Weekend

Escrito por Li Santos | Editado por Lelen

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  Mais um dia de jogo do Tricolor, mas hoje é especial porque eu verei o jogo pessoalmente.
  Já cheguei ao aeroporto de Salvador para recepcionar o time. Segundo informações do assessor, amigo nosso, o voo do São Paulo desembarca dentro de meia hora. A torcida lota o saguão de desembarque nacional, faz quase três anos que eles não vêm pra Salvador por conta de vários motivos. O principal deles era o fato do Bahia ter passado um ano longe da primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
  — , acho que estão descendo, hein?! — anuncia um amigo meu, me cutucando.
  A segurança do aeroporto colocou uma grade de proteção extra para que a torcida não se aglomerasse na porta, atrapalhando a passagem. Não adiantou nada. Estou nervosa, confesso. Faz quase seis anos que eu não vou a um jogo do São Paulo. Por motivos de dinheiro ou falta de oportunidade de vê-los em Salvador, um mix de coincidências negativas que me afastaram do meu time. Mas hoje finalmente eu poderia revê-los e eu estava uma pilha de nervos. Mal dormi a noite. Estou com sono e com os pés doendo do tempo que esperei aqui pela chegada deles, mas o que importa é que irei conhecer alguns jogadores de perto. Entre eles está Nahuel Ferraresi. Ele é recém chegado no time e já conquistou meu coração. Ok, ele é bonito sim. Porém, o que me conquistou foi a força e garra ao jogar. Raçudo pra caramba! Me admira jogadores assim. Por isso gosto tanto dele.
  Mas sim, ele é bem bonito e bem atraente, apesar de ser 8 anos mais novo que eu.
  Quando as primeiras pessoas uniformizadas surgiram pelo saguão, meu coração disparou. Meus olhos procuraram pelos meus jogadores favoritos, que não eram os mesmos que a maioria foi em busca de foto. Achei o Arboleda e fui logo abordá-lo, tirei foto com ele que brincou com minhas tranças dizendo que eu estou linda com elas. Fiquei tímida, mas agradeci. Rafael foi o próximo a surgir e também recebi um elogio. Nestor e Pablo Maia, as crias do time, foram bem simpáticos comigo e até autografaram a camisa que eu estou vestindo, que por sinal não é minha.
  Nahuel aparece, andando meio alheio à multidão e minha atenção se volta para ele. Corri para alcançá-lo antes que ele saísse. Vide experiências passadas, se eu deixasse ele sair pela porta do aeroporto, o segurança do São Paulo não deixaria mais eu falar com ele.
  — Nahuel! — gritei por ele, mas os fones em seu ouvido não deixaram que me ouvisse. — Nahuel, peraí, homem! — quando o alcancei, puxei sua camisa. O homem de 1,90m se virou para me encarar, retirando os fones da cabeça.
  — Oh, hola — diz ele, com um portunhol enrolado. Nahuel é venezuelano. — Quer uma foto?
  — Sim, por favor — pedi e me posicionei ao lado dele, que logo envolveu os braços nos meus ombros.
  — Quer que eu tire? Meu braço é mais longo — brincou com o fato de ser mais alto que eu. Entreguei o celular pra ele, que sorriu pra tirar a foto. — Hm, ficou linda igual a você.
  — Ah, obrigada, Nahuel — falei, tímida.
  — Eu que agradeço pelo carinho, obrigado por ter vindo tirar foto — agradeceu com um sorrisinho fofo. Quando ele sorri, seus olhos se espremem. Bem sexy e fofo. — Ah, desculpe, eu tô tímido porque você é linda — riu, ajeitando o fone no pescoço.
  — Que isso, Nahuel, assim me deixa sem jeito — bloqueie o celular, guardando na bolsa atravessada em meu corpo. — Sua namorada não vai achar interessante você me elogiando tanto — soltei, como quem não quer nada.
  — Eu não tenho namorada — e ele mordeu a isca. Bingo!
  — Hm, eu também não tenho namorado — falei. Nahuel ergueu as sobrancelhas, sorrindo maroto.
  — Quer ir pro hotel comigo? — propôs. Ok, não esperava por isso.
  — Hotel? Meu Deus, não esperava… — ri, nervosa. — Marcão não vai gostar de me ver perambulando pelo hotel — me referi ao famoso, e bravo, segurança do clube.
  — No ônibus não consigo colocar você, mas em um Uber sim. Topa?
  Cogitei por breves segundos em dizer não, mas o sorriso e o olhar cobiçador de Nahuel me fizeram mudar de ideia e aceitar. Ele me deu uma nota de cinquenta reais para pagar o Uber mesmo eu dizendo que não precisava, já que o aplicativo está com meu cartão cadastrado. Mesmo assim ele empurrou a nota em minha mão, aproveitando para beijá-la com seus lábios grandes. Porra, Nahuel, não faz isso em público!
  Esperei o ônibus deixar o aeroporto, o que demorou cerca de vinte minutos, e contei uns trinta minutos antes de pedir o Uber. O hotel que o São Paulo fica é conhecido e bem pertinho do aeroporto. Sempre ficam no mesmo hotel. Ainda bem que é de fácil acesso e os funcionários do hotel nem ligam que tenham torcedores lá enquanto o time está hospedado. É bem tranquilo, basta ter noção para se aproximar dos jogadores, claro. Antes de sair, Nahuel deixou o número dele gravado em meu celular. Mandei uma mensagem avisando que tinha chegado e aguardei sua resposta, que não veio. Mas, quando um dos recepcionistas me encarava desconfiado como se eu fosse assaltar o hotel, Nahuel aparece sem parte de seu uniforme de viagem.
  — Bom que veio, — ele me abraçou, abaixando o corpo e beijando meu pescoço. Ai, homem, pare…
  — Eu disse que viria, né? — falei, sorrindo.
  Nahuel segurou minha mão e fomos  andando na direção dos elevadores. O recepcionista seguia me encarando, mas agora tinha uma expressão de "Hmmm, agora entendi!". Segurei o riso e pegamos o elevador. Nahuel parecia tranquilo, seguiu segurando minha mão. Aliás, que mão grande, meu Deus.
  Ignorei meu pensamento e segui Nahuel até o quarto dele. Caminhamos pelo longo corredor do nono andar, sabendo de vezes passadas que o time veio pra Salvador, sei que todos ou boa parte do elenco e comissão técnica está neste andar. Entramos no quarto 9009, Nahuel fechando a porta após passar por ela, e fez sinal para que eu entrasse.
  — Fique à vontade, — diz ele passando por mim. Parei onde estava.
  — Obrigada, mas… — ele se virou para olhar pra mim diante da pausa que fiz. — Seu companheiro de quarto não vai aparecer?
  — Pedi pro Michel trocar comigo e ir dormir com o Luan — explicou com um sorrisinho safado.
  Ok, o nervosismo chegou com tudo agora. O que estou fazendo no quarto de um dos meus ídolos do São Paulo? Gente, em que momento eu achei que poderia vir aqui e ficar numa boa? É claro que ele quer transar comigo, eu também quero, mas fiquei nervosa agora. Meu Deus, estou até tremendo.
  Nahuel se aproximou de mim, abraçando meu corpo e, num reflexo idiota, pus as mãos sobre o peito dele.
  — Você não está a fim? — perguntou me encarando de cima, o tronco um pouco afastado.
  — Estou, mas fiquei nervosa. Não me julgue, você é meu ídolo. Não é todo dia que eu durmo com ídolos — eu tenho a mania besta de fazer piadas sem graça quando estou nervosa, tipo essa. Mas, Nahuel riu.
  — Não te julgo, chiquita — ele beijou meu nariz. Os lábios englobando meu nariz e me fazendo rir. — Não fique nervosa, vamos deixar acontecer, o que acha?
  — Acho bom.
  — Posso te fazer uma massagem pra relaxar, ficamos mais à vontade.
  — Será que funciona? Deveria tentar.
  Nahuel me beijou, mas não foi um beijo, digamos, comum. Como colocar isso em palavras? Sabe quando você está ao mesmo tempo nas nuvens, leve, mas se sente apertada também? Pois me senti assim. Ok, pode até não ter sentido, mas foi o que senti nesse beijo. O aperto do abraço de Nahuel atrelado aos lábios macios dele e o beijo gostoso que me levou aos céus.
  Tudo junto e misturado.
  Ele é forte, afinal é um zagueiro, é basicamente um pré-requisito o cara ser forte pra jogar nessa posição. Nahuel não é diferente. Com um impulso firme, ele me carregou, sem interromper nosso beijo, e segurou minhas coxas, apertando-as, caminhando até a cama. Se afastou um pouco para me deitar na cama, deitando-se em cima de mim.
  — Es muy fofa, chiquita.
  Sussurrou antes de voltar a me beijar com um pouco mais de calma.
  Ah, Nahuel, não posso me iludir, mas é meio difícil com você sendo fofo assim.
  Pelo jeito que ele me olha e o jeito como me aperta, já vi que a noite será intensa.

[⚽]

  Acordei com a luz do quarto ainda apagada, apenas a luz do banheiro está acesa e de dentro dele sai Nahuel vestindo apenas uma cueca box azul marinho, a mesma que ele usava. Não faço ideia de quanto eu dormi, mas ao olhar brevemente pra janela do quarto do hotel vi que ainda está escuro.
  — Dormi demais? — perguntei assim que notei que ele sorriu pra mim.
  — Meia hora, chiquita — responde Nahuel, se jogando em cima de mim e beijando meu rosto. — Está com fome?
  — Um pouco — falei, me encolhendo instintivamente no colchão. O corpo dele me aquecendo do frio que faz esse quarto. — Você me chama de “chiquita”, mas o novinho aqui é você — brinquei, rindo.
  — Mas eu sou o mais alto — devolveu, mordendo meu queixo. — Es una chiquita cerca de mí.
  Já sabia que Nahuel era zoeiro, na mesma vibe do Arboleda, mas não sabia que era tanto assim. Chato. Mas é gostoso e muito bom de cama. Tá, deixemos os detalhes da nossa transa de lado e vamos focar na fofura dele. Nahuel é bem cuidadoso e, para me deixar mais confortável ao lado dele, pediu jantar pelo iFood, já que o jantar do hotel já tinha sido servido e, teoricamente, ele teria que comer junto com a delegação. Pediu algo que normalmente não comeria, mas foi apenas pra me agradar. Enquanto a comida não chegava, Nahuel e eu conversamos um pouco. Vesti minha lingerie e ele me emprestou uma camisa dele pra usar, dizendo que eu fiquei mais gostosa com ela. Nahuel e seu dom de me deixar sem jeito e me incendiar na mesma frase.
  Jantamos, conversamos, rimos bastante das palhaçadas ditas por Nahuel, me contando os podres dos outros jogadores nos bastidores, e colocamos algo para assistir. Ter um homem de 1,90m ao seu lado tem suas vantagens. Grande e quentinho, Nahuel é um ótimo travesseiro e ainda faz cafuné. Claro que o resultado foi uma nova transa. Como eu disse: ele me incendeia.
  No dia seguinte, o dia da partida, ele acordou cedo e deixou um recadinho ao lado da cama dizendo que tomaria café da manhã com o elenco, mas traria algo para eu comer. Me levantei e tomei banho, vesti a mesma roupa que eu dormi, a roupa de Nahuel, e apreciei a paisagem. A vista daqui é lindíssima!
  — Voltei, chiquita!
  Nahuel entra no quarto, empurrando um carrinho cheio de comida.
  — Meu Deus, Nahuel, você roubou tudo isso da cozinha do hotel? — falei, rindo e o ajudei a trazer o carrinho pra dentro do quarto. Ele fechou a porta e correu até mim.
  — Tudo pra mi chiquita comer feliz — ele puxou meu nariz com os dedos em forma de pinça e se jogou na cama. — Chiquita, eu preciso sair daqui depois das 11h, vamos almoçar antes pra ir ao estádio mais cedo.
  — Imaginei — respondi, sentando-me na cama também. — Eu vou me arrumar e ir pra casa, preciso trocar de roupa.
  — Por mim você ia assim mesmo — Nahuel percorreu o olhar por mim, me desejando. — Mas não pode porque os outros caras vão ficar urubuzando mi chiquita, ficarei com ciúmes.
  — Hm, Nahuel Ferraresi é ciumento — zombei, pegando um pedaço de mamão e colocando na boca.
  — Quando eu gosto, sou sim — a frase me fez encará-lo, quase engasgando com o pedaço de mamão.
  — Gostar?
  — Eu me apaixono fácil — soltou sendo sincero até demais. — E tu, mi chiquita — segurou meu queixo, levando-o para perto dele —, me encantou.
  — Não me iluda, Nahuel Adolfo… — ele me beijou, me calando.
  — Não estou iludindo, chiquita — sussurrou, fixando o olhar no meu.
  A cor dos olhos dele, tão castanhos e quentes, me encarando, dispersaram o medo que eu tinha naquele momento. Concluímos o café da manhã, Nahuel estava mais fofo ainda hoje. Me dando comida na boca, brincando com o fato de eu ser menor que ele – virou a piada favorita desse safado – e me carregando até o banheiro para tomarmos outro banho, dessa vez juntos. Após, eu vesti a roupa que estava usando ontem e descemos até o hall. Pedi um Uber para voltar pra casa e Nahuel ficou comigo na frente do hotel esperando o carro chegar. Ele quase entra comigo no Uber, mas eu impedi que ele fizesse isso. Durante o percurso até em casa, Nahuel me ligou por videochamada e ficamos conversando. Cheguei em casa e me despedi dele para que pudesse se concentrar pro jogo. Ele prometeu fazer um gol pra mim caso jogasse. Ele não é titular, já que a dupla de zaga atual – Arboleda e Beraldo – está indo muito bem, mas ele sempre está ali para qualquer necessidade, cumprindo sua função com maestria.
  Por ser da torcida visitante, a torcida são paulina entra primeiro no estádio. Por isso eu já estava aqui. Encontrei meus amigos e entramos. Mandei uma mensagem pro Nahuel dizendo que já estava no estádio, recebi uma resposta quase uma hora depois. Ele já estava aqui também.
  16h.
  O jogo começou eletrizante, cheio de chances para ambos os lados. Em um lance infeliz do jogador do Bahia, Arboleda acabou se machucando. Nada grave, mas o suficiente para tirá-lo de campo por hoje. Nahuel entrou em seu lugar e juro ter visto ele olhar na direção da torcida antes de entrar em campo, parecia me procurar. Ele disse que faria isso. Hoje de manhã, antes de deixarmos o quarto dele, Nahuel me deu uma camisa dele de presente, autografada. E tem seu cheiro, já que fez questão de borrifar seu perfume nela. Estou vestindo ela agora, eventualmente sentindo o aroma de Nahuel em minha pele.
  Falta perigosa a favor do São Paulo.
  O time quase todo desceu pra área do Bahia, menos o goleiro Rafael. Nahuel pulava no mesmo lugar, aguardando a cobrança, pronto para cabecear. Como um míssil teleguiado, a bola batida por Michel foi diretamente na cabeça de Nahuel que testou firme.
  Gol do São Paulo.
  A torcida são-paulina vibrou. Eu gritei feliz pelo gol do São Paulo e por ter sido do Nahuel. Vi ele correr na direção de onde estávamos e não resisti ficar parada. Desci correndo as escadas, chegando até a parte que dava acesso ao campo, onde tinha uma portinhola que já estava abarrotada de torcedores. Nahuel subiu as escadinhas, mesmo um dos seguranças do estádio dizendo pra ele não fazer isso, e foi abraçado pelos torcedores que estavam ali. Mas o olhar dele me procurava, eu sabia disso. Nahuel abriu caminho ao mesmo tempo que eu também fazia isso e, quando nossos olhares se encontraram, ele segurou meu braço e me puxou, me abraçando.
  — Pra tu, mi chiquita!
  Gritou para que eu ouvisse e me deu um beijo na boca. O ato fez com que os torcedores próximos gritassem ainda mais. Nahuel sorriu pra mim e desceu as escadas, voltando pro campo. O jogo recomeçou e eu quase morri de vergonha. Voltei pra onde estava, sendo abarrotada de perguntas.
  “Você pegou ele?” “Meu Deus, o que houve, ?!” “Safada, pegou o Nahuel e nem falou nada!” “Mas como e quando foi isso, gente?!” “ é rápida!”.
  Nahuel me paga por isso.
  Tentei me recuperar da vergonha e emoção do beijo público na frente de um estádio de futebol lotado – nem vamos mencionar o fato da partida estar sendo transmitida nacionalmente – e voltei a acompanhar o jogo. O São Paulo marcou mais dois gols e vencemos por 3x0. Grande partida! Grande dia, realmente.
  Quase uma hora após a partida e finalmente podemos deixar o estádio. Nales da torcida visitante é ter que sair depois da torcida da casa. Bem depois.
  Evitei olhar o celular perto dos meus amigos, já que retomaram o assunto “Nahuel Ferraresi” após o fim da partida. Se eu pegasse o celular e eles vissem que Nahuel estava me ligando, aí sim iam me sacanear o resto da vida.
  Desci a rampa no meio da multidão, me afastando um pouco dos meus amigos, e atendi a ligação do Nahuel.
  — Desculpa não atender antes, não consegui escapar dos meus amigos — expliquei, reforçando a mensagem que tinha mandado antes do jogo acabar.
  — Tudo bem, chiquita. Onde está? Vou te buscar — perguntou, ouvi outras vozes perto dele.
  — Descendo a rampa pra sair do estádio. Vem me buscar como?
  — Sabe onde fica… qual o nome, hijo de puta? — falou pra outra pessoa, afastando o celular da boca, mas foi o suficiente pra que eu ouvisse. Soltei uma risada. — Fala alto, Beraldito! — brincou, rindo. Agora sabia que ele falava com o Beraldo. — Saída Norte, chiquita. Sabe onde fica?
  — Sim, fica do lado oposto de onde estou.
  — Sério? Carajo…
  — O ônibus vai sair de onde?
  — O ônibus vai sair de onde, sacana? — repetiu a pergunta, creio que pro Beraldo.
  — Se for do estacionamento externo, eu consigo achar vocês, mas não sei se consigo entrar. Não vão liberar meu acesso pra lá.
  — É perto sim, chiquita. O ônibus sai do estacionamento externo e desce uma ladeira.
  — Sei qual é.
  — Pode vir, tem umas grades cercando aqui, tô te esperando.
  Me despedi dele, por enquanto, e terminei de descer a rampa. Encontrei meus amigos do lado de fora me esperando, e expliquei que iria encontrar uma pessoa. Óbvio que eles já associaram ao Nahuel e voltaram a me sacanear. Nem neguei nem afirmei a informação. Deixei o local, dando a volta por fora na Fonte Nova, não demorei muito e em menos de cinco minutos eu estava na grade que dava acesso ao estacionamento externo. Nahuel acenou pra mim, pulando feito uma criança feliz ao ver alguém conhecido, e veio correndo até mim. Apontou para um local onde o portão estava encostado e me encontrou lá. Me abraçou forte, erguendo meu corpo, e beijou meu pescoço fazendo barulho e cócegas. No mesmo movimento ele me carregou, segurando minhas pernas com um dos braços e apoiando minhas costas com o outro. Abracei o pescoço dele para não cair, rindo. Nahuel é louco, mas eu adoro a maluquice dele. Meu maluquinho favorito.
  De longe avistei o ônibus que tinha levado a delegação ontem para o hotel. Sorrateiro, Nahuel me botou no chão, dizendo para eu segui-lo. Fiz o que ele pediu e fomos para o ônibus, que ainda estava vazio, e sentamos na última fileira. Ele me disse que em breve os jogadores iriam entrar, mas não era pra eu me preocupar já que o Marcão, o segurança do clube, só conferia quem entrava no ônibus e não quem saía dele. Como Marcão não estava lá quando subimos, não me viu.
  Fomos em silêncio até o hotel, Nahuel não soltou minha mão em nenhum momento. Ele estava emotivo, na certa com o coração apertado igual o meu estava. Afinal, amanhã ele vai embora e então como faremos? A agenda de um jogador de futebol é complicada, apesar de ter algumas brechas. Se eu morasse em São Paulo, seria fácil, mas morando em Salvador ficaria um pouco difícil de vê-lo nas folgas.
  Isso partindo da ideia que realmente vamos continuar nos vendo, né?
  Chegamos ao hotel e deixamos todos descerem. Ainda com um clima de despedida, Nahuel e eu descemos e fomos direto pro quarto. Mesmo com fome, ele quis aproveitar o máximo de tempo ao meu lado e eu também queria aproveitar esse tempo com ele. Tomamos banho e deitamos na mesma cama que eu dormi hoje de manhã.
  — Não quero me despedir de mi chiquita, não quero… — ele sussurrou, manhoso, agarrado ao meu pescoço, aspirando.
  — Eu também não quero — sussurrei de volta, aninhando o corpo dele ao meu. — Meu grandão…
  — Ah, chiquita, te quiero!
  Ele afastou o rosto e me beijou com paixão. Um beijo que comprovou o que ele disse: ele não iria se afastar.

  Uma semana depois
  Teve jogo ontem e essa semana não teria no meio da semana. Nahuel estaria de folga até terça, segundo ele mesmo me disse. Ele cumpriu sua promessa de manter contato e nos falamos todos os dias por mensagens e videochamadas. Hoje cedo ele me mandou uma mensagem, nem tinha dado 5h da manhã, dizendo que estava com saudades e procurando um jeito de acabar com ela. Depois disso ele sumiu, até a ligação de agora.
  Franzi o cenho e atendi.
  — Olá, Adolfo! — brinquei com o fato do segundo nome dele ser esse. Ele riu do outro lado da linha.
  — Só não brigo com você, chiquita, porque estou com saudades — disse. Uma barulheira misturada a sua voz.
  — Onde você está? Quanto barulho — comentei, andando pelos corredores do shopping onde eu estava, hoje é minha folga e um sábado.
  — No aeroporto, vem me buscar, chiquita, não sei andar por aqui.
  — Como quer que eu vá pra São Paulo te guiar, Nahuel? — perguntei, óbvia, e rindo.
  — Quem disse que estou em São Paulo, ? — parei de andar, o coração errando as batidas abobadas.
  — E onde você está, Nahuel?
  — Em Salvador — revelou. — Vem me buscar — voltou a pedir.
  — Achei que…
  — Eu disse que voltaria pra te ver, mi chiquita.
  Não consegui segurar minha emoção e pedi para que me esperasse. Corri pra frente do shopping e peguei o metrô até o aeroporto. Em menos de vinte minutos eu estava lá. Corri até a parte de desembarque, como fiz há uma semana, e dessa vez estava com menos pessoas circulando. Meu coração seguia disparado, angustiado em ver o Nahuel. Procurei por ele, as pessoas andando em diferentes direções, até que uma voz me atraiu.
  — Chiquita!
  Encontrei a figura alta de Nahuel com uma mochila nas costas e sorrindo pra mim. Corri até ele, agarrando seu pescoço e sendo carregada pelos braços fortes dele.
  Pela primeira vez, eu tomei a iniciativa e o beijei na frente de todos. Não me importava a vergonha, só queria beijar o meu zagueiro maluquinho.
  Mi Nahuel.

“Porque eu sou real.
  (O jeito que você anda, como você se move, O jeito de falar)
  Porque eu sou real.
  (Como você encara,Como você olha, Seu estilo, seu cabelo)
  Porque eu sou real.
  (Seu jeito de sorrir, O seu cheiro, Isso me deixa louco)
  Porque eu sou real.
  E eu não posso continuar sem você.”
  – I’m Real, Ja Rule feat Jennifer Lopez –

Fim!



Comentários da autora


  Nota: Esta história é baseada em um sonho que tive com o Nahuel, zagueiro do SPFC. Tirando o final, o resto eu sonhei tudinho. <3