Unstable, The First: Marco Polo

Escrito por K! | Revisado por Pepper

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Before.

  Sempre há arrependimentos no decorrer da vida, pode ser o arrependimento de um dia inteiro que aconteceu, de uma única palavra que poderia ser dita e, até mesmo, de um ato. Se pudesse voltar ao tempo, mudaria um ato em toda minha história. Um ato que, ao mesmo em tempo que me fez triste, poderia ter mudado toda minha vida; eu enxergaria. Enxergar a situação, enxergar outros pontos de vista, enxergar a possível vida no futuro, enxergar o amor.
  Porque, para ser bem franca, não enxerguei o sentimento mais óbvio e bonito do mundo. O amor pode ser – na maioria das vezes – puro e translúcido.
  Nós é que deixamos nos cegar.

After.

  Desci as escadas de madeira compacta rapidamente, implorando mentalmente para a minha pasta estar no lugar que tinha deixado no dia anterior. Henrietta, a mulher de meia idade que cuidava da casa, tinha a péssima mania de trocar de lugar tudo o que eu mais precisava. Avistei a pasta preta de couro em cima da mesa de vidro que ficava ao lado da cozinha e, após abrir a pasta e ver os sketches na ordem que colocara na noite passada, suspirei aliviada. Apertei o botão de meu iPhone enquanto me sentava a mesa, e vi na agenda que minha manhã estava livre. Pelo menos a manhã seria um pouco mais sossegada.
  A parte de marketing da Vogue era a mais corrida, principalmente em período de entrega de prazos, mas adorava minha rotina adquirida há 3 anos.
  Com meus 24 anos de idade, era incrível eu já ser uma das coordenadoras da área de uma das revistas mais famosas dos EUA, mas sabia que aquilo não tinha chegado em vão. Meus anos em Harvard e meu trabalho duro com estágios intermináveis foram recompensados.
  Olhei ao redor e vi o café quente na minha caneca preferida, em cima da bancada da cozinha. Sorri pela atenção excessiva de Henrietta. O lugar já cheirava a desinfetante e os móveis em inox brilhavam com a luz solar.
  - Obrigada. - Sussurrei, mesmo sabendo que Henrietta não ouviria. Provavelmente estava cuidando da roupa. Continuei a olhar a casa e vi Bethoven lá fora graças a porta gigante de vidro que ocupava uma parede inteira da sala. O cachorro aproveitava o sol da manhã, bebendo a água da piscina. Bufei, impaciente. O Pit Bull não era dos mais teimosos, porém quando se tratava de beber a água cheia de cloro da piscina, ele parecia fazer questão de desobedecer qualquer um.
  Qualquer um menos . Desviei meu olhar do cão para a piscina e não pude deixar de me perder em memórias.

#flashback - 5 years

  - , tem certeza que não vamos ficar gripados? - perguntava pela enésima vez para o garoto, podia ouvir a impaciência em sua voz.
  - Sim, . Está calor. , me ajude por aqui, cara. - gritou e sorri.
  - Dude, deixa ele, não está vendo os dois se agarrarem na cozinha, não? - disse de um modo engraçado e abri os olhos, encarando duas órbitas me encarando.
  - Calma. - Disse, entrecortada. Minha voz estava baixa e a respiração descompassada. Estava praticamente derretida nos braços de , que me prensava na bancada da cozinha de sua casa. Seus pais estavam viajando a negócios, para variar, e decidimos nos juntar para fazer algo.
  - Ok. – Foi a única coisa que ele conseguiu dizer. A falta de fôlego de nós dois me fez rir e ficar mais esbaforida ainda. - Eu te amo. - soltou após alguns segundos de silêncio e sorrimos.
  - Eu também. – Fiz questão de olhar diretamente nos olhos de enquanto pronunciava as palavras. Logo estávamos nos beijando novamente, segurava minha cintura fortemente enquanto eu bagunçava e puxava seu cabelo sem nenhuma dó. Pude sentir uma das mãos dele embaixo da minha blusa e arrepiei. Ele sorriu e repeti seu ato. Mordisquei seu lábio inferior e pude ouvir um gemido de , que não deixou barato e me prensou na parede, me fazendo soltar um longo suspiro sofrido. As mãos dele me deixavam louca, a cada toque era um arrepio inevitável. Quando recobrei meus sentidos, minha blusa se encontrava em qualquer lugar da cozinha, menos em meu corpo. Já não nos importávamos com nossas respirações falhas, só queríamos nos sentir. Tirei a camiseta de e sorrimos, cúmplices. Agora nossas mãos não paravam quietas, e, quando ele tentou desamarrar meu biquíni, pudemos ouvir nos chamando.
  - Droga. – Sussurrei nervosa e, mais uma vez, sem nenhum fôlego.
   fez questão de bufar e fazer um barulho estranho com a boca, mas não tinhamos mais como fugir. - Vai primeiro. - Ele disse finalmente, olhando para baixo. Lentamente seu corpo se desencostou do meu e quase perdi o equilíbrio.
  - . - Inspirei pesadamente e apoiei minhas mãos em seus ombros largos. Não queria parar, mas sabia que todos já esperavam.
  - Só preciso de um tempo. - Ele apontou para baixo com uma das mãos e depositou um beijo doce em meu pescoço. Ri maliciosa e dei um passo a frente, com a intenção de ajudá-lo. - .
  - Você sabe que-- Fomos cortados pelo grito estridente de e nos olhamos, com olhos arregalados. - Te encontro lá fora. - Pisquei e fiz questão de passar minha mão pela sua ereção, antes de sair rebolando para o deck.
  Encostei a porta atrás de mim e andei pelo piso de madeira, até ficar perto da piscina. O pessoal estava concentrado no fundo da piscina, todos se divertindo.
  - Qual é a boa? - Perguntei alto e todos se viraram para mim, soltou um gritinho empolgado e ri.
  - Vamos jogar alguma coisa. - disse, como quem havia descoberto algo muito importante e só pude menear a cabeça, concordando.
  Fiquei parada na beira da piscina, apenas ouvindo os meninos falarem jogos que envolviam a piscina. De repente, senti duas mãos envolverem minha cintura e o queixo de se apoiar em meu ombro. Sorri, sem perceber.
  - Hey casal, vamos brincar de marco-pólo? - perguntou e toda a atenção foi direcionada para nós. Aceitamos com a cabeça. – Ok, então quem entrar na piscina por último vai ficar gritando pólo! – Após o término da frase, me puxou para trás e saltou na piscina. Emburrei a cara e fui para perto das cadeiras de plástico que tinham no deck, ouvindo a risada de todos. Tirei meu short e andei até a beirada da piscina novamente. Odiava perder.
  - , você me paga!
  - Adoro quando você fica brava. – Ele sorriu, apoiando os braços na beirada da piscina. – Entra logo, pegadora. – piscou provocante para mim e, sem evitar, sorri. Pulei na piscina e depois de emergir da água, fechei os olhos, já gritando marco.

  Estávamos brincando há uns dez minutos e ainda não tinha pego ninguém. Era péssima nesse tipo de brincadeira.
  - MARCO! – Gritei pela milésima vez. Ouvi alguns sussurros e fechei a cara. Isso deveria ser um plano diabólico da contra mim, óbvio. – Parem de cochichar e falem pólo, cacete!
  Ouvi passos fora do deck e depois o famoso barulhinho que a porta de vidro fazia quando era fechada. Virei-me para a porta, ou pelo menos achava que tinha feito isso e, quando abri os olhos, ouvi o barulho de água atrás de mim. Senti um corpo se encostar em mim e, antes de virar, pude ouvir a voz que tanto adorava em meu ouvido.
  - Pólo. - sussurrou e me arrepiei.
  - Pego. – Sussurrei também, enquanto me virava para ele, puxando-o para perto pelos cabelos e acabando com aquela maldita distância entre nós.

#endofflashback - 5 years

  Pisquei duro e levantei, mecanicamente. Desci pelas escadas internas, não queria mais ver piscinas em minha frente. Pelo menos hoje.

FIM



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