Primeiro Capítulo
Tempo estimado de leitura: 18 minutos
— Todos já me passaram suas partes para o aluguel da casa, já conferi e tudo está correto. — Mingi mostrava o papel impresso para os amigos, os olhos atentos passando rapidamente pelos números e anotações como se estivesse checando pela terceira vez.
Mingi sempre fora a definição de organização. Seus amigos costumavam brincar que ele nascera com uma planilha em uma mão e um cronograma na outra. Meticuloso em tudo o que fazia, ele não apenas gostava de manter as coisas sob controle, mas parecia encontrar uma estranha satisfação em deixar tudo funcionando como um relógio.
— E a lista de compras? — perguntou Yunho, um dos amigos.
— Já está pronta também. — Ele pegou o celular e abriu um aplicativo cheio de categorias organizadas: comidas, bebidas, itens de higiene, e até
"emergências". — E fiz questão de revisar os preços. Achei um mercado na cidade com promoções para algumas coisas.
Era exatamente por isso que Mingi havia sido escolhido para organizar a viagem. Ele era prático e confiável, o tipo de pessoa que ninguém precisava se preocupar se esqueceria algum detalhe importante. Desde as reservas da casa até o cronograma do final de semana, tudo passava por ele.
— Você deveria abrir uma agência de viagens, Mingi — disse %Amélia%, com uma ponta de ironia, enquanto cruzava os braços.
Ele arqueou a sobrancelha, encarando-a de volta com um sorriso confiante.
— Se eu abrisse, pelo menos teria certeza de que nada daria errado.
Enquanto os amigos riam, Mingi se sentia satisfeito. Para ele, o sucesso daquela viagem dependia de uma coisa:
planejamento. E se havia algo que ele sabia fazer bem, era transformar qualquer caos em ordem.
Os amigos estavam espalhados pela sala da pequena casa que haviam alugado para a viagem. Mingi, com seu papel impresso e o celular em mãos, parecia o comandante de uma missão.
— Agora, vamos dividir os quartos. Já deixei um esquema aqui para evitar confusão. — Ele apontou para outro papel que retirou da pasta organizada. — Fiz questão de equilibrar os grupos para evitar problemas, então todos terão alguém com quem se dão bem no mesmo quarto.
— Alguém com quem se dá bem? — provocou %Amélia%, de sobrancelhas arqueadas. — Isso significa que você me colocou com o Seonghwa?
— Claro que não, %Amélia%. Meu objetivo é evitar uma terceira guerra mundial, não iniciá-la. — Mingi respondeu seco, arrancando risadas dos outros.
%Amélia% bufou, mas não insistiu, enquanto Seonghwa, sentado no sofá ao lado de Wooyoung, apenas sorriu de canto, satisfeito com o incômodo dela.
Além dos rapazes do grupo, estavam ali as garotas do grupo além de %Amélia%, para garantir que a viagem tivesse ainda mais animação:
%Isabela%, a mente criativa do grupo, que sempre aparecia com ideias inusitadas para brincadeiras ou atividades;
%Lia%, a mais quieta e observadora, mas com um humor ácido que surgia nas horas mais inesperadas;
%Sophia%, carismática e descomplicada, sempre mediando conflitos com um sorriso e palavras calmas;
%Giovana%, a apaixonada por aventuras, que já falava sobre querer surfar mesmo sem nunca ter subido em uma prancha;
%Bianca%, um espírito livre que vivia pregando que o Ano Novo era sobre
“liberar energias” e aproveitar o momento presente.
— Eu só espero que o lugar seja confortável, Mingi — disse %Isabela%, deitando no sofá com uma expressão sonhadora. — Alugaram mesmo uma casa perto da praia, certo?
— Sim, %Isabela%. — Ele respondeu, sem esconder o tom exasperado. — Eu conferi as fotos, falei com o proprietário e até chequei o Google Maps para garantir que não fosse fake.
— Se isso não é comprometimento, eu não sei o que é — brincou Sofia, erguendo as mãos como se aplaudisse.
Enquanto Mingi seguia distribuindo instruções, %Amélia% cochichou algo para %Lia%, que soltou uma risadinha discreta. O clima era de animação, mas a provocação entre %Amélia% e Seonghwa pairava como uma faísca pronta para incendiar a paz da viagem.
— Só uma última coisa — disse Mingi, elevando a voz para capturar a atenção de todos. — Sigam o cronograma e as regras que discutimos. Sem desorganização, e, por favor, não esqueçam de manter a casa em ordem.
— Você já pensou em virar síndico? — provocou %Giovana%, piscando para ele.
Mingi revirou os olhos, mas manteve o foco. Para ele, tudo tinha que sair perfeito, mesmo que isso significasse lidar com as constantes provocações e risadas dos amigos.
🌟🌟🌟🌟
A sala estava cheia de vozes animadas enquanto os amigos conversavam sobre as expectativas para a viagem. Yunho, sempre otimista, já fazia planos sobre as festas locais.
— Dizem que tem um luau na praia na noite de Ano Novo. Seria incrível começar o ano com uma vibe dessas — comentou, enquanto %Giovana% assentia energicamente.
— Com certeza! E quem sabe eu finalmente aprenda a surfar antes disso — disse ela, com olhos brilhando de entusiasmo.
— Não vai durar cinco minutos em cima da prancha — provocou Wooyoung, arrancando risadas do grupo.
— E você? Vai passar o tempo todo se achando o rei da praia? — retrucou %Giovana%, piscando para ele, o que só aumentou as gargalhadas.
%Amélia%, sentada na poltrona com uma garrafa de cerveja na mão, observava tudo com um sorriso contido. Não era exatamente a maior entusiasta de viagens em grupo, mas não podia negar que o clima entre os amigos era contagiante.
— Vai ficar só observando, %Amélia%? — perguntou %Isabela%, inclinando a cabeça para o lado. — Ou vai finalmente se empolgar com a ideia?
— Estou empolgada o suficiente — respondeu ela, levantando a garrafa em um gesto preguiçoso antes de dar o último gole. — Vou ao banheiro.
Levantando-se, %Amélia% cruzou a sala e seguiu pelo corredor estreito, ainda ouvindo as risadas e os comentários vindos da sala. No entanto, assim que virou a esquina, deu de cara com Seonghwa, que vinha do lado oposto.
— Olha por onde anda! — ela exclamou, o impacto dos corpos fazendo com que recuasse um passo.
— Eu é que deveria dizer isso — retrucou ele, o tom frio enquanto ajustava o casaco que havia ficado torto.
Os olhos de ambos se encontraram, e por um breve instante, o ar pareceu pesar. Era sempre assim: bastava estarem no mesmo espaço que a tensão surgia como uma tempestade prestes a desabar.
O ódio entre %Amélia% e Seonghwa era tão evidente que já havia se tornado uma piada interna entre os amigos. Desde que se conheceram, eles nunca conseguiam concordar em nada. O motivo? Ninguém sabia. Nem eles.
Para os outros, o ressentimento parecia inexplicável, quase cômico. No entanto, para %Amélia% e Seonghwa, era real. Ele achava que ela era irritante, teimosa e incapaz de ouvir um argumento lógico. Ela, por outro lado, o considerava arrogante, presunçoso e dono de uma superioridade insuportável.
— Dá pra sair da frente? — %Amélia% estalou a língua, cruzando os braços.
— Já estou indo, princesa — ele respondeu com ironia, mas não antes de inclinar ligeiramente a cabeça para o lado, como se a estivesse avaliando.
Ela revirou os olhos, empurrando-o de leve com o ombro para passar. Ele riu baixo, o som ecoando atrás dela e a irritando ainda mais.
No fundo, nenhum dos dois conseguia explicar de onde vinha aquele ódio intenso, mas ambos sabiam de uma coisa: dividir aquela viagem com o outro seria um desafio. E, naquele momento, nenhum deles estava disposto a recuar.
🌟🌟🌟🌟
Além das seis garotas já presentes, duas amigas do grupo estavam para chegar.
%Marina% e
%Letícia% eram as últimas a completar o grupo. %Marina% era uma enfermeira dedicada, sempre com histórias engraçadas sobre plantões caóticos, e %Letícia% era professora de dança, animada e cheia de energia, mas com horários imprevisíveis. Ambas haviam avisado que chegariam mais tarde por conta do trabalho.
A campainha tocou, e Mingi, sempre eficiente, foi o primeiro a se levantar para abrir a porta.
— Finalmente! — disse ele, com um sorriso.
%Marina% entrou primeiro, carregando uma mochila grande e suspirando de cansaço.
— Desculpem o atraso, gente. Plantão extra de última hora antes das minhas tão sonhadas férias. — Ela colocou a mochila no chão e passou a mão pelos cabelos, claramente exausta.
%Letícia% veio logo atrás, equilibrando uma sacola cheia de comida e outra com roupas.
— Não acredito que vocês começaram sem a gente! — brincou, abrindo um sorriso enquanto deixava as sacolas na mesa. — Pelo menos trouxe reforços.
— Isso que é chegada triunfal! — comentou Wooyoung, já indo até a sacola para conferir o que havia dentro.
— Se você tocar em alguma coisa antes de todo mundo, vai ficar sem sobremesa — %Letícia% o advertiu, apontando o dedo em um tom brincalhão.
— Finalmente vamos estar completos! — disse Sofia, levantando-se para abraçar as amigas.
%Marina% e %Letícia% foram se cumprimentando com os demais, o cansaço dando lugar à animação conforme se acomodavam na sala.
— Espero que a gente tenha um quarto decente depois de tudo que passamos pra chegar aqui — comentou %Marina%, arqueando uma sobrancelha para Mingi.
— Já organizei tudo, não se preocupem — respondeu ele, com um leve tom de orgulho.
— Claro que organizou. Você deve ter até decidido quem usa o banheiro primeiro, né? — %Letícia% riu, jogando-se no sofá ao lado de %Giovana%.
A chegada das duas completou o clima de empolgação que pairava no ar. Com o grupo finalmente reunido, a expectativa pela viagem para a praia parecia ainda maior. No entanto, para %Amélia% e Seonghwa, essa era só mais uma desculpa para não ficarem no mesmo ambiente – algo que, cedo ou tarde, se provaria impossível.
Jongho, que até então observava a movimentação com os braços cruzados e um sorriso discreto, levantou a voz para chamar a atenção de todos.
— Agora que estamos todos aqui, diga logo qual é a distribuição dos quartos, Mingi. — Ele lançou um olhar sugestivo para o amigo. — Assim a gente pode se ajeitar e descansar, porque amanhã temos um roteiro para cumprir, não é?
Mingi assentiu, claramente satisfeito com o comentário. Ele ajustou a postura e pegou a folha com a organização que havia preparado.
— Certo, vamos lá. — Ele ergueu o papel como se estivesse prestes a ler um anúncio importante. — Temos quatro quartos disponíveis. Dois têm camas de casal, e os outros dois têm beliches. Fiz a divisão baseada no espaço e, claro, para evitar possíveis conflitos.
— Então espero que você tenha sido muito sábio nessa escolha — comentou %Lia%, rindo enquanto ajeitava os cabelos.
— Eu sou sempre sábio — respondeu Mingi, sem hesitar. — Vamos lá: no quarto um, com uma cama de casal, ficam Yunho e Wooyoung.
— Ótimo. Assim eu posso garantir que ele não vai roncar tão alto — brincou Yunho, apontando para Wooyoung, que apenas revirou os olhos.
— Quarto dois, também com cama de casal, ficam %Lia% e Sofia. — Mingi continuou, ignorando as risadas.
As duas trocaram sorrisos satisfeitos e já começaram a cochichar sobre como iam decorar o espaço.
— Nos quartos com beliches, as coisas ficaram assim: no quarto três, %Giovana%, %Marina%, %Letícia% e %Bianca%.
— Perfeito! — exclamou %Giovana%, levantando a mão como se tivesse ganhado uma medalha. — Esse quarto vai ser o mais animado, com certeza.
— E o quarto quatro? — perguntou Seo
nghwa, o tom casual, mas com um olhar que %Amélia% percebeu de relance.
Mingi respirou fundo antes de responder.
— Quarto quatro: eu, %Amélia%, Seonghwa e %Isabela%.
— O quê? — %Amélia% e Seonghwa exclamaram ao mesmo tempo, os olhos arregalados.
— Não adianta reclamar. É o maior quarto, e vocês vão ter espaço suficiente para manter distância um do outro. — Mingi levantou as mãos em sinal de rendição antes que os dois começassem uma discussão ali mesmo.
— Isso vai ser... interessante — murmurou %Isabela%, tentando disfarçar o sorriso.
— Interessante não é a palavra que eu usaria — retrucou %Amélia%, cruzando os braços e lançando um olhar mortal para Seonghwa, que apenas deu de ombros, como se não ligasse.
— Relaxem, é só uma questão de logística — Mingi disse, tentando acalmar os ânimos. — Agora, vamos todos nos acomodar, porque amanhã temos uma viagem longa e um roteiro cheio para cumprir.
— Alguém já disse que você deveria ser guia turístico? — %Letícia% brincou, enquanto todos se levantavam para pegar suas coisas.
O grupo começou a se mover pela casa, carregando mochilas e sacolas. %Amélia%, no entanto, não conseguia deixar de se perguntar como iria sobreviver àquela convivência tão próxima com Seonghwa. O ódio silencioso entre eles parecia apenas se intensificar a cada momento.
Aos poucos, o silêncio tomou conta da sala, deixando %Amélia% e Seonghwa sozinhos. Os dois permaneciam imóveis, ambos com expressões de incredulidade.
%Amélia% foi a primeira a quebrar o silêncio, soltando um suspiro pesado e passando a mão pelos cabelos.
— Isso só pode ser uma piada…
Seonghwa, que ainda olhava para a porta por onde Mingi havia saído, balancou a cabeca lentamente antes de murmurar:
%Amélia% soltou uma risada seca, cruzando os braços.
— Boa sorte com isso. Talvez eu até te ajude.
Seonghwa finalmente desviou o olhar para ela, arqueando uma sobrancelha.
— Não que você vá fazer muita diferença, mas aceito a ajuda.
— Cuidado, Seonghwa. Seu ego é tão grande que pode não caber no quarto também.
— Pelo menos meu ego tem mais charme do que a sua irritante necessidade de ser sempre a última palavra em tudo.
%Amélia% se levantou do sofá e deu um passo à frente, o olhar estreito…
— E o que mais você vai inventar para justificar o fato de ser insuportável?
— Insuportável? — Seonghwa soltou uma risada sarcástica, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado. — Isso vindo de você, que parece acordar todos os dias decidida a ser a pessoa mais teimosa da face da Terra?
— Teimosa? Talvez. Mas pelo menos eu não tento manipular todo mundo para as coisas saírem do meu jeito.
— Manipular? — Ele riu de novo, dessa vez um pouco mais alto. — Você realmente tem uma imaginação fértil, %Amélia%. Talvez devesse escrever um livro.
Ela estreitou os olhos, apontando um dedo em sua direção.
— Olha aqui, Seonghwa, só porque vamos dividir um quarto, não significa que eu tenha que aturar suas piadinhas de quinta categoria.
— Quem disse que eu quero dividir um quarto com você? Se fosse minha escolha, eu ficaria dormindo na sala.
— Ótima ideia. Aproveita e leva sua arrogầncia junto.
Eles ficaram ali, se encarando por um momento que pareceu mais longo do que era. A tensão era quase palpável, mas também carregava algo indefinível, algo que nenhum dos dois estava disposto a reconhecer.
— Só para constar, eu não ronco… espero que você também não. E nem fale a noite, já basta ouvir suas baboseiras com você acordada. — Disse Seonghwa, quebrando o silêncio.
— Ótimo. Assim não vou precisar te sufocar com um travesseiro.
Ele soltou um sorriso enviesado antes de virar nos calcanhares e sair em direção ao corredor.
— Boa sorte tentando me matar, %Amélia%. Você vai precisar.
Ela ficou parada, os punhos cerrados e o coração batendo mais rápido do que gostaria de admitir.
— Insuportável… — murmurou para si mesma, enquanto também seguia para quarto, já imaginando o inferno que seria conviver com ele nos próximos dias.