When I Saw You In The Avenue

Escrito por Melissa Lima | Revisado por Duda

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Capítulo Único

  Outra tarde de sexta feira com fazendo o mesmo caminho de volta. Estava num grupo de amigos que, graças ao trabalho, os juntara. Todos tinham mais ou menos a mesma idade, entre os vinte e dois e vinte e quatro. A garota era a segunda mais velha, perdendo apenas para , que só ganhava por dois meses.
  Voltavam para a Paulista pela quinta sexta-feira seguida, já que naquele dia da semana durante aquele mês inteiro, houveram reuniões das quais eles eram liberados às cinco horas. A Avenida ficava onde eles pegavam o metrô, Brigadeiro, e exatamente no meio do caminho da Empresa, no Itaim Bibi. Era simplesmente juntar o útil ao agradável já que eles, por semanas, sempre combinavam de ir para aqueles lados mas alguém sempre acabava tendo um imprevisto.
  Realmente uma pena.
  Na primeira noite em que passaram na volta, pararam no McDonals para comer o lanche que desejaram a tarde toda. Embora adultos, com a vida se fazendo pela frente, juntos ainda pareciam com seus dezoito anos, descobrindo o que viria a seguir. Com medo, mas com coragem, mesmo que isso soe ambíguo. era o próprio exemplo disso: Se seus amigos sabiam que ela morria de medo da vida aos dezoito anos? A ? A corajosa, cara de pau? Claro que não. Mas na verdade, o futuro sempre foi o seu maior medo. Hoje, embora ainda receosa, já gosta do que a vida lhe reservara: cursava o último ano da faculdade e trabalhava em uma agência cujo nome era conhecido. Conseguia manter-se, ajudar a família e ainda assim ter uma boa vida. Era solteira, mas isso não a incomodava tanto. Tinha tido seus relacionamentos, nenhum com sucesso embora um deles quase: Bernardo era a perdição adolescente que chegou à vida adulta, até o momento em que descobrira que ele a traía. Desde então se dedicou à faculdade, aos estudos, aos livros e às séries, e tinha sido a melhora coisa que tinha feito nos últimos tempos.
  Fernando encostou-se na cadeira e abriu o botão da calça, levantando a camisa uns cinco centímetros, fazendo rir lembrando de um filme.
  — Isso é tão As Branquelas. — Ela disse, limpando o refrigerante que escorreu do nariz assim que viu o que Fernando fazia. — Tão sua cara.
  — Eu sei, obrigado. — Ele disse sério enquanto ria ainda mais, assim como todos os outros da mesa.
  — Uau, falou o virginiano cortante. — Ela disse revirando os olhos.
  — FALOU A LOUCA DOS SIGNOS! — Ele gritou e todos riram.
  — Me deixa ser, hein? Eu sei que me ama.
  — Só um pouco.
  — Que bonitinho, admitiu! Já podemos nos casar!
  — Uma pena eu ser gay. — Fernando disse com sarcasmo e bateu em seu braço. — Quê? É verdade!
  — Tô super cheia. Nossa! — disse encostando também na cadeira.
  — Duas. — Depois Jaqueline, a terceira mais velha, concordou.
  — Três. - Fernando. — Vontade de dormir aqui mesmo.
  — É. Mas não vamos. Eu quero sorvete e só consigo pegar lá fora.
  — Deixa de ser chata, . Só mais cinco minutos. — Victoria, a caçula, resmungou.
  — Nah. Mais cinco minutos e vocês dormem. Vamos. — Ela levantou-se pegando a bandeja e despejando os papéis sujos no lixo, e todos a seguiram.
  Assim que conseguiu seu sorvete, a lua já estava no céu e as luzes da Paulista acesas. Poucos conseguem entender quão mágico é estar num lugar daqueles numa hora daquelas. Talvez seja exatamente esse o sentimento que as pessoas têm ao andarem nas ruas de Nova York na mesma hora da noite. Pessoas, automóveis, ônibus, shoppings e felicidade. Você consegue ver de tudo na Avenida Paulista às sete horas da noite, inclusive uma banda de rock cujo guitarrista está vestido de Pikachu. Mas não foi esse trio específico que fizera o olho de brilhar.
  Um pouco mais adiante em frente ao shopping, havia um trio com instrumentos de sopro tocando Sorry, do Justin Bieber. Os cinco pseudoadultos pararam na entrada e ficaram cantando enquanto os três tocavam. Nenhum deles deveria passar dos trinta anos de idade. Um tocava trombone, o outro trocava Saxofone, mas fora o último, o do trompete, que chamou atenção de . Este usava um boné, uma blusa preta e tinha os olhos mais cor de mel que ela se lembrava de ter visto.
  De Sorry foi para Love Yourself, de Love Yourself foi para My Girl, mas quando chegou a She Will Be Loved, olhou pra Jaqueline e Jaqueline olhou para : Aquela música era a preferida das duas e ambas cantaram como se não houvesse o amanhã.

I don't mind spendin' every day
Out on your corner, in the pouring rain
Look for the girl with the broken smile
ask her if she wants to stay awhile
and she will be loved

  No terceiro refrão dois dos rapazes foram próximos das duas e colocaram as mãos no ouvido, gesticulando um "não tô ouvindo, pode cantar mais alto?" que foi obedecido na hora por elas. Os cinco riam, enquanto o trio parecia se divertir com seu novo fã clube.
  Mais seis músicas vieram e todos ainda cantavam alto. Eles, inclusive, repetiram She Will Be Loved o que fez Jaqueline e se sentirem como adolescentes de novo. Já se sentiu mais tocada quando os primeiros acordes de Just The Way You Are foram tocados. Ela amava essa música como as duas amigas amavam a anterior. Músicas diferentes, pessoas diferentes, mas o mesmo sentimento e sintonia. Esse é o poder da música.
  Quando os cinco precisaram realmente ir embora, fizeram questão de pegar um cartão onde tinha todas as redes sociais da banda. Com um último aceno e sorriso, eles foram descendo as escadas do metrô. tinha a sensação que estava flutuando.
  A segunda, terceira e quarta sexta-feira não tinham sido muito diferentes da primeira: Paravam pra comer e iam ver a banda tocar. Ficavam lá por quase uma hora completa, em pé, cantando. O som que eles faziam era demais. Eles tocavam muito, tinham um talento ímpar. Era óbvio que tinham nascido para fazer aquilo. Era natural, como respirar.
  Porém nas últimas duas sextas, apenas , Jaqueline e estavam realmente interessadas na música dos rapazes. E não só nisso, na verdade. Neles. estava interessada no rapaz que tocava saxofone porque, além de bonito, ele tocava muito. Mas do tipo, muito mesmo, que fazia a garota se arrepiar em cada nota. se interessara muito pelo que tocava trompete, que tinha um jeito largado, meio arrumado, um sorriso frouxo que provavelmente escondia um cafajeste de primeira linha por trás do rosto de um homem puro e angelical. Bem o tipo de , muito obrigada. Quanto à Jaqueline, ela se interessava só pela música que eles tocavam mesmo. Ela já tinha o seu próprio crush, mas acompanhava as duas amigas com as loucuras delas.
  Nessas três semanas, as garotas descobriram os nomes deles: , e que tocavam, respectivamente, saxofone, trompete e trombone. Elas seguiram os caras em todas as redes sociais e divulgaram seu trabalho, porque, afinal, eles eram muito bons no que faziam. O mundo inteiro poderia conhecê-los, porque imagina que incrível ouvir as músicas que você mais gosta tocadas por instrumentos de sopro?
  Aliás, admirava muito o fato de eles tocarem instrumentos de sopro, já que ela não conseguia nem encher uma bexiga sem ficar tonta por cinco minutos inteiros.
  Lá pela terceira semana, as três percebiam que o sentimento talvez fosse recíproco. Se elas iam mais para a esquerda, eles tocavam mais para a esquerda delas. Se elas ficavam centralizadas, eles centralizavam. E quando eles olhavam pra elas, elas tiravam os olhos deles e quando elas os olhavam, eles tiravam seus olhos das garotas. Quem percebeu isso primeiro foi Jaqueline, já que e eram lerdas demais pra notar esse tipo de coisa. Diriam que era só coincidência, e que era coisa da cabeça — como disseram três vezes pra Jaqueline antes de ficarem quietas e repassarem a cena pela cabeça.
  — O não para de olhar pra você. — Jaqueline dizia olhando pra . — E o não para de olhar pra você, . Parem de ser loucas. Não sei por que ainda não foram falar com eles.
  — Nós fomos, lembra? Semana passada, — quando ainda era a segunda sexta-feira na Paulista — conversamos bastante, eles foram super simpáticos. Eu até pedi um abraço. — riu lembrando-se da cena e as outras duas acompanharam-na.
  — E eu ainda não sei como você teve essa cara de pau. — Jaqueline disse.
  — Às vezes acontece. Mas ainda acho que você está louca.
  Agora, já na quinta semana, a opinião delas mudou um pouco. O conversa com as duas por WhatsApp e sempre mantém as garotas informadas sobre a hora que eles vão à Paulista.
  Já fica mais quieto, na sua. Só trocava olhares com , mas nada de ser tão extrovertido como o colega de banda. "Ele é muito reservado, dá pra perceber" repetia para as amigas, mas na verdade tinha medo de tudo não passar de desinteresse. Apesar da troca de olhares, receava que nada passasse de pura coincidência, ou que Jaqueline, e até ela própria, estivesse interpretando erroneamente os sinais.

Solo en tu boca
Yo quiero acabar...

  Na quarta sexta-feira, e pegaram — propositalmente — o mesmo metrô que eles. As garotas já tinham se despedido dos rapazes, mas pararam num barzinho da Paulista pra comprar algo pra comer. Demoraram uns dez minutos até descerem para o metrô, passarem na catraca e chegar à plataforma. Quando olharam para a esquerda viram os três rapazes embarcando dois vagões a frente, as duas correram em disparada pra conseguir entrar junto, mas quando faltava apenas duas portas, o alarme apitou anunciando que elas fechariam dali três segundos. puxou e a porta se fechou com estrondo atrás da garota, meio centímetro depois de terem entrado. Elas adentraram tão de repente e tão rapidamente que atraíram os olhares de todos enquanto riam sem parar no meio do corredor.
  — Estamos a uma porta deles. — disse recuperando o fôlego. — Vamos esperar dar a próxima estação e mudamos de vagão, tá?
  Tudo o que fez foi assentir já que ainda estava rindo sem parar.

Todos esos besos
Que te quiero dar

  Quando a próxima estação finalmente chegou, as duas desceram afobadas em direção à próxima. Pararam por um segundo pra respirar antes de entrar.
  — Eita - disse assustado quando as duas apareceram na sua frente, cansadas.
  — Uau, vocês realmente estão seguindo a gente. — disse rindo enquanto tentava recuperar o fôlego.
  Os cinco conversaram no caminho inteiro, até que desceu primeiro e quatro estações depois, o trio. descia na última. Com um abraço e um "se cuida" eles desembarcaram, deixando a garota rindo sozinha num vagão quase vazio.

  Agora, entretanto, sentia seu coração bater — muito — descompassadamente. Sentia esse pequeno frio na barriga toda sexta, mas nessa estava um pouco diferente. Talvez pressentisse que algo aconteceria, mas não iria se firmar muito nisso: Poderia estar confundindo as coisas, pressentimento com ansiedade, então preferia deixar quieto.
  Quando chegaram à Avenida, entraram no shopping onde a tocava. Rondaram um pouco lá dentro, até comprou um copo que queria há dois meses de uma loja simplesmente maravilhosa. Quando faltava menos de cem metros para a entrada do shopping, todos eles ouviram os acordes tão conhecidos dos instrumentos de sopro. foi andando — correndo — até a porta pra poder ouvi-los melhor. Eles realmente tocavam super bem, transmitiam uma energia boa, uma vibe alto astral.
  Começaram com A Sky Full Of Stars, depois Happy, Treasure, Sugar, Locked Out Of Heaven, Pompeii e logo foi a vez de She Will Be Loved, onde e Jaqueline não se contiveram e cantaram o mais alto que podiam.
   poderia estar imaginando coisas, mas reparava que ficava olhando-a com uma frequência impressionante. E quando a garota reparava no olhar do rapaz, este não desviava: sustentava seus olhos nos dela até que um dos dois cortasse.
  Just The Way You Are começou em seguida e fez suspirar.
  — Se alguém cantar essa música pra mim, nossa, eu juro que caso. — disse alto enquanto começava a cantarolar.
  — Her laugh, her laugh, she hates but I think is so sexy... She's so beautful... and I tell her everyday. — cantarolou olhando para que ficou estagnada. Ela tinha imaginado coisa, ou...?
  O final da música se aproximou assim como o tempo que eles tinham restando na Paulista. Era a última sexta-feira e havia passado com uma rapidez ímpar. Agradeciam ao trio totalmente por ter-lhes dado um entretenimento após longas reuniões meio chatas.
  Quando novos acordes surgiram, os cinco perceberam que eles nunca ouviram aquela música tocada pelo trio. Porém era uma que havia escutado bastante recentemente.

A mí no me importa
que duermas con él
porque sé que sueñas
con poderme ver
Mujer qué vas a hacer
decídete pa' ver

  Enrique Iglesias tinha um quê de interessante porque se interessava muito por música latina. Mal percebera quando já cantava a segunda estrofe da música bem alto e dançando de um jeito bem engraçado, já que essa música em especial fazia com que a garota tivesse uma vontade absurda de dançar. Jaqueline já ria da amiga empolgada. batia palma enquanto Fernando e Victoria só observavam tudo rindo da cara de pau.

Si te quedas o te vas
Sino no me busques más

  Nem é preciso dizer que se empolgou no refrão, né? Cantava alto sem se importar se parecesse desafinada ou louca. Algumas pessoas passavam na calçada olhavam-na como se ela estivesse fazendo algo errado. Outras sorriam, como se com orgulho de uma mulher de vinte e quatro anos cantando no meio de uma avenida movimentada. Mas naquele momento nada disso importava. Ela sentia que cada parte de si estava sendo dominada pela sua música preferida do momento.

Si te vas yo también me voy
Si me das yo también te doy mi amor
Bailamos hasta las diez
Hasta que duelan los pies

  Nesse momento, a já conseguia ver completamente o entusiasmo de e se divertia junto com ela. Tocavam pra ela continuar cantando e continuar dançando. Mas foi quando a garota abriu os olhos, que se deparou com uma cena que nunca poderia imaginar.

Si te vas yo también me voy
Si me das yo también te doy mi amor
Bailamos hasta las diez
Hasta que duelan los pies

   estava vindo em sua direção, sorrindo. Meu Deus, socorro??????, pensou ela.
  Ele estendia a mão para a garota, como se a convidasse para dançar. pegou a mão do rapaz, ainda em choque. Olhou pra trás de boca aberta e viu os amigos tão espantados quanto a própria. Todos estavam com os celulares na mão pra registrar o momento que vinha a seguir.

Con él te duele el corazón
Y conmigo te duelen los pies
Con él te duele el corazón
Y conmigo te duelen los pies

  Quando chegaram ao meio da calça, exatamente entre , , Fernando, , Jaqueline e Victória, pegou uma das mãos da garota e segurou-a enquanto colocou a outra dela em seu ombro. Colocou sua outra mão na cintura da garota e só disse:
  — Deixa que eu te conduza. — Piscou.
  E os dois começaram a dançar.

Solo con un beso
yo te haría acabar
ese sufrimiento
que te hizo llorar,
A mí no me importa
que vivas con él
porque sé que mueres
con poderme ver
Mujer qué vas a hacer
Decídete pa' ver
Si te quedas o te vas
Sino no me busques más

  O rapaz pegava e soltava a garota, fazendo-a girar e dar voltas, logo em seguida colava o corpo dela novamente no seu enquanto ele a conduzia perfeitamente no ritmo da música. sorria sem poder se conter. Já estava na onda sem ainda nem ter tido uma ideia do que estava acontecendo e como aconteceu.

Si te vas yo también me voy
Si me das yo también te doy mi amor
Bailamos hasta las diez
Hasta que duelan los pies

  Jaqueline filmava tudo, tremendo um pouco devido à emoção. Torcia muito pela amiga, mas essa cena havia sido completamente inesperada. Nenhum deles estava acreditando, embora todos estivesse super felizes pelo que havia acontecido.
   tocava sorrindo, pela coragem do amigo. Estava na hora, afinal de contas. Tinha passado, até.
   estava com o pensamento à milhão. Ao mesmo tempo em que vários pensamentos lhe ocorriam, sua mente simplesmente dera um branco total. Estava totalmente focada em , pensando que ele, sim, sabia conduzir a dança. Por Deus, não sabia como suas pernas ainda estavam firmes, já que pareciam pura gelatina.

Si te vas yo también me voy
Si me das yo también te doy mi amor
Bailamos hasta las diez
Hasta que duelan los pies

  O rapaz inclinou o corpo pra frente, fazendo inclinar o seu para trás, e eles pararam nessa posição por uns três segundos com os rostos bem próximos um do outro. conseguia sentir a respiração de , um pouco pesada, tocando na ponta do seu nariz. Sorriu com a sensação. Sensação de que o mundo estava certo.

Con él te duele el corazón
Y conmigo te duelen los pies
Con él te duele el corazón
Y conmigo te duelen los pies

   sentia-se um pouco atordoado. Ele era bem reservado, isso é fato. Mas respirara fundo e tirou uma coragem dentro de si que não dava as caras há um tempo. Tinha que falar com de alguma forma e essa fora, embora diferente, a única que lhe ocorrera mais cabível.
  Os dois sorriam, enquanto cantarolavam trechos da música, bem felizes por estarem ali.

Quién es el que te quita el frío
Te vas conmigo, rumbeamos
Con él lloras casi un río
Tal vez te da dinero y tiene poderío
Pero no te llena tu corazón sigue vacío

  Tantas pessoas já haviam parado naquele trecho da calçada, filmando, tirando foto ou apenas assistindo, que ali já se formara uma pequena multidão. Todos pareciam estar gostando da dança e batiam palmas no ritmo.

Pero conmigo rompe la carretera
Bandolera si en tu vida hay algo que no sirve
Sácalo pa' fuera!
A ti nadie te frena, la super guerrera
Yo sé que tú eres una fiera dale
Sácalo pa' fuera!

   não sabia de seu próprio nome se perguntassem a ela naquele momento. Seu coração batia tão rápido que não se era possível imaginar. Não sabia que conseguiria bater tão rápido. Também não sabia que conseguia dançar de par sem parecer totalmente fora de quadro. É claro que com uma boa condução, toda a cena muda.

Si te vas yo también me voy
Si me das yo también te doy mi amor
Bailamos hasta las diez
Hasta que duelan los pies

  A cena era simplesmente natural, mesmo que, há dez minutos, parecesse que não iria acontecer, embora a noite estivesse um pouco diferente. Mágica, talvez. Como se o destino reservasse esse momento há muito tempo.

Si te vas yo también me voy
Si me das yo también te doy mi amor
Bailamos hasta las diez
Hasta que duelan los pies

  E talvez estivesse mesmo. Todos os cinco amigos ficaram bem desanimados com a notícia dessas cinco reuniões de sexta, na sede da empresa, bem longe de onde trabalhavam de fato. Mas gostavam do que faziam e foram, às vezes reclamando, pra lá. Mas depois da primeira noite, e principalmente, começaram a ver que, talvez, as coisas poderiam deixar de ser tão chatas assim. Passariam pela Avenida Paulista, onde sempre marcavam de ir sem sucesso, e poderiam enrolar algumas boas horas por lá. E, de quebra, ainda ganharam uma boa música e um coração batendo levemente mais rápido.
  No final das contas, nada foi de tão ruim.

Con él te duele el corazón
Y conmigo te duelen los pies
Con él te duele el corazón
Y conmigo te duelen los pies

  A música ia acabando quando finalmente digeriu o que aconteceu nos minutos que passaram e tudo o que ela conseguia pensar era "Socorro??????".
  Nunca, nem em seus sonhos mais profundos, imaginou que uma cena dessas aconteceria consigo, ainda mais sendo o . Por Deus! Às vezes a vida tratava de dar um jeito para coisas boas acontecerem.

Solo con un beso
yo quiero acabar
ese sufrimiento
que te fez llorar

  Na parte mais lenta da canção, ele inclinou seu corpo pra frente, fazendo inclinar o seu pra trás novamente, com suas duas mãos no pescoço. Ele a guiou da esquerda pra direita, e levantou-a, girando fazendo trezentos e sessenta graus completos, com uma de suas mãos na cintura da garota e a outra em seu rosto. Ele sorria sereno enquanto ela sorria aberto. Os olhos fixos um no outro.
  Ambos só foram tirados de seus pensamentos quando ouviram palmas a sua volta. A música acabara e a pequena multidão aplaudia orgulhosa da cena que acabaram de presenciar. Jaqueline batia palma balançando a cabeça, como num gesto de "eu não acredito que você conseguiu", que fez sorrir.
  — Acho que depois dessa, já deu por hoje, né? — chegou perto dos dois enquanto ainda não tinham se separado. — Minha cabeça tá explodindo.
  — Tudo bem. — respondeu meio aéreo olhando para . — O que você vai fazer agora?
  A garota olhou para o relógio que marcava quase oito horas da noite. Tinha que ir pra casa.
  — Nada, na verdade. — Sorriu. — Por quê?
  — Sei lá, queria saber se você quer comer alguma coisa ou algo assim. — Ele falara coçando a cabeça, claramente sem graça.
   pensou por um tempo.
  — Acho que posso abrir uma exceção pra isso na minha agenda. — Ela fez bico e o rapaz riu aliviado. — Só preciso avisar meu pai, tá? Tinha combinado de lavar a louça. — Ela riu, ele acompanhou.
  — Sem problema. Vou arrumando as coisas aqui.
   voltava para os amigos, um pouco branca, um pouco corada, mas com certeza verde. Estava enjoada de emoção.
  — É impressão minha ou ele te chamou pra sair? — perguntava ansiosa.
  — Só pra comer alguma coisa. — sorriu.
  — Você tem uma sorte que só por Deus! — Fernando exclamou. — Me doa um pouco.
  — Só depois de eu saber no que isso vai dar. — Ela sorriu. — Precisou ligar pro meu pai. — E digitou os oito números do telefone residencial, que no terceiro toque foi atendido. Explicou rapidamente ao pai o que havia acontecido. O mais velho entendeu e desejou boa sorte e mandou um recado para : "ai de você se fizer alguma coisa com a minha filha".
  — Tudo pronto? — perguntou e os outros dois concordaram. — Te vejo depois, então?
  — Sempre. — afirmou. — Me deseja sorte.
  — Você não precisa. Agora eu... — e olhou em direção a . Os dois reviraram os olhos.
  — Para de ter medo e vai lá falar com ela. Aposto que ela também quer.
  — Vou pensar no seu caso, tá? Agora eu já vou, e você também. Boa janta. Coma algo, e não alguém, hein?
   olhou de um jeito que fez rir.
  — Como se você não estivesse pensando. Eu sou homem, eu sei. — Os três riram.
   vinda em direção a ele, enquanto seu grupo de amigos se dispersava por direções diferentes. Alguns metros pra frente, os dois viram e conversando, ambos sorridentes, desviando o caminho do metrô. Tanto como sorriram com isso.
  — Pronta? — O rapaz estendeu a mão esquerda para a garota.document.write(Louisa) respondendo sem hesitar, dando a mão direita à dele, entrelaçando os dedos e, juntos, seguiram pela Avenida Paulista que, naquela noite, reservara várias surpresas e que, com certeza, os reservaria um longo caminho pela frente.

Tenham uma boa vida.

The End



Comentários da autora
Vocês gostaram? Ai Deus, tomara que sim. Esse trechinho da dança, o contexto, ele é muito importante pra mim. E Rebekah, espero que tenha adorado lê-la assim como eu adorei escrevê-la. Foi com todo o carinho e amor do mundo, Amiga Secreta <3