We are invicible

Escrito por Julia Kao | Revisado por Isadora

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Parte do Projeto Songfics - 4ª Temporada // Música: Fucked Up Kids - The Maine

  É quase meia-noite, e eu termino de passar minha maquiagem, dando uma olhada no espelho, para checar se está tudo ok. Estou tentando arrumar minha maldita franja, quando meu celular começa a tocar, em minha cama. Saio correndo pelo quarto, para que meus pais não acordem com o toque.
  - Alô? – atendo um tanto esbaforida.
  - ! Já estamos chegando! – tenho certa dificuldade em ouvir o que diz, já que muitas pessoas falam alto por trás. Posso ouvir mandar o pessoal calar a boca – Fique pronta!
  - Já estou! – e termino a ligação. Dou uma última olhada no espelho. É, acho que está bom. E saio do quarto.
  Faço o mínimo de barulho que posso ao descer as escadas, enquanto meu coração pula loucamente dentro de meu peito. Sabia que, se meus pais me pegassem, eu estaria completamente ferrada. Mas era excitante fazer algumas loucuras de vez em quando.
  Um carro para bem enfrente de casa, no momento em que termino de trancar a porta.
  - Não acredito! Uma kombi! – exclamei, segurando uma risada, enquanto entrava na dita cuja. Reconheci alguns amigos de e minhas amigas. Deve ter umas 5 pessoas, contando comigo.
  - Mas é claro! Ou você acha que eu iria enfirar umas dez pessoas num fusquinha? – zomba de mim, no banco do motorista. está ao seu lado.
  - Muito bem. – ela diz, quando me instalo e fecho a porta – Agora só falta o , né? E o pessoal da faculdade. – sinto meu coração dar uma cambalhota ao ouvir seu nome e me sinto feliz, mas ao mesmo tempo nervosa por saber que ele está vindo também. O rolo ( e estão se pegando há umas 3 semanas) assente e dá a partida.

  There's a crowd inside
  (Há uma multidão dentro)
  Free in spirit
  (Livre de espírito)
  Nothing dazzling
  (Nada deslumbrante)
  In appearance
  (Na aparência)
  We do the best with
  (Nós fazemos o melhor)
  With what we have
  (Com o que temos)
  No, no, no
  (Não, não, não)

  Me ofereceram um gole da cerveja, ao qual aceitei, embora não seja muito fã de bebida alcóolica, mas a ansiedade estava me deixando seca. Todos conversam animadamente sobre qualquer coisa.
  E esta noite nos sentimos livres. E invencíveis.
  Não somos os melhores em nada. Não somos os mais bonitos da turma. Não somos os mais inteligentes. Não somos os mais descolados. Somos… Apenas nós mesmos.

  We aren't models
  (Nós não somos modelos)
  We aren't actors
  (Nós não somos atores)
  We are those who sit up in the rafters
  (Nós somos aqueles que se sentam nas vigas)
  After all
  (Afinal)
  That's where
  (É aí que)
  You will find the action
  (Você vai encontrar ação)

  Não somos o tipo de pessoa que inspira. Nem somos bons em mentir, nem em interpretar. Nós somos aqueles que gostam de ser sinceros, verdadeiros e livres.
  Aqueles que gostam de aproveitar a vida ao máximo, mesmo que nós erramos e caiamos na maioria das vezes. A vida é uma só, e nós temos de aproveita-la.
  - Ele tá ali! – aponta, e reconheço uma figura já conhecida. Meu coração começa a dar várias piruetas.
  - Finalmente! Achei que vocês tinham se esquecido de mim! – entra, e cumprimenta cada um de meus amigos, inclusive a mim. Espero que ele não tenha se queimado quando foi me cumprimentar. Minhas bochechas parecem estar pegando fogo.
  - Cara, não acredito que você trouxe o seu violão! – diz, enquanto o amigo posiciona o instrumento entre ele e – O pessoal nem cabe direito e você ainda traz esse troço!
  - Ah, cala a boca! - se senta ao meu lado, rindo. E os batimentos de meu coração acompanham as suas risadas.

  We're searching
  (Estamos procurando)
  For something
  (Por algo)
  Just trying
  (Apenas tentando)
  To make it happen
  (Fazer acontecer)
  We listen
  (Nós não ouvimos)
  To no one
  (A ninguém)
  Don't forget we won't forgive
  (Não se esqueça, não vamos perdoar)
  They'll write a story of the lives we lived
  (Eles vão escrever a história das vidas que vivemos)

  As pessoas frequentemente dizem que somos crianças ferradas. Que nosso mundo não tem mais salvação. Que vivemos em um mundo perdido. Mas, quando nós resolvemos fazer alguma coisa para melhorar e torna-lo mais justo, elas não gostam, dizem que somos vândalos e etc.
  Eu e meus amigos estamos tentando achar um lugar nesse planeta, assim como muitos outros, eu acredito. Estamos procurando por algo, tentando fazer alguma coisa. Não queremos continuar vivendo nessa realidade. Por isso, não ouvimos a ninguém. Sempre brigo com os meus pais quando tento ou pretendo ir a alguma passeata ou coisa do gênero. Eu sei que eles têm medo de que eu me machuque, mas é preciso, senão, quem fará por nós? Acho que eu deveria parar de contar tudo o que faço a eles.
  Não queremos que as pessoas escrevam histórias das vidas que devemos ter, de vidas que eles querem que a gente tenha. Nós vamos fazer a nossa própria história, a histórias que nós queremos para as nossas vidas, para que eles escrevam o que aconteceu.
  Nós escreveremos a nossa própria história.

  Fucked up kids
  (Crianças fodidas)

  As crianças fodidas.

  There's a place for you and all my friends
  (Há um lugar para você e todos os meus amigos)
  When the sun falls down
  (Quando o sol se põe)
  A new day begins
  (Um novo dia começa)
  Where feeling good is good enough
  (Onde se sentindo bem é bom o suficiente)

  Enfim, após uma semana cheia de manifestações e discussões com nossos pais (o meu caso, já que meus pais não me permitem que eu participe de nada disso, e eu realmente tenho medo de ser expulsa de casa e de perder a confiança deles, afinal, eles são os meus pais e eu os amo infinitamente), nós resolvemos dar uma pausa, fugir para algum lugar, esquecer de todos os problemas por algum tempo. E tem essa praça, para onde estamos indo, onde dá pra ver o nascer e o pôr-do-sol. disse que é magnífico ( a levou para lá no primeiro encontro deles). Estamos levando bebidas, algumas coisa para comer, um rádio portátil. Aparentemente, irá tocar para nós também. Ficaremos lá, nos divertindo, até virmos o nascer de um novo dia.
  Meus pais não sabem disso, obviamente. Eles não me deixariam sair de casa, para um lugar onde nunca foi, com um bando de malucos, em uma kombi caindo aos pedaços. Acho que é por isso que eu estou me sentindo tão nervosa. Não sou o tipo de garota que desobedece aos pais. Nem um pouco.

  Take a left on college avenue
  (Vire à esquerda na avenida da faculdade)
  And call your friends they can all come too
  (E chame seus amigos, todos eles podem vir também)
  They'll write a story of the lives we lived
  (Eles vão escrever a história das vidas que vivemos)
  Me, you
  (Eu, você)

  Finalmente chegamos à avenida da faculdade, onde vejo um pessoal da minha turma e de , sentados na calçada. Eles entram, quando encosta o carro (após quase passar por cima deles). Por entrar uma cambada de gente, tem que se sentar bem perto de mim. Ele sorri sem graça, quando percebe que meu rosto está quase colado em seu pescoço. E tudo o que consigo fazer é sorrir da mesma maneira para ele, enquanto sinto o cheiro de seu perfume.
  E partimos para escrever a nossa própria história. Ou pelo menos, para ter uma história para contar a nossos filhos e netos sobre esta noite.
  Não nos importamos se estamos sozinhos nessa, na verdade, até preferimos. É que a gente quer fazer as coisas à nossa maneira, sem o palpite de ninguém. E mesmo que ninguém nos conheça, está tudo bem, porque nós faremos o que queremos. O que podemos. E as pessoas escreverão e contarão histórias sobre isso.
  Isso pode soar um pouco bruto, mas eu me sinto bem. E nos sentimos invencíveis.

  We're searching
  (Estamos procurando)
  For something
  (Por algo)
  Just trying
  (Apenas tentando)
  To make it happen
  (Fazer acontecer)
  We listen
  (Nós não ouvimos)
  To no one
  (A ninguém)
  Don't forget we won't forgive
  (Não se esqueça, não vamos perdoar)
  They'll write a story of the lives we lived
  (Eles vão escrever a história das vidas que vivemos)

  Quando finalmente chegamos à tal praça, passa pouco da 1 hora da madrugada. Fizemos uma fogueira e começamos a nossa própria festinha. Conversamos, bebemos e dançamos, até cair no chão, de tão tontos que ficamos.
   é o primeiro a se recuperar. Senta-se em uma pedra, posiciona o violão e começa a tocar uma música mais lenta. E tudo o que eu consigo fazer é ficar olhando embasbacada. Ele fica tão lindo sob a luz de chamas, cantando e tocando. Ele realmente parece estar dando o máximo de si, já que está de olhos fechados.

  Fucked up kids
  (Crianças fodidas)

  Fucked up kids
  (Crianças fodidas)

  Após o pequeno show de , o pessoal voltou a comer ou beber. Ou a se pegar. Por isso, subo a pequena colina onde se localiza a praça, e me sento sozinha debaixo de uma árvore. Já está quase na hora do nascer do sol, e eu não quero perder isso por nada no mundo, por isso já garanto meu lugar.
  Consigo ouvir os grilos cantando perto de mim e conto as poucas estrelas que brilham timidamente no céu. Geralmente não seria possível vê-las, mas como tem chovido muito nos últimos dias, esta noite está muito limpa, sem nuvens. E eu me sinto tão pequena.
  Eu estou sozinha, imaginando se também há alguém em algum outro lugar, olhando as mesmas estrelas que eu. Imagino também nas pessoas que já passaram e que passarão por essa praça, também sob essas mesmas estrelas. E não me sinto solitária. Nem um pouco.

  I am alone
  (Eu estou sozinho)
  But I'm not lonely
  (Mas eu não estou solitário)
  No, it's nothing personal
  (Não, não é nada pessoal)
  I prefer to do things on my own
  (Eu prefiro fazer as coisas por conta própria)
  And even though nobody knows me
  (E mesmo que ninguém me conheça)
  No I'm not lonely
  (Não, eu não estou sozinho)
  No, I'm raw, and invincible
  (Não, eu sou bruto, e invencível)

  - Oi. – ouço a voz de vindo detrás de mim, o que me assusta um pouco. Olho por cima do ombro e ele sorri para mim – Você se importa se eu lhe fizer companhia?
  Não respondo nada, apenas vou um pouco mais para o lado, onde ele se senta.
  Eu e não podemos ser chamados de amigos. Ele é o melhor amigo do rolo de minha melhor amiga. Nos conhecemos só no aniversário de , no qual o levou. Conversamos um pouco e descobrimos que temos vários gostos em comum. Mas, diferentemente do amigo, que é o cara mais sociável do mundo, ele é bastante quieto e reservado. Assim como eu. Acho que foi isso que me atraiu também. Na verdade, eu já tinha uma quedinha por ele, desde a primeira vez que o vi, andando pelos corredores da faculdade. Mas só fomos devidamente apresentados na festa de .
  - A lua está linda hoje à noite. – ele diz, olhando para cima. Acompanho seu olhar. Realmente.
  - Está mesmo. – concordo. Hoje é noite de lua cheia. E ela está lá no alto, toda platinada, nos iluminando.
  - O pessoal não perde tempo mesmo. – Ele ri, olhando lá pra baixo. Estico o pescoço e começo a ver nossos amigos se pegando. Rio.
  - Eles não têm jeito.
  Ele gargalhou antes de dizer.
  - Acho que somos os únicos que não tem ninguém no momento. – e, não sei porquê, sinto um aperto no peito quando ele diz isso.
  E voltamos a olhar o céu.

  We are alone
  (Estamos sozinhos)
  But we're not lonely
  (Mas não estamos solitários)
  No, it's nothing personal
  (Não, não é nada pessoal)
  We prefer to do things on our own
  (Nós preferimos fazer as coisas por conta própria)
  And even though nobody knows it
  (E mesmo que ninguém saiba disso)
  No we're not lonely
  (Não, não estamos solitários)
  No, we're raw, and invincible
  (Não, somos brutos, e invencíveis)

  - Você toca muito bem. – quebro o silêncio.
  - Obrigado! – ele parece realmente feliz. Sorri para ele e não falamos nada novamente, mas não é desconfortável. Já me sinto bem, só de ficar perto dele.
   é tão legal. É estranho que não tenha uma namorada. Nunca o vi com ninguém, apenas com e seu grupo de amigos.
  - Fiquei feliz ao saber que você viria hoje. – ele diz. Olho para seu rosto. Ele não olha para mim, fica olhando os carros lá embaixo – Sabe, já faz algum tempo que eu queria falar com você. – sinto meu coração bater irregulado.
  - Hm… – respondo, para que ele saiba que eu estou ouvindo.
  - Te achei muito interessante, desde aquele dia, no aniversário da . Você tem um papo muito bom, além de ser muito legal e… Ter um sorriso lindo. – ele diz as últimas palavras em um sussurro, mas eu consigo ouvi-las perfeitamente, e sinto um calor subir por meu rosto até as minhas bochechas – Mas eu queria saber se você é sempre legal assim com todo mundo ou se é só comigo. – e ele, enfim, olha para mim – Como já disse, estou muito interessado em você. De uns dias para cá, não consigo te tirar da minha cabeça. Achei que o sentimento era mútuo, quando saí do aniversário, mas quando eu te via, você parecia me evitar, e você nunca mais apareceu nas festas que o pessoal dava. Quero saber se eu estou imaginando coisas ou… Você também sente algo por mim? – coçei minha cabeça, meio hesitante, desviando o olhar – Tudo bem se você não quiser me contar. – voltei a olhar em seus olhos.
  - Eu também. Como você pode ver, não sou o tipo de pessoa sociável e sou muito tímida. Mas… - pego em sua mão, que está bem ao lado da minha – Eu também, você não sai da minha cabeça desde aquele dia. Desculpe, não sou boa nessa coisa de relacionamento. Nunca havia me interessado por ninguém até… Bom, você. E eu não soube como agir. – fico olhando para meus joelhos.
  Então, sinto sua mão livre em meu queixo. Ele me obriga a olhar em seu rosto. E seus olhos brilham tanto, sob a luz da lua. E o cheiro de grama é tão reconfortante, assim como sua voz. E eu fecho os olhos.
  Sinto sua respiração bem perto da minha. E então, o gosto de seus lábios.
  E nos beijamos sob o primeiro raiar do sol.

  We are alone
  (Estamos sozinhos)
  But we're not lonely
  (Mas não estamos solitários)
  No, it's nothing personal
  (Não, não é nada pessoal)
  We prefer to do things on our own
  (Nós preferimos fazer as coisas por conta própria)
  And even though nobody knows it
  (E mesmo que ninguém saiba disso)
  No we're not lonely
  (Não, não estamos solitários)
  No, we're raw, and invincible
  (Não, somos brutos, e invencíveis)

  - Mas onde vocês estavam? – pergunta, quando voltamos para onde o pessoal está. Ela e não podem deixar de sorrir quando nos vê de mãos dadas.
  - Estávamos vendo o sol nascer, oras. – responde.
  Sim, ficamos vendo o nascer do sol, juntos.
  - Só isso, né? Sei, sei. – riu, fazendo o amigo rolar os olhos visivelmente sem graça, o que me fez rir – Agora vem me ajudar a guardar essas coisas.
   o acompanha, antes dá um sorriso para mim, que me faz esquecer de como se respira.
  - Hm, então você e o estão juntos, é? – fica dando risadinhas ao meu lado – Vocês combinam muito. Era disso do que eu e o conversamos.
  - Obrigada. – sorri feito uma boba – Vocês também são perfeitos juntos. – ela ri.
  - Eu sei. Ai, você não sabe! – ela cochicha em meu ouvido – Ele acabou de me pedir em namoro! Sob o nascer do sol! Ele até se ajoelhou sobre uma perna e tudo! Parecia um pedido de casamento! Não é a coisa mais linda que você já ouviu? – e fica dando pulinhos de alegria.
  É sim, . – sorri para ela – É sim.

  Voltamos para nossas casas. O pessoal fica reclamando de dor de cabeça e de como beberam demais. e ficam a toda hora fazendo aquelas brincadeirinhas idiotas e chamando um ao outro com aqueles apelidos melosos e estranhos que só casais têm. está de mãos dadas comigo e sorria de tempos em tempos para mim, ao qual eu correspondo.
  E eu sei que, quando chegar em casa, só poderei dormir por umas duas horas, e eu terei de fingir que estou descansada para meus pais, quando eles forem me acordar. Mas eu não me importo. Porque eu terei uma ótima história e ótimas lembranças desta noite. De como eu me senti invencível.
  Até mais, ! – e o namorado se despedem de mim (o resto do pessoal ou já foi deixado em casa, ou está dormindo no banco detrás).
  - Até gente!
  - Te ligo mais tarde. – diz para mim, e me dá um beijo. E eu sinto minhas pernas amolecerem.

  …E eu me sinto invencível.

FIM



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