Viagem à Fernando de Noronha
Escrito por Bianca Raguzzoni | Revisado por Natashia Kitamura
Fernando de Noronha é uma das ilhas mais lindas a existir, sua beleza natural encanta a todos que tem a chance de vê-las pessoalmente. As inúmeras praias e baías, suas histórias e lendas, seus moradores e visitantes, é tudo tão lindo, incrível e gentil. Quando os irmãos Stromberg receberam a oportunidade de visitar tal lugar eles não puderam recusar, principalmente Keaton.
O irmão menor de Wesley Stromberg era apaixonado por fotografia, e ter uma oportunidade para fotografar lugares tão bonitos como os que Fernando de Noronha oferece não era algo que ele dispensaria tão facilmente. Não que ele fosse um fotógrafo profissional, essa ideia nem passava pela cabeça do menino. Fotografia era mais como um hobbie, algo que o fazia feliz e o agradava.
Praia da Conceição, praia do Boldró, forte São Pedro do Boldró, praia do Americano, Cacimba do Padre, praia do Sancho, praia do Leão, Baía do Sueste. Ele não sabia o que esses nomes significavam, mas sabia que nada poderia descrever tal beleza. Alguns lugares eram fechados, mas uma olhada de longe, um click da máquina fotográfica era o suficiente.
Mesmo com tantos lugares para serem explorados ainda, havia alguma coisa na Baía do Sueste que havia prendido o menino ali. Quer dizer, além do fato de que o ônibus da companhia de turismo que ele, seu irmão e seu amigo estavam usando havia quebrado e eles ficariam ali por pelo menos três dias a mais até outro ônibus chegar.
Ele arrastou o irmão e o amigo consigo por agendas turística na cidade por um dia inteiro até eles o deixarem para ir sozinho até a Baía do Sueste pela segunda vez no segundo dia. Infelizmente, ele havia perdido o grupo do horário agendado por cinco minutos, então ele foi a uma lanchonete perto dali e esperou até achar algum funcionário que falasse inglês, mas ninguém parecia entende-lo.
Ele se sentia um idiota tentando — e fracassando — fazer alguém entende-lo com gestos e pronunciando as palavras silaba por silaba mesmo sendo óbvio que não ajudaria em nada desde que ele ainda estivesse falando inglês e não português.
Que droga, não deveria ter pelo menos um funcionário que falasse inglês aqui? Isso é uma parada turística! — ele pensou.
Ele ouviu uma risada doce de seu lado, uma menina morena de olhos inclinou-se para o funcionário em frente do menino e falou alguma coisa em português. O homem assentiu e virou-se para pegar uma garrafa de água do freezer atrás de si e colocou na frente do loiro que olhou surpreso para a menina ao seu lado enquanto ela trocava breves palavras com o funcionário.
— Eles demitiram o único funcionário deles que falava inglês. Idiotas. — ela murmurou para o menino.
Ah, finalmente, alguém que eu entendo e que me entende.
— Realmente, pode reclamar para eles por mim? Eu faria isso eu mesmo, mas algo me diz que eu pareceria ainda mais idiota do que antes. — o loiro disse fazendo a menina rir.
— Considere feito. — ela sorriu. — Mas, ei, ele se sentiu tão mal que vai fazer um prato de comida para você com carne e batatas fritas extras.
— Wow, eu acho que vou vir aqui mais vezes. Incomodar para ganhar. — ele sorriu.
— É uma ótima ideia, se importa se eu pegar emprestada às vezes?
— Claro que não, eu ainda te devo uma, se não fosse por você eu passaria fome. —ele disse — Ah, eu sou Keaton. Desculpa, às vezes eu esqueço completamente de tudo.
— Tudo bem, eu faço isso também. — a menina riu — Meu nome é . Prazer em conhecê-lo, Keaton.
O sorriso que ela deu em seguida o fez se arrepiar e seu sorriso aumentar assim como as batidas de seu coração.
Calma Keaton, é só uma garota, sem mencionar que você acabou de conhece-la, tipo, agora.
Eles conversaram por mais um tempo até a comida dos dois chegar. Pelo tempo que os pratos se esvaziaram eles já haviam falado sobre suas famílias, colégio, planos para o futuro e acabaram falando sobre gatos.
— Essa sua obsessão com gatos não é saudável, sabia? — a morena falou tomando um gole de seu suco.
— Falou a garota que acabou de me falar que tem um pijama de gatos!
— Isso não tem nada a ver! — ela exclamou — Tem uma grande diferença entre ver uma roupa fofa com gatos em uma loja e passar o dia assistindo vídeos de gatos.
— Eles soam como a mesma coisa pra mim. — ele deu de ombros antes de terminar a comida em seu prato.
— Não são n... Sua comida chegou quinze minutos depois da minha, como assim você terminou junto comigo?
— Fácil, você não terminou sua massa. — ele disse pegando a massa deixada de lado no prato da menina.
— Eu nunca vou entender como homens conseguem comer tanto. — ela balançou a cabeça e bebeu seu suco.
— Tudo bem, estou pronto. — ele disse ficando de pé na frente da morena.
— Hum? — ela perguntou terminando seu suco.
— Você disse que ia me mostrar a Baía do Sueste. Eu estou pronto para ir. — ele sorriu.
A menina sorriu por um momento então balançou a cabeça e levantou-se.
— Claro, só vamos pagar. — ela passou por ele indo até o caixa.
O loiro franziu o cenho estranhando a atitude tão rápida, mas logo deixou passar e fez o mesmo, indo até o caixa.
Eles já estavam perto da praia, então não precisaram andar muito.
— Aqui foi onde os holandeses invadiram a ilha em 1629, mas eu tenho certeza de que você já ouviu toda a história pelos guias. — ela disse.
— Mas eu não ouvi você contando.
A menina corou um pouco e olhou para baixo, limpando a garganta. Ela contou a história conhecida por qualquer um que morasse ali ou tivesse um computador e curiosidade o suficiente, mas o menino descobriu que adorava o som da voz dessa menina que ele havia conhecido no mesmo dia, apenas algumas horas antes. Mas a melhor parte foi quando ela começou a falar das lendas da ilha e de histórias que ela mesmo havia criado com suas amigas, ele percebeu que, cada vez que ela falava sobre isso, seus olhos brilhavam e ela sorria involuntariamente no meio de uma frase pela qual ela tivesse preferência e também o modo como ela enrugava seu nariz quando ela dizia alguma coisa com a qual ela não concordava e então contava sua própria versão.
Eles passaram a tarde inteira andando pela praia e conversando sobre qualquer coisa que viesse em suas mentes até que ficou muito tarde e eles tiveram que se separar.
— Tem uma festa na praia amanhã à noite, você deveria ir... Com seu irmão e seu amigo, quero dizer. Eu não sei o endereço de cabeça, mas eu posso mandar uma mensagem mais tarde com o endereço. Se você quiser ir, claro...
— Seria ótimo. — o rosto do menino se iluminou com a ideia de ver a menina novamente.
Ela sorriu de volta para ele e assentiu abanando para ele antes de se virar para ir embora.
Naquela noite, a morena invadiu os pensamentos e sonhos do loiro, mas, apesar da implicância do irmão sobre seu “sorriso bobo”, ele não poderia ter dormido melhor.
— Ei, eu estou brincando, mas você sabe que se você estiver realmente gostando dessa menina não vai dar certo, né? Quer dizer, nós ainda iremos embora depois de amanhã, se eu fosse você eu não criaria muitas esperanças. — a voz de seu irmão ecoava em sua mente, mas ele não deixou que isso o preocupasse, pelo menos não por um tempo.
. . .
A mensagem com o endereço da festa chegou cedo na manhã seguinte, assim como o aviso de que o ônibus deles partiria para o aeroporto na próxima madrugada. Ele, seu irmão e o amigo dos dois planejaram tudo no café-da-manhã; eles arrumariam as malas a tarde e sairiam da festa com tempo o suficiente para pegar sua bagagem e chegar a rodoviária a tempo de pegar seu ônibus — que jeito melhor de terminar uma viagem se não com uma festa, certo?
O único momento que os três deixaram seu hotel naquele dia foi para comprar coisas para a viagem e, mais tarde, para a festa.
A casa de praia onde a festa acontecia estava cheia, salgadinhos e doces espalhados em mesas ao redor da casa inteira para os convidados se servirem junto com bebidas e até mesmo um bar no que eles deduziram ser a sala de estar quando a casa não era usada para festas. Mesas de sinucas, jogos com bebidas com propósito único de embebedar os jogadores e submetê-los a ações que eles provavelmente se arrependeriam se estivessem sóbrios, um espaço enorme à frente do bar no cômodo principal com música tocando tão alto que os três amigos não se surpreenderiam se ouvissem na rodoviária mais tarde. Sem esquecer, é claro, da praia que formava o jardim da casa com ainda mais pessoas dançando, bebendo, conversando e desafiando uns aos outros a coisas como jogar-se ao mar usando nada além de um chapéu de marinheiro que alguém havia levado.
— Cara, isso sim é uma festa. — o sorriso do Stromberg mais velho quase não cabia em seu rosto.
— Isso vai ser demais. — Drew, o amigo acompanhante dos dois, deu leves batidas nas costas dos irmãos — Vejo vocês em cinco horas.
Os dois puderam ouvir um “ainda bem pegaremos um táxi até a rodoviária” antes do amigo desaparecer para dentro da casa.
— Bem, eu vou me divertir enquanto posso. Boa sorte, maninho. — o mais velho correu em direção à mesa cheia de bebidas que alguém havia colocado do lado de fora da casa enquanto gritava “uhul”.
O menor riu do irmão e começou a procura pela menina que o fez ir ali. Demorou um pouco, mas ele a avistou conversando com duas outras meninas perto do bar.
— Keaton! — ela sorriu o abraçando — Você veio, ótimo! Essas são minhas amigas e . — ela deixou os três se apresentarem propriamente.
— Eu vou procurar pelo Guilherme. — anunciou — , vem me ajuda.
— Mas... — a amiga não teve tempo de discutir antes da loira a puxar pela multidão de pessoas dançando.
— Elas parecem ser legais. — o menino disse.
— Elas são. — ela assentiu — Ei, vamos pegar alguma coisa para você beber.
Ele assentiu e eles sentaram perto do bar bebendo primeiro Coca-Cola, então eles tomaram um copo de vodca e decidiram dançar, o que durou por um bom tempo. Os dois dançando e rindo dos movimentos estranhos do outro até que virou uma competição de movimentos estranhos o que chamou atenção de mais pessoas em volta e se juntaram a eles. Depois de um tempo todos voltaram a dançar normalmente e então eles começaram a se cansar e voltaram para o bar onde, depois de conversar mais um pouco, Keaton convenceu a tomar um gole de tequila a cada segredo ou histórias que eles contassem um ao outro — incluindo respostas a perguntas que eles tivessem um para o outro. Após dois goles eles decidiram ir caminhar na praia para terminar o jogo.
— Tudo bem, tudo bem — Keaton disse parando de rir e pensando em algo para perguntar — Qual o seu desejo de consumo? Algo que você queria desde pequena ou algo que você sempre quis, mas nunca ganhou.
— Hum... Eu sempre quis aquelas bonecas que andavam de skate. — ela riu da própria confissão — Você?
— Um gato — ele brincou, a fazendo rir — Mas agora eu tenho um, então acho que não conta.
Ela riu mais um pouco antes de pensar em outra coisa.
—E o que você quer agora?
— Agora? — ele ergueu as sobrancelhas olhando nos olhos da garota enquanto ela assentia levemente com a cabeça.
Ele parou de andar e ela fez o mesmo, inclinando a cabeça levemente para o lado tentando fazer sua visão focar nos olhos do menino. Ele olhou nos olhos da menina por mais alguns segundo e deixou seus olhos caírem para os lábios dela por poucos segundos, tempo suficiente para que ela percebesse e mordesse o lábio inferior para esconder um sorriso.
— Agora, eu quero... — ele suspirou — eu quero beijá-la.
A menina ficou em silencio por um tempo antes de murmurar:
— Então o que você está esperando?
Ele sorriu e aproximou seu rosto do dela, sua mão deslizou para a nuca da menina e seus lábios se encaixaram perfeitamente enquanto os dois se envolviam em um beijo apaixonado. Ele sabia que não devia, se essa fosse apenas mais uma de suas festas e isso fosse com uma garota qualquer... Mas não, havia algo sobre essa garota que o fazia querer mais, não só uma coisa de uma noite e eles nunca mais se falariam, não. Ele queria algo real com ela, ele queria poder ficar com ela, cuidar dela, ele queria poder discutir com ela e fazer as pazes momentos depois, porque ele não conseguiria ficar longe dela, porque ele não precisa ficar longe dela. Mas ele estava indo embora em algumas horas e essa era a realidade.
— ... — ele suspirou.
— Eu sei. — ela sussurrou.
— Eu... Eu preciso ir.
Ele não podia ficar ali, ele não conseguia, e ele com certeza não conseguiria dizer adeus. Então ele pegou um táxi para o hotel, colocou sua bagagem e de seus amigos e mandou uma mensagem para Wes e Drew encontrarem com ele na rodoviária. Ele ainda tinha uma hora e meia antes do ônibus sair, mas ele não podia voltar lá, então ele colocou seus fones de ouvido, sentou em um banco esperando o motorista para guardar sua bagagem e tentou livrar sua mente de todo pensamento ligado aquela garota que mexeu tanto com ele em pouco menos de 24 horas.
Ele ficou tão envolvido em pensar em não pensar na morena que quase não percebeu quando seu irmão bateu em seu ombro anunciando sua chegada.
— Ei, você sai da festa para ir para lua ou o quê? — ele brincou — Temos quinze minutos antes do ônibus sair, Drew foi guardar nossos lugares, entende-se: dormir. Mas se quiser correr para o banheiro ainda tem tempo.
— Ah, ok. — ele assentiu.
O irmão mais velho suspirou.
— A propósito, tem alguém que quer se despedir. — ele apontou para a porta com a cabeça e saiu em direção ao ônibus.
Ele deixou um suspiro sair e levantou-se, andando em direção à menina encostada a porta.
— ... — a menina o interrompeu antes que ele pudesse continuar.
— Não... Eu sei, você mora na Califórnia, eu aqui, isso nunca daria certo, posso não ter muita experiência com isso, mas eu não sou idiota, eu sei no que estava me metendo. — ela disse — Você está indo embora agora, mas por alguma razão eu sinto como se houvesse algo entre nós... Eu não sei, parece idiota e eu nunca fiz isso, mas eu senti algo diferente quando eu o conheci ontem, algo... Diferente, e eu não estou pronta para desistir disso ainda. Então, vá, volte para casa, ou viaje pelo mundo, tire suas fotos, divirta-se, mas eu não quero perder contato com você, mesmo que não seja nada demais. Eu não quero desistir de você, ainda não.
Ele deixou seu sorriso tomar conta de seu rosto.
—Eu também não quero desistir de você, garota da lanchonete.
Ela sentiu seu rosto corar e olhou para baixo antes de depositar um beijo rápido do lado da boca do rapaz. Ele riu levemente e beijou os lábios da garota.
Ele ouviu seu irmão gritar seu nome para que ele fosse para o ônibus para conferirem os passageiros.
— Um dia — ele disse — eu vou voltar por você.
Ela sorriu e o beijou uma última vez.
— Um dia. — ela sussurrou antes dele se voltar para o ônibus.
Ele virou-se para ela uma última vez na porta do ônibus para abanar e viu que ela fazia o mesmo.
Um dia, garota da lanchonete. — ele disse para si mesmo — Um dia.
FIM