You Are My Jenny
Escrito por Renata Azevedo de Miranda | Revisado por Mah
Meu nome é , tenho 15 anos de idade e moro em uma cidadezinha pequena no Brasil. Vou contar minha história pra vocês, que na minha opinião é uma das mais incríveis e inacreditáveis que já vivi.
Eu era uma das poucas garotas da escola que ouvia rock, porque o negócio delas era “Funk ou Sertanejo”, eu era diferente, eu me sentia diferente. Minha banda favorita era The Pretty Reckless, onde a vocalista era mulher (a mais linda, por favor), eu não conhecia o The Maine e nunca pensei que eles fariam parte da minha vida, nunca mesmo. Até que um dia entrei no tumblr e na playlist de uma garota encontrei uma música de nome “Whoever she is”. Curti bastante e logo baixei. Quando vi, já tinha baixado o “Can’t stop, Won’t stop” todo e passava quase o tempo todo ouvindo ele. Nisso eu não havia procurado imagens da banda. Logo procurei e lá vi John O’Callaghan com os olhos mais verdes e lindos que se possam encontrar. Sim confesso, confesso que me apaixonei. E sim, pode parecer bobeira, mas era a bobeira mais linda do mundo.
Passei a saber mais sobre, eu não era fã de 4 ou 5 anos, mas eu era fã, fã de verdade. Pobre de minha mãe que só sabia ouvir o quanto eu falava sobre os dementes, ops, The Maine.
O Pioneer havia saído e a primeira música que ouvi foi Jenny, porque havia baixado no móbile. Eu só ia dormir ouvindo Jenny e acordava ouvindo Jenny. É muito idiota, mas é verdade. Não sabia que no ano de 2012 eles viriam até o Brasil, mas mesmo que soubesse, minha mãe não permitiria que eu viajasse até São Paulo pra poder vê-los cantar de pertinho.
Eu Fugi. Sim, eu fugi! Arrumei minhas coisas e fui parar com minhas amigas no Arizona. É, pode ser inacreditável, mas fui parar lá com e Megan.
Megan era meio americana e meio brasileira, já que seu pai era americano e a mãe brasileira. Mudou-se para o Brasil aos 10 anos de idade e foi aprendendo a nossa língua. Eu digo que fugi, porque elas não fugiram, os pais delas permitiram a viagem, já os meus não. Por incrível que pareça, o pai de Meg morava no Arizona, poucas quadras de onde Pat morava, mas não tive coragem e falta de vergonha na cara o suficientes pra pegar a bicicleta de Meg e ir até lá. Ele pensaria que eu era mais uma fã maluca e possessiva e não daria atenção, e esse era meu medo: de ser comum pra eles. Sou meio egoísta, mas fazer o que, né?!
Haviam se passado três dias de minha estadia no Arizona, e eu não tinha ido em nenhum show e nem procurado eles. Idiota, só que sim. Eu e Meg fomos até um pequeno supermercado da esquina, enquanto ficou no quarto jogando wii. Quando chegamos lá fui direto à área de iogurtes e fui no último que tinha de chocolate. Quando coloquei a mão pra pegar, um voz dizia:
- Nem pense em pegar esse iogurte, moça!
Nem olhei e já disse:
- Você não manda em mim, se eu quiser eu pego, abro e tomo aqui mesmo! Quero ver me impedir!
Ele ficou resmungando e nem dei moral, muito menos olhei pro rosto dele. Pra mim pouco importava quem era. Saí batendo o cabelo, paguei e fui embora.
Eu ficava pensando “Eu devia ter olhado e visto quem era o babaca pensando que iria mandar em mim, tá fácil mesmo”. Cheguei e percebi que havia esquecido Meg. Eu saí em dispara atrás dela no supermercado. Quando cheguei à porta, vi John O’Callaghan em minha frente, nisso eu tinha colocado na cabeça que ele era uma miragem. Ele caiu em gargalhadas e, sorrindo, disse:
- Aí está a ladra de iogurte!
Apertei bem os olhos:
- Você não é uma miragem?
Desconfiado, disse:
- Não, e por que eu seria uma miragem?
– Ah, esquece – risos.
- Você briga com as pessoas e não olha pra elas por esporte mesmo?
– Oh, desculpa ai, é que amo iogurte e sou chocolover, daí junta os dois em um só e eu fico louca.
– Tudo bem, já até esqueci, mas me deve um iogurte de chocolate.
– Tá fácil mesmo, eu ficar te devendo um iogurte - risos.
– Onde você mora?
– Eu não sou daqui, sou do Brasil, mas estou na casa do pai de uma amiga minha.
– Você é brasileira?
– Foi o que eu disse.
– Os brasileiros são ignorantes, assim como você?
– Não – risos - são dez vezes mais educados, e me desculpe mais um vez.
– Pare de me pedir desculpas. O que veio fazer aqui no Arizona?
– Vim conhecer uma banda.
– Sério, que banda?
– Dementes - risos longos.
– Dementes? Essa é nova.
– Brincadeira, The Maine.
– Coincidência em...
– Sim ou claro?
– Legal, nunca conversei por mais de 5 minutos com uma brasileira.
– 5 minutos? Pai do céu, tenho que achar a Meg, tchau! - eu corri à procura de Meg e o deixei falando sozinho.
Encontrei Meg furiosa com uma sacola com muitas bolachas, acho que uns 10 pacotes.
– Onde você estava? Te procurei muito, me esqueceu foi?
– Meg, cala a boca, vamos embora e te conto no caminho.
Quando cheguei lá fora, não vi John. Fiquei chateada e fui embora contando o que tinha acontecido. Meg ficou pasma e ria muito, eu ri sem graça e fui dormir.
Era de manhã e eu dormia, senti alguém me jogar um travesseiro e gritava muito.
– Garota, levanta que tem uma surpresa pra você, anda levanta.
– Cara, são 4:00 da manhã, me deixa.
– Que mané 4:00 da manhã, são 10:00 da manhã, e desce logo.
– Está bem, vou tomar banho porque estou suada.
– Anda, não demora!
Fui tomar banho. Demorei 5 minutos e vesti a primeira roupa que vi, uma blusa enorme do Jack Daniels, que pegava até o joelho, e um chinelo colorido. Nem sequei ou penteei o cabelo e desci.
Desci a escada quase caindo, porque tava com muito sono. Quando olhei para o sofá tinha um cara loiro de costas, pensei que era o pai de Meg, por ser loiro também.
– Tio Chase, o que a Meg...
– Tio Chase? Não acha que estou meio novo pra ser seu tio?
Arregalei os olhos e fiquei sem fala.
– Meu Deus, você quer me matar de susto? Johno, o que faz aqui?
– Olha só, já pegou intimidade.
– Ok, te chamo de John!
– Tudo bem, pode me chamar de Johno, até porque eu gosto, só não me chame de girafa.
– Então, o que você faz aqui?
– Vim buscar meu iogurte que você ficou me devendo, lembra?
– Opa, opa, não estou te devendo nadinha, meu filho.
– Mãe, eu quero meu iogurte agora, senão vou chorar.
– Pare de graça – risos - já passou da idade.
– Fazemos um trato então...
– Que espécie de trato?
– Você passa a tarde comigo, vamos à uma lanchonete brasileira que fica aqui pertinho.
– Primeiro que se eu tô no Arizona, eu quero comer comida americana e não brasileira, e segundo, o que te faz pensar que eu iria com você?
– Ok, você quem sabe, vou continuar fazendo birra e te chamando de mãe.
– Ok, você venceu.
– Vá se trocar, eu tenho uma reputação a zelar.
– Idiota. Espera um minuto aí, queridinho.
Subi suspirando sem que ele percebesse, eu estava explodindo de alegria ”Como assim, vou sair com John O’Callaghan?!” Sequei meu cabelo e penteei-o, coloquei minha touca cogumelo azul, um shorts simples com a mesma blusa, mas a coloquei para dentro do shorts. Coloquei uma sapatilha e desci, John me olhou com cara de espanto.
– O que foi? Quer tirar foto?
– Vamos embora antes que seu ego ocupe todo espaço da sala.
– Idiota.
Primeiro comemos em uma lanchonete que não era brasileira, comi dois cachorros quentes e três copos de refrigerante.
– Pra onde vai isso tudo?
– Pro me fígado.
– Pelo que vejo andou faltando às aulas de Biologia.
– Nossa, como você é engraçado, John.
– Agora me conte mais sobre você.
– E por que eu deveria?
– Anda, fala logo, deixa de ser boba.
– O que quer saber?
– Sua idade.
– 15, estou na flor da idade. - Ele se espantou.
– 15?
– Sim, 15.
– Mentir é feio.
– Eu sei, aprendi isso quando eu tinha 4 anos.
– Você não aparenta ter 15.
– Isso é bom.
– Por que “bom”?
– Quer dizer que quando eu tiver 30 vou ter cara de 20. - Ele riu. – O que mais quer saber?
– Onde mora?
– Em uma cidade escondida do mundo em Minas Gerais, no Brasil. Ituiutaba.
– Ituiutaba?
– Sim, eu sei, nunca ouviu falar.
– É, nunca ouvi falar.
– Pois é, eu não moro, me escondo. - ele riu.
– Onde estuda?
- Em uma escola.
– Jura? Pensei que fosse em um zoológico.
– Acho que quem faltou nas aulas de biologia aqui foi você – risos.
– Namora?
– E quem seria louco o suficiente?
– Verdade, quem teria tanta insanidade mental para isso?
– Hoje você está muito engra.
– Engra?
– Engraçado, durrrrrrr.
– Eu em, cada gíria de brasileiro que eu vejo.
– Nós brasileiros somos criativos.
– Percebe-se.
– Agora é minha vez, namora?
– E quem seria louca o suficiente pra isso? - eu gritava por dentro: “Eu, caralho. Eu!”.
– Milhares de fãs do The Maine.
– E você está incluída entre elas?
– Jamais!
– Jamais? Quem desdenhar que usar.
– Quem desdenha quer usar? Não seria comprar?
– Sou diferente, ok.
– Ok.
– Se eu te beijasse agora, o que faria?
– Te sentaria um tapa no rosto, amigo.
– E por que faria isso?
– É de praxe.
– Adoro tapas.
– Masoquista.
– Pouco.
– Muito.
– Quer saber mais do que eu?
– Sim, eu conheço você.
– Me conhece?
– Sua vida está divulgada em toda parte, se você não percebeu.
– O que sabe sobre mim?
– Sei que é pau de cana.
– Pau de cana? Que merda é essa?
– Viciado em bebidas, bebe muito. Não sei se você sabe, mas o álcool vem da cana.
– Entendi.
– Entendeu?
– Sim.
– Ok.
– É, eu até gosto de beber às vezes.
– Às vezes? Engra demais.
– Não sou “Engra”.
– É sim.
– Como você é teimosa.
– Eu sempre dou a última palavra.
– Vamos ver daqui pra frente.
– Ai, ai - risos.
– Quanto tempo pretende ficar?
– Quando minha mãe ligar histérica pro pai de Meg e me mandar voltar.
– Por que histérica?
– Porque vim fugida.
– Fugida? Louca.
– Ela não iria deixar eu vir procurar vocês mesmo.
– É, mas iremos ao Brasil ainda esse ano.
– Mesmo assim, ela não iria deixar.
– Mas não seria melhor se você tivesse esperado até os shows do Brasil se aproximarem pra você fugir? É mais perto.
– Não, não tenho ninguém de lá e estava com muita pressa.
– Pressa? Tudo isso pra me ver?
– Sai daqui, Johno.
– Que fofa!
– Hã?
– Me chamou de Johno de novo.
– Mas é idiota mesmo.
Ele pagou tudo e continuamos a andar, já estava de noite e fomos ver as estrelas, sentamos no banquinho de lá e conversamos.
– Tá tarde.
– Não tá não.
– Tá sim, e não teima.
– Você é a teimosa aqui.
– Mas tá tarde e tenho que ir.
– Eu te levo.
– Não precisa, vou a pé.
– E você acha mesmo que eu ia te levar de carro? Ia somente te acompanhar.
– Então vamos.
Fomos andando. Havia uma poça d’água e eu pisei e escorreguei. No que eu escorreguei, ele me segurou, me puxou com tudo para o seu corpo e ficamos coladinhos. Não agüentei e o beijei, ele retribuiu o beijo e nos beijamos. Achei que não iríamos parar, quando meu celular tocou ao som de Jenny. Ele parou o beijo e disse: “You are my Jenny” (Você é minha Jenny).
Atendi o celular e era minha mãe, ela estava furiosa, cuspindo marimbondos. Dizia que era pra eu pegar o próximo avião de amanhã para o Brasil, e que iria me buscar no aeroporto de Congonhas. Ela desligou.
Comecei a chorar e ele ficou preocupado.
– O que ouve, ?
– Minha mãe... - eu soluçava.
– O que tem ela?
– Quer que eu volte amanhã.
– Não vou deixar você ir.
– Se eu não for, vai ser muito pior...
Ele me abraçou forte e me encheu de beijos no queixo, me levou embora e fui dormir. Na manhã seguinte, arrumei minhas malas e desci com os olhos inchados de tanto chorar, e lá estava John.
– Vou levá-la ao aeroporto.
– Não precisa.
– Precisa sim, deixa de ser teimosa.
– Tudo bem, vamos.
Meg e ficaram, iriam embora na seguinte semana. John me levou e nos beijamos enquanto eu chorava. Ele me olhou no fundo dos olhos e disse: “Não se esqueça, você é minha Jenny”, não tenha medo, feche os olhos. Me despedi e fui embora, e cá estou eu, contando a história da metade da minha vida. John me liga toda semana, não namoramos. Temos uma relação afetiva muito forte, mas ele disse que irá voltar pra mim...