What The Heck?
Escrito por Cáa | Revisado por Cáa
Palavras de um fã são sempre idiotas, não? Acho que inventaram a paixão primeiro, depois (logo em seguida!) o fã. Porque, dude, essa paixão de fã é foda. A banda faz 10 músicas, 1 CD e você já espera 40 músicas, o 4º CD e já casou - somente em sua mente, infelizmente - com o baixista umas vinte vezes (no mínimo). Aí você acha amigas que curtem a banda, mas parece um tipo de pacto não dito; elas podem escolher qualquer cara da banda para fantasiar encontros românticos em plena madrugada menos o "seu". Escolhas feitas, a partir daí é só alegria, você tem amigas que compartilham o mesmo vício que você, podem criar histórias mais férteis possíveis e muitas outras coisas (todas as coisas que a imaginação permitir). Depois de um tempo, alguma amiga começa a zoar o "seu homem" só porque é divertido e você o defende sem argumentos bons, plausíveis, o que torna tudo mais engraçado, em acrescento. Depois de passar algumas horas sem conversar com suas amigas, você se pega lembrando dessas conversas que uma amiga disse que seu integrante era uma galinha maluca ou quando outra metia o pau nele só pra você ficar irritada e ter que partir pra pior parte dessas "briguinhas": O ponto fraco do cara da sua amiga. Defende o seu favorito só por um orgulho besta, que sempre surge quando quer provar a masculinidade dele (coisa que você não tem como comprovar, anyway).
Sabe, eu já passei por isso. Sério, vamos encarar os fatos, quem não passou?
O que toda a fã espera (e não estamos falando de casamentos doidos ou declarações do seu favorito em pleno show no seu país) é conhecer o seu favorito (e não mencionemos a parte em que ela espera que ele se apaixone ardentemente por ela, ok?). E, na moral, quando você vai a um show da sua banda, você descobre que tem muitas pobres coitadas que acham que o favorito delas é o seu. E você se vê travando mini batalhas contra todas. Porque o seu favorito é seu e de mais ninguém. Muitas são posers, o que só faz você ficar com mais raiva, mas aí você acha aquela, aquela que lá vem falar: ?Eu morreria pelo Fulano.? Você se pega pensando se morreria também por ele, tenta o conhecer no backstage depois de muito suor e arranhões nada amigáveis para pegar a grade do lado dele e quando ele te vê, o que ele faz? É mais aéreo que outra coisa. E o pior, lembra aquela menina que deixou você com a dúvida se morreria ou não por ele? Ela começa a xingá-lo no momento em que ele bate os olhos em uma garota que, por milagre divino, não está toda suada e nojenta como todas as outras. E aí, você pensa bem (quem disse que pensar em momentos de raiva não funcionam? O meu cu pra isso!) e chega a conclusão que não, você não morreria por ele. Desculpem.
O pior de tudo é que sua esperança se vai, sua raiva cresce, as palavras das suas amigas contra seu favorito começam a ecoar em sua cabeça horrivelmente, você é obrigada a aceitar tudo o que elas falavam dele, sendo ou não zoação que se tornara verdade.
Passa para o próximo integrante da banda (o que você achava o mais insuportável de todos, o vocalista) e ele é um amor. Um cara realmente legal, que vale a pena conversar porque ele não está interessado no seu estado deplorável ou nos seus peitos valorizados por causa da blusa colada no seu corpo por suor, ele está interessado nas palavras que saem da sua boca, as que todas usam, mas mesmo assim, ele consegue mostrar um interesse grande. Ele tem uma resposta mais inteligente para suas perguntas, como quando você pergunta por que eles fazem aquele reality show e ele não responde simplesmente porque é engraçado, mas sim porque eles querem mostrar para as fãs que eles também são pessoas normais, com vidas normais e problemas normais.
O papo está tão bom que vocês acabam trocando telefone antes de ser empurrada pelo brutamonte do segurança para o outro integrante, só para dizer oi e ser expulsa do backstage.
E então, você se vê em um filme de drama por poucos segundos quando olha para o seu preferido e ele doesn?t give a fuck para todos.
E foi isso que aconteceu.
Andy é um bosta, Shaun um amor, Bradie um fofo e eu a melhor amiga de dois integrantes do Short Stack. Prefiro pular a parte em que eu digo que o terceiro integrante é minha paixão secreta, mas ao mesmo tempo um idiota.
- Sério. - Shaun diz, se gabando para mim, Andy e Bradie.
- Qual é, qual a probabilidade de eu acreditar? - Bradie diz, calmo.
- What the heck? - Andy falou com aquele sotaque fofo que só ele tem.
- Certo, devemos dar um crédito mínimo para o Shaun. - Disse, sorrindo.
- E por que? - Andy diz logo em seguida, o prazer dele era discordar de mim.
- Porque ela me ama. - Shaun diz, gargalhando logo em seguida. Ele sabia da minha triste experiência no backstage com a Short Stack. Não com toda a banda, mas sim com um baixista metido a inteligente e garanhão. Não sei bem como ou quando, mas viramos melhores amigos. E pra cumprir toda essa idiotice, contamos tudo um ao outro. É uma coisa gay sem fim, mas estamos falando de Shaun Diviney, certo?
- Douchebag. - Falo, rolando os olhos e ouvindo as risadas de Bradie e Andy ecoarem pela sala grande em que nos encontrávamos. Na casa de Bradie. E Andy.
- Yo voy para mi cuarto. - Bradie diz em espanhol e todos olham sem entender nada.
- O que uma Natashia não faz na vida de uma pessoa. - Andy diz, descruzando e cruzando os braços bobamente, como se dissesse algo muito importante e todos devessem realmente prestar atenção.
- Cala a boca. - Bradie retruca e no mesmo momento seu celular toca. - Oi amor. - Ele diz, meigo e se levanta rapidamente, indo pro quarto.
- Cruzes, melação demais para mim. - Shaun faz cara de nojo e eu dou um tapa em sua cabeça.
- Besta. - Falo, fazendo Andy olhar para mim, sorrindo.
- Não sabia que você era romântica, Helen.
- É. - Digo sem expressão, olhando para todos os lugares menos os olhos de Andy. A situação era tensa, Andy era difícil de desvendar e eu pior ainda. Nossos olhares se cruzavam incontáveis vezes enquanto procurávamos algo para olhar, algo interessante, o que não é muito comum de se encontrar em uma sala. Shaun finalmente abriu a boca.
- Hels, vou lá no mercado comprar cerveja.
- E coca! - Corto Shaun bruscamente e ele concorda com a cabeça.
- Eu diria coca em cinco nano segundos, mas enfim. - Ele fala, balançando as mãos displicentemente.
- Não demora porque eu também quero coca. - Andy diz, levantando e indo em direção ao controle remoto da televisão.
- Não sou escravo de ninguém.
- Cala a boca e vai, Shaun. Ninguém precisa ouvir as mesmas falas de novela mexicana quando você quer fazer drama.
- E quanto o assunto principal é a busca de umas garrafas de coca-cola. - Andy completa e sorrio para ele em concordância. E como em um passe de mágica, a tensão sumira.
- Exatamente. - Falo.
- Seus brutos. - Shaun resmunga e sai da sala, logo em seguida ouço a porta da frente bater.
- Outch, outch, outch! - Andy entra gritando pela cozinha.
- E lá vem a bicha doida dançando macarena. - Shaun sussurra para mim e rimos. Estávamos na cozinha, tomando nossas cocas. Bradie ainda estava no quarto, provavelmente falando com Natashia ou vestindo uma de suas fantasias do Spider Man.
- O que aconteceu? - Perguntei assim que vi a cara de assustado de Andy e ele choramingou algumas vezes antes de começar a falar.
- Me cortei. - Disse, e depois vi uma mão tapando a outra e um pouco de sangue escorrendo por uma das mãos.
- Jura? Pensei que estava inventando moda nova com sua dança de última geração. - Shaun ainda zoou com a cara de Andy. - Como que se cortou?
- Com a lata de coca. - Ele disse enquanto me entregava a mão e eu via o corte. Um corte meio fundo na palma da mão.
- Como raios você conseguiu fazer isso? - Perguntei, o puxando para a pia e lavando o corte delicadamente.
- Sei lá, Hels. - Ouvi claramente meu apelido ser pronunciado por ele e o encarei, sorrindo feito demente.
- Ok, então. - Sussurrei e acabei de lavar. - Não se mexa, vou pegar um band-aid. - Voltei rapidamente para a cozinha depois de ter remexido no armário do banheiro e não achado nenhum, tendo que pegar um na minha bolsa e Andy parecia uma estátua. Fofo.
- Obrigado. - Ele disse assim que dei um tapinha em sua mão, o incentivando a mexê-la.
- Andy filho de uma mãe, desses três anos que conheço a Hels ela não me deu nenhum band-aid dela, nem mesmo aquela vez que a gente estava pescando e eu cortei minha mão na linha da vara. - Shaun disse, indignado. Bufei e fui para a sala.
Olhava para a televisão concentrada, mesmo sem saber o que passava ou sobre o que o programa se tratava. Ou série. Ou novela. Ou propaganda. Whatever.
Senti o sofá afundar do meu lado e olhei desconfiada para Andy e seus olhos esbugalhados em minha direção.
- Você me deu um band-aid do Cosmo, dos Padrinhos Mágicos. - Ele disse, surpreso.
- Yep, e?
- Eu sei da sua fascinação por ele, obrigado.
- Cala a boca. - Disse depois de um momento incômodo entre nós e ouvi a risada dele.
- Por que você faz isso?
- Isso o quê?
- Se afasta quando eu tento me aproximar. - Ele falou, calmo.
- Não sei. - Sussurrei mais para mim do que para ele. Esse nosso momento estava me deixando confusa, Andy sempre me enchia o saco, mas agora parecia diferente. O Andy que conheci no dia do show não estava mais lá, nunca mais esteve desde que apareci em um bar com Shaun a meu lado e nos dirigimos a mesa em que ele e Bradie se encontravam.
- Nós podemos... - Andy pegou uma mecha de meu cabelo e começou a brincar com ela, enquanto se perdia em palavras. O momento estava pedindo velas, música romântica e uma casa vazia.
- Andy.
- Hels. - Ele me imita.
- Eu não posso. - Digo, afastando sua mão de meu rosto e deixando a sala.
- Acho que você devia dar essa chance. - Shaun dizia, estávamos no quarto de Bradie, eu deitada na barriga de Shaun, com os pés apoiados nas pernas de Bradie.
- Você esperou tanto por isso. - Bradie dizia.
- Esperei tanto e quando finalmente o conheci, ele foi estúpido. Ótimo. - Falava olhando para o teto, sem animo.
- Ele não foi estúpido, só aéreo. E cá entre nós, depois de um show, pedir coerência de Andy Clemmensen é como pedir unicórnios como presente de natal para o Papai Noel. - Bradie filosofa.
- Acho que isso pode ficar pra trás, não precisa ser lembrado a cada segundo. - Shaun era sábio quando queria. Ou fingia muito bem.
- Hã? - Ouvimos uma quarta voz e viramos todos para a porta. Andy estava parado, me olhando fixamente.
- Quê? - Shaun retruca e vejo Andy bufar impaciente.
- Fala sério, Hels! Tudo isso porque não fui simpático com você há mil anos? - Ele pergunta, agora dentro do quarto, fazendo gestos exagerados.
- Você é meu sonho adolescente, Clemmensen! - Falo, me levantando da cama e ficando frente a frente com ele.
- Ainda sou? - Ele falou, me lançando um olhar malicioso.
- Era! Era. - Digo rápido, me atrapalhando.
- Qual é, Helen. - Andy chega mais perto, colocando uma mão em minha cintura.
- Eu realmente não esperava aquilo de você.
- Se eu pedir desculpas, minha situação melhora?
- To falando sério! Você me decepcionou! Demais.
- Claro, porque eu preciso ser simpático com todas as meninas que estão interessadas só em quem eu aparento ser, não quem eu sou.
- Simpatia nunca é demais. - Nos olhávamos fixamente, milhares de palavras sendo trocadas só pelos nossos olhos.
- Mesmo depois de ter me conhecido, você continua gostando de mim? - Os olhos de Andy se focaram em meus mais uma vez, a voz dele saiu alta, o local estava em profundo silêncio, estávamos sozinhos no quarto, próximos demais.
- Andy...
- Só responde. - A voz de Andy era baixa, firme.
- Sim. É claro que sim! Você é totalmente diferente. O problema é que eu não sei se esse é você, ou o cara que nem me cumprimentou no show.
- Depois de dois anos você sabe quem eu realmente sou. Me dá uma chance, Helen Takahashi. - Ele pede, com um sorriso tímido no rosto.
- Uma. - Digo depois de um momento de silêncio agonizante. Nos encaramos sorrindo, olhamos ao redor e estávamos realmente sozinhos no quarto. Voltamos a nos encarar e Andy coloca seus lábios sobre os meus.