Voodoo Doll
Escrito por Danielle Aquino | Revisado por Natashia Kitamura
Parte do Projeto Songfics - 18ª Temporada // Música: Voodoo Doll, por 5 seconds of summer
Reunião de comissão de formatura depois do almoço. Por que mesmo eu havia concordado em participar dessa merda? “É bom que existam opiniões de todos os perfis dos formandos”, disse a diretora. Tradução: quero um membro de cada panelinha para que ninguém reclame de nada depois. Bom, nós temos 18 anos, é óbvio que nem todos ficarão satisfeitos no final das contas.
Arrasto-me do vestiário até a sala de aula onde faríamos a bendita reunião. Minha mochila está pendurada em um ombro e a bolsa que uso para carregar meu uniforme, toalha e tênis, necessários todos os dias porque eu sou capitão do time de basquete do colégio, está pendurada no meu outro ombro. Distraio-me um segundo olhando as duas dúzias de mensagens que recebi de Hannah e as dez que recebi de Loren. Depois de ler o “oi sumido... ouvi essa música e lembrei de você” da primeira e do “você devia estar ocupado ontem e por isso não atendeu minha ligação” da segunda – não, eu não estava ocupado, eu só não queria você me enchendo o saco mesmo – devolvo o celular ao bolso. É neste instante que ela passa por mim e me cumprimenta. Não um cumprimento seguido de um rosto ruborizado e uma risadinha que significa que a minha aparência e o meu status tem influência sobre ela. Não um “oi” engasgado seguido de um tropeção que quer dizer o mesmo, só indica que ela é mais desajeitada. Não um “oi” acompanhado de uma piscadela e um jogar de cabelos – o “oi” das garotas mais bonitas, das animadoras de torcida. Mas simplesmente um “oi” seco e educado, sem sequer olhar na minha cara porque os olhos dela já estão ocupados com outra coisa. Eu definitivamente odeio por isso. Odeio seu ar de superioridade porque ela só tira A+ desde o jardim de infância. Odeio como todo mundo beija o chão que ela pisa porque existe a real possibilidade dela se tornar a presidenta do país um dia.
- Oi. – rolo os olhos para responder.
Ela provavelmente não só se acha a última bolacha do pacote – ela com certeza também acha que eu sou um zero a esquerda, sem a menor chance de ir para Harvard ou outra faculdade boa, como com certeza será o caso dela. Não que ela demonstre através de atitudes ou palavras reais, mas está naquele ar de quem não se importa. Só ela consegue exalar tanta indiferença. E isso me deixa louco porque eu estou acostumado a chamar atenção. Estou acostumado às pessoas fazerem as minhas vontades porque eu sou bonito e consigo fazer cestas de três pontos com os olhos fechados.
Ok, talvez o problema seja eu. Talvez o problema seja o fato de eu ser sim mimado e mal acostumado, como ela mesma joga na minha cara sempre que tem a chance. Mas se eu tenho problemas com aceitação ou com ser contrariado, ela tem graves dificuldades em estar errada também. Eu sou acostumado a estar sob os holofotes e ela está habituada a ser a dona da razão, e uma coisa é tão ruim quanto a outra certo? Não sei se estou certo, mas sei que como em toda reunião, os nossos claros defeitos fazem com que as brigas aconteçam.
- Nós não temos espaço no orçamento para um DJ e uma banda. Teremos que escolher entre um e outro. – ela diz quando Melissa, a representante da panelinha dos artísticos do último ano sugere que iniciemos a reunião com a questão da música e eu pontuo que é preciso pelo menos um DJ pra tocar até a banda que já escolhemos entre em ação.
- Certo, e aí a festa vai ser um desastre sem música porque não existe banda que toque seis horas seguidas nem DJ que faça isso. E se houvesse, seria um lixo de qualquer modo. – me manifesto. me lança um olhar que só pode significar “eu quero que você morra, seu imbecil”. Sorrio para ela e lanço uma piscadela que sei que irá acabar de matá-la de ódio.
- Qual é a sua sugestão então, ? Seu pai pretende doar o dinheiro para bancar a música da nossa formatura? – ela devolve tentando manter a compostura.
Estamos sentados em círculo. está de um lado da sala, eu do outro, de modo que consigo ter uma visão perfeita dela. Inteligente e bonita: é assim que meus colegas de time a caracterizam. Nenhum deles daria a cara a tapa de correr atrás dela porque ela intimida todo mundo. Não porque ela é grossa – ao contrário, ela trata todo mundo bem. Não porque ela é estranha, auto-isolada, sem senso de humor ou algo do tipo. Mas porque ela é incrível. Eu a odeio, não me entendam mal, mas é verdade. Ela ajuda as pessoas sem pedir nada em troca – não que ela passe os dias fazendo caridade, mas de vez em quando é comum vê-la participando de trabalhos voluntários para arrecadar brinquedos para crianças carentes ou ajudar animais doentes e sem donos. Ela ganha concursos de redação, fica entre os finalistas nas olimpíadas de matemática. Ela foi aceita em diversas universidades no início do ano – quem consegue isso, pelo amor de Deus? E mesmo assim você a vê socializando normalmente com as pessoas. Você a vê jogando vôlei razoavelmente bem na educação física. Você a vê conversando descontraidamente com os amigos e falando de roupas com as meninas que não morrem de inveja dela. é uma adolescente normal; nada que ninguém que não se esforçasse tanto quanto ela não pudesse ser. Bom, pelo menos é o que ela diz por aí. Impossível deixar de odiar uma pessoa assim, né?
Observo ela bebericar sua água enquanto espera pela minha resposta. Ela tem um rosto lindo – os olhos verde-folha, o nariz pequeno, a pele quase perfeita e uma pinta pequena um pouco abaixo do olho esquerdo. Os cabelos castanhos ondulados compridos emolduram o rosto dela. Ela é magra, não há nada de surpreendente em seu corpo. Loren vive falando como acha que ela se veste mal, mas eu não concordo de verdade com isso. Bom, se usar jeans, camisetas e sapatilhas frequentemente é se vestir mal provavelmente a maioria das garotas da escola também andam mal vestidas.
Não tenho nenhuma ideia boa para arrecadarmos mais dinheiro. Provavelmente qualquer coisa vai dar muito trabalho. Então me lembro de uma coisa.
- O Ryan é DJ. Ele manda bem de verdade – sugiro esperando pela reação dela.
Ryan gosta de desde sempre. Eles conversavam com frequência e ela já o ajudou em várias matérias. Os dois vão juntos ao baile de formatura, então, apesar de eu mesmo ter um primo DJ que faria o serviço se eu arranjasse alguma mulher pra ele, fiz questão de sugerir Ryan. Duvido que ela abra mão do acompanhante para o bem da escola.
- Mas o Ryan também é formando. Ele não vai topar. – Lucy, amiga de , intervém em seu favor. Olho para Lucy por um instante e ela desvia o olhar ruborizando no mesmo instante. Vulnerável, é claro. Faço o mesmo com , mas ela simplesmente me encara de volta.
- Pergunte ao Ryan então, . – ela me responde. – Se ele topar, o contratamos como DJ. Se não, procuramos outra saída. Você tem razão, não podemos ficar só com a banda e praticamente já fechamos com a Yellow Fish, então é bom mantermos assim. – conclui. Eu a odeio mais ainda quando ela concorda comigo. Talvez ela não tenha tanta dificuldade assim de admitir que está errada como eu digo que tem.
- Próximo tópico: bebidas – o outro lacaio de , Jason, sugere.
Já estou cansado daquela reunião, então me recosto na cadeira que estou sentado e fico cantarolando na cabeça até que o relógio indica que são três da tarde e estamos dispensados até a próxima sessão de 60 minutos de tortura. No corredor, que é para onde me dirijo, um letreiro indica que faltam 47 dias para a formatura. Mais 47 dias e estou livre para o que quer que seja porque ainda não sei exatamente o que será da minha vida depois do colégio.
- Você bem que podia se esforçar um pouco mais pra ser menos inútil, hein? – diz, para minha surpresa.
- Como é? – pergunto realmente confuso. Geralmente ela é mais controlada do que isso.
- Tem três meses que nós estamos tentando organizar o baile e você parece mais interessado em discutir comigo do que em ajudar em alguma coisa.
- Garota, você não é o umbigo do mundo. E eu só tô nessa parada porque fui obrigado. – falo tirando meu celular do bolso porque minha intenção é deixá-la falando sozinha. Não escuto a próxima sentença de porque me distraio vendo que Spencer, a garota que ia ao baile comigo acaba de me mandar uma mensagem dizendo que estará fora da cidade no dia e pedindo desculpas. Então meu celular é arrancado da minha mão.
- Se você é obrigado a participar disso, tente dar o seu melhor porque você não é a única pessoa envolvida. E mesmo se fosse... É o seu último ano do colégio, droga! Isso deve valer alguma coisa até pra um idiota arrogante como você. – cospe na minha cara enquanto eu a encaro atordoado e então coloca meu celular no bolso da minha calça antes de sair andando em direção à saída da escola.
Quero ir atrás dela e falar alguma coisa, mas se tem uma coisa que ela é capaz de fazer é de me deixar sem reação. Então apenas disco o número de Spencer porque preciso que ela me explique que lance é esse de não poder ser meu par no baile de formatura.
- Desculpe, , é que como você sabe, eu vou pra Cambridge em Setembro e preciso estar lá até o final de julho pra acertar os detalhes. – Spencer simplesmente diz. Eu devia ter previsto isso.
- Ok, Spence. – digo e desligo o telefone sem mais delongas.
Conheço Spencer desde criança. Nós somos bons amigos porque ela é como se fosse um dos caras pra mim, e Spence é apaixonada demais pelo meu melhor amigo, Kyle, para que eu pensasse em tentar algo com ela de qualquer modo.
Tenho treino das três até as quatro e meia. Então, tomo uma chuveirada e sigo para o estacionamento da escola para pegar o meu carro e ir para casa, onde espero fazer o dever de casa de física e pensar em quem vou levar ao baile. A lista de meninas que aceitariam obviamente é longa. Quando seu pai é médico neurocirurgião e sua mãe é dona de uma linha de concessionárias, e você é um atleta bom na sua escola, popular e tem boa aparência... Bom, as meninas querem se espremer na sua BMW e talvez até se casar com você. O único problema é que você se enjoa rápido dessas meninas – o que foi o meu caso. Não quero levar Loren, Molly, Ashley, Hannah ou alguma as animadoras de torcida. Já rodei todas elas e não vale a pena o sacrifício. São todas desmioladas, sem conteúdo, sem desafio.
Estou fechando o porta-malas do meu carro onde depositei minhas coisas quando a observo falando ao telefone perto de seu próprio carro a algumas vagas de distância. O rosto dela parece preocupado e até fico curioso, mas quero brigar pelo que ela disse mais cedo.
- Se eu der o meu melhor, você vai me suportar menos ainda. – digo me aproximando quando vejo que ela desligou o telefone. Neste momento está com a mão na maçaneta da porta do carro.
- Como é?
- Se eu decidir dar o meu melhor na comissão de formatura não vamos ter um baile tão sem graça quanto o que vocês estão planejando. – dou de ombros.
- É mesmo? – ela bufa. – O que você faria de diferente, ?
- Eu só manteria a banda e o DJ. Bom, isso se conseguirmos um DJ.
- Já conseguimos. Eu mesma pedi ao Ryan hoje e ele ficou feliz em indicar um amigo que não vai cobrar pelo serviço.
- Certo. – o lance do Ryan já havia saído pela culatra então. sempre com um passo à frente. – Bom, então se você quer saber, um baile com o tema Primavera é ridículo. Não há nada interessante que possa ser feito com isso. Uma festa de máscaras... Nem digo fantasia, só máscaras mesmo, já seria mais interessante. Ou Cassino. Alguma coisa que facilite as pessoas a interagirem umas com as outras. – cruza os braços diante de mim e me encara como se estivesse concentrada no que eu dizia, não com raiva. – Nós não podemos servir bebida alcoólica, mas tem uma porção de drinks que podem ser feitos com frutas, sucos e licor sem álcool. E além da Yellow Fish podemos abrir um momento pra quem quiser do colégio se apresentar.
- São realmente ótimas ideias, . – pondera. – Nós devíamos anotá-las e imaginar o orçamento. Acho que se mais pessoas na escola se interessarem em executar, a diretoria pode direcionar mais verba pra isso e podemos mobilizar a galera pra conseguir mais dinheiro.
- Conseguir mais dinheiro como?
- Ah, sei lá, vender bugigangas, doces, fazer um jogo de basquete de vocês contra algum outro time e cobrar as entradas... Daí dividimos o lucro. Podemos pedir sugestões pros outros membros da comissão e outros alunos da escola mesmo.
- É, isso pode funcionar. – olho para os meus próprios pés, sem graça.
- Vem. – diz e abre a porta de trás do carro tirando sua mochila de lá. – Vamos procurar um lugar pra sentar e anotar as suas ideias.
- Tipo, agora? – pergunto.
- Sim, agora. Se deixarmos pra depois podemos perder alguma coisa. Você tem compromisso?
- Não, exatamente. Só dever de física.
- Pega seu caderno e nós fazemos juntos. – ela sugere simplesmente.
Não tenho como negar uma coisa dessas porque eu fui quem começou a briga e novamente ela me deixou sem reação. Então pego minha mochila no meu carro e andamos juntos até uma das mesas mais próximas ao estacionamento para conversarmos sobre a formatura. Quando me dou conta do horário, estamos correndo às risadas de volta para o estacionamento porque já são quase oito da noite. A noite caiu ao meu redor e eu sequer percebi isso. Porque estava concentrado no dever de casa ou realmente mergulhado nos planos pra formatura? Não, eu sei a verdade: eu estava distraído mesmo com os olhos verdes e o sorriso de dentes brancos e perfeitamente alinhados de . Minha conclusão final é de que essa garota só pode ter um boneco vodu com a minha aparência cheio de alfinetes e essas coisas em casa, ou ela mesma ser uma boneca das artes negras ou algo do tipo. Mas independente do que for, eu só tenho certeza de que não a odeio tanto assim.
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As semanas que se seguem são estranhas. Ajudo a colocar em prática todos os planos que imaginamos juntos para arrecadar mais dinheiro para a nossa formatura. Mobilizo os caras do time de basquete para ajudarem porque, pela primeira vez, estou interessado em colocar cem por cento de mim em outra coisa que não seja o basquete. Quando Loren, Hannah e Molly me procuram, não as ignoro completamente e decido parar de alimentar falsas esperanças.
- Olha, (insira aqui o nome de uma delas), você é uma garota muito legal e vou ficar feliz em sermos amigos, mas é só o que eu posso ser de qualquer pessoa agora. Espero que você entenda. – e então afago o braço da pessoa com quem estou falando, sorrio e vou embora.
Decido que não tem nada a ver com isso. Só estou resolvendo os problemas para não deixar pendências para trás no semestre seguinte. Fui aceito na Universidade de Rochester, em Nova York, há cerca de 100 milhas da Philadelphia, onde moro agora. Descobri que vai para a Universidade de Columbia, e bom, eu não sei como me sinto em relação a este fato – de irmos para a mesma cidade fazer faculdade, quero dizer. É verdade que é divertido trabalhar com ela e fazer o dever de casa sempre que sabemos que o tempo será muito curto pra fazermos separados. Eu tomo a frente nas questões das exatas e ela me ajuda com as humanas e com biologia. Mas Nova York é a maior cidade do país... Nada indica que nos esbarraremos lá, então devo esquecer que coincidentemente ela irá pra lá também.
- Você já sabe o que vai cursar na Columbia? – pergunto certo dia quando fechamos nossos cadernos e ela beberica seu cappuccino.
- Medicina – ela responde e devia o olhar para o caderno, abrindo-o e fechando-o de novo inutilmente, parecendo sem graça.
- Você sabe que isso é incrível, né? – comento e dou uma risada. Ela ruboriza e sorri, ainda sem olhar nos meus olhos.
- Sim, eu sei. – É só o que ela diz.
Fico com isso na cabeça até o dia que decido perguntá-la porque ela não parece tão feliz assim em ir para uma das melhores universidades do mundo fazer medicina. Dali dez anos ela seria uma brilhante cirurgiã, disputada no país inteiro provavelmente.
- Porque eu estou cansada de as pessoas me odiarem porque eu corro atrás dos meus sonhos. Então descobri que a melhor forma de evitar isso é por não falar do assunto. – dá de ombros e me faz uma pergunta sobre uma questão de física do dever de casa. Tenho certeza de que ela já sabia a resposta daquilo e apenas queria mudar de assunto.
Depois disso descubro que não tenho motivos para não gostar dela. Na verdade, depois de mentir muito pra mim mesmo até a semana do baile de formatura, eu vejo que mais do que não odiá-la, eu gosto dela. Gosto das piadas inteligentes e do quanto ela se diverte ao ver um erro ortográfico muito esdrúxulo (algo que eu caracterizaria antes como arrogante). Gosto da forma como ela enrola o cabelo num coque quando quer racionar para encontrar uma solução – é como se o cabelo solto atrapalhasse sua concentração (o que eu diria antes que ela fazia porque “se acha”). Gosto da expressão dela quando está concentrada, tentando achar a solução de algum problema. Gosto de muito mais coisa sobre ela do que deveria.
Então, me distraio tanto com os preparativos da formatura, que só me lembro que não tenho par para o baile na véspera da festa, quando finalizamos a decoração.
- Como assim você não tem par? – pergunta chocada enquanto caminhamos para o estacionamento, ambos exaustos do dia atarefado. Pelo menos está tudo pronto e teremos um belo baile com o tema cassino no dia seguinte.
- Spencer foi pra Cambridge, na Inglaterra. Ela disse que tinha que estar lá por agora, então eu rodei – explico.
- Poxa. E ela só te avisou isso agora? – parece mesmo preocupada e decepcionada por mim.
- Não, na verdade ela me avisou já tem mais de um mês. Mas eu me distraí com as coisas da formatura e com o fim do semestre e esqueci completamente de arranjar outro par.
Não sei decifrar a expressão no rosto dela agora. Não sei se está confusa, chateada, triste ou concentrada para tentar solucionar um problema.
- , não se preocupe com isso. Eu venho sozinho e pego emprestado as acompanhantes dos outros pra dançar de vez em quando – dou de ombros. É o único plano que tenho de fato.
- Vou perguntar ao Ryan se posso ter dois acompanhantes, se você topar. Daí nós entramos juntos e nós três executamos este seu plano de pegar emprestado os acompanhantes dos outros.
- O Ryan me mata se eu concordar com isso.
- O Ryan é legal, ele não vai se importar.
- O cara é louco por você desde sempre! É claro que ele não quer te dividir amanhã.
- Nós somos só amigos. – diz e rola os olhos.
- Você é só amiga dele. Ele é mais do que isso com relação a você, te garanto. E deve estar planejando aproveitar a última noite já que ele vai pra Los Angeles depois da formatura.
- Mais um motivo então pra você ir comigo também. Não quero partir o coração do coitado do Ryan.
Dou uma gargalhada porque não tem outra forma de respondê-la. Então combinamos que passarei na casa dela as sete e nos despedimos com um “boa noite”.
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está linda, é claro. Usando um vestido rosa claro comprido, com o decote em formato de coração e altas finas. Ela parece um pouco mais alta do que de costume, então deve estar usando salto alto – tudo o que o vestido permite ver nos seus pés é a ponta de seus dedos, expostos pelo sapato que tem uma leve abertura na frente.
- Você é bastante pontual, hein? – ela comenta depois de me cumprimentar com um “oi”, que respondi com um “boa noite” que falhou nas duas palavras porque a minha voz ficou roca por alguma razão.
Eu confesso que esperei dentro do táxi que me levou até a casa dela e ainda nos espera na porta por uns cinco minutos até dar sete horas. Ryan já estava lá, claro, mas decidi ignorar sua presença e nem o cumprimentei.
- Você está linda. – comento.
- Obrigada. – ela ruboriza.
- Eu te trouxe uma cois... – começo a dizer, mas então vejo o corsage preso ao pulso esquerdo dela.
- Eu já havia trazido, . Minha responsabilidade já que eu sou o acompanhante dela – Ryan comenta me olhando nervoso.
- Vocês dois são meus acompanhantes e eu tenho dois pulsos, então posso usar os dois corsages. – diz lançando um olhar de repreensão para Ryan. – Você coloca em mim, ? – ela pede com um sorriso.
- Claro – respondo e coloco o corsage no punho dela. Tremo feito um idiota para tirar a pulseira de flores de dentro da caixa e colocar no punho de .
Sinto-me um imbecil durante o tempo todo, até chegarmos à escola. Ryan disputa a atenção de feito um retardado, mas ela trata de manter uma conversa entre nós dois. Para irritar Ryan, falo sobre Nova York e o fato de e eu estarmos indo pra lá. Ganho vários olhares de “queria que você estivesse morto” dele, o que me deixa satisfeito.
Entramos na escola com Ryan do lado esquerdo e eu do lado direito de . Assim que chegamos à quadra de basquete, que está toda decorada para o baile e com o DJ já tocando no palco, Ryan segue quando ela vai cumprimentar os amigos e eu vou conversar com meus colegas do time.
- Você e realmente ficaram bem amiguinhos, hein? – Paul comenta cheio de segundas intenções nas palavras.
- Sim, amigos, Paul – digo e olho de longe. Sei que amizade não é exatamente a única coisa que quero com ela. Mas ainda não sei se posso cogitar verdadeiramente outra coisa.
Yellow Fish, a banda mais cool da cidade no momento e que concordou em tocar na festa por um preço realista, sobe ao palco às onze. Eles tocam uma música de seu próprio CD para abrir sua apresentação e então reproduzem músicas de outras bandas. Vejo Ryan dançar três músicas seguidas com e já estou criando coragem para tirá-la para dançar na próxima, quando ela mesma chega perto de mim e diz:
- Me concede a honra, Sr. ? – pergunta com um aquele sorriso absurdo e os olhos verdes brilhando. Balanço a cabeça de um lado para o outro dizendo para mim mesmo que não, ela não podia ser real, não existe ninguém tão perfeita. E então a música tocada pela banda reproduz o que eu estou pensando.
- 5 Seconds Of Summer – fala. Sim, 5 Seconds Of Summer, música: Voodoo Doll.
Os caras fazem uma versão acústica que deixa a música lenta em algumas partes e agitada no refrão. Giro no que agora é a pista de dança e ela sorri o tempo todo.
- Won't you please stop loving me to death? – repito no ouvido dela, junto com o vocalista da banda no final da música. ri e nós nos afastamos um pouco. Quero ficar a noite inteira olhando nos olhos dela, mas depois de alguns segundos nós dois percebemos que estamos parados daquele jeito a mais tempo do que talvez deveríamos.
- . – digo ao mesmo tempo que ela diz o meu nome. – Você primeiro. – novamente falamos juntos. – Damas primeiro. – insisto.
- Você quer dar uma volta lá fora? – ela convida e vejo, sob as luzes coloridas do local pouco iluminado, que ela está ruborizando.
- Claro. – digo e ofereço minha mão para ela. Vislumbro Ryan nos encarando frustrado do outro lado da quadra decorada de Cassino antes de sair de lá de mãos dadas com .
Se fosse qualquer outra garota da escola, eu estaria tranquilo. Teria certeza de que ela quer um pouco de privacidade para que eu tome a atitude final para nos beijarmos. Saberia que as chances de eu ser rejeitado eram remotas. Mas, em se tratando de , eu não sei o que está por vir. Sei que existe a grande possibilidade dela dizer que não quer confundir nada, que nós somos bons sendo amigos e é isso aí. Eu, , o capitão do time de basquete, o cara mais mimado da escola e que até pouco tempo atrás tinha uma lista (longa e nojenta) de garotas que já havia beijado, estou agora com medo de tomar um fora da única garota que de fato já fez meu coração acelerar. A vida é irônica, não é?
- A festa está um sucesso. – comento. Ainda estamos de mãos dadas, agora a alguns passos da entrada da quadra de basquete.
- Graças às suas ideias geniais. – falamos de novo ao mesmo tempo.
- Certo, isso está ficando estranho. – digo. – Você não pode ler mentes, pode? – brinco. Ela ri divertidamente.
- Eu bem que gostaria. – responde e para de andar para me olhar por um instante.
- Bom, você pode ler a minha, se quiser. Não me importo. – falo e sustento o olhar dela.
- É mesmo? O que você está pensando agora?
- Que você fica ainda mais linda quando está com as bochechas coradas. – digo e ela ruboriza mais intensamente ainda antes de soltar outra gargalhada que só posso descrever como deliciosa.
- Sabe, , todo mundo acha que você é só um cara mimado, que enjoa fácil das pessoas e que não tem sentimentos...
- Todo mundo acha isso de mim? – pergunto um tanto apavorado. Sei disso, no fundo, mas é difícil de ouvir, porque eu não sou exatamente assim mais.
- Bom, eu costumava achar. Até eu ver que debaixo dessa casca de cara durão que não tem sentimentos você é um cara legal, que só está tentando sobreviver ao ensino médio como todo mundo.
Fico em silêncio porque ela acaba de descrever exatamente tudo.
- Eu fiz com você o que várias pessoas fizeram comigo nessa escola por anos... Te julguei pela impressão que você passa. Eu sinto muito por isso. – ela diz. Abro a boca para dizer que não é necessário, que eu mesmo pensei muitas coisas ruins sobre ela por muito tempo, mas fico calado porque vejo que ela ainda não acabou. desvia os olhos para os próprios pés por um instante antes de dar um passo para ficar ainda mais perto de mim. – Bom, enfim, obrigada pela melhor formatura de todas. – ela diz e então estou mergulhado naqueles olhos verdes que me deixaram acordado a noite anterior inteira.
Não falo nada. Apenas pego o rosto dela com minha mão direita e a puxo de leve para juntar nossos lábios no beijo que eu queria há tempo demais, mas só naquela semana tive coragem o bastante para admitir isso. Nós nos beijamos até ela perder o fôlego e se afastar de mim.
- Nós fazemos uma bela dupla. Quem diria isso, hein? – ela comenta.
- Pois é, quem diria? – rio. – Você sabe que é incrível demais pra ficar com um idiota como eu, não sabe?
- Bom, eu sou inteligente, então quais são as chances de você não ser uma má escolha?
- Tem certeza que suas amigas não disseram pra você ficar longe de mim?
- Disseram, claro – ela fala como se fosse óbvio. Sorrio. – Mas eu disse pra elas que vai ficar difícil. Nós dois vamos pra Nova York no próximo semestre, certo?
- Sim, e eu espero que você tenha que me aturar muito por lá, . – falo. Então nós nos beijamos de novo e não sei que espécie de feitiço ela jogou sobre mim, mas sei que nunca estive tão feliz em toda a minha vida como estou neste instante.
Acho que há muito tempo eu não me divertia tanto escrevendo uma fic como me diverti com essa. Obrigada a quem indicou a música – estou me apaixonando cada vez mais por esses australianos fofos do 5SOS! Beijos a todas que lerem e, se gostarem, comentem, por favor <3