Vinte e Dois
Escrito por Ana Vitória | Revisado por Mariana
You don’t know abaut me
But I'll bet you want to
Everything Will be alright
If you keep dancing
Like we're... 22!
- Caralho, . Você quer parar? - gritou pelo que deveria ser a nonagésima vez com , e eu bufei, já estava quente demais no banco de trás do carro, apertado demais e abafado demais. Eu disse que viajar para Búzios em pleno verão, em um carro sem ar condicionado não daria certo, mas acha que alguém me ouviu? Never. Pra quê dar ouvidos para a dramática da ? Só mais drama. já estava na mesma situação que eu, completamente irritada, mas ela conseguia ser mais singela e não demonstrar, , sentada a minha esquerda, devidamente separada de pra que elas não se atracassem a qualquer momento, parecia ocupada o suficiente passando snapchats* para todo mundo que conhecia e , a esquerda de , devorava o quinto, talvez sexto Cupcake da vez.
- Mas eu não 'tô fazendo nada! De acordo com estatísticas... - , que dirigia o carro, apertou o volante com mais força, enquanto respondia a , que estava no passageiro. Péssima ideia colocar ela perto de . Era sempre problema na certa. Mas depois de muita confusão entre eu, e dona para ver quem iria na frente, ficou decidido que um sorteio decidiria tudo, e pah.
na frente.
- Claro que você está fazendo! Meu Deus, cala a boca, para de ser inteligente! Arg.
- Não entendo por que tanta implicância entre vocês duas. - disse fazendo biquinho para mais uma foto e a olhou cínica pelo retrovisor central. Até parece que ela não vivia discutindo com .
- Quem vê jura que Abreu é uma pessoa descente. Como se você e a não vivessem em uma eterna briga.
- Para de ser mal comida, . Por favor. - Apesar de a ofensa ter sido aferida diretamente a , quem replicou foi , me fazendo bufar again.
- Quem vai comer o quê? - perguntou como se a segundos atrás flutuasse em uma terceira dimensão e não fizesse noção do que acontecia no mundo ao seu redor.
- A questão é quem não foi comida, . - me disse com um sorriso torto.
- Quer se concentrar na direção, por favor? - implicou, batendo com as mãos no porta luvas do carro a fim de chamar a atenção de que virara a cabeça para trás.
- João Victor Guimarães Ericeira agradece por pararem de falar dele. - defendeu o como se indiretamente estivéssemos falando dele. E estávamos. Falávamos do primo dela que ironicamente era meu ex-namorado mais recente.
- Eu já falei que esse é um nome proibido enquanto eu tiver vida, não já? - Disse já cansada daquele papo.
- Tem razão, . A sua maior decepção amorosa foi aquele Zaino Malique da Uma Direção quando tinha quinze anos. - disse divertida saindo em defesa do membro mais detestável da família Ericeira.
- É Zayn, , e você sabe.
- Não só dela, Dear . A também tinha um amor platônico por ele. Coitadas. - finalmente guardou o celular na bolsa assim que somou ao que disse.
- O que você quer dizer com isso? - parecia irritada.
- Pelo menos ele existe. As chances da ou da ficarem com o Zain Malik, são bem maiores do que a sua de ficar com o Chuck Bass*. Ou com o Noel Kahn*. Ou com o Dan Patch*. - Fiz um hi-five* com e mostrei a língua para as outras fazendo com que revirasse os olhos.
- Tô cansada de dirigir. - Angeli fez bico.
- Que pena. - Disse sem ânimo.
- Eu posso dirigir se vocês quiserem. - deu a ideia.
- NÃO! - Respondemos em uníssono. era um desastre ambulante no trânsito.
no volante, perigo constante*.
- Estávamos querendo chegar a Búzios vivas, sabe como é? Pros gatinhos.
- Se foder, . Eu dirijo muito bem.
- Ah claro, bem até demais.
- Sua ironia me comove, . - Falou com falsa gratidão mostrando o dedo do meio em seguida, com um sorriso sarcástico.
- Só lembrando, que as únicas que têm carta de habilitação aqui são a e a .
- Muito obrigada, .
- Mas isso não te habilita a dirigir. - Falei apertando a bochecha dela.
- Bem, tecnicamente sim. - disse. - Mas a possibilidade de ela dirigir é a mesma da ou a ficarem com o Zain. Em tese, é possível, mas todo mundo sabe que não vai acontecer.
- Obrigada, . Me sinto muito contente com a sua feliz comparação. - Eu agradeci.
- Não entendo como você tirou carta, .
- Muito simples, ...
- Ela dormiu com o instrutor. - Impedi que terminasse a frase.
- Calúnia! Eu não dei pro professor! Não sei por que pensam essas maldades de mim.
- Eu posso enumerar, você quer? - fez a pergunta, mas não esperou a resposta antes de continuar. – Primeiro: você já deu pro campus da UERJ* todo. Segundo, não vou nem lembrar como você passou em educação física, mesmo matando todas as aulas, no último ano. Terceiro: você não sabe nem passar marcha. Quarto: você tem vinte e dois anos e já teve mais de dezessete namorados assumidos. Quinto: você da em cima dos seguranças das boates pra conseguir pista Premium. Posso continuar? - Ela perguntou quando segurou o dedo mindinho indicando o quinto argumento e nem se importou em parecer ofendida.
- Eu tenho vinte e dois anos meu amor, nós temos. Não sei vocês, mas eu estou aproveitando. - Respondeu enquanto terminava de passar um brilho labial e me entregando em seguida para que eu passasse e continuasse o ciclo entre nós. - Quando eu for uma advogada formada, vou te processar por isso, . - Passou a mão na boca vendo seu reflexo no vidro, para desborrar o trabalho recém-feito. - Pode parar pra eu pegar o carro, ?
- Me julgue por julgar, mas você não sabe dirigir. E me processe pelo que eu vou falar agora. Você não encosta no volante desse carro enquanto a chave estiver na ignição. - Disse decidida a não mudar de ideia assim como todas ali e se encostou na janela do carro, só abrindo a boca antes de cair no sono uma única vez.
- Af*, af, af, af, mil vezes af. Eu odeio vocês.
+++
- Chegamos. - disse parada em frente a uma casa branca com uns detalhes coloridos. Típica de interior. Não chegava a ser simples, mas não passava nem perto de uma casa chique, foi pro que a grana deu. A casinha era acolhedora e uma a uma saímos do carro.
- Chegamos?! - disse ainda meio sonolenta.
- Chegamos! - parecia realmente animada.
- É, chegamos... - parecia refletir sobre o lugar.
- Ainda bem, 'tô com fome. - Nem preciso dizer que quem deu esse testemunho brilhante foi .
- Essa não é a mesma casa que nós viemos com o Diogo e JV, ? - Há mais ou menos um ano atrás quando eu e namorávamos, tivemos a brilhante ideia de passar um final de semana em encontro duplo na praia, e pelo que eu tinha entendido, na mesma casa. Assim que passamos pela porta da frente pude perceber a semelhança. Da outra vez, o muro era cor-de-rosa, e vale lembrar que eu sou péssima com endereços.
- Sim. - Ela falou entregando a chave do carro para a mesma senhorinha, praticamente anciã, que atendera a gente em casais, e ela seguiu junto com o filho até o carro para buscar as malas.
- Não é muita maldade deixar uma vovozinha daquelas pegar nossa mala? - parecia indignada e só nos fez sorrir enquanto saia em disparada a procura da cozinha.
- Mas ela tá sendo paga pra isso... - não pôde terminar a frase sendo interrompida por .
- Espera, agora eu tô confusa. Não era a quem odiava o Diogo? Quer dizer, eles já namoraram/ficaram/fuck, whocares*. Mas eles já encostaram uma boca na outra? - me fuzilou com o olhar e eu lembrei que apenas por precaução, só quem sabia do 'relacionamento' dela éramos eu e , que nesse momento prendia o um sorriso.
- Da um jeito nisso, . - disse se chegando até e passando os braços em seus ombros para usá-la como apoio.
- Ahm, eu, eh... Na verdade... - Não pude terminar a frase porque chegou saltitante na sala, onde permanecíamos paradas e em pé, interrompendo até pensamento.
- Me sinto tão feliz. - Um sorriso de orelha rasgou o rosto dela.
- Por quê? - perguntou incomodada pela interrupção de sua explicação.
- Tem Ovomaltine na cozinha!
- O pó ou o milkshake? - perguntou tirando o vestido que usava e revelando um biquíni vermelho por baixo. - Me sinto livre, adoro ficar sem roupa. - Puxou , que murmurou um 'pó', e pelo pescoço com um sorriso colgate. Eu encarei elas emburrada, graças Deus o assunto da tinha sido esquecido, por hora, mas porra. A , agarrada com a , , e juntas...
- Me sinto solitária. - Externei meu pensamento.
- Abraço em grupo nessa atriz? - Antes que alguém respondesse, já tinham dez braços ao meu redor e um coro de 'awn' podia ser ouvido. Ainda abraçadas, mas agora uma do lado das outras seguimos até o sofá enquanto ligava o ventilador.
- Feliz. - Ela apontou pra . - Livre. - Apontou pra que fez sinal de 'paz e amor' com os dedos. - Confusa. - Apontou pra que fez careta. - E dramática. - Apontou ora mim e eu mandei dedo. - Ops, solitária. - Eu sorri como quem diz 'assim está melhor'. - Agora acrescentem mal comidas e carregando na lista de vocês. - Deitou em cima de todas nós que estávamos esparramadas lado a lado no sofá aproveitando o vento quente que saia do ventilador recém ligado. - Felizes, livres, confusas e solitárias. Ao mesmo tempo. Do melhor jeito. Isso nos define.
Aquietamo-nos pelo menos uns cinquenta minutos ali. Cada qual com seu cada qual. Todas com o pensamento em algum lugar diferente. Nós teríamos um final de semana todo em Búzios. O que fazer se não aproveitar? Quer dizer, quantos caras gatos e atléticos acha que tem nas praias daqui? Fora os turistas. Era muito homem. O paraíso, digamos assim. Eu não sei elas, mas eu sinto que tudo vai ficar bem, eles só precisam de mim. Os turistas. Qual é? Aquele sotaque americano me mata. Acho que hoje eu vou sonhar ao invés de dormir. Talvez eu tome café da manhã a meia-noite, antes de sair de casa, porque sabe lá Deus que horas eu volto.
FIM
Algumas informações adicionais:
O trecho da música usado quer dizer "Você não sabe sobre mim, mas apostaria que quer, tudo vai ficar bem se você continuar dançando como se tivéssemos vinte e dois anos.”. Snapchat, como a maioria de vocês sabe, é uma rede social consistente no envio e recebimento de fotos. Chuck Bass, Noel Kahn e Dan Patch, são personagens de alguns seriados estrangeiros, em ordem, Gossip Girl, Pretty Little Liars e Hellcats. Hi-five é uma gíria norte americana para o cumprimento com toque de mãos. no volante perigo constante, é uma adaptação da frase, ridícula e machista, ‘Mulher no volante perigo constante' que eu usei me referindo a uma pessoa e não ao gênero. UERJ, faculdade estadual do Rio De Janeiro. Af, diminutivo da expressão 'as fuck' equivalente a 'que merda'. Who cares, traduzido para o português, 'quem se importa'.