Vozes do Além
Escrito por Potato | Revisado por Mariana
Tennessee, 24 de março de 1987 - 10:00 am.
- Mãe, eu já disse! - Eu falava pela milésima vez. - Vamos na festa da Chloe e eu volto antes.
- Eu já falei, , você não vai, e ponto final! - Minha mãe me olhava furiosa.
- Eu prometo que volto antes das dez da noite. - Eu quase implorava.
- Eu não sei... - Minha mãe me olhou com certa preocupação. - Não estou com um bom pressentimento sobre essa festa.
- Mãe, eu já tenho idade o suficiente para ir e voltar sozinha! - eu me aproximei - Qualquer coisa o me traz de carro.
- Já falei que não te quero andando com ele. - Meu pai surgiu na cozinha, com uma cara péssima.
- Mas o que tem de errado com vocês dois? Querem destruir minha vida? - Eu perguntei impaciente. Será que eles nunca vão entender que um dia ou outro vão ter que me libertar de suas asas?
- Não queremos destruir sua vida. - Meu pai me olhou sério. - Estamos apenas querendo impedir que os outros a destruam.
- Mas ninguém vai destruir a minha vida. Eu não vou deixar! - Falei confiante.
- Então você vai a essa festa, mas se você usar drogas ou fazer qualquer coisa de errado, eu te coloco de castigo até seus 30 anos de idade, ouviu bem, mocinha? - Minha mãe apontou o dedo na minha cara com os olhos arregalados de pura irritação.
- Eu sei me cuidar. - Dei um beijo no rosto do meu pai, e outro no da minha mãe. - Amo vocês. - E fui saindo.
- Aonde pensa que vai? - Meu pai perguntou.
- Vou me encontrar com a Chloe e a Natasha. Preciso decidir o que vestir. - Eu sorri e ele revirou os olhos.
- É bom estar de volta para o almoço. - Minha mãe disse um pouco alto, já que eu já tinha saído da cozinha.
- Estarei! - Eu gritei de volta, e saí pela porta da sala.
Tennessee, 24 de março de 1987 - 11:00 am.
- Tem certeza que quer fazer isso? - Chloe me olhou preocupada.
- Claro que tenho! - Eu sorri. - Se eu não tivesse, não teria feito o inferno lá em casa durante uma semana.
- Mas, , você sabe que perder a virgindade aos 17 para uma garota como você é errado, não sabe? - Natasha segurou minha mão.
- Nós estamos apaixonados um pelo outro, não estamos? - Eu as olhei desafiadora. - Vamos nos casar depois da formatura. Vai ser divertido.
- E se você engravidar? - Chloe disse um pouco mais baixo.
- Se acalme, nada vai acontecer. Eu sei me cuidar. - Eu disse me levantando. - Só não quero que meus pais saibam, não seria nada legal a filha do xerife não andar na linha.
- , você sabe nossa opinião, mas não queremos ver você se dar mal. - Natasha pegou minha mão. - Eu não estou muito confortável com essa ideia. é um cara legal, mas as vezes ele me dá medo.
- Por que diz isso? - Eu perguntei séria.
- A gente - Chloe começou, apontando para ela e Natasha - prometeu não contar isso para você, pelo menos por enquanto. - Ela suspirou.
- Não contar o quê? - Eu me exaltei um pouco. Como assim minhas melhores amigas estavam escondendo algo de mim?
- É que... - A voz de Natasha saiu fraca.
- Nós vimos o com a Nathália esses dias, aos beijos, no carro dele. - Chloe disparou e eu senti meu sangue ferver.
- Ele não nos viu, e nem sabe que nós vimos os dois. Só guardamos isso para que você não sofresse. - Natasha se levantar e ficar de frente para mim.
- E queriam esperar eu me entregar a ele para me falar isso? - Eu sorri irônica. - Sinceramente, vocês são duas cabeças de vento.
- Olha, , você tem todo o direito de ficar brava, mas, por favor, tente entender...
- Tentar entender que o meu namorado me traiu, Chloe? - Eu sorri irônica - Isso eu já entendi.
- Só não vá falar com ele de cabeça quente. - Natasha concluiu. - Acho que pelo menos uma vez na vida devia tentar escutar a gente.
- Não se preocupem. - Eu segurei as lágrimas de raiva com um sorriso. - Ele vai pagar pelo que fez...
Tennessee, 24 de março de 1987 - 1:00 pm.
- ACABOU, ! - Eu falei dando as costas e saí andando pela rua. Depois que saí da casa das meninas, fui até a casa de , terminar tudo. Me entendia com a minha mãe mais tarde.
- , ESPERA! - segurou meu braço com uma certa brutalidade, me fazendo ir para trás com tudo.
- ME SOLTA! - Eu gritei.
- Não até eu e você termos uma conversinha. - Ele falou próximo ao meu ouvido, me deixando com um certo medo só tom de voz que ele tinha usado.
- , me solta, por favor! Eu preciso ir para casa. - Eu disse enquanto ele praticamente me carregava para dentro de sua casa.
- Ainda não, princesa. - Ele acariciou meu rosto enquanto prensava meu corpo na parede. - Acho que tínhamos alguma coisa para fazer hoje à noite... - Ele continuou enquanto depositava um beijo no meu pescoço.
- , para! - Eu falei com minha voz embargada.
- Não antes de ter o que eu quero. - Ele parou de beijar meu pescoço e me olhou no fundo dos olhos. Naquele momento eu não vi o garoto gentil, dócil, carinhoso e que me amava. Eu não vi o meu ... Eu vi o que os outros tanto me alertaram... Vi aquele homem perigoso que meu pai tanto falava... Vi uma pessoa que sempre tive medo... Eu vi minha morte em seus olhos.
Ele começou a passar a mão pela minha coxa e a levantar a barra do meu vestido. Tentei mandar ele parar, mas fui calada por um beijo. Sua língua pediu passagem, mas eu a mordi.
- AI! - Ele gritou se afastando de mim, me dando a chance de correr e tentar fugir, mas senti seu braço envolver minha cintura e me puxar para trás, me fazendo cair sentada. - Você é uma menina muito má, . - Ele segurou minhas mãos e me pegou no colo, me fazendo gemer de dor, pela força que ele usou.
- ME SOLTA, ! - Eu gritei, enquanto ele me levava para seu quarto. - SOCORRO!
- Ninguém vai te ouvir, ou se esqueceu que meus pais trabalham e o resto da vizinhança ou está trabalhando ou está se preparando para a festa da Chloe? - Ele riu. - Ingênua.
- SOCORRO! - Eu tentei mais uma vez. - ME LARGA!
- Eu já disse que não! - Ele disse me jogando em sua cama. Eu tentei me levantar, mas ele foi mais rápido, ficando por cima de mim. - Você é muito inocente, . O que acha de mudar isso? - Aquelas palavras me fizeram sentir uma vontade de chorar enorme, mas me segurei para não chorar.
- , por favor! - Eu o olhei com os olhos marejados, enquanto ele só sabia sorrir diabolicamente e me olhar com... desejo.
- Eu até teria pena, mas preciso saciar o meu desejo. - Ele disse enquanto beijava meu pescoço. - E promessa é dívida.
Eu me senti amargurada naquele momento. Meu peito se encheu e eu não consegui conter as lágrimas.
O escutei rir fraco, e sua mão se direcionou para baixo de minha saia, onde começou a abaixar minha calcinha. Tentei lhe bater, mas sua outra mão apertou meu pescoço, e eu comecei a ficar sem ar. Sua mão que abaixou minha calcinha foi de encontro com minha intimidade, o que fez com que eu me arrepiasse um pouco, e as lágrimas aumentassem.
- Não sabia que você poderia ser tão gostosa, amor - Ele sussurrou em meu ouvido e eu quis gritar, mas sua mão que estava me sufocando foi para a minha boca. Ele olhou dentro dos meus olhos, enquanto acariciava minha intimidade. Não consegui mais conter, e já estava soluçando, de tanto chorar. Sua mão deixou de me tocar, e foi em direção à fivela de seu cinto, o abrindo e abaixando sua calça, fazendo com que sua cueca ficasse à mostra. Ele se afastou um pouco de mim e me encarou, enquanto apertava o próprio membro, como se aquilo fosse a coisa mais prazerosa do mundo. Ele levantou minha saia e abaixou a própria cueca, se posicionando entre minhas pernas. Mesmo eu forçando um pouco para que elas não se abrissem, ele era mais forte, e conseguiu o que queria. Ele forçou a mão que estava na minha boca e olhou no fundo dos meus olhos, enquanto tirava a minha virgindade... A força!
Tennessee, 24 de março de 1987 - 1:45 pm.
Foram 40 minutos...
40 malditos minutos de pura tortura... Psicológica e física. Aqueles xingamentos todos, e a violência com que ele me estuprou não iriam sair da minha mente tão cedo.
- Vai dizer que não gostou? - Ouvi a voz de ecoar pelo quarto, quando ele surgiu na porta de seu banheiro. Eu estava encolhida no canto perto da janela, enquanto ele foi tomar banho. Eu me sentia um lixo. Não tinha forças nem para sair do lugar. E ele achava tudo aquilo muito lindo.
- Você vai pagar pelo que fez! - Eu disse baixo, o olhando com ódio. - Meu pai vai te matar!
- Não se eu te matar antes... - Ele disse enquanto encarava o chão, e eu o olhei sem entender.
- Do que você ta falando? - Eu perguntei tentando me levantar, mas correu até mim, me empurrando de volta, me fazendo cair com tudo no chão e bater minhas costas na parede.
- Eu to falando que você vai sair por aí gritando aos quatro cantos do mundo que eu fiz isso, e claro, eu vou preso e se um dia eu sair, vou ficar conhecido como o garoto que estuprou a filha do xerife! - Ele em olhava com fúria. - Não posso arriscar.
- Eu prometo que não conto pra ninguém! - Eu senti lágrimas se formarem nos meus olhos novamente.
- Sinto muito. - Ele disse me puxando pelo braço e me levantando, fazendo com que meu braço doesse.
Ele começou a caminhar até a cozinha, o que fez com que eu me apavorasse. Entrei em pânico e comecei a me debater. Ele me puxou pela cintura e me pegou no colo, de uma forma que fez com que meu tronco ficasse de ponta cabeça em suas costas e minha cintura em seus ombros. Eu comecei a me debater mais, a gritar e bater em suas costas, mas ele não parecia se abalar.
Quando chegamos à cozinha, ele foi até uma das gavetas e pegou uma faca. Ele caminhou até o balcão e me colocou sentada lá. Em um movimento rápido, eu consegui chutar sua barriga e saí correndo, indo até a entrada principal.
Eu abri a porta e saí pelo jardim, correndo e gritando:
- SOCCORO! ALGUÉM ME AJUDE!
Olhei para trás, e não tinha ninguém, mas quando me virei para frente novamente, estava a pouco menos de dois metros de distância, parado, com um sorriso de canto no rosto e uma faca em mãos.
- Você não devia ter corrido. - E então eu fiquei paralisada. Ele se aproximou e me puxou pelos cabelos, me levando para trás, mas não mais para sua casa. Ele estava me levando para a parte de trás de sua casa, onde ficava a casinha, ou seja, onde o pai dele fazia seus artesanatos e guardava ferramentas. - É uma pena você ter que morrer tão jovem.
- , por favor..
- Sem por favor dessa vez! - Ele me olhou frio. Senti um arrepio na minha espinha.
Ele fechou a porta da casinha, e trancou, me deixando sem esperanças de fuga e deixando as lágrimas rolarem mais uma vez. Por puro impulso, eu peguei um martelo que estava em cima de uma mesinha, e tentei o acertar, mas isso só piorou as coisas...
Quando eu fui em sua direção, ele segurou minha mãe e me esfaqueou na região das minhas costelas esquerdas. Urrei de dor e ele retirou a faca, me acertando mais uma vez, mas dessa vez na minha coxa. Gritei de dor e o arranhei, soltando o martelo. Olhei para seu rosto, e ele tinha três arranhões alinhados, em sua bochecha direita. Ele me olhou com mais raiva ainda e me esfaqueou novamente na barriga.
- , PARA! - Eu gritei, já chorando por conta da dor. Minha mão automaticamente foi para minha barriga, quando ele soltou meu braço. Eu olhei para minha mãe e estava cheia de sangue. Olhei para , e ele não demonstrava nenhum arrependimento.
- Eu não vou parar! - Ele disse calmo, segurando minhas duas mãos e me virando de costas, me acertando na região do meu pulmão direito. Eu soltei um grito. O mais alto que pude, e ele só continuou.
Não foram uma, nem duas, muito menos três... Foram várias facadas!
Ele não parou enquanto eu não tivesse força para ficar de pé e caísse no chão, gemendo e chorando de dor.
- Olhei para mim! - Ele disse e eu me virei de barriga para cima, para poder o encarar. Ele tinha um olhar sombrio, um olhar que eu nunca imaginei que ele teria. Eu tentei falar, mas me engasguei. - Foi bom te conhecer, eu não quero que pense que não te amo, pois eu sempre te amei, mas não da mais.
E com isso, ele cortou minha garganta. Não tive forças para gritar, pois senti meu sangue na minha boca. A única coisa que me lembro, foi de estar enxugando uma lágrima. E então tudo ficou escuro. Tinha chegado minha hora.
Tennessee, 25 de março de 1987 - 4:20 am.
Já era de madrugada, e mamãe ainda estava me esperando chegar em casa. Sentada no sofá, com a televisão ligada e o cigarro entre os lábios, tentando ignorar a preocupação. Papai ainda estava na delegacia, cuidando de alguns papeis de detentos que chegaram aquela noite, e se perguntando onde eu estava. Meu irmão estava dormindo no quarto, pensando em como a festa de Chloe o havia rendido histórias.
Eu devia ter escutado minhas amigas e meus pais. Devia ter tomado cuidado, mas agora não tem mais volta.
Tennessee, 25 de março de 1987 - 7:40 am.
Mamãe já estava desesperada atrás de mim. Meu pai já estava em casa, mas com sua garrafa de conhaque em mãos. Meu irmão já estava de pé, com os olhos vermelhos e o rosto molhado, estava preocupado comigo, mesmo sendo dois anos mais novo. estava deitado em sua cama, encarando o teto, pensando no que tinha feito e na festa que perdeu, por estar ocupado demais escondendo um corpo.
E eu... Eu estava morta.
FIM