We're more than friends
Escrito por Giuliana Ramires | Revisado por Paulinha
Capítulo 1
- Você vai se atrasar, ! - minha irmã mais velha entrou em meu quarto me batendo com seu travesseiro, lembrando-me do primeiro dia de aula.
Encarei-a com o pior olhar que encontrei. O que não foi muito difícil, devido a minha cara amassada e cabelo despenteado.
Levantei de minha cama o mais rápido que consegui em direção ao banheiro, lavando meu rosto e penteando meu cabelo.
Eu tinha meia hora para ficar apresentável e tomar o café da manhã.
Deixei meus cabelos pretos soltos, fazendo-os baterem em minha cintura. Lápis preto em volta de meus olhos e rímel. Estava pronta.
- Dois minutos, ! - Desta vez quem gritou foi minha mãe.
Se minha fome permitisse, esperaria os dois minutos passarem para descer. Mas não estou com vontade de perturbar ninguém hoje.
Entrei no carro e coloquei meu Ipod no volume máximo. Já fazia parte da minha rotina ignorar minha mãe e minha irmã conversando sobre coisas desnecessárias.
-Se divirtam! - Minha mãe mandou um beijo e acelerou, deixando-nos na porta da escola.
Moro atualmente em com minha mãe e minha irmã mais velha, como já deu para perceber. Minha mãe e minha irmã são gêmeas de idades diferentes. Pode parecer estranho, mas elas não se desgrudam. São as denominadas "patricinhas". E eu? Prefiro dormir a fazer compras.
Caminhei até meu grupo de amigos e tirei um de meus fones.
- Pensei que ia se atrasar, mocinha! - faz sua famosa voz afeminada arrancando risada de quase todos. Eu não estava de bom humor. Eu, e pelo visto .
- Se viram ontem? - perguntou, apontando para nós.
- Por que eu veria a Giuliana sem vocês? - Levantei do banco, colocando meu outro fone e indo em direção a sala. Era a mesma sala sempre. Era o mesmo assunto sempre. Ninguém podia esquecer. Ninguém podia me esquecer.
- Ei, Ei! Espera! - Virei para trás sem paciência e encarei . sempre me ajudava. Era o único maduro em nosso grupo. Ou pelo menos o único que se mostrava maduro.
- só fez uma brincadeira. Não fique de mau humor tão cedo. - O encarei sem dizer nada.
-Só isso? - Perguntei, virando-me e voltando a caminhar.
Era para eu estar na sala. Mas não estou.
Eu prefiro matar o primeiro tempo de todos os primeiros dias. São todos exatamente iguais.
"Qual seu nome? De onde você veio?" Se for mulher, os meninos comentam sendo feia ou não. E se for homem, as meninas comentam se for bonito. Gente igual. Mundo igual.
- Sozinha e de mal humor... Deixa eu adivinhar, sua irmã te acordou? - apareceu atrás de mim, sentando junto a árvore em que eu estava.
- Desde quando você se preocupa com a minha vida? - Perguntei seca. Eu guardava todo o rancor do mundo em uma pessoa só. .
- Mas que merda, ! Quantas vezes eu vou ter que falar que a menina me agarrou? - O encarei e soltei uma risada irônica.
- Dois não beijam quando um não quer. - Coloquei meus fones de volta.
FLASHBACK ON
Minha vida era perfeita. Era a vida que todas as meninas queriam igual. Família sem brigas, namorado perfeito e amigos perfeitos. O que poderia dar errado?
Coloquei minha maquiagem escura de sempre e soltei o cabelo, indo à caminho do parque mais perto de minha casa.
- Hey, yo! - me abraçou ao me ver. - Você chamou o ? - Torci os olhos e levantei uma sobrancelha.
- Você disse um dia "só de meninas", porque chamaria meu namorado? - deu os ombros olhando por trás de minha cabeça.
estava ali. E não estava sozinho. Estava com uma loira completamente magra e sem corpo que eu nunca tinha visto na vida.
Pode ser amiga, não pode?
Encarei a loira mais uma vez, fazendo-a encarar-me de volta.
E desde quando amigos se beijam deste jeito?
- , não faz coisas sem pensar. - disse tentando me acalmar, em vão.
Caminhei em passos pesados até meu ex-namorado e coloquei uma mão em cada cabeça, batendo-as com força, assistindo-os partir o beijo por conta da dor.
- Ficou maluca, garota? - A loira sem nome questionou, me encarando.
Encarei com o pior olhar que minha face conseguiu fazer e sai daquele parque com músicas gritando em meu ouvido.
FLASHBACK OFF
não se movia. Eu não me movia. O sinal não tocava. Ninguém me salvava.
- Dá para parar de ser criança? - Ele pediu, tocando em uma de minhas mãos.
- Se eu tivesse te botado um chifre, você nem olharia na minha cara! - Ele olhou para baixo e sorriu, provavelmente lembrando.
- Você me bateu...
- Foi merecido. - Ele me encarou e olhou para o sinal. Era hora do intervalo. Logo o pátio onde estávamos estaria lotado de estudantes, e nossa árvore, lotada com nossos amigos.
- Se eu admitir, temos uma trégua? - Dei um sorriso de lado, sinalizando minha afirmação.
Capítulo 2
- Juntos? perguntou, novamente. A verdade era que nenhum de nossos amigos aceitou bem o fim de nosso relacionamento. Talvez se nós não brigássemos tanto, quem sabe.
- Esperando por vocês. - respondeu, logo me encarando com um olhar "cúmplice".
- Que silêncio desagradável é esse? - chegou junto a todos que faltavam. Estávamos todos em volta de nossa árvore.
Eu já estava acostumada a nunca deixar silêncio brigando e rebatendo à todos os argumentos do . E ele, o mesmo. Éramos considerados ''os palhaços'' sem nem mesmo fazer palhaçada.
O que fazíamos? Simples. Xingar um ao outro.
- Deem-me licença. - Pedi, levantando e batendo em meus shorts sujos de grama. Eu não estava afim de assistir aula. Na verdade, eu nunca estou. Apenas venho para marcar presença e vazo na primeira oportunidade. Essa.
- Vou com você. - e falaram em perfeita sincronia, levantando.
Éramos vizinhos. Desde sempre.
- Voltou a falar com o ? se pronunciou vendo-o entrar por seu grande portão de madeira.
- De onde tirou isso? - Entortei as sobrancelhas, encarando- a.
- Lugar nenhum. - Deu-me um beijo rápido na bochecha e entrou em casa.
Só podia ser minha melhor amiga.
Abri minha porta e encarei a casa completamente vazia. Como sempre.
Minha mãe, trabalhando até às oito da noite. Minha irmã nunca mataria aulas para fazer nada.
Subi as escadas para o segundo andar, sendo mais específica, meu quarto. Quarto que sempre tinha suas cortinas fechadas devido ao vizinho da frente.
Dormir. Era tudo que passava em minha mente. E era o que eu faria.
Abri os olhos com raiva. Eu odiava ser acordada. Ainda mais por barulhos desnecessários. Coisa que minha irmã era campeã.
Caminhei até a janela, abrindo a cortina para observar o nada.
"Sai da nostalgia, ." apareceu na janela da frente, com um pedaço de papel. Era como nos comunicávamos antes...
Fui até minha cômoda e procurei alguma caneta, achando-a em poucos minutos. Eu, como sempre dizia, tinha uma bagunça organizada.
"Não irrite demais, a trégua pode ser rompida." Eu era doce. Mas quando me machucavam, sabia ser ácida. Pode ser uma frase de "orkut", mas é a mais pura verdade.
"Só queria dizer Oi." Ele escreveu no verso de sua folha, fazendo-me dar um sorriso de lado e acenar.
Coloquei o papel e a caneta em cima de minha cama ainda desarrumada e desci as escadas para fazer algo para comer. Ou tentar. Eu nunca fui muito boa de cozinha.
- Dá pra me ajudar? - Gritei para minha irmã, que via televisão atrás de mim.
- Você não me ajudaria. - Arregalei os olhos, surpresa.
- Isso é porque eu não sei cozinhar! Rebati, ainda querendo ajuda. Minha barriga pedia comida.
- Vai pedir ajuda para o e me deixa em paz, .
Bufei e atravessei a rua. De pijamas. Todos na rua me conheciam, não me importava com isso.
Era hora de engolir o orgulho e tocar a campainha.
Capítulo 3
- , quanto tempo! Pensei que nunca mais te veria aqui. - A mãe de me abraçou, abrindo caminho.
- Seria pedir demais...
- Nem precisa continuar, Harry está lá em cima.
Agradeci e caminhei em direção à escada. Ainda dava tempo de desistir.
Subi todos os degraus e encarei sua porta. Suspirei pesado, dei três toques e aguardei-o responder.
- Pode entrar, mãe! - Eu meio que não era a mãe dele, mas aceitei o convite.
- Oi. - Emiti uma voz rouca e quase inaudível. me encarou e sorriu. Sorriu docemente sem falar nada. Ele estava de cueca. Mania que sua mãe diz ser péssima. Minha opinião? Não é uma visão tão ruim assim.
- Posso te pedir um enoo(...)oorme favor? - Encarei- o com a minha tentativa falha da cara do gato de botas do Shrek.
- Depende... - Sentou em sua cama, fitando-me.
- Minha mãe é a única naquela casa que sabe cozinhar. E mesmo assim, nem tão bem assim. Eu estou passando fome. - Sentei ao seu lado, com apenas deu travesseiro de distância entre nós.
- Você está me pedindo para cozinhar para você? - Balancei a cabeça em menção de sim.
levantou e esticou sua mão, fazendo-me pegá-la e levantar-me também.
- Considero isso um sim? - Perguntei.
- Só não se acostuma.
Descemos até a cozinha encontrando os pais de assistindo televisão. O que me lembrou de levar comida para casa e jogar na cara da minha irmã.
- O que a senhorita deseja? - Perguntou-me, fazendo pose de mestre-cuca.
- O que o senhor sabe fazer? - Nós rimos e fomos até o balcão. Peguei a massa do macarrão e entreguei para . Spaghetti era a única coisa que ele sabia fazer, mas por sorte, era minha comida preferida.
Colocou a água para esquentar, e fitou-me. Novamente.
- O que? - Perguntei, fitando-o de volta.
- Eu estou de cueca, e você de pijama. Somos ou não somos um casal perfeito?
Virei-me de costas e subi na bancada, sentando.
- Nós não somos mais um casal, . - Caminhou até mim e encaixou-se em meio a minhas coxas.
- Tem certeza? - Desviei meu olhar para panela, que fervia.
- A água está fervendo. -
Tirou sua mão de minha coxa e me encarou por alguns segundos, virando para colocar a massa na água borbulhante.
- Bom saber que minha nora está de volta. - A mãe de Harry disse por fim, avisando que iria subir para nos deixar "a sós". O destino só poderia estar brincando comigo.
- Do que você está rindo aí? - Apreendi que tapava sua risada abafada com a mão livre.
- Até minha mãe percebe que você ainda me ama. - Ele me encarou, parando de rir aos poucos.
- Eu nunca disse que deixei de te amar, . Eu disse que você me machucou.
Sentamos a mesa com meu iPhone gritando em mensagens.
- Pode responder? Esse barulho já está me irritando. – Levantei-me e peguei o celular, após digitar a senha. Senha que eu não havia mudado, e nem iria mudar. Meu aniversário e o dele.
- É a falando que não consegue nos encontrar. - Disse segurando a risada.
- Nos? - Ele perguntou surpreso.
- Estão todos reunidos na casa dela, mas você não responde. - Ele apenas apontou para o teto, devido a boca cheia. - Celular no segundo andar? - Perguntei vendo- o assentir.
- Vamos pra casa da ? - deu um sorriso de lado e assentiu, subindo para colocar uma roupa. - Temos que passar na minha casa para eu trocar de roupa também.
- Comeu? - Minha irmã perguntou ao ouvir a porta. - E trouxe o cozinheiro para casa também... Arrasou! - Meu rosto ficou vermelho. Não importava quantas vezes ele visse minha irmã. Todas elas, ela iria insinuar que nós iríamos para as preliminares.
Caminhei o mais rápido que consegui, puxando pelos braços.
- Desculpe por isso. - Pedi ao fechar a porta de meu quarto, enquanto ele sentava em minha cama.
Tirei minha blusa, jogando-a em qualquer canto. Abri o armário e encarei todas minhas opções.
- Qual? - Perguntei, vendo-o me encarar.
- Nenhuma. - Revirei os olhos e continuei a encarar minhas blusas.
- Não. - Disse ao sentir sua respiração pesada em meus ombros.
- Não o que? - Fechei os olhos com força, tentando resistir.
- Por favor. - Pedi, vendo- o sorrir para mim.
- Não tem nada de errado, . - Colocou uma de suas mãos em meu pescoço e chegou mais perto. - Eu não vou fazer nada que você não queira.
Capítulo 4
Vergonha não era bem o que estava sentindo. Afinal, já havia me visto de sutiã. Medo, talvez. Medo de me entregar, e amar novamente.
- Desculpa. - Disse, fazendo-o se afastar, me encarando. Eu era uma medrosa. Eu sempre seria uma medrosa.
Peguei a primeira blusa que vi e coloquei, caminhando em direção a casa de . vinha logo atrás de mim, com a mente em outro lugar. Distante, devo acrescentar.
- Devemos entrar juntos? Perguntou, me assustando. - Desculpe, não queria te assustar... - Assenti, tocando a campainha. Qual seria o problema de chegar ao mesmo tempo? Nenhum, ao meu ver.
- Até que enfim! - me abraçou, vendo coçar a cabeça em sinal de desconforto. Nós havíamos parado de chegar juntos em qualquer lugar a bastante tempo.
- Eles chegaram! Berrou, fazendo todos os outros vierem nos cumprimentar. Em pouco tempo já estávamos sentados no chão, vendo um filme qualquer e conversando sobre coisas que ninguém queria saber. Sempre fomos assim, amigos sem motivo. Apenas éramos.
- Já está ficando chato... Quem topa 7 minutos no paraíso? - perguntou, seguido de uma risada maléfica.
Obviamente, todos toparam. se certificou de pegar a garrafa de coca-cola vazia, enquanto nós fazíamos uma roda no chão da sala.
Quase todos já haviam ido. com e com . Nada havia acontecido. Ou se havia, não contaram.
Já estava ficando chato observar. Observa-los fazerem nada.
- e .
era um grande amigo. Meu, e de . Sem chances de algo acontecer. Né?
Levantei e fui puxada para baixo de novo. - O que? - Perguntei, encarando . O ciúme estava estampado em qualquer parte do seu corpo.
-Nada. - Ele respondeu, soltando meu braço.
Segui com para o quarto de e sentei em sua cama, encarando-o.
-E então? - Ele perguntou, sem jeito. Eu dei uma leve risada e continuei a fitá-lo. - Você tem 7 minutos.
Descemos ao ouví-los batendo panelas e tudo que se tinha direito. Era o sinal para "a brincadeira acabou, e seu tempo também".
Encaramo-nos, desligamos a televisão e descemos. Exatamente, a televisão.
era bonito, mas era um amigo bonito.
- E então? - e perguntaram em sincronia. Elas realmente esperavam algo com essa brincadeira... Coitadas.
- Assistimos Two Broke Girls. - Sorri, quebrando a barreira que elas haviam feito.
Joguei-me no sofá e notei que não estava mais ali. Olhei para os lados, vendo sentar-se junto a mim.
-Ele foi pra casa. - Ela realmente me conhecia...
-Obrigada. - Dei um abraço e sai sem ser percebida, o que foi fácil devido a maioria estar entretido com a televisão.
Imagine-se em uma guerra. É o que está acontecendo comigo, agora. Internamente.
Metade quer ir até lá, e simplesmente olhar para aqueles lindos olhos. E a outra metade, teima que o orgulho deve sempre vencer.
Lá? Lá onde? Você deve estar achando que sou doida. Ou no mínimo, doente mental. Mas não.
Estou aqui. Parada na frente da casa do meu melhor amigo. Que nunca perdeu este posto, mesmo quando me magoou. Por quê? Porque o amor que eu sentia, e sinto, é, e sempre será maior do que qualquer outro sentimento ruim que possa crescer dentro de mim.
Quer saber? Foda-se!
Depositei meu dedo sobre a campainha e toquei-a.
Desta vez, ninguém abriu a porta. Provavelmente, sua mãe e seu pai saíram. não desce para atender ninguém; mas hoje seria diferente.
Toquei a campainha por pelo menos mais 5 vezes, até ver a maçaneta sendo rodada. Meu coração estava a mil. O que eu iria falar?
- Se eu não atendi da primeira vez... - Ele parou ao me encarar. Simplesmente parou. Não falava, se mexia, nem nada.
- Posso falar com você? - Pedi, vendo-o assentir, saindo porta a fora.
- Eu não vou pedir desculpas, porque eu não errei. Então, eu... - Encarei-o e segurei seu pescoço, como ele havia feito antes. Fitei seus olhos esbugalhados de surpresa e depositei um selinho. Que com o tempo, foi aprofundado. Por ambas as partes.
Saudade. Era a única palavra que poderia descrever o que eu estava sentindo naquele momento.
-O que foi isso? - Ele perguntou sem parar de me fitar.
Capítulo 5
Respirei fundo e senti meu coração pedir passagem para pular fora de minha boca. Ele estava a mil quilomêtros por hora.
- Eu só me dei conta.
Soltei. Era muito tarde para voltar a trás. Muito tarde para ser covarde novamente.
- Me dei conta de que é preciso se arriscar para viver. É preciso se machucar no amor. E eu estou disposta a me machucar por você, se você me der mais uma chance.
juntou nossos lábios novamente e abriu a porta de sua casa, me puxando junto a ele.
Mas talvez quem sabe, a vida fosse a base disso... Engolir o orgulho e fazer tudo que der vontade, na hora que der vontade... "You only live once", não é o que dizem por aí?
FIM