Wrong Generation

Escrito por Jéssica Letícia Tavares | Revisado por Pepper

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  Você quer me entender, não é? Por isso está lendo isso.
  Sinto muito, mas essa não é mais uma história clichê ou sobrenatural que você espera ler.
  Essa é uma história real, com pessoas e acontecimentos reais.
  A morte é fácil, tranquila. A vida é mais difícil.

  Nós nos conhecemos de baixo de uma escada, ele estava drogado e eu de vestido. Eu odiava vestidos e odiava drogas. Seu nome era Drew. Seus olhos eram da cor do oceano e seu sorriso era o mais lindo que eu já tinha visto.
  Foi ódio à primeira vista, e amor ao decorrer do tempo.

  Depois do episódio em baixo da escada viramos amigos.
  Tínhamos muito em comum. Drew me apresentou seus amigos, W e K. Eles tinham uma banda e tocavam muito bem. Tocavam toda quarta feira à noite em um pub da cidade, todos gostavam de suas músicas.
  A primeira vez que nos beijamos foi quando nós voltávamos do cinema, o filme era de romance e Drew havia odiado. Estava chovendo e nós estávamos a pé.
  Paramos em baixo de uma árvore esperando o momento em que a chuva iria parar, mas ela continuou.
  Eu estava com uma roupa leve, pois quando saímos estava calor. Drew tirou seu moletom e me fez vesti-lo. Eu me sentia culpada por ele estar passando frio por minha causa, então o abracei com força. Ele sorriu e meu coração parou de bater por alguns segundos. O que aconteceu depois foi uma sequência de fatores e eu não sei descrever.
  Seus lábios macios tocaram os meus e naquele momento eu sabia que o amava.
  Dá para acreditar que ele fica com vergonha quando olha pra mim? Depois do que aconteceu, para ser mais exata. Tudo voltou ao normal depois de nós irmos ao cinema, conversei com ele e nos beijamos de novo.
  Tudo ia bem e a banda tinha mais admiradores.
  Drew gostava de se informar sobre espiritismo e vidas passadas, e eu adorava vê-lo meditar e ouvir músicas calmas. A presença dele era reconfortante.
  Tivemos nossa primeira briga em Agosto. Drew estava se drogando cada vez mais, e sabia o quanto isso lhe fazia mal. Logo depois ele desistiu da escola, faltando dois anos para se formar. Fiquei uma semana inteira sem falar com ele, e só quando ele foi até minha casa e me pediu desculpas, eu o perdoei, mas ainda queria que ele fosse à escola.
  Drew continuou se drogando e indo para a escola, então estava tudo bem.
  Eu não o julgava por ele fumar e se viciar. Essa era uma escolha dele e eu respeitava. Assim como ele respeitava quando eu misturava doce com salgado, ou quente e frio.
  Ele me pediu em namoro no fim do verão de 2009 e tudo estava bem. Os pássaros cantavam, as flores brotavam e nós nos amávamos. W e K ficaram zoando seu amigo por, finalmente, encontrar uma namorada.
  W e eu viramos melhores amigos logo depois de ele terminar com Tracie e ele estava mal. Eu tentava anima-lo, apresentei-o a outras garotas, mas a única coisa que deixava ele feliz era a banda.
  Drew o ajudou a escrever uma música, “Tracie”. Fiz Drew jurar que nunca escreveria uma música sobre nós, e se o fizesse, não poderia colocar o meu nome como título.
  “Mas eu quero eternizar nosso amor, pequena. – ele sussurrou, me abraçando com força.”
  “Apenas fique comigo para sempre. – sussurrei de volta.”
  A primeira vez que fizemos amor foi em um dia de lua cheia e o céu estava estrelado. Abaixo de nós só havia um pano que impedia o contato dos nossos corpos nus com a areia. Depois que terminamos, dissemos o quanto nos amávamos. Contamos os nossos segredos as estrelas e elas revelaram a todo o céu.
  Ele me apresentou à sua mãe e ela gostou de mim. Drew deixou a droga por um tempo e se dedicou a música, estava tudo indo bem.
  Não sei como aconteceu, nem o porquê, mesmo que depois ele tenha tentado me explicar.
  Era um dia normal na escola, ou pelo menos eu pensava que era. Quando eu me aproximava de alguém, as pessoas me olhavam com dó e eu não entendia.
  W pediu meu celular emprestado e demorou a devolver, não vi Drew o dia todo e os olhares continuavam.
  Ao chegar em casa, fui abrir o meu e-mail e foi como ter levado uma facada no coração.
  Havia uma foto. Uma foto de Drew e de outra garota, eles faziam aquilo e estava tudo ruim novamente.
  W devolveu meu celular e disse que sentia muito. Ele confessou que sabia e que alguém havia tirado a foto sem eles verem. Vi Drew dois dias depois e brigamos.
  “– Como você pode?” – eu falava baixo, com as lagrimas descendo do meu rosto.
  “– Me desculpa. Jaiden... Grita comigo, me bata, mas, por favor, não chore."
  Suas palavras só pioraram tudo. Eu não era uma pessoa agressiva, mas eu estava magoada.
  “– Depois de tudo, Drew. Tudo o que aconteceu entre nós... Você troca por uma noite de sexo com outra menina? – olhei nos seus olhos e senti sua dor, mas continuava magoada, e chorava.“
  “– Eu... Jaiden, por favor. – Ele se aproximou e eu me afastei, não queria tocá-lo. Era como se ele estivesse infectado por outra pessoa. – Eu a amo, eu só... não sou o melhor pra você."
  “– Não é o melhor para mim? Do que você está falando? – rebati confusa."
  “– Você merece alguém melhor, Jaiden. O que eu tenho a te oferecer? Nada, pequena."
  “– E precisava me trair?! – gritei."
  “– Foi um erro. – ele disse. Apenas isso, um erro."
  “– E eu? Foi um erro também? Quantas garotas foram um erro para você?"
  “– Jaiden, eu te amo... Sempre amarei. Mas eu sou um perdedor."
  “– Você está errado, e sabe disso.”
  Foi a última vez que eu conversei com ele, foi a última vez que eu o vi.
  Eu não sei se me arrependo do que aconteceu, eu não sei o que sentir. Mas, espere, vou contar a você exatamente o que aconteceu.
  Era de manhã e eu estava triste.
  “O que foi, W? – estava abatida por tudo o que aconteceu, eu só queria distância do Drew e de qualquer coisa que estava ligada a ele."
  “– O Drew..."
  “– Wesley, eu não quero saber! – desabafei. – O que aconteceu? Saiu mais uma foto dele? Wesley, me deixa..."
  Quando estava prestes a fechar a porta, ele me impediu e me encarou. Seus olhos estavam vermelhos e ele estava mal.
  - Jaiden, ele morreu. – W disse com a voz trêmula.
  Levei um choque com suas palavras, tentei ao máximo não demonstrar emoção alguma. Apenas neguei com a cabeça tendo a certeza que aquilo era uma brincadeira. E eu tive, até o momento que W começou a chorar.
  - Você... Você está brincando né?
  Fiquei esperando sua resposta, ele continuava chorando.
  - W! – gritei, sentindo meu coração se apertando.
  Minhas mãos começaram a tremer e de repente as lágrimas tomavam conta do meu rosto.
  Puxei W e o abracei com força. Não era uma brincadeira e aquilo não podia estar acontecendo.
  Drew, o MEU Drew estava morto.
  Agora eu sabia o que havia acontecido. Ele estava drogado e havia puxado briga com um Zé ninguém. Acontece que esse Zé ninguém tinha uma arma, e se achou no direito de tirar a vida de alguém.
  "Porque no final, quando você perde alguém, cada vela, cada oração, não vai mudar o fato que a única coisa que sobrou é um buraco na sua vida, onde alguém que você se importou costumava estar. E uma pedra, com o nascimento cravado nela que eu aposto estar errado."
  Estávamos olhando o corpo de Drew dentro do caixão e o mundo parecia congelado. W e K estavam ao lado da mãe de Drew e eu só podia pensar que nunca mais veria o oceano em seus olhos.
  Você acredita em Deus?
  Por favor, seja sincero.
  Não diga que sim só porque se sente obrigado e por ter medo de ir ao inferno.
  Pois bem, eu não acredito. Ou pelo menos acho que não.
  Eu sou uma adolescente confusa que perdeu o namorado, eu tenho direito de ter crises existenciais e estar depressiva.
  “– Deus, você está ai? – gritei olhando para o céu. Estava irritada e cansada de tudo. – Eu não acredito em você! Por que você nos dá coisas e depois simplesmente as tira de nós? Esse é o seu hobbie? Você faz milhares de pessoas passarem fome e sentirem sede. Você criou animais que matam outros animais só para saciarem sua fome. Você deixou o mundo estar como ele estar. Com guerras e bombas atômicas. Se há uma coisa que eu não acredito é em você, Deus.”
  Geralmente em filmes quando aparece “algum tempo depois” é porque tudo está bem. As pessoas voltaram as suas rotinas, os pássaros voltaram a cantar e tudo estava bem.
  Mas estamos na vida real, e nada fica bem, nunca. Talvez por algum tempo, mas sempre acaba.
  A verdade é que eu já não me importava com a escola e nem com a minha vida social.
  A única coisa que eu esperava era acordar e ir ao lugar onde Drew e eu nos conhecemos.
  Não sei como estão W e K, pois não os vejo há um tempo e espero que eles estejam bem.
  A quem eu quero enganar? Digo, eu não tenho ideais profundos e nem ouço música clássica. Eu não me visto bem e nem tenho bom gosto para a moda. Queimo qualquer coisa que eu tente cozinhar e sou péssima em cortar o cabelo.
  Eu não tenho um lugar no mundo. Eu nasci na geração errada.
  Você também se sente assim? Espero que não, pois o fim das pessoas que se sentem assim nunca é bom.
  Como Lennon, Kurt C, ou Sid e Nancy, agora seria Drew e Jaiden.
  Eu vejo você em outra vida. No céu, onde nunca vamos dizer adeus.

FIM ALTERNATIVO

  Nós nunca sabemos o que a vida tem a nos dar. Às vezes ela tira algo que amamos para colocar algo melhor. Foi o que aconteceu comigo.
  A verdade é que o luto só dura 10 minutos e depois nós nos sentimos obrigados a continuarmos tristes pois não sabemos o que vem depois da morte.
  Como eu já disse, não acredito em Deus e está tudo bem.
  Eu ganhei um anjo e eu o amo, ele não substituiu o lugar do Drew e nunca ninguém fará isso.
  W é um anjo para mim, sempre foi e eu nunca percebi.
  A primeira vez que fiz amor depois da morte de Drew eu chorei. Sentia como se estivesse traindo ele e W entendeu.
  Depois disso tudo estava bem e eu e W continuávamos felizes. Nunca nos esquecemos de Drew e não sentíamos como se estivéssemos traindo-o. Sabíamos que ele estava feliz por nós estarmos juntos.
  >> Você tem medo da morte, amigo?
  “Talvez a morte seja apenas uma criança inocente e solitária, brincando com sua arma carregada na cegueira da escuridão, colecionando os anjos que mata como se fossem figurinhas pro seu álbum de pêsames mortíferos.”
  Já faz alguns meses desde que o vi pela última vez e não me lembro muito bem, mas ele era incrível. Desde os dentes até a maneira gentil de falar, mesmo quando estava drogado. E eu sabia, eu sabia que era com ele que eu sempre deveria e então eu o fiz. Eu fiquei.
  Estava tudo bem, eu deixei uma carta e meus pais entenderiam. Deixei uma carta para meus amigos e não me sentia mal. Eu sempre tive a impressão que morreria cedo, eu sentia isso. Não queria viver até os 60 como a maioria das pessoas. Não queria filhos ou uma família grande. Sempre fora só eu. Eu era egoísta e estava tudo bem.
  No final, eu estava fazendo isso por mim e não por ele.

FIM



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