Você é Linda

Escrito por Alicia | Revisado por Angel

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  (Leia acompanhado com You're Beautiful, do James Blunt ).

  Ele olhou para frente, os pés se arrastando na plataforma de metal, ombros largos batendo nos seus e o empurrando para frente. Ele odiava metrôs mais do que ele odiava qualquer coisa no mundo. Ele faria de tudo para evitar andar em um, até pegar um táxi em New York, que tem o preço mais abusivo do mundo, se as circunstancias fossem normais. E com normais ele queria dizer não estar chovendo – um dilúvio praticamente – todos os táxis dessa maldita cidade estarem subitamente ocupadas e ele não estar atrasado para uma das provas mais importantes de sua vida.
  Quando seus pés tocaram a linha amarela que impedia os passageiros de se aproximarem demais do trem, ele fechou os olhos com força. A cabeça doía, e as mãos tremiam levemente. Ele sentia frio por debaixo do casaco que usava e seu estomago se revirava. Não era possível saber do subsolo, mas ele podia jurar que a chuva havia piorado.
  Deu alguns passos para o lado, para não trombar com alguns passageiros impacientes. A maioria deles, homem e mulheres de ternos executivos, ou estudantes cansados, batiam os pés no chão e olhavam o relógio desesperadamente.
  Ele mantinha as mãos em punho dentro do bolso do casaco. Os jeans surrados pareciam ainda mais finos e ele não parava de pensar em como a plataforma estava lotada.
  Ele olhou para os lados, procurando algo para ocupar a mente enquanto esperava. O metro parecia uma loteria de pessoas infelizes, e às vezes, quando o dia era péssimo (e definitivamente, esse dia estava sendo bem mais que péssimo) ele escolhia alguém para observar.
  O barulho familiar do trem parando pereceu trazer mais impaciência para os que esperavam.
  Quando o trem parou totalmente e as portas abriram, por um momento Miles achou que seria esmagado. Milhares de pessoas pareciam estar passando por ele, mas ele não conseguia se mexer, seus pés pareciam colados ao chão, os olhos fixos num ponto não muito distante, fitando a garota de cabelos escuros com um sorriso enorme no rosto, que contrastava com as caretas enfezadas de todas as outras pessoas no lugar.
  Ela tinha a pele branca e os olhos castanhos, as bochechas um pouco rosadas devido ao frio e uma covinha adorável. Ela se parecia com um anjo.
  Ela falava ao telefone com alguém, Miles não podia escutar, mas não conseguia tirar os olhos da garota.
  Ela se espremeu entre os passageiros e entrou no trem, Miles saindo do seu transe apertou os olhos e passou com certa dificuldade por entre os passageiros e entrou no vagão.
  Como o dia estava sendo especialmente ruim, ele não achou um banco disponível. Teve que ficar de pé, segurando a barra de metal acima de sua cabeça, tentando não ser sufocado por um bocado de braços e torsos que o atingiam.
  Miles realmente odiava metrôs.
  Deus do céu, ele nem sabia em que estação deveria descer.
  Ele roeu o pouco de suas unhas que ainda restava, um habito terrível, e sim, ele sabe disso.
  Quando o metrô foi se esvaziando, de uma maneira dolorosamente lenta, ele pode se sentar. A dor de cabeça havia piorado e ele sentia que poderia vomitar a qualquer minuto.
  Ele descansou a cabeça na janela fria do metro e ele tem certeza que deve ter cochilado, pois seus olhos estavam pesados quando os abriu.
  A moça de cabelos escuros sentava-se no banco ao seu lado e Miles passou a mão discretamente por sobre os lábios para se certificar de que não havia babado em seu sono.
  - Olá, bela adormecida – ela disse sorrindo. E isso o fez rir, não eram todos em New York que cumprimentavam uns aos outros, ainda mais fazer uma piada á um desconhecido.
  - Olá, desculpe, não percebi que estava ai.
  - Não tem problema – Ela lhe deu a mão para um aperto – Sou Angel. Angie na verdade, mas todos me chamam de Angel.
  Angel, o nome perfeito, ele pensou.
  - Sou Miles – disse enquanto apertava a mão pequena da garota. – Vai para onde?
  - Estou esperando alguém, mas ele está atrasado, como sempre. E você, Miles?
  - Faculdade. Tenho uma prova importante, Angie.
  Ela riu e ele podia jurar que ela parecia uma fada, ou melhor, um anjo, desse jeito.
  - Você está bem? – ela perguntou de um jeito inocente.
  - Sim, acho que sim. Por quê?
  - Não sei você me pareceu meio... distante. Sei lá, aconteceu alguma coisa preocupante?
  - Não – Miles tentou esconder um sorriso, se preocupar com um desconhecido, definitivamente uma atitude nada nova-iorquina. – De modo algum, só estou pensando, você sabe faculdade, trabalho, provas...
  O metrô foi se arrastando até parar e Miles não pode deixar de desejar que essa não fosse à estação da moça.
  Algumas pessoas passaram pela porta e uma delas, um garoto alto e de cabelos loiro, se aproximou. Angie levantou-se com a elegância de uma bailarina e o cumprimentou.
  Com um beijo. Extremamente apaixonado.
  O sorriso de Miles caiu um pouco. Foi então que ele percebeu o anel no dedo da garota. Um anel dourado, com pedras. Delicado.
  Angie sentou-se em seu lugar ao lado de Miles e seu noivo sentou-se do lado dela.
  - Henry, este é Miles. – disse Angel com um sorriso enquanto o loiro apertava a mão de Miles. – E Miles, este é Henry. Meu noivo.
  Ela aproximou a mão pequena e alva do rosto de Miles com um entusiasmo quase infantil.
  Ele não pode deixar de rir apesar da tristeza – sem sentido, ele gostaria de acrescentar, ele mal conhecia a moça e já estava morrendo de amores por ela.
  Amor à primeira vista, sua irmã mais nova diria.
  - É um anel adorável. Felicidades aos dois.
  - Obrigado, cara. – disse Henry, o noivo, com um sorriso quase tão grande quanto o de Angel.
  Miles desviou o olhar, parecia errado olhar a felicidade dos dois, parecia algo particular demais, lindo demais.
  O casal conversava aos sussurros.
  Ele a fazia rir.
  Miles o invejou por isso, nunca conseguiu fazer uma namorada rir.
  O vagão foi parando e os passageiros mais impacientes se levantando.   Henry se levantou e pegou a mão de Angie.
  - É nossa estação, adeus, cara. – Henry apertou a mão de Miles.
  Miles deu um tchauzinho com a mão pequena e depositou um beijo na bochecha de Miles.
  - Nos vemos algum dia.
  Miles sorriu.
  - É... Algum dia.
  Miles os observou sair do vagão junto da pequena multidão de pessoas.
  Quando Angie estava a ponto de deixar o vagão, Miles gritou seu nome. Ela se virou com um olhar questionador.
  - Você é linda.
  Ela sorriu, virou o corpo, saiu do metro de braço dado com o noivo e deixou a vida de Miles para sempre.

You're beautiful, it's true
There must be an angel with a smile on her face
When she thought up that I should be with you
But it's time to face the truth
I will never be with you

FIM



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