorava como se fosse apenas uma mosca e entrou no carro e travou antes que ele conseguisse entrar.
  – Você não pode fazer isso comigo! – Gritou ele contra o vidro do carro.
  Ela sorriu maldosa e sibilou para que ele entendesse o que dizia.
  – Observe.
  E antes que ele pudesse correr atrás do veículo, a mulher saiu cantando pneu pela rua quase atropelado um pedestre.

  O Bar do Nelson foi o destino de Maitê. Ela xingava incansavelmente a si mesma. Por que tivera aquela ideia de tentar encontrar um homem para namorar sério? E logo alguém que mal conhecia?
  Apenas cerveja a faria se sentir melhor no momento.
  Enquanto bebericava seu quinto copo, a mulher rodava o celular no balcão esperando suas amigas responderem. Que fracasso de noite ela tivera!
  – Quem morreu?
  Ela olhou para trás ao ouvir a voz conhecida de Miguel. Ele sorria cansado e usava os óculos de leitura novos enquanto segurava algumas pastas debaixo do braço.
  – Quer se juntar a mim? – Ofereceu a mulher apontando para a cadeira vazia ao seu lado.
  – Nah, tenho uma prova amanhã e ressaca não é uma opção.
  – Então o que faz aqui?
  Miguel deu um sorriso galanteador.
  – Precisava mijar.
  Ela riu de seu palavreado e ele sentou-se ao seu lado recusando fazer um pedido ao bartender.
  – Eu estava na casa de uns amigos estudando e já voltava pra casa, só que a bexiga apertou… Bem, você não vai querer saber como minha digestão funciona, não é verdade?
  Maitê riu de novo não sabendo se era o álcool em suas veias fazendo efeito ou era aquele humor duvidoso que a fizera sempre gostar de Miguel.
  – Você está bonita demais pra quem só veio tomar uma cerveja. O que aconteceu? – Perguntou bagunçando o cabelo.
  – Encontro furada foi o que aconteceu. – Ela cerrou os olhos – Por que você não me avisou que seu primo era um idiota?
  – Porque qualquer pessoa consegue saber isso em um raio de meio metro. – Respondeu ele em deboche – Pensei que você fosse melhor que isso.
  – É, eu também pensei.
  Ficaram em silêncio e observaram calmamente a movimentação do bar.
  – Eu preciso ir. – Disse ele sem fazer menção de se levantar.
  – E eu preciso de um motorista, pois atropelar adolescentes não tá na minha lista de coisas para fazer hoje. Que coincidência!
  Miguel gargalhou da forma grogue que sua amiga falara e pegou a chave que ela oferecia.
  – Vai ficar me devendo essa.
  Dentro do carro, Maitê e Miguel não paravam de falar da época de escola, quando os dois faziam parte do mesmo grupinho. Na época, a mulher apenas conhecia Paula, que era terceiranista e já adorava cagar regra.
  Aquela foi a primeira vez que Maitê vira que Miguel não era mais aquela adolescente que fazia piadas dos professores e que ninguém acreditava que passaria em medicina. Bem, demorou alguns anos para que ele conseguisse o curso dos sonhos, mas aconteceu e ele não deixou de focar em seus objetivos. Além do mais, Miguel havia transformado seu jeito desajeitado e desatento em algo charmoso. Pensando naquelas qualidades que conhecia no amigo, Maitê perguntou:
  – Você gosta de The Weeknd?
  – Tá brincando? Ele é uma das melhores vozes dos últimos anos que apareceu na mídia até agora. Acho que ninguém deveria ter permissão pra não gostar.
  E com isso, Maitê sorriu.

FIM