You (Ain')Worth

Escrito por Nicole Manjiro

  – ! ! !
  O garoto, aparentemente jovem demais para estar em uma festa, mas o dono de todo o local pela última hora, acenou ao público que o ovacionava com intensidade.
   era amado assim. Amado por ser talentoso com a música, um DJ nato. Amado também por ser uma boa pessoa, participando de trabalhos voluntários e ajudando causas sociais. Amado por ser conhecido como O Rei, com letras de amor às garotas, suas fãs. E amado por ser lindo. Muito lindo.
   desceu do palco em um pulo e se encaminhou para o camarote, onde o dono da casa de evento lhe faria o pagamento diretamente em dinheiro vivo. Mesmo pagando menos, gostava de B-Jay simplesmente pelo fato do homem lhe pagar em cédulas vivas. Sem cobrança de imposto, sem necessidade de justificar.
  – Mano. - eles se cumprimentaram em um combinado de tapas e pequenos empurrões com os ombros, finalizando com um abraço apertado. – Valeu por se apresentar de última hora. Salvou meu pescoço.
  – Que é isso. Somos irmãos. - disse.
  O dono da Sky encarou o irmão de consideração. A pele branca, os cabelos modelados com gel, o tronco largo e uma altura respeitável para B-Jay, um negro de quase 2m de altura. tinha os olhos azuis do pai, mas era magro como a mãe. Os dois se conheceram em apresentações que B-Jay deixava o na época novato tocar. Mentiram para as autoridades sobre a idade. tinha só 16 anos, mas conseguia arriscar 21. Pagou uma bela multa com seu primeiro salário, porque chegou ao topo muito rápido, com 18. Por conta da idade mínima para as festas, decidiu focar na carreira internacional, especialmente em países em que a maioridade beirava os 18. Foi assim que ele conquistou o mundo. A Realeza do Rei, seus fãs chamam.
   gostou de ser chamado de Rei tanto quanto suas fãs amaram saber que elas eram suas princesas.
  Mas só havia uma rainha. E ela estava tirando dos nervos.
  – Sua garota não veio hoje?
  – Pelo jeito, não.
  B-Jay soltou uma risada grave, acompanhada de seus colegas. Deu um tapinha no ombro de , que o olhou irritado.
  – Não se pode ter tudo, Rei.
  – Ela é minha.
  – Não é a mim que você deve convencer. - ele riu mais uma vez, entregando a pasta com a grana pela apresentação da noite. – É sua leoa.
   estalou a língua e deu as costas ao irmão, que o viu se afastar rindo.

  BEEEP BEEEP!
  – Você está maluco? - ouviu a voz acima de sua cabeça. Olhou para cima e a viu. Linda, como Bela. Ousada, como Jasmine. Corajosa, como Mérida. Presa em seu quarto, como Rapunzel, exceto pelo fato de que ela estava ali por vontade própria. Princesas que se tornaram boas rainhas. SUA rainha.
  – Você não veio.
  – Tenho que terminar um trabalho.
  – Você disse que viria.
  – - ele a viu revirar os olhos. –, minha vida acadêmica é mais importante do que uma festa.
  O jovem de 24 anos apertou os dentes, quase chegando a trincá-los.
  – A festa era minha última apresentação do ano. Era importante.
  – Foi uma coisa de última hora. Você tem outro show em Vegas semana que vem, lembra?
  – Você tem as férias coletivas para fazer o maldito trabalho.
  – Requer tempo para finalizá-lo.
   fechou os olhos e respirou fundo. Por que a amava tanto? O que ela fez para conquistar seu coração? A garota não poderia simplesmente devolver o órgão de e viver a vida de certinha que queria, droga?
  Ele ergueu os olhos novamente e ela ainda estava lá. Quantas vezes não a viu ali, apoiada na bancada da janela de seu quarto, conversando por horas apenas porque não era permitido a entrada de garotos na república.
  – Você pretende terminar quando essa coisa?
  – Tecnicamente, eu só terminarei ele daqui a um ano, quando apresentá-lo como minha tese final de curso.
   estava de brincadeira. Ela só podia estar muito confiante de si.
  Ele a encarou e não viu malícia em seu olhar. A garota de cabelos escuros e olhos puxados não estava brincando com ele, ela só levava os estudos muito a sério. Ele tentava compreender, porque sabia que ela estava em Columbia por conta de uma bolsa de estudos; tinha notas a manter e professores para surpreender. Não importasse quantas vezes dissesse que pagaria seus estudos, ela nunca aceitou. E cada ‘não’ que ele ouvia, era um ‘sim’ para permanecer em seu coração.
  Esse era o motivo de ter se apaixonado por .
  A garota que se mudou aos 15 anos do Japão para os Estados Unidos, por conta dos pais que tinham a ambição de morarem no país. O que nenhum deles esperavam, era que os pais fossem falecer no ataque terrorista de Boston, ao assistirem a maratona, que pretendiam participar no ano seguinte.
  Com a morte dos pais, não quis ir voltar para o Japão. Seu irmão mais velho, então, pediu transferência do banco que trabalhava no país do sol nascente, e mudou-se para a América, onde a garota pode fazer a faculdade em Columbia. No entanto, o trabalho do irmão, apesar de gerar um bom dinheiro, acabou mostrando-se insuficiente para manter a esposa e filhos gêmeos que vieram no primeiro ano de curso de . Foi naquela época que ela conheceu . Não sabia quem ele era ou o que fazia.
  Enquanto ele achava que ela saía com ele para conquistá-lo e usar seu dinheiro para benefício próprio. estava mais preocupada em achar um bom lugar e barato para morar, e um trabalho de meio período. Quando soube, conseguiu um bico para ela ao menos conseguir suprir suas necessidades sozinha.
  – Você não tem tempo para mim?
  – Agora?
  – Agora.
  Ela olhou para o lado e então para trás, e voltou a encarar . Apertou os lábios, que fê-lo saber que ela não queria sair.
  – Me dê 5 minutos.
   abriu um sorriso, porque sabia que ela nunca o deixaria ali, naquele frio, parado.
No verão, entretanto, ela o deixava plantado em pé com frequência.

~*~

  – Você me deve horas extras de companhia. - disse dentro do carro.
  – Estou aqui, não estou?
  – Porque vim te buscar.
  – Bem, meu futuro é importante para mim.
  – E você é importante para mim.
  Olhei para o lado quando não ouvi uma resposta imediata e abri um sorriso ao vê-la coçar atrás da orelha enquanto suas bochechas avermelhavam.
  – É-é por isso que você veio até mim ao invés do contrário. - ela gaguejou.
  – Estamos vivendo um triângulo amoroso.
  – Não tem nada de amor aqui.
  – Eu falo que você é a pessoa mais importante para mim e acha que não tem nada a ver com amor? - solto uma risada. – Você precisa parar de estudar mais e viver uma vida.
  – Eu preciso do estudo.
  – E eu preciso de você. - olhei para ela assim que estacionei na garagem de casa. – Mas não importa quantas vezes eu diga isso, você sempre colocará seu futuro na frente.
  – Não é o certo? - ela me encarou. – Correr atrás de uma carreira, para depois pensar em romance e família?
  – Não estou pedindo para você deixar de pensar em sua carreira. Existe maneira de você ficar comigo e conquistar o seu caminho.
  Ela saiu do carro, emburrada. Odiava quando eu estava certo e ela não, mas preferia se afastar, do que falar alguma grosseria.
  – Como seria uma vida de tentar fazer as coisas pela metade?
  Bufei. Ela não havia entendido nada.
  – Eu posso te dar tudo o que você quiser.
  – Não preciso.
  – Vivo em turnê ou dentro de um estúdio! Você tem todo o tempo do mundo para estudar e trabalhar no seu futuro. O que são, não sei, um sábado ou algumas horas de sua semana? Você não vai perder uma vaga de trabalho, muito menos reprovar na sua tese!
  – Não é assim tão simples.
  – É simples. Você só não quer sair da sua zona de conforto. Veja só, não faz parte da minha vida correr atrás de uma garota por 4 anos, mas aqui estou eu, porque estou apaixonado por você! O problema, , é que ninguém é trouxa para sempre. Não vou ficar aqui até você conseguir o que quer. Porque sempre que você termina uma coisa, logo encontra outra - que não sou eu - para focar! Quando vai ser a minha vez? Você, com toda sua programação, sabe me dizer? Só para eu saber se perderei mais tempo ou não?
  – Você já tem uma carreira! Tem tudo o que quer! Não é justo falar isso de mim! Se eu não conseguir o que quero, estarei quebrada! Não quero ter que depender de um casamento para ficar aqui. Para ter dinheiro. Minha mãe sempre fez tudo o que meu pai quis. Eu não vou ser sustentada! Quero ter poder de escolha!
  – E desde quando estou colocando opções na sua frente? Estude ou fique comigo. Quando disse isso?
   ficou muda. A pergunta a havia pegado de jeito. Ela não sabia responder, ele nunca havia, mesmo, dado essas opções.
  – Eu só estou pedindo um pouco de você. É bem menos doloroso esperar tê-la por inteiro para mim, quando sei que tenho pelo menos 1/5 de você.
  – Você devia desistir de mim.
  – Diga isso para o meu coração, . Acha que sou burro? Tento desistir de você há anos. Quem é que gosta de ser jogado de escanteio?
  Ela engoliu seco.
  – Se você não quer ficar comigo, me fale. Por favor, me livra logo dessas correntes que me prendem a você. Não fale mais comigo, não seja boa comigo. Não alimente meu amor, nem minha esperança. Sei que não é sua intenção, mas você está brincando comigo. E eu sei que valho muito mais do que isso.
  A garota fungou o nariz, inevitavelmente tentando esconder o choro. Ela não queria deixá-lo ir, o que a fazia se sentir horrível. Não queria perder a única pessoa que mostrava se preocupar genuinamente com ela.
  – Eu não valho nada, . - ela disse, chorosa. – Não quero ninguém comigo, porque não valho a preocupação. Sou um fardo.
  Ele ouviu seu coração pular uma pulsada ao ouvi-la chorar. Deu alguns passos até ela e a puxou para um abraço.
  – Pelo amor da sua dedicação à sua carreira, nunca mais fale isso. - ele sussurrou. – Você jamais pense que não vale nada. Pare de sofrer. É só isso o que eu quero. Além de ter para mim, mas isso em si só já mataria os dois coelhos com uma cajadada só. - sorriu. – Confie em mim. Você terá tudo o que quiser a partir do seu próprio esforço. A única diferença é que estarei ao seu lado, me orgulhando a cada etapa vencida.
  Seus braços envolveram a cintura do garoto que praticamente a cobria, por ser muito mais alto. Com aquela retribuição, abriu um sorriso e pensou:
  “Finalmente.”
  Ele esperou que ela parasse de chorar e se afastasse, mas não muito. Quando ela o encarou com os olhos vermelhos e o rosto inchado, ele a achou a mulher mais linda do mundo. E, pela primeira vez, não esperou qualquer sinal dela para agir: puxou-a de volta pela cintura e a beijou. Beijou com todo o amor que esteve guardando nos últimos anos. Beijou, selando a promessa de que ele iria cumprir com o que disse.
  Ela seria a mulher mais feliz do mundo.
  E a mais bem-sucedida também.

FIM