Why Ya Wanna
Escrito por Anna Beatriz Moreira | Revisado por Jéssica
Bernardo era do tipo de garoto popular. Porte alto, lindo, moreno, olhos indecisos entre o verde e o castanho. Era parte da bagunça. Como todo popular, tinha seu grupinho composto por duas metidas e seu melhor amigo, que não era de se jogar fora e sua melhor amiga que, por acaso, era amiga de Luiza. Clara e Luiza tinham se conhecido através do irmão de Clara. Ele passava horas conversando com Luiza e acabou aconselhando-as de serem amigas. E foi no que deu. Agora elas não se desgrudavam mais. Era conversa para lá e para cá. Bernardo decidiu, por um dia, se sentar ao lado de Clara e, consequentemente, ao lado de Luiza. Luiza era tímida demais para conversar com alguém tão popular como o Bernardo. Ficou, então, quieta em seu canto. Clara não ficava confortável deixando Luiza tão só e começou a “brincar” com ela também. O que Clara não percebia era que o sorriso de Luiza fazia o rosto de Bernardo iluminar. Bernardo ou Bê, somente, chamou Clara para conversar e confessou que estava realmente gostando de estar na companhia de Luiza. Disse que o sorriso da mesma o deixava empolgado para sorrir também. Falou sobre sua gargalhada e dissera que somente escutar o som que ela produzia ao gargalhar era encantador. Dizia não estar apaixonado, mas com vontade de conhecer mais aquela garota que, pelo o simples fato de ela todos os dias entrar pela porta da sala de aula, já o deixava feliz. Depois de ouvir essa informação, Clara ficou curiosa para saber o que Luiza achava dele. Ela nunca tinha pensado antes na hipótese de seu melhor amigo querer “conhecer melhor” sua melhor amiga. Resolveu que, no dia seguinte, falaria com Luiza.
Quando falou sobre isso com Luiza, se surpreendeu.
- Amiga, não é que eu não gosto dele. Eu até gosto da companhia dele, mas não tenho uma intimidade com ele e também não tenho assunto. Além disso, ele tem o grupinho dele e não gosto muito das atitudes deles com as outras pessoas. Ele é incrivelmente lindo. Aqueles olhos que eu nunca sei que cor são e... Não dá, amiga. – Falou por fim, deixando Clara triste em relação ao que ela pensava que poderia ser um novo casal.
Mas Bernardo não desistiu. Por seguidos dias, ele passou a se sentar lá com elas. Porém Luiza não parecia perder a timidez. Em um dia, quando estavam quase descendo para o recreio, Clara se levantou rapidamente e, já que era sempre uma das últimas a descer, falou:
- Acho legal que vocês conversem um pouco. E, de repente, só ouviram a porta bater. E quando a porta era fechada, só quem estava do lado de fora conseguia abri-la. Era um defeito que a porta adquiriu com alguns anos sem nenhum reparo.
Primeiramente, Luiza ficou paralisada. Ela tinha realmente grandes problemas com a timidez. Mas quando Bernardo tocou em seu braço, lembrou que não estava só. Ele tentava iniciar um diálogo, mas, quando ela não escondia o rosto ou ficava andando de um lado para outro, ela simplesmente não falava nada. Apenas sorria. Já haviam se passado uns dez minutos na companhia dele e ela já estava achando demais!
- Lu? – Ele a chamara pelo apelido que Clara costumava usar. – Você está com medo de mim?
Para a alegria de Luiza, uma das meninas do grupo de Bernardo abriu a porta, livrando-a de responder.
- O-o-obrigada. – Agradeceu por fim.
stava descendo os primeiros degraus da escada da escola quando Clara a para e pergunta o que aconteceu. Apenas na feição de Luiza, Clara podia ver que não foi uma boa ideia tê-los colocado naquela situação. Luiza simplesmente deixou Clara no degrau e continuou descendo como se não tivesse a visto lá. Clara chegou à sala e viu Bernardo sentando, olhando para o nada. Deduziu que estivesse pensando em Luiza, mas quando perguntou o que ele estava fazendo, simplesmente obteve a resposta de que a função de dois era zero. Coisas da matemática. Clara ficou pasma. Perguntou sobre a Luiza e ele disse o que havia acontecido. Quando ia falar, a turma chegava à sala novamente para os próximos dois tempos de aula. Luiza foi a última a entrar, sentou-se em seu lugar e concentrou toda sua atenção na aula. Quando Clara a chamava, ou ela a ignorava ou dizia que falava depois com ela. Quase a mesma coisa que ignorar. Bernardo mudou de lugar, voltou a sentar-se com seu grupo, e lá permaneceu por duas semanas. Sem olhar no rosto de Luiza, mas falando abertamente com Clara.
Clara e Bernardo estavam sentados em frente ao departamento de pessoal do colégio que ficava próximo ao refeitório infantil do colégio.
- Você e Luiza não se falam mais? – Perguntou Bê.
- Estamos melhores de novo. Ela é muito tímida e foi errado o que eu fiz, visando esse ponto. Mas por que a pergunta? – Virou o rosto para olhar nos olhos de Bernardo.
- Queria ter a chance de conhecê-la. Você sabe. – Falou escondendo o rosto.
- É só você mostrar interesse nela e nas coisas que ela gosta. Uma garota gosta de alguém que sabe ouvir, mas que também sabe opinar quando preciso.
Bernardo decidiu que passaria a procurar mais por Luiza. Depois desse dia, dessa conversa, tudo foi meio que diferente. Ele tentava conversar com ela e mesmo que ela não respondesse, ou gaguejasse na resposta, ele não desistia da rotina de falar com ela. Sem ao menos se preocupar.
Clara os convidou para a festa de aniversário da mãe dela, e ambos assentiram sem protestar pela presença um do outro. Na verdade, ela assentiu sem protestar. A festa seria no dia seguinte.
Depois da cansativa aula de geografia, os três foram para a casa de Clara ajudar em algumas coisinhas para a festa. Ficaram todos em um clima descontraído. Enquanto Luiza pregava alguns enfeites na parede da sala, Bernardo pegava o violão velho de Clara.
- Vou tocar algumas coisinhas amanhã na festa. Vamos ver se estou afinado!
Ele olhava para ela sem perder o foco. Não prestava atenção em nada, somente nela. Quando ela percebeu que a atenção dele não estava voltada somente para o violão, cortou qualquer pensamento com um simples “é fácil”, então se levantou e continuou o que fazia antes da interrupção.
Já era o dia da festa. Luiza começava a se arrumar, abriu o guarda roupas e olhou atentamente para cada vestido que tinha lá. Escolheu três. Mas com nenhum se sentiu bonita ou confortável. Pegou mais três e vira que dois não cabiam mais nela. Sem querer, passou o olho por um vestido que chamou sua atenção; era rosa bebê com detalhes prateados e um pequeno laço ao lado, que indicava onde ficava o fechecler. O vestido marcava bem sua cintura fina e, com a sua sapatilha favorita, deixava bem claro que ela era tímida. Fez alguns cachos no cabelo e passou um batom rosa claro. Pôs, de leve, uma sombra branca e já estava pronta.
Bernardo tentava se arrumar. Queria impressionar Luiza, mas tinha dúvidas se ia de calça jeans com uma blusa branca ou uma calça social e um blazer. Afinal, tinha que se adequar ao ambiente. Algo difícil, já que a casa de Clara era quase uma mansão. Decidiu colocar uma calça social e um blazer preto, calçou os sapatos sociais e estava pronto. Estava terminando de colocar o sapato, quando uma mensagem em seu celular o interrompeu, dizendo “estou pronta”. Já podia se imaginar quem era. Terminou de calçar o sapato e pegou o carro. Dirigiu ansioso até a casa de Luiza, que o esperava na sacada do quarto. Quando chegou, enviou uma mensagem, dizendo estar esperando-a. Ele saiu do carro e encostou o corpo no carro. Quando a ouviu fechando a porta, olhou em sua direção e se encantou. Não acreditava que aquela era a garota com quem ele estudara por oito anos. Ele abriu a porta do carro, ela entregou e agradeceu.
- Você está incrível! Está linda!
- Ah, obrigada... – Deu um sorriso. – Acho melhor irmos logo para não nos atrasarmos. – Falou.
- Verdade.
Chegaram à festa e logo encontraram Clara. Deram os parabéns à mãe da menina e foram se sentar em um canto da casa. Todos se divertiam e conversavam. Eles riam. A tocar a música favorita de Clara começou a tocar e ela, sempre espontânea e divertida, chamou Bê e Luiza para dançarem. Luiza era tímida demais para isso e Bernardo não queria deixa-la. E, no meio da música favorita de Clara, ela teve que atender aos chamados de sua mãe sobre para ajuda-la em um problema, o que fez com que Bernardo e Luiza ficassem juntos e sozinhos. Começava a tocar “Why Ya Wanna” e Bernardo chamou Luiza para dançar na varanda lateral, onde havia uma árvore enfeitada com dois bancos de madeira polida. Ela, de início, recusou, mas ele continuou insistindo e então ela cedeu.
- Me desculpa se eu pareço chata, mas é que sou... – Começou Luiza.
- Que isso. Você é maravilhosa. A melhor companhia para mim nesse momento. Acho que nem a Beatriz, a Carolina ou o Henrique estariam me fazendo tão bem agora. Meus amigos são importantes, mas você faz parecer que eu não pertenço ao mundo deles.
- Você está gostando de mim? – Perguntou Luiza, desfazendo a dança e olhando nos olhos dele.
- Gostar? Acho que, no ponto que cheguei, é pouco. Estou realmente apaixonado por você, Lu. – Falou se sentando em um dos bancos.
- E-e-eu...
- Ei, senta aqui, e respira. – Ele pediu. Ela ficou meio indecisa, mas acabou sentando. – É normal.
- Eu sei, quer dizer, não sei. Ninguém nunca gostou de mim, e eu... – Ela olhou nos olhos dele. – Meio que gosto de você também, mas é esquisito saber que...
- Nada é esquisito. Vem cá.
Bernardo segurou a cintura de Luiza e a puxou para um beijo. O primeiro beijo de Luiza. Tinha sabor doce e verdadeiro. Tinha sabor de amor, tinha sentimento, tinha carinho. Clara chegou gritando e reclamando, o que os fez partir o beijo. E, quando ela notou isso, já era tarde. Bernardo e Luiza se olharam e riram. Abraçaram-se e, sem se importarem com a presença de Clara, iniciaram um novo beijo.