Wall Mart Boy
Escrito por Daphne Blanco | Revisado por Lelen
É, minha vida estava uma droga e eu sabia disso perfeitamente bem. Mas o que eu podia fazer a respeito? Tinha perdido toda a minha família e aquela pressão pra ser a ‘herdeira perfeitinha’ me irritava, e se não bastasse isso meu ex-namorado era um idiota e só estava comigo por dinheiro, então há um mês eu tinha me metido com todo tipo de pessoas e ido as todos os lugares proibidos e principalmente feito tudo de proibido.
Eu morava em Baltimore, MD sozinha numa casa enorme na parte ‘nobre’ da cidade. Perdi meus pais num acidente de avião há 2 meses, uma viagem que eu deveria estar junto, mas por causa de uma prova do mestrado da faculdade de moda eu não pude ir. Eu só sentia falta realmente da minha mãe, ela sempre estava lá pra mim, meu pai era um estranho completo, não me viu crescer e só morava junto com a gente porque queria que eu crescesse com conforto.
Aquilo tudo agora era pra mim muito inútil, eu usava o dinheiro para fazer festas e comprar drogas e bebidas e não dormia direito há semanas. Não via muito sentido nas coisas a minha volta e sentia necessidade de estar bêbada o tempo todo. Mal sabia que meu modo de pensar estava prestes a mudar...
Acordei com a típica dor de cabeça, era o primeiro dia que eu conseguia dormir e fui acordada às 6 da tarde (sim 6 da tarde) com o toque do meu celular.
- Oi Beck.
- Qual é criatura, te liguei umas duzentas vezes, onde você tá?
- Na verdade eu tava dormindo.
- Ahn? Muito louca mesmo. Enfim, a galera tá combinando de ir ao ‘Roses’ beber e depois vai rolar uma festa no Marco, tá a fim de ir?
- Claro, vou só colocar uma roupa e te encontro aí na tua casa, fechou?
- Yep.
Desliguei e abri a porta do closet dando de cara comigo no espelho. Eu estava horrível, não que eu tivesse me importado com isso nos últimos dias mas agora tinha ficado realmente incomodada e resolvi tomar um banho e tentar parecer normal. Terminando, coloquei uma blusa do AC/DC cortada no ombro um short e vans preto. Coloquei dinheiro no sutiã (é as pessoas tentam te roubar o tempo todo nessas festas) e saí.
A festa foi o de sempre. Muita bebida e gente fazendo coisas que não fariam normalmente. Nesse dia excepcionalmente eu não bebi muito e nem me droguei, fiquei apenas olhando as coisas acontecerem e então Beck veio correndo pendurada em um garoto.
- Heeeeeeeeeeei, quero te apresentar uma pessoa.
- Hm.
- Então Dah, esse é o Alex. Alex, Dah.
Ela nos apresentou e saiu andando de volta pra onde estava. Tinha que admitir que ele era gato. Tinha o cabelo cortado do jeito que eu gosto em garotos e tinha estilo, sabe... E o que mais me chamou a atenção era que não estava bêbado e nem drogado. Me interessei de primeira. Ficamos conversando quase a festa toda e num momento que estava todo mundo chapado ele me perguntou:
- Então, quer ir pra outro lugar?
- Aceito sim.
Saímos da casa de Marco e fomos andando pelas ruas desertas até parar na frente de um Wall Mart já fechado por causa da hora. Ele continuou andando e olhou pra trás me vendo parada, eu já sabia o que ele ia fazer e sinceramente não estava a fim de ser presa.
- Você não vem?
- Não quero ser presa, só tenho 19 anos...
- Relaxa gata, faço isso toda hora, nunca me pegaram.
- E se hoje não for seu dia de sorte?
- Bom, você pode fazer com que seja...
Ele me puxou pela cintura e ao contrário do que pensei não me beijou, apenas mordeu meu pescoço e eu acabei entrando no supermercado com ele.
Pelo que vi ele realmente fazia aquilo toda hora e não, não haviam seguranças lá dentro como você deve pensar. Baltimore não era um lugar com muitos assaltos e as pessoas não eram tão precavidas em lugares grandes assim porque achavam que ninguém tinha coragem o suficiente pra isso. Sentamos no fundo do mercado já com Coca Cola e uns pacotes de Doritos na mão, descobri que ele não era de beber e nunca havia se drogado na vida.
- Então o que estava fazendo naquela festa?
- Sou amiga de muita gente que estava lá e fui pra tentar me divertir mas sei lá, as pessoas simplesmente não conseguem se divertir sem estarem chapadas ou alucinadas...
Olhei pra longe com vergonha. Era realmente idiota e eu sabia, estragar a vida assim sabe, mas eu não tinham motivos pra não estragar, não havia ninguém que fosse se magoar se eu morresse ou algo do tipo.
- Às vezes as pessoas tem motivos pra isso.
- Sei dos seus motivos. – me virei pra ele o encarando.
- Como assim?
- Eu sempre estou em todas essas festas e bom, sempre vejo você, mas acho que está sempre chapada demais pra perceber e sua amiga me contou dos seus pais e tal...
- Ah sim. Bom, não é novidade, acho que todo mundo dessa cidade sabe.
Ficamos lá conversando e quando eram quase 5 da manhã saímos e ele me levou em casa. Quando chegamos na porta e eu estava entrando ele disse.
- Posso te falar uma coisa?
- Claro.
- Só acho que uma garota linda como você não devia se estragar assim.
Fiquei vermelha, é claro. Fazia tempo que ninguém me chamava de linda ou algo do tipo. Agradeci com um sorriso bobo e entrei em casa, tomei um banho antes de deitar e dormir pensando nas coisas que ele tinha me dito. Era meio novo pra dizer isso mas eu me senti mudando, eu já não gostava daquela vida, estava me cansando de nunca lembrar o que tinha feito na noite anterior e coisas do tipo e principalmente pensei que queria impressionar Alex, ele realmente tinha despertado meu interesse.
No dia seguinte uns amigos me chamaram pra dar um rolê pela cidade e eu aceitei, Alex não estava lá, mas eu não bebi, queria experimentar a sensação de me divertir sem nada daquilo. E foi boa, dancei e ri a noite toda e o melhor, não acordei no dia seguinte com aquela dor de cabeça rotineira.
Já tinha uma semana mais ou menos que eu não via Alex em nenhum lugar, nenhuma festa e numa dessas resolvi ir ao Wall Mart. Entrei pelo lugar onde ele havia me mostrado e sentei onde havia ficado da última vez, ele não estava lá ou pelo menos eu achava que não.
Senti alguém me abraçar por trás e sussurar no meu ouvido. ‘O que está fazendo uma hora dessas aqui sozinha?’
Me virei e vi aqueles olhinhos castanhos me encarando. Não consegui me conter e o beijei. Tinha vontade de fazer isso desde a primeira vez que bati os olhos nele. Ele beijava incrivelmente bem devo acrescentar. Suas mãos que estavam na minha cintura desceram e apertaram de leve minha bunda e eu o beijei com mais intensidade, acho que naquele momento nós precisávamos ter uma ao outro, e foi ali, no Wall Mart que tudo aconteceu.
Acordei com uma luz fraca vindo da janela. Sorri lembrando da noite passada e tateei minha cama até encontrar o que procurava, ele estava ali, deitado, dormindo com aquela carinha de anjo. Fiquei o observando e não pude evitar beijar seus lábios macios.
- Bom dia. – Ele sorriu.
- Bom dia.
Aquela semana foi a melhor da minha vida, sem dúvida. Tudo que eu achava que nunca mais ia sentir aconteceu. Eu gostava dele até demais, tinha ficado dependente, mas acho que não fazia diferença já que ele parecia estar do mesmo jeito. Toda noite íamos para o wall mart e ficávamos lá, jogando conversa fora, rindo, trocando carícias e foi numa dessas que ele disse as palavras que eu queria a minha vida toda ouvir de coração vindo de alguém que não fosse da minha família.
- É, eu te amo.
No dia seguinte acordei e fui direto no telefone ligar pra faculdade e destrancar minha matrícula, queria terminar aquilo, agora já não estava tão mal assim. Depois aproveitei pra ir ao shopping comprar algumas roupas e uns cd’s novos, quando saí de lá passei em casa, tomei um banho e fui pra casa de Alex.
Toquei a campainha e esperei até que uma mulher atendeu a porta com o rosto e os olhos inchados, lágrimas. Não consegui perguntar o que tinha acontecido, eu achava que já sabia.
- O Alex está? – ela entortou os lábios tentando não chorar.
- Você é a garota com quem ele estava esses dias? A namorada dele?
- É, eu acho que sim.
- Por favor, entra.
Não conseguia pensar direito, eu não queria ouvir o que eu sabia que ela ia me dizer. Me deu um copo de agua e começou.
- Ele te contou da doença que tinha?
- N-não.
- Bom, o Alex nasceu com uma doença rara, ele teria uma vida normal, mas segundo os médicos podia morrer a qualquer momento. E esse momento chegou hoje de madrugada.
Eu não conseguia acreditar naquilo. Comecei a chorar ali mesmo, não dava pra entender! Eu ia passar a vida toda perdendo quem eu amava? Era isso mesmo?
Pedi licença à mãe de Alex e saí dali sem rumo. Acabei parando no Wall Mart. Sntei no estacionamento e me lembrei das noites que passei ali com ele, de como ele tinha me mudado tanto em tão pouco tempo, tinha me feito enxergar que eu não devia estragar minha vida. Mas agora quem ia fazer isso?
Fiquei ali pensando naquilo e assim fui pra casa e dormi.
Acordei com meu celular tocando, era um número desconhecido. Quando atendi vi que era a mãe de Alex perguntando se estava tudo bem e me chamando para o enterro dele hoje. Eu aceitei e na hora estava lá em pé vendo a última pessoa que eu realmente tinha amado indo embora pra sempre. Ajoelhei na frente do caixão.
- Eu te amo Alex, e sei que se você estivesse aqui não ia querer que eu voltasse a ser o que era antes, mas não pense que vai ser fácil viver sem você.
Joguei as flores e chorei até as lágrimas secarem.
Senti o poder das minhas palavras. Era exatamente aquilo, ele queria que eu fosse feliz e tentaria ser.
Epílogo
Nunca me esqueci daquela semana que passei com ele, e mesmo depois que tudo acabou eu continuei indo todas as noites ao Wall Mart pra relembrar tudo.