Velha Infância

Escrito por Bruna Mendes | Revisado por Lelen

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Capítulo 1

  Uberaba — Minas Gerais, 2023
  
  — É isso, meu filho, nós vamos mesmo voltar para Crixás — minha mãe falava.
  — Mas tem certeza que você vai mesmo se sentir bem indo conosco? Não queremos ter que mudar a rotina da Bia ou até mesmo a sua — meu pai disse recebendo apoio da minha mãe.
  — Claro, pai, o senhor vai precisar de ajuda na fazenda e nada me impede de ir com vocês, a Bia é uma criança e eu vou conversa com os avós dela sobre como podemos fazer com as visitas delas — eu falava para os meus pais.
  Voltar para Goiás e, especificamente, Crixás era um tanto complicado, mexia com sentimentos do passado que eu acho que está resolvido ou não, já que eu estou sentindo um frio na barriga e uma ansiedade fora do normal. Anos atrás, no auge dos meus 18 anos, vim com meus pais e meus irmãos gêmeos, Eliza e Henrique, de mudança para Uberaba, meus avós maternos estavam passando por problemas de saúde graves por conta da idade e meus pais resolveram vender nossa fazenda que ficava na região de Crixás para comprar outras terras aqui em Minas em um local rural de Uberaba. Foi uma mudança difícil pra todo mundo. Eu amava meu colégio, amava meus amigos principalmente uma em específico.
  Meus pais tinham grande amizade com a família vizinha das nossas terras a família Rosique, nunca esqueci do empadão de Denise Rosique e das aulas de laço do seu marido, José Rosique, ou das tardes que ficava banhando no rio que passava nos fundos das duas fazendas, ali junto com as filhas dos Rosique, Júlia e ; e tinha coisas muito mais complicadas que apenas saudades de amigos que eu não tinha ideia de como estariam hoje.
  — Tomara que entre em um acordo, filho, é importante pra Bia o contato com os avós maternos já que a mãezinha dela faleceu tão cedo — minha mãe disse.
  — É, mãe, é complicado, mas podem organizar que tá tudo certo, eu e a neta de vocês estamos dentro da mudança — disse me levantando do sofá.
  — Eliza disse que viria me ajuda com as mudanças hoje depois, mas eu não deixei, ela tá no plantão, a coitada vai estar toda esculhambada — meu pai falava da cozinha.
  — E o Henrique? — perguntei.
  — Ah, seu irmão disse que agorinha tá aqui, ia passar na casa da namorada pra buscar ela e ia vir juntos. Antes de ir eu tenho que dar um confere naquele apartamento dele porque depois eu entrego tudo nas mãos dele e seja o que Deus quiser — minha mãe falou me fazendo rir.
  Henrique decidiu se mudar para um apartamento no centro de Uberaba logo após o casamento de Eliza, parecia que ele estava esperando o primeiro passarinho sair do ninho da senhora Beatriz Bittencourt e Paulo Bittencourt.
  — Então qualquer coisa me liga, eu já tô voltando, só vou passar na escola da Bia e pedir a documentação de transferência e ir na casa dos avós dela — falei deixando um suspiro profundo sair, parecia que eu sabia que a conversa não ia ser fácil.
  Saí da fazenda dos meus pais e fui para a escola de Bia que ficava nas redondezas ali, conversei sobre a situação da mudança e solicitei a transferência, agora estava esperando o horário da saída para pegar aquela baixinha de 5 anos esperta.
  — Papaaaaaaaaaai! — Bia vinha correndo puxando sua mochila de rodinha consigo, quando chegou próximo a mim se jogou com tudo no meu colo.
  — Princesaa, tudo bem? — disse colocando a mochila no banco de trás do carro ao lado da cadeirinha assento de Bia.
  — Tudo, papai, hoje a professora não deixou eu ser a ajudante da sala — Bia disse fazendo um bico.
  — Sério? E quem foi o ajudante? — perguntei entrando na onda da minha filha.
  — A chata da Ester, ela disse que queria ser minha amiga hoje aí a gente brincou um pouco e depois ela disse que eu era chata demais. — Minha vontade de rir do comentário de Bia era grande pois eu sabia que a amizade da minha pequena com essa Ester era assim mesmo, como a de qualquer outra criança de fases.
  — Não fica assim, tá bom? Sabe que eu tenho uma novidade? — disse olhando a menina pelo retrovisor do carro e depois voltando a atenção para o trânsito de Uberaba.
  — Que novidade, papai?
  — Vovó Triz e vovô Paulo vão se mudar — falei observando Bia pelo retrovisor, vi que seu semblante foi de alegria para tristeza.
  — Então a gente não vai mais ver a vovó Triz e o vovô Paulo?
  — Quem disse isso? — falei para minha pequena que imediatamente fez uma carinha de confusão então eu continuei. — Nós vamos nos mudar com eles, mas não vai ser uma mudança para perto, lembra que o papai te contou uma história de uma fazenda que tinha um rio muito grande e bonito que o papai brincava com seus amigos e seus tios? — perguntei, e vi Bia fazendo sinal de confirmação com a cabeça. — Então, nós vamos nos mudar para uma fazenda bem pertinho de lá, a cidade chama Crixás e fica pertinho de Goiânia a cidade que seus tios nasceram.
  — Eba eba eba eba eba! — Bia desatou a gritar de alegria no carro. Confesso que achei que minha criança iria estranhar. — Papai, tia Liza e tio Rique vão com a gente? — Bia perguntou e eu suspirei antes de responder porque aquela sim iria ser uma resposta não muito boa para ela.
  — Não, pequena, tia Eliza e tio Henrique não vão, eles vão acompanhar a mudança, mas depois voltam para cá.
  — Ah, nem, pai. — Bia cruzou os bracinhos em sinal de frustação.
  — Sabe onde estamos indo agora? — perguntei para minha pequena.
  — Onde?
  — Vamos na casa da vovó Lina e do vovô Teodoro, eles ainda não sabem da mudança e papai precisa combinar um jeito de você visitar eles e eles te visitarem em Crixás — falei fazendo uma curva que dava acesso ao condomínio dos avós de Bia.
  Chegando na casa dos avós de Bia desci a pequena do carro e fomos em direção à porta.
  — Ooi vovó — Bia disse assim que sua avó abriu a porta.
  — Pitoca, como você tá? Quanta surpresa vocês aqui hoje. — Lina disse pegando Bia no colo e me olhando com surpresa
  — Oi, Lina, como vai?
  — Bem, graças a Deus. Vem, vamos entrar — Lina disse dando espaço para que eu entrasse.
  — Teodoro tá aí ou na oficina? — perguntei me sentando no sofá da sala.
  — Está na oficina, mas se quiser posso ligar e ele vem aqui rapidinho. Você está me preocupando, — Lina disse entregando um bloco de brinquedos para Bia e logo após de sentando de frente para mim.
  — Não se preocupe, Lina, não é nada grave, mas é que eu quero muito conversa com vocês — disse esfregando minhas mãos uma na outra em sinal claro de nervosismo.
  — Vou ligar para o Teodoro e ele já vem. Vai na cozinha, , e pegue um suco para Bia e fique à vontade para beber suco, café ou qualquer coisa que queira, viu — Lina disse se colocando de pé e tomando distância para ligar para Teodoro.
  Fui à cozinha, peguei o suco de Bia e preferi não beber nada, estava nervoso, não sabia como ia ser a notícia da mudança para os avós de Bia. Lina e Teodoro tiveram 2 filhos, Lais e Leandro. Leandro já era casado e morava em Uberaba ainda, era um tio maravilhoso para Bia; Lais e eu tivemos um romance em 2017, foi um romance rápido e vimos que não daríamos certo como casal, o motivo de Lais era que ela queria ser do mundo, queria poder viajar e não gostava de se prender a ninguém, ela costumava dizer que nem a ela mesma; já eu, sou um fracasso com relacionamentos, apenas uma única mulher foi capaz de ler meus pensamentos e conhecer meus sentimentos na minha vida inteira e esse é um dos motivos do qual eu estou com frio na barriga de voltar a Crixás.
  Lais e eu nos separamos e com dois meses de separação Lais me procurou e disse que estava grávida. Quando recebi a notícia, tanto eu quanto Lais ficamos desorientados; Lais cursava o terceiro período de Relações Internacionais na faculdade e eu tinha apenas um ano que tinha me formado em Agronomia, mas encaramos aquilo como pais e amigos. A gravidez de Lais começou com complicações, com quatro meses ela teve um descolamento de placenta. Logo, com o andar da gravidez, tiveram dezenas de outros problemas e a gestação inteira teve problemas com a pressão alta de Lais, quando chegou as trinta e cinco semanas, ela teve mais um quadro de pressão alta e corremos para o hospital. Chegando lá fomos avisados que era necessária uma cesariana de emergência pois Lais estava com pressão muito alta.
  Bia assim veio, cheia de saúde, mas infelizmente Lais não resistiu e veio a óbito por pré-eclâmpsia, então os avós maternos de Bia ficaram muito apegados e a relação vai além por serem avós, é como se Lais tivesse aqui com eles.
  — Oi, pitoca do vovô. — Ouvi Teodoro entrando em casa e Bia foi correndo e se jogou no colo de seu avô
  — Oi, Teodoro, como vai? — Apertei as mãos de Teodoro o cumprimentando.
  — Estou curioso, Lina disse que você quer conversa com a gente — Teodoro disse se sentando em uma poltrona que tinha na sala.
  — Bia, querida, vá ao seu quarto lá em cima e leve os bloquinhos, por favor? — Lina pediu para a neta.
  — É assunto de gente grande e velha, vovó? — Bia disse tentando com uma certa dificuldade juntar todos os bloquinhos espalhados no chão ao mesmo tempo.
  — Grande sim, velha não. Desde quando sou velha, pitoca? — Lina disse recebendo uma risadinha de Bia que em seguida foi em direção ao seu quarto. — Fale, .
  — Então, não quero preocupar vocês, então vou ser bem direto — falei. — Meus pais venderam a fazenda que temos aqui na zona rural de Uberaba e eles querem voltar para Crixás, que é a cidade onde meu pai tem ainda irmãos, meus irmãos até nasceram lá e voltamos para Minas apenas porque, na época, meus avós maternos estavam muito doentes. — Fiz uma pausa para poder respirar um pouco e Teodoro e Lina ficaram em silêncio, provavelmente já imaginando aonde a conversa iria chegar. — Então eu decidi voltar com meus pais. Eliza e Henrique têm suas vidas aqui e vão continuar, mas como eu estudei agronomia e sempre tive negócios com meus pais nas questões da fazenda, decidi ir com eles e, como a guarda da Bia é minha, eu vou leva-la comigo, mas antes eu queria conversar com vocês, não quero que fique sinal de que estou tirando a Bia de vocês, essa não é minha intenção, ela é neta de vocês e podemos organizar formas de visitas.
  — Eu vou ficar longe da minha Pitoca? — Lina perguntou e começou a chorar, recebendo um abraço de conforto de Teodoro.
  — Não, Lina, não vai. As visitas de Bia, temos direitos e também vai nos deixar ir vê-la, não é, ? — Teodoro disse tentando conforta sua esposa que chorava muito.
  — Mas não vai ser a mesma coisa. Sabe, quando Lais morreu, eu prometi pra nossa filha que nunca mais iria deixar Bia desamparada, eu sei que é um excelente pai, nesses cinco anos ele sempre teve uma convivência maravilhosa e nunca nos excluiu da vida da nossa neta, mas agora ela vai mudar para Goiás, meu bem, é longe, não é como aqui, simples minutos — Lina tentava falar e controlar o choro.
  — Lina — agachei de frente à Lina e segurei em suas mãos —, a Bia é neta de vocês, eu sei da saudade que vocês têm da Lais e, acredite, que é a mesma da minha saudade por ela, eu super entendo o amor pela Bia, saiba que as portas da minha casa sempre estarão abertas para vocês a hora que quiserem ir, da mesma forma que eu nunca vou arranjar problemas para Bia vir também.
  — Promete, ? — Lina perguntou se entregando de vez ao choro e me abraçando, ficamos ali nós três analisando como seria a melhor forma de visitas e conversando sobre a criação de Bia o resto da tarde.

XXX

  Goiânia-GO 2023
  
  — , você viu aqueles ali? — Karol, minha melhor amiga e sócia, apontava para alguns vasos que iriam ser usados para o paisagismo de um design que estávamos trabalhando.
  — Vi sim, estou em dúvida daqueles e os brancos que vimos — falei analisando os vasos cinzas e grandes.
  — Acho que preciso de um café para pensar direito e tomar decisões — Karol disse.
  —Eu também — admiti e rimos juntas. — Vamos achar alguma lanchonete por aqui e depois voltamos aqui na loja — disse indo em direção à saída da loja à procura de um lugar para comer ali perto.
  — O que vai fazer esse fim de semana? — Karol perguntou indo em direção a uma lanchonete do outro lado da rua e se sentando em um banco na bancada do balcão. — Um expresso por favor.
  — Pra mim também, por favor — disse ao atendente. — Então, domingo faz um ano de falecimento do meu pai, né, então eu vou pra fazenda ficar com minha mãe — falei pegando meu expresso das mãos do atendente.
  — Nossa, mas já tem um ano? Passou muito rápido — Karol disse bebendo sua bebida.
  — Nem me fale, sinto tanta falta do meu velhinho — falei fazendo um bico.
  — Ai, amiga, eu sinto tanto — Karol disse fazendo carinho no meu braço.
  — Vamos mudar de assunto, gata — murmurei terminando meu expresso.
  — Certo, falar sobre o projeto daquele espaço de conveniência da T7. — Karol falava sobre um projeto de restaurante em um bairro de Goiânia quando meu telefone tocou, peguei o aparelho, bufando com o nome que eu vi no registro da chamada. — Quem é? — Karol, percebendo meu nervosismo, logo perguntou.
  — Adivinha? Antônio, ele não se manca, fica ligando pra voltar e eu já falei que não — disse negando a chamada e colocando o celular de volta na bolsa.
  — Esse seu ex é pior que chiclete quando prega em cabelo — comentou minha amiga.
  — Nossa última briga foi o que faltava pra nunca mais olha na cara dele, Karol, onde já se viu quebrar meu celular por causa de uma curtida no Instagram — falei me levantando e indo em direção ao caixa efetuar o pagamento do expresso com Karol.
  — Toxidade nível hard — ela disse.
  — Nem me fale, eu estou estressada dele ir no apartamento e ficar pedindo para o porteiro pra deixar entrar, e teve um dia que o porteiro realmente deixou, mas ele não sabia que a gente tinha terminado. Eu dei uma bela bronca e o coitado não deixa mais ninguém subir sem autorização só você, né. — Dei uma pausa e suspirei. — Vou pra fazenda e vou levar alguns projetos e ficar por lá algum tempo pra ver se fico mais relaxada.
  — Isso, amiga, faça isso e deixe que eu cuido de tudo aqui, vai que apareço por lá um dia desses, saudades da tia Denise, Helena deve estar enorme — minha amiga falou.
  — Ai, nem fala da minha sobrinha, Karol, Helena está uma princesa, Júlia fica mandando foto dela no pônei, banhando de rio, no balanço que o papai fez pra gente quando criança e isso deixa meu coração quentinho. — Falar da minha família me deixava sempre com os olhos brilhando.
  — Acho que ela tá vivendo a melhor fase, isso sim  — Karol disse atravessando a rua.
  — Com toda certeza, ver Helena sendo criada na mesma fazenda que eu e minha irmã fomos criadas e passamos a nossa infância chega a me dar uma nostalgia, minha infância foi maravilhosa.
  — AH, com o tal de Bittencourt, foi mesmo. — Karol fez brincadeira com o fato da minha infância ter sido junto com o meu romance da adolescência.
  — Ah, cala a boca, chata, foca nos vasos, bora decidir logo qual entra no projeto — falei entrando na loja de artigos decorativos e encerrando o assunto.
  Karolyne e eu terminamos de escolher todos os móveis para a sala de uma cliente e fomos para o nosso escritório de arquitetura.
  — Oi, Vanessa, alguém ligou, alguma novidade por aqui? — minha sócia perguntou quando entramos na recepção do escritório.
  Antes de Vanessa responder já fui entrando na minha sala e quase caí pra trás para o que havia nela, minha sala tinha se tornado uma floricultura, havia rosas espalhadas pelo lugar inteiro.
  — O que significa esse tanto de rosa? — perguntei sem acreditar no que eu estava vendo, minha sala parecia mais uma floricultura.
  — Meu Deus, , quanta rosa, isso aqui amanhã vai feder tanto. — Karol também estava sem acreditar.
  — Quem deixou isso aqui, Vanessa? — perguntei para nossa secretária.
  — O pessoal da floricultura mesmo e deixou junto esse cartão aqui — Vanessa disse me entregando o tal cartão.
  — Vamos lá, vou ler — falei abrindo o pequeno cartão da floricultura. — , espero que você tenha gostado das rosas e saiba que eu posso e estou disposto a ter você novamente em minha vida. São 1300 rosas, o que equivale os nossos três anos e sete meses de relacionamento. Eu te amo tanto, minha , e nunca vou deixar nosso amor morrer. Assinado: Antônio’’. — Terminei sem acredita no quão ridículo aquele bilhete era.
  — Tá, agora eu fiquei realmente com medo do Antônio — Karolyne disse pegando o cartão das minhas mãos e jogando no lixo.
  — Vanessa, faz um favor? — Vi a moça fazendo sinal de concordância. — Chama alguém pra tirar essas rosas daqui, por favor? — pedi, com tom de voz demonstrando cansaço.
  — Mas o que é pra fazer com elas? — Vanessa me perguntou.
  — Não sei, fala pra quem for te ajudar ficar à vontade para levar para as esposas, mães, filhas, avós, sei lá, pro cachorro, só tirem esse bando de coisa daqui, por favor — disse suspirando. — Eu vou pra sala da Karol e assim que acabarem me avisa?
  — Pode deixar, — Vanessa disse saindo da sala a procura de alguém para ajudá-la a tirar aquelas 1300 rosas da minha sala

XXX

  Uberaba — Minas Gerais.
  
  — Vovó — Bia entrou em casa gritando pela minha mãe que se encontrava no meio de várias caixas na cozinha junto com Eliza, que ignorou o pedido de descanso do meu pai e foi ajudar.
  — Princesinha, vocês demoraram, onde estavam? — minha mãe disse beijando a cabeça de Bia que estava sentada em seu colo.
  — Fomos nos avós da Bia, precisava avisar da mudança e conversa sobre como serão as visitas deles — expliquei sentando em uma cadeira perto.
  — A dona Lina capaz que pirou né? — Eliza disse enquanto embrulhava alguns copos no jornal velho.
  — Normal, né, Eliza, a única neta e ainda filha da filha que... — Ia falando quando minha mãe me repreendeu tampando os ouvidos de Bia.
  — Bia, minha pequena, por que não vai tomar um banho? — murmurei para minha filha.
  — Tá bom, papai, mas agorinha eu volto, quero que a tia Liza e o tio Leo joguem vídeo game comigo — Bia disse se levantando e falando para minha irmã do jogo com ela e meu cunhado.
  — Continua — Minha mãe falou assim que a pequena se retirou.
  — Como eu ia dizendo, a Lina chorou bastante, eles vão sentir bastante falta, vamos mudar para outro estado as coisas vão ser bem diferentes — expliquei me levantando e indo até a geladeira pegar a garrafa de água para beber um pouco.
  — E como ficou a questão das visitas? — Eliza perguntou.
  — Bom, falei que as próximas férias da Bia, que vão ser as de final de ano, ela pode vir pra cá e que eles podem ir sempre que quiserem em Crixás. Eu avisei que arco com as passagens ou gasolina se decidirem ir de carro com o Leandro — disse.
  — E a Bia com isso tudo? — Minha mãe parou de empacotar os copos e me olhou esperando uma resposta.
  — Mãe, a Bia é uma criança, ela com toda certeza é a que mais vai saber se adaptar — Eliza, com toda sua experiência em ler as crianças, falou.
  — Ela ficou toda feliz quando contei da mudança — murmurei. — Onde tão meu pai e o Leo? — perguntei estranhando só estarem as duas ali.
  — Seu pai, Leonardo e o Henrique estão tudo lá no quintal — minha mãe falou voltando enrolar os copos.
  — Ah tá, eu vou ver como a Bia tá e já venho — falei indo em direção aos quartos, quando cheguei na minha suíte, Bia estava no banheiro debaixo do chuveiro e, como aproveitou da minha ausência, pegou toda minha espuma de barbear e jogou no chão do banheiro. — Não acredito que você fez isso, mocinha — Disse abrindo o box do banheiro e pegando o rodo para tirar o excesso de espuma ali.
  — Banho de espuma, papai — Bia disse rindo com um risinho que eu acreditava ser o mais sem vergonha do mundo inteiro.
  — Vem, vamos termina esse banho logo. — Terminei o banho de Bia e vesti ela com seu pijama de abelha e fomos nos reunir com o restante da família, mais tarde estavam todos da minha família, sentados na varanda da fazenda rindo do tempo que compramos essa fazenda e de tudo que passamos aqui.
  — Mãe, sabe o que eu lembrei aqui agora? — Henrique disse depois de uma crise de risos com meu cunhado.
  — De que? — minha mãe perguntou.
  — Será que os Rosique ainda moram naquela fazenda que era ao lado da nossa? — Henrique perguntou e só de mencionar “Rosique” meu estômago dava voltas, fingi não me importa já que quase ninguém soube do que aconteceu comigo e Rosique além de Eliza e Henrique.
  — Sabe que eu tenho curiosidade de saber, filho? Denise e José eram tão gente boa e as duas filhas deles, lembro que vocês não saíam de lá e quando não ia pra lá eram elas que iam pra nossa — minha mãe disse.
  — José adorava um churrasco, lembra, amor? — meu pai falou. — Taí, quando chegar lá vou procurar saber deles, gostaria de me encontrar com José e Denise, as filhas deles devem estar casadas já — meu pai continuou, me fazendo engasgar com a cerveja que eu tomava chamando a atenção de todos.
  — Tá bem, cunhado? — Leonardo perguntou.
  — Sabe o que é, amor? — Eliza disse rindo. — O teve um romance com a — Eliza disse rindo junto com Henrique, fazendo meus pais ficar com caras de surpresa.
  — Como eu nunca soube disso? — mamãe perguntou.
  — Ah, eu bem que nunca entendi a amizade dos dois, eram cinco: as duas filhas dos Rosique e os nossos, sabe Leonardo, mas e eram unha e carne — meu pai falou.
  — Não foi nada demais. — Tentei parecer indiferente.
  — Há que não foi? Eles ficaram quando a tinha quinze pra dezesseis anos até o dia da gente se mudar — Henrique disse e eu joguei um amendoim nele.
  — Isso é sério, filho? — minha mãe perguntou.
  — Sim, mãe, mas nós não namoramos não, foi coisa de adolescente. — Acho que consegui passar indiferença.
  — Papai, estou com sono. — Bia saiu de onde estava brincando e sentou em meu colo, ali eu achei uma oportunidade para sair daquele assunto que Eliza nunca nem deveria ter falado.
  — Vamos deitar, pequena — murmurei me levantando com minha filha no colo. — E vocês, linguarudos, olha o que fala viu — disse olhando para Eliza e Henrique.
  — Ah, seu chato, nem sabe se ela tá morando lá ainda, fica tranquilo — Eliza disse rindo da minha cara.
  Bia se despediu de todos e fomos em direção ao quarto dela.

XXX

  Goiânia — Go 2023
  
  Era final de expediente de uma quarta-feira, estava exausta com o escritório de arquitetura que eu e Karol montamos, graças a Deus vinha recebendo muitos clientes novos e nosso trabalho era cada vez mais reconhecido em Goiânia e região.
  Saí do escritório louca para chegar no apartamento e tomar um banho quente e fazer alguma coisa comestível já que eu odiava cozinhar quando estava sozinha. Chegando no portão da garagem do prédio, Antônio entra na minha frente me fazendo assustar com sua súbita aparição.
  — O que você tá fazendo aqui? — Abri um pouco o vidro do carro e perguntei.
  — , você não atende minhas ligações, eu ligo no escritório e ninguém fala de você, nós precisamos conversa — Antônio disse se debruçando sobre o carro me impedindo de entra na garagem.
  — Nós já conversamos e não temos nada pra conversa mais, Antônio, sai da frente do carro, deixa eu entrar no meu apartamento — falei bufando com aquela situação.
  — , eu não vou sair daqui até você falar comigo — Antônio disse e eu reparei que estava chegando um carro de um morador do prédio que logo começou a buzinar para que eu saísse de sua frente.
  — Antônio, tá atrapalhando a passagem — gritei para o homem.
  — Eu não vou sair, , eles que se danem — respondeu recebendo buzinas de reprovação.
  — Sai daí ou eu chamo a polícia — disse uma moradora.
  — Chama, pode chamar, eu não saio daqui — Antônio falou, deu um passo para trás e abriu os braços dando sinais que não ia ser fácil.
  — Sai daí, deixa eu entrar — falei já perdendo a paciência.
  — , fala com esse louco logo! — a vizinha gritou.
  Vendo todo o circo que começava, o porteiro chamou dois dos seguranças do prédio e com a ajuda deles pegou à força Antônio, liberando a passagem. Entrei em meu prédio rápido vendo a vizinha entrando em seguida e fechando o portão, desci do carro correndo e chamei o elevador apertando meu andar, entrei em casa e tranquei a porta e lá de cima podia ouvir Antônio gritando meu nome na calçada e chamando a atenção de várias pessoas de outros apartamentos e as que passavam ali, peguei o interfone e liguei na portaria avisando para o porteiro que deixasse Antônio gritar que em hipótese nenhuma ele poderia subir.
  — , VAMOS CONVERSA, MEU AMOR — Antônio gritava. — , VOCÊ E EU AINDA NÃO TERMINAMOS, VIU, VOCÊ É MINHA, OUVIU?
  Ouvir aquilo de Antônio me arrepiava inteira. No início nosso relacionamento era lindo, cheio de carinho e sentimento, depois o ciúme de Antônio me sufocava, era ciúme por nada; quando saíamos ele jurava que alguém estava me olhando e eu olhava de volta ou que alguém me seguia nas redes sociais por interesse, chegou até ao ponto de pegar meu celular quando estava dormindo e mandar mensagem para um de meus clientes se insinuando romanticamente porque na cabeça dele a pessoa iria cair na armadilha.
  Os gritos de Antônio cessaram quando eu ouvi o barulho de uma sirene policial, olhei para baixo e vi a hora em que um policial esperava Antônio dentro do carro sair da frente do prédio e parar de incomodar os moradores. Quando tudo se acalmou, peguei meu telefone, chamei o número de Karol e esperei ela atender.
  — Já com saudades? — atendeu.
  — Você não vai acreditar no que acabou de acontecer aqui, estou me tremendo até agora — falei me sentando no sofá.
  — Nossa, desembucha logo — Karol falou.
  — Cheguei aqui em casa e o Antônio simplesmente me cercou na garagem, se atirou literalmente na frente do meu carro falando que queria falar comigo, que a gente não terminou — expliquei respirando fundo.
  — Que idiota, , esse cara tá passando dos limites, aliás limite ele nunca teve né — Karol disse.
  — Nem me fale, o pior que ele não saía da frente do carro e aí foi chegando os moradores daqui e virou um furdunço, até que o porteiro com os seguranças seguraram ele à força tirando da frente do portão e eu entrei com a moradora, mas ele não foi embora, fez maior escândalo aqui na frente do prédio, todo mundo olhando, Karol. — Falar aquilo me dava vergonha.
  — Mas ele tá até agora aí? — minha amiga perguntou.
  — Não, ele infernizou tanto que alguém chamou a polícia, agora não sei quem foi que chamou, já é tarde da noite pode ter sido o porteiro ou qualquer morador que se sentiu incomodado né? — murmurei deitando no sofá. — Eu não tô vendo a hora de ir pra Crixás e respirar um pouco.
  — Ai, gata, se ele não parar, você vai ter que ir na delegacia e procurar uma medida protetiva, isso sim, já estou com medo do que ele pode fazer — Karolyne disse.
  — Eu acho que ele ainda não entendeu o fim, sabe? Mas essas semanas que eu vou ficar em Crixás longe de tudo, ele vai cair na real — disse querendo acreditar naquilo.
  — Bom, eu espero mesmo que seja assim. Só por precaução, eu vou ligar para o porteiro do prédio onde fica o escritório e deixar o nome do Antônio de proibição na entrada, esse aí não queremos nem como cliente — Karol disse e eu não neguei, era melhor mesmo essa distância de Antônio.
  Ficamos conversando durante um tempo até que o nervoso acabou e eu desliguei por causa do meu cansaço, tomei meu banho e comi uma tapioca com queijo e peito de peru, escovei meus dentes e deitei me deixando levar pelo sono.

XXX

  Crixás — Goiás 2023
  
  Era uma quinta-feira pela manhã quando eu e minha família chegamos em Crixás, passamos no mercado e fizemos uma boa compra para a fazenda que ficava cerca de vinte e cinco quilômetros de Crixás ainda; eu estava com meu carro já que eu havia solicitado uma transportadora de Goiânia para trazer o meu e dos meus pais e, assim que pousamos em Goiânia, passamos na locadora para a retirada e seguimos viagem nos carros. De Goiânia a Crixás são certas de quatro horas e meia a cinco horas dependendo do trânsito e da velocidade.
  Chegando na fazenda, Bia dormia como um anjo no seu assento e com a gente estava Henrique deixando meus pais, Eliza e seu marido, Leonardo, no carro dos meus pais. A fazenda era muito bonita e por incrível que pareça, ficava próxima à antiga fazenda que tínhamos ali treze anos atrás.
  Jarbas era um senhor de mais ou menos cinquenta e cinco anos de idade e era caseiro do antigo dono das fazendas, quando compramos o lugar, o antigo dono elogiou os serviços de Jarbas e assim fez com que meu pai contratasse o homem para continuar com o serviço, até porque Jarbas tinha uma casa em um canto da fazenda e moravam ele, sua esposa, Márcia, e seu filho, Vinicius, de 15 anos, então foi muito bom ter alguém já na fazenda para receber a mudança quando chegou.
  Deixei Bia dormindo ainda e desci do carro para cumprimentar o caseiro e sua Família.
  — Oi, Jarbas, tudo bem? — Abracei o homem em um meio abraço, peguei na mão de Márcia e dei um hi five com Vinicius.
  — Onde está a pequena Bia? — Jarbas, que já tinha conhecido Bia por vídeo chamada no WhatsApp, perguntou.
  — Tá dormindo no carro — falei.
  — O senhor pode colocar ela pra dormi no quarto dela, eu já montei as camas e Márcia arrumou com roupas de cama limpas — o homem informou.
  — Primeiramente, senhor está no céu, Jarbas, e segundo, obrigado, vou pegar Bia e levar para o quarto — falei indo em direção ao carro e vendo o caseiro e sua família interagindo com meus pais, meus irmãos e meu cunhado.
  Coloquei Bia em seu quarto e nada dessa menina acordar, o sono ali parou e ficou na criança. Quando saí, minha mãe estava com Eliza tirando tudo das caixas e organizando a casa e meu pai, Henrique e Leonardo foram com Jarbas conhecer o curral e o que era preciso fazer de imediato na fazenda.
  — Filho, teu pai disse que é pra você ir lá, disse que quer saber sobre as questões da soja e tudo — minha mãe me informou.
  — Estou indo lá agora. Se caso Bia acordar a senhora olha ela pra mim? — perguntei vendo minha mãe concordar.
  Saí da sede indo em direção ao curral onde minha mãe informou que meu pai estaria.
  — Pai, eu já andei falando com Jarbas, preciso averiguar o local onde é pra realizar o plantio e pegar alguns materiais pra fazer um laudo de solo, vamos ali dar uma olhada? — falei atraindo a atenção dos quatro homens que estavam conversando sobre uma possível reforma no curral.
  — Deixa pra amanhã, filho, vamos só ver o local e ajudar sua mãe e Eliza a finalizar a mudança, certo? — meu pai disse e eu concordei.
  Olhamos pontos da fazenda e fomos para a sede organizar toda a mudança com minha mãe e minha irmã. No dia seguinte fui até a escola que ficava em uma vila próxima à fazenda, já que as escolas de Crixás eram todas muito longe. Realizei a matrícula de Bia, deixando organizado para que ela começasse a estudar na segunda feira. Voltei para a fazenda e, chegando lá, todos estavam na parte de trás da sede conversando e bebendo enquanto meu pai organizava as coisas para um churrasco.
  — Churrasco em plena sexta-feira? — perguntei animado.
  — Papai, foi na minha escola nova? — Bia veio correndo até mim e se jogou em meus braços.
  — Sim, começa na segunda-feira, viu — disse pegando minha pequena no colo.
  — Ebaaa. — Bia comemorou e pediu para sair do meu colo e ir brincar.
  — A mesma escola que estudamos, irmão? — Eliza perguntou.
  — Não, mas é próxima, essa é somente até a quarta série, é nova na região — falei me sentando perto de Henrique.
  — Menos uma preocupação — minha mãe disse.
  — Filho, você acha que depois do almoço podemos ir comprar sal para o gado e alguns adubos em Crixás? — meu pai perguntou enquanto colocava um pedaço de carne na grelha da churrasqueira.
  — Claro, pai — concordei. O almoçou seguiu e assim como meu pai havia perguntado, saímos em direção a Crixás.

XXX

  Crixás — Goiás 2023
  Denise (mãe de )
  — Hiago, acha que devemos levar de outra marca? — falava com meu genro, marido da minha filha Júlia, sobre marcas de adubos.
  — Sogra, acho bom não trocar agora — ele respondeu.
  — Então vai esse mesmo. Já pegou tudo? — perguntei indo em direção ao balcão da casa agropecuária de Crixás.
  — Já sim, sogra — Hiago disse.
  Enquanto eu e Hiago esperávamos o atendente pegar alguns itens de pesca para outro cliente, entraram dois homens no comércio. De início não os reconheci, mas a hora em que um deles me olhou e ficou me encarando como se soubesse quem eu era, eu os reconheci naquele momento, não era possível, depois de treze anos.
  — ? — chamei pra ter certeza.
  — Dona Denise? — falou.
  — Como é possível? Você está um homem! — falei enquanto abraçava o rapaz.
  — Denise, quanto tempo — Paulo Bittencourt falou.
  — Paulo, quanto tempo! — Saí do abraço do filho de Bittencourt e abracei o mais velho. — Quanto tempo estão na cidade? — perguntei.
  — Chegamos ontem, nos mudamos para Minas aquela época, os pais de Beatriz estavam doentes e depois de treze anos resolvemos voltar para cá — Paulo falou.
  — Ai, gente, desculpa, esse aqui é Hiago, meu genro — apresentei vendo Hiago estender a mão direita em direção dos Bittencourt.
  — Prazer, Hiago, fomos vizinhos por muito tempo dos Rosique — Paulo falou apertando a mão do meu genro. — Ele é marido de qual de suas filhas Denise? —perguntou.
  — Da Júlia, eles têm uma menininha de seis anos — comentei de minha neta. — O nome dela é Helena.
  — Que maravilha! também tem uma de cinco anos, Bia o nome dela — Paulo disse me fazendo colocar a atenção em .
  — Não é me gabando, mas ela é linda — o rapaz falou com um sorriso bobo no rosto. — E seu José, como está? — perguntou me fazendo parar de sorrir na hora.
  — José faleceu, vai fazer um ano domingo agora — expliquei enquanto Paulo e faziam cara de espanto.
  — Sogra, fica à vontade aí que eu vou no caixa passando tudo, tudo bem? — Hiago falou e eu concordei. — Prazer em conhecê-los — disse para os dois Bittencourt e saiu em direção ao caixa.
  — Como isso aconteceu, Denise? — Paulo perguntou.
  — Ele deu um infarto fulminante, sabe como é essas coisas, né? Nós ainda moramos na mesma fazenda de treze anos atrás e, depois do ocorrido, Júlia e o marido, que é Zootecnista, e Helena vieram morar comigo, não queria vender a fazenda e Hiago me ajuda com o gado e o restante dos animais — expliquei.
  — Eu sinto muito — murmurou.
  — E ? — Paulo perguntou para mudar de assunto.
  — se formou em arquitetura e tem um escritório com uma amiga dela em Goiânia, como o disse da filha dele: não é me gabando, mas virou uma mulher linda — falei sorrindo.
  — E ela se casou? — mal esperou eu falar e perguntou.
  — Não, querido, ela tava namorando um rapaz de Goiânia, Antônio o nome dele, mas parece que os dois romperam tem mais ou menos um mês e ele trá dando uma dor de cabeça pra ela — informei, vendo Hiago vir até onde estávamos. — Bom, o papo está ótimo, mas temos que ir, Júlia ficou com Helena na fazenda e já está entardecendo, sábado vamos fazer um almoço em casa, vão almoçar conosco, estou com saudades, e , quero conhecer sua pequena — falei.
  — Claro, compramos uma fazenda perto da sua, não tão perto quanto a outra, mas ainda perto — Paulo falou. — Beatriz nem vai acredita que nos encontramos.
  — Anote meu número e mande uma mensagem para que eu salve o de todos vocês ouviu bem? — falei passando meu número e vendo eles anotarem, nos despedimos e eu e Hiago entramos no carro e partimos para a fazenda.

XXX

  Crixás — Goiás 2023 
  
  Reencontrar Denise foi um misto de sentimentos, o primeiro deles foi de susto. Depois de treze anos, vê-la novamente era muito maluco; o segundo sentimento, de felicidade por saber que os Rosique ainda estavam ali e, com esse pensamento, veio o terceiro sentimento, o frio na barriga e a pergunta que eu tentava não deixar sair da minha boca: , será que ela ainda estava morando com os pais? Depois o quarto sentimento, de tristeza em saber da morte do senhor José Rosique, e aí, como se lesse meu pensamento, o nome “” foi mencionado pelo meu pai.
  A notícia que era solteira e morava em Goiânia me deixou feliz e a confirmação que eu sempre soube que tinha virado uma linda mulher, mais ainda. era apaixonante, nunca esqueci de tudo que passamos na nossa infância aos oito anos de idade, das brincadeiras, brigas que ela comprava para me defender e eu comprava para defender ela na escola, nossos tombos, nosso filme predileto, e a adolescência, quando tivemos nosso primeiro beijo, ainda sendo amigos. Era para ter sido só isso, nunca tinha beijado ninguém no auge dos seus dezesseis anos e me pediu um beijo, pois confiava somente em mim para um gesto tão significativo para ela.
  Chegamos em casa e quando meu pai contou do encontro para minha mãe e meus irmãos foi uma alegria só. Dona Denise e minha mãe eram amigas inseparáveis e meu pai com seu José nem se fala. Meu pai contou sobre o falecimento do seu José e nessa hora minha mãe pegou o número de Denise na mesma hora para fazer uma ligação, ficaram horas no telefone e eu pude ouvir quando minha mãe confirmou a presença da família toda no almoço de sábado na fazenda Beira Rio, que era a fazenda da família Rosique, e isso me fez ficar em claro a noite inteira com a possibilidade de me reencontrar com .
  No dia seguinte parecia que eu estava tendo lapsos do meu passado há treze anos, minha mãe e meu pai organizando bebidas e um prato de sobremesa para levar para um almoço na fazenda dos Rosique, era assim todo fim de semana: era um almoço em uma das fazendas e, mesmo sem pedir nada, Denise trazia algo quando era na nossa fazenda ou minha mãe levava algo. Eu parecia ter voltado no tempo.
  Meus pais, Eliza e Leonardo foram em um carro deixando o meu para Henrique, Bia e eu. Segui o carro do meu pai, já que ele lembrava o rumo da fazenda, eu também lembrava, mas eu estava meio nervoso e tentava esconder isso a qualquer maneira.
  Chegamos na fazenda Beira Rio e vimos Denise, Júlia e seu marido, que conhecemos no dia no reencontro, e ao lado dele uma menina do tamanho de Bia com cabelos lisos e franja, morenos.
  Estacionamos os carros e enquanto eu tirava Bia do assento, meus pais cumprimentavam todos.
  — Eu nem acreditei quando Paulo disse que viu você — minha mãe falava depois de abraçar todos.
  — Quanta alegria ver vocês e ter vocês de volta. — Denise falou.
  — Eliza, Henrique, , quanto tempo meu Deus! — Júlia veio me abraçar. — Amor, nós éramos inseparáveis — falou para Hiago.
  — Ai, que linda sua filha, Júlia — Eliza disse agachando perto da menina que estava ao lado do pai.
  — A Júlia ainda é mandona? — Henrique perguntou recebendo concordância de Hiago e de Helena e risos dos demais.
  — Eu era a mais velha do grupo, alguém tinha que botar moral — Júlia falou.
  — Mamãe adora mandar na gente, tia fala que ela vai ser chata até na outra vida — a menina falou recebendo risadas de todos.
  , , meu Deus, por que eu tenho que ficar igual um adolescente quando o assunto é essa mulher?
  — Vem, vamos entrar e não precisava trazer nada, gente — Denise disse entrando na sede da fazenda sendo acompanhada por todos nós.
  — Papai — Bia me cutucou falando baixinho —, como aquela menina chama? — perguntou olhando para a neta dos Rosique.
  — Helena, filha — falei no mesmo tom de voz baixo.
  — Posso brincar com ela? — Bia perguntou.
  — Claro meu amor, por que não vai lá e chama ela? — sugeri vendo Bia ir até Helena e falar algo, logo depois as duas foram para o corredor que dava para os quartos. Vocês devem perguntar como eu sei que dão acesso aos quartos, pois eu sei porque eu cresci nessa casa e a conheço como a palma da minha mão mesmo depois de treze anos, a única diferença era a decoração que era linda, parecia coisa de novela, e a pintura da sede dentro e fora.
  — Onde está ? — Henrique perguntou para Denise.
  — teve um contratempo com a sócia, que é a melhor amiga dela, e não veio hoje, mas amanhã pela manhã ela tá aqui. Falei com ela ontem e contei de vocês, ela ficou muito feliz e mandou um beijo para todos.
  — Olha, irmão, foi beijo pra todo mundo — Eliza, aquela linguaruda, falou olhando para mim.
  — Denise sabe o que descobrimos? — minha mãe perguntou e eu já sabia que viria coisa.
  — O que? — Denise disse se sentando junto com todos à mesa redonda e grande que tinha na cozinha gourmet nos fundos da sede.
  — e tiveram um romance na adolescência — minha mãe falou e Denise não mudou a feição hora nenhuma, parece que sábia.
  — Agora que foram descobrir isso? — Júlia perguntou para meus pais e soltou uma risada. — Eu era a única que sempre soube, né, igual Eliza e Henrique e depois de muito tempo a contou para meus pais, eu lembro que meu pai até falou que se soubesse disso não tinha deixado ir embora — Júlia falou e eu fiquei surpreso por ter contado tudo, pois na época era um acordo nosso que aquilo era somente coisa de amigos e que ela queria que eu fosse seu primeiro em tudo por ser seu amigo de confiança.
  — Mas não foi nada de namoro, gente — Falei aceitando a long neck que Hiago me oferecia.
  — Ah, mas a me disse que depois ela foi vendo que tinha um sentimento sim — Denise disse bebendo sua cerveja, e foi nessa hora que eu fiquei atordoado. disse que tinha sentimentos? Como isso pode acontecer? Nós só não tivemos algo sério por conta da amizade, onde ela deixou claro que era o que sentia, pois eu sempre disse que a amava, mas o medo de perder , nem que seja na amizade, era grande demais. Leonardo me tirou dos meus pensamentos assim que começou a falar, recebendo risos dos demais.
  — Eu e Hiago precisamos saber dessas histórias todas, sinto que vai ser bom descobrir alguns podres, não é? — meu cunhado Leonardo falou.
  — É verdade, podem ir contando tudo — Hiago concordou.
  — Vamos, conta tudo — meu pai falou, o assunto rendeu.
  Eu me sentia à vontade tirando o frio na barriga quando o assunto “” era mencionado. Risos e mais risos e duas pequenas, Bia e Helena, correndo pela casa inteira.
  Denise tinha feito o famoso empadão que marcou a minha infância e a dos meus irmãos, era delicioso e geralmente ela trocava os recheios para não enjoar, mas tinha um em especial que era o meu predileto: de calabresa, lombo suíno, frango desfiado, catupiry e um monte de coisa a mais, quanta saudade eu sentia daquilo e, pelo que vi, meus pais e meus irmãos também, pois comeram várias pratadas, ouvindo sempre Denise falar que estava feliz demais em ver que nossa reação ao seu empadão goiano ainda era a mesma da nossa infância.

XXX

  Goiânia — Goiás 2023
  
  — Ai, amiga, tem certeza que tá bem mesmo? — perguntei para Karol. Estava na casa de Karolyne, ela tinha pegado uma gripe das boas e tive que ficar em Goiânia para atender um casal de clientes que já tinha marcado no sábado pela manhã.
  — Sim, gata, tô bem — minha amiga respondeu. — Eu só estou me sentindo péssima por você não ter ido fica com a sua família ontem. — Karol disse bebendo um pouco do chá que ela tinha feito de gengibre.
  — Fica tranquila, eu já tô indo pegar a estrada, agora são dez e meia da manhã, chego lá mais ou menos três e meia da tarde e ainda passo esse dia com eles — falei me levantando do sofá e indo na cozinha lavar a xícara do café que eu tinha acabado de tomar.
  — Eu sei que esse dia é difícil pra vocês — Karolyne falou. — Pra todo mundo, né? Eu adorava seu pai, passou muito rápido, hoje já faz um ano do ocorrido.
  — Nem me fale, amiga, eu sinto tanta saudade dele — murmurei. — Meu pai era meu tudo, ele e minha mãe, né, mas Deus sabe o que faz, nada do que eu diga vai tampar essa dor que eu sinto aqui, eu vou sentir falta pro resto da vida — disse pegando minha bolsa no sofá onde eu estava sentada.
  — É verdade — Karol concordou pensativa. — Bom, então vai, a viagem é longa e você não pode demorar, fica tranquila essas semanas que você passa lá, eu cuido de tudo aqui e qualquer coisa te ligo ou apareço por lá um dia desses, afinal, o tão famoso Bittencourt está de volta — Karolyne falou me fazendo soltar meu riso, eu não queria pensar nisso, mas estava nervosa com esse assunto da volta dos Bittencourt.
  — Larga de ser chata, tá bom? Eu e fomos ótimos amigos e ele foi embora achando que era só isso mesmo, eu nunca contei que gostava dele além disso e ele nunca falou que gostava de mim, me tratava como sua amiga pirralha mais nova que ele dois anos, só ficamos juntos porque eu pedi um beijo pra ele com a desculpa que era meu primeiro e eu queria que fosse com alguém confiável, já que não era apaixonada por ninguém... foi o que eu disse, né — [desatei a falar.
  — Mas também perdeu sua virgindade com ele, sua safada — Karol exclamou colocando a caneca de chá na mesinha de centro da sala.
  — Eu fico toda tremendo de lembra até hoje, meu Deus — falei colocando a mão no rosto. — Eu disse que queria que ele tirasse minha virgindade porque ele já tinha perdido com uma prima dele, ele era experiente — disse e ri.
  — Uhum, e ele como um amigo prestativo que era, não negou, tirou a virgindade numa boa. Eu preciso de amigos prestativos assim, que aceitem ir para a cama comigo e me tirar da seca sem um relacionamento sério ou rolar sentimento — minha amiga disse rindo e me fazendo rir.
  — Para, tá? Eu estou nervosa de pensar que ele volta, mas minha mãe disse que até filha ele tem, deve ter esposa também. Ontem eles iam almoçar lá, mas acabei que nem liguei ainda pra ela, só mandei uma mensagem que ia passar aqui e ia pegar a estrada. — murmurei.
  — Pois vá logo e avise quando chegar — Karol falou.
  Me despedi de Karolyne e fui pegar a estrada, cheguei em Crixás às três e vinte cinco da tarde.
  — Filha! — minha mãe exclamou descendo a escada que tinha na entrada da sede.
  — Oi, mãe. — A abracei.
  — Tia Evaaa. — Uma pulguinha de criança veio correndo na minha direção se atirando no meu colo. Aquela criança estava cada dia mais pesada, se não fossem as aulas de CrossFit e o peso que sou acostumada a pegar, eu não aguentaria.
  — Meu Deus, criança, quanto peso, o que você tá comendo — perguntei com ela no meu colo enquanto entrava com minha mãe em casa.
  — Vovó faz comida boa — Helena disse rindo.
  — Ah, mas isso é verdade, a comida da vovó é a melhor do mundo — concordei sentando com ela no sofá da sala enquanto minha mãe ia para a cozinha e voltava com um copo de suco pra ela.
  — Eu tenho uma amiguinha nova, sabia, tia ? Agora a senhora pode brincar de restaurante e pique pega com nós duas — Helena informou e eu já imaginava de quem se tratava a amiguinha dela.
  — Que legal, hein! — Sorri. — E como é o nome dela?
  — Ela chama Bia e tem cinco anos — minha sobrinha respondeu.
  — Nossa quase da sua idade — disse fingindo espanto.
  — Vieram todos, , eu nem acreditei que estava vendo os Bittencourt depois de treze anos. Seu pai iria ficar tão feliz de rever eles, sempre falava da saudade que estava do seu companheiro de pesca — minha mãe murmurou. — Aquele tempo não tinha essa tecnologia toda que tem hoje e a que tinha eu e seu pai não sabíamos mexer, perdemos o contato assim que eles mudaram. Eliza, Henrique e são adultos e lindos, Eliza está casada e é pediatra, Henrique é advogado e , agrônomo. Ele que vai ajuda o Paulo aí na fazenda — minha mãe contou e meu coração parecia escola de samba com essas últimas novidades, mas não queria deixar transparecer nada para minha mãe agora. — Eliza, o marido e Henrique vão embora terça-feira agora, mas voltam pra visitar.
  — Mãe, e a filha do ? — Preferi perguntar da filha para não dar a entender que queria saber da mãe, mas minha mãe me conhecia muito mais que eu me conhecia, então ela já respondeu o que eu realmente queria saber.
  — Ela é linda, , se deu super bem com a Helena, brincaram até aqui e a mãe dela faleceu quando ela nasceu, contou que ela tinha pressão alta e aí deu pré-eclâmpsia, tiveram que fazer uma cesariana de urgência e aí, desde então, cuida da filha sozinha — minha mãe falou e eu fiquei me sentindo péssima com aquela revelação, sempre foi muito centrado nas coisas que ele propunha fazer e não seria diferente na criação da filha.
  — Titia, vem brincar comigo? — Helena perguntou.
  — Deixa sua tia descansar, vai chamar sua mãe e fala que sua tia chegou, ela tá com seu pai lá no celeiro tratando dos cavalos — minha mãe falou se levantando e eu aproveitei e me levantei também.
  — Depois que eu descansar a tia brinca muito com você, viu? — falei para minha sobrinha.
  — Tá bom — Helena disse saindo correndo para chamar os pais, aproveitei a deixa e fui pegar minha mala no carro e levei para o meu quarto.
  Eu tinha muitas roupas na fazenda, mas sempre levava mais, minha mãe dizia que daqui alguns dias iria ter que fazer minha mudança de novo pra Goiânia de tanta coisa que tinha lá na fazenda.
  Tomei um banho no banheiro social que ficava ao lado do meu quarto já que as duas suítes da casa eram uma da minha mãe e outra da Júlia e do marido, e depois do banho me vesti com um short jeans e uma regata branca porque Crixás era um calor fora do normal. Me deitei e tirei um cochilo, acordei e já tinha escurecido lá fora, olhei o relógio e marcava sete e quinze da noite.
  Saí do quarto encontrando Leonardo na sala vendo TV com Helena deitada no seu colo e minha mãe e Júlia na cozinha, conversando, enquanto faziam o jantar. Me sentei no banco do balcão que tinha ali na ilha e conversamos, logo depois jantamos e eu contei uma história para Helena até ela pegar no sono e fui sentar um pouco na varanda da sede, respirar ar puro já que todos tinham ido dormir.
  Esse dia foi pesado demais pra todo mundo, primeiro aniversário de morte do meu pai e eu e Júlia combinamos de sempre ficar com minha mãe esse dia. Não fazemos nada de diferente, mas era como uma promessa oculta que ali estavam todos apoiando a dor do outro.
  Tudo naquela fazenda tinha a mão do meu pai e eu me pegava rindo de como foi difícil fazer eu mudar todo o layout da sede, ele dizia que eu ia fazer frescura com a casa com as coisas chiques e rústicas que eu queria colocar. Ai, seu José, quanta falta o senhor faz. 
  Na manhã seguinte acordei às oito horas, Helana estava na escola, Júlia e mamãe colocando adubo na horta e Hiago trabalhando nos afazeres com os animais da fazenda. A renda da nossa fazenda sempre foi de laticínios, leite, queijo, iorgute, requeijão e entre outros alimentos orgânicos além da compra e venda de gado de corte e leiteiro. Quando meu pai era vivo, a renda era soja, ele e a família Bittencourt lideravam a soja aqui na região, mas depois da morte do meu pai, resolvemos inverte as coisas, o que coloca Hiago para trabalhar no que ele havia estudado na Zootecnia e, graças a Deus, nossa situação financeira não é ruim.
  Tomei um suco e comi um pão francês com presunto e queijo, escovei os dentes e tomei um banho como fazia todos os dias. Coloquei um short jeans claro e uma blusa de manga curta preta, fiz um rabo no cabelo e saí para ver se alguém precisava de ajuda. depois do almoço, Helena chegou da escola, ela estava brincando de boneca quando ouvi barulho de carro estacionando na frente da casa e fui até a porta para ver quem era. Nessa hora meu coração virou escola de samba, mas eu tentei ficar bem.
  — — Eliza disse subindo com uma criança mais ou menos do tamanho de Helena.
  — Eliza, meu Deus, quanto tempo! — falei abraçando minha antiga amiga.
  — Gente, que saudade de você, nunca te achei nas redes sociais e eu procurei de todos os @ possíveis — Eliza disse. — Essa aqui é minha sobrinha Bia — apresentou olhando a menina que olhava para a gente.
  — Oi, linda, tudo bem? Sou a — disse dando um beijo em sua bochecha recebendo um sorriso dela. Que criança linda, era a cara do . — Pois á, menina, minha mãe disse da volta dos seus pais e eu nem acreditei, treze anos né? — falei. — Vem vamos entrar — convidei dando espaço para que elas entrassem e as acomodei no sofá oferecendo algo de comer e beber, porém, negaram.
  — Treze anos, passou muito tempo — Eliza disse. — Meus pais decidiram voltar, na época fomos embora por conta dos meus avós maternos, mas depois que eles faleceram meus pais ficaram lá tocando a outra fazenda que compramos, até que meu pai decidiu voltar para as origens dele, meu pai nasceu aqui, né? Temos tios, primos, você sabe — ela contou.
  — Sim, tenho lembranças dos seus tios e primos nas festas de família de vocês — murmurei. — Bia, você quer brincar com Helena? — perguntei
  — Sim, lá em casa tava chato e aí eu pedi pra titia me trazer pra brinca com ela, eu posso? — a pequena falou.
  — Claro que pode, você pode vir a hora que você quiser o dia que quiser, tá bom? — falei recebendo um sorriso da mais nova. — Helena, olha quem chegou! — Elevei meu tom de voz chamando Helena que logo apareceu na sala correndo para saber quem era.
  — Biaa! — Helena abraçou a amiga e eu e Eliza observamos a cena sorrindo.
  — Lembrei da gente vendo essas duas — disse minha amiga olhando as crianças pensativa.
  — Melhor época, né? — murmurei.
  Enquanto as crianças brincavam, eu e Eliza colocamos os assuntos em dia, mas não tocamos em outros nomes além do de Leonardo, marido de Eliza, e eu contei por cima minha situação com o término com Antônio. Eliza falou sobre seus pequenos pacientes e sobre o amor pela sua profissão em pediatria, contei como era a vida como arquiteta e como eu estava realizada com Karol no nossos projetos.
  — , eu tenho que ir — Eliza disse se levantando e olhando no relógio que marcava duas e treze da tarde.
  — Ah, mais já? — perguntei me levantando com ela.
  — Sim, Leandro tá me mandando um monte de mensagem aqui perguntando por que eu tô demorando tanto se era só trazer a Bia pra brincar. — Eliza riu. — Eu nem respondi, a conversa tava boa. — Rimos juntas.
  — Então você volta? Minha mãe disse que você vai embora amanhã, né? — perguntei.
  — Sim, meu pai vai levar a gente até o aeroporto de Goiânia amanhã sete horas da manhã e nosso voo é às duas da tarde — Eliza informou.
  — Ah nem, então nem vai dar tempo da gente se ver — comentei.
  — Pois é, mas daqui quinze dias eu e Leonardo vamos vir, vou pegar umas férias e meu irmão tá tentando pegar também — ela murmurou. — Onde será que Bia tá?
  — Deixa ela aqui brincando, ainda tá cedo, depois a Júlia a leva ou alguém vem buscar. Pega meu número, me manda um oi que eu vou falando com você. — Falei meu número e Eliza salvou e mandou um oi no WhatsApp, ela então se despediu de Bia dando recomendações de comportamento e se despediu de nós e foi embora.
  Helena e Bia se davam super bem e minha sobrinha parecia estar super feliz em ter alguém para brincar agora. Mais tarde as meninas pediram para brincar de pique pega, como eu sempre brincava com Helena quando vinha para a fazenda aceitei, então começamos a correr por todo lado naquela casa.
  — Eu vou pegar duas criancinhas hahaha — falei imitando uma voz grossa e correndo atrás das meninas.
  — Não vai não! — Helena exclamou correndo para um lado e Bia para outro, naquele momento ouvia só gritos e risadas nossas na casa

XXX

  Crixás — Goiás 2023
  
  Cheguei na sede marcando quatro e cinquenta e seis da tarde, estava suado e cansado de mexer com gado e de coletar material do local onde iria ser o plantio de soja, Eliza tinha ido cavalgar com Leonardo, Henrique dormia que até babava na rede da varanda e minha mãe fazia crochê na sala.
  — Oi, mãe — cumprimentei beijando a cabeça da minha mãe por trás do sofá.
  — Oi, filho, já terminou por hoje? — ela perguntou.
  — Sim, só meu pai que tá com o Jarbas pegando a lista de material que precisa pra reforma do curral — falei. — Cadê a Bia? — perguntei estranhando o silêncio.
  — A Eliza a levou pra brincar com a neta da Denise, aí ela tá lá — explicou.
  — Já tem muito tempo? — perguntei e vi minha mãe confirmando. — Então eu vou só tomar um banho e vou busca ela, viu — falei indo pro meu quarto.
  Tomei um banho, peguei o carro e fui em direção à fazenda dos Rosique. Fui devagar, não estava com tanta pressa. Cheguei e estacionei o carro em frente à casa, subi os sete degraus que tinha na entrada da sede e bati na porta. Pude ouvir gritos e sorri, Helena e Bia se tornaram amigas em apenas dois dias e isso me fazia a pessoa mais feliz do mundo.
  Bati novamente, mas os gritos fizeram ninguém ouvir, provavelmente, então eu abri a porta e aí eu jurei que meu coração parou e tudo aconteceu em câmera lenta, igual naqueles filmes bregas de romance. Estava Bia correndo para um lado, Helena pra outro e atrás das duas corria e gritava. Quando elas perceberam que alguém tinha entrado, pararam onde estavam, Bia me chamou e abraçou minhas pernas, Helena ficou onde estava, me olhando e olhando que, por sua vez, estava paralisada assim como eu.
  Meu coração batia forte, meu estômago revirava, eu não conseguia falar nada até que ela quebrou o silêncio e, com aquela voz que eu sentia tanta saudade, falou:
  — O... Oi, disse.  

Capítulo 2

  Crixás — Goiás 2023
  
  — O... oi, . Nossa, desculpa, eu bati na porta, mas acho que ninguém ouviu — falei apontando para a porta e voltando a atenção para , não pude deixar de notar, ela virou uma mulher muito bonita, com todo o respeito; seus cabelos castanhos escuros e ondulados estavam grandes, seu corpo era lindo e desculpe, mas, eu como homem não sei não reparar em um corpo como aquele.
  — É, acho que eu e as meninas estávamos gritando um pouco — disse me fazendo voltar a prestar atenção na conversa.
  — Papai, tia é muuuuuuito legal, ela brincou com a gente a tarde toda — Bia falou e eu olhei para minha filha.
  — Sério? E você gostou de brincar com a e a Helena? — perguntei olhando para Helena e acenando para ela, recebendo um aceno de volta.
  — Sim, muito, o senhor pode me trazer mais vezes? — Bia disse cruzando os dedos de uma mão na outra, ouvi soltar um riso.
  — Tia , eu estou com fome. — Helena se pronunciou fazendo com que a tia batesse a mão na testa.
  — O meu Deus, que espécie de tia sou eu que deixo as crianças tudo com fome, o que você não vai pensar, disse rindo e me fazendo rir junto.
  — Não acredito que a primeira vez que minha filha vem brincar você a deixa passar fome. — Fingi falar sério e, com um esforço danado, segurei uma gargalhada, me olhou com os olhos arregalados e eu não aguentei e gargalhei, ela colocou a mão sobre o peito se dizendo chocada com aquilo.
  — Eu esqueci o quanto você era palhaç. — disse. — Vem, vou preparar um lanche quase janta e vocês não saem daqui sem comer, e aí eu quero ver falar que deixei alguém passar fome. — deu as costas e foi em direção à cozinha sendo acompanhada por Bia, Helena e eu.
  Enquanto preparava não sei o que, eu e as meninas estávamos sentados ao redor da mesa retangular de madeira que tinha ali.
  — Então... Quanto tempo, hein? — disse quebrando o silêncio entre nós dois já que Bia e Helena tagarelavam sobre bonecas, filmes e muito mais.
  — É, treze anos é bastante tempo — falou ainda de costas, mexendo na panela, porém eu pude ouvir quando um suspiro longo e profundo saiu. — Quando minha mãe me contou do encontro de vocês na loja eu nem acreditei —disse e deu uma olhada rápida para trás.
  — Sim, foi no dia seguinte que chegamos, eu também nem acreditei, achava que vocês nem moravam mais aqui e ficamos sentindo muito com o acontecido com seu pai — falei, vendo tirar alguns bolinhas da panela e colocar em uma travessa com algo que diria ser açúcar com canela, ela terminou e virou colocando na mesa.
  — É, acho que nunca vamos superar, mas acostumar estamos tentando ao menos — disse indo na geladeira e pegando uma coca-cola colocando na mesa e depois colocando os copos. — Especial da casa: bolinho de chuva da tia falou e Bia e Helena bateram palmas e eu sorri.
  — Eu amo bolinho de chuva! — Bia exclamou.
  — Então você vai mudar de gosto, toda vez que a tia vem ela só faz isso, ela não sabe fazer outra coisa, eu até já enjoei, mas por falta de não ter outro lanche pronto, eu como — Helena falou me fazendo cair na gargalhada novamente.
  — Pois então devolva meu bolinho, sua ingrata — disse fingindo que ia pegar o bolinho de Helena e a menina esquivou da tia, rindo. — Dá próxima te deixo com fome e quando sua mãe chegar eu falo que você me beliscou. — entrou na brincadeira com a sobrinha e mostrou língua como uma criança da mesma idade que Bia e Helena. — E você — apontou na minha direção —, pare de rir e coma e ai se falar que está ruim. — falou com um tom de voz ameaçador.

XXX

  .
  — Até que não tá tão ruim — disse fazendo charme e riu. — Tô brincando, , está uma delícia.
  — Você gostou, Bia? — perguntei vendo a menina comer com bastante vontade, confirmando minha pergunta. — Viu, criança ingrata, eles gostaram do bolinho — brinquei com minha sobrinha.
  — Agora ela vai ficar falando isso toda hora — Helena disse revirando os olhos e eu não aguentei e ri do jeito dela.
  — Eu estou satisfeito, obrigado, disse se levantando e indo lavar seu copo na pia da cozinha.
  — Que isso, as meninas estavam com fome real, brincaram a tarde toda e não deram trabalho — comentei observando de costas lavar o copo e colocar no escorredor ao lado.
  Não pude deixar de notar o quanto mudou, quando ele saiu da cidade no auge dos seus dezoito anos ele era lindo, mas não tinha esse corpo malhado e essas costas largas, seu cabelo era com o corte estilo militar e agora é um corte com os fios um pouco maiores que deixava um ar de bagunçado, mas sexy. Acho que fiquei tanto tempo observando que acordei do transe com rindo da minha cara e estalando os dedos no meu rosto.
  — Ai, desculpa eu me perdi aqui no tempo — menti.
  — No tempo né? — disse segurando um risinho sínico de canto.
  — Sim — falei passando a mão na nuca como toda vez que ficava nervosa e saí da frente de , aquela distância entre ele e eu estava me matando de vergonha.
  Fui para o outro lado da mesa vendo as crianças saírem em direção à sala e voltando minha atenção para que estava com aqueles braços cruzado em seu peito me analisando em silêncio.
  — No tempo, eu achava que nunca mais ia ver você, , nenhum de vocês — confessei deixando a tristeza que eu senti por anos transparecer.
  — Eu sinto muito por isso. — falou e eu não sei se foi coisa da minha cabeça, pareceu que isso era um “sinto muito” por outras coisas.
  Ficamos nos encarando como se nossos olhares falassem tudo que no passado não foi falado até que Júlia entrou na cozinha.
  — Ai, de novo bolinho de chuva, ? Minha mãe precisa urgente ensinar outro lanche pra você. Ah, oi, , não sabia que estava aqui — Júlia falou olhando para nós dois e depois indo abraçar . Passei a mão esquerda na nuca novamente, aquela cozinha parecia pegar fogo.
  — Eu só vim buscar a Bia que, aliás, ficou o dia todo aqui, mas se prontificou a fazer o bolinho e aí eu fiquei — explicou.
  — Daqui uns dias você não vai querer ouvir falar desse bolinho — Júlia falou rindo junto com .
  — Agora eu sei da onde Helena vem aprendendo a ser deselegante — falei e mostrei língua para minha irmã que continuou rindo com nosso amigo de infância.
  — Bom, preciso ir — disse batendo uma mão na outra.
  — Quando Bia quiser brincar pode trazer — Júlia disse indo em direção à cozinha acompanhando e eu.
  — Digo a mesma coisa de Helena, as duas fizeram amizade rápido — murmurou chamando Bia que brincava no sofá com Helena de boneca. — Se despede, filha — falou para bia.
  — Tchau, Júlia, obrigada. Tia eu adorei seus bolinhos e adorei brincar com você — ela disse e eu agachei para ficar do seu tamanho e dando um beijo em sua bochecha.
  — Volta mais vezes pra gente brinca, tá bom? — falei quase cochichando e recebendo um abraço de Bia.
  Percebi que analisava profundamente aquele momento e me levantei tentando olhar para tudo que é canto menos para o pai daquela criança adorável.
  — Tchau, Helena, depois você vai na minha casa ver minha boneca — Bia disse abraçando Helena; aquelas duas eram o fofurômetro puro.
  Eles se despediram e assim saíram da fazenda me fazendo soltar todo o ar que parece que estava preso há horas, Júlia me analisava.
  — É coisa da minha cabeça ou quando eu cheguei na cozinha tava um clima estranho? — ela perguntou calma se sentando no sofá junto comigo.
  — Foi um misto de muita coisa, Ju. Quando saiu daqui ele me prometeu enviar e-mail, prometeu liga, prometeu não sumir; na época tinha o Orkut e nem lá ele mandou uma mensagem sequer — falei mordendo a ponta do meu dedo.
  — E você falou isso pra ele? — Júlia perguntou.
  — Não achei que fosse o momento, afinal a gente era só amigo, né? — murmurei vendo Júlia revirar os olhos.
  — Tá, que seja, já que querem acreditar nessa amizade é importante vocês conversarem, não acha? — Júlia disse.
  — Não sei, quase enfartei quando eu o vi parado aí na porta — confessei e ri de nervosismo. — Aquela hora que você chegou tava um clima sim, mas não sei dizer o porquê desse clima, entende? — perguntei vendo Júlia analisar em silêncio tudo que eu falava.
  — Deixa as coisas acontecerem, foca na amizade que vocês tinham, era muito bonita — Júlia disse se levantando e indo em direção aos quartos, mas antes ela parou no início do corredor, já um pouco distante de onde eu estava sentada, e disse: — Mas que minha mãe ia adora o como genro, ah se ia — completou rindo e correndo quando eu joguei a almofada na sua direção.

  No dia seguinte, depois do almoço, resolvi ver alguns e-mails do escritório que Karol tinha me passado, alguns sobre assinaturas de contratos, outros sobre alguma parceria, sobre novos parceiros e sobre algumas ideias de Layout para alguns clientes, estava ali já há bastante tempo quando meu celular tocou, olhei o registro e vi que era Karolyne.
  — Oi, gata, tudo bem por aí? — atendi.
  — Oi, comigo tudo maravilhosamente bem, agora temos um probleminha aqui no escritório — minha sócia falou.
  — E o que seria esse probleminha? — perguntei.
  — O nome dele é Michele — Karolyne falou o nome e eu revirei os olhos.
  Michele era uma cliente que contratou nosso serviço para um layout da sua casa, ela está noiva e o casamento se aproxima, o problema é que nunca está bom, aquele tipo de cliente que só porque está pagando um absurdo, acha que pode mudar na hora que quiser tudo não se importando com contratos já decididos.
  — Ô pai amado, viu, o que foi dessa vez? — questionei suspirando e esperando o pior.
  — Ah, minha filha, é mais fácil você pergunta qual NÃO é o probleminha, né? Ela simplesmente mandou a equipe de jardinagem ir embora aos gritos da obra hoje, disse que estava porco o serviço, que não quer mais o painel de musgo na lateral sendo que já pagamos os parceiros; implicou com o quartzo do banheiro sendo que ela mesma escolheu a pedra; quer trocar a cor branca da fachada por cinza e ainda me ligou exigindo com urgência uma reunião com NÓS DUAS. — Karolyne ia soltando a bomba e eu me estressando cada vez mais. — Eu disse pra ela que poderia ser comigo, que você está em viagem e não tem data definida pra volta, , fiz de tudo e um pouco mais, porém ninguém segura aquele capeta — ela continuou, me fazendo rir.
  — Eu vou preparar um contrato de rescisão pra ela informando que podemos parar com o projeto, mas não ressarcimos o valor, já que foi pago aos parceiros, minha paciência com Michele acabou — informei, me acomodando melhor na cadeira de frente ao notebook. — E quanto a reunião, fala pra ela que saio daqui amanhã cedo e chego por volta das três e meia da tarde, marca esse horário e fala que queremos que o Gabriel, o noivo dela, vá também. Aliás fale que é obrigatório a ida dele.
  — Certinho, vou ligar pra ela agora mesmo — Karol disse suspirando. — Eu estou tão estressada com isso que nem perguntei como tá tudo aí.
  — Aqui tá tranquilo, e ontem eu brinquei o dia inteiro com Helena e a Bia — contei já preparando para o surto de Karolyne Almeida.
  — E quem é Bia, criatura? — perguntou.
  — Filha do — expliquei rápido esperando minha amiga surtar.
  Acontece que Karol sabe de toda a história com . Eu e Karolyne nos conhecemos na faculdade de arquitetura e nessa época fazia mais ou menos um ano que e sua família tinham se mudado, eu ainda estava com muita raiva do sumiço dele e sempre procurava conversar com Karol e nisso contei sobre nossas ficadas, sobre o dia em que eu pedi para ele tirar minha virgindade porque eu queria que fosse com alguém que eu confiava, quanta balela.
  — Como é que é? Então se você brincou com a filha, provavelmente você viu o pai — Karol falava alto e animada. — E a mãe, viu? É bonita?
  — Sim eu vi o , amanhã te conto tudo; e a mãe da Bia faleceu quando ela nasceu — contei entortando a boca.
  — Ai, coitadinha — minha amiga murmurou. — Ah, mas você vai me contar mesmo, viu, dona Rosique, só não vou insistir agora porque estou acabando de chegar aqui na T7 para olhar o projeto da conveniência — Karol disse e eu ouvi o som de buzinas ao fundo da ligação, com certeza ela estava com o celular no viva voz.
  — Tá bom, vai lá, e não esquece, amanhã reunião com a chata da Michele, fala pra ela levar o Gabriel.
  — Ok, minha gata, tá marcado. Preciso ir, beijos — minha sócia disse e eu mandei outro beijo, assim encerramos a ligação.
  Salvei tudo que eu estava fazendo no e-mail e saí do meu quarto depois de não sei quanto tempo, minha mãe estava na cozinha.
  — Ah, até que enfim saiu da toca, só te vi no almoço — minha mãe falava e colocava alguns itens dentro da geladeira, me sentei em uma das cadeiras que ficava ao redor da mesa e fiquei observando.
  — Eu estava trabalhando, dona Denise — informei. — Aliás, preciso ir pra Goiânia amanhã, dependendo da hora, volto na terça — falei, fazendo careta e recebendo um olhar triste da minha mãe.
  — Aconteceu alguma coisa? — ela perguntou.
  — Só uma cliente chata demais, preciso ajudar a Karol ou então ela coloca essa cliente de cabeça pra baixo na piscina — falei e minha mãe sussurrou um “que horror”.
  — Filha, preciso levar esse presente para Beatriz, o dia que ela veio aqui eu não tinha comprado nada pra ela, então Júlia foi com Hiago em Crixás e comprou, pode me levar? — minha mãe falou pegando o embrulho.
  — Humm, presente de casa nova, o que a Júlia comprou? — questionei tentando não pensar se estaria lá.
  — Um jogo de chá, não vi, mas ela garantiu que é lindo — dona Denise falou.
  — Eu só vou troca de roupa e vamos, tá bom — murmurei me levantando da cadeira e beijando a bochecha da minha mãe, logo depois indo em direção ao meu quarto trocar minha roupa.
  Optei por colocar uma calça montaria preta e uma blusa lisa de manga curta por dentro, nos pés calcei meu coturno preto e deixei meus cabelos soltos, porém peguei um boné também preto e coloquei sobre a cabeça; saí do quarto e minha mãe estava conversando com Júlia na entrada de casa, avisamos que não iríamos demorar. Pegamos o meu carro e saímos em direção à fazenda dos Bittencourt.
  — Tira esse boné da cabeça — minha mãe falou já tirando o boné enquanto eu dirigia.
  — É sério isso, mãe? — perguntei achando graça de dona Denise brigando comigo como se eu tivesse dez anos de idade.
  — Bem melhor assim — ela falou analisando minha roupa.
  — O que anda aprontando, hein, dona Denise? — disse olhando pra ela e depois voltando a atenção pra estrada de chão que ligava nossa fazenda com as outras, até chegar na fazenda dos Bittencourt.
  — Nada, mas é pra andar bonita aqui — minha mãe respondeu com o olhar preso na estrada.
  Fingi acreditar na desculpa dela e então não falei nada, continuei só prestando atenção na estrada até chegarmos, estacionei o carro e Beatriz veio até nós.
  — Que visita mais agradável — ela cumprimentou minha mãe e veio até mim. — , como você tá bonita — Beatriz disse me abraçando.
  — Oi, Beatriz, como vai? — falei acompanhando Beatriz e minha mãe pra dentro da sede.
  — Vai tudo bem, querida — ela respondeu. — Sente-se, vou pegar um cafezinho que eu acabei de fazer. — Beatriz ia se retirando quando minha mãe a chamou.
  — Beatriz, aqui, em nome de todos lá de casa, um presente de boas-vindas. — Minha mãe entregou para Beatriz que sorriu e se sentou ao nosso lado no sofá da sala e começou a abrir o presente. O presente que Júlia escolheu era um jogo de chá com seis pares de xícaras e pires com as colheres de chá douradas e um bule de porcelana branco e dourado, era lindo.
  — Meu Deus, não precisava. — A mulher olhava admirada o presente. — É lindo, muito obrigada mesmo — Beatriz disse sorrindo. — Vou pegar o café, só um minuto.
  Beatriz saiu em direção ao que parecia ser a cozinha e eu e mamãe ficamos na sala a esperando. Ela não demorou, estava conversando sobre tudo, como andava a vida nesses anos todos, Beatriz perguntando sobre minha profissão, meus amigos, quando Bia entrou com Paulo.
  — Tia ! — Bia veio correndo até onde eu estava e me abraçou. — Que bom que você veio aqui na minha casa.
  — Oi, pequena, como vai? — perguntei abraçando a pequena de volta.
  — Não acredito no que eu estou vendo aqui — Paulo falou enquanto andava até nós. — Rosique mãe e Rosique filha em nossa humilde residência. — Paulo abraçou nós duas.
  — Você ainda não foi lá em casa, Paulo, Beatriz foi com seus filhos que, inclusive, estão lindos e grandes — mamãe falou se sentando novamente.
  — Eu estou na luta com o aqui, Denise, compramos a fazenda com muita coisa para arrumar e colocar em prática, mas prometo que iremos um dia e quem sabe o churrasco de fim de semana não sai — Paulo murmurou.
  — Claro, irei adorar — dona Denise comemorou.
  — , minha querida, você era uma jovem muito bonita, mas o tempo te fez bem, não? Que mulher linda que você se tornou. — Paulo falou me deixando com vergonha.
  — Que bom saber isso, Paulo — murmurei brincando e rindo com os demais enquanto Bia sentou em meu colo.
  — Muito bonita mesmo. Eliza chegou a dizer que vocês conversaram quando ela foi levar Bia para brincar com Helena, você é uma arquiteta? — Beatriz perguntou.
  — Sim, me formei em arquitetura, tenho um escritório em sociedade com minha melhor amiga lá em Goiânia, então se precisarem de algum projeto, pode falar — falei, sem perder a oportunidade de vender meu peixe.
  — Com toda certeza, Beatriz semana que vem já vai estar pedindo um projeto pra casa, — Paulo falou, o que fez que eu, mamãe e Beatriz rirmos. — Agora o que eu realmente estou precisando mesmo é de um zootecnista, disse que o Hiago, seu genro, é, Denise — continuou.
  — Sim. — Minha mãe confirmou.
  — Peça pra ele vir aqui na fazenda amanhã? Ou se puderem me passar o telefone, eu mesmo falo com ele. — Paulo disse pegando o celular e anotando o telefone de Hiago.
  Ficamos conversando quando entrou, lindo suado do sol escaldante de Crixas com os quatro botões da camisa abertos e aquela calça jeans que... Deus do céu, no que eu estou pensando? De repente aquela sala ficou mais quente que o normal.
  — Olha, temos visita. — veio até nós e cumprimentou de longe. — Estou todo suado, não vou abraçar vocês duas por isso. — Meu senhor quando foi que me tornei essa safada?
  — Oi, querido, e isso é coisa que me importo? — minha mãe disse.
  — Tia , você pode brincar comigo no celeiro? — Bia chamou minha atenção.
  — Ah, minha linda, pode ficar pra próxima? Eu preciso ir embora porque tia vai para Goiânia amanhã — murmurei sendo observada por todos na sala, especialmente por que elevou as sobrancelhas na hora que eu disse que ia para Goiânia.
  — Mas já, querida? — Beatriz perguntou.
  — É, eu estou com uma cliente me dando um trabalho danado e minha sócia está quase decapitando a megera — comentei fazendo todos da sala rir. — Mas vou amanhã e volto no outro dia mesmo, vou só para resolver esse assunto, ela está me tirando dos meus dias de folga.
  — Ah, então por que não vai com ? — Paulo perguntou de uma vez fazendo com que eu e olhássemos para ele surpresos. — Ele vai amanhã pra Goiânia mandar material do solo no laboratório para começar o plantio da soja, não precisa vocês dois gastarem gasolina e irem em carros diferentes, não é, filho? — Paulo disse colocando a mão no ombro de .
  — É... Claro, se quiser — disse.
  — É verdade, querido, tem razão. , pode deixar você no escritório e enquanto resolve suas questões ele resolve as dele — Beatriz falou.
  — Posso ir? — Bia falou no meu colo.
  — Não, querida, você amanhã tem aula e seu pai vai sair cedo e chegar só à noite. — Beatriz disse fazendo com que Bia fizesse um bico de frustração.
  — O que acha, filha? — mamãe perguntou e todos olharam na minha direção.
  — Bom... Que horas vai sair daqui, ? — perguntei olhando para .
  — Por volta das oito da manhã — respondeu. — Mas se quiser, podemos sair mais cedo.
  — Não... não vai ser preciso, oito horas tá ótimo — falei fazendo Paulo, Beatriz e minha mãe sorrirem.
  Conversamos mais um pouco e deu a hora de ir embora, chegamos em casa e eu fui direto para o quarto arrumar minha bolsa com alguns papeis e documentos para a viagem; tomei um banho e coloquei um pijama, saí do quarto na hora do jantar e logo depois me despedi da minha família e fui descansar. Queria mesmo era ficar em meu quarto pois minha cabeça estava a mil, ficar cinco horas em um carro com seria complicado, já tinha revirado de todos os lados na cama quando alguém bate na porta do meu quarto, era Júlia,  minha irmã.
  — Posso entrar? — perguntou abrindo um pouco a porta e colocando a cabeça dentro do quarto. Confirmei que ela podia entrar e então ela entrou e fechou a porta e sentou no canto da cama. — Mamãe disse que amanhã você vai com o pra Goiânia. — Júlia falou.
  — É verdade. Beatriz, Paulo e mamãe são terríveis, quase obrigaram a me chamar — murmurei fazendo Júlia rir e fazer sinal de concordância com a cabeça.
  — Olha, eu sei que deve tá passando mil coisinhas nessa sua cabeça, e eu vim aqui falar sobre isso com você porque eu acompanhei tudo no passado e depois, quando ele foi embora — minha irmã mais velha começou a falar e eu prestava bastante atenção no que ela falava. — Eu acho que seria melhor você dizer tudo que acha que tem que dizer, sabe por quê? Se você não falar, , vai ficar aquele mesmo clima que eu encontrei na cozinha aquele dia.
  — É complicado, Júlia, eu não tinha nada de real com o . Sim, a gente ficava um dia ali outro dia aqui, mas eu não sei se você lembra, tinha as paqueras dele — murmurei e fui interrompida por Júlia.
  — Sim, ele tinha as paqueras dele, mas teve uma época que eu lembro bem que no colégio ele sempre tava com você e quando alguma menina pedia pra ficar com ele, ele simplesmente negava e dizia que tinha alguém, e esse alguém era você, minha irmã. Mesmo sem um status formal tinha você como alguém da vida dele e eu não estou falando da amizade profunda de vocês — minha falou passando a mão em minha perna que estava sob o cobertor.
  — Eu fico com medo de estar cobrando algo que ele nunca foi obrigado, entende? Nossa amizade era real eu sei disso, e o afastamento é o que pegou, ele sumiu e eu também não mandei nada pra ele por birra, eu estou tão confusa — choraminguei me afundando embaixo das cobertas na cama.
  — Fala com ele amanhã, vocês vão ficar cinco horas dentro de um carro sozinhos, , essa oportunidade de tirar tudo a limpo é maravilhosa nem que seja pra dar um fim digno em tudo que vocês viveram lá atrás — Júlia disse se levantando e beijando minha cabeça. — Pensa no que eu te falei — murmurou antes de sair do quarto e fechar a porta me deixando reflexiva.
  Realmente, colocar tudo em pratos limpos às vezes pode ser bom para colocar um fim no passado de uma forma digna.

  O dia seguinte chegou, e eu tenho a leve impressão que se olhar meu reflexo no espelho me confundo com um panda e suas manchinhas pretas ao redor dos olhos, o que, no meu caso, adquiri pensando demais e dormindo de menos noite passada.
  Peguei meu celular que estava na mesinha de cabeceira ao lado da minha cama e olhei as horas, constava seis e quinze da cama e os primeiros raios solares já teimavam em sair entre as nuvens. Me levantei, peguei minha toalha e a roupa que tinha escolhido ir na viagem, a minha bolsinha higiênica onde guardo escova de dente, pasta de dente e, em outra repartição, loção pós banho, escova de cabelo, produtos corporais, entre outros que eu sei que toda mulher que não gosta de ficar fedendo passa, e saí em direção ao banheiro social da casa. Nota mental: projetar um banheiro no meu quarto aqui na fazenda.
  Tomei meu banho lavando meus longos cabelos, desliguei o chuveiro e fiz todo meu ritual cheiroso igual todos os dias. Nota mental novamente: eu quero acreditar que é igual todo dia, porém, com uma vontade a mais de estar mais cheirosa que o normal. Vesti minhas peças íntimas e a minha calça jeans de lavagem escura, uma blusa sem mangas de gola alta da cor preta; penteei meus cabelos, recolhi tudo e fui em direção ao meu quarto, antes de chegar lá já ouvi Júlia, Hiago e Helena na cozinha, certeza era a hora em que Helena estava tomando o café para esperar o ônibus escolar rural que passa em todas as fazendas da região para levar as crianças para a escola.
  Resolvi terminar de arruma tudo para fazer companhia pra eles, então entrei no meu quarto e coloquei uma sandália sem salto básica e em uma bolsa uma roupa social para a tal reunião com Michele, seu noivo e Karol. Peguei minha bolsa com o contrato de quebra de contrato que redigi ontem mesmo e todos os documentos que precisava, chequei o relógio que já marcava seis e cinquenta e saí em direção à sala deixando tudo em cima do sofá.
  — Tia ! — Helena me chamou da cozinha.
  — Oi, princesa — falei e logo ouvi o barulho da buzina do ônibus. — Chegou, meu beijo — murmurei para minha sobrinha, virando a bochecha para receber um beijo, ela me beijou e foi com Júlia deixando apenas eu e Hiago na cozinha.
  Meu cunhado tomava seu café e olhava o celular calado. Peguei uma xícara, coloquei café e me sentei de frente a ele.
  — Bom dia, cunhada — Hiago falou.
  — Bom dia, cunhado, como tá? — perguntei bebendo o café e pegando um pedaço de bolo que minha mãe havia feito no dia anterior.
  — Bem... Vocês voltam hoje? — Hiago questionou deixando o celular de lado e dando atenção para mim.
  — Eu não sei... Se eu estivesse com meu carro diria que não, que ia volta amanhã, mas estou com , foi tanta pressão ontem que nem me atentei com isso — murmurei suspirando e bebendo o café, foi quando Júlia voltou para a cozinha e sentou ao lado do marido.
  — Oi, irmãzinha — disse ela.
  — Oi, Ju — respondi com a boca cheia.
  — Conseguiu dormir? — minha irmã perguntou, me fazendo olhar para Hiago e ela antes de responder como se tivesse fazendo uma pergunta se o assunto que me dificultava a dormir era entendido por Hiago, Júlia abanou a mão e falou: — Já contei todo o rolo de você e o no passado — informou e comeu um pão. 
  — Inclusive, deixa eu dar uma mínima opinião sobre que é que vocês são dois tapados, acharem que beijo e sexo servem para ter confiança entre “amigos” — ele disse fazendo aspas com os dedos na palavra amigos.
  — Eu estava com medo de ter as minhas primeiras relações com pessoas de fora e eu vi quando ele perdeu a virgindade com a prima chata dele, vi ele se vangloriando e achando que não era mais um menino que não podia brincar porque fez sexo aos quinze anos de idade, então pensei que poderia ser legal pedir pra ele — falei me defendendo de algo que nem eu sabia o que era para Hiago.
  — Ele é outro que nunca falou que fez tudo com você porque gostava de você de outra forma além de amiga — Júlia murmurou e Hiago concordou.
  — Ficaram nesse banho maria e hoje estão aí nesse clima — meu cunhado disse me irritando já, joguei o guardanapo no prato e bati minhas mãos nas minhas coxas.
  — Ai, gente, olha... Não tá ajudando, eu não sei como reagir a tudo, ok? Cadê minha mãe? — perguntei me levantando da mesa.
  — Dormindo ainda — Júlia informou.
  — Eu vou esperar o na sala, se caso ela não acordar, mande um beijo — falei vendo Júlia e Hiago concordarem.
  Saí da cozinha mais irritada que o normal, ninguém ali tinha que falar se foi ou não errado tudo que aconteceu com no passado e esse passado só pertence a nós dois e era isso que eu iria colocar um ponto final hoje. Foi pensando nisso que ouvi a buzina de fora de casa, peguei as duas bolsas e saí vendo dentro do carro ligado me esperando, abri a porta traseira do veículo e coloquei minhas bolsas ali e fechei novamente, então abri a da frente, ao lado de que dirigia, e me sentei colocando o sinto.
  — Bom dia — cumprimentou sorrindo.
  Ele tava lindo, meu Deus, o senhor quer me complicar, né? Por que aquele perfume dele tava no carro inteiro? Eu já estava completamente bêbada do perfume e nem da fazenda tínhamos saído. estava com uma blusa branca social com as mangas dobradas até acima dos cotovelos e a calça jeans escura e nos pés me parecia ser uma botina daquelas que não se usa pra trabalho na roça e sim pra festa de peão.
  — Bom dia — murmurei e tentei não transparecer meu nervosismo.
  — Podemos ir? — ele perguntou.
  — Claro, podemos sim — respondi vendo acelerar e sair da fazenda pegando a estrada rumo a Goiânia. Essas cinco horas iriam parecer uma eternidade, disso eu tinha certeza.

   e eu já estávamos na estrada há cerca de vinte minutos e no carro o único som que se ouvia era a música que fazia parte da playlist dele, o desconforto ali era notável.
  — Então... Como você tá? — me parece ter mais coragem já que decidiu iniciar uma conversa.
  — Estou bem e você? — perguntei vendo revezar seu olhar entre o trânsito e eu.
  — Bem... digamos que cheio de coisas pra resolver, meu pai comprou a fazenda, mas ela estava um tanto que mal cuidada — explicou.
  — É... sei bem como é, minha mãe e Hiago penaram para colocar a fazenda em ordem depois da morte do meu pai — falei lembrando todo o trabalho da minha família no meio de tanto sofrimento sem meu pai.
  — Eu imagino, eu adorava o senhor José, por cauda dele e do meu pai eu escolhi Agronomia — disse me olhando e sorrindo, depois voltando a atenção para o trânsito. — Mas sua mãe e Hiago estão de parabéns, o trabalho deles na fazenda está ótimo, mesmo optando por parar com o plantio de soja e focar em gado de corte e leiteiro — disse e eu concordei com a cabeça somente, não queria falar sobre gado ou como as fazendas de nossa família estava indo, eu queria falar sobre nós e saber o porquê de ele ter sumido.
  — por que você nunca mandou um e-mail ou um telefonema que fosse? — Parece que minha vontade de esclarecer tudo era tão grande que simplesmente vomitei toda a pergunta.
   fez uma expressão de surpresa me olhando e depois voltando a atenção para o trânsito, suspirou fundo e me pareceu pensar nas palavras antes de falar tudo, eu olhava para ele com atenção esperando sua resposta.
  — , as coisas são bem mais difíceis do que você imagina, eu não mandei nada não foi porque eu não quis — ele falava com toda a calma e aquilo me deixou estressada.
  — Como não foi por que você não quis? , foi sim! Você desapareceu, a nossa amizade pra você era tão descartável que você sumiu não fazendo um telefonema para mim! — exclamei um pouco mais alterada, vendo negando e ainda dirigindo, porém, a expressão do seu rosto não estava tão calma como antes.
  — , do que você tá falando ainda? Você não é a única que não recebeu nada, eu também não recebi nenhuma notícia sua, não fale que minha amizade por você era falsa porque nunca foi — falou também com sua voz tão alterada quanto a minha, me deixando ainda mais nervosa.
  — É claro que não recebeu, eu fiquei dias esperando você mandar algo como “, arrumamos uma casa legal aqui”, “, estou com saudade de nossas aventuras” e eu não recebi nada durante esses treze anos — retruquei e bufei ao terminar.
  — Larga com essa infantilidade, eu e minha família mudamos por conta da doença dos meus avós, você acha que chegamos lá e a situação iria estar “legal”? — disse alterado e fez aspas com as mãos na palavra legal soltando a mãos do volante rápido e depois voltando, sua atenção era para o trânsito e para a nossa briga. — Chegamos em Uberaba e meus avós estavam péssimos, , as condições eram as piores, minha mãe sofreu por meses até a morte da minha vó e logo depois meu vô faleceu, eu não tinha cabeça pra mais nada vendo meus pais ali sofrendo e meus avós, . Depois que meus avós faleceram, meus pais compraram uma fazenda perto de Uberaba e ali ficamos até meses atrás, veio a faculdade, minha filha, mas eu nunca esqueci de você, . — falou com sua voz alterada tudo de uma vez e aquela explicação me fez me sentir uma idiota.
  Realmente eu estava sendo infantil. Realmente quando Beatriz saiu de Crixás para ir ficar com seus pais ela estava bastante abalada por conta da situação, eu não pensei nos sentimentos deles, apenas nos meus. Ali naquele banco de carro eu estava me sentindo uma idiota e com uma vergonha enorme diante de , mas meu coração batia forte mais que o normal principalmente na parte em que ele disse que não havia me esquecido.
  — Eu... Tá bom, vai, desculpa, fui realmente infantil, eu não mandei notícias por pura birra também e eu sinto muito por seus avós — admiti e falei olhando para as minhas mãos.
  — E você me esqueceu nesses treze anos? — resolveu perguntar, olhei para seu rosto que estava concentrado na estrada, ele tinha um sorrisinho prepotente nos lábios, esse homem ainda vai me enlouquecer.
  — Tá de brincadeira, né? Continua o mesmo prepotente de treze anos atrás — retruquei batendo de leve no braço de e ele riu.
  — E você a mesma cabeça dura de treze anos atrás — rebateu rindo, olhando para mim e voltando a atenção para a estrada, preferi não negar pois aquilo era verdade.
  — Vamos falar da sua filha, Bittencourt — falei com a intenção em não responder a última pergunta que ele tinha me feito. — Ela é a coisa mais fofa, ela e Helena colocaram aquela fazenda de cabeça para baixo — murmurei e sorriu enquanto eu falava.
  — É, não só elas, né? Quando cheguei lá aquele dia para buscar a Bia você bem que ajudava na bagunça — disse e eu ri.
  — Eu amo brincar com Helena quando estou na fazenda, ela se sente muito sozinha, Hiago fica o tempo inteiro mexendo com questões na fazenda; Júlia nas questões dos iogurtes e queijos que fabricam, e minha mãe tenta acompanhar os dois em tudo né? Então ela é sozinha, fico feliz que agora tenha a Bia. — Sorri.
  — Bia também se sentia assim em Uberaba, porém Eliza sempre a levava pra casa dela ou então ela ia pra família parte da mãe dela — falou prestando a atenção no trânsito.
  — E a mãe da Bia, ? — perguntei meio receosa.
  — Bom, minha mãe já deve ter contado o que aconteceu com Lais, né? — ele perguntou olhando para mim, fiz uma cara de confusa e ele falou: — Lais é a mãe da Bia, eu e ela ficávamos e quando decidimos não continuar, ela descobriu a gravidez, claro que tanto eu e ela ficamos assustados com tudo, né? Dois universitários sem juízo. — sorriu. — Mas ela começou com as complicações na gravidez após o quarto mês e aí foi tudo muito confuso e difícil e depois da morte dela e do nascimento de Bia, eu tive que ter muito mais força, claro que a família dela faz a parte deles e sempre que pode fala da Lais assim como eu nunca a deixo esquecer da mãe dela — ele murmurou e eu sorri. — Mas educar uma criança e fazer dela um ser humano de bem não é fácil até pra quem tem essa rede de apoio que eu tenho com a família da Lais e a minha — finalizou e me olhou sorrindo, eu retribuí.
  — Fico feliz que se dê bem com eles — murmurei.

  A viagem continuou e eu e falamos sobre tudo, até que entramos na próxima cidade que passa pelo caminho até Goiânia.
  — Vamos parar pra comer algo? — ele perguntou olhando para mim.
  — Vamos sim, preciso ir ao banheiro — concordei.
   então estacionou em um posto de combustível que também é parada de diversos caminhoneiros, então tinha o posto, um restaurante que servia almoço e janta a lanchonete e um mercado que tinha de tudo um pouco e isso incluía doces da região como doce de leite, pau de mamão, laranja e etc...
  Fui ao banheiro e deixei na lanchonete, fiz minha necessidade, lavei as mãos e me olhei no espelho, as olheiras em meu rosto estavam dominando e eu arrependi de pensar tanto na noite passada por pura infantilidade minha. Arrumei mais ou menos o cabelo com minhas mãos e saí do banheiro, vi andando com algumas sacolinhas na mão.
  — Vou na lanchonete e já volto, ok? — falei vendo ele concordar e saí em direção ao balcão que era o espaço da lanchonete, escolhi uma coca-cola e vi um bolo de pote lindo que meus olhos brilharam e então pedi, quando me entregaram saí em direção ao caixa onde me esperava.
  — Eu comprei uma coisa pra você, não sei se acertei — disse pegando um outro bolo de pote igual ao que eu havia pedido.
  — Deus, — falei rindo e pegando meu bolo.
  — Assim não vale, uai. — Ele riu. — Vou devolver então — Disse indo em direção à lanchonete, mas eu não deixei e segurei em seu braço fazendo com que ele ficasse em uma distância perigosa de onde eu estava.
  — É... não... Não precisa — murmurei me virando para o caixa e pagando o meu e vendo fazer o mesmo com o dele e meu bolo de pote.
  Fomos para o carro e continuamos a viagem, comendo e conversando sobre muitas coisas, eu descobrindo o quanto é dedicado as questões da agronomia e eu contando sobre minha empresa com Karolyne e sobre minha amiga, já marcava uma e trinta e sete da tarde quando estacionou em frente ao escritório. Tirei o sinto e me virei pra ele.
  — Não quer descer e tomar um café antes de ir pro laboratório deixar o material? — perguntei.
  — Não, obrigado, quero aproveitar que pulamos o almoço tradicional — disse deitando um pouco a cabeça para o lado e me fazendo rir. — Vou resolver tudo logo e volto aqui, não demora lá não, então acho que depois da sua reunião podemos tomar um lanche de novo e passar no seu apartamento igual você pediu — falou.
  — Então tudo bem, tem certeza que não vai ficar cansativo pra você me esperar e ainda ir embora? — perguntei.
  — Sem problemas — disse sorrindo, eu tinha me esquecido do efeito desse sorriso sobre minha pessoa. — Qualquer coisa você pode dirigir no meu lugar — completou rindo.
  — Engraçadinho, estou de carona hoje — brinquei e abri a porta do carro e saí, quando fechei a porta do carro ouvi a voz de me chamando, então me abaixei pra ficar na altura da janela aberta do carro.
  — — me chamou.
  — Oi — respondi olhando pra ele dentro do veículo.
  — Você ainda não respondeu aquela minha pergunta — disse com um sorriso no rosto e eu fiquei confusa.
  — Qual?
  — Você sabe... Aquela do início da viagem, você me esqueceu nesses treze anos? — perguntou novamente e nessa hora ele já não estava sorrindo, mas me olhando profundamente, eu jurava que com aquele olhar ele podia descrever todos os meus sentimentos e ver a minha alma.
  — Não, , eu não esqueci — confessei vendo ele sorrir e então me afastei do carro, entrando no escritório.
  — Uai, não ia chegar às três horas da tarde? — Karolyne me viu entrando na sala dela e perguntou surpresa.
  — Vim de carona — expliquei vendo minha amiga ficar com cara de confusa, então continuei — com o — falei jogando minhas bolsas na poltrona em frente à mesa de Karol e me sentando.
  — Eu não A-CRE-DI-TO! — Karolyne exclamou se levantando e batendo as mãos animada.
  — Ele veio trazer um material do solo da fazenda aqui em um laboratório e minha mãe e os pais dele fizeram um auê para que ele desse a carona e aqui estou eu — falei.
  — Conta tudo! — Karol disse se sentando novamente e cruzando os dedos das mãos e apoiando o queixo em cima prestando atenção no que eu iria começar a contar.
  Olhei o relógio e ainda faltava uma hora e pouco para a reunião com Michele e Gabriel. Comecei a contar tudo pra ela e como eu me senti depois e, por último, da pergunta quando eu saí do carro e da minha resposta, nessa hora minha amiga comemorou tanto igual a gente comemora em gol da seleção brasileira em copa do mundo.
  — Eu sempre ouvia essas suas histórias com o que eu ficava pensando que realmente tinha alguma coisa. Ai, amiga, eu já tô shippando igual aqueles adolescentes fazem — Karol falou me fazendo rir.
  — Não começa, acho que ele falou sobre nossa amizade mesmo — Falei vendo minha amiga revirar os olhos.
  — Olha, , não vai fazer igual anos atrás, você não é uma adolescente de dezesseis anos e ele não é um rapaz de dezoito anos, são ambos adultos e já sabem diferenciar as coisas — Karol murmurou me deixando pensativa e continuou: — E não, ele não perguntou sobre a amizade só, agora vai se arrumar para a reunião e passa um reboco nessa cara — exclamou me fazendo rir.
  Eu fui trocar minha roupa por um vestido midi na cor preta justo ao corpo, fiz um rabo de cavalo baixo e uma maquiagem mais social finalizando com uma sandália de salto fino, olhei no espelho do banheiro do meu escritório e me senti poderosa. Antes de sair, borrifei meu perfume e saí do banheiro, arrumei tudo no meu escritório pois a reunião seria ali, sentei à minha mesa e esperei o tempo que faltava para Michele e Gabriel chegarem. Após um tempo ouvi batidas na porta.
  — , tudo bem? — Vanessa abriu um pouco a porta.
  — Oi, Vanessa, tudo bem sim e com você? — perguntei.
  — A Michele e o noivo dela estão aí — anunciou e fez uma careta me fazendo rir.
  — Certo... Pode passar na sala da Karol e pode chamar ela? Outra coisa, se possível, trazer um café? — pedi vendo a secretária concordar. — E pode pedir pro casal entrar, por favor. — Vanessa concordou e saiu da minha sala deixando a porta fechada.
  Respirei fundo porque lidar com Michele deixava qualquer um puro de alma leve só por não ser igual. Estava organizando o contrato inicial do casal com todas as especificações nele e coloquei junto todos os contratos e recibos de parceiros que já tínhamos pagado para o serviço da casa do casal, e ali ao lado o contrato de rescisão que eu iria fazer Michele e Gabriel assinarem caso não aceitassem o trabalho que eles mesmos contrataram sem dar show. 
  A porta do meu escritório se abriu de supetão e por ela entrou, sem educação nenhuma, Michele e Gabriel. Com o susto eu me levantei rápido da minha cadeira e fiquei em pé com os braços cruzados, o casal entrou e logo Karol veio correndo atrás.
  — Até que enfim resolveu trabalhar, , nada do que eu pedi tá igual — Michele, com aquela voz irritante, disse.
  — Primeiramente, Michele e Gabriel, saiam do meu escritório, fechem a porta e batam para entrar novamente que aqui não é a casa de vocês e de nenhum amiguinho não — falei vendo Karolyne colocar a mão sobre a boca para esconder um sorriso e Michele e Gabriel fazerem cara de surpresos pela minha atitude. — Andem, meu tempo é precioso. — Vi Michele e seu noivo saírem do meu escritório, fechar a porta e, em alguns segundos, ouvi batidas baixas na porta. — Pode entrar — falei olhando para minha amiga que ainda segurava o riso. Michele e seu noivo entraram e fecharam a porta. — Podem se sentar — murmurei me sentando na minha cadeira, Karol se sentou em uma poltrona próxima à minha mesa e o casal nas duas cadeiras em frente à minha mesa. — Segundo, Michele, não é que eu resolvi trabalhar, pois eu estou com o meu trabalho todos os dias lidando com clientes feito você e pode ter certeza que do nosso escritório — falei apontando para Karol e eu — nunca saiu cliente nenhum insatisfeito. — Finalizei.
  — Mas eu estou muito insatisfeita, colocaram várias coisas na minha casa que eu odiei — Michele disse.
  — Quando ela veio ao escritório para mostrar as fotos eu conferi com o projeto e conferi com o recibo do material que especifica o que ela mesma escolheu. Michele, não sei se você se lembra, mas quando eu e apresentamos um projeto você disse que os porcelanatos e o quartzo você iria escolher como realmente aconteceu, sem contar com todas as trocas de material em cima da hora que fizemos para você — Karol disse.
  — Mas eu odiei, ficou horrível, que tipo de arquitetas são vocês que deixam ficar daquele jeito? — Michele falava e seu noivo ficava de cabeça baixa.
  — Somos as melhores arquitetas, tanto que você procurou e, entre muitos, nos escolheu. Eu e Karol apresentamos sugestões, apresentamos resoluções de várias coisas que deu errado na sua obra, Michele, e você simplesmente não quis nos ouvir, então, quando um cliente vem até nós e fala que quer certo tipo de material na obra e não aceita discussão como foi o seu caso, nós também não discutimos e fazemos como o cliente pediu, então a culpa de não ter ficado do jeito que você escolheu já não é nossa, com isso, e também com todos os problemas que você reclamou, eu e Karol percebemos a sua insatisfação com nosso serviço como você mesmo disse, não é? — falei olhando para o casal.
  — Sim, bastante insatisfeita — Michele respondeu.
  — E você, Gabriel? — perguntei.
  — Bom, eu estou calado porque... Meu amor — Gabriel pegou na mão de sua noiva megera —, nós quem escolhemos tudo mesmo, e Karol fizeram de tudo que puderam e ainda tiveram a paciência de conversar com os parceiros delas para trocar várias coisas lá da nossa casa em cima da hora, e vamos combinar que ficou tudo muito lindo mesmo com tudo isso — o noivo respondeu.
  — Vai dar razão pra elas, Gabriel? — Michele começou a falar com aquela voz esganiçada me fazendo olhar para Karol e ela olhar para mim.
  — Não amor, não é isso, mas não acha... — Michele não deixou o noivo termina de falar.
  — Não Gabriel, você está errado e está horrível, eu quero troca tudo de novo — Michele disse a última coisa olhando para Karol e eu.
  — Bom, casal, as brigas de vocês sugiro que sejam feitas na casa de vocês, como falou, nosso tempo é curto e precisamos revelar a vocês a solução que eu e chegamos e que vocês podem aceitar caso não aceitem o nosso projeto do jeito que está e com as escolhas de vocês — Karol anunciou.
  — Então, Michele, realmente precisamos de uma solução e, como Karol disse, nós encontramos uma para vocês. — Vi Michele sorrir vitoriosa. — Aqui está o contrato inicial de vocês especificando todo nosso projeto e todos os parceiros envolvidos — murmurei entregando para o casal. — Esse aqui são os recibos de todos os materiais já usados na obra, do parafuso de cada tranca até os mais caros. — Entreguei para o casal. — Vocês podem ver o valor que já foi gasto, e por último, temos aqui um contrato de rescisão especificando que nossa empresa está rescindindo o contrato por decisão dos clientes, porém não temos como fazer a devolução do valor dos serviços já prestados — expliquei entregando para o casal o contrato e vendo o sorriso de Michele sumir.
  — Como assim? Vocês precisam termina o serviço — ela  disse com uma voz alterada.
  — Não, Michele, nós não precisamos e não vamos terminar o seu serviço desse jeito. Nós, do início do projeto até agora, tivemos paciência para suas escolhas de última hora, chegaram várias reclamações de parceiros nossos que foram maltratados por você e nós não vamos mudar mais nada aos quarenta e cinco do segundo tempo e nem vamos nos indispor com parceiros de tantos anos por sua causa — falei e olhei para Karolyne para ver se ela tinha algo para falar.
  — Como a sua insatisfação é tão grande, aconselho a procurar outras arquitetas que possam efetuar o seu projeto até o fim — minha sócia disse se levantando e indo até a mesa, pegou uma caneta e levou em direção a Michele que ficou somente olhando, parecia que estava em transe de tamanha surpresa.
  — Agora é comigo, chega dessa palhaçada. — Gabriel resolveu acordae e disse. — Nós vamos continuar com vocês e não precisam se preocupar que Michele não vai mais decidir as coisas de última hora, vamos confiar nas sugestões e no projeto, até porque já gastamos muito e a obra está setenta e cinco por cento feita, seria dinheiro desperdiçado — falou e entregou o contrato de rescisão.
  — Fico feliz pela decisão, Gabriel, realmente o valor já pago é grande e seria uma pena ter que cancelar tudo que ainda pode ser feito e, Michele, eu espero que nosso trabalho satisfaça de agora em diante — murmurei me levantando e estendendo a mão para o casal, Gabriel apertou minha mão, porém Michele resolveu sair do escritório sem dizer nada.
  — Desculpe pela Michele, eu não sabia o que tava acontecendo porque sempre a deixei resolver essa questão da casa — Gabriel se desculpou apertando a mão de Karol.
  — Que bom que resolvemos tudo agora, vamos colocar o projeto na fase final e eu espero que vocês amem a casa de vocês — minha amiga disse.
  Nos despedimos de Gabriel e Karol fechou a porta assim que ele se retirou.
  — Você veio grandona, amiga — Karolyne disse se sentando na cadeira antes ocupada por Gabriel em frente à minha mesa.
  — Não... Você viu como ela entrou? Muito arrogante, que isso!
  — Acho que agora Gabriel vem com ela sempre — minha amiga disse rindo, me fazendo rir.
  — , com licença — Vanessa bateu na porta e abriu um pouco —, é que tem um homem lá na recepção já tem um tempinho, eu estava esperando a sua reunião acabar, ele disse que estava te esperando, o nome dele é .
  — Não acredito que eu vou conhecer o famoso — Karol disse baixo me olhando, eu estava suando por dentro e nervosa nem parece que tinha pegado carona com ele por cinco horas, talvez aquela pergunta tivesse me deixado em outro patamar e as coisas agora tivessem outro significado. — Fala que ela já vai, Vanessa, por favor — Karolyne disse para nossa secretária já que eu estava sem saber o que fazer. — , respira, mulher! — exclamou depois que Vanessa saiu e fechou a porta.
  — Karol, o que eu faço? Não sei se vou ter coragem de viajar novamente com ele depois de falar que eu nunca o esqueci — murmurei me levantando e andando de um lado para o outro e passando a mão na nuca em sinal de nervosismo.
  — ... , minha amiga. — Karol me chamou se levantando e pegando em meu braço me fazendo olhar para ela. — Fica calma, já se passaram treze anos já, você é uma mulher empoderada, minha sócia, diva demais, e acabou de colocar a megera da Michele no bolso, sem falar que aguentou um relacionamento com o tóxico do Antônio, se ele perguntou aquilo é porque vocês ainda têm o que viver ou conversar ainda, nem que seja para voltarem a ser amigos novamente que é o que não é a real intenção — ela continuou e me abraçou.
  — Você tá certa, estou agindo igual a uma menininha com seu primeiro amor — concordou.
  — Nesse caso você é uma mulher com o seu primeiro amor — minha amiga falou rindo e me fazendo rir nervosa. — Vamos, pegue essas bolsas suas e vamos conhecer esse famoso , se ele não for bonito, , eu dou na sua cara por falar dele tantos anos e eu ter escutado — Karol falou e eu ri pegando minhas bolsas e desligando as luzes do escritório, saindo com minha sócia.
  Chegamos na recepção, estava sentado com os braços apoiados nos joelhos, aquela posição deixava os músculos de seu braço na camisa branca uma tortura, Karol me puxou para trás de surpresa antes que olhasse que estávamos ali.
  — Que Deus grego é esse, ? — perguntou cochichando.
  — Larga de ser safada — falei baixo igual a ela e saí em direção a . — Oi, , desculpa fazer você esperar — murmurei vendo se levantar. — Essa é minha amiga e sócia, Karolyne — apresentei os dois.
  — Mas pode me chamar de Karol — ela disse estendendo a mão para e ele apertou a mão da minha amiga.
  — , mas pode me chamar de — respondeu. — E não tem problema a espera, , foi bem rápido no laboratório, era só entregar o material do solo — explicou sorrindo para mim, esse sorriso ainda me mata.
  — Que bom, então — falei sem jeito. — Vamos? — perguntei.
  — Vamos. Karol, prazer em conhece-la espero que leve você pra conhecer a fazenda dos Bittencourt — disse se despedindo de minha amiga.
  — Com toda certeza eu vou e nem preciso do convite de — Karol disse rindo e fazendo rir, eu iria matar ela com toda certeza.
  Terminamos nossa despedida e saímos do escritório.
  — Quer comer algo antes de passar no seu apartamento? — perguntou colocando o cinto do carro e olhando em seguida para mim.
  — Sim, podemos ir ao Bahrein, fica logo ali no próximo quarteirão — falei e assim ligou o carro e não demorou para estacionar no restaurante.

XXX

  
   estava linda como nunca naquele vestido e com aquele salto, foi difícil me concentrar em conversar com Karolyne vendo tão perto daquele jeito. Saímos do escritório indo para o restaurante e não conversamos sobre nada demais, chegamos no restaurante e fizemos nosso pedido.
  — Então... como foi a reunião? — Senti um pouco nervosa e então decidi iniciar uma conversa.
  — Foi complicado, a cliente que estava na reunião com a gente era bem complicada — ela disse respirando fundo.
  — Bom, se for a que saiu da sua sala batendo porta e passou pela recepção com uma cara não muito boa, acho que a reunião não terminou muito boa pra ela, né? — perguntei e riu pela primeira vez em que estávamos juntos ali.
  — Essa mesmo, não fizemos e nem vamos fazer o que ela quer.
  — Mudando de assunto, minha mãe disse que esse fim de semana vai realizar um daqueles churrascos de treze anos atrás, sabe? — comentei observando .
  — Seus pais são os melhores nisso, admiro um casamento igual o deles — ela disse me olhando e depois olhando para o garçom que colocava nossos pedidos na mesa.
  — Eu também admirava muito os seus pais, , acredito que sua mãe sinta muitas saudades do José — murmurei com cuidado para não fazer chorar.
  — É... Foi complicado e ainda vai continuar sendo complicado a partida repentina do meu pai, mas minha mãe tem uma força muito admirável e eu, Júlia, Hiago e Helena estamos com ela sempre e, agora, com a chegada de seus pais eu aposto que sozinha ela não fica mais — disse calma e rindo no final e bebeu um pouco do seu suco.
  — Sabe o que eu tava lembrando? — falei vendo ela negar com a cabeça. — Lembra daquele dia em que eu te dei a Felícia? — perguntei me referindo a uma galinha que eu havia dado de presente para .
  — Meu Deus, eu amei tanto aquela galinha, ! — disse animada em lembrar de Felícia.

  FLASHBACK ON
  Crixás 2004
  — Por que raios você quis que eu viesse aqui no galinheiro, ? — a garotinha com o braço esquerdo engessado perguntou.
  — Eu tenho uma surpresa pra você — disse indo para dentro do lugar.
  — Surpresa em um galinheiro? — questionou entrando com o garoto, dois anos mais velho que ela, no galinheiro da fazenda Bittencourt.
  — Larga de ser chata e vem aqui. — foi para perto de um espaço que estava cercado por uma tela mais baixa e ali tinha vários pintinhos. — Nasceram há alguns dias e esse aqui — o garoto pegou um pintinho marrom entregando à menina —, esse é seu.
  — Que lindo, , obrigada. — falou pegando o pintinho com seu braço livre do gesso e colocando em seu colo e recebendo um abraço de de um jeito desastrado.
  — Precisa de um nome, é uma galinha — murmurou olhando o sexo da pequena galinha do jeito que seu pai havia ensinado.
  — O presente é seu, pensa em um nome e eu falo se é bom — a garota disse e viu o garoto pensar, após alguns segundos ele disse:
  — Felícia, o que acha? Como aquele desenho que a gente gosta de assistir — disse sorrindo para que sorriu de volta para o amigo e saiu para mostrar sua nova filha para os demais.
  O churrasco havia começado enquanto as crianças brincavam no lago dos Bittencourt, menos que, por conta do gesso, estava embaixo de uma árvore acompanhando o banho de sua turma, os adultos se deliciavam com as carnes que José ia colocando e cortando na mesa, assim manhã e o início da tarde se passaram as crianças estavam dentro da casa.
  — Seu aniversário tá chegando, né? — , que estava deitada no chão do quarto de , disse.
  — Sim, meu pai disse que serei um aborrecente porque vou fazer onze anos — falou fazendo careta.
  — Aborrecido você já é — a menina disse rindo e colocando a mão no rosto do amigo. — Obrigada pela Felícia, , eu realmente amei meu presente
  FLASHBACK OFF

  — Ela morreu de uma forma tão trágica — murmurou pensativa.
  — Lembro como se fosse hoje você correndo chorando que o lobo tinha entrado no galinheiro e tinha pegado a Felícia — comentei bebendo um pouco do meu suco e vendo fazer um biquinho triste sobre o acontecido.
  — Eu cuidei com tanto carinho, ela viveu três anos, , fiquei chateada mesmo — ela retrucou. — Pronto, eu já sei o que dar de presente pra Helena e para Bia, as duas vão ganhar uma galinha —falou me fazendo rir e rindo junto.
  — Acho uma ideia ótima, se quiser podemos passar na casa rural amanhã mesmo — comentei rindo com .
  — Eu acho tão legal a Helena ter a Bia agora pra brincar, eu meio que vejo as duas repetindo o que nós um dia fomos, sabe, espero muito que elas aproveitem aquelas duas fazendas com todas essas brincadeiras. — disse sorrindo e me olhando.
  — Não esqueça de dar uma dica para elas quando for subir no pé de pequi para que elas não caiam e quebrem o braço — murmurei fazendo gargalhar e me bater com o guardanapo me fazendo gargalhar também.
  — Seu boboca — ela disse ainda rindo.
  — Até hoje vai me chamar de boboca? — perguntei entrando na brincadeira e vendo rir.
  — Fico feliz que tenha voltado com seus pais. — mudou o assunto de repente e estava sorrindo, porém falava com um tom de voz sério.
  — É... Eu também fiquei feliz quando meu pai resolveu vender a fazenda, eu tinha a oportunidade de ficar em Uberaba ou voltar, então decidi voltar. Primeiro que eu gosto muito daqui e segundo que eu trabalho com meu pai, então achei que ele precisaria de mim — falei olhando nos olhos e sorrindo.
  Aqueles olhos me fascinavam, quando era criança a nossa conexão já era assim, e com o passar dos anos foi aumentando e acredito que nunca tenha se perdido, eu ainda sentia conectada a mim e eu sabia que ela ainda era aquela menina, hoje mulher, que eu amava anos atrás.
  — E precisa mesmo, soube que a fazenda está indo muito bem e a soja vai ser um sucesso — disse olhando para seu prato já quase vazio e eu tive a impressão que ela ficou sem graça pela forma que eu a olhava.
  — , nós preci... — Quando iria falar sobre nosso quase namoro, um homem alto, com um porte um pouco forte e cabelos castanhos claros chegou com bastante raiva em nossa mesa.
  — Então foi por isso, né, ? — O tal homem falava alto, o que atraiu olhares de várias pessoas, estava com um olhar assustado assim como eu, mas não falou nada.
  — Anto... — ela tentou falar, mas o homem não deixou.
  — Você terminou comigo por causa de outro macho. — Então aquele era o tal ex de que a Denise falou, ele estava bem alterado e colocou as mãos no rosto e os braços sobre a mesa.
  — Cara, va... — Eu tentei acalmar o rapaz, mas ele olhou em minha direção e se alterou ainda mais.
  — Você fica na sua aí, cara, que minha conversa ainda não é com você — o rapaz disse alto.
  — Vamos embora, — murmurei baixo para que tentou se levantar para me acompanhar, se não fosse pelo braço do homem alterado a segurando.
  — Cara, tira a mão dela — falei com bastante calma, porém com uma voz ameaçadora. Quem ele era pra obrigar a ficar com ele?
  — HAHAHA o bom moço já tá defendendo a vagabunda — o rapaz falou e com isso a pouca paciência que eu estava tendo com ele foi para o espaço.
  Nessa hora eu o acertei com um murro bem no nariz, pude ouvir algumas pessoas gritarem surpresas e se afastarem, o rapaz na hora que recebeu o murro soltou o braço de que agora olhava a cena com os olhos arregalados e as mãos sobre a boca, o rapaz virou o rosto na minha direção e estava com o nariz sangrando.
  — Você vai pagar — ele disse e me acertou com outro murro no canto da minha boca, pude sentir o sabor metálico do sangue segundos depois.
  Começamos a trocar mais socos com o som de gritando e falando para alguém fazer alguma coisa e foi assim que fomos separados por dois seguranças do restaurante.
  — Antônio eu nunca mais quero saber de você na minha vida, tá me entendendo? — aproveitou que o rapaz estava preso pelo segurança e falou bem próxima a ele. — Se eu estiver ou não me relacionando de novo o problema é totalmente meu, vai viver a tua vida — disse e virou para o gerente do restaurante que olhava a cena esperando para acertar a conta do estrago dos copos e pratos quebrados do estabelecimento. — Essa conta aqui — disse apontando para a bagunça — é do otário ali. — Apontou para Antônio. — Vem, , vamos embora — murmurou , fazendo com que o segurança me soltasse.
  Pagamos a nossa comanda rápido enquanto Antônio foi levado para o andar de cima onde supostamente seria o escritório do estabelecimento e saímos do restaurante sendo observados por muitos curiosos. me passou o endereço de seu apartamento e eu dirigi calmo, minha boca latejava, mas não disse nada e ela estava calada sem pronunciar um mínimo som. Chegamos e autorizou que eu entrasse com meu carro em sua garagem, estacionei em sua vaga que estava vazia, já que seu carro estava na fazenda, e descemos, me guiou até o andar de seu apartamento e entramos em silêncio ainda.
  — Fica à vontade, , eu vou pegar uma coisa e já volto — disse me olhando rápido e sumindo por um corredor me deixando sozinho em sua sala.

Capítulo 3

(n/a: nesse capítulo teremos uma cena com uma música, então vou deixar o link aqui e se quiser ler com a música rolando é só acompanhar, vou avisar na hora exata.. Clique aqui)

  
  Enquanto buscava sei lá o que, eu fiquei parado em pé no meio de sua sala. Seu apartamento era decorado com um extremo bom gosto, claro, o que esperar de uma arquiteta? Fui até a janela e vi o céu com um pôr do sol incrível ali do alto de Goiânia, eu estava cansado, porém ainda tinha uma longa viagem para fazer até Crixás.
  — Pronto, deixa eu limpar esse machucado em você — disse colocando uma caixinha de primeiros socorros em cima do sofá, chegando perto.
  — Ei, não precisa, sério, eu agradeço, mas deixa que eu faço isso ok? — Peguei com delicadeza o algodão de suas mãos.
  — Há... cla-claro — ela disse me entregando e dando um passo para trás passando a mão esquerda na nuca, sem jeito. Era bom saber que ela ainda não tinha perdido aquela mania quando estava com vergonha ou sem jeito com alguma coisa. — Vou pegar um copo de água para você então — murmurou com um sorriso rápido e discreto e saiu em direção ao que seria a cozinha voltando alguns minutos depois com dois copos de água, um em cada mão.
  — Obrigado — disse pegando o copo e bebendo um pouco da água. — Então é aquele o seu ex? — perguntei sem jeito, não queria que falasse algo que não queira.
  — Sim, é meu ex, o Antônio — ela respondeu se sentando e respirando fundo ao falar.
  — E ele sempre foi agressivo com seus amigos assim? — perguntei me sentando também, respirou mais uma vez e colocou o copo na mesinha em frente ao sofá, voltou a posição que estava sentada e me olhou.
  — Sim, ultimamente ele anda bem mais nervoso, eu não queria acreditar que era um relacionamento abusivo, murmurou. — No início era um relacionamento saudável e ele nunca fez nada que me fizesse duvidar de nada, mas aí o tempo foi passando e principalmente depois de um ano de namoro ele começou a fazer algumas situações que eu hoje vejo como um relacionamento abusivo sim. — despejou tudo e respirou mais uma vez fundo, provavelmente tentando manter a calma em ter que lembrar todo o horror que viveu.
  — Eu sinto muito por tudo que você tenha passado, , mas tem uma coisa em específico que eu gostaria muito de saber — falei tentando não transparecer a raiva que eu sentia daquele moleque, se o que eu estava pensando tivesse realmente acontecido eu iria procurar ele no inferno para fazer pagar tudo que fez com . — Ele já te agrediu fisicamente? — perguntei com cuidado e vi o olhar de fugir do meu e sua mão passar pela nuca em sinal de nervoso, sua respiração forte e aquilo estava me deixando com um ódio, pois eu já imaginava a resposta.
  — Não, , eu juro que não houve agressão física, somente verbal e psicológica o que não deixa de ser menos pior — disse me fazendo soltar o ar que nem sabia que eu prendia, porém, a raiva do inútil de seu ex ainda estava lá e se eu tivesse a oportunidade de quebrar a cara dele eu quebraria sem qualquer remorso.
  — Você não merece passar por isso, , aliás, ninguém merece, eu sei que ficamos longos treze anos afastados, mas agora eu estou aqui e, por conta de tudo que a gente viveu, nunca vou deixar nada de ruim te acontecer — falei tudo sem filtrar meus sentimentos, aquela promessa era de fato real e eu estou disposto a realizar.
   tinha seu olhar no meu e eu pude sentir a profundidade deles, pude sentir que ela estava procurando alguma brecha pelo que eu falei e sei quando ela sorriu que ela soube que poderia confiar. me abraçou e eu retribuí seu abraço e ficamos abraçados por alguns minutos, nos soltamos um do outro e olhava para todos os cantos da sua sala menos para mim novamente. De repente aquele lugar estava mais quente que todo o estado de Goiás junto.
  — É... bom... já são sete horas da noite, você tem certeza que ainda quer pegar a estrada? — perguntou.
  — Eu não trouxe nenhuma roupa — falei e ri um pouco sendo acompanhado por .
  — Não tem problema, se você não se importa tem uma camiseta do meu pai que eu guardei e uma bermuda, posso te empresta — murmurou.
  — Tio José não ficaria irritado? — perguntei brincando.
  — É verdade, né? Ele provavelmente pode vir puxar seu pé na madrugada — disse parecendo séria, mas em pura brincadeira também. — Larga de ser besta — disse me fazendo rir. — Já volto. — me deixou novamente sozinho naquela sala.
  Enquanto ela não voltava, peguei meu celular com a intenção de ligar para minha mãe para falar que iríamos sair de Goiânia amanhã pela manhã.
  — Meu filho. — Ouvi a voz da minha mãe do outro lado da linha telefônica.
  Oi mãe, ta tudo bem por aí? — perguntei indo até a janela da sala e observando a grande Goiânia de cima.
  — Tá sim, meu filho, Bia já dormiu e aqui todos estão bem, aconteceu alguma coisa por aí? Já pegaram a estrada de volta? — Minha mãe perguntou.                                                                                                                            — Não, mãe, sabe o que é? Houve alguns contratempos com a e então decidimos sair daqui amanhã pela manhã, mas tá tudo bem, estamos aqui no apartamento dela, mas amanhã vamos sair bem cedinho — informei.
  — É melhor, meu filho, é cansativo essa viagem, pode ficar tranquilo que fico com Bia pra você — Minha mãe disse. Conversamos mais um pouco e nos despedimos, passou alguns minutos e voltou.
  — Desculpa a demora, é que eu aproveitei pra ligar pra dona Denise — disse fazendo uma careta brincalhona.
  — Relaxa, fiz o mesmo com a dona Beatriz — falei rindo junto.
  — Então... Eu tava aqui pensando, já que não vamos pegar estrada e nem nada algumas taças de vinho não vão fazer mal, não é? — disse sem jeito.
  — Claro, vai ser bom — concordei.
  — Pode me dar uma mãozinha ali na cozinha? — ela perguntou se levantando e eu a segui para a cozinha. pegou duas taças no armário e uma bandeja de madeira, pegou um vinho na pequena adega que tinha abaixo no mármore da bancada e alguns queijos na geladeira.
  — Vejo que você é uma mulher preparada — comentei vendo montar a bandeja com os queijos e mais alguns aperitivos.
  — Mas é claro que sim, uma mulher sempre tem que ter vinhos e queijos em casa — disse rindo. — Sou uma mulher finíssima — murmurou jogando o cabelo para trás fingindo superioridade.
  Levamos tudo para a sala e deixamos na mesinha de centro, vi sair novamente em direção aos quartos e voltando.
  — Ai, me desculpa, , nem te falei, deixei o quarto de hóspede arrumado para você aquela hora que eu saí da sala, se você quiser, as roupas estão em cima da cama — disse.
  — Não se preocupe, — falei. — Eu vou tirar essa calça e esse coturno e já volto então — murmurei a vendo concordar e saí em direção ao corredor em que foi várias vezes, presumi que a segunda porta fosse a do quarto de hóspedes e acertei, era um quarto grande com um banheiro dentro e tinha um armário grande em uma parede e uma cama de casal no centro do quarto. As roupas estavam em cima da cama como tinha me dito junto com uma toalha, peguei a toalha e fui tomar um banho rápido, após o banho coloquei as roupas do tio José que havia separado para mim e saí para a sala.
  — Desculpa eu que peço agora — falei tímido. — Vi a toalha e não pude recusar o banho — murmurei me sentando ao lado de .
  — Sem problemas, eu também tomei quando ouvi o barulho do chuveiro — ela disse e eu pude observa que estava com pijama que era um short cinza claro de um tecido leve e uma blusa de mangas três quartos cinza também do mesmo tecido. — Aqui, esse vinho é muito bom. — me serviu o vinho me entregando a taça. — Então, como foi a vida nesses treze anos? — perguntou.
  — De que parte você quer que eu comece? — perguntei brincalhão fazendo rir.
  — De todas, oras — disse bebendo seu vinho e me olhando.
  — Bom, depois que saímos daqui enfrentamos a doença dos meus avós, mas infelizmente eles vieram a falecer com diferença de meses — murmurei fazendo uma cara de tristeza.
  — Eu sinto muito, .
  — Eu vi que meu avô não aguentou ficar sem a minha avó, sabe? Meio que ele se entregou à doença depois da morte dela. — Suspirei fundo bebendo um gole do meu vinho. — Depois disso tudo eu entrei pra faculdade de agronomia como você já sabe e no meio disso tudo eu conheci Lais, mãe de Bia — continuei, observando que prestava bastante atenção em tudo que eu falava. — Nosso relacionamento foi rápido, mas fomos irresponsáveis e nisso tudo veio a Bia — falei rindo sem graça.
  — Bia é uma graça, , essa irresponsabilidade gerou uma criança abençoada — disse sorrindo e me fazendo sorrir.
  — Sim, hoje eu vejo que não faria nada diferente, Bia é meu mundo, me tornei um outro homem depois que fui pai e ainda mais sem Lais — falei. — Mas enfim... quero saber de você, mocinha, adorei conhecer seu escritório e tudo que construiu, hein? — comentei querendo mudar o foco da minha vida para descobrir mais sobre a nova que estava diante de mim.
  — Ah, , nada que você já não saiba, eu vivo somente pro meu trabalho e pra minha família? Depois que meu pai morreu eu meio que coloquei essas duas coisas como principais e acho que minha história não tem tantas coisas pra contar igual você que já é um pai — disse bebendo mais um pouco do seu vinho.
  — , eu não vou mentir pra você e falar que foi normal reencontrar vocês depois desses treze anos, acho que o passado ficou muito mal acabado e eu acho que devemos falar sobre ele pra não acontecer coisas do tipo que aconteceu hoje mais cedo no carro — falei receoso, vendo beber um gole longo de seu vinho e me olhando.
  — , eu amei você e eu não tenho por que mentir, somos adultos agora e eu sei que o nosso romance, mesmo que não fosse nada sério, no passado foi real, mas acho que devemos ir com calma agora, não quero que você se machuque e nem que eu saia machucada, afinal, foram longos treze anos, né? — disse.
  — Cla-Claro, eu entendo você e eu quero que você saiba que aquela época foi importante pra mim também — murmurei sem jeito.
  Ficamos ali conversando sobre esses treze anos e tudo que se passou em nossas vidas e as pessoas que amamos, até que olhei no relógio e marcava uma e meia da manhã.
  — , acho melhor irmos dormir, amanhã temos que voltar para Crixás cedo — falei vendo-a concordar, levamos as taças e o resto das coisas para a cozinha, ajudei a lavar tudo e guardar.
  — Bom, boa noite, disse e me deu um beijo na bochecha, me arrepiei quando sua boca encostou na minha pele, tão macia e eu queria que esse contato tivesse sido por um tempo maior, porém ela logo foi em direção ao seu quarto.
  Respirei fundo e segui para o quarto de hóspedes que tinha arrumado para mim, o sono demorou a chegar, meus pensamentos estavam a mil e sempre era levado a uma pessoa só: . Foi no meio de tantos pensamentos do nosso passado e do nosso momento agora que o sono venceu e me entreguei a ele.

  
  Acordar sem o som do despertador é algo libertador, me virei na cama e fiquei alguns minutos ali admirando o nada, peguei meu celular que estava ao lado da cama em cima de uma mesinha que fazia parte da cabeceira e olhei as horas, marcava oito e quinze da manhã, me levantei correndo porque lembrei que eu e temos uma longa viagem de volta para a fazenda.
  Tomei o meu banho correndo e vesti uma calça jeans e uma blusa social branca, me olhei no espelho e preferi colocar a blusa por dentro da calça, escolhi uma bota alta sem salto na cor preta, escovei meus dentes e arrumei meus cabelos deixando-os soltos e, por último, borrifei bastante do meu melhor perfume.
  Quando saí do meu quarto pude ouvir barulhos vindos da cozinha, era um sinal que já tinha acordado também. Fui até lá e encontrei um já com as roupas de ontem, porém com os cabelos molhados o que significava banho. Ele tinha virado um homem muito bonito.
  Enquanto eu babava meu amigo, vulgo ex-peguete da adolescência, se virou e me lançou um sorriso daqueles.
  — Bom dia, dorminhoca — disse colocando a garrafa de café em cima da mesa e alguns pães de queijo.
  — Bom dia, de onde surgiram esses pães de queijo, hein? — perguntei rindo e me sentando ao lado dele na mesa do café da manhã.
  — Eu acordei muito cedo então digamos que deu tempo de me arrumar, te esperar e aí eu cansei de não fazer nada e, sendo bem sincero, com muita fome, então fui à padaria aqui perto do prédio e comprei — ele explicou bebendo um pouco do seu café.
  — Se minha mãe tivesse aqui com toda certeza ela iria me colocar em um belo castigo, que tipo de anfitriã eu sou?  — murmurei vendo gargalhar.
  — Não fica assim, prometo falar para tia Denise que você queria muito fazer seus bolinhos de chuva então eu que me adiantei em comprar os pães de queijo — disse tirando onda com a minha cara e eu dei um tapa leve em seu braço fazendo ele rir mais ainda.
  — Seu bobo, fico feliz que meu pai não tenha puxado seu pé a noite por ter dormido com a roupa dele — falei entrando nas provocações dele.
  — O tio José gosta de mim, qual é? Eu era o braço direito dele — disse me fazendo rir das lembranças dele com meu pai quando pequeno. — Ele nunca que iria se incomodar com uma peça de roupa — disse.
  — Ai, desculpa, braço direito de José Rosique — fisse rindo. — Bom o papo tá ótimo, mas precisamos pegar a estrada, né? — murmurei me levantando e sendo acompanhada por .
  Lavamos tudo que sujamos e saímos do apartamento em direção ao carro, o dia não estava muito diferente do que é todos os dias em Goiânia, calor, muuuuito calor. A viagem foi muito tranquila e eu e conseguíamos achar assunto para qualquer coisa, ali dava pra perceber que mesmo depois de treze anos aquela velha amizade, aquela velha infância, ainda tinha espaço na vida de nós dois.
  — Obrigada, pela carona e desculpa qualquer coisa, viu — agradeci assim que o carro parou em frente à sede da fazenda da minha família.
  — Não precisa agradecer a carona e não precisa de desculpa por nada — disse me olhando.
  — Espero que não dê problemas esse machucado na boca — murmurei sem jeito me referindo ao machucado causado pelo murro que Antônio deu nele.
  — , como eu disse ontem, aquele cretino merecia apanhar muito mais, e isso aqui — disse apontando para a boca meio avermelhada —, digamos que foi um prêmio por poder estar lá pra te defender depois de traze anos — me falou e eu senti um calor com o jeito que ele me olhou, não consegui dizer nada e quando dei conta dos meus atos, eu já abraçava ainda dentro do carro.
  — É... me... me desculpa eu não quis — murmurei me afastando sem jeito e sendo interrompida por .
  — , somos amigos não precisa se justificar por um abraço, hum? — ele disse e assim me abraçou novamente, aquele abraço era diferente de todos que eu me lembrava  de treze anos atrás, aquele abraço de agora era muito melhor que antes.
  Saímos do abraço e eu acenei sem jeito, peguei minha bolsa no banco traseiro do carro e sai, olhei para trás e vi me olhando esperando que eu entrasse, então acenei de novo e entrei em casa.
  — Bom dia, família. — Entrei em casa vendo minha mãe, Júlia e Leandro reunidos na cozinha.
  — Olha que quem é vivo sempre aparece — Júlia disse rindo.
  — Para, ela avisou que iria dormir em Goiânia — minha mãe disse para Júlia e eu aproveitei e fui até ela e a abracei.
  — Dormiu nos braços de Bittencourt? — Hiago perguntou me fazendo mostrar o dedo em resposta.
  — Vocês dois se completam, é um mais chato que o outro. Cadê Helena? — perguntei estranhando a falta da minha sobrinha, já que já era de tarde e suas aulas eram pela manhã.
  — Foi para a fazenda dos Bittencourt, ela e Bia tão igual a gente quando pequenas, ficava mais lá que aqui — minha irmã disse.
  — Ah tá — murmurei me sentando em uma cadeira ao redor da mesa da cozinha.
  — Ontem você tinha dito que aconteceu uma coisa lá em Goiânia, devo me preocupar? — minha mãe perguntou receosa.
  — Antônio ontem fez a maior cena em um restaurante que eu e o estávamos — falei suspirando e me afundando na cadeira em que eu sentava.
  — Cunhada, você tem que tomar providências quanto a esse rapaz — Hiago disse.
  — Eu não estou gostando nem um pouco do jeito que ele tá agindo com você, , estou me assustando com isso, filha — minha mãe disse parando de amassar a massa de alguma coisa que fazia, prestando atenção em mim.
  — Qual foi a da vez? — minha irmã perguntou.
  Contei a eles tudo que aconteceu e sobre como reagiu a Antônio, o que fez minha mãe dizer que iria agradecer pessoalmente depois por me proteger e também ouvir dela que eu não sairia de Crixás até uma medida protetiva ser aceita contra Antônio, eu nunca achei que chegaria a esse ponto, mas realmente estava demais e eu estava ficando com medo.    
  Dois dias se passaram e eu ainda estava na fazenda, trabalhava de forma remota e Karol me passava tudo que era necessário. Escutei batidas na porta do meu quarto e parei de prestar atenção nas minhas anotações para ver quem era, e vejo que Helena entrava no meu quarto.
  — Oi, princesa — falei sentando Helena em cima da cama ao meu lado.
  — Oi, tia — a menina disse me dando um beijo na bochecha. Ah, eu amava aquela criança. — Tia , você vai ficar aqui até a cavalgada de Crixás, né? Vai ter até rodeio! — Helena perguntou me surpreendendo, pois eu nem sabia que a cavalgada era por agora.
  — A tia precisa saber o dia certinho, meu amor, tenho que trabalhar — murmurei vendo minha sobrinha fazer uma carinha de triste.
  — É final de semana que vem, tia . Por favor, fica, vai, você só sabe trabalhar — Helena pediu.
  — Olha, não vou dar certeza, mas eu prometo que vou ver toda a minha agenda e ver se eu posso ficar, tá bom? — falei acariciando os cabelos da minha sobrinha.
  — Ebaaaa, vou correr e falar para a mamãe — a menina disse mudando rápido a feição de tristeza por uma animada, mesmo eu dizendo que iria pensar, desceu da cama e correu para fora do quarto me fazendo rir.
  Me levantei e decidi ir andar um pouco, o sol aquele dia estava forte como de costume para a região de Crixás, provavelmente estava fazendo seus 37° graus na sombra. De longe pude ver Hiago ocupado com algumas coisas, então decidi não atrapalhar e fui para o outro lado que daria para a represa enorme que tinha perto da sede.
  Parei de baixo de uma árvore que tava uma sombra maravilhosa e fiquei um tempo observando os movimentos da água, aquela paz, aquele ar puro que essa fazenda me proporcionava e as lembranças que eu tenho eu não trocava por nada.
  Meus pensamentos foram até , já havia se passado dois dias que nos vimos e depois não o vi mais. Soube por Hiago que ele estava atarefado com o plantio da soja e por isso ficava até tarde trabalhando, com a volta de na minha vida eu até agora não pude parar pra pensar sobre tudo, eu sinto falta quando ele não vem buscar Bia, ou quando ele não tá na sede quando vou levar Helena para brincar. Esses dois dias eu sinto que tá faltando alguma coisa e eu sinto que essa coisa tem nome e sobrenome.
Ele mal voltou e eu sinto que dependo de pelo menos saber dele e o que ele tá fazendo, as vezes em que estávamos juntos, o seu olhar sobre mim, suas palavras, tudo que ele fez pareceu encaixar tanto no meu mundo e eu sinto ao mesmo tempo medo, medo dele ter que ir embora novamente, medo de perde ele igual nos perdemos anos atrás. 

  Flashback on
  Crixás — Goiás 2011
  — Eu não acredito nisso, . — Tentava falar, mas meu choro era intenso.
  — Sim, , eu sinto muito, eu não posso ficar, mas olha — colocou suas mãos em meu rosto, fazendo com que eu olhasse para seus olhos —, não vamos nos perder, tá certo? Você é importante demais pra mim, , não sabe o quanto, eu não consigo ficar sem você, sem sentir seu cheiro, sem saber se você tá precisando de ajuda pra alguma coisa ou simplesmente te abraçar — falava firme e olhando nos meus olhos e eu só sabia chorar, eu o amava e não queria deixar ele ir embora assim.
   colou seus lábios nos meus de forma lenta e eu dei a passagem para aprofundar o beijo. O beijo começou calmo e não precisou de muito para se tornar um beijo profundo e quente. , com cuidado, foi me deitando no colchão que tinha ali naquela casa da árvore, ao fundo de tudo aquilo tocava Velha Infância dos Tribalistas no som portátil que tínhamos levado para lá, sentia os beijos de ficando cada vez mais profundos, então separei nossas bocas somente para que eu pudesse tirar a blusa que eu estava vestindo, ficando apenas com o sutiã rosa claro e o short jeans, nessa hora olhava meu corpo.
  Voltamos a nos beijar e então ele se deitou em cima de mim, apartava meu quadril e roçava o seu no meu, começou a beijar meu pescoço e eu joguei minha cabeça para trás dando livre acesso a ele, seus beijos desceram para o meu colo e ele, com a mão direita, desabotoou meu sutiã o jogando longe dali, minhas mãos estavam inquietas e ficavam entre arranhar as costas de por baixo de sua camiseta ou puxar seu cabelo.
   tirou sua camisa e a jogou na direção de meu sutiã e voltou a me beijar, nossas respirações estavam descompassadas e eu pude sentir o tesão de quando ele abocanhou meu seio esquerdo me fazendo arfar de prazer, levei minhas mãos à bermuda de e tentei retirar com dificuldade, sendo ajudada por ele que retirou a sua bermuda e jogou longe. Pude ver sua ereção coberta por sua cueca e aquilo deixou com mais vontade ainda de ter ele dentro de mim.
   levou as mãos ao meu short que logo fez companhia para o resto de nossas roupas. Enquanto beijava meu pescoço, sua mão passava na minha virilha por cima da minha calcinha que a essa altura já estava encharcada. Ele tirou de forma lenta minha calcinha e depois eu o ajudei a tirar a cueca e então estávamos ali, nós dois nus, provando o sabor um do outro.
   saiu de cima de mim rápido e pegou sua carteira retirando de dentro uma camisinha, colocou e voltou a se deitar por cima de mim, olhou nos meus olhos sem dizer nada, se ajeitou entre minhas pernas e devagar ele se encaixou em mim. No início os movimentos eram lentos e nos beijávamos, depois de um tempo nossos corpos trabalhavam de forma veloz, minhas mãos arranhavam suas costas e ora puxava seus cabelos, enquanto me abraçava com um braço só meu quadril e fazia pressão forte entre nossos corpos suados.
  Selei meus lábios aos de e surpreendendo ele, fiz um esforço para que ficasse por cima, me ajeitei em seu colo com ele segurando meu quadril e rebolei como se minha vida dependesse daquilo, e de certa forma dependia. Já estava sentindo os espasmos chegando e percebeu, com isso, a cada rebolada ele investia em mim com mais força até que chegamos juntos em um orgasmo perfeito.
  Caí sobre e deitei ao seu lado, encarando o teto de madeira da casa da árvore que passamos praticamente a nossa infância e adolescência inteira. tirou a camisinha, amarrou e jogou em uma sacolinha que tinha por ali e voltou a se deitar ao meu lado.
  — Eu vou sentir sua falta — disse o abraçando e colocando meu rosto na curva de seu pescoço.
  — Eu prometo voltar pra você, disse beijando minha cabeça e fazendo um carinho na minha costa nua.
  — Você é assim, um sonho pra mim — Comecei a cantar bem baixinho — e quando eu não te vejo, eu penso em você, desde o amanhecer, até quando eu me deito, eu gosto de você, e gosto de ficar com você, meu riso é tão feliz contigo, meu melhor amigo é o meu amor. — Terminei de cantar o refrão lembrando que essa era a música que tocava quando começamos a transar e a letra se encaixava na nossa história.
  — Minha melhor amiga é o meu amor disse com um sorriso leve e me deu um selinho. — É a nossa música agora.
  Flashback off

  Se antes de lembrar esses momentos Crixás marcava 37° graus, agora, depois de lembrar com tantos detalhes, estava 40° graus na sombra. Passei minha mão na nuca e respirei fundo. Não me entenda mal, não sou nenhuma tarada... ok, eu estou sendo uma tarada nesse exato momento, mas ninguém é de ferro. voltou com mais músculos, seu corpo me era convidativo toda hora e esse pensamento não me ajudava, minha vontade era de me lançar nesse lago aqui pra ver se esse fogo súbito ia embora.
  Meu momento safadeza foi interrompido pelo toque do meu celular, peguei o aparelho vendo o nome de Karol na tela.
  — Gata — falei respirando fundo.
  — Tava correndo, é? — Karol perguntou. — Tá com a voz cansada. — Pausa de alguns segundos e ela voltou a falar. — Não vai me falar que tava dando, ?
  — Credo, Karol, me respeita, não é nada disso, tá bom? — falei olhando o lago e passando a mão que estava livre na nuca. — É só o calor que tá demais aqui, só isso, mente poluída.
  — Ai, que pena, amiga, sinto que você precisa de um orgasmo urgentemente — minha sócia disse gargalhando e me fazendo rir sem graça.
  — Você não aceita ir pra cama comigo, já te disse que eu sou aberta para possibilidades — brinquei ouvindo Karol resmungar do outro lado da linha.
  — Nada contra, amiga, mas eu sei que não é o estilo de vida que escolhemos, tenho certeza que na primeira xerecada desistimos — Karol disse me fazendo gargalhar. — Ok, não liguei pra falar obscenidades com você, sua tarada.
  — Como você tá? — perguntei me sentando embaixo da árvore e escorando minhas costas nela.
  — Bem, fiquei sabendo da cavalgada e tava pensando aqui, será que a tia Denise não acha ruim se a filha de outra mãe dela for passar uns dias aí? — minha amiga perguntou.
  — Não acredito! — exclamei animada. — Helena me lembrou dessa festa hoje de manhã, eu falei que não sabia, mas se você vem, vou ficar por aqui te esperando — falei.
  — Então semana que vem eu tô chegando aí, arruma uma égua mansa pra mim, , última vez eu quase caí com aquele cavalo — Karol falou me fazendo lembrar da última cavalgada que participamos em que o cavalo que Hiago separou pra ela saiu em disparado fazendo ela se desesperar e ser salva por um coroa todo suado e que ficou na barra da saia dela a festa inteira.
  — Quer que eu procure pelo seu Lindomar e ver se ele pode te ajudar? — perguntei gargalhando e ouvindo ela me xingar de tudo que é nome.
  — Não me venha com velhos fedidos, , se for pra arrumar um velho que ele seja estilo Malvino Salvador. — Karol falou me fazendo ir.
  Ficamos conversando um pouco até que decidimos finalizar a ligação marcando dela vir para a fazenda na semana seguinte.

  
  — E aí, Jarbas, firme? — cumprimentei o caseiro da fazenda de longe, estava guardando meu cavalo na baia e ele passava com o carrinho cheio de feno para outras baias, voltei minha atenção ao que eu estava fazendo e vi Hiago entrar no paiol.
  — E aí, rapaz — disse batendo minha mão com a de Hiago em um rápido cumprimento.
  — Vim ver como tá aquela égua que pariu ontem — Hiago disse colocando as mãos na cintura.
  — Fique à vontade aí, cara — murmurei terminando de amarrar as cordas da sela que eu acabei de usar.
  — Então, vai na cavalgada? — ele perguntou colocando os braços sobre a porta da baia do cavalo que eu estava selado.
  — Sabe que não sei? Ando atarefado aqui, só sei que meus irmãos estão vindo aí, Henrique separou da namorada e pegou umas férias e Eliza aproveitou pra tirar uma segunda lua de mel com Leandro e também tá vindo aí, agora de mim você não terá uma resposta tão cedo — falei rindo e fazendo Hiago rir, guardei as cordas e a sela em seus lugares e Hiago me observava.
  — Sabe, cara, acho que você devia ir — disse passando a mão no cavalo de pelo escuro em sua frente.
  — Por que quer tanto que eu vá, hein? — perguntei olhando para Hiago que agora me olhava sorrindo.
  — A vai, cara, não é possível que vai deixar essa chance passar, mané. — Hiago bateu na minha cabeça.
  — Ah cara, nem me fala viu — murmurei passando as mãos nos meus cabelos e olhando pra cima. — Aquela mulher me deixa louco, louco. Eu não sei como agir, parece que volto a ter 17 anos de novo — falei colocando as minhas mãos na cintura e olhando para Hiago. — Depois que reencontrei ela o tempo pareceu que congelou aqui, sabe, a única coisa que mudou foi como ela ficou aquela gostosa — comentei, logo arregalando os olhos me lembrando rápido que eu falava com o cunhado dela. — Desculpa, cara, eu... eu não... — balbuciei e Hiago me interrompeu.
  — Cara, fica tranquilo que essa conversa não sai daqui, é minha cunhada e eu sei que ela é bonita, claro, não mais que a irmã dela que graças a Deus é minha esposa — falou convencido. — Mas acho que vocês merecem outra chance, sem aquela coisa de amiguinhos, por favor, seja homem e fale logo que quer algo sério.
  — Mas cara, como que eu vou fazer isso depois de treze anos? — perguntei.
  — Você tá pior que a , sinceramente. Cara, olha só, se não quer ir falar com ela direto ao ponto, por que não começa por onde parou? Cadê aquele amigo dela que foi embora anos atrás? Vai, cara, você consegue chamar ela pra conversar sobre suas histórias, relembra ela de coisas que só vocês sabem e aí você vai saber o momento certo. — Hiago falava me fazendo pensar, eu havia prometido a que voltaria por ela anos atrás e, realmente, o que eu estava esperando para colocar em prática tudo que eu quis colocar anos atrás? Não éramos mais crianças, somos dois adultos, agora com responsabilidades e uma delas era Bia, eu não poderia ir adiante se minha filha não estiver a favor disso.
  — Eu preciso conversa com Bia antes, cara — falei apoiando meus braços na divisória da baia do cavalo ao lado de Hiago.
  — Pelo que eu sei da sua história, sua filha nunca teve a oportunidade de te ver com alguém, cara, eu entendo que ela é sua prioridade porque a Helena é a minha, mas não fala nada pra ela que ainda não seja concreto, Bia é uma criança incrível e acredito que ela não vá achar ruim — Hiago disse batendo em meu ombro.
  — Você não tá nada mal em conselhos, é minha fada madrinha agora — falei arrancando gargalhadas de meu colega.
  — Me deve uma cerveja, cabra — respondeu rindo e saindo de perto da baia. — Vou olhar a égua, depois a gente se fala — Hiago saiu em direção à baia que estava com a égua parida e seu filhote.

  A semana se passou rápido, meus irmãos já haviam chegado de Uberaba e já estavam acostumados com a vida na fazenda de nossos pais, Bia estava adorando, pois seus tios faziam tudo e mais um pouco para mimar. Estávamos tomando banho no lago e fazendo churrasco, enquanto Bia gargalhava com Henrique e Leandro brincando com ela, Eliza estava sentada ao meu lado e de nossos pais.
  — Havia me esquecido de como o sol aqui é forte — Eliza disse ajeitando o óculos de sol em seu rosto.
  — Até eu, filha — minha mãe disse. — Passou protetor em Bia, filho? —perguntou e eu concordei.
  — Podia ter chamado a Denise com a família — meu pai falava bebendo sua cerveja.
  — Denise tá com visita, a amiga da tá na fazenda, veio para a cavalgada — minha mãe respondeu.
  — E aí, família, quem é que veio pra cavalgada além da gente? — Henrique se sacudiu e jogou água em minha irmã e na minha mãe, fazendo as duas reclamarem.
  — A amiga da — Eliza respondeu.
  — A tia Karol, ela é muito bonita, sabia? — Bia falou sentando no chão perto de onde eu estava sentado.
  — Você apresenta pro tio? — Henrique perguntou pra Bia e eu joguei um cubo de gelo nele.
  — Vai aprender a paquerar sozinho sem usar a minha filha, rapaz — retruquei fazendo todos rirem.

  O dia da cavalgada chegou, então eu e minha família colocamos as gaiolas nos carros para levar até Crixás que era onde ocorria a festa, saímos em três carros, o meu, dos meus pais e de Eliza que dessa vez veio de carro de Uberaba.
  A cidade estava uma verdadeira festa, além da cavalgada era comemorado dia de Santa Rita, a padroeira da cidade, então tinha barracas de tudo que você imaginar. O local onde ia acontecer o rodeio era dentro do espaço agropecuário da cidade e também estava lotado de gente, estacionamos nossos carros e então selamos os cavalos, eu, Henrique e meu pai que estávamos montando, já Eliza, minha mãe, Leandro e Bia estavam sem montar.
  Fizemos todo o trajeto da cavalgada junto com os outros que iriam participar com os cavalos e logo no fim encontramos o restante da nossa família sentado em uma lanchonete que tinha no centro da cidade. Eu, meu pai e Henrique amarramos os cavalos ali perto e fomos nos sentar junto com o pessoal.
  — Papaaaaaaai! — Bia gritou assim que me viu.
  — Oi, meu amor, se comportou com a vovó? — perguntei me sentando em uma cadeira ao redor da mesa da lanchonete.
  — Sim, sim, papai, a vovó deixou eu andar de pônei, tomei sorvete, comi balinha e ainda a vovó deixou eu brincar com a Helena — Bia informou dando pulinhos.
  — Essa mocinha hoje tá toda serelepe — minha mãe disse me fazendo rir.
  — Olha que gata. — Henrique, que estava sentado de frente pra mim, falou abaixando os óculos. Olhei na direção em que ele olhava e perdi o ar vendo chegando com Karolyne.
   estava com os cabelos soltos e com óculos de sol, vestindo um body preto de golinha alta que ficava bem justo ao seu corpo e uma calça marrom de cós alto; nos pés calçava uma bota preta.
  — Quer um babador, maninho? — Eliza murmurou bem perto de mim me fazendo cair na real.
  — Oi, pessoal. — chegou bem na hora em que eu ia responder a minha irmã.
  — Oi, sua gata — Eliza disse se levantando e abraçando .
  — Oi, — murmurei sorrindo pra ela e ela sorriu em resposta e em seguida indo cumprimentar o restante do pessoal.
  — Essa aqui é a minha amiga, a Karolyne. — Ela apresentou Karol pro restante do pessoal.
  — Prazer em conhecer vocês — Karol murmurou.
  — Senta aqui, meninas. — Henrique, que não perde tempo, arrumou duas cadeiras colocando ao seu lado.
  — A tia vai sentar aqui pertinho de mim! — Bia exclamou pegando na mão de e colocando ela sentada ao meu lado. Eu estava nervoso e eu não entendo o porquê disso, quando será que vou parar de ficar igual um tapado perto dela?
  — Então vocês são a turma que a me falava sempre — Karolyne disse se sentando ao lado do meu irmão.
  — sempre foi uma querida — meu pai disse.
  — Então, Karol, você e a se conhecem há muito tempo? — Minha mãe puxou o assunto.
  — Na faculdade — Karol falou e iniciou uma conversa com meus pais e meus irmãos.
  — E aí, como você tá? — perguntou me olhando e passando as mãos no cabelo de Bia que estava em seu colo.
  — Bem, andei muito atarefado esses dias com a soja e tudo — murmurei bebendo um pouco da minha cerveja.
  — É, Hiago meio que me falou mesmo, estão fazendo um ótimo trabalho — disse.
  — E você, achei que já tinha voltado pra Goiânia — comentei.
  — Não, ainda não, preciso de mais tempo aqui, sabe.
  — Papai, a tia não tá linda? — Bia falou de repente.
  — Tá, filha. — Olhei nos olhos de e falei. — Muito linda. — Pude perceber que ficou vermelha.
  — Obrigada — ela respondeu sem jeito.
  — , sua mãe e sua irmã onde estão? — minha mãe perguntou.
  — Bom, meu pai e minha mãe foram levar os cavalos pra fazenda novamente e Júlia e Hiago foram levar Helena pra andar de pônei — falo rindo.
  — Então ligue pra eles e vamos todos pra nossa fazenda, vamos estender essa festa toda pra lá — Meu pai falou.
  — É que eu tenho que ver onde Júlia tá, eu e Karol pegamos carona com eles — informou pegando o celular.
  — Pode deixar, você e Karol podem ir comigo — ofereci vendo me olhar e concordar sorrindo.
  — Então eu vou chamar eles e podemos ir — ela disse.
  Organizamos tudo, falamos por telefone com os Rosique que faltavam e depois de colocar todos os cavalos nas gaiolas e, cada um com seu carro, fomos para a fazenda. Ao chegar fizemos uma roda no quintal e estávamos bebendo e comendo algumas coisas a base de muita risada. Júlia, Hiago, Denise e Helena já haviam chegado e Helena e Bia corriam pela fazenda.
  — Lembra, , aquele dia que o teve que sair correndo porque aqueles moleques da escola juraram que ele tinha furado os pneus da bicicleta? — Henrique falava rindo.
  — Ah, para, né? Seu mané, eu sei que foi você que fez aquilo — eu disse rindo.
  — Não foi ele não, , fui eu — disse batendo seu ombro no meu, rindo.
  — Não acredito, você fez aquilo e me deixou tomar a culpa? — perguntei rindo e vendo-a rir também.
  — Claro, você é maior que eu. — Riu debochada.
  — Você era um capetinha, — murmurei rindo.
  — E você não ficava atrás — disse chegando bem perto de mim e falando no meu ouvido.
  — Não mesmo. — Falei com a voz mais rouca que o normal e passando meu braço por trás de abraçando o quadril dela mesmo estando sentados um ao lado do outro. Ficamos olhando um nos olhos do outro por um tempo, nem eu e nem ela tínhamos coragem de sair daquele contato, fomos tirados desse contato quando ouvimos a voz de Henrique chamar Karol.
  — Karol, quer dança? — ele perguntou.
  — Quero sim — ela respondeu pegando na mão que meu irmão estendia e começaram a dançar, a música era “Outra Vida” do Armandinho.
  — Karol é rápida, menino — comentou perto do meu ouvido observando os dois dançando.
  — Então ela e o Henrique são iguais. — Ri, fazendo rir e deitar a cabeça no meu ombro.
  Ficamos ali observando os dois dançarem, bebendo nossa cerveja até que a próxima música que começou foi “Velha Infância” dos Tribalistas, nessa hora eu me arrepiei, era ao som dessa música que eu havia prometido voltar pra , percebi que ela também ficou nervosa porque passou sua mão na nuca.
  (n/a: Podem colocar pra tocar)     

  Você é assim
  Um sonho pra mim
  E quando eu não te vejo
  Eu penso em você
  Desde o amanhecer
  Até quando eu me deito              

  A música começou e me parecia tão nervosa quanto eu, mas não falou nada, observei todos ao redor e cada um fazia algo, Henrique e Karol cantavam a música alto; Eliza e os demais conversavam entre si e ali estava eu e , parados compartilhando do mesmo sentimento. Então, sem que minha cabeça começasse a pensar demais, eu tomei coragem.
  — Acho que te devo essa dança — falei apontando minha mão para que pegasse.
  Ela me olhou assustada por um momento e depois sorriu pegando na minha mão, nos levantamos e fomos onde estavam Karolyne e Henrique, passou seus braços por minha nuca e deitou a cabeça em meu ombro, me arrepiei quando senti sua respiração na minha nuca

  Eu gosto de você
  E gosto de ficar com você
  Meu riso é tão feliz contigo
  O meu melhor amigo é o meu amor

  E a gente canta
  E a gente dança
  E a gente não se cansa
  De ser criança
  A gente brinca
  Na nossa velha infância

  Seus olhos, meu clarão
  Me guiam dentro da escuridão
  Seus pés me abrem o caminho
  Eu sigo e nunca me sinto só

  A cada minuto de música eu apertava mais em meus braços, o cheiro do seu cabelo estava me deixando anestesiado e eu nunca tinha reparado no quanto eu precisava dela na minha vida, a respiração de ainda batia na minha nuca e eu pude perceber que estava com a respiração descompassada.

  Você é assim
  Um sonho pra mim
  Quero te encher de beijos
  Eu penso em você
  Desde o amanhecer
  Até quando eu me deito

  Eu gosto de você
  E gosto de ficar com você
  Meu riso é tão feliz contigo
  O meu melhor amigo é o meu amor

  E a gente canta
  A gente dança
  A gente não se cansa
  De ser criança
  A gente brinca
  Na nossa velha infância

  Seus olhos, meu clarão
  Me guiam dentro da escuridão
  Seus pés me abrem o caminho
  Eu sigo e nunca me sinto só

  Você é assim
  Um sonho pra mim
  Você é assim
  Você é assim
  Um sonho pra mim
  Você é assim
  Você é assim
  Um sonho pra mim
  Você é assim

  Você é assim
  Um sonho pra mim
  E quando eu não te vejo
  Eu penso em você
  Desde o amanhecer
  Até quando eu me deito

  No último refrão olhou nos meus olhos e cantou baixo as mesmas letras que anos atrás eu a ouvia cantar pra mim e aquilo me pareceu um sinal que eu precisava dela, e não como amiga, eu precisava viver com ela todo o amor que a gente deixou anos atrás.

  Eu gosto de você
  E gosto de ficar com você
  Meu riso é tão feliz contigo
  O meu melhor amigo é o meu amor

   cantou, cantou olhando nos meus olhos, sem perder o contato, era como se tivesse só nós dois ali.
  — Arrasou, vocês dois — Karolyne disse batendo palma tirando eu e do nosso mundo.
  — Essa música é linda, né? — Eliza disse tentando não deixar eu e sem graça, o que não ajudou muito.
  — Eles dois são lindos juntos. — Ouvi meu pai dizer para minha mãe e Denise.
   me soltou rápido e passou as mãos na nuca e respirou fundo, me olhou rápido e foi se sentar perto dos demais, respirei fundo colocando as mãos no bolso traseiro da minha calça e fui pegar uma cerveja, eu estava confuso e quando saiu dos meus braços pareceu que estava faltando um pedaço meu.

  
  Chegamos em casa por volta de uma hora da manhã e todos foram para seus respectivos quartos, como Karol dormia no meu, então entramos e separamos nossas roupas para um banho. Karolyne estava calada e eu ainda estava no mundo da lua, aquela dança, aquela música mexeu comigo mais do que eu esperava.
  Nos braços de eu me senti segura, mas longe eu me sentia confusa, confusa porque não sei se estou preparada pra passar uma borracha em tudo do passado, confusa em me entregar a um amor tão machucada das outras relações, mas ao mesmo tempo era como um magnetismo, eu era puxada pelas lembranças, eu praticamente estava engolida pela vontade de ser de ...
  Eu e Karol tomamos nosso banho, deitamos e eu não parava de pensar.
  — Você tá no mundo da lua, né? — Karolyne perguntou deitada virada para o meu lado.
  — Por que tudo tem que ser tão difícil, Karol? Por que eu sinto que não merece essa bagunça que eu sou? — questionei segurando o choro.
  — Ai, amiga, que bagunça o quê, você mais que ninguém merece ser feliz — minha sócia falou me abraçando.
  — Eu hoje percebi que nunca deixei de amar ele, Karol, ele faz parte de todas as minhas memórias, eu... eu nunca percebi que preciso tanto. — Deixei o choro sair e recebi o abraço de minha amiga, e foi assim até eu pegar no sono.
  O dia seguinte amanheceu lindo, acordei antes de Karolyne e nem perdi tempo deitada, decidi colocar uma calça montaria e uma blusa de manga três quartos preta e uma bota, arrumei meu cabelo e saí do quarto, passei na cozinha e encontrei somente o café feito e um bolo de fubá que minha mãe fazia que eu tanto adorava, provavelmente todos já estavam na lida e Helena já na escola.
  Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Karol ver quando acordasse falando que precisava cavalgar pela fazenda um pouco e que ela já era de casa, fui até o paiol e procurei pela minha égua, essa égua era filha de Matilde, uma outra égua que eu tinha quando pequena que infelizmente já havia partido.

  Flashback on
  Crixás - Goiás 2004
  — Eu tenho que te contar uma coisa e que você vai gosta. — disse.
  — Lá vem — murmurou.
  — Para, seu besta, eu aproveitei que papai foi em Crixás e comprei uma sela nova, quer ver como fica na Matilde? — falava com os olhos brilhando.
  — Vamos. — concordou se colocando de pé.
  — Vou avisar minha mãe, só um minutinho. — saiu correndo em direção onde estavam seus pais e os pais de , depois de alguns minutos ela voltou e os dois foram à baia onde ficava Matilde e o resto dos cavalos.
  — Quero andar no Bruce. — falou já procurando a sela marrom que era sua favorita para andar no cavalo.
  — Olha essa sela, . — colocou com um pouco de esforço, por conta do peso, a sela em cima de uma pequena mesa que tinha dentro da baia, se tratava de uma sela toda em couro sintético da cor preta com as fivelas em prata. Realmente, em cima de Matilde, aquilo iria ficar lindo. — Também comprei uma manta nova pra minha filha e o protetor de rim — disse toda contente.
  — Matilde tem sorte de ter uma dona que se importa tanto com ela assim — murmurou feliz.
  — Vem, vamos colocar nela! — saiu andando em direção à baia da égua, chegou lá e encontrou o animal em seu lugar que, como se conhecesse sua criadora, relinchou. — Oi, minha filhinha, estava com saudade da mamãe? Eu tenho um presente pra você.
  Flashback off

  Até isso tinha lembrança de , eu estava angustiada com todo sentimento velado que senti ontem por ele, então arrumei a sela em Estrela, minha égua, e quando ia sair da baia, avistei Hiago, disse a ele que iria cavalgar pela fazenda e que se minha mãe ou Karol me procurassem era para ele falar para elas.
  Saí em disparada com Estrela sem rumo, não queria pensar em nada naquele momento, só queria sentir o ar puro, me sentir livre, me sentir leve, mas era um pensamento que me dominava e depois que ele voltou era algo que eu não tinha controle e eu tinha que aceitar.
  Guiei Estrela rumo ao rio que tinha ali na fazenda, quando chegamos eu desci da égua e a deixei ali pastando, porém, amarrada sua sela não muito curta em uma árvore assim ela teria a liberdade de poder pastar pelo espaço sem restrições. Fui até a margem do rio e me sentei em uma pedra e ali fiquei.
  A água estava calma e o reflexo do sol fazia com que fosse como espelho, refletindo o céu tão limpo que estava sobre tudo aquilo, realmente esse sim é um paraíso. Me perdi em pensamento até que ouvi o barulho de alguém pisando em galhos perto de mim, quando fui me virar e ver quem era eu escutei aquela voz que me fazia arrepiar a todo momento.
  — Senti saudades desse rio — falou me olhando e depois olhando o rio com as mãos nos bolsos da frente de sua calça.

Capítulo 4

  
  Fiquei surpresa ao ver diante de mim, nunca que eu imaginaria que ele fosse chegar ali. Meu coração estava acelerado contribuindo para minha respiração ficar do mesmo jeito, tentei respirar fundo ainda analisando que não falava nada, mas olhava o curso do rio em nossa frente com as mãos no bolso. Respirei fundo novamente e falei:
  — Vejo que tivemos a mesma ideia, certo?
  — Não, infelizmente não foi coincidência, passei na fazenda e perguntei a Hiago se estava em casa e ele me disse que você veio cavalgar — disse me olhando. Parou, soltou um riso fraco e então voltou a falar. — Então imaginei que estaria aqui, pelo menos era aqui que você vinha quando queria pensar ou ficar sozinha. — Aquele homem não poderia ser mais perfeito, não era possível que ele ainda lembrava disso.
  — Fazem tantos anos, acho admirável que ainda guarde essa lembrança com você depois de tanto tempo — falei sem graça, sendo observada por .
  — Isso é apenas uma de muitas recordações, , foi importante pra mim — ele disse fazendo minha barriga sentir calafrios. — A gente precisa conversar e eu estou falando isso já faz tempo — continuou se sentando ao meu lado na pedra e olhando na mesma direção que eu olhava o rio.
  — eu... — Comecei a falar e ele me interrompeu.
  — Olha, , eu não vou deixar essa conversa passar e você vai me ouvir aqui e agora e depois você decide o que vai fazer. — respirou e passou a mão nos cabelos. — Olha, , eu sempre achei que esse sentimento era coisa de infância, adolescência, mas com o tempo, com o amadurecimento, eu vi que o que eu senti por você anos atrás foi intenso, foi completo, foi amor, . Eu achei que poderia passar, mas depois que eu retornei e te reencontrei, vi que não adiantou amadurecimento, não adiantou distância, não adiantou outros relacionamentos, , foi você, é você e vai continua sendo você quem eu quero. — terminou de falar e sua respiração estava tão ofegante quanto a minha, seu olhar encarava os meus e eu por um minuto achei que não existia gravidade, estava tudo rodando a minha volta.
   ficou calado apenas observando minha reação diante dele que era um completo silêncio e olhos arregalados, o que acontece era que eu me sentia da mesma forma que ele. Mesmo não sendo um namoro oficial na época, nosso romance foi exatamente como descreveu, intenso seria a palavra certa, e realmente depois de vários relacionamentos, traumas e fases da vida longe de eu me sentia exatamente da mesma forma em relação a ele.
  Eu deveria ter falado algo, já que aquilo era uma conversa, mas toda essa saudade de anos e o desejo reprimido esse tempo todo depois da volta dele me fizeram tomar uma atitude, quando vi, já estava nos braços de o beijando, ele logo abriu a boca retribuindo o meu beijo e ali iniciamos um beijo calmo, porém, cheio de sentimentos de muito tempo. Eu imaginava que beijar novamente seria como voltar a 2011, mas não, era diferente, era melhor e eu estava amando aquilo. O beijo durou acho que tempo demais porque eu e , chegou um momento, estávamos sem ar, nos distanciamos devagar um olhando para o outro.
  Ri de nervoso e decidi falar alguma coisa:
  — Eu sinto o mesmo, , confesso até que achava que era coisa da minha cabeça, sabe? Mas não passou, e anos atrás nós fizemos escolhas equivocadas, éramos novos, mas acho que agora o destino deu a chance de conserta tudo — disse sorrindo e vendo-o sorrir. — E eu senti tanta saudade sua — falei rápido e o abracei novamente.
  Ficamos ali matando nossa saudade até que percebemos que estávamos ali fazia tempo demais.
  — Precisamos ir — falei me aconchegando mais nos braços de .
  — Não, não precisamos — murmurou e eu gargalhei junto com ele.
  — Sim, vai, precisamos, minha mãe vai estar louca da vida, eu saí cavalgando há horas, ainda era dia, e agora já deve ser a hora do almoço, — coemntei saindo dos braços de e me levantando sendo seguida por ele.
  — Tá bom então, senhorita — disse se dando por vencido. — Eu também preciso ir, Bia ficou a manhã toda com minha mãe e eles nem sabem onde eu tô — ele falou passando as mãos na nuca.
  — Tá... E , e agora? Como nós vamos ficar? — perguntei sem graça. — Nós falamos coisas bonitas e verdadeiras aqui um pro outro, mas e agora? Onde envolve família, sua filha — falei.
  — , por algum momento você ainda duvidou de tudo isso que eu falei pra você aqui? — perguntou.
  — Não, , claro que não, mas é complicado — falei exaltada e respirei fundo. — Olha eu adoro a sua família eu os conheço de nascença e a sua filha é a coisa mais fofa de verdade, , mas e se ela estranhar? É a sua filha.
  — , calma. — se aproximou e colocou suas mãos no meu rosto fazendo com que nossos olhares se encontrassem. — Se sua preocupação for a Bia, sobre o que ela vai achar, fica tranquila, ela é uma criança e eu sempre converso com ela sobre tudo da forma que a idade dela entende, , agora, sobre nossas famílias, nós não podemos errar igual anos atrás. — O olhar de era profundo e eu podia sentir a segurança das suas palavras, se eu estava a ponto de cometer o mesmo erro de anos atrás com aquela segurança que ele me passou ali naquele momento, meus medos foram todos evaporados e eu estava pronta pra viver tudo aquilo de todas as formas possíveis.
  — Tá, você tá certo — falei e sorri recebendo um selinho de que logo virou um beijo profundo e cheio de primeiras, segundas e terceiras intenções.
  — Aaaai . — separou nosso beijo e disse respirando fundo, olhando para o céu comigo ainda em seus braços, me fazendo rir.
  — Agora é sério, precisamos ir — falei indo em direção à Estrela, mas logo sendo puxada novamente, me chocando com o corpo de .
  — Espera... — ele disse sorrindo. — Antes de ir eu preciso fazer uma pergunta que anooos atrás eu deveria ter feito: namora comigo? — perguntou me deixando surpresa.
  — Namoro sim, namoro mil vezes com você! — exclamei abraçando-o forte e unindo nossos lábios em mais um dos beijos com várias intenções
  — Se você continuar me beijando assim, nós vamos ficar por aqui mesmo — disse com a voz rouca e a respiração pesada deixando nossas testas coladas uma na outra, me fazendo arrepiar toda.
  — Então acho melhor ir — disse tentando colocar minha respiração no lugar, aquele lugar estava pegando fogo.
  Eu e fomos onde nossos cavalos estavam pastando e fomos cavalgando lado a lado, me acompanhou até em casa e eu estava com um frio na barriga de imaginar alguém nos vendo juntos depois de tanto tempo sumidos. Eu sei, eu não sou aquela adolescente, mas eu estava com um frio na barriga bom, era uma sensação de felicidade, mas infelizmente não vimos ninguém pela fazenda.
  Me despedi de e ele foi embora cavalgando com seu cavalo em direção de sua casa, guardei Estrela e fui para a sede, entrei em casa cantando e saltitando, levei um justo quando Júlia tossiu para chamar minha atenção, lá estavam eles, Karol, Helena, Júlia, Hiago e minha mãe, todos ao redor da mesa da cozinha comendo e me olhando como se eu estivesse escondendo algo.
  — Posso ter a honra de saber onde a senhorita se encontrava? — minha mãe perguntou séria, mas eu sabia que aquilo era puro teatro, no fundo ela queria rir da situação.
  — Tava com um passarinho verde, mãe — Júlia disse rindo.
  — Tá mais pra pavão — Karol falou rindo com Júlia minha irmã.
  — Eu acho que até sei o nome desse passarinho ou pavão, como decidirem — Hiago disse rindo e colocando uma porção de comida na boca.
  — A tia sumiu igual o , pai da Bia, sumiu hoje, todo mundo tava preocupado aonde ele tava. — Helena. Aquela criança tinha que ser tão observadora?
  — AAAH, mas quanto interrogatório! — retruquei segurando o riso e me sentei próximo a Helena.
  — Fala logo. — Júlia gargalhou e depois jogou o guardanapo em mim. — Não, espera! — disse arregalando os olhos e tampando os ouvidos de Helena.
  — Ai, sua boba.
  — Não é nada que você está pensando, sua boba — murmurei me servindo com um pouco de torta que minha mãe tinha feito para o almoço, mas com o sorriso no rosto. — Tá, vou conta — falei colocando o prato na mesa e olhando para minha família. — Eu e estamos namorando — anunciei e pude ver a reação de todos da minha família, minha mãe colocou as duas mãos sobre a boca, Júlia gritou e bateu palmas, Hiago disse um “isso aí, cunhadinha” e Helena bateu as mãozinhas na mesa e gritou igual Júlia gritou em comemoração.
  Eu amava que minha família era exatamente assim, comemorava um pelo outro e ali eu me sentia protegida e amada de uma forma incondicional.

  No dia seguinte percebi que tinha muito trabalho na fazenda. Júlia e minha mãe receberam vários pedidos de queijos e iogurtes e Hiago estava aflito com as vacinações da aftosa no gado, então eu e Karol decidimos ajudar na produção com Júlia minha mãe. Claro que eu ajudava a lavar as coisas, pois na parte de fazer tudo eu era uma negação. Ficamos a parte da manhã inteira lá.
  — , será que você poderia buscar Helena pra mim? — Júlia perguntou enquanto torcia a massa do queijo. — O ônibus não vai fazer a rota de volta hoje — falou colocando a massa no molde. 
  — Posso sim, Ju — falei colocando o pano de prato no ganchinho próprio para ele.
  Senti meu celular vibrar no meu bolso, era sinal de mensagem já que eu sou acostumada a silenciar tudo. Peguei o mesmo vendo o ícone do WhatsApp na tela, abri o aplicativo e vi que era uma mensagem de .

  WhatsApp on
  : Estou morrendo de vontade de te ver, vem buscar a Bia comigo na escola hoje?
  : Nossa quanta honra haha, Júlia pediu pra buscar a Helena também, acho que podemos ir juntos.
  : Passo aí em alguns minutos 
  : Te espero
  WhatsApp off

  Guardei o telefone no bolso e Júlia cutucava minha mãe para olhar para mim.
  — O que foi, hein? — perguntei rindo.
  — A sua cara de boba pro celular, será que era quem, hein, Júlia? — minha mãe falou me fazendo rir junto com minha irmã e Karol.
  — Eu acho que já vi esse olhar, é o mesmo de quando ela me contava da infância de vocês, sabe, Júlia? Onde tinha o personagem de par romântico chamado — Karol murmurou irônica.
  — Suas bobocas — retruquei chegando perto da minha mãe a abraçando de lado. — Era o perguntando se eu queria ir buscar a Bia com ele, eu aproveitei e falei que buscava Helena junto — informei, vendo Júlia, Karol e minha mãe sorrirem. 
  — Ótimo, tá vendo, mãe, é pra isso que eu gosto quando a tá aqui e agora o de comboio, eles vão levar a Helena pra cima e pra baixo. Aí, maninha, é pra isso que madrinha serve — Júlia disse beijando minha bochecha e me fazendo rir.
  — Agora, tia Denise, eu tenho que ficar fazendo companhia pra senhora, já que vai me abandonar — Karol disse pegando o pano de prato de suas mãos e cutucando minha mãe. 
  — Ah minha filha, você não liga pra ela não, viu? Aqui você tem passe livre até sem ela — minha mãe disse fazendo todas nós rirmos e eu fingi cara de chateada. 
  — Tá, tá, já chega — disse saindo de perto das três. — Eu vou tomar um banho pra ficar cheirosa pro meu boy — falei e saí correndo ouvindo as três gozando com minha cara.
  Tomei banho, fiz meu ritual cheiroso – porque podem falar de mim, mas não falem que não sou cheirosa –, e escolhi uma blusa branca de mangas curtas, uma calça jeans skinny clara e uma bota texana marrom deixando meus cabelos soltos.
  Saí do quarto e fiquei esperando sentada na varanda da sede e pensando sobre um futuro projeto que queria fazer na fazenda quando ouvi a buzina do carro dele, fui até o veículo e quando entrei, analisei aquele homem maravilhoso que agora era meu namorado: cheiroso como sempre, com a camisa social da cor azul escuro que apertava seus braços e deixava todos os músculos desejosos, sua calça jeans da cor preta e um coturno preto.
  — Oi, namorado — disse me sentando no banco do passageiro e fechando a porta do carro.
  — Oi, namorada — respondeu chegando perto de mim me puxando e me dando um beijo daqueles... isso, daqueles que eu perdia o fôlego, acho que eu vou morrer sufocada de tanto fôlego perdido, qualquer coisa que esse homem faz é assim.
  — Esses seus beijos são um tanto quanto viciantes — falei olhando nos olhos de com minha testa colada na dele.
  — Fico feliz em saber disso, os seus não ficam para trás, acho que isso nos faz ser um casal de sortudos? — ele murmurou me roubando um selinho e me fazendo rir, depois se endireitando no banco do motorista. — Vamos? — perguntou.
  — Simmm — concordei colocando o cinto. — Eu tenho uma pergunta — falei vendo dirigir. — Ontem quando você chegou, qual foi a reação da sua família? — perguntei me lembrando do quanto a minha estava eufórica e já imaginando o que estava acontecendo.
  — Bom, minha mãe estava quase batendo no meu pai porque ele não ia atrás de mim e nem sabia onde eu tava, igual quando eu tinha meus 13 anos aqui nessas fazendas mesmo — começou bem humorado me fazendo rir. — Eu não tinha falado que iria sair nem nada, Bia estava para o colégio, meu pai achou que eu tinha ido ajudar Hiago com as vacinas, né, então quando eu cheguei, já na hora do almoço, depois de uma manhã inteira sumido, minha mãe pirou — falava ora olhando para mim e ora olhando para a estrada.
  — Lá em casa todos já imaginavam, porque o senhor fez questão de procurar Hiago sobre onde eu estava, então eles juntaram as pecinhas e estavam soltando fogos de artifícios — informei vendo rir e batucar o volante.
  — Eu já contei pra minha também, viu, gracinha, se é essa a sua revolta — ele disse e continuou. — Cheguei e minha mãe perguntou se eu estava com Hiago, porque, que nem eu te falei, meu pai achava que eu estava lá, né, então eu falei que tinha uma coisa pra contar. — continuou e me olhou rapidamente.
  — Vai, homem, fala logo — exclamei com ansiedade.
  — Calma, mulher. — riu. — Bom, eu falei que estávamos conversando e que decidimos continuar o que a gente tinha anos atrás — falou sorrindo.
  — E a Bia, ? — perguntei preocupada.
  — Com a inocência de uma criança, que é o que Bia é, ela me perguntou o que eu tinha com você, e eu disse que quando éramos jovens grandes, porque não quero passar a ideia de que ela pode namorar com seus 17 anos — disse com uma careta e me fazendo rir pelos seus ciúmes de pai —, eu disse que namorávamos e que você era a minha companheira de vida assim como meus pais são e os avós dela por parte de mãe, a Eliza com o tio Leo... — concluiu.
  — E ela aceitou de boa? — perguntei novamente.
  — , Bia é uma criança, é claro que temos que levar em conta os desejos dela, as objeções, porque ela além de criança é a minha filha, a coisa mais importante da minha vida, mas a Bia te adora, , eu nem sei como você conquistou ela tão rápido, mas ela sempre fala de você lá em casa, então quando eu expliquei pra ela e falei que, mesmo com você, ela continuaria ali comigo e que agora, além de mim, ela teria você, porque nem precisa de pedir ou você falar, eu sei que você vai ser maravilhosa com ela porque eu conheço seu coração, ela ficou extremamente feliz por nós, entende? — disse tudo aquilo dirigindo de uma maneira tão natural que eu acho que ele nem percebeu que aquelas palavras pra mim saíram como uma declaração de amor.
  — , para o carro — murmurei com os olhos fixados nele, ele olhou rápido pra mim, sem entender. — Vai, , para esse carro! — exclamei vendo-o parar.
  — Ma... — ia falar, mas antes que algo saísse de sua boca, eu me atirei em seus braços e o beijei.
  Seguimos o caminho para a escola de Bia e Helena e, quando chegamos, fomos até a portaria mostrar a autorização que Júlia tinha me entregado para buscar Helena. Esperamos buscarem as duas por um tempinho até que duas pipoquinhas apareceram correndo em direção ao portão.
  — PAPAIII! — Bia correu em direção a e Helena veio em minha direção. — TIA EVA! — Bia disse me abraçando depois que Helena saiu do meu abraço.
  — Oi, tio — Helena cumprimentou. — Vocês vieram buscar a gente? —perguntou ajeitando a mochila nas costas.
  — Sim, princesa, vamos? — perguntei vendo as duas meninas alegres.
  Fomos em direção ao carro de , colocamos elas nos bancos de trás com o sinto de segurança e entramos no carro.
  —  Que tal um sorvete? — falou olhando pelo retrovisor do carro as meninas no banco traseiro.
  — A vovó vai briga com o senhor por me dar sorvete antes do almoço — Bia falou me fazendo gargalhar e segurar o riso fingindo uma cara de medo. — Mas eu prometo não contar, papai.
  — Tio mentindo pra tia Beatriz, que coisa feia — Helena disse brincando fazendo todos gargalhar e cruzando aqueles bracinhos pequenos.
  — Helena, prometo pagar uma cobertura com várias guloseimas pra você — murmurou fazendo os olhos da minha sobrinha brilharem com a possibilidade.
  — Como é chantagista ele — falei para meu namorado, vendo ele me mandar língua.
   dirigiu até uma sorveteria próxima à escola das meninas, escolhemos nossos sorvetes, o das meninas com o maior número e coloridas guloseimas que existia dentro daquela sorveteria para a alegria das duas. Sentamos à uma das mesas que tinha na frente da sorveteria e ficamos em silêncio por um breve momento só nos deliciando com o sorvete.
  — Então, meninas, eu queria falar com vocês e em especial com você, minha filha. — começou e trocou um olhar comigo.
  — Eu não fiz nada, pai, eu prometo — Bia falou assustada me fazendo rir.
  — Não é nada disso, filha. — riu e passou a mão nos cabelos da filha. — Você se lembra que o papai conversou com você sobre a tia ? — perguntou e vi Bia assentir, então continuou: — Eu e a tia estamos namorando e eu só queria saber o que você acha disso. — Terminou de falar e Bia trocou olhares com Helena. As duas riram fazendo com que eu e ficássemos confusos.
  — Somos primas agora, Biiiia! — Helena exclamou abraçando Bia e eu achei aquela cena a mais linda de todas e vi sorrir.
  — Eu amo a tia , papai — Bia falou e eu não evitei, me levantei e fui até ela e a abracei.
  — Obrigada — murmurei para a pequena.
  — Tia , eu também quero um abraço! — Helena exclamou e então eu me levantei e a abracei também.
  Depois daquele momento fofo e único com aquelas duas sapequinhas, ficamos tomando nossos sorvetes entre conversas e brincadeiras muito animadas.
  — Tia , você pode me ensinar a andar a cavalo hoje? — Helena perguntou no banco de trás do carro.
  — Você sabe andar a cavalo, tia ? — Bia perguntou animada.
  — Sei sim, se vocês quiserem e seu pai deixar — falei olhando pra e vendo ele sorrir para mim —, eu posso ensinar vocês hoje.
  — Ah, paaaai, por favor! — Bia suplicou.
  — Deixa, tio ! — Helena ajudava da súplica.
  — Ok, ok, eu deixo, mas não vou poder ficar, tenho que resolver algumas coisas da soja hoje e ajudar meu pai em alguns consertos da fazenda — explicou mais para mim que para as crianças, que comemoravam no banco traseiro.
  — Então leva pra trocar a roupa e eu a espero lá em casa a tarde — falei e sorri para que sorriu de volta e pousou a mão livre do volante em minha perna.
  Terminamos o trajeto até a fazenda de meus pais e na hora de me despedir de eu fiquei super sem graça, pois ele me deu um selinho demorado na frente de Bia e, para minha surpresa, ela apenas trocou olhares com Helena e sorriu e continuou a despedir da amiga. nos deixou em casa e seguiu para sua fazenda, quando entrei na sede, Karol estava vendo TV sozinha na sala.
  — Oi, tia Karol. — Helena disse colocando a mochila no sofá e abraçando minha amiga.
  — Princesa estudiosa, como foi a aula? — Karolyne perguntou sentando Bia ao seu lado no sofá e eu aproveitei e me sentei também, observando as duas.
  — Boa, melhor ainda que tia e o tio foram buscar eu e a Bia — Helena disse e sorriu para minha amiga que também sorriu para ela. — Eu vou tirar esse uniforme, beijo —disse se levantando e pegando a mochila e indo para seu quarto.
  — E o namoro, hein? — Karol perguntou.
  — Confesso que eu estou amando — falei deitando minha cabeça pra trás e rindo junto com minha amiga. — Mas também confesso que eu estou com medo de como vai ser.
  — Para de ser chataaaa! — Karolyne jogou a almofada no meu colo. — Se preocupa em ser feliz e viver isso que vocês não viveram anos atrás — falou e eu assenti. — Deixa te fala, como você não me falo que o tinha um irmão daqueles? — Karol perguntou e eu gargalhei.
  — Ele é muito legal — murmurei entrando na onda, mas sem mentir, Henrique era realmente muito gente boa.
  — Ele pediu meu telefone, mas sei lá, fiquei sabendo que ele acabou de separar. — Karol suspirou e me mostrou uma notificação de mensagem de Henrique.
  — Acho que isso não tem nada haver né? Eu tenho três meses só que me separei do Antônio e estou com agora. — Pontuei.
  — Oi, mulheres — Hiago, meu cunhado, falou entrando em casa.
  — Oi. — Eu e Karol cumprimentamos juntas. — Hiago, hoje eu vou começar a dar aulas de montaria para Helena e Bia, tudo bem? — perguntei.
  — Por mim, tudo ótimo — respondeu.
  — Ta agradando a enteada, né? — Karol brincou e eu joguei novamente a almofada nela.
  — Elas querem aprender e como eu decidi entrar em umas miniférias, irei ensinar — falei vendo minha amiga e meu cunhado rirem. — Hiago, eu vou ensinar na Estrela mesmo, viu, ela é dócil e eu sou acostumada nela. E a pista de quando eu praticava três tambores ainda tá legal? — perguntei mesmo já sabendo da resposta.
  — Ah, , tiramos a cerca e a areia dela já, mas assim, é um lugar que dá pra elas aprenderem. — Hiago informou.
  — É, eu imaginava mesmo — murmurei fazendo uma cara de triste. — Tudo bem, vai ser lá mesmo, depois do almoço.

  O almoço passou e eu tomei um banho, colocando a roupa de montaria e amarrando meu cabelo em um rabo para colocar um boné. Ajudei Helena a se vestir e ela estava superanimada com a ideia de poder ter sua égua assim como eu tinha a minha. Júlia, na hora que ficou sabendo da minha ideia de ensinar as meninas a montar, ficou me falando horrores sobre cuidados, ela tinha trauma por ter caído do cavalo aos seus dez anos de idade e nunca mais ter montado novamente.
  Minha mãe me ajudava a tranquilizar minha irmã, estávamos eu e Helena na baia arrumando a sela de Estrela, quando e Bia, que vestia uma roupa de montaria rosa com marrom, entraram.
  — Olha quem chegou — falei e Bia correu em minha direção se jogando em meus braços, agachei pegando-a em meu colo. — Pronta pra montar na Estrela?
  — Simmmm! — Bia exclamou me abraçando e eu dei um beijo em sua bochecha. Coloquei ela no chão, logo depois ela e Helena correram em direção à Estrela.
  — Ei, vem aqui. — Assim que as meninas estavam a uma distância considerável, me puxou pela cintura fazendo com que meu corpo se chocasse com o seu.
  Com uma de suas mãos ele passou pela minha nuca e colocou os dedos entre meus cabelos presos e uniu nossas bocas em um beijo cheio de segundas e terceiras intenções. Ficamos nos beijando um bom tempo, até que o ar de ambos começou a faltar e encerramos o beijo.
  — Nossa, que saudade, hein — disse ainda com a respiração descompassada e dei um selinho em que ainda abraçava minha cintura diante de seu corpo.
  — Esse fim de semana nós vamos viajar. — informou. — E não, não vou falar onde.
  — Ah não, , eu preciso me programar, fazer a mala com as roupas do lugar, não é justo.
  — Tá, eu falo, mas vou falar somente na sexta à noite — disse.
  — Menos mal, mas eu ainda acho que pode falar agora mesmo — disse rindo e sentindo-o apertar minha cintura contra si e beijar meu pescoço. — Ai, que delicia — falei baixo sentindo os beijos de no meu pescoço.
  — Você me deixa louco, . — A voz de era rouca e eu já estava toda entregue a ele.
  — Calma, homem, as meninas estão aqui perto — falei tentando olhar para trás para ver onde as meninas estavam, mas nem sinal daquelas duas sapequinhas.
  — Relaxa, ninguém tá vendo, , deixa eu aproveitar um pouco do tempo que tenho com você — falou e com isso eu o beijei mais uma vez, um beijo de deixar qualquer pessoa sem ar e eu estava dando a vida naquele beijo.
  — , sua mãe pedi... — Karolyne chegou de uma vez ali na baia, surpreendendo a mim e a .
  Rompemos o beijo de forma rápida e tentamos nos recompor, minha amiga estava com os braços cruzados tentando olhar para outros lugares que não fosse onde estávamos, tentando segurar o riso. Com certeza eu e estávamos em uma situação um tanto quanto deplorável ali.
  — Ka... — Suspirei. — Karol — falei. , ao contrário de mim, estava tranquilo, como se nada tivesse acontecido.
  — Desculpa aí, casalzinho, mas é que a sua mãe pediu pra você passar esse protetor solar nas meninas. — Karol me entregou o protetor solar. — Oi, , como vai? — perguntou.
  — Oi, Karol, vou bem e você? — Minha amiga confirmou a pergunta de apenas sorrindo. — Bia já passou o protetor, viu, agora eu já tenho que ir, qualquer coisa me liga que venho. — se virou em minha direção e falou.
  — Tá bom, pode deixar que sua filha está em boas mãos — murmurei sorrindo e recebendo um selinho dele.
  — Disso eu não tenho dúvidas. — me deu mais um selinho, se despediu de Karol e foi embora.
  — Meu Deus, que amasso, hein? Ainda bem que foi eu e não as meninas — minha amiga falou rindo e eu joguei uma corda que estava perto nela.
  — Cala a sua boca! — exclamei e comecei a andar procurando Helena e Bia, as encontrei no coche onde guardamos selas, algumas cordas, peças que usamos nas selas e algumas ferramentas.
  — Tia , olha o que eu achei. — Helena estava com uma sela infantil de cor rosa e preta.
  — Essa foi a primeira sela que eu usei pra aprender a montar — falei sorrindo. — Foi o vovô quem me deu.
  — Dá pra usar, tia ? — Bia perguntou.
  — Não, meu amor, ela já está bem velhinha, a cinta dela tá desgastada — murmurei vendo Helena e Bia fazerem bico. — Maaaas eu vou pegar uma sela linda que o Hiago comprou pra Helena e ela nunca usou — disse e as meninas bateram palmas.
  — Vai arrumar Estrela, deixa que eu passo protetor nas meninas — Karol falou e eu assenti.

  O dia passou rápido, ensinei os primeiros passos para uma montaria. Primeiro ensinei a conquistar Estrela, as meninas perderam o medo rápido e assim elas já estava seguras que Estrela aceitava carinhos e cenouras fresquinhas; depois coloquei uma por vez na égua e, comigo segurando a corda e guiando Estrela, fui falando sobre postura e tudo que podia ser feito em cima do cavalo para que ele não se assustasse ou ficasse zangado. Decidi que hoje seriam somente aquelas dicas, se não ia ficar muita coisa pra cabecinha das meninas.
  Entramos em casa e minha mãe tinha preparado um lanche maravilho para nós, ficamos lanchando e conversando à mesa por um tempo, até as meninas pedirem para tomar banho de bica, já que o dia estava muito quente, chegando aos seus 39°C. Nada de anormal para nossa região.
  Helena emprestou roupas de banho para Bia e lá foram elas, supervisionadas pela minha mãe. Eu e Karol trabalhamos um pouco pelo computador com alguns projetos e nem vi que já estava quase anoitecendo, as meninas já estavam vestidas com roupas frescas e estavam assistindo TV, foi quando chegou, porém não estava sozinho, Henrique estava com ele.
  — Boa noite — falou cumprimentando minha mãe, Karol, eu e as meninas, as únicas na sala naquele momento.
  — Oi, rapazes, tudo bem? Henrique, até que enfim veio fazer uma visita, entrem. — minha mãe falou se levantando do sofá e indo até onde os visitantes estavam.
  — Já não era sem tempo, não é mesmo? — Henrique falou se sentando no sofá enquanto beijou a testa de Bia e depois veio até mim e me deu um selinho, se sentando ao meu lado.
  — Papai, eu montei na Estrela, a égua da tia , dei cenoura pra ela e agora eu quero uma égua pra cuidar também! — Bia exclamou.
  — Vamos providenciar isso aí, garotinha — disse. — Deram muito trabalho? — ele perguntou um pouco baixo para que só eu ouvisse, já que Karol, minha mãe e Henrique conversavam outras coisas.
  — Que isso, Bia e Helena são uns amores, eu até fico lembrando da nossa infância como elas, fico pensando que o fato delas passarem a infância aqui na fazenda acaba sendo uma vivência parecida com a que a gente teve, e isso me deixa com o coração quentinho. — Sorri, vendo concordar e sorrir também.
  — Não tive a oportunidade de abraçar meu mais novo genro, não é mesmo? — Minha mãe interrompeu minha conversa com e ficou na frente dele com os braços abertos em sinal de um abraço que logo foi aceito por ele. — Olha, faça feliz, viu, não aceito menos que isso — minha mãe falou.
  — Olha, , que isso tem cara de ser uma ameaça disfarçada — Karol murmurou fazendo todos rirem.
  — Menina, a sua mãe me deu autorização pra te dar uns cascudos anos atrás, viu. — Minha mãe informou e Karol levantou as mãos em sinal de rendição. — Vamos jantar? Júlia e Hiago ainda estão tentando arrumar a máquina que usamos pra fabricar os iogurtes, então ainda não voltaram, mas podemos ir para a mesa agora mesmo.
  — Não, obrigado, Denise, mas eu e viemos mesmo só buscar essa pestinha — Henrique disse se levantando e pegando Bia no colo apertando seu nariz. — Mas fica pra outra hora, não posso ir embora de Crixás sem comer o famoso empadão goiano da dona Denise, não é mesmo?
  — AAH, então vamos organizar esse fim de semana! — minha mãe exclamou.
  — Pena que eu não vou poder comer. Então, sogrinha, eu vou roubar sua filha esse fim de semana. — informou me abraçando.
  — Eu amei ser chamada de sogrinha — minha mãe falo fazendo todos rirem. — E onde vocês vão passar o fim de semana? — perguntou.
  — Sogrinha, isso é surpresa — disse. — Vamos, Henrique, Bia? — chamou. — Obrigado por ensinar a Bia, viu? — falou baixo no meu ouvido me fazendo arrepiar. — Depois eu entrego a roupa que Helena emprestou para Bia, obrigado, viu — ele disse abraçando pelo ombro minha mãe.
  — Obrigada, tia , eu adorei passar o dia com vocês! — Bia exclamou me dando um beijo.
  — Estou te esperando aqui amanhã pra mais uma aula, viu? — disse e ela sorriu indo para o pai e o tio que a esperavam na porta.

  Na sexta, falou que iríamos pegar a estrada por volta das três  horas da tarde e ainda não tinha dito para onde íamos, por isso as aulas de montaria de Bia e Helena não aconteceram hoje. Karol, por sua vez, iria voltar para Goiânia no sábado cedo, disse que passaríamos por Goiânia, mas, segundo ela, não iria atrapalhar a viagem do casal e decidiu seguir viagem sozinha.
  Mais tarde quando já havia me buscado na fazenda e já estávamos na estrada ele me contou um pouco sobre a vida dele nesses anos todos, sobre a história dele com Lais, mãe de Bia, e como ele e a família dela se organizaram em relação a Bia.
  Depois de cinco horas de viagem, chegamos à cidade Alto Paraíso em Goiás mesmo, a cidade é conhecida como a cidade dos ETs, pois a comunidade local acredita que vários alienígenas aparecem por lá diariamente, a comunidade acredita tanto, que a entrada da cidade é uma nave espacial gigante e em qualquer lugar você encontra naves espaciais, bonecos de ET e desenhos de alienígena. A cidade também acredita que os alienígenas mandam sinais que aquela cidade será a última a sobreviver diante de um possível desastre ambiental, o lugar também é conhecido por haver a Chapada dos Veadeiros, uma reserva ecológica onde existem as maiores e mais bonitas cachoeiras de todo nosso pais. É tão conhecido que recebe vários turistas do mundo inteiro para conhecer as belezas naturais da reserva e região. 
  Após entrar na reserva e andar por volta de 20 minutos chegamos em um bangalô lindo. Olho para que ainda dirigia o carro para encontra uma maneira melhor de estacionar.
  — , que lindo — falei olhando o bangalô, encantada.
  — Eu fico feliz que tenha gostado, queria um lugar de tranquilidade pra gente e eu achei que aqui seria esse lugar — falou desprendendo o cinco de segurança e me olhando.
  — Você acertou. Vem, quero ver tudo! — exclamei dando um beijo rápido em e saindo do carro.
  O bangalô por fora era todo de madeira e vidro, as portas de vidro do teto ao chão dava a ideia de que a reserva fazia parte de tudo ali; os móveis de madeira e com um ar rústico que transmitia tranquilidade, aconchego e paz; no quarto, lençóis brancos em uma cama de madeira; no banheiro, pias de pedras brutas com uma banheira maravilhosa. Ali naquele lugar, meu lado arquiteta ficou maluco.
  Me virei para que, até então, só observava e o abracei o beijando logo em seguida, ele não podia ter acertado tanto, nem parecia que eu e ele estávamos nos conhecendo de novo depois de tanto tempo, não tinha como, ele sempre foi meu melhor amigo e sempre soube dos meus gostos e dos meus sentimentos.

   POV 
  — Sabe o que cairia bem agora? — falei trazendo para os meus braços. — Um banho de banheira e eu gostaria muito de companhia nele — disse ao pé do ouvido de e pude observar ela se arrepiando.
  — Pode ter certeza que eu não negarei esse convite — ela disse olhando nos meus olhos e me beijando, encerramos o beijo e eu fui preparar nosso banho enquanto organizava suas coisas no guarda roupa que tinha disponível no quarto.
  Tirei minha roupa e entrei na banheira relaxando no mesmo instante, quando abri os olhos, me observava vestida apenas com um roupão branco e ali meu mundo parou. Ela retirou o roupão e entrou na banheira comigo e seus gestos eram observados atentamente por mim. Me aproximei de a puxando em direção a meu colo e ela passou seus braços por meu pescoço deixando ali um carinho com alguns arranhões de leve. A beijei com toda vontade e saudade que eu senti durante esses anos todos, o beijo foi se tornando profundo.
   se virou colocou uma de suas em cada lado do meu corpo e começou a se remexer no meu colo me deixando louco e sedento por ela, desci meus beijos para seu busto até chegar nos seios e chupei um deles, massageando o outro. Nessa altura eu já estava duro como nunca antes, até que eu lembrei da proteção.
  — Eu preciso da camisinha, — disse voltando meus beijos para a boca dela.
  — Eu tenho chip, , continua — ela disse e aquilo foi músicas para meus ouvidos.
  Mais que depressa eu preenchi . Iniciamos com movimentos lentos, eu beijava ela e não tirava minhas mãos ora da cintura, ora de seus seios. , em contrapartida, me arranhava e puxava meus cabelos levemente. Os movimentos foram se intensificando e nossos corpos suando provando que aquela água em volta de nós não fazia a menor diferença. rebolava de um jeito que eu ficava louco por mais, nós dois estávamos em um ritmo gostoso.
  — Isso , continua fundo assim — falava e arranhava minhas costas.
  — Assim que você gosta? — perguntei me afundando ainda mais dentro dela e fazendo-a gemer. Continuamos ali até que amoleceu em meus braços e eu, com mais três investidas, deixei que o orgasmo me atingisse.
  — Você é maravilhoso — disse deitando por cima do meu corpo.
  — Então digamos que você é minha Deusa — falei e ela riu.
  Ficamos ali na banheira conversando trivialidades quando nos demos conta que já estava anoitecendo e decidimos ir dar uma volta pela cidade de Alto Paraíso e comer uma pizza. Assim a noite seguiu, conhecemos a cidade, que é encantadora, comemos e descobrimos que a maioria dos cardápios da região é vegetariano, porém, tem pra todos os gostos.
  Assim também seguiu o sábado e nosso início de domingo, conhecemos o vale da Lua, as cachoeiras do segredo, santa Barbara, capivara, entre outras. Fizemos esportes radicais e conhecemos várias trilhas, e, o principal, nos amamos muito, no bangalô no meio dessas trilhas loucas e até mesmo nas cachoeiras. Claro que não perto de alguém, ainda éramos civilizados.
  Agora era domingo, no relógio marcava três e meia da tarde e iríamos sair segunda bem de manhã para Crixás. Eu e estávamos no bangalô deitados depois de um almoço maravilhoso que pedimos pra entregar aqui, assistíamos a um filme de ação e eu observei rapidamente e pude perceber que ela estava com os pensamentos longe, mas não quis perguntar onde, acho que quando ela quisesse falar ela falaria, até que se ajeitou de frente a mim.
  — Você amava a Lais? — perguntou e sorriu.
  — Bom, eu amei sim a Lais, mas não como eu amo você. O que existe aqui envolve paixão e muito mais coisas, , são amores diferentes. Eu e Lais éramos o oposto de tudo, eu sou família e Lais dizia que era espirito livre, ela adorava a vida livre dela, adorava ir nas festas e beijar quem ela quisesse, e hoje eu a amo pela lembrança e por ela ter me dado Bia — falei vendo sorrir ainda mais.
  — Eu não quis perguntar por conta de ciúmes, viu? É que eu sempre fui muito fechada assim, quando namorava com Antônio eu até tentei ser mais aberta a sentimentos, mas como você mesmo pode ver, ele me bloqueava muito e eu acho que isso me trouxe um certo medo, sabe? Eu não quero, , de forma alguma, ter esse medo com você por conta da nossa história, acho que merecemos essa segunda chance — falava olhando nos meus olhos.
  Levei uma mão à sua nuca acariciando aquele local e a puxei para um abraço, eu podia imaginar os medos que aquele crápula deixou, os traumas, porém, eu estava decidido a proteger de todo aquele passado.
  — Olha — falei fazendo-a olhar nos meus olhos —, eu não sou Antônio e eu vou te prometer aqui, , que eu não vou deixar ninguém fazer isso de novo com você, não posso mensurar tudo que você passou na mão dele, mas saiba que eu não vou aceitar que você seja tratada daquela forma de novo, eu estou de volta pra você, , ouviu? — falei e a vi concordar e se jogar nos meus braços, selando nossos lábios.

  Chegamos na segunda em Crixás na parte da tarde, ainda não tínhamos chegado nas fazendas.
  — Quer passar lá na fazenda antes que eu te deixe em casa? — perguntei para .
  — Posso aparecer por lá no jantar? Quero desfazer essas malas e ver se Karol está em apuros no escritório — ela respondeu acariciando minha nuca enquanto eu dirigia.
  — Então te espero no jantar — disse sorrindo para minha namorada.
  Dirigi até a fazenda dos Rosique e assim que estacionei pude ver Hiago e Júlia.
  — Quem é vivo sempre aparece — Hiago disse cumprimentando.
  — Oi, , como foram de viagem? — Júlia perguntou.
  — Muito boa, graças a Deus — falei.
  Ajudei a descer a mala dela que estava pesada por conta dos artesanais que ela comprou na viagem, conversei um pouco com Hiago, Júlia e Denise, que chegou logo depois, e me despedi de todos e fui para a fazenda. Estava cansado e precisava de um banho, mas estava com muita saudade de Bia, tinha ligado todos os dias de chamada de vídeo para saber dela e ela sempre dizendo que estava bem, mas pai é pai e eu estava louco de saudade de minha pequena. Desci do carro e Bia veio correndo ao meu encontro.
  — Papaaaaaaai! — Bia correu e se jogou em meu colo.
  — Quanta saudade, minha pequenaaa — disse beijando várias vezes minha filha.
  — Eu também estava com muuuuuuuita saudade, papai, trouxe presente? — perguntou e quando eu ia responder, saíram da sede meus pais com Lina, Teodoro e Leandro, avós maternos de Bia, e o irmão de Lais.
  — Olha, papai, quem veio me visitar! — Bia disse animada descendo do meu colo.
  — Oi, Lina, Teodoro e Leandro, que surpresa vocês! — exclamei seguindo todos que entravam em casa.
  Eu estava surpreso pela visita, mas não me importava, eles eram muito apegados à Bia quando morávamos em Uberaba, porém, algo me dizia que tinha algo a mais naquela visita. Meus pais lançavam olhares de apreensão para mim e eu estava começando a ficar curioso com o que podia ter acontecido.
  — , eu sei que você chegou agora de uma viagem de final de semana e deve estar cansado, mas eu, você e Teodoro temos que ter uma conversa em particular — Lina disse séria.
  — Eu acho melhor esperar ele descansar para essa conversa, Lina — minha mãe murmurou.
  — Não, quanto antes resolvermos isso, melhor — Lina respondeu.
  — Não, tudo bem, estou curioso pra saber que conversa seria essa, vamos até o escritório — murmurei.
  Estávamos eu, Lina e Teodoro, os pais de Lais, no escritório eu não iria começar aquela conversa pois não sabia do motivo até que Lina começou:
  — Com que direito você tirou Bia de nós e agora abandona sua filha por um final de semana inteiro para ficar atrás de rabo de saia? — Lina disse direta, me fazendo sentir uma raiva súbita.

CONTINUA...



Comentários da autora


  Nota da autora: Oi, minha gente, essa att demorou um pouco e veio com um capítulo menos desculpa mesmo, mas estou atolada em trabalhos, seminários e até aulas que a faculdade pediu pra ministrar esse período e além disso tudo, a autora aqui é mãe de três criancinhas cheias de disposição kkkkkkkk então eu prometo que assim que tudo tiver em ordem eu volto com mais, esse capítulo procurei trazer a volta deles porque agora em diante vou trabalhar bastante com os conflitos, então aproveite bem essa fase melosinha do nosso casal 20 que de agora pra frente é só pra trás kkkkkkkkk obrigada por quem ainda continua aqui, compartilhem a história com seus grupos e siga meu perfil no insta @autorabm lá direto posto novidade e curiosidades da história, amo vocês e até a próxima.