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Doada por Natashia Kitamura

Esta história tem 08 capítulos no total.

// A Ideia

12 de julho é o dia do expurgo, única data do ano em que, por 12 horas contínuas, todo e qualquer crime é legal. Um ano após ter perdido os pais e o irmão nesta data, ela se encontra com medo; sem saber o que esperar. Quando não consegue acionar o sistema de segurança mais importante de casa, resolve sair para tentar encontrar outro lugar seguro. Só que não há mais tempo, o expurgo já começou. Sua meta agora é sobreviver. Será que ela conseguirá? – Resenha por Gabriella Medeiros.


// Sugestões

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// Notas

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Violenza

Doado por Natashia Kitamura
Escrito por vários autores

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Prólogo

Escrito por Lelen Hayashida.

  "Quando se iniciara a formação de países pelo mundo afora, nossos fundadores se esforçaram para estabelecer justiça, tranquilidade e bem-estar geral, hoje, o mundo é um lugar bastante diferente de tempos que se foram. Porém, a Nova Ordem Mundial da Paz batalha por esses mesmos ideais e se recusa a deixá-los desaparecerem.

  Muitos patriotas e seguidores da NOMP concordam que grandes problemas requerem soluções drásticas. Os mesmos pensamentos complacentes que arrastaram a humanidade para uma era de pobreza, violência e crimes não vão corrigir uma nação. E é por isso que nós, a Nova Ordem, estabelecemos o Dia do Expurgo*, a data que salvou o mundo.

  A violência é uma característica natural humana, e estamos felizes em dizer que somos a única organização que nunca dirá a alguém para negar sua verdadeira essência.

CONDIÇÕES E NORMAS DO DIA DO EXPURGO

  O Dia do Expurgo, realizado anualmente, terá início todo ano no dia 12 de Julho ao por do sol, iniciando-se oficialmente às 19:00h e tendo seu final ao amanhecer do dia 13 de Julho às 7:00h.
  Durante o Expurgo, todo e qualquer crime – incluindo assassinatos – serão legais por 12 horas contínuas. Atendimento policial, do corpo de bombeiros, hospitalares ou qualquer serviço público estarão indisponíveis durante as 12 horas.
  Oficiais do governo devem ser poupados e vetados da participação do Dia do Expurgo.
   O não cumprimento das ditas normas terá como consequência a morte por enforcamento.

Sinceros desejos de que aproveite o seu Dia do Expurgo,

12 de Julho,
- Nova Ordem Mundial da Paz"


  *Expurgar - Retirar ou separar do que é nocivo ou prejudicial; Limpar de erros; corrigir, emendar.

Capítulo 1

Escrito por Lelen Hayashida.

  - 12 de Julho, 18:00h
   observava a movimentação das pessoas na principal avenida de sua cidade. Em todo 12 de Julho era a mesma coisa, por mais que soubessem que o grande dia se aproximava, as pessoas deixavam para a última hora para comprarem suprimentos, armas e munições. Eram como as compras de Natal, sempre deixadas para o ultimo instante possível.

   empunhou a arma e fizera um teste com a mira, testando o quão ágil seria utilizando aquele equipamento. Não que realmente precisasse daquilo. Nunca precisara, na verdade. Durante todos os anos de sua vida o Dia do Expurgo estivera presente, mas sua casa era muito bem equipada com aparelhos de segurança e lacre, sua família nunca sendo incomodada pelos participantes do Expurgo.

  A garota baixou a arma e a colocou de volta em cima do balcão de vidro da loja dando um suspiro.

  - Vai levar desta vez, ? – Maurice, o dono do lugar, perguntou com um sorriso. Havia tempos a garota pensava em comprar aquilo, mas nunca o fazia.
  - Não, ainda não. – Ela riu, logo acenando para o homem e saindo do local.

  O movimento da avenida diminuía a cada segundo em que as 19 horas chegavam mais perto. Todos queriam estar na segurança de suas casas antes do anoitecer, e era o que deveria fazer também.
  Caminhou pelas ruas desertas até chegar ao jardim de sua casa. Tateou os bolsos em busca de suas chaves por alguns segundos, e logo adentrou seu lar escuro, silencioso e vazio.

  Por mais que o Dia do Expurgo fosse classificado como a "salvação mundial", aquilo era de enlouquecer a muitas pessoas. Muitas pessoas que incluíam seus pais. Há dois anos, nas últimas horas do 17º dia do expurgo de , os senhor e senhora decidiram acabar com suas próprias vidas. O senhor atirou em sua esposa enquanto sentia-se sufocar pela corda que apertava seu pescoço e o pendurava a vários centímetros do chão. e seu irmão Norman tiveram de retirar os corpos eles mesmos da sala de estar para um lugar "menos visível". As manchas de sangue continuavam dando um tom mais escuro ao sofá vermelho.
  A garota observou o hall de entrada de sua casa, sentindo o conhecido vazio invadir seu peito. Aquele seria o primeiro Dia do Expurgo que ela passaria sozinha. Sem pai, sem mãe e sem Norman. Sentou-se em seu sofá e mais uma vez lembrou-se do ano anterior, quando seu irmão pegara a máscara que acabara de comprar especialmente para aquela noite – uma parte estritamente necessária para o bom funcionamento do Dia do Expurgo – e saiu pelas ruas escancarando a porta dos fundos, a deixando para trás, completamente desesperada.
  Norman nunca mais voltara para seu lar. Não vivo.

  Policiais e legistas ficavam responsáveis pelo recolhimento dos possíveis corpos encontrados no dia seguinte ao Expurgo, e fora um policial quem lhe trouxera a notícia de que haviam encontrado o corpo de Norman em uma lixeira. Não deixaram ver o corpo, tivera de fazer a identificação apenas por fotos. Segundo os legistas, a situação em que o mesmo se encontrava não era apropriada para uma adolescente ver. Norman lhe fora entregue em forma de cinzas, junto à máscara que usara na noite em que saíra para sempre de sua casa, nunca tivera a chance de se despedir devidamente de seu irmão mais velho.
  Olhou em volta e seus olhos pararam em cima da lareira, onde seu irmão "se encontrava". Não costumava ser sentimental ou acreditar em fantasmas e espíritos, mas precisava de algo familiar junto a ela. Por mais que fossem apenas cinzas, aquilo um dia fizera parte de Normy.

  - Sinto sua falta. – Às vezes ela murmurava encarando a foto que também ficava em cima da lareira.

  Ela não sabia o que esperar daquela noite. Sentia-se desprotegida sozinha naquela imensa casa.
  Aquela sensação de medo fez se lembrar de acionar o sistema de segurança. Olhou para o relógio: 18h50min.
  Correu para o pequeno quarto embaixo da escada onde se encontrava o painel de controle de todos os equipamentos de segurança que a casa possuía. Digitou a senha e começou a acionar cada sistema, um por um.
  "Trava de janelas e portas acionado" Ouviu a voz robótica do computador anunciar. E assim sucessivamente a cada sistema acionado com sucesso.
  "Erro na leitura. Acionamento de barreiras de aço cancelado." Ouviu a mesma voz informar.
   tentara mais algumas vezes, reiniciara o sistema, mas o erro persistia.

  - Merda! – Exclamou encarando o relógio de pulso. 18h57min.

  Desistira de tentar fazer o sistema de segurança mais importante de sua casa funcionar, abrira a porta dos fundos com certa urgência e pulou o cercado que dividia sua casa com a do vizinho. Precisava encontrar um lugar seguro para passar a noite, e só conseguira pensar em Judith, sua melhor amiga. A casa de Judy não ficava muito longe, em alguns minutos de corrida chegaria lá.
  Começou a correr o mais rápido que podia, mas logo parou. Ela não tinha mais alguns minutos para correr, eram 19h00min.

  - Merda...

Capítulo 2

Escrito por Lelen Hayashida.

   olhou ao seu redor em desespero. Não conseguiria chegar a tempo na casa de Judy e não seria seguro voltar para sua casa. Ouviu os primeiros barulhos da noite ecoarem pela rua. Durante o Expurgo as pessoas costumavam andar em grupos, a algazarra e diversão eram maiores, lembrou-se de um de seus colegas de classe comentar em anos anteriores. Ouviu latas de lixo serem tombadas, vidro sendo quebrado e até mesmo um tiro para o alto. O perigo estava próximo e ela precisava se esconder até conseguir pensar numa forma de escapar. Observou ao seu redor e encontrou uma árvore bastante alta no quintal dos fundos de uma casa ali perto, correu em direção à mesma e estacou com o susto que levara ao ver um grande cão pastor olhar-lhe desconfiado. Seguiu cautelosamente em direção ao tronco da árvore sem tirar os olhos do cão que permanecia a lhe encarar, mas sem avançar. finalmente conseguira subir nos galhos mais firmes da árvore e as largas folhas lhe davam cobertura, o que a fez respirar aliviada por um instante... Um instante curto e quase inexistente. Fora o tempo de soltar seu suspiro que segundos depois o grande cão começara a rosnar com certa raiva.

  - Ora, ora, o que vemos aqui... – Uma voz abafada por uma máscara soou logo abaixo da árvore. Uma garota com vestido branco e uma máscara de chacal segurando um facão de lâmina dupla se fez ver. – Vem cá cachorrinho. – Provocou o cão que agora latia enraivecido. não havia percebido até aquele momento, mas o pastor alemão estava preso por uma corrente perto de sua casinha, o que o impedia de avançar em quem quer que fosse. – Eu disse vem cá, cachorrinho. – A garota murmurou um pouco irritada, agachando mais perto do cão, que tentava se livrar da distância e morder o braço estendido. Não demorara muito até o animal esticar ao máximo o pescoço e dar uma grande abocanhada na mão da garota que gritou, mais irritada do que de dor. – Cãozinho mau! – Se levantou pressionando o recém adquirido machucado, mas logo sacando o facão e indo em direção ao animal.
  - Toti! – Ouviu-se a voz aguda de uma criança gritar ao mesmo tempo em que uma pesada porta de ferro se fazia ouvir sendo arrastada com certa dificuldade.

  Logo um menino com seus cinco ou seis anos entrou no campo de visão de . Ele correra na direção do pastor e o abraçara, fazendo o cão parar de pular e avançar na direção da invasora, ficando apenas em posição de alerta, as orelhas inclinadas para trás, os dentes a mostra e o rosnado raspando em sua garganta.

  - Hum... – A garota de vestido, agora manchado com seu próprio sangue, soltou parecendo satisfeita. – Acho que vou ter dois pontos logo de cara. – Disse maldosamente caminhando na direção do cão e do garoto, o primeiro voltando a latir raivosamente e o ultimo aparentemente segurando o choro, as bochechas ficando vermelhas pelo esforço. – Vou acabar com você primeiro, garotinho. – Apontou o facão na direção do pequeno. – Para aprender a não se meter em brincadeira de gente grande. – Cuspiu as palavras erguendo o facão. O menino gritou completamente assustado no instante em que a moça ia lhe desferir um golpe com a faca afiada, no mesmo momento Toti, o cão, se postou na frente de seu pequeno dono, sendo acertado pela lâmina que lhe fizera um corte fino do pescoço até parte da pata esquerda, a pelagem ficando molhada e manchada por conta do sangue. O animal uivou e ganiu com a dor, mancando para ficar à frente do garoto novamente. – Cachorro desgraçado! – A voz da moça demonstrava sua raiva. – Vou acabar com os dois de uma vez! – Vociferou sacando um gancho pontiagudo e afiado do cinto de seu vestido.
  A garota parecia ensandecida e fora de si quando se preparou para o ataque. O garotinho gritou mais uma vez fechando fortemente os olhos e abraçando seu cão ferido que agora estava deitado e sem forças.
   fechara os olhos junto ao garoto, não queria ver a cena que se seguiria, tão errada e grotesca. Fora um barulho fora de contesto que a fizera abrir os olhos espantada. Um tiro ecoou bem mais baixo que o normal, quando os olhos de se reacostumaram com o ambiente ela vira o homem que acabara de atirar com uma pistola com silenciador, ainda estacado com o braço estendido na mesma posição que mirara. A garota do vestido branco agora se encontrava tombada no chão, morta com um tiro na cabeça. O homem com a pistola correu na direção da criança o abraçando aliviado.

  - Nunca mais faça isso, Noah! – Esbravejou com o garoto que finalmente soltava suas lágrimas.
  - Mas o Toti, papai! – Choramingou sem se soltar do cão que ainda gania com o corte sangrando. – Papai, o Toti! – Noah exclamou com lágrimas escorrendo em abundância de seus olhos assustados.
  - Vamos cuidar dele lá dentro, vamos, campeão. Vamos entrar. – O homem murmurou pegando o cão de estimação com cuidado no colo. Logo em seguida o menininho correu para dentro da casa seguido pelo pai, a porta de ferro sendo fechada segundos depois.

  Em todos aqueles minutos de tensão, não havia percebido, mas segurava a respiração, quando toda aquela cena terminara, ela finalmente respirou profundamente sentindo o corpo ficar um pouco mais leve. Porém, a situação na qual se encontrava não era das melhores. Àquela altura não poderia sair do lugar sem se tornar uma vítima do expurgo, e mesmo que conseguisse chegar até alguma casa, dificilmente convenceria alguém de abrir a porta para lhe dar abrigo e proteção. O que poderia fazer?
  Olhou para o corpo inerte da moça e esticou o pescoço para a rua. Ao longe pôde perceber figuras vestidas quase que formalmente da mesma maneira que aquela garota estivera... Talvez fosse loucura, mas uma ideia passava em sua mente. Se não poderia passar despercebida entre toda aquela gente, talvez conseguisse se misturar a eles.

Capítulo 3

   olhou para o corpo da garota morta, agora despida e enfiada na casinha do cão chamado Toti. sentia-se horrível vestida naquelas roupas, o vestido branco manchado de sangue e as sandálias creme não eram confortáveis. Mas eram sua chance de tentar escapar do massacre que seria aquela noite.
  Ela poderia ficar escondida em cima da árvore, porém, não era a melhor das ideias, considerando que no penúltimo ano os participantes do expurgo haviam colocado fogo em todas as árvores dentro de algum quintal encontrada na vizinhança. Ela não tinha muitas opções. Não poderia pedir abrigo para ninguém ali. Na noite do expurgo ninguém era amigo de ninguém, todos se temiam e laços sanguíneos ou sentimentais eram esquecidos completamente. O medo era o sentimento que predominava.

  A menina respirou fundo pegando o facão e o gancho, as armas que a garota morta utilizava naquela noite. Pendurou o gancho de volta ao cinto do vestido, colocou a máscara de chacal e apanhou o facão da grama, sentindo o seu peso e sua frieza. Não estava certa do que estava prestes a fazer. Estava dando um passo em direção à morte, mas muito provavelmente tinha mais chances de viver sendo um deles do que um simples civil.
  Olhou mais uma vez na direção da casinha do cachorro e engoliu seco. conhecia aquela garota dos tempos de colégio. Sempre achara que ela era uma garota doce com seu ar e aparência angelicais, mas aparentemente se enganara terrivelmente.

  Com o coração acelerado e as mãos suando de nervosismo, resolvera acabar de vez com aquilo, caminhou cuidadosa, mas tentando aparentar tranquilidade, em direção à rua, onde aparentemente tudo ainda estava tranquilo. Ainda não havia sinais do expurgo, nenhum barulho, nenhuma pessoa. Estava prestes a suspirar aliviada e a sair correndo na direção da casa de Judy quando ouviu mais a frente a volta da algazarra. Um rapaz com máscara de porco e um taco de baseball havia derrubado uma lata de lixo, logo surgiram diversas outras figuras ao redor daquele rapaz, todas com algum tipo de “arma” em mãos e máscaras no rosto.
   ficara estática, sem saber o que fazer. Deveria correr? Deveria ir em direção a eles? Deveria tomar a direção oposta? Ficara parada por míseros segundos, mas fora tempo suficiente para o grupo a avistar.

  - Hei, Chacal! – Um dos rapazes do grupo exclamou, erguendo o braço. – Onde esteve? – Perguntou ao finalmente chegar perto da garota.
  Ela preferira ficar calada, já que não sabia o que responder, ou se aquele rapaz conhecia a garota que usara aquela máscara. Qualquer deslize e ela estaria ferrada.
  - Sempre calada, hum? – Ouviu mais uma voz abafada se aproximando, agora alguém com máscara de palhaço. – Seja lá onde ela tenha andado, já começou a se divertir. – Apontou para as manchas que já começavam a secar no vestido branco e para o facão ensanguentado.
  - Merda! – Ouviram o taco de baseball ser batido com força no chão.
  - Calma, Pig, a noite só começou. – O palhaço murmurou colocando a mão no ombro do colega.

   fora puxada pela cintura pelo rapaz de máscara de palhaço que guiava o grupo ao longo da rua. Por um momento achou que tudo continuaria naquela calmaria, mas estava redondamente enganada.
  O pequeno grupo se aproximou da casa dos Mason, naquele instante completamente desprotegida.

  - Parece que alguém não se preveniu para esta noite... – O Palhaço murmurou soltando a cintura de para subir os poucos degraus da varanda e verificar a porta. Batera na mesma e tocara a campainha. – Alguém aí? – Perguntou, como se realmente se importasse. – Pig Pig, é toda sua. – Fez uma ligeira reverência apontando a porte.

  O rapaz com a máscara de porco abriu caminho no grupo – inclusive dando um leve empurrão em – e com um estrondo arrombou a porta destruindo a maçaneta.
  A garota mordera o lábio inferior, nervosa, seu lar estava sendo violado.
  Todas as pessoas do grupo adentraram a casa, exceto ela e mais um rapaz com máscara preta que cobria quase que completamente sua face, porém, deixando a mostra sua boca, que naquele instante estava retorcida acompanhando a expressão do restante de seu rosto numa provável careta. Ambos ouviram o barulho de coisas sendo quebradas no interior do lugar, atravessaram a porta quase ao mesmo tempo.

  - Não tinha ninguém. – Pig apareceu no hall de entrada para informar os dois atrasados. – Uma pena. – Acrescentou, logo depois afastou-se derrubando tudo o que podia pelo caminho com o taco de baseball.

  O rapaz da máscara preta se afastou seguindo para o andar de cima da casa. permaneceu imóvel no hall, não sabia se conseguiria fazer alguma coisa se visse o estado de seu lar naquele instante. Poderia perder a cabeça e seu plano poderia dar errado. Caminhou um pouco em círculos arrastando a lâmina do facão no chão. Percebera há poucos minutos que fazer aquilo a acalmava de certa forma. O que deveria fazer agora? Decidira seguir o mesmo caminho do silencioso companheiro que subira ao segundo andar. Talvez ficar onde havia menos pessoas do grupo estavam ajudasse a manter a calma e, quem sabe, se livrar de vez daquilo? Talvez eles a esquecessem ali depois de acabar com a casa.

  Caminhou para o corredor de quartos, onde haviam quatro portas: a do banheiro, o quarto de Norman, o quarto de e o quarto de seus pais. A garota caminhou cuidadosamente em direção ao quarto de seus pais, já que era o primeiro do corredor. Abriu a porta devagar e percebeu que tudo ainda estava intacto. Suspirou de alívio e voltou a fechar a mesma. Continuou caminhando, e passaria reto pelo quarto de Normy se a porta não estivesse entreaberta. Com cautela espiou pela fresta, logo colocando a cabeça para dentro, para observar melhor o cômodo escuro, iluminado apenas por um abajur recém aceso.
  O rapaz da máscara preta segurava um porta-retratos que conhecia bem. Norman costumava guardar aquela foto em sua mesinha de cabeceira. Uma foto dela com ele, sorrisos largos e felizes a mostra.

  - Onde você está, ? – Ouviu a voz limpa e clara sussurrar.

  A garota parou estática processando o que acabara de ouvir. A voz que acabara de ouvir.
  Não conseguira evitar de abrir a porta de uma vez para poder ter certeza de que seus pensamentos estavam certos.

  - ?

Capítulo 4

Escrito por Lelen Hayashida.

  - ? – A garota murmurou novamente, agora encostando a porta e caminhando lentamente na direção do rapaz no quarto. – Ah, ... – murmurou soltando seu facão no chão e abraçando o rapaz um tanto aliviada. Ele por sua vez, permaneceu estático, sem retribuir o abraço, apenas tentando entender quem era aquela garota.
  Lembrando-se da máscara de chacal que usava, se afastou e se livrou da mesma, revelando sua identidade.
  - ...? – O rapaz murmurou seguindo os mesmo passos da garota e tirando sua máscara.
  - Eu sabia! – Ela exclamou ao constatar que não havia se enganado, era mesmo que estava ali a sua frente com o olhar de completa surpresa.
  - Mas... ... Como... – O rapaz tentava dizer, mas não conseguia se livrar do espanto para pronunciar algo que fizesse sentido.

  Os dois permaneceram em silêncio por algum tempo se encarando, ainda não conseguia se expressar tamanho era o alívio em encontrar ali, inteira e viva. Passados alguns segundos mais, finalmente o rapaz de preto conseguira uma reação: Puxara para um abraço apertado contra si.

  - ... – Ele murmurou sem soltá-la. – Fiquei tão preocupado quando vi sua casa desprotegida... – Continuou. – O que está fazendo aqui? – Perguntou afastando-se um pouco para poder encarar o rosto de quem abraçava.
  - Foi a única saída que encontrei para sobreviver a esta noite. – respondeu. Sabia bem o que queria dizer com “aqui”. Ele queria saber como ela fora parar no meio da rua em pleno início do Expurgo.
  - Eu disse para você fazer uma revisão em seu sistema de segurança. – O rapaz murmurou frustrado, finalmente soltando o abraço. – Nada disso estaria acontecendo. – Disse depois de uma pequena pausa para ouvir a destruição no andar de baixo.

   apenas ignorou o pequeno comentário sobre seu sistema de segurança e voltou a abraçar , que desta vez retribuiu, acariciando-a deu-lhe um beijo na testa.
  A relação que havia entre os dois não era muito bem definida. Sabiam que havia algo mais que amizade ali, mas nenhum dos dois tinha coragem o suficiente para arriscar nesse “algo mais”.
  Eles permaneceriam daquela maneira, abraçados, por um longo tempo mais, se não tivessem ouvido a voz de um dos integrantes da “gangue” chamar.

  - Peste*, Chacal! – Ouviram exclamar do andar de baixo. – Hora de somar pontos! Onde vocês estão? – Ouviram. Agora a voz parecia se aproximar, o que indicava que a pessoa que falava subia as escadas.

   olhou assustada para , que suspirou soltando-a. Ele pegou sua máscara e a posicionou de volta em seu rosto, logo depois estendendo a máscara de chacal para , que se apressou em coloca-la novamente. Pegou seu facão e no instante seguinte Pig abriu a porta com o bastão de baseball e caminhou para dentro do quarto.

  - Ah, então vocês estão aí... – Murmurou enquanto caminhava e olhava para as coisas no interior do lugar, sem muito interesse.
  - A diversão acabou por aqui, pessoal. – O Palhaço murmurou ficando encostado no batente da porta.

   e começaram a caminhar para fora, quando ouviram Pig exclamar às suas costas.

  - Hei, Palhaço! – Disse chamando a atenção do “amigo”. – Olha só essa foto. – Ergueu o porta-retratos que minutos antes encarava. – Não é uma beleza de garota? – Perguntou voltando a analisar a fotografia, sem se importar muito se haveria uma resposta do palhaço. – Imagina o que faria se encontrasse ela hoje... – Murmurou num tom malicioso. – A pele deve ser macia... E os cabelos, eu os puxaria enquanto ela estivesse me chupando com essa boquinha... – Pig compartilhou de seus pensamentos pervertidos com certa excitação na voz.

   sentiu calafrios percorrerem sua espinha, ouvir aquelas coisas nojentas – e sem conseguir controlar, imaginar tudo aquilo – fizeram até mesmo que seu estômago embrulhasse e tivesse vontade de sair correndo dali. Mas ela não era naquele momento, era uma garota segurando um facão, usando uma máscara de chacal. A garota encostou em , tentando se acalmar, se sentir segura por um instante. Fora então que percebera os lábios do rapaz tremendo de leve, assim como o braço; as mãos deviam estar fechadas em punho, ela podia apostar facilmente. O rapaz estava extremamente enojado e irritado ouvindo aquelas palavras sendo ditas sobre , mas tentava se acalmar para não se meter em confusão.

  - Cala a droga da sua boca e vamos logo. – O Palhaço resmungou esperando Pig para poder seguir em frente.

  O rapaz com a máscara de porco finalmente largou o porta-retratos de qualquer jeito e saiu do quarto, sendo seguido depois pelo palhaço. O quarteto desceu as escadas, Pig a frente, batendo seu taco de baseball nos degraus, paredes e corrimão, às vezes arrancando um pedaço de alguma coisa aqui e ali. Ele desaparecera por alguns instantes depois de chegar ao andar térreo e dobrar para o corredor que dava acesso à outras áreas da casa, Pig berrava pelo restante do grupo que se espalhara pelo lugar.
   e se dirigiram para a varanda, podiam muito bem tentar despistar o grupo e fugir, mas o ponto era: fugir para onde?
  Fora então que se lembrara de uma questão que a deixava um pouco inquieta: Por que estava fora de casa no dia do Expurgo? O que o levara a “participar” daquele dia? Estava prestes a abrir a boca e perguntar sobre isso, mas mal tivera tempo de formular as primeiras palavras, em um instante o grupo inteiro saía pela porta da frente da casa dos Mason.

  - Vamos procurar diversão. – O palhaço murmurou guiando o grupo para fora da propriedade que haviam acabado de invadir.

  Aparentemente a “diversão” estava escassa naquela noite, então tiveram de se contentar em depredar o jardim de uma das maiores casas daquele bairro. tentou se manter longe da vista das pessoas do grupo no qual se camuflava, porém, logo o Palhaço se vira entediado e viera puxar conversa com ela.

  - E então Chacal. – Começou. – Onde foi que conseguiu essas incríveis manchas de sangue no seu vestido? – Perguntou chegando perto.

   ainda não sabia se a identidade de “Chacal” era conhecida por aquele grupo, não podia se arriscar revelando uma voz diferente, então apenas balançou a cabeça, sem dizer nada.

  - Continua calada, hum? – O palhaço murmurou. – Precisamos checar o troféu para somarmos seus pontos. – Disse num tom divertido, mas teve a impressão de que aquilo era realmente sério, a questão de somar pontos.

  Ela dera as costas para o rapaz, não querendo prolongar aquele monólogo. Ia começar a caminhar quando sentiu uma mão larga apertar com força seu braço, a puxando de volta. Como reação instintiva, tentara puxar seu braço de volta e se soltar, mas o rapaz da máscara de palhaço era bastante forte apesar de seu porte físico não muito avantajado.

  - Qual o seu problema, garota? – O Palhaço reclamou e num impulso puxou a máscara da cabeça de , a mesma escorregou com facilidade, deixando à mostra o verdadeiro rosto da “Chacal”. – Mas o que...

  Todos que badernavam no jardim pararam para voltar seus olhares curiosos em direção à , agora com os olhos arregalados de pavor.
  , que estava um pouco distante da garota a fim de não gerar suspeitas e fingir se divertir, voltara seu olhar atônito. Merda, grande merda! Era tudo o que conseguia pensar ao encarar aquela cena poucos metros à sua frente.

  - Olha só quem temos aqui... – O Palhaço murmurou deixando a surpresa de lado. – Se não é a garota do retrato, provavelmente a dona daquela casa que acabamos de destruir... – O rapaz puxou de vez a seu encontro e acariciou seu rosto. – Sua pele é mesmo macia, docinho. – Ele gargalhou da expressão de aversão estampada no rosto de . – A única questão que me deixa realmente curioso é: Onde está a verdadeira Chacal e como conseguiu ficar no lugar dela? – O Palhaço apertou o rosto de com a mão que a segurava. – Você deve ter sido muito esperta pra conseguir fazer isso... – Continuou. – Nós não gostamos de pessoas espertinhas. – Ele sussurrou no ouvido da garota, que estremeceu. – Hei Pig, quer cuidar dessa aqui por nós? – Chamou pelo companheiro, pegara pelos cabelos e os puxara, fazendo-a arquejar de dor.
  - Vai ser um prazer... – Pig murmurou esfregando as mãos uma na outra com a excitação, enquanto caminhava na direção da garota com quem tivera um curto instante de fantasias enquanto encarava um porta-retratos.

   engoliu em seco, o desespero tomando conta de seu ser aos poucos. Ela estava ferrada.


  * Apelido dado como "Peste" ao personagem por conta da máscara (ver imagem) inspirada nas usadas por médicos durante a Peste Negra.

Capítulo 5

Escrito por Lelen Hayashida.

   tentou se desvencilhar, no mínimo descuido do Palhaço, ela se soltou do aperto que a segurava, e fizera menção de sair correndo, porém, Pig fora bastante ágil em agarrá-la por seus cabelos, o que fizera a moça parar de imediato soltando um arquejo. Pig a puxou de volta, e assim que retomou o controle da situação, empurrou em direção à árvore com um sorriso insano nos lábios.

  - Sua pele é bem macia... – Sorriu enquanto passava os dedos na face da garota que tentava se esquivar, em vão, já que Pig a prensava contra o tronco da árvore. – E seu cheiro... – Ele murmurou aproximando-se da curva do pescoço de e ao mesmo tempo tirando a máscara de porco da cabeça. se encolheu enojada ao sentir o contato da língua do rapaz em sua pele. – Você é muito melhor do que a Chacal original. – Sorriu, logo depois entrelaçando seus dedos nos cabelos da garota e os puxando com certa força, no instante em que abrira a boca para gritar com a dor, fora calada pelos lábios de Pig, que a beijou de forma um tanto selvagem e ao mesmo tempo tentava passar suas mãos pelo corpo da garota que se sentia cada vez mais enojada.

   sentiu vontade de vomitar tamanha era a repugnância que sentia por aquele rapaz que a tocava e beijava. Estava desesperada tentando arquitetar uma maneira de escapar daquilo, mas sua mente não conseguia trabalhar de forma rápida ao mesmo tempo em que tentava manter aquele ser desprezível longe de si. A única forma que encontrou de ao menos conseguir respirar, fora morder a língua de Pig que se afastou e urrou de raiva.

  - SUA VADIA! – Gritou, o ódio era nítido em seu olhar.

   respirou fundo por um segundo e então preparou-se para correr, virou-se ouvindo os urros irados de Pig e algumas gargalhadas vindas dos expectadores ao redor. Não tardou até sentir seu cabelo sendo puxado com força e raiva, mas desta vez ela não parou de tentar fugir, continuou tentando puxar suas madeixas para fora do alcance de Pig, enquanto este puxava com força na direção oposta.

  - VOLTA AQUI VADIAZINHA! – Ouvia Pig berrar enquanto dava solavancos para puxá-la de volta. – VOLTA AQUI P... – Sua frase fora cortada ao meio por um som que a princípio não conseguira identificar. Havia o gorgolejar de algo, o som indecifrável, o silêncio repentino da “plateia” que assistia a todo aquele showzinho do inferno e o mais intrigante: a sensação de que algo quente e viscoso havia jorrado em suas costas.

   moveu-se lentamente para encarar a cena às suas costas com medo do que poderia ver. O espanto suprimiu seu grito de terror e sua única reação fora colocar as mãos na boca e estacar onde estava.
  O que via a sua frente não era a coisa mais bonita de se descrever. segurava um facão, o facão que havia deixado cair em meio à confusão anterior, agora ensanguentado, ele arfava e parecia estar suando nervosamente. Mas o que realmente deixara a garota aterrorizada, fora ver a cabeça decepada de Pig sendo jogada por com nojo para longe, e seu corpo espasmando e jorrando sangue para todos os lados.
   ainda estava zonza com a cena quando os gritos começaram.

  - SEU FILHO DA PUTA! – Ouviu-se a voz do Palhaço irada. – SEU GRANDE FILHO DA PUTA. ABRAHAM ERA MEU MELHOR AMIGO... – As palavras do Palhaço foram silenciadas num estampido.

   sacara sua arma com destreza e da mesma forma atirou direto na cabeça do rapaz mascarado de palhaço, que caiu como um peso morto no gramado do jardim daquela casa.

  - Mais alguém quer se juntar aos nossos amigos...? – questionou friamente, ainda com a arma engatilhada e pronta para qualquer eventual circunstância. – Ótimo. – Murmurou guardando a arma após encarar a cada um ao seu redor. Logo aproximou-se de , que ainda se mantinha parada no mesmo lugar, sem sequer ter movido de posição. – Tudo bem, ? – Perguntou usando seu tom mais normal, analisando a expressão assustada da garota que apenas assentiu sem conseguir tirar os olhos dos corpos jogados a sua frente. – Tudo vai ficar bem agora, . Não se preocupe. – a abraçou e depositou um beijo no topo de sua cabeça.

   estava aterrorizada demais com tudo o que acontecera, ao mesmo tempo em que se sentia grata por tê-la salvado. Mas ele havia sido tão cruel nos atos que a salvaram... Sua mente estava confusa e quase não percebera quando o rapaz pegara em sua mão e começara a conduzir o reduzido grupo de volta às ruas. Era visível o medo em cada passo contido que o restante do grupo dava a poucos passos de distância dos dois.
  Claro que deveriam ter medo. Aquele rapaz que os guiava havia acabado de matar duas pessoas a sangue frio, não o conheciam e não sabiam do que mais ele seria capaz de fazer com cada um se o irritassem. Nem mesmo sabia se conhecia aquele .
  Seus pensamentos giravam em torno de possibilidades e tentativas de explicar as ações de seu companheiro quando fora interrompida bruscamente por um grito agoniante, e todos pararam de caminhar.
  Só então percebera a presença de um outro grupo mascarado a frente na rua, alguns badernando com suas armas brancas, outros atiçando a bagunça. Mas um trio em particular chamava a atenção. Estavam agachados no meio da rua, aparentemente segurando uma quarta pessoa ao chão, e essa quarta pessoa gritava por socorro.

  - Merda, Gail, sua idiota! – ouviu retrucar para si mesmo encarando a garota que gritava pedindo ajuda. O olhar de aflição era dirigido diretamente à Abigail .

Capítulo 6

Escrito por Lelen Hayashida.

   encarou a cena mais a frente na rua com desespero, Abigail era a irmã mais nova de , o que diabos ela fazia fora de casa num dia como aquele?
  Não tivera tempo para perguntar aquilo em voz alta a , ele segurara firme em sua mão e a puxara para o jardim com muros altos de uma das casas. O restante do grupo se dispersara, aparentemente não haviam sido percebidos.
   se encostou contra a parede e suspirou pesaroso.

  - Merda, Gail, merda! – Voltou a resmungar tirando a máscara e passando as mãos pelo rosto, em nítido sinal de desespero.
  - Alguém me ajuda! ouviu a voz fina e embargada da mais nova dos .

   fechou a mão em punho e socou a parede com força. Ficara calado e sabia que ele tentava planejar algo para salvar sua irmã. Ela queria ajudar, mas ainda eram muitas as coisas para seu cérebro processar, não conseguia enxergar uma maneira de livrar Abigail daquela situação e trazê-la para a segurança.
  O rapaz ao seu lado nada disse enquanto bisbilhotava discretamente por sobre o muro, os rapazes tentavam arrancar as roupas de Gail, que se contorcia e tentava dar chutes em quem se aproximasse, mas aquilo não duraria muito tempo, sabia muito bem disso. Ele suspirou voltando-se para e lhe estendendo o facão manchado com o sangue coagulado de Pig em sua lâmina. O rapaz não dissera nada mais depois disso, voltou a olhar por cima do muro, talvez revendo detalhes de seu plano de salvamento, foi então que olhara para o lado do qual ele e o restante do grupo haviam vindo, e lá estava, aquilo que ferraria completamente com seus planos: Um dos integrantes do grupo do Palhaço se aproximava com armas em mãos, mais atrás vinham os outros acompanhando.
   voltou a se esconder atrás do muro quando o primeiro tiro foi disparado.

  - O que está havendo? – questionou assustada ouvindo o alvoroço que se seguiu após o disparo.

  O rapaz nada respondeu, apenas respirou fundo e saiu detrás do muro empunhando a arma.

   não conseguira se mover, sentia um medo paralisante lhe tomar, não podia sair dali para parar em meio ao fogo cruzado, não queria sair dali. Ela se sustentou nas pontas dos pés para conseguir olhar por cima do muro o que acontecia. lutava contra dois dos homens que estavam com Gail, o outro não se dera o trabalho de parar o que estava fazendo para se importar com o que estava havendo às suas costas. ficara horrorizada ao ver o corpo do homem sobre Abigail investir contra o frágil corpo da menina que tinha o rosto vermelho e lágrimas nos olhos. berrava dando socos e chutes tentando passar pela barreira de dois homens, sem muito sucesso. percebera que ele havia derrubado sua arma há muitos passos dali e que um integrante do grupo “rival” se aproximava para pegá-la sem parar de mirar .

  A garota arregalou os olhos e mal percebera quando saíra correndo sem prestar atenção ao seu redor, visando apenas o corpo esguio que pegava a arma de do chão e mirava a mesma na direção dele.

  - NÃO. – Surpreendentemente soltou um grito que misturava ódio e pânico. não tinha a menor ideia de como o acontecimento seguinte havia ocorrido, mas o fato era que, um segundo depois de gritar, a mão que segurava o facão se moveu e fincou-se no pescoço de seu alvo, que num movimento espasmódico apertou o gatilho e disparou um projétil que por pouco não acertara . O corpo acertado por desabou com o facão ainda enfincado no pescoço, e só então ela compreendera o que havia acabado de fazer: Ela havia matado uma pessoa.

  Não tivera muito tempo para processar aquela informação. Por alguns instantes os dois homens que bloqueavam pararam para encarar aquela cena, espantados, mas logo voltaram à ação. O mais forte segurou enquanto o outro sacou uma arma e apontou diretamente para a cabeça do rapaz que pouco se importou, a visão de sua irmãzinha sendo violada daquela forma o enraivecia muito mais para que qualquer outra coisa lhe chamasse a atenção.
  Mas via tudo e não poderia deixar seu morrer ali. Ela correu na direção da arma que ainda estava nas mãos do morto e mal pensara antes de agir, simplesmente sacou, apontou e atirou. Disparou todas as balas restantes no corpo do homem que apontava a arma para a cabeça de . Não fazia ideia de onde tinha acertado, mas fora o suficiente para o alvo desabar no chão.
  Ela achava que tudo estava prestes a acabar, mas não imaginara que seria daquela maneira. apenas viu o homem sobre Abigail sacar um revólver e, aparentemente após chegar ao ápice, enfiou o cano da arma na boca da garota e disparou. Disparou sem mais.

  - NÃO! – Ela pôde ouvir o grito de . Vira ele sacar uma pequena adaga, ferir o homem que o segurava e então partir para cima do homem que matara sua irmã. Ele tirara o homem de cima do corpo de Abigail e lhe dera um soco, continuara esbofeteando o homem que fora pego de surpresa e não revidava, o mesmo fora derrubado no chão, chutava e gritava descontroladamente, enfurecido. Então, pegara sua adaga novamente e sem delongas, a fincou no rosto do assassino de Gail, na cavidade ocular, fincou-a bem fundo e a girou. Depois levantou-se e fora em direção ao corpo de Abigail.

  Durante tudo aquilo, não se movera, apenas observara de longe as ações de com horror. Então olhara com pesar na direção do corpo de Gail, que agora era abraçado por seu irmão mais velho, segurava o corpo da irmã como quem segura uma criança para ninar. não conseguira evitar de caminhar lentamente na direção do rapaz, não tinha certeza se queria ver todo aquele estrago de perto. Mas era quem estava ali desamparado. Não podia deixa-lo daquela maneira.
  Chegara perto de onde estavam e apenas observou.
   chorava enquanto abraçava o corpo inerte de sua irmã, não se importando com o sangue que manchava suas roupas. Ele chorou por minutos. E então tudo ficara em silêncio. Não havia mais gritos, não havia mais tiros ou algazarra. Apenas o silêncio da noite. Fora aí que prestara atenção ao seu redor.
  Durante todo aquele momento ela não vira nada a não ser , mas agora que tudo terminara, ela pudera se focar no resto. Não havia mais barulho porque tudo o que restara de minutos atrás foram corpos. Montes e mais montes de corpos espalhados por toda a rua. se questionava, como conseguira ignorar todo aquele caos a sua volta?

  - Ela era uma cabeça dura... – lhe chamou a atenção, ele ainda abraçava o corpo da irmã. – Ela queria provar que já não era mais uma menininha e teve a brilhante ideia de participar do dia do expurgo. – Continuou. – Eu devia tê-la impedido! – Exclamou com as lágrimas ainda escorrendo pelos olhos.
  - ... – finalmente conseguira dizer.
  - Eu era o irmão mais velho! Tinha que protegê-la! – Exclamou alterando um pouco o tom de voz. – Era minha obrigação! – Ele chorou e puxou ainda mais o corpo de Abigail de encontro ao seu num abraço desesperado.
  - Você não poderia ter feito nada, ... – ajoelhou-se ao lado do rapaz tocando de leve seu braço. Não sabia ao certo se o de momentos atrás – o furioso, o matador – ainda estava ali.
  - Mas eu tinha que ter feito! – Ele encarou no fundo dos olhos. Ela pôde ver a agonia e o desespero estampados ali.
  - Ela viria para fora de qualquer jeito, você sabe disso. – Ela finalmente se convencera de que aquele era o seu . – E você se arriscou para vir atrás dela. – limpou o rosto do rapaz com a ponta dos dedos.

   ficara em silêncio por alguns instantes e então desabou novamente no choro, agora sendo abraçado ternamente por que não sabia o que dizer numa hora como aquela.

  - Minha família está morta... – disse por fim, ainda abraçado à .
  “Bem vindo à bordo” ela pensou amargamente enquanto se lembrava de seus pais e seu irmão.

Capítulo 7

Escrito por Lelen Hayashida.

   encarava um ponto fixo a sua frente sem prestar muita atenção. Seus pensamentos estavam longe o bastante para não perceber choramingando sobre os recentes acontecimentos. ainda se perguntava como tudo aquilo tinha acabado daquela forma.
  Os dois estavam sentados encostados no alto muro do jardim de uma casa perto do local da chacina da qual haviam acabado de participar. Ela ainda não sabia como pudera matar um homem de forma tão fria como fizera. Sabia que estava apenas tentando proteger , mas a sensação de que aquilo tudo era errado não a deixava. Ela se lembrava com clareza os olhares insanos dos participantes do expurgo. Era possível que todos, sem exceção tinham aquele instinto selvagem e violento dentro de si? Até mesmo os mais amáveis e gentis cidadãos tinham a habilidade de esquecer seus semelhantes e tornar-se assassinos frios? Ela era capaz disso? Com certa relutância percebera que sim, tanto ela como eram capazes de matar sem pensar duas vezes.

  ... não sabia como olharia para ele depois daquele dia. Como conseguiria apagar aquele violento de uma noite para recuperar o antigo e gentil de sempre? Ela encarou o perfil do rapaz ao seu lado, que permanecia na mesma posição que sentara vários minutos antes. Seus olhos continuavam vermelhos e marejados, a expressão vazia. se lembrava do quanto o rapaz amava a irmã mais nova. Ela tinha sido tudo o que lhe restara de sua verdadeira família. e Abigail haviam perdido seus pais ainda muito jovens, tinha pouco mais de sete anos e Gail completava seus dois anos quando ambos foram enviados para morar com seus avós maternos. O senhor e a senhora Blackwood haviam falecido três anos atrás, quando o mais velho dos completara dezoito anos. nunca deixara de demonstrar sua preocupação com a educação e os estudos de sua irmã e também seu afeto e carinho eram evidentes, a garota fora tudo que lhe restara de sua família, não poderia permitir jamais que algo acontecesse com Gail. Mas ele falhara, ao menos em sua mente era o que pensava. Ele falhara com seu dever de proteger Gail, falhara em mantê-la segura, simplesmente falhara com tudo o que achava mais importante.

  - ... – murmurou segurando a mão do rapaz que apertara a mesma em resposta. – Você não podia ter feito nada. – Repetiu o que havia dito mais cedo.
  - Era meu dever, . Ela deveria estar viva e protegida dentro de casa. A qualquer custo. – Murmurou a última parte com raiva, socando o chão com a mão livre.
   agachou-se em frente ao rapaz segurando ambas as mãos dele para que parasse de esmurrar o chão tentando se livrar da ira.
  - Pare, . – Replicou encarando-o seriamente. – Simplesmente pare com isso! – Ela disse com certo tom de desespero na voz. Não sabia mais o que dizer a ele, não sabia mais o que pensar, apenas queria que aquela noite terminasse e ela pudesse tentar a voltar a viver normalmente. – Quando a noite acabar nós vamos continuar com nossas vidas, por mais que doa estar sozinho, temos um ao outro e talvez consigamos nos ajudar daqui pra frente. – Disse.
  - Como você pode pensar dessa forma? – virou-se para com o olhar um tanto raivoso. – Como pode pensar que tudo vai ficar bem? – Ele agarrou os pulsos da garota que se sobressaltou com o ato repentino. – Gail está morta! Estão todos mortos! – Sibilou entredentes. – Nada vai ser como era antes. Nada vai ficar melhor! – Quase gritou.
  - Me solta, ! – exclamou assustada. O olhar irado que tinha quando vira Abigail voltara a surgir. – Solta! – Disse se esforçando para ter seu braço solto, mas o rapaz apertava cada vez mais.

   empurrou com força para longe de si, e aproveitou o momento de descuido para se soltar.
  Ela estava assustada com a reação do amigo, nunca esperara que ele reagisse daquela forma.
  Assim que se soltara, ela correu para longe e fizera menção de correr atrás da garota, mas ela fora bastante ligeira e já tinha saído de sua vista.
  - Te encontrei, vadiazinha! – Ouviu alguém dizer na rua, logo depois um estampido soou.

Capítulo 8

Escrito por Kaah Brito.

  Um timbre conhecido fora ouvido por trás de . A mesma fechara os olhos com força pela surdez causada por conta do grito e do grande estrondo que tinha origem de poucos metros a sua frente. Ainda processava as palavras que um timbre feminino havia dito e tentava ainda identificar a segunda voz que escutara antes do estampido.
  - Você não vai me atrapalhar de novo, filho da putinha. – a garota na frente de sorria em escárnio. – Você vai morrer desta vez, sua vadiazinha, e não vai ser esse merdinha que vai me atrapalhar. – Judy se pronunciava em rancor.
  - Judy? Do que você está falando? – já se pusera a chorar naquela altura. Voltou seu olhar para o corpo de estendido ao chão e já não entendia o que tinha acontecido.
  - Do que eu estou falando? Quem você acha que matou Norman, porra? – ela sorriu.
   já não acreditava. Sua melhor amiga? Sua única amiga?
  - Você é tão ingênua, tão tênue com tudo que me dá nojo. Você é uma vadiazinha que merece morrer chupando essa arma. – Judy balbuciava enquanto gesticulava com sua pistola em sua mão direita.
   andou até devagar. Ela não conseguia acreditar em seus próprios olhos. Não conseguia acreditar no que sua visão a proporcionava. Ela não podia acreditar, não queria.
  - Porra. – gemeu em dor, baixo. Aos olhos de Judy, seu tiro fora tão certeiro que ele não tinha sobrevivido, mas aos olhos de , ela podia perceber que ele ainda podia sobreviver. Decidiu que iria se vingar da vadia. É claro que iria. girou seu corpo rapidamente e se aproximou em passos pesados até Judy. Judy gargalhou com o ato da garota. O que ela faria, afinal? Judy se pôs a pensar.
  - Judith. – se pronunciou, séria. Ela sabia o que faria. O primeiro rosto que viera em sua mente fora o de seu irmão. Seu irmão mais velho que saíra para a merda da caçada apenas para protegê-la e morrera em vão, pelas mãos da garota em que jurou amor durante o ano inteiro do namoro entre os dois. Ela riu. Riu mesmo do quão ingênua havia sido. retirou um canivete que sempre levava consigo, o canivete que seu irmão dera a ela antes de sair de casa para que a mesma pudesse se proteger. – Eu vou te cortar. Vou te cortar toda. – já não se sentia a mesma. A garota já sorria psicótica. Finalmente ela descobriu o porquê de todos aqueles adolescentes, adultos, vizinhos, namorados, e todos os tipos de pessoas do mundo se matarem de forma tão inescrupulosa. Chega um ponto em que não aguentamos mais. Não aguentamos mais perder aquilo que sempre foi nosso por direito. Ter uma família, amigos, tudo sempre é tirado de nós no dia 12 de julho. Neste maldito dia.
  - Vai me cortar? Antes de você conseguir chegar até mim eu já meti uma bala no meio da sua testa. – Judith deu um chute que atingiu a altura dos pulmões de , coisa que a fizera tombar para trás, indo ao encontro do chão sujo de sangue.
   rosnou em dor e a olhou irritada. Judith, por sua vez, colocou a sola de seu tênis na altura do peito de e forçou o corpo dela para que continuasse no chão. Finalmente agachou-se para olhar a expressão de , derrotada. riu em escárnio. Ela não perderia com tanta facilidade quanto Judith pensava. empunhou seu canivete e cortou rapidamente em direção ao rosto de Judith. Judy sentiu seu rosto sendo invadido por um líquido vermelho, um grande corte de um lado ao outro de seu rosto era visível. Neste momento, fora a vez de Judith tombar para trás. se levantou, pisou com toda a força no pulso de Judy fazendo-a soltar a arma e sentou na barriga dela. Seu canivete pingava em sangue e ela sorriu.
  - Quem vai ser a vadiazinha agora que vai morrer? – perguntou. Ela estava furiosa com os fatos ocorridos no dia. Vira a morte de crianças, cachorros, pais, mães, da Gail e por ai vai. Tudo tinha ido por água abaixo e ela não conseguia crer ainda. Já era de madrugada e logo o dia 12 estaria acabado, logo o dia do Expurgo seria encerrado, a única coisa que nunca iriam voltar seriam as vidas perdidas neste mesmo dia. sentia falta das histórias que seus pais contavam quando a mesma era pequena. Histórias de um mundo que não existia estas matanças, não existia violência. Por fim, sentiu uma lágrima rolar em seu rosto. Por que aquilo estava acontecendo, afinal?
  - Você vai me matar, o que tem? – Você vai ser igualzinha ao seu irmão, vai ser igualzinha a mim. – Judith riu. Riu não, gargalhou pensando no que havia dito. – Então, você sabia que ele era o líder do grupo mais perigoso do dia do Expurgo? – disse sarcástica. – Isso mesmo, queridinha. Ele matou minha família e disse que me deixaria viva para que eu me lembrasse daquilo. – sorriu ela, olhando para com uma cara retorcida em dor devido ao corte de um canto ao outro de seu rosto. – E agora falta você. Falta apenas você morrer. Naquele dia, eu estava procurando por você. Eu não queria matar ele, eu queria que ele sofresse a sua perda, mas ele decidiu que aquele dia seria o dia em que ele morreria, como eu poderia contestar contra isso? – Judy disse sarcástica.
   a olhava com nojo, o mesmo nojo que olhou para o garoto que disse palavras sujas dela. Seu corpo ardia em fúria. mataria ela, mataria ela e cortaria a cretina em pedaços com a merda do canivete. Por fim, deu o primeiro corte, depois o segundo e em seguida o terceiro. Todos no rosto. Judith já não era mais visível, pelo menos não o rosto. ria, gargalhava a cada corte dado. Não era mais ela. não era mais , não mais a garota inocente de quando o dia começou. A garota fazia rasgos e mais rasgos, só parou quando Judith parou de se mexer. finalmente observou o sol clareando o céu. Faltava pouco para que ela pudesse voltar a sua vida normal. Exceto por um fato: Ela não queria mais sua vida normal. Por fim, expulsou seus pensamentos – por hora – e correu até seu amado que estava estirado ao chão. guardou seu canivete no bolso do vestido ensanguentado e agachou para ver , ver se o mesmo estava ao menos vivo. Ela sorriu, ele estava. Estava vivo como ela esperava que estivesse.
  - Consegue se levantar? – perguntou ao mesmo esperando que ele respondesse um grande sim. Ela o levaria para a própria casa e trataria dele lá até o final do dia do Expurgo. Ela não conseguiria levá-lo ao hospital àquela hora.
  - ... – a voz de saiu fraca. conseguiu ver que sua boca estava suja de sangue seco e suas bochechas molhadas devido as lágrimas soltadas. – Desculpe... – respirou fundo com dificuldade antes de continuar a frase. – Não posso viver pensando na morde de Gail. – tossiu ao final da frase.
  - Como assim? – Ela riu. Não podia estar acontecendo. Ele não podia estar desistindo dela, podia?
  - Desculpe, minha princesa. Eu não fui o suficiente para proteger ela e acho que não sou o suficiente para proteger você. – ele sorriu antes de finalmente fechar os olhos para nunca mais abri-los. – Eu te amo, . Nunca fui babaca o suficiente para te contar isso, mas eu te amo. – riu pela última vez e sua respiração falha finalmente parou.
  - ? – abraçou a carcaça sem vida a sua frente se sujando mais de sangue. – ? ! – gritou. Ela riu e danou-se a chorar. Deitou ao lado de e tentou voltar a sentir o calor que tantas vezes confortara a mesma. – , eu te amo. Eu também te amo. – ela riu novamente. – É brincadeira, né? Diz que é uma piada. – por fim, ela chorou alto. Chorou tão alto que nunca esqueceria dos gritos que deu e da falta que sentiu de logo após sua partida.

  Flashback on
   vagava pelas ruas e becos escuros da noite. Seus pais morreram e aquela seria a noite que provavelmente Norman também não voltaria para casa. Riu consigo mesma. Não queria pensar sobre o que aconteceria com ela. Naquele momento, pouco se lixava. Lembrava da morte dos pais e do quanto Norma ficara paranoico com o fato dela também morrer. Ele a proibiu de sair de casa, de estudar, de tudo. se aproximou do beco mais escuro que até agora havia percebido e sentou-se na escuridão. Ela esperaria pelos infames garotos que viriam matá-la. Ao longe, já escutava as vozes de um grupo de garotos ao longe. Logo eles perceberiam ela, logo eles saberiam da existência dela e matariam ela. Era o que esperava. Os garotos se aproximaram e logo enxergaram encolhida no fim do beco. Riram todos e continuaram observando, queriam saber a próxima ação da garota.
  - Ei, Erick, olha essa aqui. – um deles riu debochadamente. – Será que podemos transar com ela antes de matarmos a vadia? – indagou.
  - Tanto faz. Quero chegar na próxima casa, aqui no centro é bem chato. – riu o tal Erick. – Pode ficar com essa daí. – o garoto se pronunciou e voltou a andar sem prestar muita atenção no que aconteceria no beco. O grupo o seguiu.
  - Oba. – o tal Erick se aproximou de com um sorriso psicótico em seus lábios. – Você ainda é virgem, mocinha? – perguntou ele. o olhava com nojo. – Eu adoro virgens. Principalmente quando elas gritam de dor e eu meto com tudo. – riu consigo mesmo.
  Um estampido foi ouvido e o corpo do garoto cujo nome era Erick caiu na frente de . Ela olhou quem a tinha salvado e tentou identificar o ser.
  - Vamos. – ele pegou ela pelo braço e puxou-a até a casa mais próxima. Correram como nunca.
  - Quem é você? – soluçava e tentava entender o porquê de ter sido salva. Entraram na primeira casa vazia e ligaram a segurança do local.
  - . Meu nome é . Fique aqui. – vasculhou a casa em vista de que tinha medo da garota ser atacada novamente e logo retornou para o local onde a mesma se encontrava. – Acenda a lareira. Vamos ficar aqui e tentar não chamar atenção até o amanhecer. Qualquer coisa que dê errado, fique com isso... – ele entregou uma faca a ela e logo tirou uma arma do cós de sua calça. – E isso. – deu a arma a ela.
   tremia. Algo estava errado. Algo estava muito errado. Infelizmente, ela não podia sentar e chorar como se nada estivesse acontecendo. Obedeceu a ordem do mesmo e acendeu a lareira. , por sua vez, rodou a casa e fechou todas as janelas e meios de entrada que poderia haver. Retornou a sala tão rápido quanto saiu e olhou-a. estava encolhida no canto da sala.
  - Vá tomar banho. Qual o seu nome? – perguntou curioso.
  - . – sua boca tremia e consequentemente as palavras também.
  - Repetindo, : Vá tomar um banho. Você parece uma mendiga. – riu ele sem humor.
   se levantou e em movimentos robóticos fora tomar seu banho.
  Flashback off

  Ela riu consigo mesma. Lembrava o quão perseguidora havia se tornado para apenas se sentir “amada” por alguém. Depois desse dia, soube da morte de seu irmão. foi a única coisa que lhe restou. O único ser que ela ganhou apego depois de todo o ocorrido. Em pouco menos de 4 meses, já tinham um caso. não admitia para si mesmo e muito menos para ela, mas ela sabia. Os beijos dados rapidamente ou as vezes em que fizeram sexo e ele dizia que tinha sido coisa de apenas uma noite. Estes “apenas uma noite” duraram mais tempo do que ela podia se lembrar. Ela não podia deixar simplesmente ir. Não podia esperar que ele fosse sem mais nem menos. Abraçou-o forte e tentou mais uma vez trazê-lo de volta com suas palavras. Era obrigação dele voltar!
  Passou o final do dia do Expurgo assim, esperando que ele só tivesse desmaiado. Observou o sol ao longe atingir o topo do céu e milhares de viaturas passando pela rua e recolhendo as carcaças. Quando o tiraram dela, ela não aceitou. Jurou vingança.

  Dia do Expurgo – Ano seguinte
   pegou sua mochila, no cós de sua calça colocou todos os objetos cortantes que tinha. Adagas, uma espada, um facão, uma faca comum, seu canivete tão querido e a adaga preferida que sempre carregava consigo. colocou sua máscara, olhou-se no espelho uma última vez e disse a si mesma que aquilo era o certo. Ela finalmente aceitara seu destino. Uma vez ao ano ela aniquilaria todos aqueles que tentassem matar alguém. Não deixaria um ser que tentasse machucar o outro vivo. Não deixaria que alguém perdesse uma pessoa queria como ela perdeu . Como ele perdeu Gail, os pais e ela sua família. Não deixaria. Colocou sua mochila de armas e munições nas costas e em sua mão direita carregava a pistola de Judith, na esquerda, a arma que usara em sua última noite.
  Finalmente todos aqueles que causaram sofrimento vão sofrer a mesma tristeza que propagaram. Era o dia do Expurgo para uns, mas para , era o dia pessoal de sua vingança favorita.
   sorriu psicótica e caminhou para fora de sua casa.

FIM